242
*
Minzoni ASSISTENCIA AO DOENTE MENTAL INTERNADO 243
criar e manter um ambiente terapêutico tos, que recebe pacientes do Estado, e ape-
.que facilite e propicie o desenvolvimento nas do sexo masculino. Seu quadro de en-
do ser humano, e manter com ele, indivi- fermagem compóe-se de quatro homens e.
dualmente ou em grupo, relacóes inter- duas mulheres, todos em nível de atenden-
pessoais positivas. Na execucão da pri- tes.
meira dessas funsões o enfermeiro atua Após urna observa@0 sistematizada ini-
como coordenador das diversas atividades cial do hospital e do pessoal de enferma-
e como receptor e divulgador de comuni- gem, realizamos um programa de treina-
cagóes, mediante atividades relacionadas mento com os atendentes, depois do qual
com a higiene do ambiente, rotinas, ensino foi feita urna reobserva$.o do pessoal e a
e supervisáo do pessoal auxiliar e comuni- instituicáo.
cacóes entre os diversos elementos da Para coleta de dados, foram empregados
equipe. Ao mesmo tempo, deixa que o questionários, entrevistas, observa@o, tes-
paciente participe no planejamento das tes e o treinamento. Aos médicos, ao dire-
atividades. Orienta o pessoal, para que tor e ao administrador foi aplicado um
mantenha com ele um contato humano e questionário de opiniáo sobre o doente men-
amistoso. tal. A técnica de entrevista foi utilizada com
A segunda fun@o envolve urna série de o pessoal de enfermagem, a fim de carac-
cuidados necessários para a manuten@0 terizar a populacáo e verificar suas motiva-
da integridade física e psíquica do pacien- @es para o treinamento. A observa&o, rea-
te, para a aplicacáo de terapias especiali- lizada num período de cinco dias úteis, 16
zadas e para o inter-relacionamento en- horas diarias, teve por objetivo identificar
fermeira-paciente, no qual a enfermeira as atitudes do pessoal de enfermagem be
pode, conforme as necessidades do pacien- com seu grau de conhecimentos técnicos Q1 e
te, desempenhar os papéis de irmá mais classificar a instituicáo segundo sua estru-
velha, conselheira, confidente, professora, tura e funcionamento.
definidora de limites, terapeuta, etc, Seus Para isso, foram usadas tres listas con-
esforcos têm sempre em vista manter ou tendo afirmativas ou situa@es a observar:
levar o paciente à independencia, ao cui- a lista de atitudes, com 64 atitudes possíveis
dado próprio e a formas de comportamen- do pessoal no desempenho de suas ativi- ,
to que náo o isolem dos demais. Nesse con- dades com os pacientes; a lista de técnicas de
texto, a assistência de enfermagem focaliza enferrnagem, contendo as técnicas mais sim-
o paciente como um cliente. ples aos cuidados específicos nas terapias
Segundo o hospital onde a enfermeira especializadas; e a lista de situacóes, consti-
exerce seu trabalho, suas atividades assu- tuida por 120 afirmativas referentes à or-
mem diferentes características. Se o hospi- ganizagáo do hospital, permitindo +
tal é de tipo custodial, com pacientes inter- classifká-lo como custodia& terapêutico ou
nados cabe-lhe, ainda, no contexto de urna numa situasáo indefinida entre um tipo e
terapia humanitária, a funcão de elemento de outro.
mudanca, visando proporcionar aos inter- Foram aplicados ao pessoal de enferma-
nados urna vida agradável, com mais estí- gem dois tipos de testes: um sobre percep-
mulos, menos violacáo de seus direitos @io de funcóes, que constou de urna rela-
humanos e menos restricões. &o de 40 tarefas selecionadas de acorde
com as áreas de atividade, das quais cada
Metodologia atendente assinalaria as 10 que conside-
rava mais importantes, as que mais execu-
0 estudo foi realizado em um hospital tava e as que mais gostava de executar; e
psiquiátrico com capacidade para 1.50 lei- um teste de conhecimentos teóricos básicos
*
Minzoni ASSISTi!NCIA AO DOENTE MENTAL INTERNADO 245
Antes Depois
G = Governamental
P = Particular
TABELA 2-Opinião de médicos e administradores sobre doerqa mental (Grupo A) e sobre pessoal
de enfermagem (Grupo B).
