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CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOFÍSICA E RADIOBIOLOGIA
Apostila de pHmetria
2020.3
Docentes:
Abel Vieira Neto
Dijanah Cota Machado
Thiago de Salazar e Fernandes
Recife, 2020
1
1. INTRODUÇÃO
2. ORIGEM E SIGNIFICADO DO pH
H+ = 0,0000001 M
H+ = 10−7 M
Uma forma ainda mais simples para expressar as concentrações de H+ foi proposta pelo
pesquisador dinarmaquês Sören Sörensen em 1909, consistia em utilizar o logaritmo negativo
destas concentrações. O valor assim expresso foi chamado de pH (potencial de hidrogênio ou
potencial hidrogeniônico). Portanto:
pH = − log H+
2
Assim, para uma solução neutra na qual:
H+ = 10−7
pH = − log 10−7
pH = − (− 7)
pH = 7
A escala de pH vai de 0 a 14. Soluções que possuem pH menor que 7 são classificadas como
ácidas (concentração de H+ é maior que a de OH-). Soluções com pH maior que 7 são classificadas
como alcalinas ou básicas (a concentração de H+ é menor que a de OH-) e pH igual a 7 a solução é
dita neutra (Figura 1).
Figura 1. Representação da escala de pH e exemplos de alguns elementos do cotidiano e seus respectivos valores
aproximados de pH. Fonte: Google Imagens.
A escala de pH é logarítmica, e não aritmética. Por conta disso, se duas soluções diferem em
pH por uma 1 unidade, isso significa que uma solução tem dez vezes mais a concentração de íons
H+ que a outra, mas isso não indica a magnitude absoluta da diferença.
Pode-se também determinar a acidez ou alcalinidade de uma solução por meio da medida da
concentração de íons OH- na solução, neste caso calcula-se o pOH (potencial hidroxiliônico) da
solução. Matematicamente, pOH é definido como:
Igualmente ao pH, a escala de pOH vai de 0 a 14, porém a classificação é invertida, soluções
com pOH menor que 7 são classificadas como básicas; soluções que possuem pOH maior que 7 são
classificadas como ácidas e solução com pOH igual a 7 neutra.
Até Sørensen desenvolver as escalas de pH e pOH, não existia uma maneira amplamente
aceita de expressar as concentrações de íons hidrogênio e hidroxila.
3
3. ELETRÓLITOS
A Teoria de Arrhenius, proposta pelo químico sueco Svante Arrhenius em 1884, define que
ácido é toda espécie química que, em solução aquosa, aumenta a concentração de H+ e base como
uma espécie que, em solução aquosa, aumenta a concentração de OH-.
Ao reagir com a água, ácidos e bases exibem funções opostas. Enquanto uma molécula de
ácido doa um próton, uma molécula de base recebe um próton de uma molécula de água. Este fato
originou uma ampla definição de ácidos e bases, proposta por J. N. Bronsted e J. M. Lowry, em
1923. Segundo estes autores, um ácido é um doador de prótons, e uma base é um receptor de
prótons; isto ficou conhecido como a definição de Bronsted-Lowry, ou simplesmente de Bronsted.
Todos os compostos eletrolíticos (ácidos, bases e sais) em solução aquosa, ionizam-se até
um certo grau. Cada composto exibe um grau próprio de ionização. Um ácido, por exemplo, em
solução, libera H+; a tendência para a liberação de H+ é uma medida da força de um ácido. Assim,
um ácido forte é aquele que exibe uma forte tendência a doar prótons; analogamente, de acordo com
Bronsted-Lowry, uma base forte é a que possui uma forte tendência a receber prótons.
Um exemplo de ácido forte é ilustrado pelo ácido clorídrico (HCl), que tem grande
facilidade para doar H+; por sua vez, o ácido acético (CH3COOH) constitui um exemplo de ácido
fraco, pois libera H+ em pequena proporção.
Embora as dissociações dos eletrólitos, em geral, sejam reversíveis, o sentido predominante
da reação depende da afinidade dos componentes ionizáveis. Ao se dissolver um ácido em solução
aquosa, há produção de H+ (prótons) e A− (ânions). Quando se trata de um ácido forte, a maior parte
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das moléculas se dissocia, formando os prótons e os ânions correspondentes; se for um ácido fraco,
grande parte das moléculas permanece na forma neutra, não dissociada (HA), sem carga elétrica, e
uma pequena parte se dissocia formando os prótons (H+) e os ânions (A− ) correspondentes.
