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Clínica Psicanalítica
Aula 15: Psicanálise e as neurociências
Psicanálise e as neurociências.
• Freud iniciou sua carreira como neuroanatomista e neurologista e, até o fim da vida, manteve a
convicção de que os fenômenos mentais possuem um substrato biológico.
• Antes de criar a psicanálise, escreveu monografias sobre a paralisia cerebral infantil e sobre a
afasia.
Do começo ao fim de sua obra, (até porque foi um neurologista), tentou inserir a psicanálise no
âmbito das ciências da natureza.
O seu mestre Charcot era grande estudioso da histeria, e tinha como projeto demonstrar que a
histeria é uma doença neurológica como as outras, colocando, no corpo da sua teoria, a idéia de que
o elemento principal na histeria seriam essas famílias neuropáticas e que todos os demais fatores
etiológicos seriam apenas causas incidentais.
Era mais ou menos esse o panorama psicopatológico dominante na virada do século XIX para o século
XX, quando Freud entra no debate: alegava que o fator hereditário está presente, na condição de
precondição.
• Essa precondição vai atuar de maneira patogênica ou não, segundo o contexto, seguindo as
coordenadas existenciais daquele indivíduo.
Com o advento das neurociências, no século XX, chegou o momento de reinserir a psicanálise no rol das
ciências naturais (com mais precisão, biológicas). Assim, a observação dos comportamentos manifestos
do inconsciente, através de suas afecções psíquicas, será feita pela observância dos fenômenos
biológicos do corpo-mente e, de modo especifico, do funcionamento do cérebro.
Edelman (1992, p.208), neurocientista, acata e defende a teoria freudiana dos processos inconscientes
quando cita: "Freud foi a figura mais importante entre aqueles que sublinharam o papel dos processos
inconscientes no nosso comportamento e sentimentos”.
Ele prossegue dizendo que Freud tentou, no seu Project for a Scientific Psychology, dar uma explicação
neuronal explícita da relação dos processos conscientes e inconscientes com o comportamento... A
existência do inconsciente é um princípio fundamental e unificador das teorias psicológicas de Freud.
A noção de Freud do "recalcamento" é consistente com os modelos desenvolvidos por Edelman (1992)
e Damásio (1993,1999) acerca da memória.
Edelman afirma que a distinção entre eu (ego) e não eu (isso) exige a participação de sistemas de
memória que ficam para sempre inacessíveis à consciência. Assim, o termo recalcamento na
neurociência é a incapacidade seletiva para recordar e estaria a recategorização fortemente carregada
de valor.
Desse modo, a neurociência vem comprovando também as explicações psicanalíticas para a memória,
para o sonho, para as lacunas da consciência entre outros, e, a psicanálise não precisa afastar-se da
neurociência, nem tampouco aderir ao modelo que ela propõe.
O Project for a Scientific Psychology desperta hoje interesse dos neurocientistas, e também é
considerado um precursor da metapsicologia freudiana, contendo os principais conceitos
psicanalíticos, como: "energia psíquica", "processo primário", "processo secundário", "ego" e
"repressão".
A metapsicologia freudiana é uma elaboração conceitual, que fornece uma explicação para as
situações que se apresentam na experiência clínica, na tentativa de ser a enunciação do
inconsciente. Portanto, somente no setting da clínica psicanalítica é que o inconsciente deverá
ser desvelado ou revelado.
Recordações afetivas dolorosas ou desagradáveis não teriam acesso ao hemisfério esquerdo e, com isso,
não poderiam ser verbalizadas e se tornar conscientes.
As lembranças mais precoces do ser humano são principalmente emocionais e visuais. Essas primeiras
lembranças são armazenadas no hemisfério direito, não podendo ser recuperadas verbalmente mais tarde
na vida adulta.
"A psicanálise não tem o objetivo de desvendar os mecanismos fisiológicos do cérebro. Isso é função
da neurociência. Mas os fenômenos que emergem desses processos físicos são objeto da investigação
psicanalítica", diz o psicanalista brasileiro Yusaku Soussumi, da Sociedade Internacional de
Neuropsicanálise.
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