2. A doeqa mental:
1. é curável
2. é incurável sempre
3. é curável na maioria dos casos x X
4. pode ser tratada x X x X X
l 5. não tem tratamento X
3. 0 doente mental:
1. precisa ser internado sempre
2. às vezes precisa ser internado x X x x x
3. pode ser tratado em ambulatório x X x x
4. não pode ser tratado em ambulatório
4. 0 doente mental:
1. é atendido em ambulatório pós-
interna@0 x x
2. é atendido em ambulatório antes-
internacão x
3. náo há relacáo entre um e outro X
4. há relasáo entre um e outro X
’ l
d
246 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Marzo 1980
TABELA 2-(Cont.)
todos
2. náo
< alguns
TABELA 3-(Cont.)
TABELA 4-Atitudes custodiais e terapêuticas observadas nos atendentes, por área, antes e depois
do treinamento (percentagem).
Atitude
hospital nao deixou de ser custodial, inclu- encontrarem no último grau da escala hie-
sive pelas atitudes do pessoal de enferma- rárquica, por estarem submetidos a múlti-
gem, que náo apresentaram modifica$o plo comando e por necessitarem do em-
global na assistência aos pacientes interna- prego como meio de subsistkcia-náo foi
dos. Cerca de um mês após o treinamento, a melhor escolha. Foi também um erro náo
os pacientes haviam perdido um pouco da interferir na estrutura social através das
liberdade e do conforto obtido durante o pessoas chaves da instituicáo (médicos e
p8grama e imediatamente depois. Assim, administradores), que viviam em conflito
a meta proposta-que os atendentes exerces- pela discordancia de conceitos.
sem urna terapia humanitária interferindo no Outro aspecto negativo refere-se aos
ambiente-náo foi atingida. Para isso po- treinadores, que náo se preocuparam em
dem ter concorrido muitos fatores relacio- trabalhar com as resistencias do pessoal,
nados com os treinadores, os treinandos, o que se sentiu, particularmente no caso dos
contexto no qual se realizou 0 treina- diretores, ameacado em sua autonomia e
. mento, a própria sociedade e a política de seguranca. Além disso, tratava-se de ele-
saúde do país. mentos de fora -que, após o desenvolvi-
A análise desses fatores demonstrou que mento do programa, se retiraram do con-
a centralizacáo do treinamento no grupo texto, deixando a populacáo com seus ron-
de atendentes-que, embora mais sensíveis flitos e pressões face aos problemas de
’ à mudanca, sáo mais vulneráveis, por se mudanca.
l
Atendente-Chefe Atendente
Conclusóes Resumo
BIBLIOGRAFIA
l
CZaplan, G. Au Appmnrh to Communily Mental Health, Lambertsen, E. Equzpe de Epafermagem: Organiza&o
N~ZKLIorkr, Grune & Stratton, 1961. e Funcionamenta, Associacáo Brasileira de
Caudill, W. El ho.\pztctl ps~qutitnco como comunidad te- Enfermagem, Rio, 1966.
mpéuticn; Buenos Aires, Paidós, 1966. Levinson, D. e E. Gallagher. Socrología del enfermo
Cumming, E., I.L.W. Clancey e J. Cumming. Im- mental (trad.), Buenos Aires, Amorrortu,
proving Patient Care through Organizational 1971.
Changes in the Mental Hospital. Em Socio- Lynch, C. Administración de la atención de enfer-
logtcnl Studzes of Health nnd Szckness, Nova mería en el servicio psiquiátrico (trad.). Cl
lorke, McCraw-Hill, 1960, págs. 306-323. EnfNorteam 8(2):293-303.
Cumming, E. “Therapeutic Community” and “Milieu Majastre, J. 0. La antroducczón del cambio en un hospztal
Therapy” Strategies Can Be Distinguished. pszquiátrtco (trad.), Buenos Aires, Granica,
Int Psyrh 7(4):204-208. 1973.
