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Resumo. A desertificação é reconhecida como uma das O nMDS identificou três grupos de plantas: i) espécies asso-
principais ameaças a zonas de clima seco em todo mundo. ciadas a áreas não-desertificadas (Anadenanthera columbrina,
No Brasil, esse fenômeno tem atingido especialmente o Bauhinia cheilantha e Tabebuia impetiginosa), ii) espécies
bioma Caatinga, para o qual ainda existe pouca informação relacionadas a áreas desertificadas (Aspidosperma pyrifolium,
acerca de suas consequências na composição florística. O Jatropha molissima, Mimosa tenuiflora e Pilosocereus goune-
presente trabalho objetivou avaliar este efeito em sítios llei) e iii) espécies presentes nos dois tipos de ambientes
inseridos em três municípios da Paraíba (Nordeste, Brasil). (Croton sonderianus, Piptadenia stipulacea e Poincianella
Sítios de amostragem foram previamente selecionados por pyramidalis). Os resultados apontaram que a desertificação
imagens de satélite usando a técnica IVDN, seguido de desencadeou mudanças severas na composição florística da
um levantamento vegetacional in locu (método transecto) Caatinga, indicando também que as intervenções humanas
abrangendo ambientes não-desertificados e desertificados. foram determinantes no estabelecimento dos diferentes
Análises univariadas (teste U) e multivariadas (nMDS) fo- ambientes.
ram usadas a verificar diferenças nas variáveis vegetacionais
e demonstrar padrões de dissimilaridades entre os ambientes Palavras-chave: Ambientes desertificados e não-desertifi-
contrastantes, respectivamente. A riqueza e diversidade de cados; Floresta Tropical Sazonalmente Seca; comunidade
plantas diferiram significativamente entre os ambientes. de plantas.
Cómo citar:
Souza, B. I., R. Menezes, R. Cámara A. (2015), “Efeitos da desertificação na composição de espécies do bioma Caatinga,
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org/10.14350/rig.44092.
Bartolomeu Israel Souza, Rafael Menezes e Rafael Cámara Artigas
venção Internacional de Combate à Desertificação aquele que apresenta os mais graves problemas
e à Seca, em 1994. Mesmo assim, somente em 2004 gerados pela desertificação no Brasil, tendo como
concluiu o seu Programa de Ação Nacional de causa principal as modificações seculares que vem
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos atingindo as comunidades vegetais relacionadas ao
da Seca/PAN-Brasil. Bioma Caatinga. Padrões similares são encontrados
Em relação à distribuição desse tipo de degra- em outras regiões de clima seco do mundo, apre-
dação no país, o Ministério do Meio Ambiente sentando como consequência a perda de cobertura
(MMA) elaborou no ano 2004 um mapeamento das e riqueza nas comunidades de plantas (Hanafi e
áreas susceptíveis à desertificação (ASDs), servindo Ouled-Belgacen, 2006; Whitford, 1995), afetando
este de base para o desenvolvimento de Políticas também os solos com a diminuição da proteção
Públicas que tenham o objetivo de combater o contra o escoamento, redução na infiltração e nu-
processo onde ele exista, assim como evitar a sua trição bioquímica (Papanastasis et al., 2003). Em
ocorrência em áreas ainda não atingidas. As ações se tratando da Paraíba, o desmatamento excessivo
desse programa governamental estão concentradas que vem ocorrendo na Caatinga é ainda mais
nas zonas de clima semiárido e subúmido seco da preocupante em função da riqueza vegetal existente
região Nordeste do país e uma pequena parte do ser muito pouco conhecida (Araújo et al., 2005).
norte do estado de Minas Gerais, na região Sudeste, Com base no exposto, o objetivo desse trabalho
onde domina o Bioma Caatinga (classificada inter- foi identificar e avaliar a composição de espécies
nacionalmente como um tipo de Floresta Tropical vegetais na Caatinga em áreas não-desertificadas e
Sazonalmente Seca – STDF, conforme Oliveira desertificadas, aspectos ainda carentes de muitas
Filho et al., 2006; Pennington et al., 2000; Prado, informações quando se trata das pesquisas desen-
2000), além do noroeste do estado do Espírito volvidas no Brasil sobre esse tipo de degradação.
