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Texto escolhido: Eutanásia sob a perspectiva da bioética e clínica

ampliada, por Rubens Bedrikow.


Nome: Guilherme Custódio Rezende
RA: 181243296

Somos donos da vida que corre em nossas veias? Se sequer sabemos como
ela existe ao certo, se não podemos cria-la ou passa-la adiante, podemos
mesmo decidir o que fazemos com ela? Temos esse direito? Mas se não
tivermos, o que somos? Estamos presos a uma existência que não nos
pertence de fato? Não seria a maior glória de um homem escolher como vive e
morre? A medicina e o governo podem nos negar a autoridade máxima sobre a
nossa própria existência?
Facilmente infinitas podem ser as perguntas e é nessa pluralidade que centra
o maior argumento desse artigo: a complexidade da mente e das relações
humanas é um contexto que não pode ser deixado de fora ao se discutir sobre
a eutanásia, pois vai muito além de, como dito no próprio texto, uma “a
passagem asséptica da vida para a morte”.
A eutanásia se caracteriza como morte causa por compaixão, compaixão em
relação ao sofrimento permanente do outro, sendo de natureza livre de
secundas intenções senão a compaixão. Um contraponto citado no próprio
texto seria o de que existem outros métodos de amenizar o sofrimento de uma
pessoa, mas até que ponto esses métodos são realmente satisfatórios para
quem está, de fato, a sentindo? Devemos enquanto humanos procurar sempre
oferecer uma via que mantenha a vida, mas uma vida de qualidade, caso
contrário, não deveria a pessoa poder escolher cessar a própria dor que já não
a permite desfrutar de sua existência?
Os debates acerca do tema abrangem uma gama de esferas, desde políticas
e religiosas até a esfera familiar e individual. E é a isso que a perspectiva da
bioética e clínica ampliada serve, buscando promover uma visão do sujeito e o
contexto, sem é claro descuidar da doença. Uma vez que a na perspectiva
tradicional o foco é sempre na doença, ataca-la, cura-la, ameniza-la, refreá-la e
etc, a clínica ampliada busca enxergar e entender, isto é, levando em
consideração a história de vida, os desejos, afetos, saberes e poderes das
pessoas envolvidas no processo. Acreditando que devemos nos libertar do
conceito que o texto chama de dominação consentida, em que simplesmente
aceitamos as decisões dos médicos, e assim participarmos ativamente nas
decisões que cercam a nossa própria vida. Mas ao mesmo tempo, podemos
mesmo fazer isso, uma vez que muitas vezes a própria lei nos limita quanto às
possibilidades que podemos escolher? Afinal esse é o caso da eutanásia,
proibida em diversos países, incluindo o Brasil.
A bioética ampliada opera paralelamente à clínica ampliada, procurando
valorizar o contexto em torno da escolha da eutanásia, mas apesar de
concordar e acreditar que devemos devolver às pessoas a capacidade de
gerenciar suas vidas e consequentemente sua morte, já que essa é a opção
que mais abrange a complexidade e diversidade humana, suas crenças,
diferentes culturas e vontades, também é válido citar que tamanha liberdade
pode também ser preocupante.
Quanto mais subjetividade adicionarmos ao tema, mais difícil será criar leis e
normas de condutas, e sem leis, sem normas, como iremos supervisionar o
que acontece? Seria possível tratarmos cada caso isoladamente? Investigar,
entender e então prosseguirmos? Ainda que não, entender o contexto pode
ajudar a criar medidas alternativas à eutanásia e por isso, mesmo que não
fosse tomado como requisito determinante, pode ser dispensado para
promover alternativas que forneçam qualidade de vida.
Como dito, essa liberdade tem prováveis consequências, dentre outras
podemos até mesmo imaginar as consequências que teríamos se déssemos
mais liberdade a eutanásia: poderiam tornar os suicídios e auto mutilação
problemas normalizados? Afinal, se somos donos de nossas próprias vidas,
senhores do nosso corpo, poderíamos optar por cessar ou até mesmo nos
danificar, não?
Acredito que a bioética e a clínica ampliada realmente fornecem uma
perspectiva que se adequa melhor ao que o ser humano é: mais do que
decisões simples e sim o resultado de vários processos, emocionais e sociais,
ao longo de uma vida. Mais do que simplesmente encerrar a vida, alguém que
opta pela eutanásia tem motivos complexos que merecem ser ouvidos e a isso,
a bioética e a clínica ampliada servem bem.
Porém, trata-se de um tema complexo e que acaba se voltando muito para o
ser enquanto indivíduo, pode a lei, nesse caso, dar prioridade para o indivíduo
em viés do coletivo? A perspectiva atual serve a um todo e talvez, dentro das
capacidades atuais, seja a via mais sábia, mas com toda certeza não a mais
humana.

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