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Comportamento
e Cognição
Reflexões epístemológícas e conceituais
Considerações metodológicas
Relatos de pesquisa
Volume 22
Organizado por W ander C. M . Pereira da Silva
ESETec
Editores Associados
2008
C opyright© desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2008.
Todos os direitos reservados
Silva, W. C. M. P.
228p. 23cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
Hermenêutica comportamental 45
Diemerson Saquetto, Elizeu Borloti
5
Compreensão e Utilidade de Textos da Análise do Comportamento 119
Sandra Regina Gimeniz-Paschoal, Tânia Moron Saes Braga, Maria de Lourdes Morales
'• Horiguela.
6
Apresentação
Considerações Iniciais
Ao longo dos últimos séculos a diversidade de seres vivos e a variabilidade
existente entre os membros da mesma espécie se tornaram temas importantes para a
humanidade. Inicialmente, o conhecimento sobre o assunto esteve excessivamente
apoiado em pressupostos religiosos e só recentemente a ciência produziu um conjunto
de evidências capazes de re-direcionar o debate em torno destas questões. Talvez por
isso, a explicação científica sobre a origem das espécies, e as leis naturais que governam
esse fenômeno, ainda não foi completamente apropriada por muitos profissionais.
Pessoas cultas, de boa formação educacional, ainda se perguntam sobre quando e
como o homem foi “criado” sem se dar conta que este tipo de questão só faz sentido
para a demarcação criacionista, já que para a vertente evolucionista o homem não foi
criado, foi “selecionado”. Na verdade, entender como ocorreu essa seleção, quais os
mecanismos naturais envolvidos e sobre o que esses mecanismos atuaram e atuam,
são temas mais centrais para o conhecimento científico.
Em termos históricos até meados do século XVIII as hipóteses de geração
espontânea e o criacionismo divino, chamadas também de fíxistas, eram aceitas sem
muitos questionamentos, e consideravam que as espécies, uma vez surgidas, se
mantinham inalteradas ao longo do tempo (Futuyama, 1992; Leakey, 1982). No entanto,
na segunda metade do século XVIII, diversos achados da paleontologia, geologia e
sistemática, tomaram insustentável a hipótese de que os seres vivos foram criados em
um único momento e a partir daí permaneceram inalterados. As evidências científicas
eram tão convincentes que já no século XIX as discussões se concentravam em tomo
das hipóteses evolucionistas, conhecidas à época como transformacionistas, que
consideram que as espécies atuais resultam de lentas e sucessivas transformações
sofridas por espécies existentes no passado.
Em tomo dessas evidências um conjunto de pequenas teorias tentava explicar
a transformação das espécies. Por exemplo, a hipótese Erros de Pierre Maupertuis; de
variações geográficas de Georges Leclerc, Conde de Buffon; a hipótese catastrofista de
Cuvier, dentre outras. Porém, essas “teorias” tendiam à tentativa de conciliar-se com as
Criacionismo na psicologia
Atualmente, com alguns casos pontuais de discordância, como é o caso do
bioquímico Michal Behe (1997), a teoria da evolução das espécies por seleção natural
é aceita, na comunidade científica do mundo inteiro, e se constitui a “pedra fundamental”
da moderna biologia (Leakey, 1982). No campo de conhecimento da psicologia, por
outro lado, não seria uma grande imprudência afirmar que prevalece majoritariamente
a noção criacionista e de geração espontânea do comportamento, tal como ocorria com
a biologia pré-darwiniana. Inclusive, a psicologia de hoje ainda vive na “era das escolas”
psicológicas, onde se misturam explicações científicas e não científicas dentro do mesmo
campo de conhecimento. Via de regra as escolas de psicologia possuem cada uma o
seu próprio estatuto epistemológico e metodológico, o que, de um lado inviabiliza o
debate entre elas, e de outro a própria crítica e validade daquilo que elas defendem.
Nessas escolas de psicologia, que se pode chamar de criacionistas, defende-
se abertamente que construtos hipotéticos e metafísicos (como as estruturas psíquicas,
cognitivas e mentais) são responsáveis pela conduta das pessoas, ou ainda, que uma
dada ação ou característica comportamental podem surgir “espontaneamente” na vida
de alguém. Assim, mesmo a psicologia possuindo longa tradição em abordar o
desenvolvimento do organismo, diz pouco sobre os mecanismos de seleção do
comportamento.
Considerando, por exemplo, o que tem sido dito sobre dois comportamentos
extremos como o psicótico e o criativo, pode-se concluir que muitos psicólogos (auto-
A evolução do comportamento
A análise do comportamento defende uma adesão quase completa às
propostas do evolucionismo biológico. Segundo entende Baum (1999, p. 69) “Os
psicólogos que hoje ignoram a teoria da evolução correm o risco de ficar à margem da
tendência atual do desenvolvimento científico”. Mas, quais são as reais implicações de
aderir ao modelo evolucionista? Nos próximos parágrafos se fará uma pequena reflexão
sobre o assunto.
Para Skinner (1981) a seleção por conseqüências é um processo básico que
governa a evolução da espécie, do individuo e da cultura. No modelo darwinista a seleção
1Neste ponto, há grande confusão entre mente e cérebro. Uma hora reduz-se a mente ao próprio cérebro, outra se atribui a existência da
mente ao fu ncfenamento do cérebro.
Reflexões Finais
Em um texto de 1974 Skinner afirma que “O que é bom para espécie é aquilo
que lhe ajuda a sobrevivência. O que é bom para o indivíduo é aquilo que lhe promove o
bem-estar. O que é bom para a cultura é aquilo que lhe permite solucionar seus
problemas” (p. 176). Dessas afirmações conclui-se que o ambiente atua como
selecionador dos comportamentos dos indivíduos por que estes lhe promovem o bem-
estar, Mas como o ambiente “sabe” que o comportamento selecionado promoverá o
bem-estar do individuo? Obviamente, não sabe e, provavelmente, não é por esta razão
Referências
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História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 12, n. 2, p. 293-318, maio-ago.
Carolina Laurentí*
UFSCar
O e s ta tu to d a e x p lic a ç ã o re d u c io n is ta na te o ria b io ló g ic a
U m a d a s p rin c ip a is c a ra c te rís tic a s d o re d u c ío n is m o é a firm a ç ã o d e q u e a
disse ca çã o de um sistem a co m p le xo em term os de suas partes co n stitu in te s o fe re ce rá
um a e x p lic a ç ã o c o m p le ta d o s is te m a (M a y r, 2 0 0 4 /2 0 0 5 ). Na B io lo g ia , p ro p o s ta s
re d u c io n is ta s a p a re c e m da s e g u in te m a n e ira : n e n h u m s is te m a b io ló g ic o c o m p le x o
* Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por meio de bolsa de doutorado. E-mall:
carolinapsicologia@hotmail.com
22 Carolina Laurentí
Podemos criticar o 'determinismo genético’ de, pelo menos, três perspectivas:
conceituai, empírica e social. Do ponto de vista conceituai, o ‘determinismo genético’
não tem se mostrado como uma ferramenta heurística adequada para compreendermos
a complexidade de processos biológicos. O conceito de determinismo genético nos
inspira a tratar as relações entre o organismo e seu meio de um ponto de vista linear e
unilateral, com uma ênfase demasiada no papel dos genes, desconsiderando as
interações fundamentais entre o organismo e ambiente. Nessa linha de raciocínio, o
organismo é visto como o produto exclusivo de forças internas determinadas pelos
genes. Segundo Lewontin (1998/2002), a noção de determ inism o genético é
biologicamente errada, pois “as relações entre genes, organismos e ambientes são
relações recíprocas nas quais os três elementos atuam como causas e efeitos” (p.
105). Nesse sentido, organismos não são meros produtos dos seus genes, mas um
complexo que se constitui na interação entre genes, ambientes e.o próprio organismo:
“tanto os genes como o ambiente são causas dos organismos, os quais, por sua vez,
são causas dos ambientes, de maneira que os genes, pela mediação dos organismos,
tornam-se causas dos ambientes” (Lewontin). Com efeito, a noção de determinismo
genético mostra-se bastante limitada para descrever essas múltiplas relações.
Tem-se constatado também que pesquisas encorajadas pelo conceito de
determinismo genético têm produzido parcos resultados em píricos. Um caso
paradigmático é o Projeto Genoma Humano (PGH). Leite (2007, p. 80) mostra a tensão
e as discrepâncias existentes entre promessas do PGH e os resultados obtidos com a
catalogação de basicamente 99% da seqüência genoma humano, anunciada em 21 de
outubro de 2004. Uma das promessas do projeto genoma era que a revelação do Livro
da Vida, uma das metáforas religiosas para se referir ao genoma, operaria uma
verdadeira revolução na biomedicina. As informações estruturais sobre o genoma
poderiam ser aplicadas na descrição de doenças, possibilitando o desenvolvimento de
novas abordagens terapêuticas, como a elaboração de medicamentos feitos com
precisão molecular, ajustados às características genéticas básicas do paciente.
Contudo, a informação obtida com a soletração do genoma não se reverteu em grandes
aplicações para a saúde. Até o presente momento, o sistema tecnológico da genômica
tem somente dois grandes exemplos de medicamentos desenvolvidos com base nas
informações obtidas do seqüenciamento dos genes (Gleevec e Iressa), ambos drogas
anticancer (Leite).
Essa ênfase exacerbada em um dos termos da relação também tem
conseqüências sociais danosas. A noção de determinismo genético admite que as
ações humanas são conseqüências inexoráveis das propriedades bioquímicas das
células que, por sua vez, são determinadas pelos genes. Assim, os deterministas
genéticos sustentam que o comportamento humano é fixado pelos genes. Como
conseqüência disso, fenómenos de natureza social, como as diferenças entre indivíduos,
grupos étnicos, raças, no que ser refere a status, riqueza e poder são entendidos como
o resultado de diferenças na capacidade e temperamento fixadas pelos genes (Leite,
2007). Nesse sentido, a crítica à noção de determinismo genético pretende denunciar a
camuflagem de causas sociais sob a roupagem de causas naturais. Uma camuflagem
que, em última análise, acaba condicionando a mudança ou transformação da realidade
social à modificação genética.
Essas críticas mostram que o determinismo genético, além de se mostrar
como uma ferramenta conceituai pobre do ponto de vista heurístico, parece produzir
resultados empíricos insatisfatórios, bem como conseqüências sociais funestas. Em
vista dessas considerações, Lewontin (1998/2002) conclui que uma Biologia ancorada
24 Carolina Laurenti
Isso se revela na crítica da Biologia à noção de adaptação darwiniana. Lewontin (1998/
2002) admite que a noção de adaptação de Darwin, entendida como o processo de
adequação do organismo ao ambiente, foi um passo revolucionário na Biologia. Na
concepção pré-moderna da natureza, não havia uma demarcação clara entre processos
externos e internos, vivo e morto, animado e inanimado. Com a noção de adaptação,
Darwin operou uma separação nítida entre o interno e o externo: o intemo se referia aos
processos internos que geravam o organismo, e o externo consistia nos diferentes
ambientes, aos quais o organismo deve se adaptar. A despeito de sua importância para
a Biologia, a idéia de adaptação darwiniana sugere uma concepção de organismo e
ambiente como independentes entre si (Lewontin). A adaptação é o processo pelo qual
um objeto se torna apto a satisfazer uma demanda pré-existente. Nessa acepção, o
organismo é entendido como o produto passivo, que se constitui em resposta às
exigências do ambiente.
Para Lewontin (1998/2002), contudo, uma metáfora mais adequada para
expressar o processo de evolução não é a de adaptação, mas a de construção: "assim
como não pode haver organismo sem ambiente, não pode haver ambiente sem
organismo” (p. 53). Para ele, organismos participam da construção de seu próprio
ambiente, que deixa de ser tratado como condições físicas meramente dadas, para se
restringir aquelas “eleitas” e modificadas pelo organismo. O biólogo afirma que
deslizamentos de gelo, depósitos de cinza vulcânica e fontes de água não são
ambientes. São condições físicas das quais ambientes podem ser construídos:
Um ambiente é algo que envolve ou cerca, mas, para que haja envolvimento, é
preciso que haja algo no centro para ser envolvido. O ambiente de um organismo
é a penumbra de condições externas que para ele são relevantes em face das
interações efetivas que mantém com aqueles aspectos do mundo exterior (Lewontin,
1998/2002, p. 54).
26 Carolina Laurenti
a realidade mental ou fisiológica, mas é a relação inextricável do comportamento com
suas conseqüências seletivas (Abib).
Nesse sentido, podemos dizer que a rejeição do paradigma da redução e o
reconhecim ento da autonomia de dom ínios científicos como a Análise do
Comportamento e a Biologia não significam, em absoluto, que essas disciplinas
científicas não possam se comunicar. Longe disso, esse exame mostra a possibilidade
de as relações entre Biologia e Psicologia serem encaminhadas sem pressupor um
programa reducionista de ciência. (Na verdade, é no contexto de uma filosofia anti-
reducionista de ciência que podemos fa la r de uma relação genuinam ente
transdisciplinar entre domínios científicos.)
A crítica da Biologia à redução dos fenômenos biológicos à física, bem como a
crítica skinneriana da redução do comportamento à fisiologia e à neurociência mostra
afinidades entre Biologia e Análise do Comportamento do ponto de vista da filosofia da
ciência, inserindo essas disciplinas científicas em uma tendência pós-reducionista de
ciência. Além do mais, a perspectiva relacional defendida pela Análise do Comportamento
e pela Biologia sugere que é exatamente no nível das relações entre organismo e
ambiente que se pode estabelecer um diálogo virtuoso entre de A nálise do
Comportamento e Biologia.
Nesse caso, a tentativa de entender o papel dos genes no contexto das
interações entre organismo e ambiente, e os avanços na Biologia nessa área, não
deveriam ser vistos como algo ameaçador. Pelo contrário, eles podem lançar luz sobre
vários fenômenos psicológicos, não com o objetivo de substituí-los e, em última análise,
de eliminá-los, mas de esclarecer como os processos biológicos participam dos
fenômenos psicológicos, ressaltando ainda mais a complexidade do objeto de estudo
da Psicologia. E é por meio da noção de comportamento, contextualizada em uma
metafísica relacional, que a Análise do Comportamento pode transgredir a fronteira com
a Biologia estabelecendo um diálogo prolífico com essa disciplina.
Referências
Watson, J. B. (1930). Behaviorism. Phoenix Books: The University of Chicago Press. (Trabalho
original publicado em 1924)
28 Carolina Laurenti
Capítulo 3
Algumas observações sobre o
tratamento behaviorista radical
dos eventos privados
Alexandre Díttrich*
UFPR
30 A lexandre Díttrich
comunidade verbal, sem acesso a um estímulo privado, pode gerar comportamento
verbal em resposta a ele” (1945/1984, p. 549).6 Todas elas apontam para a seguinte
conclusão: as comunidades verbais ensinam vocabulários mentais/subjetivos com base
na observação de relações comportamentais públicas - isto é, interações entre o
comportamento público do sujeito a ser ensinado e as variáveis públicas que o cercam.