Santo (região Sudeste), perfazendo uma superfície
total de 1 338.076 km², onde vivem 31 663 671
pessoas, em 1 482 municípios (BRASIL, 2004). MATERIAIS E MÉTODOS
Apesar do quadro alarmante descrito anterior-
mente, como um reflexo da falta de conhecimento Área de estudo e critérios de seleção
sobre a estrutura e funcionamento da Caatinga Esta pesquisa foi desenvolvida em áreas dos mu-
(Pinheiro et al., 2013), um quadro real sobre o nicípios de Maturéia, São João do Tigre e Soleda-
quanto foi alterado desse bioma até o momento de (Figura 1), localizados na parte semiárida da
ainda não foi definido (Castelletti et al., 2005). Paraíba.
Levando em consideração a hipótese de que na Os critérios para seleção dos municípios e das
Caatinga tivéssemos antes da colonização européia áreas de estudo foram baseados nas características
florestas secas bem mais desenvolvidas em quan- naturais dominantes e no uso e ocupação das terras.
tidade e diversidade, comparando ao que temos As áreas amostradas estão inseridas em uma
dominando atualmente (Coimbra-Filho e Câmara, zona onde a pluviosidade média é de cerca de
1996), pensando em ações efetivas para a recupe- 600 mm/ano, com período chuvoso concentra-
ração desses ambientes, torna-se fundamental com- do nos meses de fevereiro à maio, apresentando
parar as áreas relativamente bem preservadas ainda forte variação ao longo do tempo e do espaço. As
existentes com as que foram perturbadas, para que temperaturas médias são de 27º C, o que torna o
se possa detectar se houve mudanças na composição déficit hídrico presente a maior parte do ano. Os
das espécies vegetais, como já foi identificado em solos dominantes são do tipo Neossolo Regolítico,
outras florestas secas no mundo (Murphy e Lugo, pouco profundos (menos de 1 m), arenosos, mo-
1986; Gentry, 1995; Medina, 1995) e, a partir daí, deradamente ácidos, com boa reserva de minerais
desenvolver ações melhor orientadas. primários, baixos conteúdos de matéria orgânica
Apesar da insuficiência de dados mais precisos, e nitrogênio que decrescem com o uso (Cunha et
Sá et al. (2004) destacam o Estado da Paraíba como al., 2010).
Venezuela
Suriname
Guiana Guiana Francesa
Colômbia
0º0'0"
10º0'0"S
Peru Brasil
6º0'0"
20º0'0"S
Ceará
Chile Paraguai Rio Grande do Norte
Argentina
30º0'0"S
0 650 1 300
Uruguai km
7º0'0"S
SOLEDADE
MATURÉIA
Paraíba
Legenda
Brasil
Região Nordeste
80º0'0"S
Municípios Paraibanos 0 50 100
Km
SÃO JOÃO DO TIGRE
Municípios de Estudo PERNAMBUCO
O uso e ocupação das terras nesses municípios, preservação e outra de degradação (chamadas aqui
a exemplo do que domina nessa parte do Brasil, como “não-desertificadas” e “desertificadas”). Essa
está fundamentado secularmente na agricultura distinção de ambientes foi baseada na maior ou
(principalmente de subsistência), pecuária exten- menor densidade da cobertura vegetal, inicialmente
siva (particularmente caprina) e extrativismo vege- a partir de observações em imagens de satélite. Para
tal (notadamente a produção de lenha e carvão tanto, foram utilizadas imagens do satélite Land-
vegetal), em propriedades que vem diminuindo de sat5, disponibilizadas no site do Instituto Nacional
tamanho ao longo da história, devido as sucessivas de Pesquisas Espaciais (INPE). As datas das imagens
divisões por questões de herança entre os familiares. foram 19/07/2007 para o município de São João do
Esse conjunto de fatores faz com que parte dos mu- Tigre, 22/04/2010 para o município de Soledade
nicípios analisados tenha seus territórios atingidos e 28/08/2010 para o município de Maturéia, por
pela desertificação, embora também apresentem serem períodos próximos ao ano de realização do
algumas áreas com bons níveis de preservação da trabalho (2011) e também pelo material disponível
Caatinga e uso sustentável dos solos (Souza, 2011). no site não apresentar cobertura de nuvens que
Vale ressaltar a importância das áreas analisadas pudesse comprometer a análise feita.
