Vincular as relações de poder nos estudos do letramento, considerando que o aprendizado da leitura e escrita pressupõe vínculos valorativos, de cunho ideológico com vistas à mudança social. as pesquisas de Gee (1990) e Street (1984) demonstraram que o letramento não tem a ver com inferioridade cultural, muito menos com habilidades cognitivas. Os estudos a respeito do letramento apontam para habilidades específicas, manifestadas em determinas práticas particulares. Para Bourdieu (1984; 1991), os sistemas estabelecem distinções valorativas que premiam determinados alunos em detrimento de outros, especialmente os da classe média. Foucault (1997) destaca como as estruturas sociais disciplinam de forma a produzir vontades de verdade, e tecnologias do sujeito, a fim de manter o controle sobre os indivíduos; Para Gramsci (1971), os grupos subordinados podem ser persuadidos, a fim de se deixarem dominar pelo consenso, através do processo de coerção. Por esse motivo, faz-se necessário “um tarefa crítica, pondo em questão as instâncias de controle” (FOUCAULT, 2003, p. 66); Para a “desconstrução ideológica de textos que integram práticas sociais [...] a fim de desvelar relações de dominação” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 89). Para Thompson (1995), a ideologia é hegemônica, pode serve para sustentar as relações de dominação, favorecendo indivíduos e grupos dominantes. Nesse processo de letramento crítico, cabe aos leitores e produtores de textos, o investimento para identificar como a ideologia é operacionalizada. Essa percepção de educação está atrelada à pedagogia crítica, defendida inicialmente por Freire (2011). Para ele o aprendizado da leitura e da escrita é um ato de conhecimento, no qual os aprendizes assumem o papel de sujeitos criativos. A linguagem, nessa perspectiva, tem relações com o mundo, pois é a palavra-ação, incluindo a relação dos homens e mulheres com o mundo. Ele usou o letramento como forma de quebrar a ‘cultura do silêncio’ do pobre. Para Freire (1972, p. 52) faz-se necessário a “ação e reflexão dos homens sobre o mundo a fim de transformá-lo Os professores precisam fazer a relação necessária, conforme propõe Rajagopalan (2003, p. 127), entre linguística crítica e o ensino de línguas, e serem desafiados não apenas a “pensar sobre a linguagem”, mas também “pensar na linguagem” . O significado de letramento geralmente é posto em oposição ao iletramento, e está relacionado às práticas sociais, às maneiras diversas de uso da língua escrita regulamentada pelas instituições sociais (JANKS, 2010). O Ensino Crítico de Línguas pode trazer contribuições significativas para o empoderamento dos estudantes.
Isso acontece porque os sujeitos são
(des)posicionados em categorias sociais, tais como gênero, raça, classe, sexualidade, etnicidade, religião e habilidade. Uma das contribuições do Ensino Crítico de Línguas é justamente o de identificar as atribuições de valor na linguagem, que posicionam os sujeitos. Para questionar termos que massificam, e pretendem generalizar, negando as possibilidades alternativas de pensar e agir no mundo (BOURDIEU e WACQUANT, 2001). Janks (2013) defende que o ensino crítico de línguas exige ação. Para tanto, é preciso estar atento aos seguintes princípios: 1) A língua está em todos os lugares; 2) Os textos são parciais, não são neutros; 3) Os produtores dos textos fazem escolhas; 4) Existem múltiplas modalidades na construção de sentidos; De acordo com Janks (2000), diferentes realizações do letramento crítico operam conceitos distintos na relação entre língua e poder: 1) Dominação – identificar meios poderosos para manutenção e reprodução das relações de dominação (FAIRCLOUGH, 1989; 2003); 2) Acesso – possibilitar formas de acesso às formas dominantes, ‘paradoxo de acesso’, a fim de romper com a marginalização(LODGE, 1997); 3) Diversidade – a diferença deve ser debatida nos contextos educacionais (GEE, 1990), com vistas à mudança; 4) Design – seleção e uso de recursos semióticos distintos para criar possibilidades de transformação e reconstrução (COPE & KALANTZIS 1997). Leitura crítica de textos – escolhas lexicais (seleção de palavras), escolhas gramaticais (voz, tempo, modalidade, artigos); sequenciação (argumento); construção da realidade (posicionamentos); Diversidade, diferença e disparidade – precisamos refletir sobre identidades, não como algo estanque mas dinâmico, algo produzido, mas não determinado. Acesso e desejo – quais as aspirações das pessoas, e suas necessidades, quais os meios de acesso, quem favorece esse acesso; Produção crítica de textos – consciência para produzir textos que façam a diferença nas formas em que “nomeamos” e compreendemos o mundo. Anúncios publicitários de cosméticos na aula de línguas Dissertação: Altaiza Rosângela da Silva Pereira Anúncios governamentais na aula de línguas Dissertação: Rissia Oscaline Garcia A RECONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO NORDESTINO A PARTIR DE CHARGES SOBRE A SECA: UMA PRÁTICA DE LETRAMENTO MULTIMODAL CRÍTICO NA AULA DE LÍNGUA MATERNA Adriana dos Santos Pereira LETRAMENTO CRÍTICO NA AULA DE LÍNGUA MATERNA: UMA ANÁLISE DE ARTIGOS DE OPINIÃO SOBRE O LIVRO QUE ENSINAVA PORTUGUÊS “ERRADO” INAJARA COSMO PEREIRA LETRAMENTO CRÍTICO MULTIMODAL NA AULA DE LÍNGUA MATERNA: A ANÁLISE DE ANÚNCIO EM VÍDEO COM YOUTUBER SOBRE A VENDA DE BANDA LARGA MÓVEL PAULA PRISCILLA MENDES DE CARVALHO LETRAMENTO CRÍTICO MULTIMODAL NA AULA DE LÍNGUA MATERNA: O DISCURSO MACHISTA EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS VEICULADOS PELA INTERNET ANA LORENA DOS SANTOS SANTANA Os professores de línguas, a partir de uma perspectiva crítica, não podem desvincular a língua do discurso e do poder. Existe um longo caminho a ser percorrido na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, que respeita a diversidade. Apesar dos tempos difíceis, é sempre possível sonhar, na busca por transformação social. BOURDIEU, P. Distinction. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1984. BOURDIEU, P. Language and symbolic power. Cambridge: Cambridge Polite Press, 1991. BOURDIEU, P. WACQUANT, L. New liberal speak: note on the new planetary vulgate. Radical Philosophy 105, p. 2-5, 2001. FAIRCLOUGH, N. (ed.) Critical language awareness. London: Longman, 1992. FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Trad. de Izabel Magalhães. Brasília: UNB, 2001. FAIRCLOUGH, N. Analyzing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge, 2003. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Trad. L. F. B. Neves. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense- Universitária, 1987. FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2003. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1997. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1977. FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. 2. re. São Paulo: Paz e Terra, 2011. GEE, J. Social linguistics and literacies. London: Falmer Press, 1990. GRAMSCI, A. Selections from prison notebooks. London: Lawrence and Wishart, 1971. HEATH, S. B. Ways with words. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. HORTON, M., FREIRE, P. We make the road by walking. Philadelphia: Temple University Press, 1990. JANKS, H. Literacy and power. Routledge: New York, London, 2010. JANKS, H. Doing critical literacy. London: Routledge, 2013 KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. London: Routledge, 2006. RAJAGOPALAN, K. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. STREET, B. Literacy in theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis: Vozes, 1995.