Isso não significa que as relações comportamentais das quais participa o sujeito a ser
ensinado envolvem apenas variáveis públicas, mas que a comunidade que ensina o
vocabulário mental/subjetivo está necessariamente limitada à observação de variáveis
públicas. A comunidade que nos ensina a dizer, por exemplo, que estamos tristes, ou
alegres, ou irritados, etc., nos ensina a dizer isso (1) porque observa certas características
de nosso comportamento tipicamente classificadas como “tristeza", “alegria” ou “irritação”
e/ou (2) porque nos observa em certa situação que, naquela comunidade, é tipicamente
classificada como alegre, triste ou irritante. Pode ocorrer (mas não necessariamente)
que o sujeito a ser ensinado esteja, simultaneamente a tais eventos publicamente
observáveis, experimentando certos estados corporais especialmente conspícuos7, que
ele aprende a chamar de “tristeza”, “alegria” ou “irritação". Tanto a situação quanto o
estado corporal podem, portanto, adquirir a função de estímulos discriminativos que
aumentem a probabilidade de emissão de uma descrição como “estou triste”.
Teoricamente, isso faz com que seja possível, posteriormente, relatar um sentimento
diante da mera presença de um estado corporal semelhante: sentimentos são mais
“salientes” para quem os sente do que as variáveis públicas a eles relacionadas, como
afirma Skinner (1972/1978a, p. 51; 1978b, p. 85). A situação inversa, porém, também é
plausível: uma pessoa que se diz triste, alegre ou irritada pode estar sob controle tão-
somente (ou predominantemente) da situação pela qual passa ou passou, sem que
haja estados corporais especialmente conspícuos acompanhando a situação. Assim,
uma pessoa que diz “estou triste" pode estar sob controle de uma situação que aprendeu
a chamar de triste, mesmo que não esteja, necessariamente, sentindo um estado
corporal que aprendeu a chamar de tristeza. Neste caso, o termo mental/subjetivo pode
estar exclusivamente sob controle de variáveis públicas, embora aparentemente
descreva uma condição privada. Mesmo que estados corporais estejam presentes,
porém, as variáveis públicas podem ainda ser importantes no controle do vocabulário
mental/subjetivo. Se a ocorrência de eventos privados depende necessariamente da
ocorrência de eventos públicos, isso é facilmente compreensível. Além disso, o controle
por variáveis públicas é mais facilmente estabelecido do que o controle por variáveis
privadas - pois, lembremos, a comunidade que estabelece tal controle conta somente
com a evidência das variáveis públicas; a ocorrência concomitante de variáveis privadas
é apenas uma suposição. Estados corporais especialmente conspícuos podem estar
presentes ou ausentes - e se presentes, podem apresentar variações de qualidade e
intensidade indistinguíveis para a comunidade verbal. Portanto, variáveis públicas
provavelmente exercem um controle mais preciso do que as privadas sobre o vocabulário
mental/subjetivo. Uma pessoa que descreve sentimentos está, em última análise,
descrevendo elementos de contingências de reforço ou punição - e está, inclusive,
descrevendo a si própria (suas respostas públicas e/ou privadas) como parte delas.
Contudo, a participação de estados corporais nesse controle talvez seja menos freqüente
do que costumamos pensar. A pessoa que afirmar estar “se sentindo triste” pode estar
“sentindo” apenas uma “situação triste”, sem sentir um estado corporal de “tristeza”.8
6 Não as repetiremos, pois são bem conhecidas pelos analistas do comportamento.
' "Especialmente conspícuos”é importante, se considerarmos que, estritamente falando, todos estamos "experimentando estados corporais"
durante todo o tempo.
' Cabe lembrarque um estado corporal, por si só, é um fenómeno que pouco interessa ao analista do comportamento. Ele interessa na medida
em que partidpa de relações comportamentais, e estas “não são públicas ou privadas; estímulos e respostas é que podem ter esse status
(Tourinho, 2007, p. 5).
Referências
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analysis (pp. 221-268). New York: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho original publicado em 1963).
"Abordamos este problema com mais profundidade em Dittrich (no prelo).
32 A lexandre Díttrich
Skinner, B.F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B.F. (1978a). Humanism and behaviorism. Em B.F. Skinner, Reflections on behaviorism and
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Skinner, B.F. (1989). The origins of cognitive thought. Em B.F. Skinner, Recent issues in the analysis
of behavior (pp. 13-25). Columbus, OH: Merrill.
Carolína Laurenti*
UFSCar
Segundo Teixeira (1998), o termo Ciência Cognitiva, criado pelo psicólogo George Miller, foi empregado a partir de 1956 para designar um
esforço interdisdplinar de entender o funcionamento da mente por meio de um recorte metodológico específico: a separação, mesmo que
provisória, dos afetosdo estudo da cognição. Geralmente são mencionadas as seguintes disdplinas que integram a Ciência Cognitiva: psicologia
cognitiva, neurodências, inteligência artificial, lingüística, filosofia da mente, e mais atualmente, acrescentam-se também a antropologia e filosofia
daciênda (p. 13).
3ó Carolina Laurenti
tentativa de entender os processos cognitivos à luz do funcionamento do computador
digital2.
Para desenvolver essa tese, examinaremos, em um primeiro momento, algumas
características dos compromissos ontológicos de Hull tendo como pano de fundo o
contraste com o behaviorismo de Watson. Essa estratégia se justifica pelo fato de que
as inadequações do behaviorismo watsoniano motivaram o desenvolvimento do
pensamento de Hull, à semelhança de outros neobehavioristas, como Tolman (1922),
por exemplo. Em um segundo momento, apresentaremos alguns aspectos da
epistemologia hulliana, e sua relação com a ontologia materialista-mecanicista.
38 Gárólina Laurenti
gerar novas respostas adaptativas, incluindo ações mentais superiores a partir de
várias combinações do princípio do hábito (Smith, 1986):
Vem-me muitas vezes à idéia que o organismo humano é umas das mais
extraordinárias máquinas —e, no entanto, uma máquina. E me ocorreu mais uma
vez que, considerando os processos de pensamento, poder-se-ia construir uma
máquina capaz de fazer todas as coisas essenciais que o corpo faz ... (Hull,
citado por Smith, 1986, p. 159).
A epistemologia hulliana
Ao lado de uma ontologia materialista e mecanicista, Hull desenvolveu uma
epistemologia behaviorista. Essa epistemologia tinha forte influência do associacionismo
britânico, notadamente do empirismo de David Hume (1711-1776). Hull viu no empirismo
humeano a possibilidade de desenvolver uma teoria do conhecimento fundamentada
em bases empíricas sólidas (Smith, 1986). Hume (1748/198) afirmava que o conhecimento
do mundo se fundamenta na experiência. A nossa experiência sensorial nos provê
impressões, que são nossas percepções mais fortes. A partir dessas impressões
originam-se nossas idéias, que são, na verdade, cópias dessas impressões. A
combinação dessas idéias simples por leis de associação (semelhança, contiguidade,
causalidade) resultam em nossas idéias complexas do mundo. Em suma, o nosso
conhecimento é nada mais do que o produto da associação de idéias simples.
O entusiasmo com o empirismo humeano foi tamanho a ponto de Hull se
propor a escrever uma obra à semelhança do Tratado da Natureza Humana de Hume
- um projeto que, obviamente, não foi levado a cabo (Smith, 1986). Não obstante, a
3 Convém dizer que, antes de ir para a Psicologia, Clark Hull preparava-se para seguir carreira na engenharia, quando foi acometido por uma
grave doença (poliomielite). Durante o período de recuperação constatou que era muito frágil para buscar a engenharia como ocupação e, então,
escolheu a Psicologia que, segundo ele, apresentava os dois requisitos que um campo de atuação deveria contemplar (1) ter afinidades com a
filosofia, no sentido de envolver uma teoria, e (2) ser um campo em que pudesse exercer suas habilidades mecânicas, trabalhando com aparatos
automáticos (Smith, 1986). Esse breve comentário a respeito do contexto de escolha de Hull pela Psicologia já fornece Indícios sobre algumas
características do sistema psicológico hulliano, como a sua preocupação com o desenvolvimento de uma teoria psicológica, e a interpretação
mecanicista do comportamento e dos processos cognitivos (Smith).
* Para um exame pormenorizado de algumas acepções de revolução e suas implicações para o entendimento da revolução cognitiva é recomendável
a leitura do artigo de Donohue et ai (2003). 0 referido texto critica a idéia de uma revolução cognitiva na psicologia mostrando que esse suposto
movimento não parece se ajustar aos critérios do que se entende por revolução cientifica, pelo menos no sentido defendido por eminentes filosofos
da cfênda, a exemplo de Popper, Kuhn, Lakatos, Laudan e Gross.
42 Carolina Laurenti
padrões. Ao contrário do funcionalismo, o emergentismo, que fundamenta o Conexionismo,
implica um compromisso ontológico com o monismo materialista. Lembremos que para
Hull os fenômenos mentais também emergem de uma base material (conexões S-R) no
sentido de ser uma característica genuinamente nova dos organismos.
Se o estudo dos processos cognitivos superiores for adotado como critério
para supor uma possível revolução cognitiva, o exame de algumas características do
behaviorismo hulliano coloca em suspeita esse possível caráter revolucionário da Ciência
Cognitiva, em especial, da psicologia cognitiva. Um breve exame de algumas
características da epistemologia de Hull já foi suficiente para mostrar o interesse desse
autor pelo estudo de fenômenos cognitivos superiores - mesmo se a proposta seja a de
entendê-los em termos de com portam ento. Além do mais, considerando os
compromissos filosóficos de Hull com o materialismo e mecanicismo, bem como o
seu interesse declarado no estudo dos fenômenos mentais à luz dessa ontologia, a
psicologia hulliana apresenta semelhanças com alguns programas da Ciência Cognitiva,
como a IA e o Conexionismo.
Agora se entendermos revolução como uma inversão ou mudança radical no
modo de explicação de um dado fenômeno, podemos dizer que do ponto de vista
epistemológico, houve tal revolução, pois diferente de Hull, que adotava o comportamento
para explicar processos cognitivos, a psicologia cognitiva parece ter empregado a
cognição para compreender o comportamento.
Já do ponto de vista ontológico, não parece ter ocorrido uma revolução, pois tanto
Hull, quanto alguns programas da Ciência Cognitiva parecem ter adotado o materialismo
(Conexionismo), bem como uma visão de mundo mecanicista (IA), para explicar o seu
fenômeno de interesse. Em outras palavras, do ponto de vista ontológico não parece ter
acontecido uma mudança radical quanto ao tipo de realidade fundamental que explicaria
o fenômeno sob investigação. No nível ontológico podemos tecer, então, algumas
afinidades entre a teoria psicológica de Hull e alguns ramos da Ciência Cognitiva.
Em suma: levando em consideração compromissos de natureza epistemológica
e ontológica para examinar algumas relações entre comportamento e cognição,
podemos dizer que, de uma perspectiva epistemológica, Hull mostra mais afinidades
com o programa behaviorista, embora não desconsidere os processos cognitivos
superiores de sua proposta psicológica. Já do ponto de vista ontológico, ele parece se
aproximar de alguns programas da Ciência Cognitiva. De qualquer modo, essa
discussão deixa a suspeita de que se o desenvolvimento do Behaviorismo não tivesse
sido ignorado, a idéia de uma revolução cognitiva tomar-se-ia pouco plausível.
Referências
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Tolman, E. C. (1922). A new formula for behaviorism. Psychological Review, 29, 44-53.
44 Carolina Laurenti
Capítulo 5
Hermenêutica comportamental*
Diemerson Saquetto**
UFES
Elizeu Borloti***
UFES
* Trabalho apresentado pelo primeiro autor na sessão primeiros passos, no XV Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Mediana Comportamental,
em Setembro de 2006, em Brasília.
** Bacharel em Filosofia, Graduando em Psicologia, Mestre em História Social das Relações Políticas (UFES). E-mail: saquettto@yahoo.com.br
*** Doutor em Psicologia (PUC-SP), Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva (USP), Pós-doutorando em Psicologia Experimental
(USP), Professore Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES. E-mail: borioti@hotmail.com
'Obviamente não se coloca de maneira maniqueísta tal empreendimento, mas intenta-se retomar neste trabalho um dos canais de leitura do
behaviorismo radical, pois o livro Verbal Behavioríai um “exercício interpretativo", segundo Skinner.
1Heidegger cria uma ontologia negativa que se defronta ante à metafísica. Não se trata, neste texto, de qualquer apologia ao pensamento de
Heidegger. Todavia, antedpamo-nos em posicionar a hermenêutica comportamental como anli-metafísica.
3Gadamer utiliza o conceito de prejuízo de maneira positiva ao apontar ao humano a finitude de sua razão.
* Skinner (1957), ao definiro comportamento verbal, percebe esta condição a que está envolto o humano e, ao buscar descrever as variáveis que
controlam a linguagem, postula uma estrutura conceituai que toma possível uma análise funcional do compreender hermenêutico. Para ele, como
para Kant, o comportamento verbal tem limitações inexoráveis na descrição de todas as variáveis controladoras em atuação (Skinner, 1957, p. 451,
citando o filósofo Emmanuel Kant).
(...) é presumido que o leitor compreenderá somente na medida em que fica sob
controle do que impeliu o escritor a escrever. Ao desconstruir um texto, o leitor
compreende seu significado somente quando compreende os controles sobre seu
próprio comportamento como leitor, e no ponto no qual esses controles se
sobrepõem àqueles do escritor. A distinção entre 'leitor1e ‘escritor’ é, no ponto em
que os controles se interseccionam, uma distinção artificial baseada na localidade,
que ignora a função comportamental. O leitor é um escritor (isto é, ele se comporta
do mesmo modo, embora a mecânica do movimento possa não ter nenhuma
similaridade) na medida em que as variáveis atuando sobre seu comportamento
se sobrepõem às variáveis controladoras do comportamento do escritor. Então,
cada ato de leitura é, por extensão, um ato de escrita; cada ato de escuta é um ato
de fala.
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USP
Dilema do prisioneiro.
O jogo dilema do prisioneiro é apresentado por uma anedota que descreve a
situação de dois infratores que são apanhados pela polícia e interrogados em salas
separadas, sem nenhuma chance de se comunicarem. Caso nenhum dos infratores
confesse, eles pegarão uma pequena pena. Por outro lado, se ambos confessarem, eles
pegarão um pena intermediária. Porém, caso um deles confesse e o outro não, o confessor
fará um trato com a polícia e ficará livre, enquanto o que ficou calado será condenado a
uma pena mais severa em relação à pena intermediária se ambos tiverem confessado.1
Como os infratores não podem se comunicar durante o interrogatório, eles não
podem ter previamente o acesso a escolha do outro, antes de fazer a sua. O dilema está
diante das alternativas de escolhas possíveis: não confessar pode promover uma pena
pequena ou uma pena severa. Porém confessar pode promover uma pena intermediária
ou a liberdade.
Como pode ser observado, no jogo Dilema do Prisioneiro, as possibilidades de
condenação ou absolvição, para cada infrator, depende da confissão ou não do outro. O
resultado não pode ser obtido sem considerar a escolha de ambos. Quando as escolhas
são realizadas com base em “interesses" comuns, o termo empregado no jogo é
“cooperação” (cooperation) e quando o “interesse” é individual, o termo é “delação” (defect).
Na situação específica da anedota, a escolha “cooperativa” seria não confessar
e a escolha “delatora" seria confessar. Quando não há a “delação" por parte de pelo
menos um dos infratores, provavelmente tal escolha demonstra um “interesse” comum.
Caso não haja “delação” por nenhuma das partes, uma pequena pena será imposta
'Apoio CNPQ.
’ A autoria desla anedota é de A. W. Tucker (1905-1995) matemático pioneiro no trabalho de programas lineares e teoria dos jogos.
JOGADORA
COOPERAÇÃO DELAÇÃO
COOPERAÇÃO
JOGADORB
DELAÇÃO
2Os estudos têm variadoo valor da pontuação para as possibilidades de escolha. Os valores apresentados na Figura 1 serão os utilizados no
presente experimento.
