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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GESTÃO SOCIAL

DISCIPLINA: GESTÃO SOCIAL E TERRITÓRIO


DISCENTE: MARIA DAIANYY DE SOUZA MACHADO
DOCENTE: RICARDO CRUZ MACEDO
FÓRUM I
Como as transformações do Estado e da sociedade brasileira no final do século XX se
relacionam com o contexto de surgimento da Gestão Social?

Com os efeitos da Globalização e a ascensão do Neoliberismo, o mundo inteiro passou a


vivenciar modificações em diversos setores da sociedade. O crescimento tecnológico, a corrida
espacial, o consumismo elevado, desemprego gerado pela falta de mão de obra qualificada e o
capitalismo por sua vez ainda mais voraz.
No Brasil, durante as décadas de 1980 e 1990 foram paradigmáticas e paradoxais no decorrer
de uma nova configuração para o cenário econômico, político e social brasileiro.
O paradoxo está na relação entre os avanços sociais, ampliação dos processos democráticos, e
centralidade da matriz econômica em detrimento do social. Todas as garantias constitucionais
que foram consubstanciadas em legislações ordinárias posteriores passaram a ser alvo de
desmonte pelos governos que sucederam pós Constituição de 1988.
O Estado, nesse contexto, foi máximo para os interesses privado e mínimo para as demandas
por políticas sociais para o povo. É compreendido que os governos que se encarregaram de
implementar a Constituição o fizeram de forma insuficiente, ou melhor, numa perspectiva
oposta ao ideário da mesma.
A reforma do Estado, efetivada no Governo Fernando Henrique Cardoso, é um exemplo disto,
tendo sido traduzida pelo Plano Diretor da Reforma do Estado que é reconhecido como o
documento que sintetiza a fase áurea do neoliberalismo no país (apesar de se autodenominar
de “projeto social-liberal”).
A gestão social contemporânea, na realidade brasileira em particular, vem colocando em
posição de destaque a relação entre e o Estado e a sociedade civil. Essa constatação decorre da
dinâmica que se processa entre as iniciativas públicas estatais e a crescente incidência da
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sociedade civil organizada nas instâncias de participação e trato das demandas sociais.
A gestão social que o Estado brasileiro passou a adotar, a partir da última década do século
XX, tem demostrado que há uma clara opção por partilhar as demandas sociais que emergem
da questão social junto aos demais setores da sociedade. Um claro exemplo dessa partilha
residiu na criação, em 1995, da organização denominada Comunidade Solidária 1, que naquele
período se colocou de forma paralela à Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS2, e que, no
conjunto das suas ações, efetivou práticas que legitimaram os setores que não compõem o
aparato estatal.
Portanto, com a diminuição da intervenção do Estado nas questões sociais e com a
redemocratização do país e o declínio do modelo intervencionista do Estado , a questão da
cidadania e dos direitos fundamentais passa a ser o foco das organizações sem fins lucrativos,
mais conhecido como o Terceiro Setor.
A partir deste momento, começa a crescer a articulação do Terceiro Setor como grupo
consolidado que a cada dia vem adquirindo mais relevância social em virtude da atuação
ineficiente do Estado, em especial na área social. Revelando uma nova forma de conceber e
trabalhar a questão social, vem crescendo e se expandindo em vários segmentos, objetivando
atender ass demandas dos mais diversos nichos da sociedade, onde o Estado e os agentes
econômicos não têm interesses ou não são capazes de prover. Seu crescimento se dá, também,
em consequência de práticas cada vez mais efetivas de políticas neoliberais do capitalismo
global, produzindo instabilidade econômica, política e social, principalmente nos países do
terceiro mundo, decorrentes da globalização desenfreada que o mundo vem sofrendo em seus
diversos aspectos.
O feitio da Gestão Social no Brasil vem se processando no contexto das relações incoerentes
entre o Estado e a Sociedade Civil. Elas evidenciam que estamos diante da emergência e
proliferação de experiências de construção de novos espaços públicos, tanto no interior da
sociedade civil, quanto nas instâncias estatais. Posto que, os interesses que movimentam tais
experiências provêm de múltiplos interesses, mas para que se constituam como públicos será
preciso abandonar os interesses privativos, partidários e corporativistas, haja visto que:
O compromisso ético e a opção pelo desenvolvimento de propostas que tenham por base o
protagonismo da sociedade civil exige uma clara vontade política das forças democráticas
organizadas para a construção de uma nova sociedade e de um espaço público diferente do
modelo neoliberal, construído em cima de exclusões e injustiças. É preciso que se respeitem os
direitos de cidadania e se aumentem progressivamente os níveis de participação democrática de
sua população. Esses níveis se expressam em espaços públicos, consolidados em instituições
que deem forma (...) ao exercício da participação cidadã (GOHN, 2011, p.124).

