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MEDIAÇÃO

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ÍNDICE
1. CONCEITUAÇÃO...............................................................................................................5
Conceito......................................................................................................................................................................................... 5

2. ESCOLAS DA MEDIAÇÃO...............................................................................................7
Escola Transformativa (Bush e Folger).....................................................................................................................7
Escola Tradicional – Linear (Projeto de Negociação de Harvard).........................................................7
Escola Circular Narrativa – Sara Cobb.......................................................................................................................7

3. TIPOS DE MEDIAÇÃO......................................................................................................9
Mediação Facilitativa............................................................................................................................................................. 9
Mediação Valorativa, Interventiva ou Avaliativa................................................................................................. 9

4. PRINCÍPIOS........................................................................................................................11
Princípio da Autonomia da Vontade das Partes............................................................................................... 11
Princípio da Voluntariedade e da Decisão Informada.................................................................................. 11
Princípio da Informalidade................................................................................................................................................ 11
Princípio da Independência.............................................................................................................................................12
Princípio da Oralidade.........................................................................................................................................................12
Princípio da Imparcialidade e da Neutralidade.................................................................................................13
Princípio da Cooperação e Busca do Consenso..............................................................................................14
Princípio da Boa-fé................................................................................................................................................................15
Princípio da Confidencialidade.....................................................................................................................................15
Princípio da Isonomia..........................................................................................................................................................16

5. FINALIDADES DA MEDIAÇÃO....................................................................................19
Restauração do Diálogo entre as Partes...............................................................................................................19
Preservação do Relacionamento................................................................................................................................19
Evitar Novos Conflitos......................................................................................................................................................20
Inclusão Social........................................................................................................................................................................20
Democracia Participativa e Pluralista.....................................................................................................................20
Pacificação Social ...............................................................................................................................................................20
6. TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO.......................................................................................... 23
Noções Introdutórias – Linhas de Qualidade....................................................................................................23
Competências autocompositivas..............................................................................................................................23
Técnicas Específicas.......................................................................................................................................................... 24

7. SESSÃO DE ABERTURA............................................................................................... 28
Fases da Sessão.................................................................................................................................................................... 28

8. COMO ESTÁ DISCIPLINADA A MEDIAÇÃO............................................................ 31


Diferença entre Conciliação e Mediação:..............................................................................................................31

9. CONFIDENCIALIDADE.................................................................................................34
Mediador: Técnicas e Cadastro sob a Ótica do CPC..................................................................................34
Mediador: Atuação e Cadastro sob a Ótica da Lei de Mediação.......................................................35

10. REMUNERAÇÃO DO MEDIADOR............................................................................ 37

11. IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO....................................................................................40


Impossibilidade do Exercício da Função de Mediador...............................................................................41

12. MEDIAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......................................................43


Outras Possibilidades da Lei de Mediação: Mediação Coletiva de Conflitos Relacionados
à Prestação de Serviços Públicos.............................................................................................................................43

13. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO PRÉVIAS AO PROCESSO JUDICIAL...............45


O Uso do Termo “Audiência” ...........................................................................................................................45
Como Indicar o Desinteresse no Procedimento Consensual:...............................................................45

14. ESPECIFICIDADES PROCEDIMENTAIS..................................................................48


Tutela Antecipada em Caráter Antecedente (urgência contemporânea à propositura da
ação)..............................................................................................................................................................................................48
Manutenção e Reintegração de Posse..................................................................................................................48
Ações de Família...................................................................................................................................................................48
Temas Relevantes.................................................................................................................................................................48
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CONCEITUAÇÃO
1. Conceituação
O Novo Código de Processo Civil, com o objetivo de estabelecer métodos alternativos de
resolução de conflitos, trouxe para o rol dos auxiliares da justiça a regulação das figuras do
conciliador e do mediador, não excluindo formas de conciliação e mediação extrajudiciais,
vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas por profissionais independentes, as quais
poderão ser regulamentadas por lei específica, artigo 175 CPC.

O objetivo é trazer a possibilidade de uma composição amigável e consensual entre as


partes, trazendo mais celeridade à resolução do conflito quando a alternativa de jurisdição
estatal se torna dispensável. Cabe aos conciliadores e mediadores, neste sentido, facilitar
o diálogo entre as partes.

Conceito
A lei de mediação é a Lei 13.140/2015. Caracterizada por um meio de resolução de
conflito em que um terceiro, de modo imparcial (existe a possibilidade de uma pessoa
ser absolutamente imparcial?), ajuda a restabelecer o diálogo entre as partes, tentando
identificar as razões que levaram ao litígio, na tentativa de promover uma resolução
ou transformação do conflito. É necessário estabelecer, ainda, que a mediação é uma
espécie de resolução consensual de conflitos, podendo diferenciar-se da conciliação na
medida em que tem uma maior preocupação com os motivos e causas do conflito. De
acordo com os parágrafos 2 e 3 do artigo 165 do novo CPC, a mediação é mais indicada
em casos nos quais existia um liame prévio entre as partes, ao passo que a conciliação é
mais recomendada quando a ligação é estabelecida pela existência do conflito.

Insta frisar que a mediação é aceita em relação a direitos disponíveis E indisponíveis que
aceitem transição.  No entanto, o compactuado entre as partes que envolvam direitos
indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo com a oitiva do Ministério
Público (§2º do art. 3º da Lei).

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ESCOLAS DA
MEDIAÇÃO
2. Escolas da Mediação

Escola Transformativa (Bush e Folger)


O objetivo central dessa escola não é o acordo entre as partes, e sim a transformação
do conflito, na medida em que se empoderam as partes, conferindo a elas a segurança
de que são capazes de resolver seus problemas sozinhas. No mesmo sentido, traz-se
às partes o reconhecimento de que seus motivos e sentimentos quanto ao conflito
são legítimos, mas que, entretanto, devem ser trabalhados para que o conflito seja
transformado proveitosamente a ambas as partes na medida em que isso for possível.

Escola Tradicional – Linear (Projeto de Negociação de Harvard)


O objetivo central dessa escola é trazer acordos que sejam sensatos e dentro dos limites do
que é considerado razoável e justo. Esses acordos trazem como premissa características
necessárias a serem observadas. Há de se mencionarem a autodeterminação e
consentimento informado das partes, que podem ser traduzidos pela possibilidade e
consciência das partes para tomarem suas próprias decisões e terem noção do que é
possível aceitar-se ou não. Ademais, é necessário trazer a neutralidade do mediador na
tomada de decisões.

Escola Circular Narrativa – Sara Cobb


O objetivo principal dessa escola é transformar a história do conflito na sua vertente
mais positiva. Como se daria esse processo? A narrativa das duas partes é entrelaçada
elencando-se os pontos positivos de cada uma. Diante dessa nova conotação mais
positiva, é necessário que ocorra a legitimação das razões e motivos de cada parte,
buscando sempre a melhor vertente do conflito. Sendo assim, é possível que ocorra a
melhor solução possível para ele.

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TIPOS DE MEDIAÇÃO
3. Tipos de Mediação

Mediação Facilitativa
Nesse tipo de mediação, ocorre maior empoderamento das partes na medida em que
não há intervenção do mediador na propositura de soluções.

Mediação Valorativa, Interventiva ou Avaliativa


O terceiro pode opinar e valorar a situação. Nesse sentido, ocorre uma aproximação
muito direta com a conciliação. Por causa dessa aproximação, correntes defendem que
não há de se diferenciar a mediação da conciliação, mas esse não foi o entendimento do
CPC de 2015, que fez uma diferenciação positivada entre os dois institutos.

Obs: o artigo 165 caput do novo CPC estabelece a criação, pelos tribunais, de
centros judiciários de solução consensual de conflitos, trazendo um afastamen-
to da realidade dos juízos, diminuindo a formalidade e o caráter litigioso das
ações, e dando maior possibilidade de soluções compactuadas. 

