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INFERÊNCIAS

1. Noção de raciocínio/inferência

O raciocínio é uma operação discursiva do pensamento, operação orientada para uma


conclusão. Raciocinar é estabelecer relações entre juízos. Ao raciocinarmos discorremos,
isto é, o nosso pensamento orienta-se para tirar conclusões a partir de conhecimentos
anteriores.
Inferir consiste em tirar uma proposição nova de uma ou mais proposições (já
conhecidas) em que está implicitamente contida 1.

Distinguem-se dois grandes tipos de inferências/raciocínios:

a) Inferências imediatas (simples)  quando de uma só proposição se conclui outra;


b) Inferências mediatas (complexas)  quando se conclui uma proposição a partir de
duas ou mais proposições2.

Como formas de inferências imediatas estudaremos a oposição e a conversão. Nas


inferências mediatas daremos particular relevo à dedução, à indução e à analogia.

2. Oposição das proposições

Duas proposições dizem-se opostas quando, tendo o mesmo sujeito e o mesmo


predicado, deferem entre si na qualidade ou na quantidade, ou simultaneamente na
qualidade e na quantidade.
A oposição de uma proposição consiste em inferir de uma dada proposição uma outra
que difira da primeira  na quantidade, na qualidade, ou em ambas , mas mantenha o
mesmo sujeito e o mesmo predicado.

Observe o seguinte quadro:

QUADRADO LÓGICO DA OPOSIÇÃO ENTRE PROPOSIÇÕES

1
Inferir consiste em chegar a novos juízos partindo de outros.
2
Uma inferência é mediata se exige um termo mediador para passar de uma proposição a outra.

1
Que conclusões podemos tirar deste quadrado?

i.
Transformámos a quantidade e a qualidade de uma proposição. A partir de uma única
proposição formámos novas proposições. Exemplo: a partir de “Todas as invenções são
úteis” podemos inferir as outra três.

ii.
Por oposição as proposições são:

Contraditórias ( A  O ; E  I )
As proposições diferem simultaneamente pela qualidade e pela quantidade, isto é,
quando uma é A e a outra O ou quando uma é E e a outra I. Trata-se da maior oposição
possível entre proposições; as proposições são completamente inconciliáveis. Não podem
ser ambas verdadeiras nem ambas falsas ao mesmo tempo; se uma é verdadeira, a outra é
necessariamente falsa, e vice-versa. Exemplos:
“Todos os cisnes são brancos” (A)  “Alguns cisnes não são brancos” (O)
“Todo o x é y”  “Algum x não é y”

2
“Nenhum cisne é branco” (E)  “Alguns cisnes são brancos” (I)
“Nenhum x é y”  “Algum x é Y”

Contrárias ( A  E )
Sendo ambas universais, diferem apenas pela qualidade, quer dizer, quando uma é A e
a outra E. Exemplos:
“Todo o portista é sectário” (A)  “Nenhum portista é sectário” (E)
“Todo o x é y”  “Nenhum x é y”

Sub-contrárias ( I  O )
Sendo ambas particulares, diferem apenas pela qualidade (quando uma é I e a outra
O). Exemplos:
“Alguns benfiquistas praticam desporto” (I)  “Alguns benfiquistas não praticam
desporto” (O)
“Algum x é Y”  “Algum x não é y”

Subalternas ( A  I ; E  O )
Quando diferem apenas pela quantidade, isto é, quando uma é Universal-Afirmativa e a
outra Particular-Afirmativa (“Todo o x é y”  “Algum x é Y”) ou quando uma é Universal-
Negativa e a outra Particular-Negativa (“Nenhum x é y”  “Algum x não é y”). Se A é
verdadeira, infere-se que I também o será necessariamente (pois, o que se afirma do todo
também tem que se afirmar das partes); mas do facto de I ser verdadeira não se infere que A
seja verdadeira. De igual modo, se E for verdadeira infere-se que O também o será, mas não
o contrário.
Exercícios

- Apresente as oposições lógicas possíveis das seguintes proposições: a) “Alguns


seres humanos são corajosos”; b) “Alguns escritores não são realistas”.
- Indique as proposições: a) sub-contrária de “Alguns jovens não são poetas”; b)
contraditória e subalterna de “Nenhum filósofo é louco”.

3. Conversão das proposições

Inferir por conversão consiste em concluir imediatamente de uma dada proposição


outra, com o mesmo valor de verdade da primeira 3, transpondo-lhe os termos. Converter uma
proposição é, portanto, deslocar o sujeito e o predicado de uma dada proposição. À
proposição que resulta da conversão chama-se proposição conversa (ou inversa da
primeira). Uma proposição conversa tem por sujeito o predicado da proposição a converter e
por predicado o sujeito da proposição a converter. Exemplo:
3
Se a proposição a converter é verdadeira, a conversa também o será; se a proposição a converter for falsa, a proposição
conversa também o será.

3
“Nenhum homem é irracional”
“Nenhum irracional é homem”

A segunda proposição é evidentemente resultante da primeira e tão verdadeira como


ela.

Diferentes modalidades de conversão

Conversão simples  é a transposição/permuta pura e simples do sujeito e do


predicado da proposição a converter; a transposição faz-se sem alteração da quantidade e
da qualidade da proposição primitiva. Uma proposição universal negativa deve ser
convertida numa proposição da mesma natureza, isto é, na sua recíproca. O mesmo
acontece com uma proposição particular afirmativa. Exemplos:

“Nenhum cavalo é bípede”  “Nenhum bípede é cavalo” (proposições de tipo E)


“Alguns portugueses são poetas”  “Alguns poetas são portugueses” (proposições de
tipo I).

Nota: A conversão simples só é possível com as proposições universais negativas (E) e


particulares afirmativas (I).

Conversão por limitação (ou por acidente)  as proposições universais afirmativas


(A) também se podem converter  permutar o sujeito e o predicado  desde que se altere a
quantidade do sujeito da nova proposição 4. Exemplos:

“Todos os advogados são juristas”, converte-se por limitação em “Alguns juristas são
advogados”;

“Todos os tripeiros são bairristas”, converte-se em “Alguns bairristas são tripeiros”;

“Todos os gatos são mamíferos”, converte-se em “Alguns mamíferos são gatos”.

Conversão por negação  Nesta modalidade de conversão há duas operações a


realizar:
a) transforma-se uma dada proposição particular negativa (O) em particular afirmativa
(I), afectando o predicado com uma negação; exemplo:

“Alguns metais não são corpos sólidos” (O)  “Alguns metais são corpos não-
sólidos.” (I)
4
Dito de outro modo: a conversão por limitação é a transposição dos termos com alteração da quantidade do sujeito da
proposição primitiva. Uma proposição universal afirmativa converte-se numa proposição particular da mesma qualidade.

4
b) converte-se simplesmente5 a proposição particular afirmativa assim obtida:

“Alguns corpos não-sólidos são metais” (I)

Quadro síntese

Conversão por Limitação


(A) Todo o S é P → (I) Algum P é S

Conversão Simples
(E) Nenhum S é P → (E) Nenhum P é S
(I) Algum S é P → (I) Algum P é S

Conversão por Negação


(O) Algum S não é P → (I) Algum não-P é S

Exercícios

- Realize a conversão das seguintes proposições:


a) “Alguns atletas são profissionais”
b) “Todos os médicos são licenciados”
c) “Alguns políticos não são corruptos”

5
Converter simplesmente = efectuar conversão simple.

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