HA H+ + A−
Segundo a Lei de Ação das Massas, no equilíbrio, a relação entre os produtos das
concentrações de ambos os lados da equação química é constante, para uma determinada
temperatura. Assim:
[H+ ] 𝑥 [A− ]
Keq = [HA]
H2 O H+ + OH−
[H+ ] 𝑥 [OH− ]
Keq =
[H2 O]
Como a proporção de moléculas não dissociadas é extraordinariamente grande em relação às
dissociadas, pode-se considerar o valor da [H2O] constante. Na equação acima, aplicando a regra
fundamental das proporções (meio pelos extremos), a constante de equilíbrio da água será dada por:
5
Na água pura a 25 ºC, a concentração da água [H2O]1 é 55,55 M e o valor da Keq,
determinado por medidas de condutividade elétrica da água pura, é de 1,8x10-16 M. Deste modo,
este valores podem ser substituídos na equação da constante de equilíbrio. Somando a isso a
informação de que Keq x [H2O] = Kw, a equação fica:
[H+]2 = 10-14 M2
Deslocando o expoente do primeiro membro para segundo membro, transforma-o em raiz quadrada:
[H+] = √10-14 M2
A dissociação da água pura é um exemplo clássico de reação neutra, isto é, [H+] = [OH−].
Embora as concentrações de H+ e OH− estejam intimamente relacionadas, na prática se utiliza a
[H+] para se expressar a alcalinidade ou acidez das soluções, ou seja se aplica a escala de pH. Para a
água pura o pH é o seguinte:
1Considere 1 litro de água pura, a massa de água nele presente é 1000 gramas, pois a densidade da água é igual a 1 g/mL. Sabendo, que massa molar
(M1) da água é 18 g/mol, pode-se calcular a sua concentração molar:
n m 1 1000 g
[H2O] = = ∙ = = 𝟓𝟓, 𝟓𝟓 𝐌
V M1 V 18 g/mol 𝑥 1 L
6
pH = - log [H+]
pH = 7
Analogamente, pOH = 7
H+ + H2 O H3O+
4. SISTEMA TAMPÃO
4.1. Conceito
Algumas soluções são capazes de impedir acentuadas variações de pH. Tais soluções
aquosas, conhecidas como tampão, tendem a resistir a mudanças de pH quando pequenas
quantidades de ácido (H+) ou base (OH-) são adicionadas.
Esta propriedade confere extrema importância às soluções tampão, tanto nos mecanismos
biológicos como nos diversos processos de laboratório. Nestes últimos, os tampões são necessários
em reações que exigem um pH “ótimo”, como ocorre nas reações imunoenzimáticas.
Nos organismos vivos, os sistemas tampão são essenciais para a manutenção da constância
do meio interno, garantindo um pH adequado à realização de muitas funções.
É a quantidade de ácido ou base que um tampão pode neutralizar antes que o pH da solução
comece a variar a um grau apreciável.
Dependerá da concentração dos compostos utilizados na preparação do tampão. Assim,
tampões mais concentrados apresentam maior grau de tamponamento.
As soluções tampão são constituídas por um ácido fraco e um sal deste ácido (base
conjugada) ou por uma base fraca e um sal desta base (ácido conjugado). Um exemplo de tampão
composto por ácido fraco é a mistura de ácido acético e acetato de sódio. Já um exemplo de tampão
composto por base fraca é a mistura de hidróxido de amônio e cloreto de amônio.
7
Em uma solução preparada com ácido acético e acetato de sódio ocorre:
CH3COOH CH3COO− + H+
(ácido acético)
CH3COO− + H+ CH3COOH
4) o resultado final será uma mistura de acetato de sódio totalmente dissociado e ácido
acético muito pouco dissociado.
A adição de um ácido forte, por exemplo HCl, a uma solução tampão, como a formada por
ácido acético/acetato de sódio, produzirá uma variação mínima no pH, pelo seguinte:
O HCl se dissocia, liberando H+:
HCl Cl− + H+
Os H+ liberados pelo HCl se combinam com os íons acetato para formar ácido acético:
H+ + CH3COOH CH3COOH
Desta forma, um ácido forte, muito ionizado, é transformado em um ácido fraco, pouco
ionizado. Como os H+ desaparecem, captados pelo acetato, a modificação do pH é mínima.