estarem localizadas em municípios distantes entre Para identificar as áreas com maior e menor
si (mínimo de 130 km) o que, em termos de dese- densidade de cobertura vegetal, as imagens de
nho amostral, evita efeitos negativos relacionados satélite foram submetidas a uma análise de índices
à pseudoreplicação e/ou autocorrelação espacial de vegetação, as quais são relacionadas a parâmetros
(Hurlbert, 1984; Legendre, 1993). biofísicos da cobertura vegetal, como biomassa e
Em cada município foi selecionada como amos- área foliar, optando-se pelo Índice de Vegetação de
tragem da situação encontrada uma condição de Diferença Normalizada (NDVI), a mais frequente-
mente utilizada nesses tipos de trabalho (Ponzoni (Zar, 1999). Em adição, um Escalonamento Multi-
e Shimabukuro, 2007). Para essa fase foi utilizado dimensional Não-Métrico (nMDS), através do coe-
o software ARCGIS 10.2. ficiente de Bray-Curtis, foi aplicado para sumarizar
Também foi averiguado se nas áreas seleciona- a dimensionalidade dos dados e criar um diagrama
das as características de preservação e degradação 2D mostrando como as variáveis estão espacialmen-
estavam dessa forma há pelo menos 20 anos, com te agrupadas (Kruskal, 1964). A medida utilizada
base em relatos da população que habitava o seu para essa análise foi a abundância relativa (N%) das
entorno. A adoção desse procedimento procurou espécies de plantas sob cada ambiente. Valores de
assim seguir o que a CCD (1995) define como de- stress obtidos pelo teste indicam graus de similari-
gradação da terra, onde uma das questões cruciais dades (ou dissimilaridades), com elevados índices
diz respeito à série temporal da aquisição de dados, mostrando comunidades sobrepostas, enquanto
evitando assim a categorização de uma paisagem baixos valores indicam comunidades segregadas.
dita como desertificada baseada somente em uma A fim de evitar ruídos estatísticos, foi feita uma
situação momentânea. seleção das espécies que melhor caracterizaram as
comunidades de plantas das áreas não-desertificadas
Coleta dos dados e desertificadas, conforme orientam Legendre e
O levantamento florístico foi realizado ao longo do Legendre (1998). Nesta seleção, espécies ocorrentes
ano 2011, ocorrendo nas áreas selecionadas através em apenas um município fora 2m excluídas. Assim,
de transectos, com dimensões de 50m x 4m, deli- um subconjunto de dez espécies (≈ 74% do total
mitados por fita métrica. Dentro do perímetro de amostrado) foi selecionado para análise de nMDS.
cada transecto, foi quantificada a abundância (N) As análises estatísticas foram calculadas pelo
e riqueza (S) das espécies arbustivas e arbóreas com software livre R (pacotes Stat e Ecodist), adotando
Diâmetro a Altura do Peito (DAP) maior ou igual nível de significância (valor p) menor que 0.05 para
a 10cm e identificadas suas respectivas famílias rejeição da hipótese nula.
botânicas.
6º0'0"
7º0'0"S
SOLEDADE
MATURÉIA
Paraíba
80º0'0"S PERNAMBUCO
Legenda
Locais de Amostragem
Municípios do Estudo
Baixo
IVDN
Alto
Figura 2. IVDN dos municípios analisados, destacando em núme-ros as áreas desertificadas (1, 3 e 5) e não-desertificadas
(2, 4 e 6) onde foram efetuados os levantamentos de vegetação.
Quadro 1. Lista de espécies de plantas com medidas de abundância absoluta e relativa (em parênteses) identificadas nos
ambientes não-desertificados e desertificados, nos municípios analisados
Quadro 1. Continuação
Quadro 1. Continuação
30
20
10
0
MANGLA
MYRURU
CROSON
ANACOL
COMLEP
CROECH
ENTCON
XIMAME
BAUCHE
MIMTEN
PSEMAR
CONLEP
CERJAM
JATMOL
HELBAR
SYACEA
ASPPYR
CAEFER
PILGOU
CAPFLE
TABIMP
POIPYR
CEIGLA
PILPAC
DIOsp.
PIPSTI
Quadro 2. Teste U comparando os componentes da comunidade de plantas registradas nos dois ambientes. As variáveis
são representadas como Média ± Erro-Padrão. Níveis p representam diferenças significativas
Ambientes Teste U
Variáveis
Não-Desertificados Desertificados U p
Abundância (N) 76.00 ± 14.57 49.33 ± 15.51 0 0,12
Riqueza (S) 13.00 ± 1.15 5.00 ± 1.15 1 0,04
Diversidade (H’) 1.99 ± 0.23 1.02 ± 0.21 1 0,04
Equitabilidade (J’) 0.78 ± 0.08 0.54 ± 0.10 0 0,12
CROSON
Neste sentido, destacamos que a presença ou ausên-
POIPYR
cia de espécies pode ser uma ferramenta poderosa
0.2
ANACOL
TABIMP
no que diz respeito aos bioindicadores de qualida-
de ambiental (Krogh et al., 2002). Além disso, o
Eixo 2
BAUCHE
conhecimento das espécies colonizadoras de áreas
0.0
JATMOL PIPSTI
mesmas, assim como possibilitar avaliações quali-
quantitativas de áreas em recuperação ambiental
(Nappo et al., 2000; Tabarelli e Vicente, 2004)).
