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e. Cognição
C7 ! / i s í ó r i a e os c /o a n ç o s, a s e le ç ã o p o r c o n s e y iie n c /c ts e m a ç ã o
(Jty a n iz a d a p o r J K a ria í i í a / t d a rS/loa J ira n d d o
r7 i/rnan(/a S t ío a T lra n d ã o
U e r a Jlte n e ie s d a t^iíoa
ESETec
Editores Associados
Sobre
Comportamento e
Cognição
Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental
Volume 11
Adélia Maria Santos Teixeira • Ana Lúcia Alcântara de Oliveira Ullan • Ana Lucia Cortegoso • Ana Lucla
Ivatiuk • Ana Paola Lopes Lubl * Ana Paula Vlezzer • Andróa Machado Vienna • Bernard Rangé • Carlos
Augusto de Medeiros • Carlos Eduardo Lopes • Claúdla Balvedl • Cynthla Borges de Moura • Edwlges
Ferreira de Mattos Silvares • Fabiane Cristina Cruz • Fernanda S. Brandão • Giovana Veloso Munhoz da
Rocha • Glsele Dellnskl • Ivan Gross • João Cláudio Todorov • João dos Santos Carmo * Jocelaine Martins da
Silveira • José Antônio Damásio Ablb • Julio Cósar Coelho de Rose • Laércla Abreu Vasconcelos • Lalz H. S.
Ferreira • Lfdla Natalia DobríanskyJ Weber • Lincoln da Silva Glmenes • Lucas Ferraz Córdova * Luciana Assi
de Lima • Luciana Rizo • Maly Delltti • Maria Cristina Antunes * Maria Éster Rodrigues • Marla Stella Coutinho
de Alcântara Gll • Marilza Mestre • Martina Rillo Otero • Maura Alves Nunes Gongora • Olga Mltsue Kubo •
Olivia Justen Brandenburg • Patricia Barbeiro de Moraes • Patrícia Cristina Novakl • Paul T. Andronls • Pedro
Bordinl Faleiros • Rachel Nunes da Cunha • Rachel Rodrigues Kerbauy • Regina Christina Wlelenska • Renata
Grossl * Silvio Paulo Botomó • Solange L. Machado • Sonia B. Meyer • Suely Sales Guimarães • Suzane
Schmldlln Lõhr • T. V. Joe Layng • Tatyana Elisan Bonamigo • Thiago P. de A. Sampaio • Wander C. M. P. da
Silva • Yara Kupersteln Ingberman • Yuristella Yano
ESETec
Editor«» Associados
2003
Copyright desta edição:
ESETec Kditores Associados, Santo André, 2003.
Todos os direitos reservados
540 p, 24cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
BIBLIOTECA
Apresentação ......................................................................................................... xi
Diretoria da ABPMC
Gestão 2002/2003
Seção I
Pesquisadores que
fizeram parte de
nossa história e suas
contribuições à
análise do
comportamento
Capítulo 1
O Legado de Fred S. Keller
Caro Fred,
So estivéssemos no século 18, eu poderia tor escrito uma dedicatória
que seria entendida por qualquer pessoa. Como não ó esso o caso, eu posso
apenas falar à deux (a dois). "Para F. S. Keller" significa "Obrigado por muitas
coisas" - no fim dos anos 20, pela única brisa de behaviorismo em Harvard -
nos anos 30, por nunca faltar com o apoio o por reforços muito necessários (o
que o leigo, coitado, podo apenas chamar de fé) - e nos 40, por mostrar como
uma ciência do comportamento pode ser ensinada. "Ciência e Comportamento
Humano" pôde ser escrito somente porque "Princípios de Psicologia" de Keller &
Schoenfeld foi publicado primeiro.
Um brindo aos anos 50 e 60!
Burrhus, fevereiro de 1953
A partir dessa primeira experiência, Keller nunca mais se separou dos brasileiros.
Há vários outros relatos de seu impacto no desenvolvimento da análise do comportamento
no Brasil, além dos já citados (Bori, 1996; Zanon & Bori, 1996; Guilhardi & Madi, 1996;
Pessotti, 1996; Zanon, 1996 a, 1996 b, 1997; Gorayeb, 1996; Kerbauy, 1996). A história,
a partir do convite feito por Carolina Bori para que ajudasse na criação do Departamento
de Psicologia da Universidade de Brasília, já foi contada diversas vezes, mas os relatos
de Keller têm um sabor especial. Sua autobiografia, infelizmente, ainda não foi publicada.
Temos disponíveis apenas os artigos publicados, a maioria preparados para conferências,
e centrados no Sistema Personalizado de Ensino (Keller, 1972,1974,1975,1996a, 1996b,
1996c, 1997b, 1997c).
Keller sempre foi um ponto de apoio de brasileiros nos Estados Unidos, come
çando com Maria Amélia, Maria Inês e Dora, que sairam do curso de graduação da USP
para o doutorado na Columbia University. Ao longo dos anos, deu apoio a vários outros que
por lá se aperfeiçoaram, como Antonio Bento Alves de Morais, Deisy das Graças de
Souza, Jorge Mendes de Oliveira Castro Neto, Júlio César de Rose, Olavo Galvão e Ra-
quel Nunes da Cunha.
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McMillan. (Trabalho original publicado em 1953.)
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Todorov, J. C. (1996). Goodbye teacher, good old friend. Journal o f the Experimental Analysis o f
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Zanon, C. M. L. C., & Bori, C. M. (1996). SBPC 1972: “Relato do Plano Brasilia” por Fred S. Keller.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 12, 191-192.
Capítulo 2
Contribuições de Jack Michael à Análise do
Comportamento
' A u rm lo v» u Inoitlrnável atunçAo d o D* Jack M k iw e l om nnviar ina tuxto iiâ o puhttcado *o tx o *e u poffll t>(oar*flu) « lrn)otòna « ( « l A n i k *
’ Dof mrtnmento d e P r o c s u o n Pm cotogto1*' Bátricos Irmtltuto d e PttcotoylH
professor de psicologia da Western Michigan
■
University (WMU), em Kalamazoo, Michigan,
USA.
Operações estabelecedoras
Uma das mais importantes contribuições de Jack Michael à Análise do Compor
tamento tem sido a sua preocupação constante com as questões conceituais e empíricas.
Nesse sentido, no início dos anos 80, Michael aborda o tópico de motivação, como opera
ções estabelecedoras, embora, considerado um tema relevante da psicologia, estava sen
do pouco estudado pelos analistas do comportamento.
Michael analisa os motivos que levaram os analistas do comportamento a não
enfatizarem o estudo das variáveis motivacionais como variáveis independentes, por
exemplo: 1) o desenvolvimento dos estudos sobre esquemas de reforçamento, cujo
reconhecimento de seu poder controlador do comportamento é enfatizado em detrimento
das variáveis motivacionais, pois quando descrevemos relações comportamentais a
história de reforçamento é priorizada, geralmente nesses estudos a privação (variável
motivacional - operação estabelecedora) é uma variável de contexto. Verificamos
diferenças imensas na freqüência de resposta geradas por diferentes esquemas de
reforçamento, os esquemas controlam mais poderosamente o comportamento do que o
níveí de privação; 2) o conceito de motivação com freqüência era introduzido como
explanações fictícias por meios dos termos como querer, necessidades e motivos, referindo-
se às causas do comportamento com uma explicação circular, por exemplo, quando falamos
do talento atlético de uma pessoa ou de sua habilidade artística. No que se refere às
necessidades, Michael chama a atenção para não igualar necessidades biológicas com
operações estabelecedoras. É verdade que muitas coisas que necessitamos biologicamente
náo evoca comportamento. Por exemplo, vitamina B - nós moremos devido a sua falta,
mas não mostraremos aumento do interesse em obter a vitamina; 3) o uso freqüente de
reforçadores condicionados (dinheiro, aprovação social), que em geral, estão relacionados
de modo indireto a alguma operação estabelecedora especifica. Os reforçadores
condicionados foram ferramentas importantes no desenvolvimento da área de modificação
do comportamento e há uma larga escalas deles que poderiam ser obtidos sem uma
operação estabelecedora.
O conceito de motivacional foi recuperado por Jack Michael (1982,1993) como
perspectiva conceituai e empírica, fundamentada na sistematização dos princípios da
análise do comportamento. Ao recuperar esta proposta para se estudar motivação,
Michael resgata o conceito de motivação como operações estabelecedoras proposto
por Keller e Schoenfeld (1950/1974), que as definiu como variáveis ambientais
antecedentes que exercem efeitos sobre o comportamento e sobre a eficácia do evento
reforçador. Michael teve o cuidado de enfatizar o tratamento dado por Skinner (1938,
1953) às variáveis motivacionais, como operações de privação, saciação e estimulação
aversiva. Com seu rigor histórico, Michael recuperou Millenson que, em1967, identificou a
variável motivacional como operações de impulsos (saciação e privação). Ele também nos
sugere para que a palavra estimulo seja reservada para descrever eventos ambientais que
afetam os organismos através de seus receptores.
A retomada do conceito de operações estabelecedoras por Michael é uma grande
contribuição à análise do comportamento, por incluir um tipo de variável motivacional apren
dida que não fora explicitamente identificada pelos tratamentos anteriores de Keller e
Schoenfeld, em 1950; Skinner, em 1938, e 1953 e Millenson, em 1967 (da Cunha, 1993,
1995, 2000). Essa variável motivacional aprendida ó caracterizada, por Michael, como
operações estabelecedoras condicionadas. Nesta perspectiva, “a contribuição de Michael
consiste em um novo instrumento conceituai e metodológico caracterizado como opera
ções estabelecedoras, especialmente as do tipo condicionadas [ou aprendidas]" (da Cu
nha, 1995),
Com o conceito de operações estabelecedoras, os analistas do comportamento
têm possibilidades de investigar o controle dessas variáveis motivacionais como varáveis
independentes, proporcionando, de certa forma, o resgate do tópico de motivação pela
análise do comportamento e hoje temos estabelecida uma grande tema de pesquisa.
Dada a relevância do conceito de operação estabelecedora e a relação com o
conceito de estímulo discriminativo, apresento a definição de Michael (1993) que a define
em termos dos seus dois mais importantes efeitos - ó um evento ambiental, operação
ou condição de estímulo que afeta o organismo pela alteração momentânea (a) da
efetividade reforçadora de outros eventos e b) da freqüência de ocorrência de
comportamento do repertório do organismo que ó relevante para aqueles eventos como
conseqüências. O primeiro efeito foi denominado de efeito estabelecedor do reforço e o
segundo, efeito evocativo. Por exemplo, privação de alimento é uma operação estabelecedora
que momentaneamente aumenta a) a efetividade do alimento com uma forma de
l ulHx:k.R C A MoPhoraon, A. (1986, May) ttM tkah^xbrnukwKhptQmorm prcxxKiunm,pttnmmton, m x ipointof vim/. Papor pruMmttmri NtthomooUnu
of Hm f wwfllti Conv«mt1nn nf lhe Association ftx BotmvKx Annlyiin, MttwmiMxi, Whi
to do depósito da moeda pode ser seguido pola lata de refrigerante. Mas, com relação à
moeda, a máquina ó uma operação estabelecedora, porque ela torna a moeda mais
importante, ou seja a máquina de venda torna a moeda uma conseqüência reforçadora
significativa para o comportamento de procurá-la na carteira. Michael enfatiza essa
distinção dizendo que as variáveis discriminativas estão relacionadas à disponibilidade
diferencial de uma forma efetiva de reforçamento dado um tipo particular de
comportamento, e as variáveis motivacionais estão relacionadas à efetividade do evento
reforçador.
A contribuição de Michael em estabelecer a relação entre as atividades empíricas
e aplicadas tem sido demonstrada em seus papéis de professor, orientador e pesquisador,
haja vista que a Western Michigan University deu-lhe o reconhecimento com três prêmios
por distinção ao ensino. Em seu Concepts and Principles of Behavior Analysis, publicada
pela Society for the Advancement of Behavior Analysis (SABA), 1993, há uma seção
dedicada a perspectiva comportamental do ensino universitário que reflete a sua própria
prática e experiência como professor, atestada por vários de seus alunos.
A seguir, apresento as publicações de Michael para auxiliar o leitor no
aprofundamento das questões estudas por ele estudadas. As referências assinaladas
com asteriscos foram, na perspectiva de Michael, mencionadas como as que exerceram
ou continuam exercendo influência sobre a área da Análise do Comportamento. Segundo
Michael, o artigo em co-autoria com Teodoro Ayllon, publicado em 1959, o último desta
lista de publicações, muito provavelmente foi o de maior impacto para a área.
Publicações
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Michael, J. (1996). In memorium: Fred S. Keller (1899-1996). The Behavior Analyst, 19, 3-5.
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Edited book: The reprinted edition of Principles o f Psychology by F. S. Koller and W. N. Schoenfeld.
The B. F. Skinner Foundation is reprinting out-of-print books by Skinner and other out-of-print
books that are important in behavior analysis. The first two reprintings were The Behavior of
Organisms and Verbal Behavior For each reprinting one of the members of the foundation
board takes responsibility for obtaining and editing two new forwards, and doing any other
editing and managing with respect to interactions with the printers. I was responsible for the
reprinting of the Kellor and Schoenfeld text, the third book in our series.
Michael, J., & Shafer, E. (1995). State notation for teaching about behavioral procedures. The
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bal bohavior: A further comparison The Analysis o f Verbal Behavior, 9, 1-17.
Michaol considera muito importante suas aulas, conferências e palestras, acreditando que
suas preleções tenham muito mais impacto do que seus trabalhos publicados. Como amos
tra dessas contribuições, apresento suas apresentações em público entre 1999 e 2001
Michael, J. (2001, October 4). Motivation from a Behavioral Perspective: What does it moan to want
something? Keynoto Address, 10th Annual Conference on Research and Applications related to
Developmental Disabilities, Sponsored by St. Amant Centre, Winnipeg, Manitoba, Canada.
Michael, J. (2001, Soptember 21). The Benefits o f Skinner's Analysis o f Verbal Behavior for
Children With Autism Invited Presentation at the annual conference of the Florida Association
for Behavior Analysis, Sarasota, FL.
Michael, J. (2001, August 10). Advanced topics in behavior analysis. 6 hour presentation at the National
Autism Conference and Pennsylvania Autism Institute, State College, PA.
Michael, J. (2001, May 27). Avoidance in Terms of Stimulus Transition, Response-produced Stimulus
changes, and Motivative Variables Part of a symposium titled The Avoidance Controversy, at the
annual conference of the Association for Behavior Analysis, New Orleans, LA.
Michael, J. (2001, May 27). The Elementary Verbal Operants. An invited tutorial at the annual conference
of the Association for Behavior Analysis, New Orleans, LA.
Michael, J. (2001, May 26). An Introduction to the Association for Behavior Analysis. This was a one-
hour welcome presentation, a part of tho 25th annual conference of the Association for Behavior
Analysis in Now Orleans, LA. This is the newcomer’s program, started by Scott Wood, and mo and
given every year at the beginning of the conference.
Michael, J. (2001, March 9). Why bohavior does not occur as we would like: "Cognitive Sins of Momory"
from a bohavioral perspective Invited addross at tho annual conference of the Behavior Analysis
Association of Michigan, Ypsilanti, Michigan.
Michael, J. (2001, February 5). Strokes of genius: Conceptual and practical breakthroughs in bohavior
analysis. Invited address presented at the annual conference of tho California Association for Bohavior
Analysis, San Francisco, California.
Michael, J. (2000, September 22). Forgetting and remomboring from a behavioral perspective.
Invitod addross presented at tho annual conference of tho Florida Association for Bohavior
Analysis, Daytona, Florida.
Michaol, J. (2000, September 21 ). Strokos of genius: Conceptual and practical broakthroughs in bohavior
analysis. Keynote address presented at the annual conforenco of tho Florida Association for Behavior
Analysis, Daytona, Florida.
Michael, J (2000, May 29). Teaching B. F. Skinner's writings. Panel discussion at tho annual conference
of tho Association for Behavior Analysis, Chicago, Illinois.
Michael, J. (2000, May 27). An Introduction to the Association for Behavior Analysis. This was a one-
hour welcome presentation, a part of the 25th annual conference of tho Association for Bohavior
Analysis in Chicago. This is the newcomer’s program, started by Scott Wood, and mo and given every
year at the beginning of tho conference.
Michael, J. (2000, March 9). Why behavior doos not occur as we would like: 'Cognitive Sins of Memory"
from a behavioral perspective. Invited address at the annual conference of the Bohavior Analysis
Association of Michigan, Ypsilanti, Michigan.
Michael, J. (2000, Fobruary 5). Strokes of genius: Conceptual and practical breakthroughs in behavior
analysis Invitod address presented at tho annual conference of tho California Association for Bohavior
Analysis, San Francisco, California
Michael, J. (1999, October 29). Strokes of Genius: Conceptual and Practical Breakthroughs in Bohavior
Analysis. Invited addross at tho annual conference of tho Bohavior Analysis Socioty of Illinois (BASIL).
