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“A Batalha de Aljubarrota”

“Deu sinal a trombeta castelhana,


Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso.
Ouviu o Douro e a terra transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso…”


É assim que principia o episódio da batalha de Aljubarrota, incluído
no canto IV de «Os Lusíadas» e integrado na descrição da história
de Portugal que Vasco da Gama faz ao rei de Melinde. Começa
hiperbolicamente, num exagero propositado, do poeta que nos dá,
no entanto, a imagem perfeita e justa da importância da batalha
que ia travar-se em Aljubarrota, e de cujo resultado dependeria a
independência de Portugal ou a sua sujeição a Castela - o que bem
poderia vir a modificar, e em muito, o curso de muitas coisas.

Estrofes 28 e 29 (Introdução) – inicio da batalha


sinalizada pela Trombeta Castelhana e reacção
personificada da natureza e das pessoas em geral.

Estrofe 30 – no inicio do combate desde logo de


destaca a presença de Nuno Alvares Cabral.

Estrofe 31 – Descrição da movimentação e do ruído


próprio do combate.

Estrofe 32 e 33 – Traição dos dois irmãos de Nuno


Alvares Pereira que combateram pelo exército de
Castelo e referência a outros traidores da história
antiga.

Estrofes 34 até 42 – Descrição da Batalha


propriamente dita, com especial saliência, para as
actuações decisivas de Nuno Alvares Pereira e D.
João I.
Estrofes 43 até 45 (conclusão) – o desânimo e a
fuga dos Castelhanos perante a vitória dos
portugueses.
Divisão em partes
* Introdução (Est. 28 e 29) - descrição do toque da trombeta
castelhana e os seus efeitos nas pessoas e na natureza;
* Desenvolvimento (Est. 30-42) - descreve-se a batalha - o início
(Est. 30), o movimento e o ruído do combate (Est. 31), a traição de
alguns portugueses, nomeadamente a dos irmãos de D. Nuno (Est.
32 e 33) e a batalha com especial incidência nas figuras de D. Nuno
(Est. 34 e 35) e de D. João I (Est. 36 e 37) que conduzem à derrota
castelhana;
* Conclusão (Est. 43-45) - desânimo e fuga dos Castelhanos e a
vitória dos Portugueses.

Levantamento oral das figuras de estilo que


contribuem para a descrição da batalha
* Hipérbole: Est. 30, 31, 32, 35, 37, 38.
* Personificação: Est. 28.
* Visualização: Est. 31.
* Uso do Presente histórico: "voam, treme, soam, espedaçam-se,
atroam, recrecem, apouca".
* Sonoridades de raízes onomatopaicas: consoantes oclusivas (p, t,
c, b, d, g), aliterações (s) e alternância de ritmos (binário e ternário).
* Adjectivação expressiva: "Horrendo, fero, ingente e temeroso…
terríbil… duro… espesso… estridentes…".
* Gradação decrescente (Est. 42) : "Com mortes, gritos, sangue e
cutiladas".
Camões descreve com riqueza de pormenores a batalha que
garantiu a independência de Portugal. O 1º. sinal de guerra "Deu
sinal a trombeta Castelhana", dado pelo inimigo é descrito como
"Horrendo, fero, ingente e temeroso" e a figura de estilo usada é a
Adjectivação. O efeito produzido por esse sinal é transmitido através
da personificação "Ouviu-o o Monte Artabro, e Guadiana/Atrás
tornou as ondas de medroso./Ouviu o Douro e a terra
Transtagana;/Correu ao mar o Tejo duvidoso". O medo é manifesto
nos que vão combater "Quantos rostos ali se vem sem cor,/Que ao
coração acode o sangue amigo!/Que, nos perigos grandes, o
temor/É maior muitas vezes que o perigo". A batalha inicia-se e o
herói destaca-se logo "Logo o grande Pereira, em quem se
encerra/Todo o valor primeiro se assinala". O fragor da batalha é-nos
transmitido através de sensações auditivas "estridentes… soam…
atroam…" e visuais "espesso ar… voam… treme…". Houve
portugueses que traíram a Pátria e lutam por Castela "Eis ali seus
irmãos contra ele vão". Nuno Álvares Pereira destaca-se como
aquele que mais luta e que está em todo o lado, a figura de estilo
utilizada para descrever a acção do herói é a Hipérbole "Está ali
Nuno, qual pelos outeiros/De Ceita está o fortíssimo leão" e "Tal está
o cavaleiro, que a verdura/Tinge co sangue alheio", é ele também
quem instiga os companheiros para que não se deixem vencer e
continuem a lutar como se pode ver na estância 38. O seu intento
foi conseguido e os portugueses continuaram a lutar "Porque eis os
seus acesos novamente". O ritmo da batalha vai crescendo e atinge
o seu clímax "Aqui a fera batalha se encruece" para logo depois se
dar a debandada dos castelhanos, patente nas estâncias 42 e 43.
Todos vão descansar excepto o herói, que quer ser lembrado pelas
suas vitórias e parte em busca de novas glórias "Mas Nuno, que não
quer por outras vias/Entre as gentes deixar de si memória/Senão
por armas sempre soberanas,/Pera as terras se passa transtaganas".

Caracterização do herói
Atitudes e comportamento reveladores de equilíbrio, virtude,
lealdade, justiça, coragem, mérito próprio, ideal cavalheiresco.

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