Cooperação
Keller e Schoenfeld (1950/1973) afirmaram que para haver cooperação é
necessário que haja o comportamento combinado de dois ou mais organismos para
obter reforço positivo, ou remover negativo, para um ou outro. Os mesmos autores
complementam, mencionando que a “cooperação supõe duas coisas: (1) cada ação do
organismo deve ser discriminativa para o desempenho do outro; e (2) cada organismo
deve ser reforçado pela parte que desempenha no esquema cooperativo.” (p. 374- 75).
Quando o jogo Dilema do Prisioneiro Repetido é estudado com enfoque nas
relações sociais, há a possibilidade de identificar a reciprocidade entre indivíduos em
relação a um espaço social e não meramente temporal, como nos estudos envolvendo
Considerações Finais
O jogo Dilema do Prisioneiro Repetido tem permitido identificar as relações de
reciprocidade, tanto na biologia evolutiva, como na análise do comportamento. Outras
áreas do conhecimento como economia, turismo, relações internacionais e ciências
políticas, também tem lançado mão deste modelo na investigação de fenômenos dos
seus interesses.
Especificamente na análise do comportamento tal modelo tem sido útil no
delineamento de procedimentos que buscam investigar empiricamente as variáveis
relacionadas ao autocontrole e à cooperação. A relação da pesquisa básica e aplicada
na análise do comportamento, no uso deste modelo derivado da teoria dos jogos, pode
ser amplamente explorada, pois ele permite ao mesmo tempo desenvolver parâmetros
de controle de variáveis no âmbito experimental e também análise em contextos de
atuação do psicólogo comportamental.
Os estudos envolvendo o jogo Dilema do Prisioneiro podem investigar, por
exemplo, fatores relacionados ao esporte de alto rendimento (Schermer, 2008), tema de
interesse da análise do comportamento no esporte, como questões relacionadas a
conflitos e guerras entre países (Guerin, 2004), assim como programas relacionados
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Capítulo 8
Variáveis biológicas: análises
(ím)prescindíveis*
76 Fábio Henrique Baia, Julíano Setsuo Violin Kanamota, André Am ara! Bravin
que podem ser socialmente mais adequados, porém mais custosos para o indivíduo.
Desta forma, a relação de contingência entre o padrão fóbico e os reforços positivos
disponibilizados pelo marido, as contingências de extinção nas quais o padrão fóbico
ocorre, as contingências aversivas contingentes a ele assim como as contingências
aversivas relacionadas às alternativas disponíveis para o indivíduo constituem uma
matriz de contingências que mantém a fobia (Goldiamond, 1974). A relação intrínseca
entre as contingências que formam a matriz devem ser reconhecidas para que uma
análise funcional adequada seja formulada baseando, desta forma, intervenções
terapêuticas mais efetivas. É importantíssimo que os reforços críticos sejam identificados
e que, ao longo do tratamento, o indivíduo consiga acessá-los através de padrões de
comportamentos mais adequados e menos custosos para o indivíduo.
É evidente que o padrão fóbico descrito deva produzir reações neuroquímicas
cerebrais distintas daquelas produzidas por padrões de comportamentos mais
adequados. O reconhecimento de apenas algumas das contingências que compõe a
matriz (de modo geral aquelas que representam custos para o indivíduo) fatalmente
induziria a conclusão de que se trata de um comportamento irracional, fruto de um
distúrbio neuroquím ico, de crenças d isfuncionais ou ainda de auto-regras
desadaptativas. Porém, explicações que enfatizem tais variáveis em detrimento das
relações de contingências que formam a matriz estão propensas a sugerir intervenções
terapêuticas em variáveis que não são as mais críticas e que não alterarão as relações
que sustentam tal padrão.
A orientação construcional de Goldiamond (1974, 1975) propõe análises
funcionais não lineares. Um determinado comportamento ou padrão de comportamento
“patológico” não está sob controle apenas das variáveis antecedentes e conseqüentes
imediatas, mas também das variáveis antecedentes e conseqüentes de padrões de
comportamentos alternativos. Comportamentos “norm ais” e “patológicos” são
considerados, assim, como uma resultante racional de uma matriz de contingências
dada a relação custo/beneficio da matriz que envolve opções alternativas (Gimenes,
Andronis e Layng, 2005).
Uma análise não linear de contingências também se mostra fundamental na
com preensão de uma classe específica de comportamentos denom inados de
comportamentos adjuntivos (Falk, 1966a) ou comportamentos induzidos por esquemas
de reforço (Staddon e Simmelhag, 1971).
Comportamentos adjuntivos são comportamentos que ocorrem em alta
freqüência (em comparação com uma condição controle) durante condições de
apresentação intermitente de um estímulo reforçador. Por exemplo, ratas expostas a
uma condição na qual, pressões a barra eram consequenciadas com uma pelota de
alimento de acordo com um esquema de reforço de intervalo variável de sessenta
segundos consumiam, durante uma sessão experim ental de três horas,
aproximadamente três vezes mais água do que durante um período de vinte e quatro
horas na gaiola-viveiro (Falk, 1961a). É importante salientar que as ratas não estavam
privadas de água, mas sim de alimento, não havia, portanto, nenhuma condição direta
que justificasse este consumo excessivo. A liberação intermitente, mas não contingente
de alimento em um esquema de tempo fixo também produziu consumo excessivo de
água o que não ocorreu em condições de reforçamento continuo (CRF) (Falk, 1961b).
Pesquisas posteriores demonstraram a ocorrência em excesso de diversos
comportamentos em esquemas de apresentação intermitente de um estímulo reforçador,
como por exemplo, consumo excessivo de álcool por ratos (Lester, 1961) e humanos
(Doyle e Samson, 1988), de uma solução de cocaína e lidocaina por ratos (Lau, Neal e
78 Fábio Henrique Baia, Juliano Setsuo Violin Kanamota, André Am ara! Bravín
de esquiva não se mantém caso a pressão a barra apague a luz mas não retarde o
choque (Kamin, 1956 como citado em Rachlin, 2003). Ou seja, a suposta aversividade
adquirida pela luz tem pouca ou nenhuma relação com o padrão de esquiva desenvolvido.
Rachlin (2003) sugere que a análise dos resultados não deve ser realizada no
nível das contingências que controlam uma resposta individual, mas sim que o padrão
de esquiva deva ser analisado como um todo, o padrão de esquiva como unidade de
análise. O autor afirma que uma resposta única não é reforçada negativamente por
nenhum evento contiguo, não há reforço para esta resposta especificamente. É o padrão
de respostas que, ao longo do tempo, é sensível a correlação negativa entre taxa de
resposta e taxa de estimulação aversiva mantendo, assim, o padrão de esquiva como
um todo. O autor afirma que neste nível de análise abdica-se da reiação de contigüidade
entre eventos, por outro lado, mantêm uma análise que identifica relações de contingência
entre variáveis observáveis e diretamente manipuláveis (taxa de resposta e taxa de
estimulação aversiva) mais condizentes com as tradições da análise do comportamento.
O autor ainda estende sua proposta para situações humanas mais especifica
mente. Descreve o exemplo de um paciente alcoolista em processo de recuperação. O
consumo excessivo de álcool produz conseqüências aversivas como, por exemplo,
problemas de saúde, probiemas de relacionamento afetivo, familiar, financeiros, profis
sionais, entre outros. Assim como parar de beber produz conseqüências reforçadoras
positivas como melhora da saúde física, melhora nos relacionamentos afetivos e fami
liares, possibilidade de desenvolvimento profissional, etc. Argumenta que o paciente
alcoolista deve tomar decisões diárias entre beber ou não beber. A decisão por beber
produz conseqüências reforçadoras claras de forma contingente e contigua ao compor
tamento de consumir a bebida. Por outro lado, o autor argumenta que não há nenhuma
conseqüência especifica, contigua e contingente a qualquer decisão de não beber. O
individuo não entra em contato com nenhuma das conseqüências especificadas para a
decisão de não beber logo em seguida a sua decisão. Tais conseqüências são contin
gentes a um padrão estável de decisões de não beber. O comportamento do paciente,
portanto, deve ficar sob controle da correlação negativa entre beber e ter saúde, melho
res relacionamentos interpessoais e desempenho profissional (Rachlin, 2000).
Em resumo, explicações que se utilizam de variáveis (fisiológicas ou hipotéticas)
que medeiam a relação entre ambiente e comportamento são cogitadas com mais
freqüência em situações nas quais as contingências e/ou as variáveis que controlam o
comportamento não são claras, facilmente identificáveis ou parecem ser inexistentes.
Em circunstancias nas quais a contingência de três termos parece não ser suficiente
para explicar o comportamento, sugere-se que análises mais amplas sejam realizadas
ao invés da busca por variáveis internas ao organismo.
A constatação de que padrões de comportamento são resultantes racionais das
inter-relações entre contingências que formam uma matriz, auxiliará no reconhecimento
das relações que devem ser alteradas para que novos repertórios mais adequados e
menos custosos produzam os reforços críticos importantes para cada indivíduo.
O paradigma dos comportamentos adjuntivos chama a atenção para os efeitos
indiretos das contingências de reforço que podem produzir com portam entos
compulsivos, estereotipados e, aparentemente, de difícil compreensão. O conhecimento
das características dos comportamentos induzidos por esquemas como suas relações
com níveis de privação, magnitude do reforço e intervalo entre reforços, auxilia o analista
do comportamento a identificar tais comportamentos, que podem ser produzidos por
contingências ordinárias do dia a dia do indivíduo.
80 Fábio Henrique Baia, Juüano Setsuo Violin Kanamota, André Amaral Bravin
Um exemplo são os ratos SHR. No início dos anos 60, no Japão, de uma
linhagem heterogênica (outbred) de ratos Wistar-Kyoto (WK) foram a selecionados aque
les animais que eram espontaneamente hipertensivos/hipertensos no intuito de me
lhor compreender as bases biológicas da hipertensão arterial. Por meio do
endocruzamentos desses animais chegou-se ao que ficou conhecido como a linha
gem SHR (SHR - spontaniously hipertensive rats). Não obstante, os ratos SHR também
apresentavam características comportamentais peculiares, como o aumento da atividade
motora, menor amplitude do reflexo de sobressalto, mais tempo gasto na exploração do
ambiente e menor duração da resposta de imobilidade (freezing). Esses animais ne
cessitavam de maior número de tentativas para aprender uma determinada atividade
em um labirinto em “T”, para aprender uma seqüência particular de respostas, além de
apresentarem maior dificuldade na aprendizagem de comportamentos operantes. Es
ses déficits de aprendizagem eram revertidos quando os animais estavam sob efeito
de metilfenidato, um fármaco utilizado para tratamento de transtorno de déficit de aten
ção e hiperatividade em humanos. Os animais SHR apresentam ainda maior variabili
dade comportamental mesmo em contingências que não exigem variação do compor
tamento e apresentam maior persistência de resposta durante a extinção operante
seguida de esquemas de reforçamento (Davids, Zhang, Tarazi & Baldessarini, 2003;
Hunziker, Saldana & Neuringer, 1996). Por meio de novos endocruzamentos entre os
animais SHR com a animais da linhagem que os deu origem (Wistar-Kyoto), e por
seleção dos traços desejados, novas linhagens de animais foram desenvolvidas: Wistar-
Kyoto hiperativos mas não hipertensos/hipertensivos (WK-HA) e W istar-Kyoto
hipertensos/hipertensivos, mas não hiperativos (WK-HT) (Sagvolden, 2000).
Quer seja feita a manipulação direta do DNA dos organismos por meio de
técnicas de manipulação genética, quer seja peia manipulação indireta dos genes por
meio de endocruzamento de animais com características comportamentais de interesse,
ambas as técnicas supracitadas apresentam-se como ferramentas úteis para a
investigação de variáveis biológicas (e.g.: genes) na manifestação comportamental.
Existem ainda técnicas que não fazem alterações gênicas, muito embora alterem o
funcionamento biológico do organismo e permitem com isso a avaliação das variáveis
biológicas na manifestação comportamental.
Uma técnica utilizada para sé compreender o funcionamento do organismo
são as técnicas de lesões (danos) feitas em determinadas partes do organismo
(estruturas). Esse procedimento permite avaliar o comportamento do organismo com a
estrutura lesada, de maneira que se possam estabelecer inferências acerca da função
da estrutura com a manifestação do comportamento. De interesse da psicologia, via de
regra essas lesões são feitas no sistema nervoso central, e em sua maioria, no cérebro.
Experimentos cujas regiões cerebrais são danificadas para posterior avaliação
comportamental dos animais são denominados de “estudos de lesão”. É possível
danificar uma região do cérebro de um animai de maneira que esse se tome incapaz de
realizar tarefas cuja visão é necessária. É possível, em seguida, que o pesquisador
conclua (talvez precipitadamente) que o animal está cego e que a área danificada exerça
algum papel sobre a visão, por exemplo (Carlson, 2002). Da mesma forma que lesões
cerebrais são praticadas afim de se avaiiar a relação dessas estruturas com o
comportamento, lesões também podem ser praticadas em glândulas ou outros órgãos
(Barnett, 1963/1967). Talvez os primeiros estudos envolvendo técnicas de lesão e caixas
de condicionamento operante tenham sido descritos já em 1957 por Ferster e Skinner.
Os autores avaliaram como lesões em diferentes estruturas do sistema nervoso central
afetavam o repertório de animais mantidos aos mais variados esquemas de
reforçamento. Uma ressalva aos estudos de lesão é que esses podem afetar outras
82 Fábio Henrique Baía, Juliano Setsuo Violin Kanamota, André Amaral Bravin
funcional como exemplo de pesquisa aonde variáveis biológicas podem ser tidas como
variáveis dependentes. Esse estudo é um exemplo de uma tradição de pesquisas da
área organicista, aonde se avalia a influência de terapêuticas (e.g.: farmacoterapia ou
psicoterapia) sobre correlatos neurais relativos à determinadas manifestação
comportamentais.
84 Fábio Henrique Baia, Juliano Setsuo Violin Kanamota, André Amaral Bravin
SvJ, além de apresentarem déficit de aprendizagem em atividades de labirinto,
mostraram ser a linhagem que pior apresentou a aquisição de um novo repertório. A
freqüência de resposta do primeiro para o segundo dia de sessão permaneceu
praticamente a mesma, enquanto para todas as outras linhagens, a freqüência de
resposta na barra operante durante a segunda sessão era bem maior em relação à
primeira. Os resultados dos grupos (linhagens) foi amparado quando feita a avaliação
individual dos animais por meio do registro cumulativo.
Os pesquisadores avaliaram ainda quantos animais atingiam os critérios de
completar 10, 50 ou 100 ciclos. Cada ciclo era composto por uma seqüência de quatro
comportamentos em uma dada ordem temporal, sendo eles: pressionar a barra operante;
mover-se ao comedouro; consumir o leite no comedouro e voltar para a barra operante.
Os pesquisadores observaram que, no protocolo onde existia somente uma barra, 4
dos 6 animais 129X1/SvJ completaram o critério de 10 ciclos, ao passo que somente 3
dos 6 completaram os demais critérios. Para todos as outras linhagens, todos animais
completaram todos os critérios quando o protocolo envolvia somente uma barra. No
procedimento que acrescia a barra inoperante, o número de animais 129X1/SvJ que
atendia ao critério decresceu para 2, 1 e 1 para os critérios de 10, 50 e 100 ciclos,
respectivamente. Esse foi o resultado mais critico, embora um decréscimo também
tenha ocorrido para as linhagens C57BL/6J, DBA/2J e C3H/HeJ.