Michael, J. (1999, September 23). Skinner's Analysis of Private Events-The Basis o f Radical
Bohaviorism Bonus Mastor Lecture presented at tho annual conference of the Florida Association for
Behavior Analysis, Tampa, FL.
Michaol, J. (1999, May 29). Reflections on Twenty-Five Yoars of ABA: Past, Present, and Future. Part
of a panel discussion at the annual conference of The Association for Behavior Analysis in Chicago.
Michael, J., Hixson, M., & Shafor, E. (1999, May 27). Language Research in Autism: Implications
for Our Understanding o f Verbal Behavior Fifty minutes invitod address at the annual conference
of Tho Association for Behavior Analysis in Chicago.
Michael, J. (1999, May 27). Scott Wood and I did a ono-hour welcome presentation, An Introduction
to the Association for Behavior Analysis This was a part of the 25th annual conference of the
Association for Bohavior Analysis in Chicago. This is the newcomer’s program, started by Scott
Wood, and given overy year at the beginning of the conference.
Michael, J. (1999, March 18) Distinguishing Between Discriminative and Learned Motivativo
Functions of Stimuli. Fifty minutes invited address presented at the annual conference of The
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Sobrr C'omportumcntoeCofjmv'Jo 33
= - Capítulo 3
Contribuições de Israel Qoldiamond para o
desenvolvimento da Análise do
Comportamento1
Quadro 1. Primeiro Conselho Editorial do Journal of Applied Behavior Analysis (1968: Vol. 1, No. 1)
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Capítulo 4
Contribuições de Donald Baer para a
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Seção II
Análise do
Comportamento:
contribuições para
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Capítulo 5
Behaviorismo Radical e Interpretação
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Capítulo 6
Itinerário para analisar comportamento
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Im o dnvfl tofjltlmur h HflrmaçAo dtt qtj« m m autor A a<MVfcx> ou anti toóritx) (irf SW nnw , 1060)
Conceitos dísposícionaís internos ao behaviorismo radical
Analisaremos, aqui, um dos principais conceitos do behaviorismo radical com o
intuito de provar que se trata de um conceito dísposícíonal e que, além disso, está
intimamente relacionado com muitos outros conceitos, principalmente mentais, trata-se
do repertório comportamental.
Sabe-se que o repertório não pode ser interpretado como um depósito de
comportamentos localizados no sujeito e - complementamos dizendo nem em qualquer
outro lugar; isso porque, se o repertório ó uma disposição, ele não pode ter localização,
pois isso ó uma característica das ocorrências. Mas, seguindo a análise, verifiquemos se
o repertório respeita as características das disposições. Parece ser evidente que o repertório
não pode ser uma ocorrência; dizer que alguém possui certo repertório ó o mesmo que
dizer que ele apresenta uma certa tendôncia, possibilidade, probabilidade ou disposição
para comportar-se de determinadas maneiras em certas situações - não é, portanto, dizer
que essa pessoa está fazendo algo, mas sim que ela tem a capacidade de fazer (verifica-
se, nesse ponto, a proximidade que há entre os conceitos de repertório comportamental
e conhecimento, basta lembrar que no livro About Behaviorism, o conceito de repertório
é tratado no capítulo 9 - "Knowing").
Uma vez que possuir determinado repertório é apresentar uma tendência ou pro
babilidade de comportar-se de determinada maneira, não é possível dizer que ele é causa
do comportamento, isso seria o mesmo que afirmar que a probabilidade de resposta é a
causa da ocorrência dessa resposta. Sendo assim, parece razoável interpretar o repertó
rio comportamental como um conceito disposicional. Vale ressaltar que ele é uma dispo
sição complexa e determinável - está em constante mudança e é atualizada por muitas
ocorrências (respostas) diferentes.
Conclusão
A aceitação da mente transcendente gera uma série de problemas que são extintos
quando passamos a aceitar a mente imanente. Podemos citar como exemplo já bem
conhecido a criação das dicotomias, público/privado, externo/interno, físico/mental, entre
outras. Ao passarmos a aceitar a existência da mente imanente dissolvemos todas essas
dicotomias que consideram comportamento e mente como coisas totalmente distintas.
A atividade mental é comportamento, e a mente, nesse caso, passa a ser
interpretada como uma disposição atualizada por respostas que podem manifestar-se
de modo público ou privado, mas em nenhum dos casos criamos uma diferença que
justifique a interpretação da mente como transcendente ao comportamento. Ao
assumirmos a mente imanente ao comportamento não estamos com isso proibindo todo
e qualquer uso dos termos público e privado, aberto e encoberto . Estamos apenas res
tringindo o uso desses adjetivos ás ocorrências e com isso tentando evitar um erro categorial
que tem como conseqüência a criação de uma mente transcendente; continuamos, as
sim, a aceitar que as respostas podem ser abertas ou encobertas (ou, como o próprio
Skinner emprega algumas vezes, públicas ou privadas), pois tratam-se de atualizações.
No entanto, a mente imanente ou a qualificação “mental" de alguns comportamentos,
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Capítulo 8
Avaliando a sessão de terapia: Questionário
e entrevistas pós-sessão
M a ly D elitti
Pontifícia Universidade C'atólica de SJo Paulo
n M .ily Pelilti
rações feitas sobre o uso de análise de interações verbais e da necessidade de desenvol
ver estratégias de avaliação de terapia comportamental, foram realizados dois estudos. O
objetivo foi investigar a utilização de três tipos de instrumentos para avaliação de sessões:
1) Questionário de Avaliação de Sessões - SEQ (Stiles 1980);
2) Entrevistas pós-sessão realizados com clientes e terapeutas - EPS;
3) Análise da interação verbal ocorrida entre a dupla terapeuta-cliente nas sessões ante
riores a aplicação da entrevista e do questionário.
Os objetivos do Estudo I são: verificar a validade da adaptação deste questionário
para os clientes e terapeutas comportamentais brasileiros e avaliar sessões especificas
de terapia com o questionário traduzido e com isto contribuir para o desenvolvimento de
metodologias e/ou técnicas de avaliação da prática clinica. As perguntas que se procurou
responder foram:
• Todas as sessões de terapia têm o mesmo impacto?
• A mesma sessão ó avaliada igualmente por clientes e terapeutas?
• Sessões avaliadas pela díade terapeuta-cliente como mais "leves” ou mais “tranquilas"
ou sessões consideradas mais "difíceis" se relacionam a mudanças comportamentais
específicas dos clientes?
Estas questões podem ser resumidas, na pergunta que parece ser mais relevan
te: quais recursos o terapeuta pode utilizar para identificar o impacto de uma sessão
específica sobre os comportamentos do cliente e sobre as mudanças comportamentais
subseqüentes destes?
No Estudo II, é feita a análise das entrevistas e dos resultados da 1a parte do Estudo
I (SEQ) e sua relação com a interação terapeuta-cliente, com o objetivo de desenvolver
estratégias de avaliação de sessões de terapia no contexto da relação terapeuta-cliente.
Estudo r 1
O Questionário foi traduzido e testou-se a fidedignidade da tradução.
Participaram 10 terapeutas comportamentais com média de 17 anos de experiên
cia e outros 10 terapeutas comportamentais com experiência média de 6 anos. Foram
avaliadas 60 sessões de terapia realizadas em consultórios particulares, com clientes de
ambos os sexos. Dois outros psicólogos participaram como juizes.
O Questionário de Avaliação de Sessões (Session Evaluation Questionnaire -
SEQ) proposto por Stiles (1980), tem duas partes.
Primeira parte: avalia a sessão e cada frase começa com a frase: "Esta sessão
foi...".
Segunda parte: avalia os sentimentos associados à mesma, e cada frase é inici
ada com "Neste momento eu me sinto...".
' Trabalho (xibllcado (min HttvtatM fVasikWM do Twapta ComportiirT»ntal o ('.ogntttv« (?003) NA* 4
Cada parte consiste de 11 pares de adjetivos que nomeiam diferentes emoções.
Foram avaliados dois fatores:
• profundidade - superficialidade, que parece descrever o processo da sessão;
• dificuldade - facilidade, que descreve os resultados da sessão sobre os estados inter
nos de clientes e terapeutas.
Foram comparadas as respostas dos clientes e dos terapeutas em relação à
mesma sessão para levantar dados consensuais quanto à qualidade de sessões.
O SEQ mensurou o impacto da sessão sobre o cliente e o terapeuta, segundo os
índices propostos.No trabalho de Stiles (1980) os resultados indicaram o tempo de expe
riência influiu nos resultados o que não se observou no presente trabalho. Isto é, a experi
ência do terapeuta não foi uma variável determinante.
Observou-se consistência entre este estudo e o de Stiles (1980) em relação à
primeira parte do Questionário, isto é, avaliação da qualidade da sessão. Percebeu-se
também os terapeutas têm mais facilidade de discriminação, o que pode decorrer da sua
prática clínica, supervisão e autoconhecimento (terapia pessoal). Além disso, deve-se
ressaltar que o questionário de Stiles não descreve comportamentos emitidos pelo cliente
ou pelo terapeuta, o que impede a identificação e análise de padrões funcionais.
Estudo II
A Psicologia, ao estudar o comportamento humano, observa os indivíduos ou faz
perguntas a eles. Entre os instrumentos de auto-relato em pesquisa empregam-se ques
tionários, escalas e entrevistas, entre outros, que são úteis para pesquisar a prática clíni
ca. Esses instrumentos podem ampliar o estudo de respostas encobertas, tanto em situ
ações nas quais os dados observáveis não estão disponíveis, quanto para a obtenção da
história de aprendizagem ou a aquisição de padrões de comportamento.
Enquanto instrumento de pesquisa, a entrevista é um tipo de interação verbal que
tem o objetivo de coletar informações. Usualmente, o entrevistador possui um roteiro ou
questões que orientam a coleta de dados.
Matarazzo, Wiens e Saslow (1972), realizaram uma série de estudos sobre com
portamento verbal em entrevista, relacionando variáveis como duração da fala do terapeuta,
do cliente e da interação, tempo de silêncio, verbalizações mínimas e interrupções. Estes
autores sugeriram que as medidas de tempo fossem combinadas com medidas de con
teúdo para que a terapia pudesse ser compreendida mais eficazmente.
Além destas variáveis em relação à clínica, existe a necessidade de pesquisar
outros aspectos para o entendimento do processo de terapia. Um destes aspectos é a
qualidade da interação terapeuta-cliente a partir da avaliação de cada membro da diade. A
inclusão de um terceiro observador daria maior objetividade a esta avaliação, mas incluiria
uma outra variável, aumentando a complexidade da situação.
A partir da proposta deste trabalho, que é desenvolver uma estratégia de avaliação
que possa ser usada por terapeutas em sua situação de consultório, foram utilizadas
entrevistas de avaliação, realizadas por observadores independentes, com cada membro
da diade. imediatamente após o término da sessão. Nestas entrevistas, procurou-se for
mular questões que aumentassem a probabilidade de se obter informações sobre compor
tamentos aprendidos na sessão, sua forma de aquisição e seus possíveis efeitos na
situação natural.
Para poder comparar os resultados obtidos neste estudo com as respostas ao
questionário de avaliação de sessões (SEQ) abordado no Estudo I, toda vez que foi reali
zada a entrevista pós-sessão, o cliente também respondeu ao SEQ, tendo sido alternada
a ordem de apresentação dos dois instrumentos.
No Estudo II, pretendeu-se também avaliar os eventos relacionados à mudança de
comportamentos, através da análise da interação e do controle recíproco de comporta
mentos da diade terapêutica, e relacionar estes eventos com a avaliação que cliente e
terapeuta fazem das sessões. Os dados foram obtidos a partir da metodologia proposta
por Kerbauy (1996), isto é analisando trechos das sessões imediatamente anteriores às
ocasiões em que foram aplicados os dois instrumentos: o questionário de avaliação de
sessão (SEQ) e as entrevistas pós-sessão (EPS).
Foram utilizadas categorias de respostas e para cada categoria foi colocado um
exemplo extraído da situação real. Deve-se ressaltar que uma verbalização pode conter
mais do uma função e. neste caso, esta foi analisada segundo cada uma de suas funções.
Método
Participantes
Participaram deste trabalho uma terapeuta (a própria autora), de orientação
behaviorista, com 20 anos de experiência clínica e um cliente adulto, do sexo masculino,
com 25 anos, identificado como N. (para garantir o anonimato), com curso colegial com
pleto. Sua queixa principal consistia em uma dificuldade de se expressar, o que o levava a
evitar ou adiar uma série de situações e lhe trazia muitas conseqüências negativas, como
perda de emprego, brigas com a namorada e com os pais.
O participante recebeu explicações sobre o caráter de sigilo da pesquisa e da
utilização dos dados, tendo concordado e assinado o Termo de Consentimento Informado
(ver modelo em Anexo 1).
Também participaram como entrevistadores dois psicólogos. Com o objetivo de mo
delar o comportamento dos entrevistadores e tomar menores as diferenças individuais quanto
ao comportamento verba) dos mesmos, estes foram treinados previamente polo pesquisador,
através de reforçamento diferencial e ensaio comportamental da situação de entrevista.
Outros dois psicólogos, que não haviam participado de nenhuma parte desta pes
quisa participaram como juizes para verificar a correspondência entre os conteúdos relata
dos nas entrevistas pós-sessão e os trechos encontrados nas sessões pelo pesquisador.
Equipamento
Foi utilizada uma câmara de vídeo VHS com tripé e um gravador de áudio (com
fitas K7) para registro das sessões e entrevistas pós-sessão.
Procedimonto
O atendimento foi realizado no Laboratório de Comportamento e Saúde do Depar
tamento de Psicologia Experimental da USP. As sessões foram gravadas em áudio e
vídeo e as fitas foram transcritas para análise posterior.
Com o objetivo de descrever os padrões de interação entre terapeuta e cliente e
as possíveis mudanças destes padrões, foram realizadas quatro entrevistas ao longo do
processo terapêutico. Para aumentar a probabilidade da amostra ser aleatória, as entre
vistas pós-sessão ocorreram de acordo com o seguinte esquema: imediatamente após a
1Msessão foi feita uma entrevista, depois, duas sessões ocorreram sem realização de
entrevistas pós-sessão. Após duas sessões realizadas sem entrevista posterior, foi reali
zado sorteio e em caso positivo, foi realizada nova entrevista. Em caso negativo, foi feito
um novo sorteio na sessão seguinte, até que o resultado fosse positivo e nova entrevista
fosse realizada. Neste dia, recomeçou o esquema de alternância de duas sessões e,
então, novo sorteio foi realizado.
Qualquer análise dos resultados deve levar em conta o fato do terapeuta ser um
participante diferenciado por estar envolvido com o estudo. Além disso, embora não sou
besse quando ocorreria uma entrevista pós-sessão, o terapeuta sabia quando não haveria
sorteio e, conseqüentemente, entrevista pós-sessão O cliente e o terapeuta foram entre
vistados por observadores independentes e treinados. A cada coleta de dados houve a
troca inter-entrevistadores. O esquema de entrevistas foi o seguinte:
1fl entrevista: - » entrevistador A com terapeuta.
- » entrevistador B com cliente.
2ã entrevista: - » entrevistador A com cliente
-> entrevistador B com terapeuta, e assim sucessivamente.
Em cada aplicação, os entrevistadores fizeram as seguintes questões ao terapeuta
e cliente:
1) o que você considerou mais importante na sessão? (isto ó, o que o cliente e o terapeuta
avaliaram como a variável e/ou procedimento mais relevante naquela sessão) e,
2) o que você (ou o seu cliente) pode levar para a vida? (ou seja, o que cada membro da
díade considerou que seria generalizado e utilizado pelo cliente em situação natural).
Estas entrevistas também foram gravadas em áudio e vídeo e em seguida trans
critas para análise. O terapeuta só teve acesso às respostas do cliente após o término de
todas as entrevistas. Sempre que foi realizada a entrevista pós-sessão, o cliente também
respondeu ao SEQ (Estudo I), tendo sido alternada a ordem de apresentação dos dois
instrumentos. Por exemplo, na 1fl vez, o cliente respondeu ao SEQ e depois fez a entrevis
ta, na 2a, fez a entrevista e em seguida respondeu ao SEQ e assim sucessivamente. Para
efeito de análise, os dados provenientes destas duas diferentes medidas foram relaciona
dos com os obtidos no registro da interação verbal cliente-terapeuta durante as sessões
de terapia.
O Quadro 2 resume a primeira parte do procedimento.
Quadro 2. Esquema de Coleta de Dados. (Os asteriscos indicam a ocasião em que houve
sorteio para determinar a ocorrência ou não de EPS e SEQ).
2* - •
3 - •
*4» EPS SEQ
5* - •
Ö* - -
V* - -
9* - *
10* * -
* 11» - -
• 12« - -
Resultados
1- Questionário de Avaliação de Sessões - SEQ (Stiles, 1980)
Baseando-se no estudo de Stiles (1980), os fatores valiosa, profunda, cheia e
especial compuseram o indice profundidade e os fatores tranqüila, fácil, agradável e
suave compuseram o índice dificuldade. Os dados obtidos com a 2* parte do questioná
rio de avaliação de sessões não foram considerados porque o objetivo desse trabalho não
inclui a análise detalhada de eventos encobertos.