1 para aprofundar o tema sugiro a obra de Maria Ozanira da Silva e Silva (2001)

2 Legislação (Lei nº 8742/93) referente a gestão da política da assistência social na esfera pública.
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As experiências em Gestão Social são recentes e permanecem sendo disputadas politicamente,


tal realidade se projeta no campo científico, pois o seu conceito permanece em construção, o
que requer pesquisadores comprometidos com este objeto de estudo, tendo em vista a
particularidade que o trato desta categoria teórica requer.
Para finalizar esta discussão, trago o curta-metragem “A Ilha das Flores” do diretor brasileiro
Jorge Furtado, que mostra de forma ácida às desigualdades sociais advindas do descaso
governamental e do capitalismo na sociedade brasileira. O curta propõe uma reflexão a partir
do poder que o dinheiro tem na vida das pessoas, a ponto de tirar a sua liberdade. Esta é outra
situação com a qual a sociedade e o governo não sabem lidar, deixando o povo à mercê da
boa vontade alheia. Assim como o lixo é excluído, essas pessoas também são. Vivem à
margem, sem oportunidades, devido à falta de dinheiro provocada pelo desemprego. Como o
dinheiro foi criado pela humanidade, temos aqui um exemplo perfeito da máxima do filósofo
Thomas Hobbes, “o homem é o lobo do homem”.
Sendo assim, relacionando conflitos sociais, ambientais, econômicos e culturais, Ilha das flores
provocou em mim, reflexões sobre como pode ser problemático o descaso que os governos tem
para com sua população, deixando ainda mais visível a necessidade de políticas públicas e
gestão social para uma vida digna.

REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS
DOWBOR, Ladislau. Gestão Social e transformação da sociedade. Disponível em:
https://dowbor.org/ Acesso: 11/02/2021 às 15:55
CABRAL, Eloisa Helena de Souza. Terceiro Setor: gestão e controle social. São Paulo:
Saraiva, 2007
FISCHER, Tânia. Perfis visíveis na gestão social do desenvolvimento. RAP - Revista de
Administração Pública. Rio de Janeiro V.40 P. 789-808, Set/Out de 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rap/v40n5/a03v40n5.pdf Acesso em: 12/02/2021 às 23:36
Maciel, Ana Lúcia Soarez; Bordin, Erica M. Bonfim. GESTÃO SOCIAL: Contexto e campo
científico no Brasil.
Disponível em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo8/gestao-social-
contexto-e-campo-cientifico-no-brasil.pdf Acesso: 13/02/2021 às 22:48
GOHN, Maria da Glória. Desigualdade & Diversidade – Revista de Ciências Sociais da PUC-
Rio, nº 9 ago/dez, 2011, p. 111-126. Disponível em: http://desigualdadediversidade.soc.puc-
rio.br/media/artigo9.pdf Acesso: 13/02/2021 às 23:14
Curta-metragem, ILHA das Flores. Direção: Jorge Furtado. Rio Grande do Sul: Casa de
Cinema de Porto Alegre, 1989, duração de 13 minutos.

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