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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

O ESTÁGIO EM TEATRO E A EXPERIÊNCIA FORMATIVA DISCENTE

Hugo de Melo Rodrigues


Universidade Regional do Cariri (URCA)

Jacqueline Rodrigues Peixoto


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

Austelino Fernandes Lopes Tavares


Universidade Estadual do Ceará (UECE)

RESUMO

Este trabalho tem como finalidade discutir, do ponto de vista teórico e prático, a
experiência formativa na prática de estágio supervisionado ocorrida no Curso de
Licenciatura em Teatro, da Universidade Regional do Cariri – URCA/CE. As reflexões
deste trabalho tiveram por base observações participantes realizadas no primeiro semestre
do ano de 2013, sobre a experiência de dois discentes, do Curso de Licenciatura em
Teatro, em um processo de formação ofertado a um grupo de teatro amador, chamado
Louco em Cena, cujo foco principal tem sido a abordagem da cultura local. Durante a
formação observou-se como os participantes compreendem a cultura popular, a partir de
estereótipos de personagens, histórias, costumes e objetos do cotidiano no meio rural e
como os estagiários em Teatro estabeleceram a relação entre ensino e aprendizagem no
estágio de docência. Tomamos como referências teóricas para a reflexão: Libâneo (1994),
no que refere às discussões sobre processos de ensino e aprendizagem como mediação;
Lima (2001), na defesa da prática do estágio como um espaço de debate, entendendo-o
como processo dialético e de construção de saberes pedagógicos; Pimenta (1994 e 2009),
que trata da prática de ensino como algo construído no cotidiano e Pimentel (2007), que
descreve a dramaturgia surgida da criatividade popular, situada no meio rural. A
experiência demonstrou que os jovens participantes reconheceram o potencial do Teatro
na contribuição para a formação pessoal, através dos exercícios, das reflexões, das
atividades desenvolvidas, evidenciados na fala e na participação dos sujeitos. Sobre a
relação do teatro com a cultura popular foi possível perceber a identificação dos
participantes com as personagens, que retratavam a realidade local.

Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Teatro. Cultura Popular.

1 INTRODUÇÃO
As discussões em torno do estágio supervisionado, nos cursos de licenciatura
plena, tem ganhado destaque no campo da formação de professores, considerando tratar-
se de componente curricular que proporciona aos discentes em formação o exercício da
prática no estágio de docência. A disciplina analisada é parte integrante da matriz
curricular do Curso de Licenciatura Plena em Teatro da Universidade Regional do Cariri
- URCA, situada em Juazeiro do Norte, no Ceará. A prática do estágio supervisionado
ocorre nos quatro últimos períodos do referido curso e pode ser realizada em
Organizações Não Governamentais (ONG) ou em escolas regulares de Ensino

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Fundamental ou Médio. A experiência consiste em observação, planejamento e execução


de aulas de teatro no ensino de artes e desenvolvimento de oficinas de teatro.
Este trabalho tem como finalidade discutir, do ponto de vista teórico e prático,
a experiência formativa discente na prática do estágio supervisionado, no ano de 2013,
com a temática sobre teatro e cultura popular, ocorrida no Curso de Licenciatura Plena
em Teatro, da Universidade Regional do Cariri - URCA/CE. O estudo buscou descrever
a vivência de um processo formativo desenvolvido por dois discentes ofertada ao grupo
de teatro amador Louco em Cena, localizado no município de Barbalha, no interior
cearense, cujo foco principal desse grupo tem sido a abordagem da cultura local.
Assim, ao fazermos estas discussões, nossa tentativa é de contribuir com o
debate sobre o ensino, a aprendizagem e a prática do estágio de docência, refletindo sobre
os problemas que norteiam esse importante momento de formação.
É importante ressaltar que o município de Barbalha é um celeiro da cultura
popular, destacando-se pelo patrimônio histórico, por seus casarões, pelos grupos
culturais, pela festa do carregamento do pau da bandeira de Santo Antônio, entre outros
eventos relevantes. Destacamos ainda que esse município encontra-se atualmente em
processo de registro como patrimônio imaterial do Brasil, em análise pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