Na Análise Fatorial foram derivados dois índices que seriam utilizados em todas
as análises posteriores: Dificuldade e Profundidade. O índice Profundidade é formado pela
média dos escores nos itens valiosa, profunda, cheia e especial. O índice Dificuldade é
formado pela média dos escores nos itens tranqüila, fácil, agradável e suave. Uma análise
de variância multivariada (MANOVA) levando em conta o papel e a experiência revelou um
efeito principal do fator papel (Pillai's Trace = 0.068, p < 0.05). Análises de variância
isoladas para cada um dos índices revelaram que essa diferença se deve principalmente a
diferenças entre clientes e terapeutas quando avaliam o a dificuldade da sessão [F(1,118)
= 8.122, p< 0.01].
A fim de podermos utilizar esses índices, foi feita uma estimativa da distribuição
dos escores dos dois índices, para terapeutas e clientes (Tabela 4). É importante notar
que essa distribuição está baseada na amostra deste estudo. Essa distribuição permite
situar a avaliação feita pelo terapeuta e pelo cliente no Estudo II, a partir da distribuição de
freqüência dos escores obtidos. Assim, entre os percentuais 25 e 75, temos 50% dos
escores. Essa transformação permite dizer que esses escores mais freqüentes represen
tam os valores mais próximos da módia e, portanto, podem ser considerados como avali
ações das sessões, feitas por terapeuta e cliente, como de dificuldade e profundidade
médias. As categorias extremas (nada difícil/ muito difícil, e nada profunda/ muito profun
da) são representadas por uma freqüência baixa de ocorrência (5%), o que significa que
apenas 5% da amostra apresentou escores muito altos ou muito baixos em relação à
avaliação das sessões, segundo os índices propostos. Destaca-se que essa distribuição
está baseada na amostra deste estudo.
Papal Indico
5 10 25 50 75 90 95
Percentis
Terapeuta 1,25 1,50 2,00 2,50 3,25 3,75 4,50
Profundidade .. . ... ... .
Cliente 1,00 1,25 1,50 2,00 ’ 2,75 3,50 4,75
Terapeuta 1,25 1,50 2,00 2,75 4,00 5,00 5,50
Dificuldade
Cliente i,õõ~ 1,25 XoF 2,75 ’ 3 50 5,00 5,50
• —— ► <4-— ► 4 ——► <4- — ► —► <- ► 4—
Categoria
Nada Pouco Baixa Média Alta Muito
Extr.
Tabela 6. índices de Profundidade e Dificuldade para Terapeuta (T) e Cliente (C) nas ses
sões avaliadas pelo SEQ.
T -Q U E S 2 53 2 4 17
T - INF 1 16 8 0 3
T -C O N S+ 0 16 7 0 5
T -R E G 0 3 0 1 0
T -SE N I 0 0 0 0 0
Na tabela 7, pode-se observar que a maioria das questões que o terapeuta faz são
seguidas de respostas que dão informações (53), sobre fatos ou eventos e algumas se
referem a sentimentos (17). Estes dados parecem indicar que as questões do terapeuta
buscavam investigar as respostas verbais do cliente e suas relações com as contingências,
mais que apenas a expressão de sentimentos. Esta observação corrobora a afirmação já
feita neste trabalho, que o terapeuta priorizou a instalação de respostas alternativas do
cliente em vez de enfatizar respostas verbais descritivas do sentimentos. Quando o terapeuta
dá informações, o cliente responde dando outras informações (16) ou liberando conseqüên
cia positiva (8), concordando ou elogiando a terapia. Por outro lado, quando o terapeuta
libera conseqüência positiva o cliente informa (16), libera também conseqüência positiva (7)
ou expressa sentimento (5). A categoria questionar regras do terapeuta ó seguida de res
postas de dar informações (3) ou de verbalizações sobre as regras enunciadas.
w m m íSM m Ê m m
C\7 T - QUES T * INF T - CONS* T-R E G T-SENT
C -Q U E S 2 0 0 0 0
C - INF 37 9 20 1 0
C - CONS+ 2 5 3 0 1
C -R E G 3 0 1 1 0
C -S E N T 14 6 5 0 0
Quando se analisa a relação entre as categorias de resposta do cliente e as
subseqüentes do terapeuta (Tabela 8) percebe-se que a maior ocorrência é da categoria
dar informações (67). Em seguida a estas respostas, o terapeuta faz novas questões (37),
para esclarecer ou aprofundar as informações, libera conseqüências positivas (20), elogi
ando ou concordando, dá informações (9) que procuram esclarecer o relato do cliente e,
em uma ocasião, analisa a regra enunciada por ele. A categoria questionar ocorre em
freqüência baixa (2 vezes: uma na 1a e uma na 13* sessão), se refere a pedidos de escla
recimento em relação a fatos ou conceitos explicados e são seguidas por novas questões
do terapeuta. Pode-se considerar que a baixa ocorrência destas respostas, pelo menos
nos trechos analisados neste trabalho, caracterizam o papel do cliente como falante ou
como aquele cujas respostas de fornecer informações são modeladas na terapia. Da
observação da tabela 8, pode-se notar ainda que quando o cliente libera conseqüência
positiva para o terapeuta este dá informação (5), libera conseqüência positiva (3) concor
dando com o cliente ou questiona o cliente (2), de modo geral, para facilitar a discrimina
ção do cliente quanto à própria mudança ou às relações entre suas respostas e as conse
qüências. Quando o cliente enuncia regra (5) o terapeuta faz questões para entender a
situação (3) discute o conteúdo da própria regra (1), ou libera conseqüência positiva (1) em
relação ao fato do cliente ter trazido uma boa situação para análise. A categoria de res
postas expressar sentimentos ocorre 16 vezes e ó seguida por questões (14) do terapeuta,
que procura traçar relações entre os sentimentos relatados pelo cliente, outras respostas
e/ou contingências relacionadas a eles. Outras respostas de expressão de sentimentos,
são seguidas por informações do terapeuta quanto ao conteúdo do que foi expresso ou a
relações contingênciais (6) ou de elogios e concordância do terapeuta (5).
Com o objetivo de relacionar os resultados dos dois estudos foi construída a figura
1, na qual em cada eixo estão os resultados de um estudo: no primeiro eixo estão a
freqüência de ocorrência das categorias de resposta (Estudo II) e no segundo eixo os
escores das respostas ao questionário (Estudo I).
■■TCO N S
■ H T IN F
t m iT R E G
■■TSENT
■■CSFN T
■ ■ IC IN F
M H CO NS+
CZUCQUES
CCaCREG
-• -T P R O F
-♦ -C P R O F
“ •-T D / F
C D IF
A Figura 1 mostra que a categoria C-INF foi a mais apresentada nas quatro ses
sões analisadas, com aparente tendência crescente nas três primeiras medidas e um
pequeno decréscimo na quarta. Em relação ao terapeuta, a categoria mais apresentada
foi a T-QUES, com decréscimo na freqüência na segunda sessão analisada e aumento na
terceira e quarta, inclusive em comparação com a primeira sessão.
A categoria C-SENT aparece com maior freqüência na primeira sessão analisada,
e parece decrescer nas seguintes (4a, 8a e 13a).
As categorias T-CONS+ e T-INF parecem apresentar uma tendência crescente
nas três primeiras sessões analisadas (1,4 e 8) e, na 13a sessão, um decréscimo, inclu
sive em comparação com a primeira sessão.
Em relação aos escores do Questionário de Avaliação de Sessões (SEQ), perce
be-se que na sessão 1, o grau de dificuldade e profundidade (4,5) apresentado pelo cliente
foi maior que o apresentado pelo terapeuta (2,25), enquanto que o grau de profundidade
apresentado pelo terapeuta (2,25) foi maior que o apresentado pelo cliente (1,75). Quanto
à dificuldade, nota-se que o cliente tende a avaliar as sessões analisadas sempre como
mais difíceis que o terapeuta, apesar de parecer considerar as sessões menos difíceis
com o passar do tempo (sessões 4 - 3,75,8 - 3,3 e 13 - 2,75), enquanto a avaliação do
terapeuta mantém-se aparentemente constante (2,25; 2,75; 2,75 e 2,25). Em relação à
profundidade, nas duas primeiras sessões analisadas, o terapeuta pareceu avaliar as
sessões como mais profundas que o cliente (sessão 1:2,75 - terapeuta e 1,75 - cliente;
sessão 2:2,25 - terapeuta e 1,25 - cliente). Na sessão 8 (3a avaliação), o cliente avalia a
sessão como mais profunda que o terapeuta (2,75 - cliente e 2,5 - terapeuta) e, parece
que o responsável por tal inversão é o cliente, pois o terapeuta, aparentemente, avalia a
profundidade das sessões analisadas de maneira semelhante (2,75; 2,25 e 2,5) enquanto
o cliente passa de uma avaliação nos valores de 1,75 e 1,25 nas sessões 1 e 4 para 2,75
na sessão 8 (3a avaliação). Na sessão treze, terapeuta e cliente têm critério de avaliação
de profundidade igual (2,25).
A entrevista pós sessão, EPS, mostra que o cliente expressou sentimento: “gos
tei de falar o que sinto” e relatou a aprendizagem de um conceito: "entender que a gente
não nasce assim e por isso pode mudar". O terapeuta relata o início de um bom relaciona
mento terapêutico e vínculo. Identifica respostas de esquiva do cliente e ressalta o início
do ensino do conceito de aprendizagem de acordo com as verbalizações do cliente. O
terapeuta e o cliente parecem ressaltar temas semelhantes dessa sessão na EPS.
Os trechos desta sessão, que o pesquisador e o juiz identificaram como conten
do os dados da entrevista pós sessão estão descritos a seguir.
Trecho 1
No primeiro trecho da sessão referente a esta EPS o terapeuta investiga (13 T-
QUES, 15 T-QUES) os antecedentes familiares e solicita a descrição do comportamento
(17 T-QUES). Quando o terapeuta procura investigar os encobertos do cliente (19 T-QUES),
este responde (20 C-INF) expondo a opinião de sua mãe. Na verbalização rV121 (21 T-
QUES) o terapeuta faz uma pergunta (“e você, o que acha?”) que pareceu ter a função de
mudar o foco da terapia para o cliente, o que ele pensa e fala de seu comportamento. O
cliente diz que acha a mesma coisa que a mãe (22 C-INF) e a partir da verbalização 23, o
terapeuta passa a investigar as respostas abertas (23 T-QUES) e encobertas (27 T-QUES)
relacionadas ao padrão de esquiva e adiamento do cliente.
13 T-QUES- "Sua mãe está no H.C. Porquô?"
14 C-SENT - "Tô procurando me conhecer para não ficar como minha mãe que
teve que tomar remédios".
15 T-QUES - "O que sua mãe ieve?"
16 C-SENT - “Depressão... e ela achou que eu tinha este meu jeito de ser era
melhor eu fazer tratamento para não ficar como ela”.
17 T-QUES - "E como ó este seu jeito de ser?”
18 C-SENT- “Não tenho confiança em mim... fico com medo... acho que vou errar
no trabalho...".
19 T-QUES-"Você duvida da sua capacidade? É isso?"
20 C-INF - “ó, minha mãe fala isto".
21 T-QUES - "e você, o que acha?"
22 C-INF - "é mais ou menos isso... Eu acho que é isso...."
23 T-QUES - "Você pode me dar um exemplo?"
Trecho 2
Da verbalização 27 a 34, terapeuta e cliente estão envolvidos na análise do padrão
de comportamento do cliente. O terapeuta questiona (27 T-QUES), levanta alguns possíveis
padrões de resposta encoberta (29 T-QUES), e após suas perguntas (31 e 33 T-QUES) e o
cliente responde e dá informações (30,32 e 34 C-INF) que indicam que o cliente discrimina
que seu problema está na antecipação e maximização das conseqüências de seu possível
comportamento, como vemos na transcrição a seguir. Além disso pode-se concluir que o
período anterior à emissão da resposta é mais difícil, o que ó indicativo de um possível
controle por regras, como costuma ocorrer em repertórios de fuga / esquiva.
27 T: E o que você fica pensando?.
28 C: Eu fico com medo de errar... alguma coisa .... de fazer, de atrapalhar o
serviço dos outros.
29 T: E se errar, o que aconteceria? O que você pensa, você leva bronca..., atra
palha o serviço do outro o que mais?
30 C: Eu não..., eu não sentia nenhum nó assim, é mais insegurança de errar...
31 T: E daí você acaba fazendo ou acaba não fazendo?
32 C: Acabei fazendo, é sempre assim..., e depois que eu vou..., depois de um
tempo assim eu me habituo, e eu acho que era besteira do que eu tava com medo...
33 T: Então, quer dizer antes, o período do antes que é o difícil?
34 C: E depois quando eu começo que eu vejo, que dá certo, faço... posso errar
uma coisinha, mas é uma coisa normal.
Trecho 3
No próximo trecho, o terapeuta (59 T-INF) associa dois estímulos verbais “age” e
"comportamento" e o cliente responde expressando sentimento de medo (60 C-SENT). O
terapeuta continua a investigar e procura definir o sentimento de medo do cliente (61 T-
QUES; 63 T-QUES).
Na verbalização 65 o terapeuta questiona (65 T-QUES) o momento de início deste
medo (começou desde criança ou mais tarde). O terapeuta coleta informações sobre a
aquisição dos padrões de resposta do cliente e das possíveis conseqüências dos mesmos.
59 T-INF - "... então desde quando você age deste jeito ou tem este comporta
mento?"
60 C-SENT - "... eu tinha medo das coisas... eu tenho medo, agora eu melhorei
bem, antes era pior..."
61 T-QUES - "Medo de que?"
62 C-SENT - “ eu tenho medo de uma coisa no geral... tenho medo de não dar
certo..."
63 T-QUES - “De não dar certo?"
64 C-INF - "é, disso aí...M
65 T-QUES - "Desde criança ou começou depois?”
Trecho 4
O terapeuta libera conseqüências positivas (69 T-CONS+ T-QUES) enfatizando a
importância da utilização do termo comportamento e investiga o padrão de comportamen
to do pai como modelo. O cliente descreve (70 C-INF) o padrão do pai, comparando com
o da mãe, salientando que a mãe sempre antecipa conseqüências aversivas.
A pergunta do terapeuta (71 T-QUES) parece facilitar a discriminação pelo cliente
acerca das conseqüências diferentes dos padrões de comportamento do pai e da mãe. O
cliente relata que o padrão do pai tem conseqüências positivas (72 C-INF) encobertas:
"sofre menos, não tem preocupação."
68 C-INF - "minha mãe também é assim... Não sei se este meu lado tem a ver
com o comportamento dela".
69 T-CONS+ T-QUES - "Gostei de ouvir comportamento, porque; é uma palavra
que usamos muito em terapia e significa tudo que a gente faz e também o que a gente
pensa. Como é o comportamento do seu pai"?
70 C-INF - "Meu pai é mais tranqüilo, pensa positivo, minha mãe sempre pensa
o pior".
71 T-QUES-"Cada um pensa e fala de um jeito... Qual jeito você acha melhor?"
72 C-INF - “Eu acho o do meu pai, né? Sofre menos, não tem preocupação..."
Trecho 5
Nas verbalizações seguintes, o terapeuta e o cliente analisam juntos qual foi o
modelo mais influente para ele (77 T-QUES e 78 C-INF) e, em seguida, o terapeuta (81 T-
INF) explica o conceito de aprendizagem mostrando que a mãe do cliente foi um modelo
mais influente e ao mesmo tempo elogia o cliente (83 T-QUES T-CONS+). O terapeuta
enfatiza que o conceito de aprendizagem é importante porque a situação de terapia pode
propiciar uma nova aprendizagem (85 T-INF). O cliente concorda, mostra-se animado com
a possibilidade de mudar e elogia o terapeuta (86 C-CONS+).
77 T-QUES -"... só que você tem mais a ver com a sua mãe..."
78 C-INF - "É, tenho mais a ver com minha mãe".
79 T-CONS+ - "Antes você falou uma coisa interessante: não sei se este compor
tamento tem a ver com minha mãe".
80 C-CONS+- "Isso mesmo".
81 T-INF - "Eu posso lhe dizer que somos hoje resultado da nossa vida. O comporta
mento é aprendido. Você acha melhor o jeito do seu pai?"
82 C-INF - “é, acho que o jeito dele ó melhor, aliás, o comportamento dele é, né?"
83 T-CONS+ T-QUES-"Isso mesmo. Você entende. Mas parece que você apren
deu mais o jeito da sua mãe, não é?"
84 C-INF - “Penso que é coisa da minha mãe... Ela sempre, desde criança, ficava
preocupada... pensava sempre o pior".
85 T-INF - "Isso mesmo, e isto faz com que a terapia seja promissora porque o
que aprendeu, pode aprender diferente. Se aprendeu da mãe um jeito X, você pode, com a
terapia, aprender outro jeito que seja melhor pra você".