Os autores (McKerchar, Zarcone & Fowler, 2005) discutem seus dados apontando
que a combinação de fatores externos (procedimento de aquisição da resposta com uma
barra inoperante ou não) e genéticos (linhagens dos animais) contribuem na eficácia ou
não do processo de aquisição do comportamento operante. Em certa medida, esses
resultados corroboram o achado de Hunziker, Saldana e Neuringer (1996) que chegam a
conclusões similares com procedimentos, espécies e linhagens diferentes de animais.
8ó Fábio Henrique Baía, Julíano Setsuo Violin Kanamota, André Amaral Bravin
forma, ressalva deve ser feita acerca dos perigos de má interpretação da participação
de variáveis biológicas na manifestação comportamental.
Como observado em Hunziker, Saldana e Neuringer (1996), a variabilidade
comportamental é influenciada por fatores genéticos, berii como fatores ambientais. Da
mesma forma McKerchar, Zarcone e Fowler (2005) demonstram que o procedimento de
aquisição de uma resposta operante influencia a aquisição do novo repertório em diversas
linhagens de animais, da mesma maneira que algumas linhagens tem maior ou menor
dificuldade em aprender esse novo repertório. Essas possíveis inter-relações entre vari
áveis biológicas e comportamentais não podem, em nenhum momento, legitimar um
discurso eugenista e higienista de profissionais. Os achados apontam, justamente, para
uma relação entre ambos os fatores, e cuidado deve-se tPmar ao generalizar resultados
experimentais. Por exemplo. Os resultados de McKerchar, Zarcone e Fowler (2005) sugerem
que algumas linhagens de animais apresentam maiores dificuldade para aquisição de
um novo repertório do que outras linhagens. Precipitadamente, alguns poderiam dizer
que esses animais são “burros”, que isso é um traço desses organismos, portanto
constitucional, nesse sentido, não valeria investir tempo e esforço para prover-lhes esse
tipo de aprendizagem. Entretanto, a evidência de que determinados animais apresentam
dificuldade na aprendizagem de um novo repertório somente deve motivar os profissionais
(dentre os quais, analistas do comportamento) a criar novas estratégias de ensino. Se
um animal não responde bem em um determinado contexto (i.e, procedimento de ensino),
não significa que esse não responderá bem caso o protocolo para seu treino seja diferente
do utilizado até então. O problema de aprendizagem, nesse caso, revelar-se-ia, a bem da
verdade, em um problema de “ensinagem”.
Bamett (1967/1970) nos traz um exemplo real esse respeito. O autor cita estudos
onde uma linhagem de animais selecionadas para apresentar melhores índices de
“inteligência” em um tipo de labirinto, não necessariamente o fariam em outros tipos de
labirintos. Nos experimentos aos quais faz alusão, Bamett discorre que os animais ditos
“inteligentes” (briliant - “brilhantes") eram mais sensíveis ao alimento, enquanto reforçador,
e se “distraiam” menos com outros estímulos do que os ariimais ditos “burros” (dull - não
tão brilhantes/sem brilho/opaco”). Em estudos posteriores passou-se a discutir que os
animais “não tão brilhantes” utilizavam mais dicas visuais do que os “brilhantes” e que,
nesses contextos, as performances dos ratos dependiam miais de outros tipos de estímulos
no processo de aprendizagem, sendo precipitado assumir a “inteligência” como um traço
constitucional constante (e imutável) que legitimaria rótulas como os supracitados.
Em resumo, seria importante que o analista dc> comportamento passasse a
buscar compreender como variáveis biológicas se relacionam com variáveis ambientais
afim de poder elaborar estratégias de intervenção cada ve? mais acertadas em contextos
aplicados. Como apontado anteriormente, variáveis biológicas são afetadas mesmo
quando o organismo está sob efeito de medicamentos, e fechar os olhos a essas
evidências seria tão precipitado quanto negligenciar, em uma análise funcional, o fato
de seu cliente andar de cadeira de rodas, por exemplo.
Considerações finais
Em momento algum este trabalho questionou se variáveis biológicas devem ser
consideradas ou não na compreensão do comportamento, isto porque, a proposta de
seleção por conseqüências de Skinner (1981) apofita que tal consideração é
imprescindível. O objetivo deste capítulo é questionar como e quando tais análises devem
ser realizadas. Para responder esta questão alguns pontPS precisam ser esclarecidos.
88 Fábio H enrique Baia, Juliano Setsuo V iolin K anam ota, A ndré A m a ra l Bravin
situações onde a descrição de um comportamento deverá considerar tanto interações
filogenéticas quanto interações ontogenéticas.
Este capítulo não deve ser compreendido como uma convocação para que
analistas do comportamento passem a investigar variáveis biológicas, até porque tal
competência se deve a outras disciplinas, o que propomos aqui é primeiramente esgotar
as possibilidades de explicação do comportamento por contingências atuais e somente
após isto buscar em variáveis outras considerações que possam auxiliar na explicação
do comportamento. Tal consideração deve vir acompanhada de dados empíricos que
demonstrem que o relato é verdadeiro.Vale ressaltar ainda que, a consideração de
variáveis biológicas não significa dizer que as leis da seleção por conseqüências são
insuficientes para explicar o comportamento. Demonstrações que uma droga ou mutação
genética produzem diferentes efeitos sobre o comportamento apenas corroboram com
o modelo de seleção por conseqüências, pois como dito por mais de uma vez neste
trabalho, o modelo de seleção por conseqüências desde sua proposição relata que
variáveis biológicas são imprescindíveis para explicação do comportamento. O que não
se deve fazer é elencar um nível de análise como explicativo mais correlato, em detrimento
dos outros níveis possíveis. Por fim, vale esclarecer que não se propõem aqui que
psicólogos passem a manipular variáveis biológicas em laboratório, mas apenas que
a utilização e consideração das manipulações produzidas por agentes competentes
(como biólogos) podem ser utilizadas em nossas pesquisas para melhor explicar os
controles comportamentais. Pois como ressaltado por Skinner (1953; 1974) a biologia
um dia será de tal maneira avançada que nos auxiliará na explicação ainda mais acurada
do comportamento.
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* Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, bolsista do Programa de Educação Tutorial em Psicologia do
Ministério da Educação-Govemo Federal. E-mail para contato: tzortea@yahoo.com.br
** Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, bolsista do Programa de Educação Tutorial em Psicologia do
Ministério da Educação- Govemo Federal. E-mail para conlato: glelson@oi.com.br
*** Doutor em Psicologia (PUC-SP), Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva (USP), Pós-doutorando em Psicologia Experimental
(USP), Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espirito Santo. E-mail Para Contato;
borioti@hotmall.com
.
academia, praia, cinema, trocar mensagens pela internet. São bons amigos, como
dizem seus pais, e eles assim os declaram.
Porém, freqüentemente André é questionado por seus colegas: “André, a Viviane
é uma ótima pessoa, por que vocês até hoje não namoraram?”, "Rapaz, uma garota
dessa não se encontra em qualquer lugar”.
O relacionamento entre os dois jovens começa a se intensificar na reta final
para o vestibular. Estudam freqüentemente na casa um do outro. André está cada vez
mais certo que Viviane não pode ser apenas sua melhor amiga, mas também o grande
amor de sua vida, pois havia um grande desejo de possuí-la.
Há um novo filme de romance em exibição no cinema. André decidiu que seria
esta a grande oportunidade para pedi-la em namoro. No decorrer do dia ficou pensando
freqüentemente: “E se ela disser não?”; “E se disser que andei confundindo as coisas?”,
“E se disser ‘André, somos apenas bons amigos’?”.
O jovem enamorado ensaiou diversas vezes o que ele iria dizer a Viviane. Passou
na casa dela, e foram juntos ao cinema. Lá, André tentava assistir ao filme, enquanto de
momento a momento olhava para ela. O filme passava e André estava ansioso, suas
pernas tremiam, os batimentos de seu coração estavam acelerados e suas mãos
suavam muito. Enfim, quando o filme acabou, após muita emoção, André segurou nas
mãos de Viviane e disse: “Viviane, eu te amo. Quer namorar comigo?”.
Suponhamos que toda vez que eles saem juntos, André costuma contar piadas e
Viviane, freqüentemente, dá boas gargalhadas. A presença de Viviane (S>) exerce
controle probabilístico sobre o contar piadas (R) para ela que, por sua vez, reforça
o contar piadas com boas gargalhadas (C - reforço positivo). Reforço diz respeito
ao evento, acontecimento ou coisa apresentada como conseqüência; reforçamento
descreve o processo. É o processo de reforçamento que faz com que, em outras
situações parecidas, ele conte novamente outras piadas, a fim de obter novamente
as gargalhadas de sua amada. O estímulo discriminativo ( í f ) distingue a situação
na qual a resposta tem alta probabilidade de ser reforçada da situação na qual ela
provavelmente não será reforçada. Assim, a presença do S ° altera seletivamente a
probabilidade de uma determinada resposta operante ocorrer e, portanto, de ser
reforçada. A probabilidade de o comportamento ser emitido depende do S ° (Galvão
e Barros, 2001), que depende da história de aprendizagem (de vida) de André.
2.4. Contingência
Contingência significa qualquer relação de dependência entre eventos
ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais. Diz respeito à probabilidade
de um evento exercer função sobre outros eventos. O enunciado de uma contingência
básica é feito em forma de afirmações do tipo “se..., então...” A cláusula “se” pode
especificar algum aspecto do comportamento ou do ambiente e a cláusula “então”
especifica o evento ambiental conseqüente (Souza, 2001). Por exemplo: se Viviane
estudar (comportamento), então poderá se encontrar com André à noite (mudar de
5. Enfim... o amor!
Depois de percorrido todo este caminho, e tendo nossa compreensão facilitada,
poderemos agora “nos aprofundar no amor!".
Em seu livro “Questões Recentes na Análise Comportamental”, Skinner discute,
no primeiro capítulo, o lugar dos sentimentos na Análise do Comportamento e fala
rapidamente sobre o amor. Inicia lembrando que um crítico dissera que, para um
behaviorista, "eu o amo” significaria “você me reforça”. Na verdade, um analista do
comportamento diria que “Eu o amo” é a descrição total do que se sente em uma
relação que poderia ser descrita como “você reforça o meu comportamento e, assim,
me dá prazer”, pois é a relação entre ambiente e organismo, e não a pessoa que se
comporta, que é fortalecida (reforçada) (Skinner, 1989/1991, p. 3).
Não há como negar que existem propriedades reforçadoras no amor, sentidas
em dois efeitos que Skinner denominou prazer e fortalecimento (Skinner, 1985/1987).
Quem, assim como André, já sentiu a força e o prazer de um grande amor concordará
com o que ele disse. Prazer e fortalecim ento são sentidos como diferentes e
concomitantes. Sentir prazer não é sentir a inclinação que nos leva a agir como um
amante; e quando emitimos novamente os operantes que foram reforçados no início de
uma relação amorosa, por exemplo, não sentimos o mesmo prazer que sentimos no
momento em que o reforçamento ocorreu. Se pessoas que se amam se comportam
em função de estarem juntas ou de evitarem a separação é porque seus
comportamentos são mantidos por conseqüências reforçadoras, ou seja, por
conseqüências que aumentam a probabilidade de essas pessoas se comportarem
novamente em função de estarem juntas e de sentirem prazer ao estarem juntas.
Qualquer análise do amor que desconsidere qualquer um desses efeitos será
incompleta. Um sujeito amante não é sujeito porque sente ou porque age como um
amante. Ele sente e age como amante, em última instância, como produto da sua
própria interação, já que o amante "não é um expectador indiferente a absorver o mundo
como uma esponja” (Skinner, 1974/1982, p. 67). Em síntese, como um sentimento, o
amor-prazer sentido por um amante é tão importante como a própria alteração do seu
comportamento e a conseqüência que produz na pessoa amada. É tudo isto o que nos
leva a chamá-lo de amante (e aqui inclui o dizer “Eu amo”).
A comunidade arbitrariamente também dá nomes aos sentimentos: amor, medo,
ansiedade, alegria, etc., sem se apoiar em evidências fidedignas, quer empíricas, quer
funcionais, visando atribuir nomes de sentimentos a tais estados corporais. Assim,
amor, na verdade se torna “sentimento” quando se nomeia um estado corporal sentido
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Capítulo 10
O uso de diagrama na análise funcional
do comportamento - um
recurso para a formação do
psicólogo clínico
* Doutora em Psicologia dínica pela ÜSP, professora no curso de psicologia da Universidade Positivo e vice coordenadora do Programa de
Desenvolvimento da Educação da UFPR. E-mail: lohr@superig.com.br
Referências
Conselho Nacional de Educação Câmara de Ensino Superior. Resolução no.8 de 07 de maio de 2004
- Institui as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Psicologia.
Método
Ambiente
Este estudo foi realizado nas dependências de uma Universidade Pública do
Estado de São Paulo, de um Programa de Pós Graduação em Educação, mais
especificamente a sala de aula onde foi ministrada a disciplina.
Participantes
Participaram 16 discentes, alunos de uma disciplina regular que tratou de tópicos
de aprendizagem numa perspectiva da análise do comportamento, oferecida no primeiro
semestre de 2007 em curso de pós graduação em Educação
Materiais
Foram utilizados 31 textos, sendo 17 de Skinnere 14 de outros autores. Também
se utilizou um instrumento escrito de avaliação semanal de textos, o qual era parte de
um conjunto maior de atividades que os discentes realizam semanalmente na disciplina.
O instrumento era composto por um cabeçalho de identificação do aluno e do
material estudado e cinco questões, três delas abertas e que permitiam a descrição de
conceitos principais do texto, exemplos de situações práticas, dúvidas e duas questões
fechadas, onde os alunos avaliavam as dimensões “utilidade” e “compreensão” do texto,
em cinco itens. Ou seja, a “utilidade” que os textos representavam para suas atividades
profissionais e de pesquisa era avaliada como sendo “nenhuma", “pouca”, “razoável”,
“alguma” e “muita”. A “compreensão” do texto era avaliada como sendo “péssima”, “má”,
“regular", “boa” e “ótima”. Para este estudo foram utilizadas as duas questões fechadas.
Procedimentos
Para a coleta de dados foram recolhidos semanalmente, durante nove semanas,
os instrumentos preenchidos pelos alunos (tanto impressos, entregues no início da
aula, como enviados previamente via internet).
As respostas escritas dos discentes foram organizadas de acordo com os
itens de utilidade e compreensão dos textos, semanalmente, durante nove semanas.
Para análise, as apreciações dos alunos foram digitadas em quadros gerais e
posteriormente realizados quadros síntese para facilitar a visualização.
Tabela 1 - distribuição das apreciações dos discentes sobre a utilidade dos textos (N=16).
Tabela 2 - distribuição das apreciações dos discentes sobre a compreensão dos textos
(N=16).
Conclusões
As indicações dos discentes sinalizaram a continuidade da adoção dos textos
e alguns ajustamentos a serem realizados para uma próxima disciplina. Assim, o método
foi útil para levantar subsídios para melhorar as condições de ensino-aprendizagem da
disciplina estudada e pode ser sugestivo para outras disciplinas e cursos. Entretanto,
outras pesquisas serão necessárias, complementando estes resultados com a análise
dos demais itens do instrumento utilizado, bem como investigar outras variáveis, por
exemplo, como tal instrumento pode se configurar como uma operação estabelecedora
para a aprendizagem dos conceitos estudados e ampliar as possibilidades de aplicação
destes conceitos.
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comportamento para a educação: contribuições recentes, (pp 11-32). Santo André, SP: ESETEC
Editores Associados.