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4
PRINCÍPIOS
4. Princípios

Princípio da Autonomia da Vontade das Partes


A autonomia da vontade diz respeito à possibilidade de consenso entre as partes que
são livres para tomarem decisões sobre a própria vida. Essa autonomia também pode
ser chamada de liberdade das partes ou de autodeterminação, e ela é utilizada não só
em relação ao conteúdo compactuado entre os interessados, mas também à escolha
do procedimento a ser adotado na mediação, como pode ser observado no artigo 166,
parágrafo 4 do CPC/2015. É necessário observar, ainda, que é necessário que as partes
tenham capacidade, que a vontade não seja viciada e, ainda, que o compactuado seja
legal, ou seja, que esteja plenamente dentro dos limites da lei.

*Resolução número 125, CNJ - Anexo III: Código de Ética de Mediadores e Conciliadores-
Artigo 2º parágrafo 2º (trata sobre a autonomia da vontade das partes, estabelecendo
que a decisão tomada pelos envolvidos deve ser livre e não coercitiva, podendo, inclusive,
interromper o processo a qualquer momento.

Princípio da Voluntariedade e da Decisão Informada


Esse princípio traz como base a dignidade da pessoa humana, na medida em que deve
sempre observar o respeito físico e psíquico dos envolvidos, além do respeito aos mínimos
existenciais (os mínimos existenciais representam a base alicerce da vida humana. Seriam
o mínimo necessário à vida) e autodeterminação dos envolvidos. Nesse sentido, segundo
o artigo 1º, II, do anexo III da Resolução 125/2010 do CNJ, é dever do mediador manter as
partes informadas quanto aos seus direitos e deveres. É de se apontar que, analisando
os caráteres acima mencionados, é possível reconhecer os sentimentos dos indivíduos e
configurar a eles um poder de fato de tomada de decisões sobre a própria vida.

Obs: quando há grande diferença de condição de poder entre as partes, a me-


diação não é possível! Isso se dá porque tal poderia configurar um aviltamento
da dignidade, na medida em que os acordos podem ser estabelecidos com
interesses externos à própria vontade, como exemplo: um empregado aceita o
acordo com seu empregador para manter o emprego.

Princípio da Informalidade
A informalidade traz a ideia de ausência de regras e procedimentos fixos. Essa medida se
mostra essencial para naturalidade e relaxamento das partes para escolherem a melhor
solução, além de permitir que não ocorra um engessamento do mediador diante das
inúmeras possibilidades de solução de conflitos. Essa falta de formalidade não significa
que não existam parâmetros mínimos necessários de observação, e é para isso que

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serve a lei de mediação e os princípios que devem ser observados, deixando claro que a
informalidade não significa falta de técnica ou de seriedade.

A seriedade e técnica podem ser observadas através da análise do artigo 167, parágrafo
1, do CPC, que impõe capacitação mínima por meio de curso realizado por entidade
credenciada pelo tribunal. Apenas depois dessa capacitação é que ocorre o registro do
mediador no tribunal e, assim, fará parte da lista de mediadores e poderá ser designado
às mediações de forma aleatória.

Se os mediadores atuarem com dolo ou culpa na condução da mediação ou violarem


qualquer dos deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º CPC, art. 173, I; ou se atuarem em
procedimento de mediação ou conciliação, apesar de impedidos ou suspeitos (art. 173, II
CPC), os conciliadores e mediadores serão excluídos do respectivo registro. Essas duas
medidas apontadas mostram a clara técnica e seriedade com que se trata a mediação.

*Resolução 125, CNJ – Anexo III – Artigo 1º, parágrafo 6º – É necessária a observação
desse artigo para que se deixe claro que a técnica existe na medida em as leis e a ordem
pública devem ser respeitadas na solução estabelecida pelas partes.

Princípio da Independência
Os mediadores devem atuar de forma livre sem nenhuma pressão interna e externa.
É por esse motivo que não se pode medir o sucesso das mediações pelo número de
acordos, ou seja, na mediação não se pode estabelecer metas a serem cumpridas. Mais
vale um “não acordo” que traga um melhor resultado futuro para as partes do que um
acordo que traga qualquer resultado prático ruim aos envolvidos.

*Resolução 125, CNJ – Anexo III – Artigo 1º, V – Trata sobre a independência dos
mediadores e conciliadores e a não obrigação de redigir acordos ilegais.

Princípio da Oralidade
O princípio da oralidade demonstra a necessidade de comunicação entre as partes da
escuta ativa, ou seja, uma escuta com o objetivo de compreensão do está sendo dito,
e não apenas com o objetivo de resposta imediata e “contra-ataque”. Essa escuta ativa
permite que haja reinterpretação do que é dito e a maior percepção das intenções do
orador, através da observação dos gestos e entonações. O artigo 166 do CPC permite
que a tratativa entre as partes seja feita de forma oral, não constando na ata de
audiência. Ademais, a oralidade tem como objetivo conferir a celeridade ao procedimento,
prestigiar a informalidade e ainda conferir a confidencialidade, na medida em que o que
se restará escrito é pouca coisa.

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Obs: Mediação digital: Reflexão! Até que ponto esse tipo de mediação poderia
trazer resultados práticos negativos? Trazer as propostas de acordo por escri-
to e sem a presença física pode resultar em interpretações equivocadas pelo
leitor, fazendo com que o acordo não seja realizado adequadamente, por não
se poder ter certeza das intenções da outra parte. Pessoalmente, é muito mais
fácil de observar e de explicar o que se deseja compactuar.

Princípio da Imparcialidade e da Neutralidade


O mediador deve ser imparcial e não pode atuar com a intenção de privilegiar uma
das partes ou induzir a outra parte a uma solução que não atenda às suas legitimas
vontades (equidistância em relação às partes e ausência de favoritismos). Nesse sentido,
é importante que o mediador avise caso ele tenha estabelecido qualquer vínculo com
alguma das partes envolvidas. As partes podem até aceitar continuar com esse mediador
mesmo sabendo do vínculo existente entre ele e algum dos polos, mas é necessário que
os envolvidos tenham conhecimento.

*Observar o artigo 1º, IV, do anexo III da Resolução 125/2010 do CNJ – artigo que fala
sobre a necessidade de agir com ausência de favoritismos.

*Artigo 5º, parágrafo único, da Lei 13.140/2015 – artigo que fala sobre o dever do
mediador revelar às partes qualquer fato ou circunstâncias que possa suscitar dúvida
em relação a sua imparcialidade.

FERRAMENTAS FACILITADORAS PARA AJUDAR O MEDIADOR A MANTER-SE


IMPARCIAL:
A) autoanálise e autoconhecimento – É necessário que o mediador sempre
faça reflexões sobre si mesmo, com o objetivo de avaliar-se e reconhecer se sua
participação na mediação se dará de forma parcial ou se de forma tendenciosa, o
que prejudicaria a solução do conflito. Ora, deve o mediador visar à resolução que
atenda a ambos os lados de forma gratificante.
B) comediação- Não é necessário que o mediador atue de maneira solo. É possível
que, em determinados casos, uma equipe de psicólogos ou algum técnico em
assuntos específicos prestem auxílio no processo da mediação. Esse terceiro-auxiliar
ajuda na manutenção da imparcialidade do mediador, na medida em que dificulta
que este comande a sessão baseando-se em convicções próprias ou estabeleça
alianças com um dos polos.
É necessário que o mediador se declare impossibilitado de prosseguir caso sinta
que sua atuação se dará de maneira parcial.

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Obs: Inércia e imparcialidade são coisas distintas. O mediador deve ser imparcial,
mas isso não lhe tira o dever de agir com todas as técnicas necessárias com o
objetivo de proporcionar um ambiente favorável à resolução do conflito. (artigo
166, parágrafo 3º do novo CPC).