86 C-CONS+ - “Ta ótimo. Que bom que dá pra mudar isto. A senhora sabe que eu
estou gostando muito dessa nossa terapia?"
87 T-CONS+ T-SENT - “Ótimo, eu também estou gostando de atender você.
Bem, a idéia de aprendizagem e reaprendizagem é a base do trabalho. Agora me conta
mais da sua família..."
Trecho 6
A interação entre cliente e terapeuta enfoca o questionamento, por parte do
terapeuta (119 T-QUES) do relacionamento do cliente com a namorada. O cliente relata
sentimento de ciúme e brigas com a namorada (120 C-SENT, 122C QUES), o terapeuta
procura verificar se o problema do cliente (antecipação de Sav) também ocorre nesta
situação afetiva (121 T-QUES e 123 T-QUES). O cliente informa (124 C-INF) que com a
namorada não se verifica o padrão de antecipação.
119 T-QUES- “Como você se dá com ela?" (referindo-se á namorada).
120 C-SENT - "Eu me dou bem com ela... só tenho um pouco de ciúmes e brigo
bastante com ela por causa disto".
121 T-QUES -"... isto de antecipar, a idéia de que não vai dar certo, ficar inseguro
com ela, também acontece isso? Em relação a ela?”
122 C-QUES - “Em relação a ela?Se eu antecipo coisas também"?
123 T-QUES -"É . O ciúme ocorre por causa de seu comportamento de antecipar
coisas ruins?"
124 C-INF - “Alguma coisa que eu vou fazer e acho que vai dar errado? Não, com
ela não acontece isso não.."
Trecho 7
O terapeuta (141 T-QUES) faz uma pergunta e traça as relações entre a resposta
do cliente e as conseqüências ambientais. O cliente refere-se ao seu comportamento e
relata sentimento (142 C-SENT C-INF). O terapeuta libera conseqüência positiva (143 T-
CONS+), mostrando entender os sentimentos do cliente. Em seguida o terapeuta mostra
como existe relação entre a resposta do cliente e as conseqüências ambientais (147 T-
INF). Na verbalização seguinte (149 T-INF) o terapeuta dá informações teóricas sobre o
conceito de conseqüênciação e o cliente concorda (150 C-CONS+).
141 T-QUES - "Então você está me dando um exemplo de coisas, no caso, ae
meninas que você perdeu por estas dúvidas, por achar que não ia dar certo..."
142 C-SENT C-INF - "É, esse meu jeito de inferioridade, de que não ia conseguir,
sabe?"
143 T-CONS+ - "Ok! Entendi, acho que você percebeu bem um aspecto do seu
comportamento.
144 C-SENT C-INF - "Era meio tímido, por causa dessa insegurança que eu
tenho, achava que não ia conseguir e deixava quieto..."
145 T-CONS+ - "Pois ó, que chato, entendo como você se sentia".
146 C-INF - “Por causa desse meu jeito, sabe?"
147 T-INF - "Daí a gente percebe que a tua insegurança como você está chaman
do, tua timidez traz conseqüências e conseqüências ruins".
148 C-CONS+ - “É isto e por isso eu estou aqui".
149 T-INF - "Isso, para mudar isso, porque esta é uma lei da Psicologia, que os
comportamentos da gente têm conseqüência. Então a gente tem que perceber como vai
se comportar para que as conseqüências sejam as melhores possíveis para a gente".
150 C-CONS+ - "Lógico! Entendi bem isso".
Discussão
O objetivo desse trabalho foi analisar alguns instrumentos que o terapeuta pode
utilizar para avaliar o efeito de uma sessão específica sobre as respostas do cliente e
sobre as mudanças comportamentais subseqüentes. Procurou-se também investigar al
gumas variáveis que atuam na interação verbal que ocorre entre terapeuta e cliente.
Os resultados de terapia costumam ser avaliados fazendo a comparação do re
pertório do cliente no inicio e no final do processo. Nesse estudo, propõe-se que a sessão
de terapia seja considerada o foco da análise, pois existem sessões que o terapeuta e/ou
cliente avaliam como mais relevantes, ou com especial importância para a mudança
comportamental. Foram analisados os comportamentos da dlade cliente terapeuta e o
controle recíproco, bem como a modelagem de um repertório verbal comum em sessões
avaliadas com dois instrumentos: o questionário de avaliação de sessões (SEQ - Stiles,
1980) e entrevistas pós-sessào (EPS). Elliot e Wexler (1994) analisando o impacto de
sessões específicas de terapia diferenciam entre o impacto que ocorre quando o cliente
percebe melhora de seu comportamento e o que decorre da relação terapêutica. Essa
escala, que é respondida pelo cliente após a sessão é composta de frases como, por
exemplo: "Definição de problemas para eu trabalhar: como resultado desta sessáo eu
agora tenho clareza do que necessito mudar em minha vida ou o que preciso discutir mais
na terapia, quais são os meus objetivos". Estes autores relacionam sua escala com o
trabalho de Stiles (1980) quanto à dimensão profundidade. Fica claro que essa escala é
uma junção das duas partes do SEQ, e poderia ser objeto de estudos posteriores.
A partir dos resultados desse trabalho, pode-se concluir que o Questionário de
Avaliação de Sessões - SEQ pode ser um instrumento útil para obtenção de informações
sobre como o cliente e o terapeuta avaliam a sessão, segundo os índices propostos,
profundidade e dificuldade. Além disso, parece claro que o terapeuta modelou o repertório
verbal do cliente, o que se percebe pela crescente similaridade das avaliações dos mes
mos. Na última aplicação, ambos apresentaram os mesmos índices. Entretanto, em rela
ção á segunda parte do SEQ, que se propõe a avaliar o impacto da sessão sobre encober
tos da dupla terapêutica, parece não ser possível afirmar que haja relação entre a sessão
e os encobertos do terapeuta e do cliente após a mesma. Esses encobertos podem estar,
e freqüentemente estão sob controle de outras variáveis, além das presentes na sessão
de terapia, tais como a história de aprendizagem e as contingências de manutenção.
Além disso, avaliações semânticas, como a realizada pelo questionário utilizado no Estu
do I não oferecem descrições de comportamentos abertos e/ou encobertos do cliente e do
terapeuta em sua interação verbal.
No Estudo II, foram realizadas entrevistas com os membros da diade terapêutica
com o objetivo de investigar quais variáveis ou aspectos da interação terapêutica estão
sendo consideradas mais relevantes para o cliente e para o terapeuta naquela sessão.
Deve-se notar que para a utilização das entrevistas deve-se tomar alguns cuidados. O
primeiro diz respeito à escolha das perguntas, que dependem do objetivo da pesquisa,
mas não devem ser genéricas ou abertas se o objetivo é obter dados passíveis de siste
matização e avaliação. No presente trabalho, as questões das entrevistas eram destina
das a verificar quais aspectos daquela sessão específica eram considerados mais rele
vantes pelo cliente e pelo terapeuta, e quais comportamentos eram generalizados para a
situação natural.
Outro cuidado refere-se ao treino dos entrevistadores, que devem emitir respostas
verbais semelhantes, e se comportar com a máxima neutralidade para não interferir nas
respostas verbais dos participantes. Para este estudo tomou-se o cuidado de treinar os
entrevistadores para aumentar a probabilidade que ambos utilizassem as mesmas
verbalizações e não reforçassem diferencialmente as respostas dos entrevistados. Po
rém, não se pode afirmar que, pelas características pessoais e comportamentais dos
entrevistadores, não tenha havido reforçamento diferencial. Tomou-se o cuidado de revezar
os entrevistadores.
A sessão de terapia è uma situação onde "ocorre uma grande quantidade de
modelagem mútua em confrontos face a face" (Skinner, 1989,1995, p. 110). Na verdade, o
terapeuta poderia falar sobre o que acontece em seu trabalho citando Skinner (1947, p.
75-76):"... espero que isto ocorra com vocês como uma mudança em seu comportamento
verbal (...) Instalei alguns comportamentos novos em vocês. Vocês irão agora, espero
como um resultado de terem estado aqui, falar sobre comportamento... Construí em vocês
um repertório verbal...".
Ferster (1979) afirma que a terapia é um tipo de interação social que envolve o
controle recíproco do comportamento dos indivíduos envolvidos, e o "primeiro aspecto a
ser estudado consiste em saber como terapeuta e cliente alteram o comportamento um
do outro, no contexto da sessão de terapia". Esse autor também ressalta que outro as
pecto importante consiste em investigar se e como os comportamentos verbais que são
emitidos como resultado da terapia podem alterar os comportamentos emitidos em situa
ção natural. Ferster (1979) afirma ainda que a terapia possibilita que o cliente fale de seus
eventos internos e "à medida que o terapeuta torna-se um ouvinte há a possibilidade do
cliente observar os determinantes de seus comportamentos e de quais variáveis são fun
ção" (p.280).
A interação entre terapeuta e cliente é essencialmente verbal, e uma dificuldade
usualmente ressaltada por pesquisadores está em diferenciar o que está sendo verbalizado
do próprio comportamento verbal. O cliente, na sessão terapêutica, relata para o terapeuta
uma série de situações de sua vida. O comportamento verbal de descrever comportamen
tos emitidos em situação natural é usualmente seguido de reforçamento arbitrário. À me
dida que o cliente vai falando com o terapeuta, observa-se que ocorre uma modelagem do
repertório verbal do mesmo. Este aspecto pedagógico ou instrucional da terapia, ficou
evidente neste trabalho, o que se conclui a partir da observação das respostas ao SEQ e
as EPS, que indicam uma similaridade cada vez maior nas verbalizações dos participan
tes da dupla terapêutica. Ficou claro também que o terapeuta modelou e deu modelo de
comportamento verbal inclusive através do uso de registros escritos de comportamento.
Nas sessões de terapia analisadas neste trabalho, como na terapia de modo
geral, as verbalizações que o terapeuta e o cliente emitem constituem categorias de
respostas que se alternam constantemente dependendo do papel que cada um desempe
nha na interação. De fato, o desenvolvimento da terapia depende das interações dos reper
tórios de falante e de ouvinte (Skinner, 1957) do terapeuta e do cliente.
O terapeuta é, às vezes, o interlocutor ou falante questionando ou fornecendo
informações. Neste papel, suas verbalizações adquirem múltiplas funções em relação ao
cliente: fornece estímulos que criam condições para discriminação de contingências, ques
tiona regras, coleta informações sobre aprendizagem e as contingências que mantém o
repertório comportamental. Quando assume o papel de ouvinte, o terapeuta responde ao
cliente a partir de seu referencial teórico, das hipóteses que formulou e das contingências
da relação terapêutica. Por sua vez, o cliente também assume os papéis de falante e
ouvinte. Nesta situação fornece informações sobre fatos de sua história de aprendizagem,
suas respostas atuais e suas conseqüências, concorda ou não com o terapeuta, faz
questões sobre fatos ou propostas do mesmo. As respostas verbais do cliente dependem
de seu repertório comportamental, das contingências que atuam na situação natural e as
que decorrem da relação terapêutica. Com base nestas considerações, e a partir da ob
servação da Figura 1, percebe-se que nesse trabalho as respostas emitidas com maior
freqüência foram questionar (T-QUES) por parte do terapeuta e dar informações (C-INF)
por parte do cliente, o que é o esperado em terapia. A categoria de respostas expressar
sentimentos (T-SENT, C-SENT) dos dois membros da dupla terapêutica foi emitida com
baixa freqüência. Este resultado é coerente com a proposta da terapia comportamental,
onde a análise das contingências e a instalação e/ou ampliação de repertórios é, na
maioria das vezes, mais relevante que a análise de sentimentos ou, pelo menos, estão
juntas, pois os sentimentos são entendidos como decorrentes de situações
comportamentais. Observa-se, contudo que o cliente expressa seus sentimentos positi
vos em relação ao trabalho terapêutico e ao terapeuta em várias sessões. Embora esse
tipo de resposta verbal seja usual em sessões de clinica, parece que nas sessões anali
sadas o cliente as expressa com freqüência alta. Esta freqüência talvez possa ser explicada
pelo fato de o cliente ter iniciado a terapia em um momento em que tomava decisões
importantes em sua vida e porque o terapeuta especificava sua apreciação quanto ao
cliente estar se conhecendo, e fazia elogios descritivos de inúmeros comportamentos.
A análise das interações verbais nas diferentes sessões de terapia mostra tam
bém, que as intervenções do terapeuta criaram condições para que o cliente discriminas
se comportamentos mantidos por contingências e, portanto "inconscientes" (Skinner,1989,
1995; Zettle, 1990). Tais comportamentos, cujas condições de aquisição e manutenção
podem não ser discriminadas pelo indivíduo, são relatados na sessão. A partir das inter
venções do terapeuta, o cliente vai identificando as variáveis que controlam seus compor
tamentos, e adotando estratégias para aprender novos comportamentos que serão emiti
dos na situação natural. Quando o comportamento alternativo é emitido e as conseqüên
cias se alteram, o cliente volta a relatar na sessão o novo padrão. Existem, portanto, dois
padrões comportamentais com diferentes conseqüências, um ó o dizer para o terapeuta e
o outro ó o fazer ou emitir o comportamento na situação natural. A correspondência entre
o dizer e o fazer é objeto de estudo de muitos pesquisadores (Catania, 1998,1999; Hübner,
1997; Hübner e Dias, 2002). Paniagua (1990), estudando vários procedimentos sobre a
correspondência entre o dizer e o fazer, analisou vários experimentos com condições
diferentes de reforçamento: a) reforço para correspondência fazer - dizer, b) reforço da
correspondência dizer - fazer, c) reforço iniciado pelo dizer e d) reforço por comportamen
tos intermediários. Sua análise indica que o reforço da correspondência dizer - fazer foi
mais efetivo que o reforço da correspondência fazer - dizer e que o reforço do comporta
mento iniciado pelo dizer ou por comportamentos intermediários sempre foram superiores
aos outros procedimentos.
Entretanto, seria muito simplista entendera complexidade do que ocorre no pro
cesso terapêutico como um treino de verbalizações. Na verdade, a verbalização do cliente
na sua interação com o terapeuta pode e freqüentemente está sob controle de outras
variáveis estranhas à situação da sessão. Reforçar o comportamento verbal do cliente
durante a sessão e antes da situação de emissão do comportamento não-verbal corres
pondente, não ó suficiente para a sua manutenção. Muitas vezes, as verbalizações do
cliente estão sob controle aversivo e suas respostas verbais têm a função de fuga/esquiva.
Ou então são relatos que o cliente supõe que o terapeuta gostaria de ouvir, estando sob
controle do possível efeito reforçador da atenção do terapeuta. Parece, portanto, que na
situação terapêutica existe um terceiro elo na seqüência dizer - fazer. O cliente diz, a
partir da intervenção do terapeuta vai para a situação natural e emite o comportamento,
isto é, "faz" e entra em contato com novas contingências. Depois, o cliente volta a dizer
para o terapeuta, e esse relato verbal fica sob controle das contingências da sessão
terapêutica. A partir destes dados pode-se concluir que, na sessão, o terapeuta modela
um comportamento verbal, que aumenta a auto-observação do cliente e este, quando vai
para situação natural emite as categorias correspondentes de comportamento, as conse
qüências se alteram e este volta e relata ao terapeuta as novas contingências. O terapeuta,
por sua vez, libera conseqüências positivas para as novas verbalizações e o repertório do
cliente se amplia, o que ó um dos objetivos da terapia.
As pesquisas em terapia (Beck, Ward, Mendelson, Mocke Erbaugh, 1961), 1961,
Mintz e Kiesler, 1982) freqüentemente referem-se ao processo terapêutico como um todo,
e os resultados são avaliados a partir do conjunto de sessões. Entretanto, o instante em
que são tomadas as decisões do terapeuta, isto é, o momento da interação terapeuta-
cliente, também vem sendo objetivamente estudado nos últimos anos (Banaco, Kovac,
Zamignani, 1995; Margotto, 1998). Qual a melhor maneira de conduzir a sessão? É mais
importante enfocar as dimensões da relação terapêutica ou os problemas específicos
trazidos pelos clientes? Estas questões são importantes, mas dificilmente podem ser
respondidas objetivamente, pois dependem da história de vida do terapeuta e da relevân
cia da decisão escolhida naquele momento. Como temos salientado, com respaldo na
literatura, responder a estas questões exige pesquisa com metodologia adequada, que
pode envolver o registro em áudio e vídeo e posterior análise de sessões, a utilização de
questionários, descrições de sessões, lista de assuntos tratados, descrições e análise
de interações cliente terapeuta.
No 1o estudo deste trabalho, foi testado um questionário de avaliação de sessões
terapêuticas e os resultados indicaram que é útil sua utilização como um primeiro instru
mento de sondagem. Foram obtidos dados relevantes quanto á consistência interna deste
instrumento. Além disso, os terapeutas forneceram dados mais consistentes sobre seus
estados internos, o que pode indicar maior objetividade dos mesmos, em função de maior
treino discriminativo. Posquisas posteriores, quo analisem com maiores detalhes outras
variáveis da interação, ou que comparem diferentes terapeutas com o uso destes instru
mentos de avaliação, e sem os mesmos poderão fornecer dados mais precisos sobre o
impacto de uma determinada sessão sobre o processo de terapia.