Quando se adiciona uma base forte, NaOH por exemplo, o processo é semelhante:
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Assim, os OH− que poderiam modificar o pH desaparecem, e o efeito da adição da base será
muito discreto.
Como visto anteriormente, um ácido fraco, em solução, se dissocia muito pouco. Esta
dissociação é regida pela equação:
[ H + ][ A − ]
K=
[ HA]
[ H + ][ A − ]
log K = log
[ HA]
ou
[ A− ]
log K = log[ H + ] + log
[ HA]
Rearranjando a equação
[ A− ]
− log[ H + ] = − log K + log
[ HA]
[ A− ]
pH = pK + log
[ HA]
Esta expressão é conhecida como equação de Henderson-Hasselbach.
Levando-se em conta que, em uma solução tampão quase todos os íons provêm do sal, que
está totalmente dissociado, pode-se considerar, sem grande erro, que A− = sal; e, como o ácido se
encontra muito pouco dissociado, pode-se considerar HA = ácido. Destarte, a equação pode ser
formulada de outra maneira:
sal
pH = pK + log
ácido
5. TAMPÕES BIOLÓGICOS
Nos animais superiores, a regulação do pH dos seus fluidos é feita através de dois
mecanismos: físico-químicos e fisiológicos. Os mecanismos físico-químicos são representados
pelos sistemas tampão e constituem a primeira defesa contra variações do pH.
Dois tampões biológicos especialmente importantes são o sistema fosfato e o bicarbonato. O
tampão fosfato atua no ambiente intracelular. Já o sistema constituído por ácido
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carbônico/bicarbonato (tampão bicarbonato) é o principal responsável pela manutenção do pH
sanguíneo.
O H2CO3 está em equilíbrio com o CO2 dissolvido em água, conforme a seguinte equação:
O tampão bicarbonato está presente no sangue para mantê-lo dentro da faixa de normalidade
de 7,35 a 7,45. Alterações no equilíbrio ácido-base do organismo perturbam o tampão bicarbonato
de modo que o pH sanguíneo pode sair da sua faixa de normalidade e apresentar valores de pH
abaixo de 7,35 ou acima de 7,45, desenvolvendo distúrbios ácido-base denominados acidose (pH <
7,35) e alcalose (pH > 7,45) (Figura 2).
Figura 2. Quando o pH sanguíneo está fora da faixa de normalidade, o organismo sai do equilíbrio ácido-base e
desenvolve os distúrbios ácido-base Acidose (acúmulo de ácido, redução do pH do sangue) e Alcalose (perda de ácido,
aumento do pH). Fonte: Google Imagens.
Basta alterar o ritmo e a profundidade dos movimentos respiratórios para produzir uma
modificação na concentração de H2CO3 e, consequentemente, o pH tenderá a acidez. Uma redução
do CO2, por outro lado, diminuirá a concentração do H2CO3, fazendo o pH se deslocar em direção a
alcalinidade.
Além dos processos físico-químicos, mecanismos fisiológicos, realizados pelos pulmões e
pelos rins, também desempenham um papel importante na regulação do pH do meio interno. Os
detalhes desses mecanismos transcendem aos propósitos deste texto.
6. DETERMINAÇÃO DO pH
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HI H + + I−
[H+ ] 𝑥 [I− ]
Ki = [HI]
Onde:
[ HI ]
[ H + ] = K i −
[I ]
[I − ]
pH = pK i + log
[ HI ]
Esta expressão indica que diversas cores podem ser assumidas pelo indicador, consequentes
à variação no pH de uma solução. Existem, no entanto, limites na relação I−/HI, que restringem a
utilização de um indicador. Cada indicador só é útil dentro de uma certa faixa de pH (Tabela 1). O
vermelho de fenol, por exemplo, com a forma HI amarela, e a I− vermelha, só pode ser utilizado
para medir variações de pH compreendidas entre 6,4 e 8,4. Abaixo de 6,4 e acima de 8,4 a solução
se apresentará, respectivamente, amarela ou intensamente vermelha, não sendo possível apreciar
diferentes tonalidades.