Definições comportamentais
O nível de descrição das definições comportamentais é de máxima importância
para determinar quais dados serão coletados (Brannigan & Humphries, 1972). "Não
podemos medir o que não podemos definir” (p. 40). Isso nos ajuda a entender a
importância das definições comportamentais. A maneira pela qual definim os e
registramos elementos de comportamento será influenciada pelos tipos de mensuração
que queremos aplicar neles (Hutt & Hutt, 1970/1974).
Para a ciência, um fato só adquire importância quando comunicado a outros
através de uma linguagem científica que deve ser clara, objetiva, exata, direta e afirmativa.
Essa prática elimina todas as impressões subjetivas ou interpretações que o observador
possa ter acerca dos fatos, ou seja, evita que o observador faça uso de termos que
designem estados subjetivos ou uso de interpretações das intenções do sujeito e das
finalidades da ação. É, portanto, devido a essa objetividade que os psicólogos e cientistas
do com portamento utilizam a linguagem científica para estabelecer definições
Considerações finais
As técnicas de observação direta e registro do comportamento podem ser
utilizados pelos psicólogos clínico, escolar ou industrial para registrar o comportamento
que pretende modificar, ou para treinar seu cliente, seus auxiliares ou pessoas ligadas
a seu cliente, para que elas próprias registrem o comportamento que deve ser alterado.
A observação do comportamento também pode ser importante para pais, educadores,
treinadores de pessoal, etc., pois pode facilitar o trabalho de modificação do
comportamento. Observar ocasiões em que o comportamento acontece nos permite ter
acesso a diversos dados, como: em que ocasiões o comportamento acontece, qual a
freqüência e intensidade deste comportamento, em que circunstâncias ele ocorre, etc.
(Fagundes, 1985). A falta de conhecimento do repertório de comportamento de sujeitos
experimentais, com freqüência, pode nos levar a experimentos que são inadequados
para responder a questão a qual foram concebidos (Hutt & Hutt, 1970/1974).
O uso do método observacional vem crescendo cada vez mais. Mas ainda
enfrentamos dificuldades em encontrar estudos sobre esse assunto. Conhecer o
repertório de comportamento antes de modificá-lo está sendo reconhecido como um
fator essencial em pesquisas, que utilizam esta metodologia, descritas na literatura.
Hoje, é possível trabalhar com recursos e equipamentos que permitem o registro
detalhado da situação observada com muito mais facilidade e acessibilidade, isso
ajuda os psicólogos e pesquisadores a obterem dados mais fidedignos e mais aceitos
pela comunidade científica. A observação permite a criação de categorias de
comportamento, que favorecem o surgimento de novas hipóteses, que serão testadas
nas pesquisas experimentais, além disso, possibilita a observação de situações únicas
que não podem ser criadas em laboratórios.
Até o início dos anos 70, o comportamento não era descrito com base no que o
observador via, mas com base no que ele pensava acerca do seu significado (Blurton
Jones, 1972). As definições comportamentais elaboradas com uma linguagem cientifica
clara e objetiva favoreceram na evolução deste aspecto, e isso é possível de ser verificado
em todas as pesquisas citadas anteriormente e em outras que não estão aqui presentes.
A observação direta do comportamento do organismo é um método por
excelência para certos assuntos e linhas de pesquisa, mas, para aplicá-lo é exigido um
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Capítulo 13
Qeneralízação dc habilidades sociais:
uma revisão das pesquisas da
área
UEL
Verifica-se que o estudo das habilidades sociais entre crianças é uma área de
investigação importante e consolidada na psicologia infantil e uma de suas vertentes
trata de estudar propostas que visam prevenir problemas de comportamento por meio
do aprendizado de com portam entos socialmente mais habilidosos. Entre os
comportamentos que definem habilidades sociais estão: expressar sentimentos (de
agrado ou desagrado), pedir mudança no comportamento do outro, iniciar, manter e
finalizar conversas, pedir ajuda, fazer e responder perguntas, fazer e recusar pedidos
defender-se, lidar com críticas e elogios, admitir erro e pedir desculpas, escutar
empaticamente, entre outros (Caballo, 2003; Del Prette & Del Prette, 2001).
A aprendizagem de tais comportamentos pelas crianças demonstra ser efetiva
para prevenir problemas de comportamento, pois estudos longitudinais e de revisão
da literatura, têm demonstrado correlação entre as dificuldades de interação social da
criança com os colegas e baixo rendimento acadêmico, bem como entre déficits_sociais
na infância e dificuldades nas relações interpessoais futuras como adolescentes e
adultos, problemas de saúde mental e delinqüência juvenil (Chandler, Lubeck &
Fowler,1992; Gresham, 1995; McGinnis, Goldstein, Sprafkin & Gershawl 984).
No entanto, apesar dos estudos da área terem obtido resultados bastante efetivos
com relação à aquisição de tais comportamentos (Pierce e Screibman,1997; Singh e
Milichamp 1987) a literatura tem apontado de maneira crítica e consistente, que a maioria
dos programas que visam o treino de habilidades sociais, não têm conseguido demonstrar
a manutenção dos comportamentos-alvo ao longo do tempo, nem a sua generalização da
situação de treino para outros contextos, tais como a casa, a escola ou onde mais a
resposta treinada seria esperada. Estes dados têm favorecido o estudo da inclusão de
estratégias de generalização, como uma medida para que os programas de intervenção
possam ser efetivamente eficazes. (Chandler et al.,1992; Milan & Mitchel, 1996).
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UEL
Resultados e discussão
As categorias elaboradas a partir do objetivo das pesquisas empíricas estão
apresentadas na Tabela 1.
CATEG O RIAS O BJETIVO PRINCIPAL DAS PESQUISAS FREQ ÜÊNCIA
N=7q
Comportamento e Observar a relação entre alguns comportamentos e a 8(10,1%)
saúde bucal saúde bucal.
142 M aria L. M arinho-C asanova, O livia J. Brandenburg, Priscila T. Kuniyochi, Sabrina B. Serafim
Esses resultados indicam que a área de estudos sobre comportamento e
odontopediatria tem se dedicado principalmente a pesquisas relacionadas a técnicas
de manejo do comportamento infantil (32,8%) e a avaliar o comportamento dos dentistas
(24,2%). Além disso, parece haver mais interesse em verificar o efeito de técnicas
farmacológicas de manejo do comportamento infantil (12,6%) do que o efeito de técnicas
não-farmacológicas (5,1%). Tais resultados estão de acordo com a revisão de Nainar
(2001) que indicou que em trinta anos houve aumento de pesquisas sobre manejo
farmacológico do comportamento em detrimento da área de manejo não farmacológico.
A Figura 1 apresenta a distribuição das pesquisas publicadas quanto ao tipo de
periódico, se brasileiro ou estrangeiro. Há prevalência de pesquisas publicadas em
periódicos estrangeiros em comparação com brasileiros: 66 (83,5%) contra 13 (16,5%).
As pesquisas brasileiras mais freqüentes visaram observar a relação entre comportamento
e a saúde bucal, seguidas de estudos sobre a aceitação de técnicas de manejo
comportamental e sobre o atendimento de crianças com necessidades especiais. Não
houve artigos em periódicos brasileiros sobre ensino de técnicas de manejo.
Figura 1: Freqüência de pesquisas brasileiras e estrangeiras para cada categoria.
Comport e saúde
Cça especial
Efeito técnica
U so técnica
Ensino
Aceitação técnica
Interv farmacol
Comport dentists
Comport cça
--------------------- 10 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
■ Estrangeira !
□ Brasileira j N ú m e ro de p e sq u isa s
144 M aria L. M arinho-C asanova, O livia J, Brandenburg, PriscilaT. Kuniyochi, Sabrina B. Serafim
embora achem que esta nunca deveria ser usada (Newton, Patel, Shah & Sturmey,
2004). A opinião destes participantes era de o medo ser a seqüela psicológica mais
comum que pode acompanhar o uso de técnicas restritivas. Entretanto, os
odontopediatras também apresentaram a opinião de que o uso de restrição física era
apropriado com certos pacientes deficientes, mesmo quando o resultado do tratamento
era ruim (Newton & Sturmey, 2003; Newton & cols., 2004).
Sobre o uso de técnicas de manejo pelos dentistas, os dados indicam alta
freqüência das técnicas dizer-mostrar-fazer, controle de voz, dar informação e dar presente
ao fim da consulta (Adair, Waller, Schafer & Rockman, 2004; Peretz, Glaicher & Ram,
2003; Tavares, Modesto, Amaral, Rédua & Vianna, 2000; Buchanan & Niven, 2003). A
presença dos pais na saia de tratamento apareceu como prática utilizada por muitos
dentistas (Carr & cols., 1999; Peretz & cols., 2003) e como prática comum em alguns
procedimentos e para crianças com necessidade de cuidados especiais (Adair & cols,
2004). No entanto, Tavares e cols. (2000) encontraram que apenas 18,6% dos dentistas
permitem que os pais presenciem o tratamento de seus filhos. Esses resultados
controversos mostram que a presença dos pais não é aplicada por todos os dentistas.
Os estudos indicam que a imobilização em crianças sedadas e não-sedadas e
técnicas farmacológicas são utilizadas pela maioria dentistas (Adair & cols., 2004) ou
ao menos por quase metade deles (Tavares & cols., 2000). A maioria dos dentistas
(73,6%) considera que as crianças não são traumatizadas por essas técnicas. Apesar
de a técnica de mão-sobre-a-boca ainda fazer parte do manejo comportamental efetuado
por alguns dentistas, pesquisas mostram diminuição do seu uso, gerada pela influência
dos pais e por questões éticas e legais (Adair, 2004; Carr & cols., 1999).
As pesquisas sobre o ensino de técnicas de manejo visaram avaliar quais técnicas
fazem parte da formação do dentista, quais mudanças têm ocorrido no ensino, se há
preparação do dentista para práticas preventivas e a busca de novos recursos didáticos.
Foram investigados quais técnicas são ensinadas em programas de
odontopediatria em educação avançada e programas de graduação (Adair, Rockman,
Schafer & Waller, 2004a; Adair & cols, 2004b). Os resultados indicam que o tempo
dispensado ao ensino de manejo do comportamento é em torno de 13% do tempo
didático total. Na maioria deles, as técnicas ensinadas como aceitáveis eram as
farmacológicas, comunicativas, técnicas de imobilização ativa e passiva de crianças
sedadas e não-sedadas. A presença dos pais era comum em alguns procedimentos,
particularmente com crianças mais jovens. A única técnica ensinada como inaceitável
em 54% a 62% dos programas foi a mão-sobre-a-boca. Ou seja, ainda faz parte de
alguns programas o ensino da técnica mão-sobre-a-boca e das restrições físicas. Isso
explica porque alguns dentistas ainda utilizam essas técnicas.
As pesquisas indicaram haver pouca evidência de mudança no ensino de
técnicas de manejo comportamental nos últimos cinco anos, e pouca probabilidade de
mudar num futuro próximo. Observa-se, nos estudos relatados, preocupação com a
preparação de dentistas quanto a práticas preventivas e com novas maneiras de ensino
por meio de vídeo.
Como analistas do comportamento, ressalta-se que o uso de técnicas aversivas
pode produzir efeitos colaterais para os pacientes, como por exemplo, o condicionamento
de respostas fisiológicas de medo e ansiedade. No entanto, não há pesquisas empíricas
comprovando o efeito do uso de técnicas restritivas no comportamento da criança.
Apenas quatro das pesquisas selecionadas na presente revisão visaram verificar o
efeito do uso das seguintes técnicas de manejo não-farmacológicas no comportamento
Intervenção Farmacológica
As pesquisas encontradas sobre o uso de intervenções farmacológicas (Asarch,
Allen, Petersen & Beiraghi, 1999; Foley, 2005; Lima, da Costa & da Costa, 2003; Maragakis &
Musselman, 1996 ; Matharu & Ashley, 2007; Milnes, Maupome & Cannon, 2000; Naqvi, 1996;
Perétz, Faibis, Ever-Hadani & Eidelman, 2000; Raadal, Coldwell, Kaakko, Milgrom, Weinstein,
Perkis & Kari, 1999, 1999; Religa, Wilson, Ganzberg & Casamassimo, 2002; Santillán, Da
masco & Tarabay, 2004) mostraram que alguns medicamentos foram eficientes na redução
do comportamento não-colaborativo de crianças, mesmo que ainda não haja consenso
sobre a melhor droga sedativa a ser utilizada. O avanço dessa área de pesquisa é importante
por fornecer mais ferramentas de manejo comportamental aos odontopediatras. Crianças
para as quais as estratégias comportamentais não surtem efeito ou aquelas com caso
urgente, em que não há tempo para manejo comportamental, podem ser beneficiadas por
esta altemativa (Possobon, Moraes, Ambrozano & Costa Junior, 2004).
146 ; . M aria L. M arinho-C asanova, O liviaJ. Brandenburg, Priscila T. Kuniyochi, Sabrina B. Serafim
Algumas pesquisas efetuaram medidas fisiológicas e comprovaram a seguran
ça do uso do sedativo (Naqvi, 1996; Santillán e cols., 2004). No entanto, nem todas as
pesquisas nesta área relatam os efeitos colaterais dos sedativos testados, como verificou
a revisão de Matharu e Ashley (2007). Esses autores encontraram náusea e sonolência
como os efeitos mais comuns e obstrução respiratória como o mais grave; não houve
relação de efeitos colaterais com drogas específicas, mas a maioria envolvia algum
efeito. Assim, isso indica que apesar de parecer um método vantajoso em alguns pontos,
odontopediatras precisam ter conhecimentos sobre os riscos relacionados ao uso de
sedativos e sobre os cuidados éticos que incluem informar claramente os pais e obter o
consentimento deles, de acordo com o protocolo da AAPD (2005-2006).
Comportamentos do dentista
A Academia Americana de Odontopediatria (American Academy of Pediatric
Dentistry - AAPD) recomenda que as crianças façam a primeira visita ao dentista com
um ano de idade ou mais novas. No entanto, esta opinião não parece ser unânime na
classe de dentistas. Entre os próprios membros da AAPD, Erickson e Thomas (1997)
encontraram que 76% concordavam com a recomendação, embora apenas 46,6%
realizavam a primeira avaliação bucal aos 12 meses ou antes. Foi observado que quanto
mais novos os pacientes e quanto mais difícil o procedimento, menor era o número de
dentistas dispostos a realizar tal tarefa (Cotton e cols., 2001).
A política da AAPD de avaliação de crianças no primeiro ano de vida corresponde
a uma medida preventiva, que proporciona melhor saúde bocal no longo prazo.
A odontologia preventiva apareceu como prática mais comum entre odontopediatras do
que entre dentistas generalistas (Ashkenazi, Faibish & Sarnat, 2002). Na comparação
entre os pacientes desses dois tipos de profissionais, as crianças atendidas por
odontopediatras apresentaram muito mais respostas corretas sobre prevenção de
doenças bucais. Além disso, outras diferenças foram encontradas, Pacientes de
odontopediatras relataram com mais freqüência não sentir medo, gostarem do dentista e
receber prêmios. Muitos dentistas generalistas encaminham crianças para serviço
especializado de odontopediatria. As dificuldades com o controle do comportamento infantil
e em oferecer tratamento adequado foram as principais causas de encaminhamento
para odontopediatria tanto na pesquisa realizada no Japão por Sekiguchi, Ishiuchi e
Yakushiji (2000) quanto na realizada na Suécia por Klinberg e cols. (2006).