O Estudo II propõe-se a desenvolver uma estratégia de avaliação de sessões
através do uso de entrevistas pós-sessáo (EPS), realizadas com o terapeuta e o cliente
após sessões específicas sorteadas como amostra. Neste trabalho, as entrevistas foram
realizadas por entrevistadores independentes, mas não se exclui a possibilidade do pró
prio terapeuta fazê-las, o que pode propiciar o desenvolvimento de uma estratégia mais
adequada á prática clínica. Neste caso, o terapeuta faria a entrevista (oral ou escrita) com
seus clientes e, em seguida, responderia às mesmas perguntas. Evidentemente, é preci
so atentar para o viés que representa o fato do terapeuta ser também participante. Entre
tanto, a vantagem prática do emprego destas entrevistas como um instrumento iniciaíde
avaliação de sessões, que o terapeuta pode utilizar em seu cotidiano de forma rápida e
razoavelmente simples parece justificar sua utilização.
Barker e cols. (1994), afirmam que a pesquisa auxilia no desenvolvimento da
clinica quando desenvolve e testa novos procedimentos e que a prática clinica pode levar
ao avanço das pesquisas porque fornece dados e um campo de aplicação de novas técni-
cas. Pode-se também ressaltar que a prática clínica enfatiza a complexidade do compor
tamento humano, contrapondo-se à tendência de algumas pesquisas que exigem um
maior controle metodológico em detrimento de estudar a complexidade do comportamen
to que ó emitido na situação clínica.
Pesquisadores brasileiros têm estudado as contingências da relação terapêutica
como uma das variáveis da prática clínica. Vários estudos vem sendo desenvolvidos atra
vés da análise do comportamento verbal do terapeuta, do cliente ou do supervisor, registrados
em áudio ou vídeo. Kerbauy (1980) afirma que embora a situação terapêutica não seja
controlada, nem livre de variáveis estranhas é necessário estudá-la objetivamente. Margotto
(1998), estudou as mudanças que ocorreram no curso da sessão terapêutica e os fatores
que determinaram a tomada de decisão do terapeuta e Silveira ( 1997), estudou a queixa
do cliente como condição para analisar a interação terapêutica. Wielesnka (1989) anali
sou as cadeias de verbalizações do terapeuta para estudar o processo de supervisão
clínica. Banaco (1993) estudou o impacto do cliente sobre o comportamento do terapeuta,
enfatizando que "comportamentos do tipo encoberto têm também sua parcela de determi
nação dos comportamentos expressos, tanto pelo cliente quanto pelo terapeuta, na ses
são clínica e, conseqüentemente, na qualidade do atendimento" (p.71 ).
Além das conclusões decorrentes dos dados obtidos, deve-se ressaltar os as
pectos positivos e as dificuldades que foram encontradas na execução do trabalho.Os
terapeutas, por estarem envolvidos na situação, freqüentemente têm dificuldade de discri
minar claramente a relação entre seus comportamentos e os resultados dos mesmos.
Neste estudo, as conseqüências positivas foram um refinamento do repertório de observa
ção e avaliação dos dados do terapeuta enquanto pesquisador, o que trouxe um aprimora
mento do seu repertório clinico. Por outro lado, deve-se lembrar que na análise dos dados
o fato do pesquisador - participante ser um observador diferenciado Por exemplo, já foi
discutido, que na análise da interação verbal durante a 8a sessão, o pesquisador ficou sob
controle de seu papel de terapeuta e fez perguntas que podem ter influído na entrevista
pós-sessão. Por conhecer os dias dos sorteios e ser autor do projeto, sua participação
não pode ser considerada isenta. Entretanto, na pesquisa em clínica, este fato não invali
da as conclusões decorrentes da análise dos dados.
Concluindo, ressalta-se que as pesquisas em clínica ainda que complexas, estão
sendo mais freqüentes. Um dos ganhos da pesquisa em terapia é a crescente sofistica
ção dos instrumentos de avaliação da intervenção e dos resultados da terapia. A tarefa
dos pesquisadores, em suas áreas de especialidade, é replicar e testar as medidas já
conhecidas e continuar a explorar as possibilidades de medidas novas. A troca constante
das duas áreas de conhecimento trará o crescimento e desenvolvimento da Análise do
Comportamento Aplicada aos problemas clínicos, com ganhos para a prática clínica e
para a formação dos novos pesquisadores e clínicos.
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Capítulo 9
Integridade do tratamento e satisfação do
consumidor na
clínica analítico-comportamental infantil
Laércia Abreu Vasconcelos
Universidade de liras/lia
' Vor tamtrtrn iinAllwm h|mihkkiIimIw por Okvokn (2002) «obro m oOtçM» do procaMO taMupAuttco ao discutir a utM/açio dn mtarprotaç&Mi pok> tnrapeuta
MlWtlitk» CIHTIfXMtaíTMHrtuI
se a utilização da análise funcional indicando as diferentes etapas do processo terapêutico
nas quais ela é aplicada (e.g., Cavalcante, 1999, Cone, 1997, Micheletto, 1995).
O terapeuta analítico-comportamental infantil tem diferentes procedimentos de
acompanhamento que são selecionados de acordo com a queixa apresentada e o grupo
familiar. Os critérios de seleção de procedimentos de intervenção tôm dois grandes objetivos
evitar que os custos excedam os benefícios, o que poderia contribuir para o abandono do
tratamento, e maximizar a integridade do tratamento. Portanto, o terapeuta pode atuar
diretamente junto à criança e o(s) responsável(eis) ou pode atuar diretamente junto à
criança com sessões mais espaçadas com seu(s) responsável(eis) ou, ainda, pode atuar
apenas junto ao(s) responsável(eis) pela criança.
A integridade do tratamento
A análise dos estudos publicados no Journal of Applied Behavior Analysis (JABA)
entre 1968 a 1990 mostra a necessidade de apresentação de descrições mais completas
dos procedimentos, de definições operacionais dos tratamentos e da utilização de medi
das de integridade para facilitar a história replicativa (Gresham, Gansle & Noell, 1993).
Uma revisão dos estudos publicados de 1968 a 1980 (Peterson, Homer & Wonderlich,
1982) constata o relato da integridade das intervenções em apenas 20%, em 108 dos 539
estudos e definição operacional da VI em 16% ou em 86 dos estudos. Resultados
semelhantes foram também obtidos posteriormente. Uma revisão de 1980 a 1990 de
Gresham, Gansle & Noell (1993) incluiu estudos que avaliaram o efeito do tratamento
sobre o comportamento na população de faixa etária menor do que 19 anos de idade. Os
autores utilizaram definições da VI em quatro dimensões: verbal (instruções e/ou
comentários do terapeuta), física (o terapeuta conduz a criança a uma atividade), espacial
(o local e suas específicidades, onde a criança desenvolverá suas atividades) e temporal
(a duração dos eventos). Se as informações apresentadas em um determinado estudo
permitissem replicação, então, a definição operacional foi considerada presente. O controle
da integridade do tratamento deveria estar presente em 100% das ocasiões durante uma
condição de tratamento, havendo monitoração dos eventos nas novas contingências
implementadas com a apresentação de índices numéricos da integridade.
Gresham, Gansle & Noell (1993) observaram que de um total de 158 estudos
somente 54, o que representa 34%, forneceram definição operacional da VI e, menos
ainda, 25 estudos, 15,8%, mediram sistematicamente e relataram os níveis de integridade
de 100% ou com uma média de 93,8%. A ausência de descrições completas das
manipulações da VI dificulta a atribuição das mudanças do comportamento ao tratamento,
o leitor não tem acesso às eventuais mudanças que podem ter sido implementadas, a
pequenos detalhes, por exemplo, algumas alterações na apresentação de um reforço que
podem ser fundamentais na replicação dos resultados obtidos.
Essa revisão de 1980 a 1990 mostrou também que os anos de 1982,1985 e 1988
foram aqueles que tiveram as maiores porcentagens de estudos que apresentaram
definições operacionais da V). Um interessante paralelo com esse dado é o momento
histórico em que a análise funcional passa a ser amplamente utilizada nos estudos
publicados no JABA, no início da década de 90. O período de 1968 a 2000 mostra um
salto de zero para 22 estudos que citaram o termo análise funcional, considerando que no
JABA o termo avaliação funcional não é utilizado (Dunlap & Kincaid, 2001). No início da
década de 90, observa-se também um significativo aumento do número de estudos publi
cados sobre o comportamento social disfuncional, comportamentos agressivos, por exemplo,
os quais utilizam procedimentos de reforçamento. Há uma tendência crescente da seleção
de procedimentos de reforçamento em oposição aos procedimentos baseados em punição
para os comportamentos de autodestrutivos e comportamentos agressivos (Pelios, Morren,
Tesch & Axelrod, 1999). Assim, o início da utilização marcante da abordagem funcional,
no final da década de 80, coincide também com o aumento de estudos de comportamentos
sociais.
Finalmente, ao considerar as áreas que se beneficiam da apresentação de altos
índices de integridade do tratamento é possível dizer que todos os contextos de aplicação
fazem parte deste conjunto. Na clínica infantil sabe-se das dificuldades de generalização
dos comportamentos sociais adaptativos para outros ambientes, após a retirada dos tra
tamentos, com crianças diagnosticadas com o Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade TDAH (e.g., Barkley, 1998; Vasconcelos, 2002). Entretanto, uma das per
guntas potencialmente importantes a ser respondida nesses estudos refere-se ao nível de
integridade dos tratamentos.
A consultoria comportamental, na visão analítico-comportamental é uma outra
área que ilustra a importância da integridade do tratamento. O consultor utiliza medidas
diretas e indiretas para avaliação da implementação do tratamento feita pelo consultante.
O treino para aplicação dos procedimentos de intervenção, feedbacks constantes, obser
vações aleatórias, freqüentes e breves do desempenho do consultante e uma avaliação
contínua dos dados monitorados ao longo de todo o processo são pontos fundamentais
que caracterizam a consultoria analítico-comportamental, os quais podem contribuir para
o obtenção de altos níveis de integridade do tratamento (Noell & Witt, 1997).
A clínica analítico-comportamental infantil, independente do procedimento
selecionado de intervenção é altamente beneficiada pela apresentação de altos índices de
integridade de seus tratamentos. Isso é verdade desde a estratégia de treinamento dos
pais, a qual tem uma extensa literatura de estudos publicados (e.g., Silvares & Marinho,
1998; Marinho, 2000), às estratégias que envolvam mais diretamente a criança ou a am
bos, crianças e seus responsáveis.
Portanto, a análise da integridade do tratamento, os aspectos teóricos, assim
como os aspectos metodológicos, as estratégias de coletas de dados, as medidas sensí
veis que possam resultar em estimativas confiáveis constituem-se um quadro relativamen
te incipiente de pesquisas. A análise dos estudos publicados no JABA desde a sua
fundação reflete a necessidade de maiores investimentos empíricos. Sugere-se iguais
tratamentos às variáveis dependentes e independentes no sentido de descrições comple
tas tanto dos comportamentos alvo a serem analisados quanto dos procedimentos
implementados (Gresham, Gansle & Noell, 1993). Finalmente, a integridade do tratamen
to é fundamental para os casos que envolvam questões legais, assim como para o avanço
de toda a ciência do comportamento.
A satisfação do consumidor
O segundo tema a ser abordado, a validade social dos tratamentos na clínica
analítico-comportamental, também mostra a necessidade de investimentos de pesquisas
e, sobretudo, de revisões conceituais. Os instrumentos de avaliação do comportamento
do consumidor precisam de aprimoramento. Em geral, os estudos têm utilizado questio
nários para avaliação das respostas do consumidor quanto ao tratamento recebido.
A validade social é analisada a partir de três pontos relativos ao processo
terapêutico: (1) a definição do problema ou dos objetivos, (2) os procedimentos de intervenção
selecionados e (3) os resultados obtidos. Analisa-se a significância social dos objetivos
da intervenção, a aceitabilidade dos procedimentos e a importância social dos efeitos
produzidos pela intervenção (Gresham & Lambros, 1997). A avaliação da significância
social dos objetivos é feita considerando os valores do cliente e quanto aqueles objetivos
são socialmente significantes ou triviais para ele. Entretanto, caso haja uma resposta
negativa ela não deve ser considerada como invalidade social mas, como um indicador de
desaprovação de alguns aspectos da intervenção (Baer, 1987, citado em Gresham &
Lambros, 1997).
Para Hawkins (1991), o que está sendo medido é a satisfação do consumidor,
a qual pode ser obtida por meio da opinião de uma segunda fonte, havendo assim, valida
ção social dos objetivos da intervenção. Porém, mais uma vez, a ausência de acordos
entre o terapeuta e o cliente não reflete, necessariamente, invalidade dos objetivos, proce
dimentos ou resultados. Hawkins propõe a substituição do termo validade social por vali
dade habilitativa definida como a extensão dos efeitos terapêuticos para outras áreas
na vida do cliente. É a maximização dos benefícios gerais e minimização dos custos tanto
para o indivíduo como para outras pessoas. A validade habilitativa refere-se a mudanças
em uma classe de respostas, as quais, por sua vez, influenciam positivamente outras
classes de respostas. Mas ainda resta a dificuldade de se estabelecer a validade dos
julgamentos do consumidor. Ao considerar a validade social dos procedimentos de inter
venção observa-se que a integridade da implementação de um tratamento pode se tornar
um índice da aceitabilidade social dos procedimentos. As crianças podem não receber as
melhores intervenções devido à insatisfação de pais e professores com os procedimentos
de tratamento. Os motivos para rejeição de intervenções legitimas podem variar desde a
falta de habilidades para a implementação do tratamonto à questões filosóficas. Finalmen
te, a validade habilitativa, por sua vez, pode tornar-se um índice da validade social dos
resultados obtidos de um tratamento.
Outros fatores também são propostos para a análise dos efeitos terapêuticos.
Fawcett (1991) sugere a classificação das mudanças de comportamento em
proximais, intermediárias e distais, em outras palavras, mudanças nos comportamentos
alvo, em comportamentos concomitantes ou efeitos positivos em comportamentos colaterais,
e mudanças a longo prazo em função dos efeitos anteriores, respectivamente. Além disso,
o desempenho da criança pode ser especificado em diferentes níveis, a saber, o deficiente,
o normativo e o ideal e qualquer mudança do nível deficiente em direção aos níveis superiores
poderia ser considerada socialmente importante. Kazdin (1977) apresenta três estratégias
de avaliação da importância social dos efeitos de uma intervenção. Ele propõe a
comparação social, as avaliações subjetivas e os procedimentos combinados. A
primeira estratégia de avaliação compara o comportamento da criança após a intervenção
com seus pares, a segunda, constitui-se em uma avaliação qualitativa dos objetivos,
procedimentos e resultados, e a estratégia de avaliação do tipo combinado é a soma de
critérios quantitativos e qualitativos da mudança do comportamento (Gresham & Lambros,
1997).
Foxall (2000) propõe um modelo de análise do comportamento do consumi-
dor baseado na história de aprendizagem do indivíduo e no ambiente no qual ocorre o
comportamento do consumidor. A história de aprendizagem determina os estímulos
discriminativos do comportamento corrente e os seus potenciais reforçadores e/ou punidores
(Skinner, 1982). Entre os reforçadores, estáo o reforçamento utilitário, relacionado aos
resultados práticos, a todos os benefícios mediados por um serviço, por exemplo. Um
segundo tipo de reforço ó o informacional, que ó simbólico, cultural, e é, em geral, media
do pelos comportamentos de outras pessoas, as quais apresentam feedbacks ao consu
midor, sinalizando a apropriação de seu comportamento. É a significância social do com
portamento do consumidor que ó mediada por outras pessoas, resultando em status soci
al, prestígio e aceitação. A aquisição e a manutenção do comportamento modelado por
contingências ocorro, em geral, por meio do reforçamento utilitário, enquanto o comporta
mento governado por regras ocorre por meio do reforçamento informacional.
Portanto, Foxall apresenta um modelo, com raízes no Behaviorismo Radical, que
considera categorias de contingências que resultam da combinação (1) da extensão do
ambiente no qual o comportamento do consumidor é emitido, o qual pode ser aberto ou
fechado, no sentido de controlar um padrão específico de comportamento, (2) do
reforçamento utilitário ser relativamente alto ou baixo e (3) do reforçamento informacional
ser relativamente alto ou baixo As categorias de contingências resumem padrões de
reforçamento que mantêm uma determinada resposta do consumidor em diferentes
situações. São tentativas de explicação do comportamento do consumidor que estão
sendo consideradas, respeitando-se os princípios do Behaviorismo Radical de evitar
teorização prematura (Foxall, 2000).
A satisfação do consumidor é um ponto complexo na clínica psicológica infantil.
