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DE CUIDADOR PARA CAPACITADOR1

Greg Ogden, D. Min.


A igreja tem sido comparada a um jogo de futebol, em que há cem mil
pessoas nas arquibancadas precisando desesperadamente de exercício
assistindo vinte e dois jogadores que estão precisando desesperadamente de
descanso. Esta mentalidade de expectador é manifestada na maneira como as
pessoas abordam a adoração. Muitos adoradores acreditam que aqueles que
estão na plataforma devem prover um show envolvente, significativo e que
entretenha, enquanto o trabalho do adorador é fazer uma crítica do culto e,
talvez, levantar uma placa dando uma nota ao sermão.
Como chegamos a este ponto? Quais são as razões para a lacuna que
há entre a promessa bíblica de um sacerdócio universal e a realidade de
membros espectadores no dia a dia das nossas igrejas? O ministério pastoral
precisa mudar do modelo de dependência para um modelo em que os membros
são capacitados, a fim de que possamos ver a promessa de “cada membro um
ministro” se tornar realidade.
Definindo o Modelo de Dependência
O que é o modelo de dependência? Os pastores exercem o ministério
e os membros recebem o cuidado pastoral. O resultado é passividade entre o
povo de Deus. A maioria dos pastores entende que uma porção principal do
trabalho deles é responder às necessidades dos membros e constituintes. Se
alguém está hospitalizado, lamentando a morte de um ente querido,
experimentando algum tipo de mudança, enfrentando dificuldades no casamento
ou lutando com um filho rebelde, espera-se que o pastor cuide destas pessoas.
O contrato emocional entre os pastores e os membros em muitas igrejas é: se
alguém está enfrentando dificuldades, espera-se que o pastor esteja lá para
ajudar; se o pastor não oferece cuidado, está falhando em fazer o trabalho que
deveria fazer e fracassou como pastor.

A Necessidade de Ser Procurado


O modelo de dependência ministerial subverte o ensino bíblico de que
a igreja é o corpo de Cristo e de que cada membro tem uma parte valiosa a

1
Revista Foco na Pessoa - Páginas 14-21.
desempenhar. Podemos afirmar a doutrina do sacerdócio de todos os crentes ao
mesmo tempo em que a negamos pela maneira como exercemos o nosso
ministério na igreja local. À proporção que endossamos o pastor como aquele
que está investido de autoridade para cuidar, acreditamos que só ele possa
exercer ministério de verdade e fazemos dele herói enquanto ele está lá quando
precisamos. Mesmo quando os pastores querem romper com este sistema
doentio, muitos voltam ao modelo de dependência ministerial porque há um alto
preço a ser pago para se tornar um pastor capacitador.
Um modelo mais saudável vê o pastor não como um cuidador da
aqueles que não podem cuidar de si mesmos, mas como um capacitador que
encoraja e provê um ambiente em que o povo de Deus é treinado para o
ministério.
Um Modelo de Ministério Capacitador
Uma descrição bíblica do trabalho pastoral é encontrada em Efésios
4:11 e 12: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros
para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo
de Cristo”.
Paulo define capacitar em termos de resultados. O trabalho de
capacitar ocorre quando os santos (crentes comuns, ordinários) fazem o trabalho
do ministério e o corpo de Cristo é edificado.
Ha alguns anos, o teólogo leigo Quaker Elton Trueblood escreveu The
Incendiary Fellowship (A Comunidade Incendiária). Nesta obra, ele propôs que
capacitar é o chamado primário daqueles no ministério pastoral. “O ministério é
para todos os que compartilham da vida de Cristo; o pastorado é para aqueles
que possuem o dom peculiar de serem capazes de ajudar homens e mulheres a
exercerem o ministério para o qual foram chamados”2.
A palavra grega para capacitar (katartismos) é instrutiva. Uma definição
vem do termo médico usado para descrever o ato de fixar um membro quebrado
ou colocar uma articulação de volta no alinhamento próprio. Capacitar transmite
a ideia de emendar uma parte do corpo para que este possa funcionar
novamente de acordo com o seu propósito original. A palavra capacitar também

2
TRUEBLOOD, Elton. The Incendiary Fellowship. Nova Iorque: Harper and Row, 1967, p. 41.
é usada para descrever um artesão que trabalha com as suas mãos para fazer
alguma coisa útil e bela. Capacitar subentende que os santos têm uma função
particular ou ministério que é adequado para eles. Ministério não é o que os
pastores fazem, mas o que o povo de Deus faz. O trabalho do pastor é ajudá-los
a descobrir e desenvolver os seus dons para que possam contribuir na edificação
do corpo de Cristo.
Uma das consequências de apelar aos pastores para que mudem do
modelo de dependência ministerial para um modelo de ministério capacitador
dos membros é a criação de uma crise de identidade nos pastores. Se o pastor
não é aquele de quem as pessoas aprenderam a depender, então quem é ele?
Quais são as implicações de um modelo ministerial capacitador no que
diz respeito à maneira como o ministério é executado? Para tornar o ministério
capacitador uma realidade é preciso que haja um impacto nas prioridades
pastorais, na maneira de liderar e na estrutura da vida da igreja.
Prioridades
No modelo de dependência ministerial, o pastor é primariamente um
respondedor das necessidades pastorais da igreja.
Eles devem empregar o tempo desenvolvendo as pessoas que querem
se engajar no ministério. Esta é a minha regra de ouro: 80% do tempo do pastor
que não é empregado no preparo para pregar ou ensinar deve ser gasto
desenvolvendo as pessoas que querem se engajar no ministério.
Jesus modelou e entendeu isso melhor do que qualquer um. Por que
Jesus investiu nos doze? Por que a Sua oração em João 17:1-19, no final do
Seu ministério terrestre, focou os doze? Ele os treinou para continuar o Seu
ministério depois que Ele retornasse para o Pai. Quão estratégicos temos sido
ao investirmos a nossa vida nos outros?

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