2 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE LICENCIATURA PLENA


EM TEATRO DA URCA/CE
No Curso de Licenciatura Plena em Teatro, da Universidade Regional do
Cariri - URCA/Ceará, o Estágio Supervisionado é disciplina obrigatória e se constitui no
momento de integração entre os estudos realizados e a prática dos processos de ensino e
aprendizagem na docência. Nesse caso, as discussões acerca do estágio suscitam
reflexões sobre a didática e consequentemente sobre o ato de ensinar.
Compreendemos com TARDIF (2002, p. 118) que “[...] ensinar é desencadear
um programa de interações com um grupo de alunos, a fim de atingir determinados
objetivos relativos à aprendizagem de conhecimentos e à socialização”. É no estágio que
o discente percebe e compreende a relação entre teorias e práticas do ensino de teatro na
educação escolar e, também, não escolar.
O Projeto Politico Pedagógico do curso de Teatro da URCA esclarece que o
estágio supervisionado é:
[...] um momento de reflexão e pesquisa sobre as metodologias do fazer
teatral dentro da sua realidade local e, sobretudo, social, cultural e

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pedagógica. No estágio, o estudante poderá aprofundar o entendimento


do Teatro como linguagem artística e suas metodologias de
ensino/aprendizagem como atividade sociocultural (URCA, 2011, p.
43).

Sabemos que a Universidade é o lugar de aquisição sistemática de saberes e


competências, que conduzem o acadêmico para um conhecimento específico, adquirido
na vivência acadêmica, na leitura do mundo e das letras. Nesse universo nos tornamos
mais reflexivos à medida que compreendemos que, “[...] uma leitura mais rigorosa do
mundo [...] sempre precede a leitura da palavra” (FREIRE, 1994, p. 31). É na prática que
vamos lapidando esse conhecimento. Pimenta (1994, p. 99), nos diz ainda que “[...] a
prática de ensino reduz-se à aplicação dos conhecimentos adquiridos nas aulas, nos livros
e na observação do comportamento de outros professores [...]”. A universidade vai
conduzindo a um movimento de vivência teórico-prática, assumindo-se como um espaço
gerenciador de novos conhecimentos:
A universidade vai, então, funcionar como um lugar de aquisição de
saberes e de competência para o exercício de uma profissão, o que
levará o estudante a adquirir um repertório de conhecimento mais
especializado, dentro de uma determinada área, desenvolvendo o
espírito científico e crítico, as aptidões de comunicação e uso de
informação, da pesquisa individual e coletiva (CAVALCANTE, 2006,
p. 54).

No âmbito da formação de professores, o estágio se constitui como um


momento de aprendizagem da profissão. Nessa perspectiva, Lima (2001, p. 16) defende
que “o estágio não é a hora da prática! É a hora de começar a pensar na condição de
professor na perspectiva de eterno aprendiz”. E assim se faz necessário destacar a
importância da formação contínua como elemento de realização dessa reflexão.
Por sua vez, Gonçalves e Pimenta (1990, p. 129) esclarecem que “a finalidade
do estágio supervisionado é propiciar ao aluno uma aproximação à realidade, na qual irá
atuar”. Desta maneira, o aprendiz de professor, como futuro profissional da educação,
precisa aprender a pensar criticamente sobre o ato de ensinar. Para Lima (2001, p. 83) é
necessário entender o ensinar como um ato de “construir com os alunos, o conhecimento,
de forma crítica, emancipatória, transformadora [...]”, acrescentando ainda que “[...] o
estágio supervisionado prosseguirá sendo espaço de questionamento e de debate,
continuando a merecer sempre novos olhares” (LIMA, 2001, p. 46).

