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A construção da dimensão pessoal do enfermeiro dentro do contexto da saúde

mental

Inicialmente, torna-se importante compreender as concepções do entendimento


de Dimensão Pessoal. Para isso, parte-se do pressuposto de que a referida dimensão
esteja ligada à aspectos subjetivos do profissional de enfermagem, além de todos os
desafios em torno desta prática no contexto da Saúde Mental.
O profissional que atua no contexto da saúde mental depara-se com inúmeras
situações complexas, envolvendo cuidados e, principalmente, o contato com angústias
intensas. A angústia do paciente neste contexto está ligada à todas às suas faltas, reais
ou simbólicas. O adoecimento psíquico está ligado à perda da autonomia em diversos
aspectos. Desta forma, cabe à enfermagem não apenas o cuidado, mas o acolhimento
daquele sofrimento e o auxílio na retomada da autonomia deste sujeito (OLIVEIRA,
SPIRI, 2011).
No entanto, é necessário o olhar para além do corpo físico. Estar com o sujeito
em sofrimento psíquico requer olhar humanizado sobre a sua história e o
reconhecimento deste como um sujeito dotado de subjetividade. Diante das fragilidades
do outro, torna-se importante o reconhecimento das próprias fragilidades, neste ponto
surge a Dimensão Pessoal. Com o intuito de ampliar a compreensão desta dimensão
recorro à célebre frase do autor Karl Gustav Jung: "Conheça todas as teorias, domine
todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana"
(JUNG, 1991, p. 5).
Essa frase se relaciona com a Dimensão Pessoal no sentido do resgate e
desenvolvimento da humanidade do profissional de enfermagem, que no contexto da
saúde mental, deve voltar-se não apenas para o domínio técnico e teórico, mas,
principalmente, para a dimensão humana. A ausência desta dimensão nos cuidados de
enfermagem voltados para saúde mental podem revelar as dificuldades pessoais no
manejo de sentimentos provenientes do processo de cuidar. O profissional da
enfermagem precisa aprender a lidar com a própria subjetividade para que possa cuidar
adequadamente do sujeito em adoecimento mental.
A compreensão de aspectos dos campos psicológico, como a dimensão
emocional e afetiva, por exemplo, são de vital importância para a manutenção e controle
da ansiedade do próprio profissional de enfermagem. Além disso, o conhecimento sobre
essa dimensão pessoal não deve partir apenas do profissional. Em uma instituição de
saúde mental, o apoio psicológico à equipe deve ocorrer constantemente (OLIVEIRA,
SPIRI, 2011).
O trabalho da enfermagem no contexto da saúde mental pode ser cansativo e
estressante, devido à complexidade das demandas e isso, consequentemente, pode
produzir angústias em profissionais pouco preparados para o trabalho desta natureza.
Não apenas o paciente apresenta o seu sofrimento e angústias, como os familiares deste
também são uma fonte de demandas a serem atendidas, por isso, a dimensão pessoal e
social devem fazer parte da formação em enfermagem.
Analisando também a atual conjuntura e a dimensão pessoal, estamos
atravessando um período de intensa precarização e desmonte da Rede de Atenção
Psicossocial, fruto de décadas de lutas contra o modelo manicomial. A Reforma
Psiquiátrica brasileira remonta um bem sucedido processo, onde o modelo centrado em
leitos monovalentes foram substituídos por uma rede assistencial voltada para o cuidado
de múltiplos aspectos em torno do adoecimento psíquico e, também à família e a
comunidade deste sujeito. Falar sobre a dimensão pessoal inclui mencionar a
desvalorização, falta de incentivos, precarização das relações de trabalho, baixa
remuneração e outros problemas enfrentados por profissionais neste e em outro
contextos.
A compreensão sobre a dimensão pessoal possibilita a tomada de decisões,
criação de autonomia, desenvolvimento de competências e uma atuação ética, fundada
no princípio da garantia dos direitos humanos. A dimensão pessoal do profissional de
enfermagem deve ser construída de forma que proporcione ao sujeito em sofrimento
psíquico cuidados adequados, e permita que este profissional possa preservar a própria
saúde mental também (OLIVEIRA, SPIRI, 2011).

Referências

JUNG, Carl Gustav. Obras Completas. Volume VII. Estudos Sobre a Psicologia
Analítica. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.

OLIVEIRA, Elaine Machado de; SPIRI, Wilza Carla. Dimensão pessoal do processo de
trabalho para enfermeiras de Unidades de Terapia Intensiva. Acta paul. enferm., São
Paulo , v. 24, n. 4, p. 550-555, 2011. Disponível em
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
21002011000400016>. Acesso em: 08 fev. 2021.

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