Princípio da Cooperação e Busca do Consenso


Esse princípio estabelece que o mediador deve buscar de forma cooperativa com as
partes a solução do conflito, ainda que solucionar o conflito não seja o objetivo único da
mediação. Ele deve usar técnicas de negociação e mediação como as ensinadas pelo
modelo da escola de Harvard, quais sejam:

A) separar as pessoas dos problemas – não tratar o problema como algo inerente
à pessoa.
B) buscar pelo interesse real – focar-se nos interesses propriamente ditos e não em
posições pré-estabelecidas.
C) prezar por opções de ganho mútuo – tentar fazer com que as duas partes saiam
satisfeitas, de alguma maneira, com o consenso.
D) utilizar critérios objetivos – ponderar as opções criadas de maneira que os
interesses subjetivos e mágoas pessoais não tenham relevância para a propositura
de soluções.

*CPC – artigo 166 parágrafo 3 e *lei de mediação artigo 2, IV

Atenção!

Busca do consenso é diferente de encontro do acordo (o objetivo não necessari-


amente é o acordo, mas, sim, a mudança da relação das partes e a abertura do
diálogo saudável entre elas).

Nesse sentindo, o artigo 167, parágrafo 3º, é criticado, na medida em que ele estabelece
que os mediadores devem ter em seu cadastramento informações importantes, incluindo
o número de processos de que participou e ainda a quantidade de sucessos da atividade.
Ora, se não é a quantidade e o número de acordos, mais importantes no objeto da
mediação, como julgar a qualidade do mediador pelo número de acordos angariados? 
Esse tipo de dispositivo pode fazer com que o mediador se sinta estimulado a tentar
alcançar um acordo de qualquer maneira, atropelando os liames da decência, justiça,
razoabilidade, etc, o que, obviamente, vai de encontro à essência da mediação.

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Obs: é importante frisar que a cooperação entre as partes não se restringe ao
campo da mediação. É necessário que as partes cooperem e colaborem entre
si também nos litígios judiciais comuns, como pode ser observado no artigo 6º
do CPC. Isso fará com que a prestação jurisdicional ocorra da melhor maneira
possível para ambos os polos, mesmo que a escolha do procedimento não
tenha sido a mediação.

Princípio da Boa-fé
O princípio da boa–fé caracteriza-se por uma convicção íntima do indivíduo de que a
outra parte está agindo com lealdade, honestidade e justiça para alcançar uma salutar
produtividade. Essa convicção permite que a mediação possa ser aplicada, uma vez que
as partes só se submetem a esse procedimento caso acreditem que realmente há a boa
vontade e cooperação do outro. O mediador também deve transparecer que está agindo
de boa-fé, fazendo com que as partes confiem que estão adotando a melhor saída para
a solução do conflito. Isso favorece o trabalho em conjunto das partes envolvidas.

Existem alguns traços subjetivos do indivíduo que podem indicar um agir de má-fé:
Instabilidade emocional, ódio, desejo de punir a outra parte, ressentimento. Esses
motivos trazem a clara percepção de elementos subjetivos que aproximam as pessoas
do problema, indo de encontro com o trazido pela escola de Harvard. Nesse caso, é papel
do mediador transformar o conflito e a relação das partes, na tentativa de transformar a
competição em cooperação, utilizando-se de mecanismos para reduzir a desconfiança,
aproximando-se dos ensinamentos trazidos pela escola transformativa. Nesse sentido,
o mediador faz com que, no momento da crise que daria ensejo a um pensamento
de “auto-centramento” (o indivíduo é levado a pensar apenas nele próprio e nos seus
problemas e mágoas) e enfraquecimento da possibilidade de consenso, os problemas
e as relações sejam transformados, aumentando a possibilidade de fortalecimento da
solução e o reconhecimento pelo indivíduo das próprias limitações e motivos e interesses
da parte contrária.

Princípio da Confidencialidade
A confidencialidade é um princípio que confere a impossibilidade de qualquer informação
obtida na audiência de mediação ser utilizada para outro fim que não a obtenção do
consenso ou do que foi deliberado pelas partes. Ou seja, as informações só podem ser
divulgadas se as partes deliberarem dessa maneira, e essa deliberação deve acontecer
de maneira expressa. Há a possibilidade de que certas informações sejam passadas ao
mediador de maneira separada, primeiro por uma parte e depois por outra, tendo o
mediador o dever de não falar para a parte contrária o que lhe foi dito pela outra.

A confidencialidade favorece a boa – fé, diálogo, transparência e o favorecimento do


compartilhamento, porque as partes sabem que aquilo sobre o que conversaram não

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poderá ser utilizado contra elas em nenhum procedimento judicial, nem por parte do
mediador e nem por parte membro algum da equipe. A confidencialidade se refere a
todas as informações produzidas durante o procedimento.

*Artigo primeiro parágrafo 1º, anexo III da Resolução nº 125, CNJ: fala sobre o dever
de manter o sigilo sobre as informações obtidas na mediação, não podendo o mediador
atuar como testemunha do caso, nem advogado caso o litígio caia em processo judicial.

Obs: exceções da confidencialidade (olhar os artigos 30 e 31 da Lei 13.140/2015).


Pode ser ignorado o dever de confidencialidade nas seguintes situações:

"" Se as partes deliberarem por afasta-lo;


"" Se, por algum motivo, a divulgação do caso for exigida por lei;
"" Se for necessária a divulgação do caso para o cumprimento do acordo;
"" Se houver informações relativas à ocorrência de crime de ação pública que possam afetar o
caso;
"" Se houver informações de interesses da administração tributária que não podem ser escondi-
das.

Princípio da Isonomia
A isonomia é de ser considerada na medida em que as partes devem ser tratadas
igualmente, tendo as mesmas oportunidades de manifestação e a mesma chance de
participação. Nesse sentido, o mediador tem o dever de esclarecer as consequências
da celebração, ou não, de um acordo; observar se as partes possuem condições e
capacidades de consentir plenamente à solução apresentada, e facilitar a conversação
equilibrada entre as duas partes.

Sobre a isonomia, ler o artigo 2º, II, da Lei 13.140/2015.

Obs: e se houver disparidades de poder entre as partes? ou disparidade de per-


cepção (entendimento equivocado da situação) ou assimetria extrema entre
as partes (as duas partes sabem que uma delas encontra-se em posição muito
mais fraca, é o caso da relação trabalhista). Como o mediador deve agir? Ele
pode, através da utilização de técnicas, tentar minimizar essa diferença.

Quais são essas técnicas profissionais? Dentre as mais usadas:

"" Auxílio na coleta e análise de dados;


"" Identificação e mobilização de meios de influência sobre as partes;

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"" Educação da parte no planejamento da estratégia de negociação – explicar tudo (muito bem
explicado) a ambas as partes, ajudando-as a lançar possibilidades objetivamente;
"" Indicação de assistência por um advogado, se for o caso;
"" Encorajamento tão somente de concessões realistas e oportunas.

Atenção!

O mediador deve sempre informar às partes que não as pode orientar juridica-
mente, havendo necessidade de procurarem um advogado em caso de dúvi-
das, e que a assinatura de um acordo pode afetar seus direitos.

Em casos nos quais, mesmo utilizando-se as técnicas, a isonomia não for alcançada, a
mediação deve preferivelmente ser encerrada, pois tentar promover o equilíbrio nesses
casos pode gerar uma interferência muito direta do mediador, um “forçar a barra”, o que
não é aconselhado, já que ficariam implícitos julgamentos e suposições por parte do
mediador. Ora, estes não são encorajados, tendo em vista que a autodeterminação das
partes é o quesito mais importante da mediação. Lembre-se de que o objetivo final não
é o consenso, e sim a transformação do conflito (de forma positiva a ambas as partes na
medida do possível).

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5
FINALIDADES DA
MEDIAÇÃO
5. Finalidades da Mediação

Restauração do Diálogo entre as Partes


O diálogo não deve ser feito de qualquer maneira, ele deve ser feito de modo eficiente,
produtivo e com respeito. Aproveitar o tempo que se tem para que seja estabelecido
um diálogo respeitoso que tenha com o objetivo transformar a situação conflituosa.
Os fatores emocionais influenciam em um diálogo truncado, sendo papel do mediador
tentar reestabelecer o equilíbrio e diminuir a tensão causada pelos fatores emocionais.