3 O GRUPO DE TEATRO LOUCO EM CENA: CAMPO DE ESTÁGIO DOS


DISCENTES INVESTIGADOS

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A ONG selecionada para o desenvolvimento do estágio supervisionado foi o


Grupo de Teatro Louco em Cena, um importante grupo de teatro de Barbalha, cidade do
Ceará, cujo foco principal desse grupo tem sido a abordagem da cultura local. Seus
integrantes realizam tradicionalmente a encenação da Paixão de Cristo e são responsáveis
pela produção do projeto “Barbalha Cênica”. Durante esse evento, são recebidos grupos
de teatro oriundos de cidades do estado do Ceará. Neste período são realizadas oficinas
artísticas de: Iniciação teatral; Uso e confecção de pernas de pau; Confecção de boneco;
Noções de direção teatral; Maquiagem cênica, entre outras de cunho artístico. É
importante destacar que durante o evento é realizado um cortejo pelas ruas e praças da
cidade com a participação de todos os grupos envolvidos no evento.
Ao desenvolverem esse trabalho social os integrantes do grupo contribuem
para o desenvolvimento da cidadania, pois compreendemos a cidadania como
participação social e política, como exercício de direitos e deveres, de solidariedade, de
respeito à diversidade humana. Eles lutam pela valorização e pelo estímulo ao
desenvolvimento da arte, em especial ao desenvolvimento do teatro, pois colaboram na
formação de profissionais de teatro, promovendo a dinamização das artes cênicas.
Ao pensar na palavra cidadania vislumbra-se o entendimento sobre direitos e
deveres. Observa-se também que o termo cidadania é bastante utilizado no discurso dos
integrantes do grupo de teatro Louco em Cena e utilizam a arte como ferramenta capaz
de contribuir para este propósito, compreendendo a arte como uma das mais antigas
manifestações humanas. A arte contribui para o desenvolvimento da sensibilidade e para
a reflexão sobre a vida, suas possibilidades e limitações, num constante processo de
ensino e aprendizagem. Dessa forma, o ensino “requer uma compreensão clara e segura
do processo de aprendizagem, que consiste em como as pessoas aprendem e quais as
condições externas e internas que as influenciam” (LIBÂNEO, 1994, p. 81).

4 A EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO


A prática no estágio de docência investigada ocorreu nos meses de maio e
junho do ano de 2013. Os discentes em teatro após cumprirem uma carga horária
presencial, desenvolveram o estágio através de uma oficina teatral, ofertada aos
integrantes do grupo teatral descrito anteriormente.
A coordenação do grupo de teatro Louco em Cena fez um chamamento para
o inicio do trabalho do estágio supervisionado. Foi formado um grupo de
aproximadamente quinze adolescentes, que mostraram interesse pela temática sobre o

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teatro e a cultura popular.


Foram iniciados os trabalhos da oficina de teatro. Algumas palavras sobre a
temática foram escritas em um cartaz e a partir da leitura dessas palavras, os participantes
identificaram o que eles compreendiam por teatro e cultura popular, e foram
estabelecendo o elo entre o ensinar e o aprender. De um lado os alunos participantes da
oficina de teatro traziam seus conhecimentos, suas vivências, e discutiam cenas reais que
ocorriam em seu cotidiano e por outro lado, os dois discentes estagiários traziam sua
contribuição teórica, sua vivência pessoal e acadêmica e assim de uma maneira dinâmica
o processo se constituía na aquisição de um novo saber.
Foram realizados jogos teatrais, metodologia de atuação e conhecimento em
Teatro, formulada por Viola Spolin (1906-1994). Os jogos teatrais se apresentam como
estratégia de socialização, como instrumento de desencadeamento do processo criativo,
mobilizando os diversos saberes. Assim, compreendemos que: “[...] o processo de ensino
é uma atividade conjunta de professores e alunos [...] com a finalidade de promover as
condições e meios pelos quais os alunos assimilam ativamente conhecimentos,
habilidades, atitudes e convicções [...]” (LIBÂNEO, 1994, p. 29).
Durante a oficina de teatro, por meio de jogos teatrais, os participantes
encenaram situações do cotidiano, trazendo à tona personagens reconhecidos por eles
como tipicamente da cultura popular: o bêbado, o homossexual, o corno, a fofoqueira, a
gostosa, o padre, a parteira, a prostituta, a rezadeira e o valentão, entre outros personagens
que povoam o imaginário popular e a literatura de cordel.
Ao fazer a abordagem sobre o teatro e a cultura popular, pensando seus
personagens, histórias e objetos do cotidiano, houve um reconhecimento imediato dos
alunos participantes, compreendendo que esta era a sua cultura. A “Nossa história de vida
está aí para ser debatida, aberta a críticas e sugestões [...] É a tentativa de um trabalho
participativo, dentro das nossas limitações, dos nossos erros, das nossas utopias
pedagógicas [...]” (Lima, 2001, p. 31).
Em seus relatos, os alunos da oficina de teatro revelaram que era muito
comum ouvir histórias dos seus pais ou avós sobre assombração, briga de noivos no altar
na hora do casamento, sobre histórias de coveiros e cemitério e de homens que se
transformavam em lobisomem. Também falaram dos costumes de alguns desses
personagens, como sentar-se na calçada observando a vida alheia, cuspir no chão, fumar
o cigarro de palha, cortar unhas com ponta de faca e o costume de guardar os melhores
objetos da casa, para usá-los anualmente na renovação da casa.