García, L. B. e L. Arroyo Guedes. El hospital psi- Minzoni, M. A. Assutêncza de enfermagem psiquizítrzca:
quiátrico como centro de salud mental. Ser- Estudo da situa&o num municipio paulista (tese :
viraos Pszquxítricos y de Salud Mental, OPAS/ de doutoramento), Ribeiráo Preto, 1971. l
OMS, Tomo IV, Informes de enfermería Minzom, M. A. e colaboradores. A assistência de en@--
No. 9, 1970, págs. 60-71. magem psiquiátrica no Estado de São Paulo (tra-
Greene, J. Changes in Nursing the Mentally Sick. Znt balho apresentado no XI Congresso Nacio-
J Nurs Stud 1( 1):37-43. nal de Neurologia, Psiquiatria e Higiene
Hall, W., R. Pasewark e J. Grite. Personnel Utilized Mental), Sao Paulo, 1973.
by Mental Patients for Discussion of Perso- Minzoni, M. A., 2. Oliveira e A. Rodrigues. Análise
nal Problems. Purspectwes zn Psychiatrzc Cal-e de urna experiência de treinamento de pes-
7(6):225-262. soal auxiliar de enfermagem. Rev Bra.s Enf
Holmes, M. e J. Werner. Psychiatnc Nursing zn a The- 27(4):510-518.
rapeutic Community, New York, Macmillan, Minzoni, M. A. e M. C. Scatena. Estudo da assistên-
1966. cia de enfermagem numa comunidade te-
Horta, W. A. Contribuicão para urna teoria de en- rapêutica: Organiza@0 e funcionamento.
fermagem. Reu Bras Enf 23(3, 4, 5, 6): Enf Novas Drmens 1(2):85-92.
119-125, 1970. Pasewark, R., W. Hall e J. Grite. The Mental Hos-
a 251
Minzoni ASSISTENCIA AO DOENTE MENTAL INTERNADO
pita1 Patient’s Perception of the Aide as a Schef, T. El rol de enfermo mental (trad.), Buenos Ai-
Psych0terapist.J Psych Nurs 8(1):28-29. res, Amorrortu, 1973
Pryer, M. e M. K. Distefano. Attitude Changes in Szasz, T. S., El mito de la enfermedad mental (trad.),
Psychiatric Attendants Following Experience Buenos Aires, Amorrortu, 1973.
and Training. Ment Hyg 53(2):253-257. Travelbee, J. Interuention in Psychiatrzc Nursing: Proc-
Rodrigué; E. Biografía de una comunidad terapéutica, ess WT the One-to-One Relationshtfi, Philadel-
Buenos Aires, Eudeba, 1965. phia, F. A. Davis, 1972.
Este estudio se refiere al adiestramiento de las causas se relacionaban con la situación socio-
personal de enfermería psiquiátrica que atiende lógica de la institución y de sus administradores,
a los pacientes internados y tiene por objetivo con las características de las personas capacita-
investigar si dicha preparación modifica la ac- das, tanto dentro del contexto como en relación
titud del personal con respecto a los pacientes y con los que tienen a su cargo la tarea del adies-
si afecta a la estructura funcional de la institu- tramiento, todas ellas personas que desconocían
ción en el sentido de disminuir las restricciones. la situación global de la asistencia que propor-
Los resultados que se obtuvieron fueron ne- cionaba la institución.
gativos y un análisis de los mismos mostró que
A study was made of the training given psy- to the sociological situation of the institution
chiatric nursing personnel working with con- and its administrators and to the characteristics
fined patients for the purpose of determining of the trainees, both within the context of the
whether that training modifies the staffs at- training and with respect to those in charge of
titude towards the patients and influentes the providing it, none of whom were acquainted
operational structure of the institution in terms with the overa11 situation of the care provided
of lowering restrictions. by the institution.
The results were negative, for reasons related
Cette étude se réfère à la formation du per- analyse montre que les causes sont en relation
i sonnel infirmier psychiatrique qui soigne les avec la situation sociologique de I’institution et
malades internés. Elle a pour objectif de re- de ses administrateurs; les causes sont en re-
chercher si cette préparation modifíe l’attitude lation également avec les caractéristiques du
du personnel infirmier vis à vis des malades et personnel compétent autant à I’intérieur de
si elle affecte la structure fonctionnelle de l’ins- ce contexte qu’en relation avec les moniteurs
titution, en vue de diminuer les mesures res- chargés de leur formation. Toutes ces person-
trictives. nes ignoraient la situation global de l’assistance
Les résultats obtenus ont été négatifs et leur que fournissait I’institution.