-0.4
MIMTEM
Em se tratando deste trabalho, as famílias do-
-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4
minantes para os dois ambientes analisados foram
Eixo 1 Fabaceae e Euphorbiaceae, o que corrobora com
os antigos relatos de Cabrera e Willink (1973) e
Figura 4. Escalonamento multidimensional não-métrico Sarmiento (1975) sobre a importância destas fa-
(nMDS) usando um subconjunto de dez espécies de plantas mílias nas formações xerófilas na América do Sul.
mais representativas dos ambientes não-desertificados No Brasil em específico, Fabaceae é considerada
(símbolo ), desertificados (símbolo ) e comuns aos
dois ambientes (símbolo ). Acrônimos são descritos no a família mais diversa na Caatinga (Cardoso e
Quadro 1. Queiroz, 2010).
ecológicas interessantes. Nos locais preservados no presente trabalho o alto adensamento dessa
(não-desertificados) ocorreram poucas espécies espécie nas áreas não-desertificadas, associada a
com elevada abundância (Croton sonderianus, coexistência de outras espécies mencionadas, pode
Combretum leprosum, Manihot glaziovii) e muitas corroborar com essa função ecológica em ambientes
espécies pouco abundantes (Ceiba glaziovii, Cereus de baixa pressão antrópica.
jamaracu, Commiphora leptophloeos, Enterolobium Nas áreas desertificadas, por sua vez, a elevada
contortisiliquum, Pilosocereus pachycladus). Já nos abundância das espécies Aspidosperma pyrifolium,
ambientes degradados, houve um aumento na Jatropha molissima, Mimosa tenuiflora e Pilosocereus
amplitude das espécies muito ou relativamente gounellei pode ser atribuída tanto pelo fato dessas
abundantes (Aspidosperma pyrifolium, Croton son- espécies estarem entre as mais resistentes ás secas
derianus, Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea na região semiárida do Brasil (Silva et al., 2004)
e Poincianella pyramidalis) e uma diminuição das quanto, em relação as duas primeiras, por apre-
espécies menos abundantes (Croton echioides e sentarem algumas características que diminuem os
Pilosoceureus pachyladus). Dessa maneira, o padrão impactos da pressão do uso pela população e pelos
encontrado nas áreas não-desertificadas foi similar animais domésticos.
aos modelos de estrutura e dinâmica populacional No caso de Aspidosperma pyrifolium, sua ma-
em comunidades naturais bem preservadas (Ma- deira não é considerada de boa qualidade para
gurran e Henderson, 2003). a construção de cercas ou produção de lenha e
Das dez espécies em destaque neste trabalho, foi carvão, ao passo que, apresentando toxicidade para
constatada a elevada abundância de Anadenanthera consumo de animais, em especial caprinos (Lima e
columbrina, Bauhinia cheilantha e Tabebuia impeti- Soto-Blanco, 2010), a ingestão das suas folhas so-
ginosa nas áreas não-desertificadas. Tal resultado foi mente ocorre quando estas caem no solo, perdendo
corroborado parcialmente pelos levantamentos de essa característica, aspecto também existente em
Pereira et al. (2001), os quais constataram que tanto Jatropha molissima (Souza, 2008). No caso do ele-
Bauhinia cheilantha como Tabebuia impetiginosa vado número de indivíduos de Mimosa tenuiflora,
ocorreram apenas nas áreas moderadamente impac- esse padrão já tem sido registrado em outras áreas
tadas e nos remanescentes preservados da Caatinga antropizadas da Caatinga (Galindo et al., 2008;
na Paraíba. Uma vez que essas espécies são muito Pereira et al., 2003). Apesar dessa última espécie ser
procuradas pela população para aproveitamento muito apreciada como alimento pelo gado, também
da sua madeira (Tabebuia impetiginosa), casca para apresenta toxicidade quando as suas folhas são
uso no beneficiamento do couro (Anadenanthera consumidas em grande quantidade, sendo inclusive
columbrina) e como alimento para o gado (Ana- abortivas (Dantas et al., 2012), característica que
denanthera columbrina e Bauhinia cheilantha), o inibe o seu uso excessivo pelos animais.