Sendo assim, o mediador estabelece uma pauta de comunicação objetiva. Como?


Estabelece as regras da mediação, colocando uma ordem de fala, uma possível réplica
e tréplica e, ainda, estabelece quais pontos serão abordados, dependendo do tipo de
conflito, ou seja, se o problema se originou por causa de um divórcio, por exemplo, há de
se estabelecer os temas deverão ser debatidos, envolvendo a matéria de bens, filiação,
pensão, para que as partes não percam tempo falando de assuntos que nada tenham a
ver com o problema atual.

Atenção!

A mediação pode acontecer mesmo quando as partes não estão em condições


de conversar diretamente uma com a outra através das reuniões individuais
com o mediador.

Preservação do Relacionamento
É por isso que a mediação é indicada em casos nos quais a relação entre os sujeitos já
existia antes do conflito. As partes são ajudadas a relacionar-se de forma controlada, e
conversam de modo a traçar soluções harmônicas. Esse tipo de solução, a depender
da análise do caso, pode trazer resultados muito mais positivos do que levar o caso ao
Judiciário, já que são as próprias partes que estão decidindo o que fazer.

A justiça reparadora é uma tendência atual inevitável, porque o judiciário está abarrotado,
e não só por isso. Com a mediação, o conflito pode ser tido como realmente passageiro,
pois que resolvido de forma não excessivamente morosa; as partes são taticamente
empoderadas, já que “decidem juntas” como será solucionado o problema; trata-se
de um meio mais acessível e menos formal, pois que menos burocrático; enseja mais
conhecimento e autonomia às partes, tornando-se mais prático, já que elas decidem
datas de audiência e coisas assim, e mostra-se um sistema mais justo, pois que opera
com maior proximidade, acessibilidade e alcance das partes interessadas.

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Evitar Novos Conflitos
Os conflitos serão evitados já que as partes adquirem melhor capacidade de diálogo e,
ainda, adquirem a capacidade de resolver os conflitos de forma autônoma, não havendo
a necessidade de envolver o judiciário.

Obs: é importante que o mediador use boas práticas para conduzir a audiência,
assim estimula-se que as partes usem, de novo, os meios consensuais e que
melhorem o diálogo entrando, desta sorte, menos em litigância.

Inclusão Social
O indivíduo participa e contribui para a solução do conflito, baseada nas considerações
sobre a realidade social específica de cada um. A justiça, dessa forma, adapta-se a cada
caso e aproxima-se das diferentes realidades.

A mediação fez com que as pessoas se sentissem mais satisfeitas em relação ao


Judiciário, observada a pesquisa feita no TJDF (Relatório Nupemec 2014), em que 80,2%
das pessoas mudaram sua visão sobre o Judiciário de maneira positiva, após passarem
por experiência pessoal de autocomposição.

Democracia Participativa e Pluralista


artigo 1º, V, CF – maior poder dos indivíduos até em relação ao Judiciário (que, em tese,
era tido como um campo muito afastado e até “intocável” para os cidadãos comuns).
Nesse sentido, o Estado não atua mais de maneira extremamente paternalista, na qual os
cidadãos pouco entendem sobre o que está acontecendo, e passa a ser um campo de
simples auxílio em que o indivíduo é quem decide sobre os próximos passos

Pacificação Social
Escopo supremo da mediação e de todos os meios de autocomposição: é inegável
que o simples fato da ocorrência da mediação é sinal de que as partes ali envolvidas
tiveram, ou pelo menos uma das partes teve, antes, alguma turbação em sua vida que
causou mudança incômoda na sua realidade, ainda que mínima. Essa mudança insurge
sentimentos negativos e gera o que chamaremos de “processo de luto”. Nesse sentido, a
mediação ajuda nas novas definições da vida daquele que sofreu o incômodo, ajudando-o
a encarar com mais leveza a mudança negativa que ocorrera, e a deixar aquele passado
sombrio realmente no passado, desenvolvendo um novo olhar sobre o conflito e as
mudanças. O objetivo da mediação, neste aspecto, é proporcionar a compreensão às
partes do que aconteceu e do que pode ser feito para mudar diretamente a realidade,
trazendo, por meio disto, a pacificação social, já que os indivíduos encontram a paz

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internamente. O mediador se utiliza dos diversos aspectos das fases do conflito e, através
de suas técnicas, a abordagem do conflito ocorre da melhor maneira possível.

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6
TÉCNICAS DA
MEDIAÇÃO
6. Técnicas de Mediação

Noções Introdutórias – Linhas de Qualidade


A) Ambiental – o ambiente no qual acontece a mediação deve ser tranquilo e calmo;
B) Social - a parte deve ser bem recebida por todas as pessoas que fazem parte da
mediação, para que sinta acolhida e segura;
C) Técnica – é o que será estudado ao longo dessa aula;
D) Ética – o mediador deve ser ético, pautando a sua conduta nos preceitos da
boa–fé, faz com que as partes tenham mais confiança de que a mediação é uma
boa opção, trazendo segurança para os envolvidos.

Competências autocompositivas
É necessário, aqui, que se compreenda o que é o conflito, qual o litígio específico em
questão, suas características principais e, ao mesmo tempo, é necessário que o mediador
o trate como fenômeno natural, que faz parte da natureza humana. O importante, então,
é a maneira como se lida com ele (com o conflito ou litígio).

O mediador deve ter, ainda, uma competência perceptiva, ou seja, ele deve perceber o
que ocorre entre as partes mesmo que elas não falem, entender que há diversos pontos
de vista sobre um mesmo assunto, não julgando quem está certo ou errado, e evitando
a transferência negativa de aspectos e visões pessoais dele para as partes.

COMPETÊNCIAS EMOCIONAIS

É preciso que o mediador tenha uma compreensão emocional sobre si mesmo. O


mediador deve compreender e trabalhar suas emoções para não deixar que elas
atrapalhem a mediação.

COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

O mediador deve ter a habilidade de transmitir mensagens, estabelecer com as partes


a relação de confiança, estimular a responsabilidade das partes sobre o que pensam e
sentem. Ou seja, mesmo que as partes estejam tendo dificuldades de expressar aquilo
que sentem, o mediador está ali para ajudar que a parte ouvinte compreenda e que a
parte oradora se faça compreendida – o mediador, assim, atua como catalisador da troca
de informações. Ele pega o que foi dito, ressignifica e passa para outra parte de uma
forma mais palatável, mais compreensível ou mais suave.

COMPETÊNCIA DE NEGOCIAÇÃO

O mediador estimula a negociação entre todos, mesmo que as partes não tenham essa
habilidade.

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COMPETÊNCIA DE PENSAMENTO CRIATIVO

Não se trata de dar opinião, e sim de estimular o desenvolvimento de situações criativas


do problema, obviamente observando-se o pensamento crítico, pois a escolha da solução
deve ser consciente.

Técnicas Específicas
ESCUTA ATIVA

O mediador deve dar muita atenção ao que é dito e às verdadeiras intenções do orador
através da análise de gestos, do olhar, do tom de voz – isso faz com que haja valorização
do dialogo e de quem está se “abrindo”.

O mediador deve ouvir sem julgamentos e valorizar o sentimento e o pensamento de


quem está falando, assim o orador vai sentir-se a vontade de continuar falando, sem
medo.

A escuta ativa favorece a reciprocidade. Se alguém está me ouvindo com atenção, eu


ficarei propenso a ouvir também quando a outra pessoa estiver falando. Isto também
aumenta a confiança, pois passa a mensagem de que o que é dito é valorizado e levado
em conta.

Nesse processo, a linguagem corporal ajuda a valorizar o que está sendo dito. O mediador
deve ter uma postura relaxada, manter contato visual com as partes evitar gestos que
distraiam os envolvidos.

É necessário que o mediador participe ativamente do diálogo, mostrando receptividade


e disponibilidade, sem interromper quem está falando e conferindo, ao final da fala do
orador, através de perguntas, o que realmente foi dito e interpretado. A escuta deve ser
feita sem julgamentos, com empatia e compreensão.