Em pesquisa realizada no Brasil, Moraes, Sanchez, Possobon & Costa Júnior
(2004) destacam que a análise funcional do comportamento contribui para o estudo da
interação profissional-paciente na odontopediatria. Os dados sugerem que a
colaboração do paciente pode ser considerada condição estabelecedora para os
comportamentos do profissional.
Comportamentos da criança
As pesquisas que avaliaram o com portamento da criança analisaram
basicamente o padrão de comportamento não-colaborativo e o medo, algumas vezes
buscando relacioná-los com outros fatores ambientais. Segundo Baier, Milgrom, Russell,
Mancl e Yoshida (2004), existe uma relação entre o medo e o comportamento não-
colaborativo. Os autores avaliaram 421 crianças e as análises estatísticas demonstraram
que crianças com comportamentos não-colaborativos têm maior probabilidade de ter
medo de ir ao dentista, assim como as crianças com medo de ir ao dentista têm uma
maior probabilidade de apresentar comportamentos não-colaborativos. Essa relação
se apresentou também na pesquisa de Arnrup, Broberg, Berggren e Bodin (2002), em
Considerações finais
Essa revisão de literatura permite obter um panorama amplo das pesquisas
realizadas na área de odontopediatria., Isso pode favorecer atuações mais freqüentes
por parte de analistas do comportamento, de forma a subsidiar dados para direções em
problemas que envolvem o comportamento.
A análise do comportamento da criança no consultório odontológico possibilita
compreender e avaliar quais técnicas de manejo terão efeitos mais eficazes.
Compreender os comportamentos do dentista possibilita orientá-los na promoção de
práticas preventivas e de práticas de adesão ao tratamento com o uso de técnicas de
manejo mais efetivas e menos aversivas.
148 M aria L. M arinho-C asanova, O livia J. Brandenburg, Priscila T. Kuniyochi, Sabrina B. Serafim
Chama-se a atenção, porém, para a importância do ensino de conhecimentos
de análise do comportamento na formação de dentistas. Pesquisas mostraram que há
pouco tempo destinado para o ensino das técnicas de manejo do comportamento nos
programas educativos de odontologia (Adair e cols., 2004a; Adair e cols, 2004b). Analis
tas do comportamento poderiam, inicialmente, conquistar espaço na área de técnicas
de manejo, para aos poucos demonstrar a relevância das contribuições dessa ciência
para explicar o comportamento do ser humano e auxiliar no planejamento de interven
ções eficientes. Para tanto, é necessário o desenvolvimento de mais pesquisas empíricas
para dar respaldo e confiabilidade para o trabalho da Análise do Comportamento em
conjunto com a odontologia.
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*Doutor em Psicologia Experimental. Docente do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal
do Pará. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
"Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.
' Green et al. (1993) adotam um código alfanumérico, no qual letras maiúsculas são usadas para representar classes de estímulos e numerais
seus elementos. O stmbolo "fiflndica qual elemento precede o outro. A mesma notação será usada aqui.
“Veja o quadrado colorido. Você deverá tocar nesse quadrado e vai aparecer uma
figura; você deverá tocar nessa figura, ela desaparecerá desse espaço e aparecerá,
logo acima num outro espaço [o experimentador aponta para o espaço em que a
figura deveria aparecer]; depois disso você vai ouvir aplausos e uma mensagem
dizendo: “Muito bem, você acertou/'Entendeu? Então, toque nessa figura! Se você
errar, não ouvirá os aplausos, nem a mensagem”.
Inicialmente, uma única figura era apresentada em qualquer uma das “janelas”
que estava disposta, na “área de escolha”. Na primeira tentativa, o estímulo A1 era apre
sentado nesta “janela”, que estava presente na área de escolha, enquanto as demais
permaneceram desativadas. Um toque do participante, na figura, fazia com que ela desa
parecesse, da “área de escolha” e reaparecesse, na “área de construção” após dois
segundos. A resposta correta do participante produzia uma animação gráfica na tela,
seguida de palmas, e o pesquisador dizia ao participante: “Muito bem!”, “Você conse
guiu!”. Em seguida, uma outra figura era adicionada, por exemplo, A1 e A2; a tarefa do
participante era responder a A1 e, em seguida, a A2. Após a resposta a A2, os estímulos se
deslocavam da “área de escolha” para a “área de construção”. Caso o participante res
pondesse corretamente, a mesma animação gráfica era apresentada na tela. Reforços
sociais eram apresentados pelo experimentador em voz alta. O participante deveria res
ponder cada seqüência três vezes consecutivas sem erros. Após alcançar esse critério de
acerto, uma outra figura era adicionada simultaneamente, por exemplo, A1, A2 e A3 com
as figuras sendo introduzidas gradativamente, nesta seqüência: A1, A2, A3, A4, A5 e A6.
Para qualquer outra resposta (por exemplo: A2, A3 e A1) não havia conseqüên
cia reforçadora, a tela embranquecia por um intervalo de 3s e os mesmos estímulos
reapareciam na “área de escolha”. O participante era exposto, até 10 vezes, nessa
seqüência. Caso não respondesse a seqüência programada, retornava à seqüência
imediatamente anterior.
Caso o participante alcançasse o critério de acerto era exposto aos testes de
sequenciação e de transitividade.
Nos testes de sequenciação, a instrução era a seguinte:
A1 \A 2 A3 A4 A5 AB
m
B1
< B2
s
B3
u
B4
k
B5
£
BB
Procedimento
Todos os participantes foram submetidos ao mesmo procedimento, com as
fases de ensino por encadeamento, testes de sequenciação, testes com pares de
estímulos não-adjacentes, testes de conectividade, nas ordens direta e inversa (ver
Tabela 1).
A1 ->A2->A3->A4->A5->A6
A1->A4
A1-»A5
Fase 2b: Teste de
A1->A6
transitividade entre pares de Verde
estímulos não adjacentes no A2->A4
conjunto “A”, em ordem
A2->A5
direta.
A2-*A6
A3-»A5
A 3^A 6
A4-»A6
A6->A5
Fase 3: Ensino por A6->A5-»A4 Vermelha
encadeamento em ordem
A6->A5-»A4->A3
inversa com o conjunto “A”, na
ordem inversa A6->A5-»A4 ->A3-> A2
A6-*A5->A4 h >A3-»A2—>A1
A6—>A4
A6->A3
Fase 4b: Teste de
A6->A2
transitividade entre pares de Vermelha
estímulos não adjacentes no A6-»A1
conjunto "A", em ordem
A5-»A3
inversa.
A5-»A2
A5-»A1
A4-»A2
A4-»A1
A3-»A1
B1-»B2
Fase 5 : Treino por
encadeamento com o B1->B2->B3
Verde
conjunto “B”, em ordem
B1-»B2-»B3->B4
direta
B1->B2->B3-»B4->B5
B1->B2->B3->B4->B5—>B6
B1->B4
B1-»B5
Fase 6b: Teste de B1->B6
transitividade entre pares Verde
B2-»B4
de estímulos não
adjacentes do conjunto “B”, B2->B5
em ordem direta
B2->B6
B3->B5
B3->B6
B4-^B6
B6-»B5-»B4-»B3->B2->B 1
Fase 8a : Teste de
sequenciação com o B6—>B5—>B4—>B3—>B2—>B1 Vermelha
conjunto “B”, em ordem
inversa
B6—>B4
B6->B3
B6—>B2
Fase 8b: Teste de
B6->B1
transitividade entre pares Vermelha
de estímulos não B5->B3
adjacentes do conjunto
B5-»B2
“B", em ordem inversa
B5-»B1
B4 >B2
B4->B1
B3-»B1
A1->A2
Fase 1a: Linha de base
com o conjunto de A1-»A2->A3 Verde
estímulos “A" na ordem A1 ->A2->A3-»A4
direta. A1 ->A2-»A3-»A4->A5
A1 ->A2->A3-»A4->A5-»A6
A6->A5
A6->A5-^A4
Fase 1b: Linha de base
com o conjunto de A6->A5->A4->A3 Vermelha
estímulos “A” na ordem A6->A5-> A4-»A3 -> A2
inversa
A6-^A5-^A4->A3->A2-^A1
B1h >B2->B3->B4->B5
B1->B2-^B3—»B4—>B5-»B6
B6->B5
Fase 2b: Linha de base B6->B5->B4 Vermelha
com o conjunto “B” na
B6->B5->B4->B3
ordem inversa
B6->B5->B4->B3->B2
B6->B5->B4->B3->B2-*B1
Tabela 2 - Delineamento experimental com a linha de base com os conjuntos “A” e “B"
nas ordens direta e inversa.
A Tabela 3 apresenta o delineamento experimental dos testes de conectividade
com os conjuntos de estímulos “A” e “B”, nas ordens, direta e inversa. O teste de
conectividade permite verificar os efeitos de uma relação ordinal, onde estímulos que
ocupam a mesma posição, em classes distintas, podem ser substituíveis uns pelos
outros.
Resultados
Quando expostos ao ensino por encadeamento, todos os participantes
alcançaram o critério de acerto (Ver Tabela 4).
• Descrição do desempenho, nos testes de sequenciação com seis estímulos
dos conjuntos A e B, nas ordens direta e inversa.
Todos os três participantes foram expostos aos testes de sequenciação com
os dois conjuntos de estímulos, nas ordens direta e inversa. Foram programadas duas
tentativas para este teste. Caso o participante respondesse corretamente, à primeira
tentativa, o teste era encerrado.
Participantes Cores
Relações testadas
MBC EUA WGM
Participantes Cores
MBC EUA WGM
A1->A3 1/1 1/1 1/1
A1^A4 1/1 1/1 1/1
A1->A5 1/1 1/1 1/1
A1—>A6 1/1 1/1 1/1
A2—>A4 1/1 1/1 1/1
Verde
A2->A5 1/1 1/1 2/2
A2-»A6 1/1 1/1 1/1
A3->A5 1/1 1/1 1/1
A3->A6 1/1 1/1 1/1
A4->A6 1/1 1/1 1/1
A6->A4 1/1 1/1 1/1
A6->A3 1/1 1/1 1/1
A6—>A3 1/1 1/1 1/1
A6->A2 1/1 1/1 1/1
A6->A1 1/1 1/1 1/1
A5-*A3 1/1 2/2 1/1
A5->A2 1/1 1/1 1/1
A5->A1 1/1 1/1 2/2 Vermelho
A4->A2 1/1 1/1 1/1
A4->A1 1/1 1/1 1/1
A3—>A1 1/1 1/1 1/1
B1->B3 1/1 1/1 1/1
B1->B4 1/1 1/1 1/1
B1->B5 1/1 1/1 1/1
B1-h>B6 1/1 1/1 1/1
B2->B4 2/2 1/1 1/1
B2->B5 1/1 1/1 1/1
B2-»B6 1/1 1/1 1/1
Verde
B3-»B5 1/1 1/1 1/1
B3->B6 1/1 1/1 1/1
B4->B6 1/1 1/1 1/1
Participantes Cores
Relações testadas
MBC EUA WGM
Discussão
Os resultados do presente trabalho sugerem que a introdução de um estímulo
condicional (presença das cores verde e vermelha) com o objetivo de ampliar a unidade
de análise das contingências de reforçamento (cf. Sidman, 1994), durante o responder
ordinal com seis estímulos, em pessoas atraso no desenvolvimento cognitivo, não
foram consistentes com a linha de base. Todos os participantes responderam,
prontamente, aos pares de estímulos não-adjacentes (ver Tabela 7). Nos testes mais
complexos, para verificar se as classes ordinais eram equivalentes (testes de
conectividade), ocorreu uma deterioração do desempenho dos participantes. Um
participante (WGM) respondeu parcialmente com atraso (ver Tabela 8), formando três
novas seqüências e os demais não responderam conforme previsto pelo experimentador.
Portanto, o procedimento de ensino por encadeamento, adotado neste estudo, parece
não ter sido suficiente para produzir a emergência de classes ordinais.
Uma possibilidade para esses resultados, talvez esteja no estabelecimento,
durante o ensino de topografias de controle de estímulos diferentes daquelas previstas
pelo experimentador, no delineamento do procedimento (cf. Mcllvane, Serna, Dube &
Stromer, 2000). De fato, a teoria da coerência da topografia de controle de estímulos
prevê que pequenas mudanças do procedimento de ensino para o de teste, podem
gerar controle por variáveis não planejadas, exigindo a necessidade de programar testes
sem reforços inseridos entre tentativas de linha de base. No estudo aqui apresentado,
o contato do participante com as contingências de testes foi atrasado, exigindo uma
longa exposição ao treino com duas, três, quatro, cinco e seis seqüências diferentes,
para em seguida, expô-lo às contingências de testes. Uma alternativa que possa vir a
reduzir a ocorrência de erros, talvez esteja na introdução de sondas após cada seqüência
Estudo 2
Condição “A ”
M étodo
Participantes
Participaram do estudo quatro crianças, de ambos os sexos, alunos da segunda
série do ensino fundamental da Rede Pública Municipal. Os alunos eram de uma faixa
Estímulos
1 - O Sapo Pula Rápido
Procedimento
Fase I - Etapa 1: Pré-teste
Na Fase I o participante foi submetido a um pré-teste com objetivo de verificar o
repertório de leitura fluente de sentenças. Nesta primeira fase mediu-se o desempenho
do participante antes da aplicação do procedimento de ensino. Nesta fase, o participante
era exposto a uma frase (ver Figura 1) com as mesmas palavras que seriam
posteriormente ensinadas. Solicitava-se ao participante que lesse toda a frase.
Caso o participante não apresentasse os repertórios investigados durante o
pré-teste, era exposto ao ensino de duas relações condicionais arbitrárias (AB/AC). O
objetivo era ensiná-lo a relacionar figuras (conjunto “A”) com as palavras maiúsculas
(conjunto "B” - artigo definido/indefinido, substantivo concreto, verbo e advérbio) e
minúsculas (conjunto “C”) que iriam formar as sentenças utilizadas nas Fases
posteriores deste estudo.
Etapa 2: Ensino por identidade. No ensino por identidade, foi utilizado um
procedimento de emparelhamento com o modelo (matching to sample). Foram
ensinadas as relações de identidade: AA (desenho/desenho), BB (palavras escritas em
letras maiúsculas/ palavras escritas em letras maiúsculas) e CC (palavras escritas em
Resultados
Na fase de pré-teste, nenhum dos participantes leu a frase fluentemente.
Discussão
Este estudo teve com objetivo verificar se após o ensino de relações condicionais
e testes de equivalência com quatro palavras, base para a compreensão de leitura, mais
a ordenação das palavras através de um procedimento por encadeamento, crianças que
apresentassem um histórico de fracasso escolar em leitura de frases seriam capazes de
construir e efetuar uma leitura fluente de novas sentenças com compreensão.
Os resultados evidenciam que três participantes (LOA, JOA e IVA) construíram
seis novas sentenças, duas com atraso, as sentenças: "um sapo come rápido" e “o
sapo nada rápido”, a partir das três sentenças ensinadas na linha de base.
Uma alternativa para reduzir esse responder com atraso poderia ser a introdução
de dicas durante o ensino por encadeamento na linha de base. Uma dica seria a
experimentadora falar em voz alta a sentença e o participante repetir a sentença. A
resposta do participante nesta situação particular podia ocorrer sob controle simultâneo
da sentença falada pela experimentadora (sendo, portanto uma resposta ecóica) e da
sentença impressa (que podia ser emparelhada também coma a sentença falada pela
experimentadora) e isto podia ajudar na transferência de controle do comportamento
ecóico para o comportamento textual, à medida que a experiência de leitura aumentasse.