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Algumas soluções de substâncias naturais, especialmente originárias de plantas, comportam-
se como soluções de indicadores de pH. Como exemplos temos:
a) Solução aquosa de chá preto: a sua solução aquosa é avermelhada/ amarelada, adquirindo cor
amarelo-pálida em contato com soluções ácidas e cor acastanhada em contato com soluções básicas.
b) Solução aquosa de beterraba: a sua solução aquosa adquire cor vermelha em contato com
soluções ácidas e cor roxa em contato com soluções básicas.
c) Solução aquosa de rabanete: a sua solução aquosa adquire cor vermelha em contato com soluções
ácidas e cor acastanhada em contato com soluções básicas.
d) Solução aquosa da pêra: sua solução aquosa adquire cor vermelha em contato com soluções
ácidas e cor verde-seco em contato com soluções básicas.
e) Solução aquosa de repolho roxo: apresenta cor roxo azulado em pH neutro; rosa/vermelho em pH
àcido; azul em pH alcalino fraco e verde em pH alcalino forte (Figura 3C).
A
B C
Figura 3. Medidas de pH pelo método colorimétrico. (A) Espectro das cores formadas pela adição do indicador ácido-
base vermelho de fenol em soluções com pH compreendido entre 6 e 8. (B) Fita de pH. (C) Espectro das cores formadas
pelo indicador ácido-base natural encontrado no repolho roxo em soluções com pH compreendido entre 2 e 11. Fonte:
Google Imagens.
A B
Figura 4. Tipos de pHmetros. (A) pHmetro portátil. (B) pHmetro de bancada. Fonte: Google Imagens.
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O método potenciométrico baseia-se na formação de potenciais elétricos entre duas soluções
com concentrações (ou atividades) iônicas diferentes. Neste caso em particular, a espécie iônica de
interesse é o H+. Um elemento importante deste método é o eletrodo, que pode ser de vários tipos:
calomelano, de hidrogênio e o de vidro. O mais utilizado é o eletrodo combinado de vidro (Figura
5).
A B
Figura 5. (A) Eletrodo combinado de vidro para medição de pH. (B) Representação de eletrodo de pH com indicação
dos elementos que o compõem. Fonte: Google Imagens.
O funcionamento do eletrodo de vidro tem como base a diferença de potencial elétrico (ddp)
entre duas soluções separadas por uma membrana de vidro especial, com concentrações de H +
diferentes. Desta forma, o eletrodo funciona como pilhas de concentração, cuja diferença de
potencial é dada pela equação de Nernst:
RT C
E = ln ,
zF C
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Substituindo os símbolos pelos valores correspondentes, para um íon monovalente, a 25 C
(298 K), temos:
8,3143 x 298 C
E = ln ,
96500 C
C
E = 0,026 ln ,
C
C
E = 0,059 log ,
C
1
E = 0,059 log +
H
1
Como log + = pH
H
Então a relação entre o potencial elétrico (E) e o pH se dá através da equação:
E = 59 x 7,0
E = 413 mV
Não obstante, alguns aparelhos fornecem os dois valores, facilitando ainda mais a tarefa do
usuário que necessite de ambos.
BIBLIOGRAFIA
BARKER, K. Na Bancada - Manual de Iniciação Científica em Laboratório de Pesquisas Biomédicas. 1a. edição,
Editora Artmed, 2002.
BRACHT, A.; ISHII-IWAMOTO, E.L. Métodos de Laboratório em Bioquímica. 1a. edição, Editora Manole, 2003.
CAMPBELL, J.M.; CAMPBELL, J.B. Matemática de Laboratório. 3a. edição, Editora Roca, São Paulo, 1986.
14
HARGREAVES, A.B. Métodos Físicos de Análises (Fotocolorimetria e pHmetria). Livraria
Atheneu, Rio de Janeiro, 1979.
MARZOCCO, A.; TORRES, B.B. Bioquímica Básica. Guanabara, 1990.
NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6a. edição, Editora Artmed, 2014.
VIEIRA, E.C.; GAZZINELLI, B.; MARES-GUIA, M. Química Fisiológica. Livraria Atheneu, Rio
de Janeiro, 1979.
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