Inicialmente, os direitos da criança devem ser assegurados. O terapeuta deve planejar
ocasiões nas quais a discussão dos direitos da criança será desenvolvida juntos ao(s)
responsável(eis) pela criança. Nessas ocasiões, é fundamental observar qual o conceito
de infância que a família adotou. É historicamente recente a mudança da visão da criança
baseada em compaixão-sogregação, inferioridado-subordinação para um sujeito pleno do
direitos (Mendez & Costa, 1994). A mudança do conceito de infância, o respeito pelos
direitos da criança e do adolescente têm sido gradualmente implementados, especialmente
a partir do Estatuto da Criança o do Adolescente. Mendez e Costa mostram que uma
mudança cultural da visão da criança depende de ações conjugadas de pelo menos três
grandes áreas: (1) políticas publicas, (2) ações sociais, por exemplo, organizações não
governamentais e centros de estudos voltados para a defesa dos direitos da infância, e (3)
o mundo jurídico-institucional.
A análise da satisfação do consumidor na clínica analítico-comportamental infantil
deverá considerar pelo menos duas fontes de informação, a criança e um responsável por
ela. O construto validade habilitativa ê útil ao mostrar os benefícios que a criança obteve
que repercutiram de forma positiva em seu desempenho em outras áreas. A análise dos
reforços utilitários e informacionais também poderão trazer informações sobre os benefícios
do serviço de atendimento psicológico e os feedbacks sociais recebidos pela criança,
respectivamente. A existência do reforçamento informacional apresenta o dado de
significância social dos objetivos, procedimentos e/ou resultados terapêuticos obtidos. A
análise dos benefícios resultantes do processo terapêutico para o responsável pela criança
completará o quadro do comportamento do consumidor. A relação terapeuta-responsável
pela criança também rosultará na modelagem de comportamentos destes adultos, poden
do maximizar as trocas positivas no meio familiar e em outros contextos. Assim, os
resultados do processo terapêutico ao considerar os comportamentos da criança serão
somados aos potenciais ganhos obtidos por um ou mais adultos envolvidos diretamente
no processo. É possível dizer que a abordagem funcional na clínica analítico-comportamental
tem uma função educativa. Os pais passam a utilizar esta forma de análise ao considerar
seus próprios comportamentos, assim como os comportamentos da criança. Havendo,
assim, a promoção de autoconhecimento por parte destes e a promoção de descrições
mais fidedignas dos comportamentos da criança sem a utilização de rótulos. Assim,
reforçadores utilitários e informacionais também poderão estar sendo contingentes aos
comportamentos dos adultos na clínica analítico-comportamental infantil.
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Capítulo 10
Tratamento padronizado e individualizado
YuristeUà Yano
i/s r
Sonia H. M eyer
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Capítulo 11
Adesão e mudança de comportamento:
Análise das interações verbais terapeuta-
cliente nas sessões iniciais
Regina Ch ris ti na Wielenska
n \ /s r
Prof* Pr*. Rache! Rodrigues Kerbauy
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t-Bte capitulo Lmnota m na trxui da (k&rtunKio (ta Rayitu» C W w tnnak* aproaoriCada a o I K J ü P M n M tw iiiw i) d« 2002, aot) orionürçAo da P ro P Dr* K a d m l
Nodrtgue« Ktxttauy o «ti a(rtiprt«lo rtw l/ado no m aw no ano. no XI hncontm da A B P M C , em L ondrtna. P urunA
influencia os comportamentos do cliente, dentro e fora da sessão? A interação terapêutica
parece ter múltiplas funções: é veículo para a coleta dos dados necessários à análise funci
onal e por meio dela ocorre a aplicação de um ou mais procedimentos. A análise de aspec
tos do relacionamento terapêutico, o reconhecimento de seus mecanismos de funciona
mento e a definição de seus efeitos sobre os participantes ampliaria a chance de sucesso
clínico e facilitaria a formação de terapeutas.
Discutindo o relacionamento terapeuta-cíiente: aígumas das contribuições
Ferster (1966, 1967, 1979) foi um dos primeiros analistas do comportamento a
desenvolver a análise funcional das intervenções psicoterapêuticas, partindo da observa
ção direta do trabalho clínico. No seu ponto de vista, as primeiras contribuições
comportamentais para o estudo das doenças mentais partiram de pesquisadores atuan
tes no laboratório animal que, depois, se interessaram por aplicar o conhecimento produ
zido aos problemas humanos. A capacidade de modificar o comportamento segundo os
princípios do condicionamento operante estabeleceria, para Ferster, a fronteira entre a
ciência natural e a prática clinica. Segundo ele, seria difícil estimar o quanto da terapia é
governado pela teoria ou pela interação e descoberta com o paciente.
Segundo Ferster, a vantagem da descrição comportamental seria tornar visível e
cientificamente comunicável (ao terapeuta) cada pequeno componente de uma interação
terapêutica complexa. Ferster também acrescenta que o enfoque comportamental recai
sobre um desempenho operante, uma classe de atividades definida pela alteração produ
zida no ambiente, o reforçador, o qual terá a capacidade de aumentar a probabilidade de
ocorrência desta resposta. O terapeuta atuaria de modo similar, facilitando a ocorrência
de um comportamento do cliente, que será mantido, no contexto natural, por conseqüên
cias não mediadas pelo terapeuta.
Ferster realizou estudos observacionais em situação natural (Ferster e Simmons,
1966; Ferster, Culbertson e Perrot-Boren, 1968/1978), demonstrando a existência de sutis
relações de controle reciproco entre uma terapeuta psicodinâmica, Jeanne Simmons, e
sua cliente, uma criança autista. A terapia seria uma interação na qual o reforçamento do
comportamento do terapeuta, derivado dos progressos no repertório da criança, seria tão
importante quanto os desempenhos da criança reforçados pelas contingências ou instruções
dispostas pelo próprio terapeuta.
Ferster destacou a importância co comportamento verbal na psicoterapia. Segundo
ele, caberia ao pesquisador identificar como o terapeuta e o cliente modificam o compor
tamento um do outro no exato momento da interação e explicar como os comportamentos
verbais que emergem da terapia seriam capazes de produzir melhoras nos problemas do
cliente.
Na terapia, o ouvinte faz um contraponto ao falante. Propriedades estáveis do
repertório do terapeuta forneceriam reações que sustentam e modelam a fala do cliente, a
qual reflete, em especial no início do tratamento, o controle exercido pelos ouvintes parti
cipantes de sua história passada. A reatividade diferencial do terapeuta, um ouvinte treina
do, teria a capacidade potencial de remediar partes do discurso do cliente. E o controle
estrito entre ouvinte e falante, a dupla paciente-terapeuta, cria uma situação na qual os
reforçadores são naturais, mantidos pelas propriedades estáveis dos repertórios de am
bos. O repertório inicial do paciente seria relativamente insensível às reações do terapeuta
por ser um operante negativamente reforçado, um comportamento verbal controlado pela
privação e pela estimulação aversiva. O contexto terapêutico protegido, criaria, segundo
Ferster, capacidades sociais que modificariam a interação do cliente com outras pesso
as, em vários contextos.
As análises funcionais do terapeuta sobre as interações ocorridas na sessão
ensinariam o paciente a identificar novas alternativas para seu comportamento fora do
consultório. A habilidade de amplificar contingências em vigor através do comportamento
verbal, seria, por fim, utilizada pelo paciente para formas públicas de seu comportamento
fora da sessão. Assim, ocorreria o aumento de sua capacidade de maximizar a freqüência
de reforçamento positivo e a redução do controle aversivo.
"O mesmo operante verbal contém muitas vorbalizações, cada uma das quais é
estruturalmente única. Todas as verbalizações que pertencem ao mesmo operante
verbal, a ele pertencem, em parto, porquo cada uma delas tem o mesmo efeito
sobre o ouvinte. (...) Tal como no caso de outros operantes, a segunda parto da
definição de um operante vorbal, além de seus efeitos, é o contexto em que ele
ocorre. Verbalizações estruturalmente semelhantes podem pertencer a operantes
verbais diferentes, dependendo do contexto. A variação no contexto pode modular
as variações estruturais do operante que provavelmente ocorrerão." (p. 152)
Procedimento
Encaminhamento para terapia: interessado em fazer terapia, R. buscava aten
dimento gratuito devido a limitações financeiras. Foi encaminhado ao Laboratório de Com
portamento e Saúde do IPUSP. A terapia foi oferecida sem ônus financeiro, em sessões
semanais, pelo tempo necessário, sob condição de que C aceitasse as normas
especificadas no termo de consentimento informado. Aceita a proposta, combinou-se
local e data da sessão inicial.
f In . I K e s n o s t / i s I C A f ln t u r u m i M M i M . o m i i l H i i ' ) d o ! «■ C. m s s^ ssô es 1 A
■ dionte
S° R C
C VERBALIZA X ------T REPRODUZ OU PARAFRASEIA TRECHO DE X ------ C
CONCORDA E DEMONSTRA ESTAR SOB CONTROLE DE T
T VERBALIZA X ----- C REPRODUZ OU PARAFRASEIA TRECHO DE X ------ T
CONCORDA E DEMONSTRA ESTAR SOB CONTROLE DE C
Pode-se inferir as seguintes conseqüências para respostas PR: o diálogo ganha
fluidez, demonstra-se ao interlocutor que se está atento às suas palavras e que há, de alguma
forma, entendimento ou concordância com suas idéias. Resumindo, a emissão de PR sinaliza
aos participantes haver um controle recíproco do comportamento verbal dos participantes.
T emitiu 43 respostas PR, para 33 respostas de C na sessão 1. As respostas de
ambos os participantes ocorreram uniformemente ao longo da sessão. A freqüência e a
distribuição uniforme sugerem que respostas PR já eram funcionais fora do contexto da
interação terapêutica para os dois participantes. Apenas teria ocorrido o reforçamento
recíproco, para manutenção na sessão, de respostas PR. Numa sessão inicial, PR é uma
resposta provável, que requer quase nenhum conhecimento prévio entre os participantes,
bastando o controle exercido pela interação verbal.
Respostas PR dos dois participantes ocorreram ao longo de toda a sessão 2,
com 18 T-C e 11 C-T. A redução nas freqüências apresentadas por TeC , comparadas à
sessão 1, provavelmente deve-se ao predomínio de outras respostas mais complexas,
que dependem do conhecimento prévio entre os participantes.
Na sessão 3, ocorreram 11 PR T-C e 17 PR C-T, enquanto que na sessão 4, T
emitiu apenas 5 PR, pois o predomínio de interações psicoeducacionais é menos compatível
com esta resposta. C emitiu 13PR, cujo efeito seria informar a T que está de acordo com
as propostas apresentadas.
wvnAo 1 j vssA o I vm A o 4
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MISSflO 1 MM/tO i
A figura 6 mostra que no total das 4 sessões, houve 155 ocorrências de FINS T-C
para 248 respostas FINS C-T. Estes resultados sinalizariam que T foi capaz de manter as
respostas FINS C-T, não restringindo verbalizações de conteúdo não previsto ou diferente
dos que havia escolhido. Por sua vez, C demonstrou manter as respostas FINS de T, por
meio de respostas de outras classes emitidas contingentemente às verbalizações de T.
Assim, manteve-se relativamente estável a freqüência de FINS T-C, como atesta a Figura 6.
Salienta-se que na sessão 4 , com o advento de progressos clínicos relatados a T, houve
oportunidade para C emitir FINS em freqüência bastante superior à das domais sessões.
■ UHDt
■ DKO C
Como se verifica pela Figura 8, a terapia teve início com baixas freqüências de
DRD, se comparadas a respostas de outras classes. Deve-se atentar que nas sessões 3
e 4 houve um aumento relativo das respostas DRD, sugerindo, talvez, o conforto dos
participantes em expor eventuais divergências de idéias.
Outros três eventos comportamentais foram acrescentados à análise de dados,
para identificar comportamentos dos participantes que mantivessem provável correlação
com os resultados iniciais da terapia. Embora não se caracterizem como respostas de
classes bem definidas, a decisão de incluí-los deveu-se à função inferida de cada um nas
sessões. Selecionou-se três tipos de eventos:
• eventos FVP T-C são as verbalizações de T sobre sua vida profissional que aumen
tariam a probabilidade de C reconhecer T como uma profissional qualificada para
conduzir o tratamento;
• eventos PM C-T são verbalizações de C sobre planos de mudança comportamental,
que informariam a T sobre a disponibilidade de C se engajar na terapia;
• eventos RM C-T são os relatos de C sobre mudanças de seu comportamento fora da
sessão, ocorridas, supostamente, sob efeito da terapia, os quais sugerem a T que
suas intervenções começaram a influenciar o funcionamento do cliente fora da sessão.
A seguir, as definições dos três eventos comportamentais escolhidos,
9. Terapeuta emite verbalização sobre sua formação, experiência clinica
ou outros aspectos de sua prática acadêmica ou profissional (FVP T-C)
FVP são as verbalizações de T, ocorridas na sessão, referentes à sua formação
acadêmica ou aspectos de sua prática profissional;
S° R C
(INESPECÍFICO) — T RELATA SOBRE FORMAÇÃO/EXPERIÊNCIA — C VALO
RIZA INTERVENÇÕES POSTERIORES DO TERAPEUTA
S" R C
(INESPECÍFICO) — C RELATA PLANO DE MUDANÇA — T DISCUTE O PLANO,
EXPRESSA APROVAÇÃO, SUGERE ALGO A MAIS, ETC.
A Figura 9 mostra que eventos FVP foram mais freqüentes nas sessões 1 e 3. Na
primeira sessão, T apresentou-se profissionalmente, o que explica as 12 ocorrências de
eventos FVP de T. Por outro lado, T fez menção a casos similares já atendidos
(estabelecendo um paralelo entre os casos tratados e o problema de C) e, com isso,
produziu os 14 eventos FVP na sessão 3.
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Discussão
Pesquisas de laboratório buscam o controle de variáveis ao planejar procedimentos.
E, dessa forma, retiram um fenômeno de seu contexto natural. Numa etapa seguinte,
essas variáveis são extrapoladas para a situação natural. É arrojado dizer que em terapia
comportamental se encontre, na própria sessão, a regularidade do laboratório. Transformar
a sessão terapêutica em uma sessão de pesquisa de laboratório, no caso específico,
seria um retorno às origens da terapia comportamental, quando seus iniciadores queriam
vê-la como atividade de pesquisa. Nesta perspectiva, a sessão terapêutica seria objeto da
análise e a identificação de seqüências verbais na sessão propiciaria verificar os padrões
de comportamento do terapeuta e cliente e os fatores de mudança. No presente estudo, a
construção de classes de respostas permitiu explicar a forma de trabalhar em terapia
comportamental e os mecanismos controladores da adesão ao tratamento e mudança.
Os resultados aqui obtidos poderiam esclarecer e remediar as falhas das intervenções e
facilitar ao terapeuta desenvolver tratamentos eficazes e dar pistas sobre como alterá-los,
de acordo com os princípios da aprendizagem e os comportamentos relatados e emitidos
pelo cliente na sessão. Esse ponto de vista é parte da proposta clínica, por exemplo, de
Kholenberg e Tsai (1991/2001). Em sua proposta de trabalho, o terapeuta precisa ser
capaz de responder apropriadamente aos comportamentos clinicamente relevantes do
cliente na sessão.
A habilidade clínica de responder ao cliente de modo apropriado precisaria ser
treinada e um procedimento de auto-monitoração das sessões como o que foi proposto
aqui pode ter valor para a formação de terapeutas. Programas de autocontrole foram ex
tensivamente adotados no combate de problemas clínicos diversos e se mostraram impor
tantes facilitadores da mudança (por exemplo, Kerbauy, já em 1972, discutiu amplamente
o papel da automonitoração para controle do comportamento alimentar). Registrar e ana
lisar o dado coletado tem um custo de resposta alto, mas isto resulta em descobertas que
compensam sua adoção, especialmente em supervisão, pesquisa clinica e formação de
terapeutas.