Atenção! A atenção do mediador deve ser efetiva e plena!

IDENTIFICAÇÃO DE QUESTÕES E RAPPORT

O mediador deve identificar quais são os interesses e sentimentos que aquele conflito
envolve para que o auxílio às partes seja mais efetiva. É importante que o mediador só
pergunte o necessário, e não o que lhe desperta curiosidade.

É importante que o procedimento aconteça em uma ordem. Primeiro, é importante que


se esclareça quais são os pontos da controvérsia e os motivos das partes estarem ali,
depois há de se buscar as soluções pautadas em soluções objetivas.

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*Rapport é estabelecer uma relação de confiança entre as partes – reconhecer e validar
os sentimentos das partes. Comunicação acessível por parte do mediador, linguagem
neutra e empoderamento das partes interessadas.

O enfoque do Rapport é o futuro. Não se deve perder tempo com coisas desnecessárias
do passado, reforçando o fato das partes já terem chegado na mediação e poderem,
juntas, a partir do momento presente, chegar ao consenso.

MODO AFIRMATIVO/TÉCNICA DO RESUMO

O mediador pega a visão e a fala de ambas as partes, faz um resumo e, assim, verifica se
elas entenderam o que foi dito e se há algo ainda por ser esclarecido. As partes confirmam
o resumo e fazem ressalvas se acharem necessário. Quando o mediador faz isso, as
partes podem ver com outros olhos o lado da outra e quiçá formar uma percepção
diferente do caso.

PARAFRASEAMENTO NEUTRO

O mediador não resume o que foi dito, ele reformula a frase pra sair do tom ofensivo,
se houver necessidade, e coloca os mesmos dizeres de um modo mais neutro. Ele não
muda o sentido original, então. Apenas suaviza o que foi dito para que chegue na outra
parte de uma maneira mais leve, facilitando uma harmonia. Ou seja, o que ele faz é uma
sintetização, organização e neutralização do que foi dito.

MODO INTERROGATIVO

O mediador também estimula a fala das partes menos comunicativas. As perguntas


do mediador produzem maior riqueza de informações e faz com que todos tenham
oportunidades de fala, além de esclarecer pontos obscuros. Faz ainda com que as
partes reflitam sobre o passado e permite que se compartilhem informações que não se
possuíam antes e, assim, podem surgir nova visões das partes em relação ao contexto
todo do conflito.

Atenção!

O mediador deve controlar a curiosidade e só perguntar o que ajudar a resolver o


problema. Não deve se dar o luxo de fazer perguntas triviais.

SILÊNCIO

Permite uma reflexão sobre tudo que foi dito. Caso a situação esteja inflamada demais,
o mediador pode pedir para que seja feito silêncio, no intuito das partes conseguirem
pensar sobre os fatos, reformular o que iriam dizer e tentar compreender o sentimento

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do próximo. A inquietação e desconforto causado aos indivíduos por causa do silêncio
pode favorecer que a comunicação seja reestabelecida, dessa vez de uma maneira mais
tranquila e harmônica.

SESSÕES CONJUNTAS

As partes juntas na mesma sessão tentando estabelecer um diálogo, com enfoque


positivo voltado ao futuro, e questões objetivas.

SESSÕES INDIVIDUAIS (CÁUCUS)

Situações de maior tensão ou quando há informações que as partes não querem


que a outra saiba, ou, ainda, quando há qualquer impasse nas negociações. É uma
sessão indicada para casos em que o relacionamento entre as partes é precário. É
muito importante que a confidencialidade seja assegurada, o mediador deve passar
compreensão e imparcialidade. Isso estimula que as partes se sintam seguras e relaxadas
para dizerem o que pensam e, assim, externalizarem os seus sentimentos, para que o
conflito tenha maior possibilidade de ser transformado.

O mediador deve confirmar quais informações podem ser divulgadas e é importante


que as duas partes sejam ouvidas, para que a parcialidade seja configurada e para que
as duas se sintam compreendidas e contempladas.

ESTÍMULO À BUSCA DE ALTERNATIVAS: BRAINSTORMING

Todas as possibilidades de solução devem ser colocadas em jogo. Mesmo aquelas que
parecem não ser as mais adequadas devem ser debatidas. Claro, excluem-se aqui as
propostas absurdas, ilegais ou infactíveis. Depois, faz-se uma triagem para escolher a
melhor. Como? Através do teste de realidade. Juntam-se todas aquelas sugestões
trazidas pelo Brainstorming e escolhe-se a que melhor se adapta às partes de acordo
com suas realidades, e observando-se critérios objetivos.

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7
SESSÃO DE ABERTURA
7. Sessão de Abertura
É uma sessão que explica como vai ser o procedimento. São explicadas as regras e é
apresentada a prática da mediação. Ela tem como função deixar as partes confortáveis,
evitar que no meio do procedimento surjam dúvidas e questionamentos impertinentes.
As regras serão definidas antes de iniciada a prática conciliatória, e isso faz com que as
partes se acostumem com a presença da outra, além de que dá conhecimento a elas de
quais são os limites do papel do mediador.

O papel dele, na instrução das partes, é de definir o ritmo e o tom da conversa, conduzir
o diálogo, além de fazer com que as partes pensem menos no passado e mais no futuro,
impedindo a hostilidade de umas com as outras.

A sessão precisa ser breve, principalmente na mediação judicial, pois o tempo é muito
limitado. É importante que a voz e as palavras utilizadas pelo mediador sejam amenas,
para trazer tranquilidade e a ideia de que o conflito é algo natural e pode ser resolvido
por meio do diálogo. As regras devem ser passadas de maneira clara e, caso ocorra
comediação, as partes devem falar de forma equilibrada e compartilhada. Ambas devem
ter em mente que ali não existe hierarquia entre elas.

Fases da Sessão
1. Recepção das partes – ao mediador, cabe trazer o clima mais ameno possível
evitando a formalidade. Importante ressaltar: é essencial que o mediador saiba o
nome de ambas as partes e que seja atencioso com elas. Inclusive, é legal per-
guntar como as partes gostam de ser chamadas e anotar tal informação, fazen-
do uso do tratamento mais pessoal e respeitoso possível.
2. Explicação do papel do mediador – explicar que o mediador é diferente do
juiz e que ele só está lá para auxiliar é de suma importancia. A postura corporal
e o linguajar do mediador devem espelhar que ele está ali a prezar pela harmo-
nia.
3. Explicar possíveis formalidades e burocracias também é salutar à prática
conciliatória.
4. Explicar sobre a confidencialidade – deve ficar claro que os mediadores e
assistentes não podem reproduzir o que é dito na mediação para outras pes-
soas, e   explicarem-se os motivos que levam à exceção de quebra da confiden-
cialidade. Deve-se também deixar claro que, se as partes aceitarem as regras da
mediação, elas podem ser cobradas futuramente.

Procedimento – é importante que os envolvidos saibam que cada um tem um momento


específico para falar e que não devem interromper um ao outro. É interessante que se
disponibilizem papel e caneta para anotação dos pontos, além de que é importante que
se mostre a informalidade do procedimento e se reafirme que o fim da mediação é a

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busca de soluções e transformação do conflito e não a busca por provas ou um revirar
do passado.

Confirmação das regras – confirmar se as partes entenderam as regras e as aceitam


e também confirmar se as partes querem continuar participando após as regras
estabelecidas faz-se salutar.

Lista de verificação – o mediador pode ter uma listinha para conferir se foram faladas
todas as regras. Isto ainda demonstra organização e, assim, passa mais confiança às
partes.

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8
COMO ESTÁ
DISCIPLINADA A
MEDIAÇÃO
8. Como está Disciplinada a Mediação

Artigo 3º, caput, §2° do CPC – estímulo do CPC para que as partes resolvam por conta própria o problema
que estão vivenciando. É dever de todos os poderes realizar esse estímulo.