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Reconheciam ainda como objetos da cultura popular: pote de barro, cordão


pregado na parede com as tampas de panela, fogão a lenha ou carvão, abano de cipó e
chapéu de palha.
Ao propor temáticas para a construção de cenas, estas imagens e
características eram reproduzidas a partir do olhar dos alunos. Eles traziam o relato das
suas experiências, vivenciadas pelos mesmos ou por pessoas próximas do seu convívio
social. Nestes processos pedagógicos percebia-se que os alunos, por meio da cena teatral,
traziam o seu olhar sobre o mundo que os cercava, suas estratégias de defesa, seus sonhos,
sua vontade de mudança, sua compreensão sobre a educação, o teatro e a arte.
Compreende-se a educação como um processo permanente de ensino e
aprendizagem, de análise da realidade que nos cerca. A educação constitui assim um
caminho com múltiplas possibilidades. Libâneo (1994, p. 89) afirma que “[...] o processo
de ensino é uma mediação pela qual são providas as condições e os meios para os alunos
se tornarem sujeitos ativos na assimilação de conhecimentos”.
Para os discentes estagiários trabalhar o teatro e a cultura popular foi um
momento de conhecimento da história local, sem desvincular-se da história nacional,
compreendendo os conceitos e as suas limitações. Para Pimentel (2007, p. 119):
O conceito de Dramaturgia Nordestina, como entendemos, tem
implicações bem mais amplas que meros limites territoriais. É,
sobretudo, uma abordagem crítica da realidade da Região, sem perda da
perspectiva universal […].

E neste pensamento Pimentel (2007, p. 122) questiona “como não elaborar


uma dramaturgia a partir de tão rica contribuição da criatividade popular [...]”,
esclarecendo que “[...] o teatro nordestino oferece grandes possibilidades de criação ao
encenador e aos atores”. Ao negar essa rica cultural local “é como se nós, citadinos,
tivéssemos vergonha do meio rural de onde, quase sempre, viemos ou vieram nossos
ancestrais” (Idem, Ibidem). Dessa maneira Pimentel conclui que:
Ao defender uma dramaturgia, também situada no meio rural, não me
anteponho ao urbano nem ao intergaláctico [...] Entendo-a na magnífica
criatividade do povo nordestino, em suas penúrias e sofrimentos, mas
com uma visão social e mágica que lhe permite transpor a realidade
aflitiva para criar uma arte vigorosa, por vezes fantástica e, sempre,
reinvidicativa, social de forma clara ou velada (PIMENTEL, 2007, p.
129).

Podemos conceituar o termo “Cultura Popular” como sendo as manifestações


culturais oriundas da própria comunidade, que surgem da tradição oral e são repassadas
nas gerações subsequentes. Como exemplo da cultura popular, pode-se citar a literatura

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de cordel, as festas folclóricas, as festas de padroeiros, as comidas típicas e tantos outros


símbolos e manifestações oriundas no meio do povo preservando a sua própria identidade,
de forma dinâmica.
A docência pauta-se nesta característica. Ela “constrói-se e transforma-se no
cotidiano da vida social; como prática, visa à transformação de uma realidade, a partir das
necessidades práticas do homem social” (PIMENTA, 2009, p. 40).