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Capítulo 12
Diferenciação entre a noção de significado
pelo uso e a baseada em relações de
equivalência
Visões comportamenlais de significação
"Quando os filósofos usam uma palavra - "saber", "ser", "objeto", "eu", "proposi
ção", "nome" - e procuram apreender a essência da coisa, deve-se sompre
perguntar: essa palavra é usada de fato desse modo na língua em que ela
existe?" (Wittgonstoin, 1953 pag.66)
Segundo Day (1969), Skinner, partilhando das idéias apresentadas por Wittgenstein,
se opõe a qualquer tentativa de abordar o problema da linguagem enquanto sistema de
representação do mundo. Ambos os autores não vêem a linguagem como algo especial,
mas sim aprendida e mantida como todo e qualquer comportamento no qual a análise
deve se ater sobre a conseqüência e ocasião em que este comportamento ocorre. Os
trechos a seguir exemplificam claramente como Wittgenstein e Skinner, respectivamente,
tratam a linguagem como comportamento:
Skinner (1957) afirma que "os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por
sua vez são modificados pelas conseqüências de sua ação" (pág. 15). Segundo Skinner,
no comportamento verbal, esta ação sobre o mundo ó realizada de forma indireta, onde
uma comunidade verbal, treinada a responder a estímulos verbais, ó a mediadora de con
seqüências ao falante. Skinner aborda o comportamento verbal enquanto respostas
operantes, ou seja, como função de contingências de reforçamento. Para Skinner, a no
ção de significado deve ser entendida dentro desta perspectiva, como a relação funcional
entre a resposta verbal e a contingência em que esta está inserida. Isto é, o significado de
palavras ou frases seria o conjunto de circunstâncias nas quais estas são emitidas e que,
pelo menos ocasionalmente, são reforçadas pela comunidade verbal. O significado então,
mantêm relação tanto com variáveis históricas de condicionamento, quanto com variáveis
mantenedoras atuais. “Uma resposta verbal significa algo no sentido de que o falante está
sob controle de circunstancias particulares" (Skinner, 1977, pag. 8). Skinner (1945), refe
rindo-se ao significado dos termos psicológicos, argumenta que:
"Os sons representados na ortografia inglosa como gato ou as marcas gato não
possuom significado em sl\ nem é possível colocar significado dontro delas,
para muni-las com significado. Como estímulos, auditivo ou visual, elas podem
ter um lugar na contingência de reforçamento, e como um resultado especial,
respostas podem vir a estar sob o seu controle emitidas por aqueles que as
escutam ou as lôem. Produzi-las sob certas circunstâncias ó também reforçado
de maneiras especiais. Como respostas, as circunstâncias que controlam a
sua aparição são o seu significado. Como estimulo, o seu significado ó o
comportamento sob o seu controle (Skinner, 1980 pag. 114).
"No caso mais simples, uma palavra vem a ser equivalente ao que ela "representa"
[stands for]. É por isso que as pessoas chamam de “símbolos” (...) eu não considero
"símbolo" uma explicação para nada, mas eu o considero como um nome para uma coisa
real, um fenômeno observado que exige explicação.
Está realmente incorreto falar sobre significado nestes casos? Deveríamos inventar
algum outro termo para substituí-lo? Eu acredito que o paradigma de equivalência demonstra
uma maneira em que símbolos vêm a ser estabelecidos como tal, um modo que palavras
podem vir a "significar” o que elas "representam" [stands for] (...) eu acredito que o fenômeno
é importante por si, e eu penso que eles sáo também “uma propriedade especial da
linguagem" no sentido que eles ajudam a fazer a linguagem tão poderosa quanto ela ó."
(Sidman, 1994. pag. 563).
Símbolos verbais e os objetos que estes representam seriam agrupados em clas
ses de equivalência, possibilitando a substituição de um estímulo por outro. Ou seja,
eventos (e.g., estímulos condicionais e discriminativos, respostas e conseqüências) que
fazem parte de uma mesma classe de equivalência poderiam trocar de função no controle
de um sobre o outro dentro de uma contingência de três ou mais termos. E é justamente
dentro dessas classes de equivalência que, segundo Sidman, o significado se encontra.
O indivíduo seria capaz de responder a um estímulo verbal não por este apresentar uma
função dentro de um determinado contexto, e sim por fazer parte da mesma classe do
objeto que este representa, respondendo ao estimulo verbal como se esse fosse o objeto.
Discussão
Apesar de ambas as noções de significado fazerem parte da tradição analítico
comportamental, diferem consideravelmente entre si. Para Skinner, o significado estaria
diretamente relacionado ao conceito de relação funcional, que norteia toda a sua explicação
acerca do comportamento, enquanto, para Sidman, o significado deveria ser entendido
dentro da noção de eventos equivalentes.
Aparentemente, a visão do significado com base em classes de equivalência
guarda mais semelhanças com a idéia de significado e referente apresentada por Mill,
pois a relação “A significa B" seria substituída sem maiores problemas pela relação "A é
equivalente a B". Aprender o significado não envolve aprender respostas verbais ou
comportamento de ouvinte discriminado, em outras palavras, aprender a se comportar, e
sim envolve formar relações de equivalência ou nome próprio entre palavras e seus referentes.
Uma vez estabelecidas estas relações, o indivíduo seria capaz de se comportar
simbolicamente utilizando as palavras no lugar dos seus referentes. Tanto para Sidman
quanto para Stuart Mill, o indivíduo só seria capaz de responder adequadamente a uma
palavra ou conjunto de palavras caso essa fizesse parte de uma relação direta com o
estímulo não-verbal. Portanto, a compreensão, para esses dois modos de encarar a signi
ficação, envolveria obrigatoriamente um responder simbólico. Esta noção contraria a con
cepção Skinneriana da compreensão enquanto mero responder discriminado.
O significado com base em Relações de Equivalência se distancia da proposta
Behaviorista Radical a partir do momento em que modifica a noção de funcionalidade do
comportamento verbal como apresentado por Skinner Ao devolver à palavra o status de
unidade de análise de significado, e de entidade portadora de significado em si, a noção
de significado baseado em relações de equivalência rompe com a abordagem Skinneriana
de significado. O abandono da distinção de estímulos e respostas dentro do contexto
simbólico das relações de equivalência atribui o significado à palavra independente da sua
função comportamental. Ao se falar em significado baseado em relações de equivalência,
se distancia da noção de função do comportamento verbal, já que o interesse passa a ser
o de verificar quais eventos partilham as mesmas classes de equivalência das palavras. E
ainda, ao se fazer referencia a eventos equivalentes para explicar o comportamento verbal,
a noção de funcionalidade perde sentido, ou seja, para se compreender uma resposta
verbal é necessário que ela faça parte de uma classe de equivalência (note-se aqui a
semelhança com a noção símbolo/referente) e não que ela apresente uma dada função
dentro de um determinado contexto. Tal noção de significado apresenta semelhanças
com visões estruturalistas da linguagem, algo que Skinner constantemente se preocupou
em negar.
Aparentemente, Mill e Sidman tomaram como base para as suas formulações
acerca da significação, a observação do comportamento de humanos já verbais. Este tipo
de população exibe uma grande incidência de comportamentos novos, induzindo a
conclusões acerca de um caráter complexo do comportamento verbal que não ó observado
quando este começa a ser adquirido por crianças pré-verbais. Além disso, sustenta a
concepção de que a linguagem ou o comportamento verbal exigem outras ferramentas de
análise (e.g., relações de equivalência) para serem explicados a contento. Contudo, uma
outra possibilidade seria a de que, para que os indivíduos passem a apresentar comporta
mentos novos, ó necessário que estes possuam uma grande experiência com o compor-
tamento verbal, que é adquirida quando são inseridos em sua comunidade verbal. Conse
qüentemente, os modelos de explicação dos comportamentos simbólicos gerados a partir
de observações de humanos verbais não são capazes de explicar como os indivíduos
aprendem a se comportar simbolicamente. A análise funcional do comportamento verbal
proposta por Skinner se preocupa principalmente com a aquisição do comportamento
verbal, sem deixar, contudo, de explicar comportamentos complexos com conceitos como
extensões do tato, extensões do mando, quadros autoclíticos, abstração, respostas
multicontroladas, entre outros. Neste sentido, a proposta Skinneriana parece ser mais
abrangente que as anteriores, e vários dos conceitos apresentados em seu livro sobre o
tema comportamento verbal ainda merecem receber uma investigação empírica mais
completa antes de se propor novas ferramentas de análise para lidar com a questão do
significado.
Referências
Mill, J. S. (1979). Sistema de lógica indutiva e dedutiva o outros textos. São Paulo; Abril Cultural.
(Trabalho original publicado em 1843.)
Ryle, G. (1957). Tho thoory of meaning In C. A Mace (Org), British Philosophs in tho Mid-Century
(pp. 239-264). Londres; George Allen & Unwin.
Sidman, M. (1971). Reading and auditory-visual equivalences. Journal o f Speech and Hearing
Research, 14, 4-13.
Sidman, M (1990). Equivalence relations: Where do they come from? In D. E. Blackman & J.
Lejeune (Eds.), Behavior analysis in theory and practice: Contributions and controversies (pp.
93-114). Hillsdalo, NJ: Lawronce Erlbaum Associates.
Sidman, M (1994). Equivalence Relations and Behavior: A research story. Boston, MA: Authors
Cooperative, Inc., Publishers.
Sidman, M., & Tailby, W. (1982). Conditional discrimination vs matching to sample: An expansion
of the testing paradigm. Journal o f the Experimental Analysis o f Bohavior, 37, 5-22.
Skinner, B. F. (1980). The meaning of meaning. In R. Epstein (Org.), Notebooks, B. F. Skinner (p.
114). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall.
Capítulo 13
Identificação de fatores relacionados à
oposição ao Behaviorismo Radical: Análise
do relato verbal de ex-analistas do
comportamento1
M aria fater Rodrigues
1/N/OhS 1h /í 'dmpus Cdsídvel'-PR.
Linguagem e terminologia
• Aspectos da linguagem da teoria em questão, bem como suas diferenças em relação
a linguagem de pares e da população em geral (Ex.: Deitz e Arrington, 1983; Hickey,
1994; Foxx, 1996; Banaco, 1997).
Discordâncias metodológicas
• Características metodológicas da produção de conhecimento da abordagem e de con
cepção de ciência (Ex.: Miraldo, 1985)
• Função social e aplicação do conhecimento produzido pelas pesquisas, incluindo aqui
a inserção dos membros em lutas democráticas e posicionamentos políticos em geral
(Ex.: Banaco, 1997, Carrara, 1998)
Outros
• Diferenças entre valores e princípios (Hickey, 1994 e Foxx, 1996),
• Modelo médico e doenças mentais (Hickey, 1994).
Mótodo
Foram cinco os Sujeitos entrevistados na pesquisa e os critérios para a escolha
dos mesmos foram: 1) Existência de produção/atuação acadêmica e profissional pautada
no Behaviorismo Radicaç/Análise do Comportamento, 2) Indicação de seus nomes a
partir da consulta a profissionais de referência na área (com produção atual ativa e
reconhecida pela comunidade, e que pudessem indicar indivíduos que já houvessem
tido formação e produção na área, com posterior modificação de sua orientação teórica),
3) Como critério adicional, em caso de dúvidas, seria realizada consulta à literatura,
procurando publicações do mesmo autor, pautadas em diferentes orientações teóricas,
em diferentes períodos.
O roteiro de entrevista foi elaborado com base na classificação de fatores de
oposição efetuada anteriormente a partir da revisão de literatura. Também incluímos
questões de caracterização dos Sujeitos, que levantassem informações sobre sua história
com a abordagem.
As entrevistas foram transcritas literalmente e o tratamento dos dados consistiu
em construir, inicialmente, uma Tabela de Fatores de Oposição para cada Sujeito,
onde listamos as classes e subclasses configuradas em prováveis fatores de oposição,
juntamente com todos os trechos da entrevista que trouxessem menção àqueles aspectos.
As Tabelas de Fatores de Oposição serviram à consecução de Roteiros Sintéticos
de Fatores para cada Sujeito, como passo preliminar à análise das entrevistas por
Sujeito. Com base nesses roteiros e nos trechos de fala dos Sujeitos contidos nas Tabelas
de Fatores de Oposição, efetuou-se a análise das entrevistas de cada Sujeito.
Após essa etapa procedeu-se à confecção de um Roteiro Sintético único,
englobando as informações contidas nos roteiros anteriores e, em seguida, a uma tabela
única com informações temáticas baseadas no roteiro de entrevista, incluindo informações
sobre características básicas de todos os Sujeitos. O Roteiro Sintético Único e Tabela
de características básicas dos 5 Sujeitos, deram subsídios (juntamente com as
informações incorporadas por todo o trabalho anterior da pesquisadora), para a análise
geral das entrevistas e conclusões.
A seguir, apresentaremos um resumo dos resultados por sujeito, algumas
conclusões e possíveis desdobramentos do trabalho.
Sujeito 1
O conjunto de informações oferecidas pelo Sujeito 1 permite levantar a hipótese
de que talvez nunca tenha se identificado total e completamente com o Behaviorismo,
pelo menos não com o Behaviorismo Radical skinneriano, e de não ter havido opção
anterior pela abordagem, uma vez que a teoria da Aprendizagem Social (um tipo de
Behaviorismo cognitivo) era a única abordagem ensinada mais aprofundadamente na sua
graduação, antes de sua formação subseqüente na Análise do Comportamento.
Algumas afirmações do Sujeito 1, como quando atribuiu um papel passivo ao sujei
to no Behaviorismo, poderiam ser interpretadas como equívocos, podendo ser classificadas
como rneias verdades, se tomadas descontextualizadamente, isto é, se olhadas sepa
radamente da apresentação dos pressupostos dos quais parte, diferenciados dos do
Behaviorismo (em concepção de homem, de comportamento e de determinação, por exem
plo). No entanto, um dos objetivos do trabalho foi justamente tentar desvendar quais são os
fatores geradores de discordâncias para com o Behaviorismo e quais são as premissas das
quais essas discordâncias partem, e aqui há indicadores que permitem mostrar que o Sujei
to 1 não está cometendo equívocos, porque seus pressupostos são diferentes dos do
Behaviorismo e de acordo com eles, suas afirmações sobre Behaviorismo são pertinentes.
Uma afirmação crítica sobre o Behaviorismo, ainda que descontextualizada, não pode ser
apenas descartada como equívoco sem uma maior reflexão sobre o tema.
A pressão do mercado de trabalho contra a pertinência de um Doutorado na área
Experimental, relatada pelo Sujeito 1, ainda que não tenha se constituído em fator fundamental
no rompimento com a abordagem, ó informação que permite refletir sobre o pequeno impacto
da abordagem behaviorista (conforme também apontado pelo Sujeito 2), e mesmo da
Psicologia Experimental, em trabalhos aplicados, especificamente o trabalho educacional.
Sujeito 2
Pelo conjunto de informações levantadas na entrevista com o Sujeito 2, podemos
resumidamente dizer que existem divergências básicas em relação ao Behaviorismo,
principalmente em fatores filosófico-epistemológicos, fatores metodológicos e em
concepção sobre forma de aplicação da teoria behaviorista.
Em relação aos fatores filosófico-epistemológicos, há divergências e
discordâncias em concepção de homem, de comportamento e de determinação humana.
O Sujeito 2 põe muita ênfase na subjetividade, como determinante humano e como
objeto de estudo. Concebe o homem constituído por e em processos subjetivos com
auto-propriedades inernas, ainda que existam fatores biológicos e sociais determinantes.
O homem seria, ainda, essencialmente atravessado por conflitos que o constituem,
estando longe do equilíbrio, sendo instável, conflituoso e contraditório. Não adere e nunca
aderiu ao Behaviorismo Radical como Filosofia da ciência do comportamento humano e
como Filosofia com raízes no Funcionalismo pragmatista americano.
Quanto aos fatores metodológicos, discorda quanto aos objetivos das ciências
humanas, no que se refere à criação de técnicas de intervenção. Diverge sobre o que
seria o objeto de estudo da Psicologia - para ele, a subjetividade - , além de divergir a
respeito da possibilidade da extensão das conclusões obtidas com animais em laboratório,
para o campo da linguagem e do comportamento humano (não continuidade interespócies).
Sobre aplicação da teoria e sua função social, ele tem discordâncias, antipatias e
criticas várias, entre elas, o que considera como pretensão do trabalho de Skinner, de
poder explicar tudo a que se propõe. Diverge sobre existirem influências sociais do traba
lho de Skinner/AEC e do Behaviorismo Radical em geral e em relação a uma suposta
pretensão do behaviorista de intervir como alguém à parte das contingências, com
possibilidade pensada de controle do comportamento humano. Considera o impacto social
do Behaviorismo muito pequeno e não crê que possa dar resposta a problemas humanos.
O conjunto das informações da presente entrevista permite afirmar que o Sujeito 2
possui um grande conhecimento de Behaviorismo Radical e de AEC. Todos os sujeitos
entrevistados possuem possibilidade reduzida de apresentarem equívocos sobre a
abordagem, mas as opiniões deste sujeito em especial, sobre o Behaviorismo, dificilmente
poderiam ser confundidas com equívocos, configurando-se claramente em discordâncias.
As críticas são contextualizadas, ou seja, quase sempre explicita com bastante clareza
quais são os pressupostos do Behaviorismo e os seus próprios, bem como a diferença
entre ambos em relação aos pontos em que existem divergências.
Sujeito 3
O Sujeito 3 apresenta um extenso rol de diferenças básicas, arroladas nas se
guintes categorias: fatores filosófico-epistemológicos; função social e aplicação do co
nhecimento: dificuldades em relação à comunidade behaviorista e fatores relacionados ao
público externo.
Concebe o homem como agente da própria história, livre e responsável por suas
próprias escolhas, e essa concepção permeia quase todas as diferenças teóricas
apontadas. Discorda do que considera ser uma visão de homem como reagente no
Behaviorismo, numa visão semelhante à do Sujeito 1. Vê uma diferença qualitativa
fundamental entre o homem e outros animais, e o Behaviorismo trataria do lado animal do
ser humano, lado em que, na opinião do Sujeito 3, existe uma continuidade interespócies.
Acredita em livre-arbítrio como possibilidade de escolhas (concepção possivelmente
proveniente de uma opção filosófica existencialista), embora não totalmente independento
de determinações.