Artigo 3º, §3º do CPC – esse estímulo pode ser feito inclusive no curso do processo judicial. Um exemplo
é o negócio jurídico processual, que ocorre quando as partes compactuam entre si como se dará o
procedimento em alguns aspectos. O estímulo deve ser feito por todos os atores, advogados, membros
do MP, defensores, juízes, etc.

Artigo 16°, caput da Lei de Mediação – permite que o processo litigioso possa ser suspenso, mesmo em
curso, para que as partes tentem conversar e, assim, resolver o problema sozinhas. O requerimento é feito
ao juiz ou ao árbitro.

Artigo 16°, §§1° e 2° da Lei de Mediação - a decisão da possibilidade da suspensão do processo é


irrecorrível, desde que feita em comum acordo, mas não é definitiva. Caso uma das partes não queira mais
conversar, pode-se voltar ao processo litigioso.

Obs: a abertura para resolução consensual não faz com que o juiz e o árbitro
fiquem impossibilitados de tomar medidas de urgência.

Deverão ser observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça

Diferença entre Conciliação e Mediação:


Os princípios a seguir só estão presentes no cpc e não na lei de mediação:

Artigo 156°, §2° do CPC - a conciliação é indicada para casos em que as pessoas só estabeleceram
relação por causa do fato que gerou o litígio (já dito anteriormente). O conciliador pode sugerir soluções e
interferir mais no procedimento, o que não significa que ele pode pressionar as partes.

Artigo 156°, §3º do CPC – indicado quando as partes já possuíam um vínculo anterior ao vinculo criado
no litígio. O mediador auxilia no reestabelecimento da relação entre as partes para que elas decidam e
busquem soluções sozinhas.  O mediador apenas conduz o diálogo, não faz intervenções nem sugestões.

Artigo 1°, p.ú da Lei de Mediação – o mediador como figura imparcial que ajuda na construção do diálogo
e soluções para as partes

*Artigo 166° do CPC e Artigo 2º da Lei de Mediação tem princípios em comum, que são: imparcialidade,
autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade e informalidade.

Princípio da independência – não existe a dependência do mediador em relação ao


magistrado, o mediador não é hierarquicamente inferior ao juiz. Ele não deve, inclusive,

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trabalhar atado ao pensamento do que teria sido o entendimento do magistrado ou
buscando avidamente aproximar-se das opiniões judiciais.

Decisão informada – diz que as partes devem decidir de forma consciente acerca das
consequências que a solução trará.

Os princípios a seguir só estão presentes na lei de mediação:

Isonomia entre as partes: a mediação pode ocorrer no âmbito judicial e em âmbito privado.
Principalmente no campo do âmbito privado, a isonomia possui muita importância, pois
o poder de vigilância do poder público é quase inexistente, então é importante que se
observe este princípio para que uma parte não reste em um polo muito mais fraco que
a outra.

Boa–fé: deve reger todo o procedimento e todos os envolvidos, de modo que as


relações e a decisão tomada pelas partes expresse de forma mais completa a harmonia
e autonomia de suas vontades.

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9
CONFIDENCIALIDADE
9. Confidencialidade

Artigo 166°, §§1° e 2° do CPC e Artigo 30° da Lei de Mediação – as informações não podem ser
divulgadas em processo judicial e arbitral. Confere SEGURANÇA e confiança das partes.

Artigo 30°, §1° da Lei de Mediação – a confidencialidade alcança a declaração, opinião, sugestão, promessa
ou proposta formulada por uma parte à outra na busca de entendimento para o conflito, incluindo o
reconhecimento de um fato por qualquer das partes, eventuais manifestações de proposta de acordo
apresentada pelo mediador, documentos que sejam preparados unicamente para os fins da mediação e
as anotações das partes durante a audiência de mediação.

Artigo 30°, §4° da Lei de Mediação – IMPORTANTE! Relembrar o que foi dito sobre a impossibilidade de
confidencialidade em relação às obrigações tributárias.

Obs: os servidores também devem manter confidencialidade de qualquer informação compartilhada


sobre a situação econômica e estado das atividades econômicas deles próprios e de terceiros.

Artigo 31° da Lei de Mediação – confidencialidade das informações prestadas em sessões individuais.
Quando as partes conversam de maneira individual, as informações prestadas nessas sessões individuais
são confidenciais perante terceiros e em relação às outras partes também, a menos que a própria parte 
em questão autorize.

Mediador: Técnicas e Cadastro sob a Ótica do CPC

Artigo 166°, §3º do CPC - é necessário utilizar técnicas de negociação. A utilização dessas técnicas não
induz as partes a aceitarem soluções com as quais não concordam. Pelo contrário, favorece um ambiente
para a autocomposição.

Artigo 166°, §4º do CPC - é importante falar da livre autonomia dos interessados, inclusive na definição
das regras procedimentais. Na mediação judicial, o tempo faz com que a autonomia seja um pouco menor,
pois é necessário que a mediação não seja tão extensa, visto que há uma fila, e a demora pode atravancar
as demais, mas ainda sim existe autonomia.

Artigo 167° do CPC - Os mediadores são cadastrados no cadastro nacional e/ou no cadastro dos
respectivos TJ’s e TRF’s. Há a possibilidade de parceria entre o poder público e a câmara privada de
conciliação. É necessário que esse cadastro contenha o registro do profissional e, ainda, a profissão que
ele exerce, para que sua área de atuação profissional possa ser utilizada de forma proveitosa na mediação.

§1º: Esse artigo estabelece os requisitos da inscriçãoo: capacitação mínima do mediador, através de curso
credenciado e parâmetros estabelecidos pelo CNJ e pelo Ministério da Justiça.

§3º: aqui se confere também que podem ser estabelecidos os processos dos quais participou, além da
análise se houve sucesso ou insucesso e a matéria que versou a lide, além de outros dados que o tribunal
achar necessário

Obs: o sucesso não necessariamente é o acordo e sim o reestabelecimento do diálogo das partes, por esse
motivo esse parágrafo traz críticas doutrinárias.

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§4º - Os dados colhidos dos mediadores são reunidos pelo tribunal anualmente, para que a população
tenha conhecimento de quais são os mediadores e para que o próprio tribunal possua os dados estatísticos
e de avaliação de como está o andamento da mediação e da atuação dos mediadores.

§5º - Impedimento do exercício da advocacia no Juízo nos quais o indivíduo atue como mediador.

OBS: Crítica: na maioria das vezes o mediador atua como voluntário, sendo assim, prejudica que os
profissionais da área queiram atuar como mediador, pois restringiria a sua possibilidade de atuação
advocatícia.

Esse parágrafo ainda fala sobre a possibilidade de estabelecer concurso público para mediadores.

Mediador: Atuação e Cadastro sob a Ótica da Lei de Mediação

Artigo 168°, caput do CPC – As partes podem, em comum acordo, escolher o mediador ou a câmara
privada de mediação, ou seja, o mediador não precisa estar cadastrado, desde que seja escolhido de
comum acordo entre as partes. Caso elas não cheguem a um consenso, será determinado mediador de
acordo com a distribuição entre os cadastrados. Se for recomendando, será aplicada a comediação.

Artigo 9° da Lei de Mediação - O mediador extrajudicial pode ser qualquer pessoa de confiança das partes
desde que ela seja capacitada para fazer a mediação, ainda que não integre qualquer classe ou associação.

Artigo 2° da Lei de Mediação - OLHAR! – o mediador judicial apresenta requisitos que o mediador
extrajudicial não necessita. Tem que ser pessoa capaz, graduada em instituição de ensino superior há pelo
menos dois anos e que seja reconhecida pelo MEC e, ainda, ser capacitada em escola ou instituição de
mediadores reconhecida pela ENFAM ou pelos tribunais, observando os requisitos mínimos estabelecidos
pelo CNJ/Ministério da Justiça.

Artigo 12°, caput da Lei de Mediação – os tribunais são responsáveis pelos cadastros dos mediadores e
sua atualização.