fato de ainda serem encontrados diversos exem- Comum aos dois tipos de ambientes, ocorre-
plares dessas espécies nessas áreas representa uma ram Croton sonderianus, Piptadenia stipulacea e
situação razoável de preservação das suas condições Poincianella pyramidallis, espécies pioneiras e de
ambientais. relativa resistência á antropização na Caatinga, o
Apesar de Combretum leprosum ter ocorrido ape- que faz com que colonizem ambientes submeti-
nas em áreas não-desertificadas, ela não entrou na dos a diferentes pressões antrópicas (Pereira et al.,
análise do nMDS porque só foi registrada em um 2001). Neste sentido, ainda que as duas primeiras
município (Maturéia). Sobre essa espécie, vários espécies sejam muito utilizadas pela população para
autores têm constatado sua densa cobertura sob a construção de cercas e produção de lenha, elas
locais impactados (e.g. Moreira et al., 2007; Costa possuem alta capacidade de rebrota após submeti-
et al., 2009), entretanto um recente estudo mostrou das a corte, destacando-se assim nos dois tipos de
seu papel ecológico como facilitadora à colonização situação (Sampaio et al., 1998).
de outras espécies no Bioma Caatinga (Vieira et al., Com base nos resultados obtidos pode-se
2013). Levando em consideração essa observação, afirmar que a distribuição espacial das plantas
na Caatinga, para além dos fatores ecológicos, bam influenciando negativamente o crescimento
são grandemente dependentes das formas de uso das espécies utilizadas, provocando muitas vezes o
dos solos nessas terras, onde muito da economia fenômeno de nanismo. De maneira semelhante,
depende de uma agropecuária com bases rudimen- quando os caprinos consomem os frutos nativos,
tares, da mesma maneira que ocorre em relação ao muitas sementes são totalmente trituradas, impe-
extrativismo vegetal. Particularmente em relação dindo assim a germinação e reprodução das plantas
ao primeiro tipo de atividade, o corte seguido de (Leal et al., 2005).
queima da vegetação nativa para ceder espaço aos Pelo exposto acima, a pecuária caprina, parti-
cultivos e ao gado é uma prática comum e cen- cularmente quando praticada com altas taxas de
tenária nesse Bioma (Sampaio e Salcedo, 1993). lotação em áreas de Caatinga e associadas a outras
Nesse caso, dependendo da espécie, as diferentes formas de pressão sobre a vegetação, tem o poder de
respostas ao fogo são capazes de gerar mudanças empobrecer e reduzir o porte das plantas, levando
na sua riqueza e diversidade, ao passo que algumas à ocorrência da desertificação (Leal et al., 2005),
outras podem ser dizimadas nesse processo (Silva o que também já foi constatado em outras regiões
et al., 2005). semiáridas do mundo (e.g. Friedel et al., 2003; Li
Outra questão importante observada nas áreas et al., 2006).
não-desertificadas e desertificadas analisadas nesse
trabalho diz respeito a menor presença ou mesmo
inexistência de caprinos nas primeiras, enquanto CONCLUSÃO
as segundas caracterizaram-se pela presença desses
Levando em consideração que as observações feitas
animais, o que colabora decisivamente para o
no presente trabalho compõem uma realidade cada
quadro encontrado nos dois tipos de ambientes. A
vez mais presente nessa região do Brasil, os resul-
prática da caprinocultura é uma atividade tradicio-
tados encontrados revelaram uma relação estreita
nal nessa parte do Brasil, influenciando de forma
e dinâmica entre vegetação e uso das terras, a qual
marcante a redução do crescimento, reprodução,
pode resultar no estabelecimento da desertificação.
diversidade vegetal e modificação na estrutura da
Neste sentido, de forma geral, o trabalho constatou
comunidade clímax em muitas áreas da Caatinga
que a desertificação desencadeou mudanças tanto
(Leal et al., 2005) bem como em outros biomas de
nos componentes (riqueza e diversidade) quanto
climas secos existentes ao redor do globo (Coley,
na composição florística da Caatinga. Destarte,
1983; Krupnick et al., 1999; Lechemere-Oertel et
a forma, a intensidade e o tempo de uso dessas
al., 2005; Rosenthal e Kotanen, 1994).
terras, mediante as intervenções humanas, foram
Os caprinos são pouco seletivos em relação ás
determinantes no estabelecimento das diferentes
plantas que utilizam como alimento, fazendo uso
situações analisadas.
de até 70% das espécies existentes na Caatinga,
o que se torna potencializado por permanecerem
junto a vegetação nativa consumindo-a durante o REFERÊNCIAS
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