Uma outra dica poderia ser apresentada imediatamente depois que o participante
pronunciasse a sentença incorretamente: a experimentadora poderia dizer a sentença
correta para que o participante repetisse, permitindo que o mesmo emparelhasse a
sentença impressa à sentença falada pela experimentadora. Esta combinação de dois
tipos de dicas, o procedimento de dica atrasada (Halle, Marshall, & Spradlin, 1979) e a
modelação da resposta verbal apropriada poderia ser útil para ensinar a leitura de
sentenças.
Os resultados indicam ainda que uma combinação de métodos de controle de
estímulos, incluindo emparelhamento com o modelo, equivalência de estímulos e
encadeamento pode ser bastante efetiva par ensinar leitura fluente a diferentes grupos
de pessoas com repertórios limitados.
Três participantes também foram capazes de leitura com compreensão, quando
expostos às seis novas sentenças.
Um segundo estudo foi programado para verificar se esses resultados se
manteriam estáveis com a mesma população, removendo o ensino das relações
condicionais e testes de equivalência. Utilizou-se apenas um procedimento de ensino
por encadeamento de respostas com a introdução gradativa das quatro palavras.
Condição “B”
Método
Participantes
Três crianças, de ambos os sexos, alunos da segunda série do ensino
fundamental de uma Escola da Rede Pública Municipal. Os alunos eram de uma faixa
etária de 6 anos e dez meses a 8 anos e dois meses. O recrutamento foi por contato
pessoal e entrevista com a professora. Os participantes apresentavam uma história de
fracasso escolar na composição de sentenças, mas liam palavras isoladas, com
Resultados
Na fase de pré-teste, nenhum dos participantes leu a frase fluentemente.
Discussão
O objetivo deste estudo foi replicar os resultados obtidos na condição “A” com
crianças que apresentavam um histórico de fracasso escolar na composição de
Discussão Geral
O objetivo do estudo foi verificar se após o ensino de relações condicionais e
testes de equivalência, base para a compreensão de leitura, mais a ordenação de
quatro palavras através de um procedimento por encadeamento, crianças que
apresentassem um histórico de fracasso escolar em leitura de frases seriam capazes
de construir e efetuar uma leitura fluente de novas sentenças com compreensão.
O estudo estendeu os resultados obtidos por Assis, Élleres e Sampaio (2006)
com crianças que apresentavam um histórico de fracasso escolar. Para isso foram
usados dois procedimentos de ensino e testes na construção de novas sentenças. Ou
seja, o ensino de relações condicionais e formação de classes de estímulos equivalentes
(semântica) facilitariam o processo de composição de novas sentenças ? Para isso,
procurou-se ensinar três sentenças diferentes com quatro palavras, através de um
procedimento de ensino por encadeamento de respostas.
Em ambas as condições experimentais, um participante não foi capaz de
compor novas sentenças, mesmo após a repetição dos testes, sugerindo possivelmente
uma incoerência entre as topografias de controle de estímulos no ensino e nos testes
(cf. Mcllvane & Dube, 2003). ,f
Uma variável corretamente identificada parece ser a topografia de controle de
estímulo caracterizada pelo controle por um dos componentes de um estímulo complexo.
Esse controle é mais evidente em pessoas com atraso no desenvolvimento cognitivo, o
que pode limitar a aquisição de novos comportamentos, restringindo de forma mais
acentuada o repertório comportamental. O controle restrito de estímulos apresenta-se
como um problema socialmente relevante e é conhecido, na literatura, como
superseletividade de estímulos (stimulus overselectivity) ou “atenção seletiva”. Nos dois
estudos, nas frases “um sapo come rápido” e “o sapo nada rápido", as palavras “sapo”
e “rápido” aparecem duas vezes, na mesma posição, o que pode ter induzido o participante
a escolher a mesma frase como se fosse única.
Os dados apresentados na condição "A” sugerem que, possivelmente, a
formação de classes de equivalência (Sidman & Tailby, 1982; Sidman, 1994) foi uma
condição necessária e suficiente para que tenha ocorrido além da composição e leitura
de seis novas sentenças com quatro palavras, uma leitura fluente e com compreensão.
Como afirmaram De Rose e Bortoloti (2007) “os critérios operacionais fornecidos pelo
modelo de equivalência foram apontados como um meio para identificar e trabalhar
relações que podem conferir significado aos estímulos envolvidos (p.87)”. Esses
resultados também expandem a emergência de novas sentenças, a partir de três
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behavioral limitations. Journal o f Intellectual Disability Research, 37, 243-261.
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Wulfert, E., & Hayes, S. C. (1988). Transfer a conditional ordering response through conditional
equivalence classes. Journal o f the Experimental Analysis o f Behavior, 50, 125-144.
10 procedimento consiste em introduzir modificações graduais nos estímulos. Neste caso, em particular, a autora o usou para que conjuntos
apresentados como estímulos modelo e como estímulos de comparação, tivessem como único atributo comum a quantidade de elementos, sendo
tudo o mais (forma, tamanho, disposição) diferente.
O estudo de Green (1993) avança na direção apontada por Kahhale (1993). Ela
assume que a compreensão numérica implica em tratar como equivalentes nomes de
números falados, numerais impressos e quantidades correspondentes de itens. E
aponta que freqüentemente assume-se que a contagem é uma habilidade pré-requisito
para a aprendizagem de equivalências numéricas, vendo no paradigma de equivalência
a possibilidade de que aquelas “equivalências” possam ser ensinadas prescindindo-
se da contagem. Participaram de sua pesquisa dois adolescentes, um autista e outro
classificado como portador de retardo mental moderado, ambos com déficit de linguagem.
Um pré-teste revelou que um dos participantes emparelhava estímulos por identidade
e também numerais a seus respectivos nomes ditados, isto é, dado um número ditado,
ele escolhia o numeral impresso correspondente. O outro, além dessas mesmas
habilidades, fazia os emparelhamentos número ditado-conjunto e numeral-conjunto,
nos valores de um a três e também nomeava os numerais de 1 a 6.
Um procedimento de ensino estabeleceu as relações número ditado-numeral
e número ditado-conjunto. Foram usados como estímulos os numerais 1 a 6 e conjuntos
com estes mesmos valores. Os elementos que compunham os conjuntos eram pontos
(pequenos círculos pretos). Um detalhe importante deve ser destacado: para cada um
dos valores de um a seis foram usados três padrões diferentes, porém fixos, de
distribuição espacial dos elementos. Testes apropriados revelaram que os participantes
haviam aprendido mais do que lhes fora ensinado. Eles tornaram-se capazes de produzir
oralmente nomes de números tanto em resposta a numerais impressos como a
conjuntos, a relacionar numerais a conjuntos e vice-versa, e ainda, demonstraram
generalização dessa habilidade quando foram usados conjuntos com figuras de cavalos,
casas e moedas. Essas figuras, que não fizeram parte do procedimento de ensino,
foram apresentadas de acordo com um dos padrões de disposição espacial usado
com os pontos durante a fase de ensino.
Chamamos a atenção para o detalhe dos padrões fixos de distribuição espacial
dos elementos dos conjuntos por ser esta uma propriedade de estímulo que exerce
grande influência sobre o comportamento. Exemplo disso é encontrado em dominós e
dados de jogar, cujos pontos são distribuídos de acordo com um padrão, o qual é
chamado por alguns autores de “padrão canônico”. A maneira como os pontos são
distribuídos empresta a cada um dos conjuntos a configuração de uma forma: dois e
pontos lembram uma linha, três um triângulo, quatro e seis configuram formas
semelhantes a quadrado e retângulo, cinco pontos se parecem com um X. É o que os
psicólogos gestaltistas chamariam de gestaltes (aportuguesando o termo) visuais. A
associação entre essas “formas” e os nomes de números que representam os valores
dos respectivos conjuntos é tão forte, que somos capazes de dizer o valor imediatamente,
apenas olhando de relance, sem ter de contar os pontos.
Crianças podem aprender a nomear aquelas “formas”, dando a cada uma
delas o nome de um número, num processo idêntico ao de nomear qualquer outra
Método
Participantes
Participaram do estudo 17 crianças (sete meninas e 10 meninos) com idade de
quatro anos e oito meses a seis anos e cinco meses (média de cinco anos e dois
meses). Todas estavam regularmente matriculadas numa escola de educação infantil
de um bairro da periferia da cidade de Marília (SP). Cópias de um documento contendo
informações sobre os propósitos e as linhas gerais do método da pesquisa e dados do
autor foram entregues aos pais (ou responsáveis) dos alunos e à responsável pela
instituição. Anexo ao documento havia um termo de consentimento. Apenas os alunos
autorizados por um dos pais ou responsável participaram da pesquisa.
Situação e material
Uma parte das sessões foi conduzida na sala da diretoria da escola onde foi
instalado o equipamento. Outra parte, por ter sido realizada no período de férias escolares,
foi conduzida no gabinete do autor. Cada participante foi recebido individualmente e o
número de sessões foi de, no máximo, dois. A maioria dos alunos precisou de apenas
3 Considerando que os est/mulos de comparação (alternativas) eram em número de dois, em cada tentativa havia 50% de chances de que a
escolha correta fosse feita ao acaso.
Procedimento
Foram conduzidos dois testes: um de contagem - composto por duas tarefas:
a) contagem de conjuntos totais; e b) contagem de subconjuntos - e um de equiparação
de conjuntos. Em todos os testes foram usados conjuntos com cinco a oito elementos
(figuras reconhecíveis variadas) e para cada um deles foi usada uma determinada
configuração de tela para a apresentação dos estímulos, conforme descrição a seguir.
Como ilustrado na Figura 1, para a tarefa de contagem de conjuntos totais, as
figuras a serem contadas eram apresentadas no interior de uma "janela” posicionada
no centro da parte superior da tela. A posição das figuras era aleatorizada pelo computador.
Para a tarefa de contagem de subconjuntos, a tela era dividida horizontalmente em duas
e, a parte superior, subdividida verticalmente também em duas (ver Figura 3). Na parte
inferior apresentavam-se 17 figuras, todas iguais, dispostas em três fileiras e com um
espaço entre cada uma. As figuras de cada fileira intercalavam-se com as da fileira de
baixo. Cada figura, ao ser tocada com o dedo, deslocava-se da parte inferior para a parte
superior direita da tela e ali era aleatoriamente posicionada.
Em cada tarefa de cada um dos testes foram usados conjuntos de cinco a oito
elementos, de modo que cada uma era composta por um bloco de quatro tentativas:
uma para o valor cinco, outra para o valor seis e assim por diante. Cada tentativa foi
apresentada uma única vez. Não foi programado qualquer tipo de conseqüência para
respostas corretas ou incorretas, nem qualquer procedimento de correção. A fim de
evitar a introdução de vieses pela própria situação experimental, foi executado um
procedimento para a familiarização dos participantes a ela e modelagem das respostas
exigidas, conforme descrição a seguir.
Os testes
Até aqui descrevemos como o computador apresentava os estímulos, os
procedimentos de preparação para os testes e os critérios adotados. Passemos agora
a descrever o que foi testado de fato.
b)
Escolha outro ' c)
que seja igual, y
A ordem de apresentação das tarefas foi determinada por sorteio para cada um
dos participantes. Durante todo o procedimento houve o som de música clássica
instrumental ao fundo.
Na tarefa de contagem, foram consideradas corretas as respostas em que cada
figura foi tocada sem omissões nem repetições e em que a cada figura tocada, o nome de
um número foi pronunciado simultaneamente em voz alta sem violação da seqüência. A
aplicação da regra de cardinalidade foi considerada correta quando a criança dizia, em voz
alta, o nome do número correspondente à quantidade de elementos do conjunto contado.
A contagem de subconjuntos foi considerada correta quando o número de elementos
separado do conjunto maior correspondeu ao número ditado. Na equiparação de conjuntos,
foi considerada correta a resposta de escolha de um dos conjuntos de comparação
(alternativa) cujo número de elementos fosse igual ao do conjunto modelo. Quanto à
contagem dos conjuntos modelo e de comparação, os critérios adotados para considerá-
la correta foram os mesmos da contagem de conjuntos totais.
Contagem do 0,87** 0 ,5 8 *
conjunto modelo
Contagem de 0 ,7 9 "
conjmto de
comparação
* p = 0,05 ; ** p<0,01
Idade 0,19 - -
Contagem de 0,74**
- -
conjunto de
comparação
Discussão
Referências
Carmo, J.S.; Figueiredo, R.M.E. e Silva, L.C.C. (1999). Análise descritiva dos componentes envolvidos
no comportamento de contar: opinião de professores do ensino fundamental. Em: J.S. do Carmo,
L.C.C. da Silva e R.M.E. de Figueiredo (Orgs.). Dificuldades de aprendizagem no ensino de leitura,
escrita e conceitos matemáticos. Belém: UNAMA.
De Rose, J. C.C. (1993). Classes de estímulos: Implicações para uma análise comporta-mental da
cognição. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 9(2), 283-303.
Drachenberg, H.B. (1990). Aquisição do conceito de quantidade: Programação de um procedimento
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Editora Pedagógica Universitária.
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symmetry in the conditional discriminations of rhesus monkeys, baboons and children. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 37, 23-44.
M étodo
Sujeitos
Participaram deste estudo 31 alunas do terceiro ano do curso de Terapia
Ocupacional cujo estágio curricular é realizado a partir do quarto ano. Devolveram o
Local e Material
O estudo foi conduzido na sala de aula de Terapia Ocupacional - UNESP/ Campus
de Marília.
O instrumento para a coleta de dados contou de um questionário contendo
continha 19 questões, sendo elas 9 fechadas e 10 dissertativas, onde se investigou a
avaliação das alunas sobre o aproveitamento, atividades desenvolvidas e duração da
disciplina sobre AC.
Procedimento
Etapa I: Questionário inicial com identificação geral e perguntas sobre o
conhecimento das alunas sobre AC.
Os estudantes descreveram no questionário inicial sobre as características do
ensino de análise funcional antes de cursar uma disciplina intitulada análise funcional
e habilidades de manejo de conduta, tendo por base a abordagem da Análise do
Comportamento - AC
Etapa II: Elaboração do plano de ensino com os seguintes conteúdos:
Com base em estudos sobre análise do comportamento (e.g. Skinner,(1952/
2000); Todorov (1985); De Rose,(1997); Carrara,(1998); Catania,(1999); Patterson, Reid
& Dishion,(2002); Starling, (2003), elaborou-se o programa da disciplina com os
seguintes conteúdos:
1. Matriz conceituai: Análise Experimental do Comportamento
2. Identificação e descrição de desempenhos.
3. Análise de relações entre comportamento e suas conseqüências:
3 .1 .Tipos de conseqüências e seus efeitos sobre os problem as de
comportamento
4. Definição de análise funcional.
4.1. Avaliação funcional: análise de variáveis - como determinar a causa da
função do comportamento.
5. Avaliação funcional: instrumentos de coleta de dados.
6. Questões éticas da intervenção terapêutica.
7. Definição de comportamento inadequado
8. Alternativas de habilidades de manejo comportamento
9. O papel dos familiares na motivação de comportamento social adequado.
Etapa III: Desenvolvimento do programa da disciplina
A metodologia de ensino empregado foram aulas expositivas com recurso de
multimídia, leitura em grupo e elaboração de resenhas de textos. Utilizou-se do filme “o
milagre de Ann Sullivann" para observação do comportamento de birra. Foi dada a
oportunidade para as alunas realizarem uma observação com duração de duas horas
Resultados
Os resultados foram descritos a seguir, de acordo com os dados das 23
estudantes que devolveram o questionário com relatos da participação, das mesmas,
na disciplina sobre análise funcional e manejo de habilidades de conduta. O quadro 1
mostra os dados de avaliação do programa da disciplina quanto ao aproveitamento e
sugestões. O quadro 2 mostra os dados de avaliação do programa da disciplina quanto
atividades desenvolvidas e duração.
