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RESUMO
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Acadêmica do Curso de Letras Português e Literaturas da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba.
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Professora e orientadora deste trabalho – ULBRA /Guaíba.
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INTRODUÇÃO
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¹ Ditador militar que após golpe de Estado (1926), assume como primeiro-ministro em 1932.
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NOVENTA
O conto inicia com um homem do povo que foi bater à porta do rei e
fazer-lhe um pedido inusitado que movimenta todas as esferas burocráticas vi-
gentes no palácio, queria um barco, e não um qualquer, o seu tinha que ser
capaz de navegar mar afora para achar ilhas desconhecidas. O rei a princípio
não atendeu a solicitação (primeiro dava ordem ao primeiro-secretário para ir
saber o que queria o impetrante, este chamava o segundo-secretário, que
chamava o terceiro, que mandava o primeiro ajudante, que por sua vez man-
dava o segundo, e assim até chegar à mulher da limpeza, a qual não tinha
ninguém para mandar), mas dessa vez foi diferente, o autor do pedido insistiu
em permanecer na soleira da porta das petições por três dias seguidos, então
o rei achou melhor sair da porta dos obséquios e ir pessoalmente resolver o
assunto.
O homem que queria um barco estava determinado am alcançar seu
objetivo e foi firme em responder ao rei o que queria. Aspirantes à liberalidade
do trono que por ali andavam e a mulher da limpeza do palácio, espiavam este
corajoso homem que deixara o rei desconcertado fazendo-o sentar-se na ca-
deira de palhinha da mulher da limpeza. Ninguém acreditava que havia alguma
ilha desconhecida, pois todas já estavam nos mapas e pertenciam ao rei,
mesmo assim, resolveram intervir a favor do homem, mais para se verem livres
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dele do que por solidariedade. O rei preocupado com o tempo que estava
perdendo, concordou em dar-lhe o barco, mas sem a tripulação.
Assim que o homem partiu, a mulher da limpeza resolveu sair pela porta das
decisões, que é raro ser usada, e seguir o homem até o porto. Ele nem des-
confiava que já levava atrás de si uma tripulante. Chegando ao porto pediu
que o capitão lhe desse um barco que ele respeitasse e pudesse respeitá-lo
para levá-lo em busca de sua ilha desconhecida, onde nunca ninguém já tenha
desembarcado e que ele reconhecerá e saberá qual é quando lá chegar. O
capitão deu-lhe um barco com experiência, ainda do tempo em que toda a
gente andava a procura de ilhas desconhecidas. O homem saiu para recrutar a
tripulação enquanto a mulher da limpeza cuidava da faxina do barco. O sol ha-
via acabado de sumir no oceano quando o homem que tinha um barco voltou
para o cais sozinho e cabisbaixo, pois não encontrou quem quisesse sair do
sossego dos seus lares e da boa vida para se meterem em aventuras oceâni-
cas, à procura de um impossível. Mas o homem insistia em alcançar seu obje-
tivo, desejava encontrar esta ilha, sabia que ela existia, assim como sabe que
o mar é tenebroso, apenas não a conhecia, e quando nela estivesse sairia de
si e saberia quem realmente era, porque às vezes, é necessário sair da ilha
para ver a ilha, que não nos vemos se não sairmos de nós mesmos.
Os dois conversavam enquanto comiam a comida que o homem havia
trazido, depois acharam melhor irem dormir. O homem reparou na beleza da
mulher da limpeza que pensava que este só tinha olhos para o barco. Naquela
noite o homem ficou a imaginar se ela já dormia, depois imaginou que estava à
procura dela e não a encontrava e que estavam perdidos num barco enorme.
O sonho muda às proporções das coisas e a sua distância, separa as pessoas,
e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher
dormia a poucos metros e ele não sabia como alcançá-la, quando é tão fácil ir
de bombordo a estibordo.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite
a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia ao mar alto, abrindo caminho sobre as
ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à
sombra. Buscou com os olhos a mulher da limpeza e não a viu, e ele bem sa-
bia, embora não entendesse como, que ela a última hora não quis embarcar,
porque pensava que ele só tinha olhos para a ilha desconhecida, e não era
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² Portugal é pioneiro na expansão marítima européia. No século XV têm início os descobrimentos que
formariam o império colonial Lusitano.
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pela porta das decisões e passa a acompanhá-lo nesta busca. “Pensou ela
que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado à
hora de mudar de ofício, que lavar e limpar barcos é que era sua vocação ver-
dadeira, no mar, ao menos a água nunca lhe faltaria” (SARAMAGO, 1998,
p.24).
Já sabia ela que precisamos estar longe de nós mesmos para
podermos enxergar melhor nossa natureza, e que só assim venceremos os
obstáculos do caminho humano, por isso troca sua rotina enfadonha por uma
viagem poética em busca de seus sonhos A obsessão do homem contagia de
forma simplista a sensibilidade feminina.
Também é apresentado no texto um processo de recomeço e de reno-
vação, no qual aparece o sonho não como um sonho qualquer, mas nos mos-
trando que é preciso navegar para além do real, resistindo às adversidades pa-
ra que nos tornemos aptos para obter a concretização deste sonho e possa-
mos ancorar em porto seguro.
Todos estes fatores que vão das adversidades até o “navegar para o
além do real” permite a aproximação entre o “homem do barco” e a “mulher da
limpeza”, “Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os
corpos” (SARAMAGO, 1998, p.62), pois do sonho surge o amor, e do amor à
força para enfrentar os pesadelos. A partir daí os dois passaram não somente
a fazer descobertas exteriores, mas foi o começo da descoberta de si mesmo.
Sabiam eles, agora, que um completaria o outro, que a compreensão das ver-
dades mais profundas, escondidas na alma (como uma ilha) seria possíveis.
Tanto assim é, que eles nomearam o barco que o rei havia
lhes dado de “Ilha Desconhecida”, e esta se lançou enfim ao mar, a procura de
si mesma, mostrando que ainda havia muitas descobertas a serem feitas.
CONCLUSÃO
sentido de nossas vidas. Este texto nos oportuniza refletir sobre nossa conduta
e a dos outros frente a necessidades e adversidades, dando-nos condições de
nortear nossa vida em sociedade, pois percebemos que não há tempo deter-
minado para encontrarmos o lugar desejado, só precisamos da resolução de
que podemos ir ou ficar e, às vezes, precisamos sair de nós mesmos para en-
contrarmos o tão almejado.
O lançar-se ao mar para navegar é o avançar para vida buscando al-
cançar seus objetivos e metas, às vezes tão próximas, contudo, não enxerga-
mos por nossa incapacidade pessoal de percepção do desconhecido.
O texto sugere a formação de uma identidade aberta que é percebida
como possibilidade de criação de novas identidades, produzindo sujeitos ca-
pazes de articular um processo coletivo, que reclama por transformações soci-
ais num futuro indefinido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Disponível em:
http://www.inventario.ufba.br/04/pdf/rsilva.pdf. Acessado em
02/07/2006
http://www.caleida.pt/saramago/biografia.html. Acessado em
02/07/2006
http://divirta-se.correioweb.com.br/livros.htm?=184. Acessado em
05/07/2006
http://www.instituto-camoes.pt/revista/impalemanha.htm. Acessado em
05/07/2006
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