5 REFLETINDO SOBRE A DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO


CURSO DE TEATRO DA URCA
O trabalho dos discentes que executaram o estágio supervisionado em teatro
e o envolvimento com os alunos que participaram da oficina de teatro e cultura popular
foi um momento de grande aprendizagem, aproximando os discentes da prática de ensino.
Desse modo, entendemos que a questão de como fazer na disciplina Prática de Ensino
não pode ser vista, apenas, como questão metodológica ou como uma modalidade de
estágio. A postura do professor e a sua interação com os alunos ultrapassam esses limites
e envolvem outras dimensões de maior profundidade, como a maneira de o docente pensar
a realidade, seu contexto, suas concepções sobre a vida, o mundo, a educação, o modo de
encarar tais relações, sua história de vida, os elementos de construção do seu saber
pedagógico. (LIMA, 2001, p. 47).
Trabalhar o teatro e a cultura popular foi um momento de grande aprendizado
e conhecimento, proporcionando muitas descobertas. Toda essa construção serviu para o
melhor desenvolvimento dos alunos participantes do grupo e dos discentes estagiários,
compreendendo, sobretudo, que a educação se funda no conhecimento. Sobre isso Gadotti
(2005, p. 4) diz que:
Conhecer é importante porque a educação se funda no conhecimento e
este na atividade humana. Para inovar é preciso conhecer. A atividade
humana é intencional, não está separada de um projeto. Conhecer não é
só adaptar-se ao mundo. É condição de sobrevivência do ser humano e
da espécie […].

Observando a prática do estágio desenvolvida, foi possível perceber algumas


dificuldades na prática do estágio supervisionado. A primeira foi em relação à carga
horária extensiva e com dificuldades para conciliar com os horários e trabalhos
acadêmicos de outras disciplinas. A dificuldade torna-se maior na conciliação de horários,
pois parte dos alunos são trabalhadores e precisam dividir o tempo entre o estágio
supervisionado e o trabalho.
Outro problema observado também é em relação a prática do estágio de forma

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geral, está relacionado com a estrutura do curso. Diante da falta de um corpo técnico
especializado e da carência de professores para o acompanhamento do estágio in loco,
muitas vezes o estágio não ocorre de fato, tornando-se uma prática ilusória, o que
compromete a oportunidade do exercício da docência para os discentes nas licenciaturas.
Por outro lado, ao refletirmos sobre o estágio supervisionado em teatro, sobre
a realização da oficina teatral, foi possível perceber o quanto todos os envolvidos no
processo pedagógico saíram fortalecidos, pois de acordo com Lima (2001, p.21) percebe-
se que as reflexões sobre a prática pedagógica certamente “constituirão um processo
dialético, juntamente com os novos conhecimentos teóricos, como a nossa realidade e as
experiências adquiridas ao longo do tempo”.
Também foi possível perceber o teatro como um importante aliado na
promoção do protagonismo juvenil, possibilitando aos alunos participantes da oficina de
teatro e os estagiários discentes, reconhecerem-se como sujeitos ativos do processo
educativo, tendo ainda a compreensão do contexto social, utilizando a arte-educação
como mediadora do processo pedagógico enquanto fator de transformação do pensar,
sentir e fazer. Neste sentido, compreendemos as múltiplas funcionalidades da arte, sendo
possível desenvolver por meio dela: “[...] a percepção e a imaginação, apreender a
realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade critica, permitindo analisar a
realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi
analisada” (CARVALHO, 2008, p. 9).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para os licenciandos em teatro na prática do estágio supervisionado e para os
alunos que participaram da oficina teatral, foi uma experiência que despertou o interesse
pelo estudo do teatro e a sua inserção na comunidade local, a relação estabelecida entre
teoria e prática, os processos de ensino e aprendizagem.
Os alunos participantes reconheceram o potencial do teatro na contribuição
da formação pessoal através dos exercícios, das reflexões, das atividades desenvolvidas.
E a ação pedagógica se fez quando os participantes da oficina reconhecidos e se sentindo
identificados nas atividades começaram a refletir sobre questões como: Quem eram eles
e qual a participação deles na sociedade.
No decorrer da oficina em teatro e cultura popular foi possível perceber que
a ação pedagógica do grupo de teatro Louco em Cena, contribui para o processo formativo
dos seus integrantes.