A1 Não sou o tipo de aluna que fala bastante coisas em sala de aula, porém li
grande parte dos textos e procurei prestar atenção nas aulas.
A3 Acredito que no começo não consegui enxergar a importância da disciplina,
podendo até não me dedicar o tanto que devia, mas do meio pra frente
consegui enxergar o objetivo da disciplina e também ver a aplicabilidade de
tanto conceito e informação. E assim creio que pude me dedicar mesmo às
aulas, participar e discutir quando havia abertura para tal. No geral poderia ter
sido melhor, mas creio que se a avaliação é feita pelo o que você vai levar
para adiante daquilo que foi aprendido, então devo dizer que considero minha
avaliação satisfatória, tenho plena certeza que o conteúdo dessa disciplina vai
pendurar em minha vida, e ser de grande utilidade.
A23 Avaliaria como sendo suficiente. Tentei participar ao máximo das aulas, sanei
minhas dúvidas, apesar de achar difícil eu me comportar de maneira
adequada diante de algumas situações que foram vistas dentro de sala de
aula.
5. Você tem sugestões para o que poderia ser mudado para melhorar a
qualidade e participação de futuros colega nessa disciplina?
A1 Contei para as minhas tias que tem filhos pequenos e elas acharam
interessantes, mas não mudaram de atitude.
A3 Comentei a respeito do que estava aprendendo nessa disciplina e acredito que
com o que eu lhes disse, eles vão poder pensar melhor ao agir com outrem,
assim como eu aprendi, a não agir por impulso e impensadamente. E posso
dizer de antemão que eles acharam muito interessante e que até pediram o
que eu tinha de material pra poder ler a respeito mais profundamente.
A23 Sim. As reações de alguns deles foram de perplexidade diante da situação
explicada, pois a maioria deles até a duvidar da veracidade do caso e do
resultado obtido.
A1 sim
A3 Valeu muita a pena, tanto por tirar esse preconceito sem fundamento que eu
tinha do comportamentalismo e, obviamente, como aprendizado para minha
vida, não somente como profissional, mas também em minha vida pessoal.
A23 sim
A1 sim
A3 Com toda a certeza, creio que esse aprendizado é de fundamental
importância, não somente pra profissões que lidam diretamente com pessoas,
mas acho que isso seria um aprendizado pra vida. Ajudaria muito qualquer tipo
de pessoa que tem interesse em melhorar suas atitudes nas relações
interpessoais, o que, pessoalmente, creio que todos podemos e devemos
melhorar e evoluir, sempre.
A23 Sim, principalmente para aqueles que acham que não tem como mudar o
comportamento de uma pessoa.
De uma maneira geral, cada uma das alunas considerou que a sua participação
na disciplina “análise funcional e habilidades de manejo de conduta”, proporcionou a
aquisição de conhecimentos importantes para melhorar o seu comportamento diante
de situação em clínica. Destaca-se que todas elas pretendem utilizar as habilidades de
manejo, em situação de generalização, bem como em outras situações não previstas,
observadas durante o curso, e também diante de outras pessoas. Os dados apontaram
que alunas tiveram dificuldade em compreender alguns conceitos em Análise do
Comportamento. Mas, ainda assim, as alunas revelaram que a disciplina proporcionou
informações básicas e identificação de conceitos e aplicabilidade que não conheciam
sobre Análise do Comportamento.
Outro resultado apontado no questionário indicou que todas as alunas
declararam que a partir do aprendizado desta disciplina é possível analisar as situações
cotidianas e ter idéias de como agir, mais adequadamente, diante destas. Assim,
relataram estar mais preparada, tendo informações sobre a análise funcional, para
proporcionar a mudança do comportamento de pacientes em várias situações. As
utilidades dos conhecimentos adquiridos poderão ajudar, principalmente, quando as
mesmas estiverem atuando em contingências de atendimento na clínica.
Segundo os dados sobre a avaliação da participação na referida disciplina, as
três alunas avaliaram positivamente, enfatizando, dentre outras respostas, que
aprenderam muito sobre como analisar problemas de comportamento. Apesar dos
problemas pessoais que dificultaram um melhor aproveitamento, tais falta de leitura
prévia dos textos e conversas paralelas no inicio das aulas, as três alunas descreveram
que não só indicariam a disciplina para outras colegas, como também, contaram para
outras pessoas sobre como agir, diante do comportamento de birras de priminhos e em
observações de crianças que apresentaram birras em shopping center. A aluna A3
ressaltou a importância do aprendizado sobre análise funcional inclusive em situações
profissionais descrevendo: "creio que esse aprendizado é de fundamental importância,
não somente pra profissões que lidam diretamente com pessoas, mas seria um
aprendizado pra vida. Ajudaria muito qualquer tipo de pessoa que tem interesse em
melhorar suas atitudes nas relações interpessoais” (sic).
A3 - - - - - 5 . - -
A4 4 5 5 5 4 2 3 2 2
A5 2 3 2 4 5 1 5 2 3
A6 2 3 4 5 4 1 1 0 3
A7 4 3 4 3 3 2 1 0 3
A8 4 5 5 5 1 2 5 4 2
A9 4 2 3 2 4 0 5 1 3
A10 2 3 4 4 5 2 3 4 2
A11 2 4 4 4 4 2 1 2 3
A12 4 2 2 4 5 1 3 4 3
A13 2 4 4 4 4 2 5 2 3
A14 2 4 4 4 4 1 5 2 . 3
A15 2 4 3 3 4 2 5 2 2
A16 3 - - - - 1 - ! - -
A16 4 3 2 2 4 2 4 2 3
A17 2 3 3 4 5 2 3 4 3
A18 - - - - 1 - - - -
A18 4 3 3 4 4 2 5 4 3
A19 4 3 4 4 4 2 1 2 3
A20 - - - - 1 - 1 - -
A20 0 - - - 2 - 2 -
A20 2 - - - 3 1 3 2 -
A20 4 4 4 4 4 2 5 4 2
A21 2 4 5 4 4 5 5 2 2
A22 2 4 4 4 4 2 0 2 2
A23 2 - - - 3 1 1 0 -
A23 3 4 4 4 4 2 4 2 2
A23 4 4 4 4 - - 5 4 2
M 2,89 3,30 3,65 4 ,00 3,65 1,70 3,07 2,40 2,63
j 3-Acres- 3 -Me 2-Conhe- 3-
d __... 4-Me 4-Me 4-Valeu 3-Sufici- 2-Bom
« jn ia r ajudou Sufoente
i ajudou ajudará como dica cia pouco ente
mais suficiente bastante bastante
a itens
O-Não li a O-Não li a O-Não vou O-Discor- O-Tinha O-Não parti O-Suficien- 1-Muito
maioria dos maioria usá-las na do preconceito cipei te para o curta
textos dos textos minha objetivo
prática 1-
1-Me 1-Me 1- 1-Não 1- Participei Insuficiente 2-Curta/
1-Me
ajudou ajudará Concordo tinha para o tempo
ajudou
quase quase preconceito objetivo insuficiente
quase
nada nada nada 2-Bom
2-Me 2-Me 2-Me 2-Pode 2- 2-Tenho
ajudou ajudou ajudará ser Conhecia poucas
pouco pouco pouco melhorado pouco dúvidas 3-
3-Me 3-Me 3- 3- 3-Suficiente Acrescentar 3-
3 -Me
ajudou ajudou ajudará Suficiente Conhecia mais itens Suficiente
suficiente suficiente suficiente para a suficiente
contingência
da
situação 4-Foi
4-Me 4-Me 4-Me 4-Valeu 4- 4-Tenho novidade 4-
ajudou ajudou ajudará como dica Conhecia bastante Demorado
bastante bastante bastante bastante dúvidas 5-Já
5-Me 5-Me 5-Me 5-Me 5- Diminui 5-Preciso conhecia 5-Muito
ajudou ajudou ajudará ajudará muito do ler mais demorada
muito muito muito muito meu
preconceito
Considerações Finais
As alunas descreveram no questionário a elas apresentadas que análise do
comportamento pode ser muito útil para o futuro trabalho durante o estágio curricular e
como terapeutas ocupacionais. Uma continuidade da investigação seria a observação
das mesmas na situação prática para verificar se os resultados apontados no presente
estudo poderiam, realmente, ser observados na prática.
Referências
M étodo
Participantes
544 estudantes do ensino fundamental II (5a a 8a séries), de ambos os sexos,
sendo 226 da rede pública e 318 da rede particular. Da escola particular, aqui identificada
como CA, participaram 177 estudantes do sexo feminino e 141 do sexo masculino;
enquanto das escolas públicas, chamadas de MN e PM, participaram 83 estudantes do
sexo feminino e 73 do sexo masculino (escola MN) e 43 do sexo feminino e 27 do
masculino (escola PM).
214 João dosS. Carmo, Rosana M . É. de Figueiredo, Melissa F. Nogueira, Lívia de O. Cunha, Paula V Souza
de Araújo, Marillac C. Ferranti,
Local
A coleta ocorreu em salas de aula de duas escolas públicas estaduais de
Belém (MN e PM) e de uma escola particular de Castanhal/PA (CA).
Instrumento
Utilizou-se a Escala de Ansiedade Matemática - EAM (Carmo, Figueiredo e
Figueiredo, 2005), especialmente desenvolvida para o presente estudo e apresentada
na Figura 1. A EAM é uma escala de avaliação baseada em padrões (Bunchaft & Cavas,
2002), composta por 24 itens. Cada item contém a descrição sucinta de uma situação
relacionada à matemática e tipicamente vivenciada por estudantes em seu cotidiano
escolar. Para cada item há seis opções referentes à intensidade de ansiedade
declarada, sendo que o participante deve escolher apenas uma opção para cada item.
As opções são: nenhuma ansiedade; baixa ansiedade; ansiedade moderada; muita
ansiedade; alta ansiedade; extrema ansiedade.
Durante a aula de
ma temát fca, q uand o
participo de trabalhos
em eqiipe, sinto
Durante a aula de
ma temática, quando
devo mostrar os
exercicios ao
professor
Urrante a aula de
matemática, quando !
devo ir ao quadro,
shto
Durante a aula de
matemática, quando
devo resoVer
sozinho um
exercício, sinto
Durante a aula de
matemátfca, quando
participo de trabalhos
om eqiipe, sinto
Durante a aula de
matemátfca, quando
devo mostrar os
exercícios ao
professor
Durante a aula de
matemátfca, quando
devo ir ao quadro,
snto
Ao folhear o livro ou
o caderno de
matemátfca, sinto
Quando o professor
de matemática me
dirige a palavra,
fazendo perguntas,
shto
Após a aula de
matemátfca, sinto
Ao fazer d e\er de
casa de matemática,
shto
Um dia antes de
entregar um dever de
casa de matemática
que não consegui
resolver
Quando os colegas
de sala estão falando
sobre matemática,
siito
Procedimento
Os dados foram coletados ao longo de 2005 e 2006. Os participantes foram
contatados nas escolas em que freqüentavam, após autorização da direção e da
coordenação pedagógica das mesmas. A coordenação indicava as turmas e horários
disponíveis e a aplicação era conduzida por dois pesquisadores em cada turma.
No início da coleta de dados, cada participante recebia uma folha contendo a
escala EAM. Acima da escala, havia espaço para o participante escrever seu nome,
idade e série. Inicialmente eram informados aos participantes os objetivos do estudo e
esclarecia-se que em nenhuma hipótese seus nomes seriam divulgados e que os
dados serviriam para fins de pesquisa; acrescentava-se ainda que não se tratava de
prova e o resultado, portanto, não traria qualquer implicação positiva ou negativa em sua
21 ó João dos S. Carmo, Rosana M . É. de Figueiredo, Melissa R Nogueira, Lívia de O . Cunha, Paula V Souza
de Araújo, M arillac C. Fenranti,
vida escolar. Em relação à palavra ansiedade era dito aos participantes que podiam
entendê-la como nervosismo ou tensão.
Os participantes eram instruídos a preencherem individualmente a escala, sendo
que qualquer dúvida deveria ser encaminhada a um dos pesquisadores. Antes do
preenchimento, ressaltava-se a instrução inicial que era: para cada item escolha uma e
somente uma opção (nesse momento as opções eram lidas, em voz alta e pausada,
por um dos pesquisadores).
Após devolver a escala preenchida, cada participante aguardava até que um
dos pesquisadores fizesse a inspeção visual a fim de verificar se todos os itens haviam
sido preenchidos corretamente. Caso o pesquisador detectasse alguma falha no
preenchimento (escolha de mais de uma opção por item; itens em branco), o participante
recebia a folha de volta a fim de proceder à correção, sendo liberado em seguida.
Mesmo com esses cuidados, caso houvesse alguma folha com preenchimento
inadequado, esta era imediatamente descartada na fase de análise dos dados.
Resultados e Discussão
Os dados apresentados a seguir são comparativos por série e por escola. Na
Figura 2 pode-se constatar que a 6a série, tanto na escola particular CA quanto na escola
pública MN, apresenta predominância de ansiedade quando comparada às demais
séries. Embora a escola PM não tenha fornecido alunos da 6a série, pode-se verificar
que essa ausência não interferiu nos resultados. Nossa hipótese inicial era que um
padrão de ansiedade mais intenso seria encontrado na 5a série em função das mudanças
acentuadas na quantidade de disciplinas e de professores, gerando um acúmulo de
atividades e, ao mesmo tempo, exigência de adaptação a novos esquemas, o que
poderia acarretar maior dificuldade na aprendizagem de algumas disciplinas
fundamentais; ou ainda na 8a série em função da passagem para outro nível de ensino
e, consequentemente, maior cobrança em torno de um alto desempenho. Por outro
lado, a 6a série talvez exija alguns conteúdos mais complexos que as outras séries.
Evidentemente esta é uma questão a ser investigada.
a 4,0 T—
Media CA MN PM
Escola
FIGURA 2. Distribuição média de ansiedade, por escola e por série.
218 João dos S. Carmo, Rosana M . É. de Figueiredo, Melissa F, Nogueira, Lívia de O. Cunha, Paula V Souza
de Araújo, M arillacC. Ferranti,
A distribuição de relatos de muita ansiedade é bastante irregular por série,
conforme visto na Figura 5. Em Relação à escola particular CA, 5a e 8a séries apresentam
os maiores índices. Para a escola pública MN a 7a série de 2005 apresenta predominância
sobre as demais, porém em 2006 não há diferenças significativas entre 6a e 7a séries.
Já na escola pública PM, os mais altos índices de muita ansiedade são encontrados na
8a série.
3,6
3.5
3.5
3.4
3.4
3.3
3.3
3.2
3.2
3.1
3.1
3,0
5a 6a 7a 8a 5a 6a 7a 8a 5a 6a 7a 8a 5a
B
2006 2006 2006 2006 2005 2005 2005 2005 2006 2006 2006 2006 2006 2006 2000
CA CA CA CA MN MN MN MN MN MN MN MN PM PM PM
2.7
2.7
2,6
2,6
2.5
2.5
2.4
2.4
6a 7a 8a 5a 7a 5a 6a 7a 8a 5a 7a
2006 2006 2006 2005 2005 2006 2006 2006 2006 2006 2006
CA CA CA MN MN MN MN MN MN PM PM
Referências
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