§1º - a inscrição no cadastro será requerida pelo próprio interessado no tribunal com jurisdição na área
pretendida e o regulamento de inserção ou desligamento dos cadastros dos mediadores será regulado
pelos tribunais.

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10
REMUNERAÇÃO DO
MEDIADOR
10. Remuneração do Mediador
Ela é definida por uma tabela do TJ em questão, ou seja, cada Tribunal de Justiça
estabelece quanto deverá ser pago, de acordo com parâmetros do CNJ ou, ainda, o TJ
pode criar um quadro próprio de mediadores, eles podem ser concursados para prestar
serviço diretamente ao tribunal. Apesar de alguns tribunais estabelecerem provas e
concurso para escolherem seu quadro de mediadores, a regra é que, na maioria dos
tribunais, o mediador atue de forma voluntária, não ocorrendo concurso.

Obs: o CNJ aprovou recentemente uma minuta sobre o pagamento dos medi-
adores. Essa minuta define 5 níveis básicos remuneratórios para mediadores.
Começa com o nível do mediador voluntário até aquele nível em que o próprio
mediador escolhe quanto vale seu trabalho.

Essa minuta também admite que os tribunais poderão estabelecer os valores de acordo
com a realidade da localização do TJ em questão.

A minuta estabelece que o mediador ganha por um mínimo de horas a ser pago
independente de quantas horas efetivamente trabalha. Como funciona? Em causas até
500 mil reais o mediador deve ganhar o equivalente a 5 horas trabalhadas, mesmo que
a mediação só dure uma hora ou mesmo se as partes desistirem. Se as causas forem de
um valor acima de 500 mil o mediador deve ganhar no mínimo o equivalente a 20 horas
trabalhadas.

Obs: há regras específicas para que esse limite de horas valha – é necessário que
as partes aceitem participar da mediação e que ocorra pelo menos uma sessão
do procedimento.

Lei 15.804 de SP – dispõe sobre abono variável e a jornada de conciliadores e mediadores


do CEJUSC – é estabelecido que esses mediadores devem prestar, no mínimo, duas
horas de serviço para fazer jus a duas unidades fiscais do Estado de São Paulo a cada
hora. A lei ainda não é aplicada pois é preciso que seja regulamentada em relação à
distribuição de serviços públicos.

Estado de Goiás, decreto judiciário n° 488/2016 – estabelece que o conciliador é pago


R$ 7,98 por hora e o mediador R$ 23,96 por hora. O máximo que o mediador poderá
receber é R$ 4.213 por mês, sofrendo um reajuste anual pelo INPC – FGV.

Instrução de Serviço nº 002/2016 – dispõe que é responsabilidade das partes o


pagamento do mediador, mesmo em caso de mediação judicial, ou seja, mesmo em
mediação dos judiciais as partes que pagarão o mediador.

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Exceção: em caso de justiça gratuita ou em procedimentos pré-processuais.

As câmaras privadas podem se filiar ao TJ - a câmara entra na lista do TJ e os casos


vão sendo encaminhados à câmara de forma aleatória, porém, essas câmaras tem o
dever realizar um número de mediações da justiça gratuita, ou seja, de graça, como uma
contrapartida do seu credenciamento pelo TJ. O percentual de audiências gratuitas a ser
prestado será determinado pelo TJ do estado.

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11
IMPEDIMENTO E
SUSPEIÇÃO
11. Impedimento e Suspeição
Esses institutos se aplicam aos mediadores e conciliadores, pois eles são considerados
auxiliares da justiça, aplicando-se o artigo 148°, II; 144° e 145° todos do novo CPC.

1. Impedimento – são os casos em que o mediador tenha intervindo como


mandatário, perito, membro do MP ou testemunha. Ainda quando qualquer
parente, cônjuge ou companheiro esteja postulando como defensor, advogado
ou promotor de algumas das partes, ou quando esses mesmos parentes ou
cônjuges são partes, ele também não poderá atuar. Ainda quando for sócio
ou membro de direção de pessoa jurídica que atue no processo, bem como
quando for herdeiro, donatário ou empregador de qualquer das partes.
Também, se figurar como parte instituição de ensino com a qual ele tenha
alguma relação de emprego, ainda em que figure como parte cliente do
escritório do cônjuge, companheiro ou parente, mesmo que o responsável pelo
caso seja outro advogado. Se o mediador está promovendo ação contra uma
das partes ou advogados das partes atuantes do processo, ele também está
impedido.
2. Suspeição – ela tem um caráter subjetivo, diferente do impedimento, que
tem caráter objetivo.

O mediador não pode ser amigo íntimo ou inimigo de alguma das partes, não pode
receber presente de pessoas que tiveram interesse na causa antes ou depois de iniciado
o processo, não pode aconselhar nenhuma das partes antes ou depois do processo,
nem pode pagar qualquer subsídio para custear o litígio. Ainda é suspeito se o mediador
foi devedor ou credor de uma das partes, ou parente ou cônjuge e companheiro de
devedores ou credores das partes. O mediador também não pode ser interessado, não
pode ter nenhum interesse de ganhos de qualquer das partes.

Quando a suspensão ou o impedimento são identificados, é necessário que seja


identificado o mediador imediatamente ao tribunal, preferencialmente por meio
eletrônico, e ocorre a devolução dos autos para que seja distribuído para outro mediador.

Obs: Se o impedimento for identificado após o início do procedimento, ocorre a


interrupção da atividade. É feita uma lavratura de ata para que se escreva em
documento o ocorrido e deve ser solicitada uma nova distribuição. Há um im-
pedimento APÓS o encerramento do procedimento. No prazo de um ano após
a última audiência de mediação, o mediador não pode atuar como advogado
de nenhuma das partes, nem representar e nem patrocinar nenhuma delas.

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Impossibilidade do Exercício da Função de Mediador
Caso o mediador precise se afastar por um tempo, é importante que ele informe o mais
rápido possível o centro judiciário, para que não prejudique o bom andamento das
mediações, uma vez que ele pode acabar sendo designado para uma audiência que
não poderá fazer, o que vai atrasar aquela audiência até que seja determinado um outro
conciliador.

Motivos que levam a exclusão dos mediadores e conciliadores: punição por agir com
conduta adversa da esperada pela ética e moral.

"" Violação da confidencialidade;


"" Agir com dolo ou culpa no procedimento;
"" Atuar em procedimento que seja impedido ou suspeito.

As apurações das violações são informadas ao Tribunal, para que seja instaurado o
processo administrativo, e é possível um afastamento de até 180 dias para que não haja
um prejuízo da prestação da mediação.

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12
MEDIAÇÃO NA
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
12. Mediação na Administração Pública
O CPC estipula que a União, estados, DF e Municípios criarão câmaras destinadas à
solução consensual de conflitos no âmbito administrativo. Essas câmaras têm a função
de dirimir conflitos envolvendo órgãos da administração pública, avaliar a admissibilidade
de pedido de resolução de conflitos e promover a celebração de termo de ajustamento
de conduta.

A Lei de Mediação traz que as câmaras poderão ser criadas, e não que elas
obrigatoriamente serão criadas. A Lei também traz que essas câmaras servem para
prevenir ou resolver conflitos que envolvem o equilíbrio dos contratos celebrados entre
a administração pública e os particulares.

Obs: quando os conflitos envolvem questões que dependem de aprovação do


poder legislativo, não poderão ser objeto de procedimentos consensuais.

Caso haja uma solução entre as partes, o acordo há de se constituir em título executivo
extrajudicial.

A mediação que envolva a administração pública como uma das partes é controversa –
mais de 50% dos processos judiciais tem a administração pública como parte, há quem
defenda que a indisponibilidade do interesse público veta a participação da administração
pública na mediação. Defende-se que não cabe ao agente tomar decisões que são tão
importantes para a coletividade.