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A experiência realizada e os relatos do grupo apontaram múltiplas


possibilidades que o trabalho em grupo favorece, como por exemplo, trabalhar a
individualidade por meio do coletivo, fortalecer a identidade individual e coletiva,
desenvolver a criatividade, ampliar o modo de perceber a sociedade, refletir sobre o papel
da participação do individuo na sociedade, e acima de tudo sobre a utilização da arte como
ferramenta transformadora.
O estudo evidenciou que os participantes da experiência formativa
reconheceram o potencial do teatro para a formação pessoal deles, através dos exercícios,
das reflexões, das atividades desenvolvidas e da aproximação do teatro com a cultura
local e que os discentes conseguiram estabelecer uma relação entre os conteúdos
aprendidos na universidade e a prática no estágio de docência.
Assim, compreendemos que, a implantação de um Curso de Licenciatura
Plena em Teatro em Juazeiro do Norte, fortalece os grupos de teatro existentes na região,
proporcionando o surgimento de novos grupos culturais, além de contribuir também para
a formação da cultural local.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Lívia Marques. O Ensino de Artes Em ONGs. São Paulo: Cortez, 2008.

CAVALCANTE, Eugênia Lídia. Políticas de Formação Para a Competência


Informacional: O Papel das Universidades. Revista Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação: Nova Série. São Paulo, v. 2, n. 2, p. 47-62, dez. 2006.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29 ed.
São Paulo: Cortez, 1994.

GADOTTI, Moacir. A questão da educação formal/não-formal. INSTITUTO


INTERNATIONAL DES DROITS DE L’ENFANT (IDE). Droit à l’éducation: solution
à tous les problèmes ou problème sans solution? Sion (Suisse), 18 au 22 octobre 2005.

GONÇALVES, Carlos Luís; PIMENTA, Selma Garrido. Revendo o Ensino de 2º


Grau, propondo a formação do professor. São Paulo: Cortez, 1990.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

LIMA, Maria Socorro Lucena. A hora da prática: reflexões sobre o estágio


supervisionado e a ação docente. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2001.

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teórica e


prática? São Paulo: Cortez, 1994.

______. Saberes pedagógicos e atividades docentes. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

PIMENTEL, Altimar. Caminhos e descaminhos da dramaturgia nordestina. Revista do


Departamento de Artes Cênicas da UFPB – Moringa Teatro e Dança. Ano 2. Número
3. Dezembro de 2007.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes,


2002.

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA. Projeto Politico Pedagógico do


_________________________________________
i

Para uma concepção de interdisciplinaridade, legitimamos aqui a ideia de Moraes (2005, p. 39), que afirma:
“Definimos interdisciplinaridade como uma abordagem epistemológica que nos permite ultrapassar as fronteiras
disciplinares e nos possibilita tratar, de maneira integrada, os tópicos comuns às diversas áreas. O intuito da
interdisciplinaridade é superar a excessiva fragmentação e linearidade no currículo. Mediante o estudo de temas
comuns, estabelece-se um diálogo entre disciplinas, embora sempre considerando a especificidade de cada área, com
seu saber acumulado que deriva do olhar especializado”.
ii
“O povo brasileiro” (direção: Isa Grinspum Ferraz, 2000); “Juvenal Galeno” (TV
Assembléia); “O pagador de promessas” (direção: Anselmo Duarte, 1962); “Canudos” (direção: Sérgio Rezende, 1997);
“Milagre em Juazeiro” (direção: Wolney Oliveira, 1999); “Batismo de sangue” (direção: Helvécio Rattón, 2007).
iii

Filme dirigido por Jocelyn Moorhouse, com autoria de Whitney Otto. Lançado em 1995. Produção norte-
americana.
iv

O mesmo também é um dos autores deste texto.


v

grupo Ponta de Lança foi o sujeito de pesquisa de um dos autores deste artigo, na graduação onde defendeu
a monografia “Música na Escola: o ensino de percussão e sua contribuição para o desenvolvimento sociocultural do
aluno” e que agora está dando continuidade à pesquisa no âmbito do mestrado.
vi

Recentemente foi criada a “Banda de Lata” da FACEDI (2013) e alguns alunos que fizeram esta oficina de
percussão hoje dela fazem parte.

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