Outras Possibilidades da Lei de Mediação: Mediação Coletiva de


Conflitos Relacionados à Prestação de Serviços Públicos
"" Quando já há entendimento pacificado no STF e tribunais superiores sobre o resultado da lide
em que pode ser utilizada a mediação e não há a necessidade de mover o judiciário;
"" Resolução de conflito entre particulares e agências e órgãos reguladores de certas atividades;
"" A composição de controvérsias jurídico-tributárias perante a receita federal ou sobre a dívida
ativa da União (é interessante que para a própria administração pública recuperar créditos e, assim,
tentar estipular, com os particulares, meios de pagamentos que eles possam realmente cumprir).

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13
MEDIAÇÃO E
CONCILIAÇÃO PRÉVIAS
AO PROCESSO
JUDICIAL
13. Mediação e Conciliação Prévias ao Processo Judicial

O Uso do Termo “Audiência”


Audiência é um termo que traz uma ideia que não necessariamente é a que se busca
passar com a mediação e conciliação, pois, entende-se por audiência que as partes
serão ouvidas por um terceiro que decidirá a lide, o que não ocorre na mediação nem
na conciliação, nas quais as partes que devem SE ouvir. Sessão seria um termo mais
adequado.

As sessões prévias devem ser designadas pelo juiz com antecedência de 30 dias e a
citação do réu, com antecedência de pelo menos 20 dias.

Não ocorrerá a mediação e conciliação prévia se ambas as partes demonstrarem


expressamente o desinteresse ou quando não se admitir a autocomposição de acordo
com a matéria da lide.

Obs: se só umas das partes quiser, o juiz vai determinar a audiência mesmo assim.

Crítica: como seria consensual se só uma das partes deseja? Bom, a ideia é que o
procedimento seja apresentado às partes, para que, mesmo que a parte não queria
solução amigável nenhuma previamente, conheça todo o procedimento e, assim, possa,
talvez, mudar de ideia e acabar resolvendo o problema consensualmente.

Como Indicar o Desinteresse no Procedimento Consensual:


Autor – o autor deve expressar diretamente na petição inicial.

Réu – o réu deve indicar em uma petição com no mínimo 10 dias de antecedência da
sessão de mediação designada. Em caso de litisconsórcio, todos os litisconsortes deverão
manifestar o desinteresse.

A sessão da mediação poderá acontecer por meio eletrônico, observando o CPC e a


Lei de Mediação. É importante salientar que o não comparecimento do réu configurará
como ato atentatório à dignidade da justiça, que ensejará sanção de até 2% do valor
da causa ou da vantagem econômica pretendida. Esse valor será revertido em favor da
União ou do Estado.

As partes deverão estar acompanhadas por advogados ou defensores, com exceção


dos casos em que a própria lei não exige a presença de um advogado. É na sessão que
se abre a possibilidade para a constituição de um representante por meio de procuração
específica, que poderá negociar em favor da parte que lhe entregou a procuração.

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O termo final de mediação é considerado título executivo extrajudicial e, se homologado
judicialmente, será título executivo judicial

Obs: é importante que uma sessão seja separada da outra pelo mínimo de 20
minutos. Para que as técnicas de mediação tenham tempo de serem colocadas
em prática.

A citação da audiência será feita por oficial de justiça, constando o dia, a hora, o lugar e
a informação de que a parte deve ir acompanhada por advogado ou defensor público,
nos casos em que for necessário.

Na petição inicial deverá constar se o autor tem ou não desejo de participar da sessão
de mediação. A Lei de Mediação considera que a petição inicial deve preencher os
requisitos do CPC e, ainda, que a matéria não deve ensejar improcedência liminar do
pedido, porque nesse caso não será designada a mediação.

A Lei também estabelece que o prazo para a conclusão da mediação é de 60 dias a


contar da primeira sessão, a não ser que as partes, de comum acordo, estabeleçam que
querem mais um tempo para chegar ao consenso.

Em caso de acordo, ele será encaminhado ao juiz responsável para que se determine
o arquivamento do processo. A homologação do acordo entre as partes por sentença
deve ser requerida pelas próprias partes.

Caso o conflito seja solucionado antes da citação do réu, não serão devidas as custas
finais. O prazo para a contestação será contado da última sessão de mediação (quando
não houver acordo), ou quando uma das partes não apareçam, ou quando do pedido
de cancelamento da sessão. Sendo assim, tendo o réu 10 dias - antes da sessão- para
manifestar seu interesse, se ele se manifestar no sentido de não querer a sessão, ele tem
mais 15 dias para contestar.

Obs: em caso de incompetência absoluta ou relativa, a contestação poderá ser


protocolada no foro de domicílio do réu, devendo o juiz da causa ser comuni-
cado, de preferência por meio eletrônico. Nesse caso, a mediação será suspen-
sa até que seja definida a nova competência e, dessa forma, seja designada a
nova data da sessão consensual.

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14
ESPECIFICIDADES
PROCEDIMENTAIS
14. Especificidades Procedimentais

Tutela Antecipada em Caráter Antecedente (urgência contemporânea à


propositura da ação)
A petição inicial se limita a dizer: qual o requerimento da tutela antecipada, indicação
do pedido de tutela final, exposição da lide, direito que se busca suprir e o perigo de
dano ou do risco ao resultado útil do processo. Após a concessão da tutela ocorre um
aditamento da petição inicial e a citação do réu para a conciliação (art. 334°, do CPC – só
ocorre após a tutela) e, caso não ocorra a autocomposição, o prazo começa a contar da
última sessão.

Manutenção e Reintegração de Posse


Em litígios coletivos pela posse de imóveis, caso a posse seja velha, ou seja, tenha mais
de um ano e um dia, o juiz vai designar a mediação antes de apreciar o pedido de liminar,
tendo um prazo de 30 dias para sua realização.

Ações de Família
O legislador decidiu deixar claro que todos os esforços sejam feitos para chegar a um
consenso, isso porque, nesses casos, tratam-se de questões que afetam muito diretamente
o psicológico das partes. O magistrado poderá contar com o auxílio de profissionais de
outra área para ajudar na sessão de forma mais precisa, como psicólogos ou pedagogos,
por exemplo. Nesse caso, o magistrado poderá suspender o processo a requerimento
das partes, mesmo se tratando de mediação extrajudicial, visto que essa matéria é muito
específica por lidar diretamente com a psique humana. Poderão ser feitas quantas sessões
forem necessárias, mas isso não prejudica procedimentos jurisdicionais de urgência que
evitem o perecimento do direito. Caso não seja realizado o acordo, incidem as normas
do procedimento comum.

Temas Relevantes
1. Juiz como mediador – o juiz, nesse caso, não é julgador e sim facilitador do
diálogo. As funções podem acabar se confundindo, o que gera uma pressão
pelo acordo e uma influência direta das partes e, assim, elas acabariam não sat-
isfeitas com o resultado final. Caso seja assim, as partes acabarão não cumprin-
do o acordo e entrarão no judiciário e, dessa forma, a função da mediação não
será cumprida.
2. Cláusulas MED-ARB - as partes passariam primeiramente pela mediação
e, caso não fosse possível chegar ao consenso, passariam pela arbitragem. O
problema é que a arbitragem é adjudicatória e a mediação é consensual. São
naturezas diferentes, sendo assim, o árbitro, bem como o juiz, poderia ter suas
funções confundidas e isso poderia acabar influenciando na sua atuação e na

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decisão das partes. Para resolver esse problema, foi feita a opção da cláusula
ARB-MED: o árbitro daria seu parecer ANTES das sessões de mediação. Caso
a mediação não seja frutífera, a sentença arbitral já estaria pronta, ou seja, sem
vícios do julgamento final do árbitro.
3. Advogado e mediação – o advogado constitui um óbice ou auxílio para
o diálogo? O mediador não pode interferir diretamente para não afetar sua
parcialidade, o advogado poderia ser um ótimo auxílio para que as partes en-
tendam mais sobre as questões jurídicas, entretanto, o advogado foi ensinado
sempre a resolver as lides de forma jurídica, e isso poderia fazer com que ele
influenciasse as partes a não querer o acordo.

É necessário que os advogados se atualizem para atender melhor o mercado,


que está cada vez mais voltado para a conciliação e mediação.

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Mediação

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