Sobre determinação, divorge da ênfase na determinação externa no Behaviorismo,
que favoreceria a idéia de um homem passivo (reagente) e sem escolhas. Concebe a
linguagem (e não comportamento verbal), inserida na cultura, como um dos determinantes
(externo/interno) básicos do homem. Concebe o ambiente determinador no Behaviorismo
como controle por contingências imediatas, que não incluem contextos maiores como a
cultura, a linguagem (comportamento verbal) e biologia. Considera a possibilidade de existir
determinação por fatores internos em igual proporção aos externos, em contraposição à
visão de homem determinado exclusivamente por um ambiente externo no Behaviorismo.
A concepção de comportamento humano para o Sujeito 3 ó de uma conexão
entre sujeito e mundo. Não tem segurança sobre eventos internos serem comportamento
(para isso teria que modificar sua concepção não processual de comportamento) e critica
a teoria pela ausência de preocupação com eventos encobertos (segundo elo na
contingência tríplice). Discorda sobre possibilidade de previsibilidade de todos os aspectos
do comportamento, especialmente do comportamento humano, baseando-se em conceitos
como os de singularidade, complexidade e autodeterminação do comportamento, incom
patíveis com a previsão.
Considera o Behaviorismo uma abordagem excessivamente simples (como a lin
guagem formalizada da abordagem, contingência tríplice que possibilita estabelecer rela
ções que explicam o comportamento e o modelo empírico) em relação ao que ele conside
ra complexo (ampliação do pensamento, inclusão de uma multiplicidade variáveis e de dife
rentes conceitos teóricos etc.).
Diverge também em fatores metodológicos, em decorrência de sua concepção de
homem. O homem seria um objeto de estudo diferente dos demais em complexidade, variabi
lidade e como conseqüência, em previsibilidade. Não considera a metodologia das ciências
naturais apropriada para o estudo do homem e sua subjetividade, sendo apropriada apenas
para o estudo dos aspectos regulares animais.
Tem uma série de criticas em relação à forma de aplicação da teoria e do conheci
mento, no consultório, no ensino programado e no que julga ser a minimização do papel do
professor em Skinner. Chegou a declarar que a teoria favorece posicionamentos políticos mais
reacionários e até totalitários, muito embora tenha explicitado que o problema não é da teoria
e sim de sua má utilização. Elogia aplicações da Modificação do Comportamento em escolas,
especialmente as que atendem deficientes mentais.
Também critica a comunidade behaviorista em vários aspectos como o excesso de
rigidez, e a posse de um discurso considerado pouco abrangente e repetitivo. Considera o
grupo behaviorista de difícil relacionamento por desvalorizar e ter preconceito em relação a
pensamentos diferentes e divergentes; pelas lutas pelo poder na academia e pelo que consi
dera serem características de grupos minoritários: a presunção, a arrogância e o fechamento
do grupo. Relata ter presenciado maus usos da teoria na vida pessoal e profissional por parte
de pelo menos um colega e um professor.
Outros aspectos relacionados á comunidade behaviorista seriam a sua linguagem
excessivamente purista e a punição à utilização de palavras mentalistas numa quase nega
ção da subjetividade. Alôm disso, a linguagem behaviorista seria excessivamente técnica e
desconedada da linguagem das pessoas em geral, dificultando a própria divulgação da teoria.
Menciona algumas dificuldades com comunidade externa, envolvendo alunos e
principalmente colegas de outras abordagens, revelando que não era de bom tom ser
identificado como behaviorista na Psicologia em geral.
A exemplo do Sujeito 1, efetua algumas críticas ao Behaviorismo que também pode
riam ser classificadas como equívocos, á primeira vista. Um exemplo seria quando classifica
a concepção de homem para o Behaviorismo como reagente/passivo; ou quando circunscreve
as contingências analisadas pela teoria como imediatas. No entanto, assim como o Sujeito 1,
ele parte de pressupostos muito diferenciados dos do Behaviorismo ao efetuar tais críticas,
embora não defina com tanta clareza a diferença entre esses seus pressupostos e os do
Behaviorismo. A sua concepção de homem, por exemplo, é de fato muito diferenciada da
concepção behaviorista (incluindo elementos como escolha, liberdade, determinação, entre
outros); portanto, faz sentido que classifique o homem behaviorista como passivo dentro da
sua concepção, embora não faça sentido dentro da concepção behaviorista, que parte de
outras premissas, ou ainda, oferece outro significado aos mesmos termos.
Uma outra questão que se levanta, sobre a qual vale a pena refletir, é se de alguma
forma o clima intelectual e acadêmico que vivenciou não permitia de fato justificar esse tipo de
leitura, configurando-se em uma espécie de limitação da comunidade e/ou da teoria dentro de
um determinado momento.
Sujeito 4
O conjunto de informações permite-nos verificar que o Sujeito 4 tem principalmen
te e fundamentalmente divergências filosófico-epistemológicas em relação ao Behaviorismo
Radical que se configuram em identificação de lacunas sobre tomas de interesse cognitivo,
para os quais não encontrou suporte teórico satisfatório. Divide o funcionamento humano
em dois níveis, um animal e um humano, e o Behaviorismo trataria de questões relacionadas
ao lado animal. No lado especificamente humano, e esse é um ponto fundamental, o
Behaviorismo não responderia questões sobre pensamento e linguagem, evolução e
desenvolvimento do pensamento verbal. Também relata sua insatisfação com a não resposta
a questões sobre a relação entre pensamento/raciocínio e emergência do ato consciente
e pensamento lógico, bem como fenômenos cognitivos em geral. Limita a teoria behaviorista
à análise de funções elementares. Critica a equivalência de estímulos por se basear em
arranjos experimentais que apenas constatam a existência de pensamento lógico, mas
não explicam sua progressão ou emergência. Um terceiro ponto fundamental de divergência
para o Sujeito 4 é que, em sua opinião, o conceito de história não é incorporado pela teoria
do reforço e pelo Behaviorismo em geral.
Pelo relato possibilita levantar a hipótese de que os pontos a seguir também se
configurem em fatores de oposição à abordagem: diferenças metodológicas (abertura
quanto ao objeto de estudo da Psicologia, priorizando a consciência como de seu
interesse); divergências quanto à forma de aplicação da teoria e do conhecimento (críticas
à Modificação do Comportamento como a criação de situações muito artificiais na
pesquisa/intervenção, estendendo a crítica à aplicação de teorias em geral) e dificuldades
em relação à comunidade externa, mais especificamente, retaliação/demissão no trabalho
com a razão explícita de ser behaviorista (embora identifique perseguição politica -
ditadura militar - como razão implícita).
Refere-se também a algumas criticas padrão ao Behaviorismo, que denomina
panfletárias, diferenciando sua posição de posições que pretendem, por exemplo, associar
o Behaviorismo ao Positivismo e a posicionamentos políticos mais reacionários, num
autêntico exemplo de falácia, equívoco ou puro desconhecimento sobre a abordagem.
Sujeito 5
O Sujeito 5 possui predominantemente discordâncias teóricas para com o
Behaviorismo. Eíe difere em concepção de homem, que define como pró-ativo,
discordando do homem que ele pressupõe como reativo no Behaviorismo. Rejeita a
simplicidade da teoria behaviorista, definida como existência de poucos conceitos e pouca
organização teórica, bem como dos pressupostos filosóficos positivistas que, a seu ver,
embasariam os behaviorismos em geral, mais do que qualquer outra teoria psicológica.
Difere ainda em concepção de determinação. O homem seria autodeterminado e
a construção do conhecimento pelo homem faz parte de sua definição de sujeito. Discorda
do Behaviorismo Radical pelo suposto desprezo aos determinantes biológicos e psicológicos
do homem e negação da subjetividade/estados interiores.
Menciona ainda o afastamento excessivo em relação aos seus objetivos iniciais
em Psicologia que se traduziu em insatisfação com o contato com o subjetivo proporcio
nado pela abordagem behaviorista. Define o projeto epistemológico do Behaviorismo como
calcado na recusa/negação do psicológico e entendendo o psicológico como experiência
subjetiva e diferente de comportamento. Afirma que a frase de Skinner sobre a objeção do
Behaviorismo aos estados interiores como irrelevantes para uma análise funcional do com-
portamento, seria um aviso de que a ciência é uma construção arbitrária que escolhe o
que interessa, avisando o que não interessa ao caso específico do Behaviorismo Radical
(a subjetividade).
Tem restrições metodológicas advindas das divergências em concepções
epistemológicas (concepção de homem, comportamento, ciência e conhecimento). Discor
da em relação ao objeto de estudo da Psicologia que, para o Sujeito 5, seria a experiência
pessoal e a construção do significado, ao invés do comportamento. Diverge ainda em rela
ção a uma concepção de conhecimento cumulativo, concepção essa decorrente de uma
concepção positivista de ciência e de uma falta de visão histórica do homem, aspectos que
afirma existirem no Behaviorismo. Critica o Behaviorismo pelo objetivo de construir conheci
mento e intervir na realidade, o que equivaleria a pretender possuir o Olho de Deus (seme
lhante ao Sujeito 2 ao criticar a função social do Behaviorismo). A possibilidade de intervir na
realidade e sair mexendo no mundo e brincando de Deus foi também citada como um
aspecto anterior de adesão inicial à abordagem.
Em relação a outros fatores (aplicação social do conhecimento, comunidade in
terna), não apresenta nenhum ponto de divergência fundamental.
Poderíamos comentar, sobre o Sujeito 5, algo semelhante ao que comentamos em
relação aos sujeitos 1 e 3, a possibilidade de se confundir algumas de suas afirmações com
equívocos ao invés de discordâncias. Um exemplo seria a negação do subjetivo pelo
Behaviorismo. Ainda que o Behaviorismo negue algo em relação ao subjetivo, o sujeito não
explicita exatamente o que ó negado, dando a entender que o Behaviorismo negue e recuse
tudo, quando recusa a utilização dos fatores internos/subjetivos como fatores determinantes,
causais, explicativos do comportamento aberto. A subjetividade no Behaviorismo é algo a
ser explicado e não a explicação, e o Sujeito 5 não parte dessa premissa ao efetuar a sua
crítica ou ao formular a sua discordância. Isso fica evidente quando é questionado mais
especificamente sobre em que consistiria essa recusa/negação da subjetividade, se seria
negada em si ou na explicação do comportamento (comportamento tomado como possuin
do dimensões subjetivas no Behaviorismo). O Sujeito 5 evidencia que não parte dessas
premissas, não efetua essa diferenciação, consideranda-a verdadeira ou pertinente so
mente dentro do próprio Behaviorismo e não fora dele (em outras abordagens).
Outro momento em que um aspecto semelhante fica claro, é quando menciona não
se preocupar com uma definição de comportamento e sequer se interessar por ela. Nesse
caso, poderíamos afirmar que existe uma divergência? Ou o sujeito simplesmente não utiliza
o conceito? Por outro lado, não podemos deixar de levar em consideração que um dos
fatores de rompimento com a abordagem, mencionado pelo Sujeito 5, foi o afastamento da
possibilidade de contato com o subjetivo, não proporcionado pelo estudo do comportamento.
Seria possível criticar o Behaviorismo tomando como base o estudo do comportamento e
não da experiência subjetiva, sem se preocupar com a definição de comportamento e de
subjetividade para a teoria criticada e sem se importar com ela? São questões que não
poderíamos responder no momento mas que nos incitam à reflexão.
À guisa de conclusão
A análise do relato verbal dos sujeitos do presente estudo não permite afirmações
nem generalistas, nem conclusivas a respeito de qualquer fator que tenha sido apontado,
e nom sobro qualquer estratégia do explicação e/ou intervenção no fenômeno de oposição
à abordagem behaviorista.
Os fatores de oposição apontados pela literatura, situados nos grupos
apresentados na contextualização do problema de pesquisa, foram quase todos
apontados pelos sujeitos analisados como fatores de oposição para si ou para colegas.
Excetuando-se os equívocos, não analisados, foram encontrados fatores de oposição
em discordâncias teóricas: filosófico-epistemológicas (concepção de homem, de
determinação e de comportamento humano): em diferenças metodológicas (produção
de conhecimentos): em função social e aplicação do conhecimento (não incorporada em
diferenças metodológicas, conforme previsto à princípio): em fatores ligados aos analistas
do comportamentos (dificuldade relativa ao público interno e linguagem, mais
apropriadamente situada para estes sujeitos na comunidade behaviorista, do que em
equívocos) e fatores ligados à comunidade extema, pouco mencionados por estes sujeitos.
Alguns fatores de oposição não previstos também apareceram. Entre eles, discordâncias
teóricas gerais como as relacionadas à identificação filosófica atual explícita, à opinião
sobre o tratamento dado à linguagem/comportamento verbal, além do relato sobre mudanças
eventuais que a teoria tenha sofrido.
Podemos supor que os cinco sujeitos, em particular, não apresentam predominante
equívocos sobre o Behaviorismo, mesmo nos aspectos que se assemelham ao que é
considerado como mito e deturpação por Bass (1998), De Bell e Harless (1992) e mesmo
Skinner (1974/1993). O conteúdo destas afirmações (entre outras) foi comparado com as
diversas concepções que o sujeito tem (expostas na análise individual), sobre vários as
pectos relacionados à crítica que efetua, e pudemos perceber que são freqüentemente
coerentes com suas concepções de homem, de determinação, de ciência, entre outras já
analisadas. As afirmações ou os fatores, isolados ou no caso de um ou outro sujeito (não
todos), podem ser interpretados como meros equívocos, mas, em conjunto com as demais
concepções do sujeito, adquirem uma coerência interna que torna essa classificação
difícil de sustentar e, de certa forma, desnecessária. De fato, os sujeitos partem de
concopções e premissas muito diferenciadas das do Behaviorismo, alguns explicitam e
contextualizam essas diferenças, outros nem tanto, porém consideramos importante
analisar a crítica, suas relações com as demais concepções do sujeito, bem como com
aspectos da própria teoria e prática behaviorista, antes de qualquer classificação.
No entanto, ao ouvir/ler uma crítica acerca do Behaviorismo, o ouvinte/leitor quase
sempre não terá a oportunidade de efetuar a contraposição entre as premissas acima
mencionadas. Também não poderá, exceto com certa dificuldade, ter acesso ao conjunto
de concepções do sujeito que efetua a crítica, que o possibilite analisar sua coerência
interna. Sendo assim, é importante pontuar que, para ser levada à sério, a crítica deve ser
contextualizada. Isso não ocorre com freqüência. O crítico, por vezes, sequer especifica
qual o tipo de Behaviorismo está criticando, se o Metodológico, o Radical ou qualquer
outro. Caso efetue distinções entre premissas e não as evidencie, corre o risco de ter a
sua fala completamente desqualificada, pois não seria possível identificar uma crítica baseada
em discordância, o que supõe conhecimento sobre o objeto criticado.
Os sujeitos aqui analisados oferecem exemplos de como concepções negativas
podem não estar sempre baseados em conceitos incorretos sobre a abordagem, confor
me já apontado para estudantes por Miraldo (1985) e Miguel e Nakamura (1996).
Também consideramos importante ressaltar que há grandes possibilidades de
terem atuado ou estarem atuando, para alguns ou todos sujeitos aqui estudados, variáveis
relacionadas à história de desenvolvimento da abordagem, e complexidade crescente
da obra de Skinner, conforme apontado por Miraldo (1985), Moxley (1998) e Carrara
(1998), bem como em variáveis relacionadas às suas histórias particulares com a
abordagem. É importante ressaltar que a formação e a atuação profissional dos sujeitos
no Behaviorismo ocorreu predominantemente nos anos 1970 e inicio dos anos 1980. O
Behaviorismo então não era o mesmo de hoje. O livro de Skinner intitulado Sobre o
Behaviorismo teve a sua edição original em 1974 e Questões recentes na Análise
Comportamentalè ainda mais recente, teve sua edição original em 1989 e foi publicado no
Brasil pela primeira vez em 1991. Este último livro traz alguns aspectos particularmente
importantes do que poderiamos chamar de produto final da obra de Skinner, incluindo o
estabelecimento de relações mais próximas com a Biologia (seleção natural e conceito
de reforço) do que poderiam supor os que atribuem relações mais próximas do
Behaviorismo com a Física, por exemplo, ou ainda dos que acham que o Behaviorismo
despreze a biologia.
Não iremos, nesse momento, ater-nos a discorrer sobre as mudanças que o
Behaviorismo Radical sofreu nesse período, mas ó possível supor que o Behaviorismo
que os sujeitos conheceram permitisse de alguma forma o estabelecimento das relações
e críticas acima reproduzidas. Embora argumentos como desprezo à biologia, à
subjetividade e aos fatores internos, em geral, por vezes pareçam possuir apelos mais
emocionais do que intelectuais, se for possível estabelecer essa distinção, não ó
propriamente emocional o tom das críticas efetuadas pelos sujeitos de modo geral.
É importante ressaltar que não pretendemos afirmar que os equívocos não
existam, isso não seria possível. Mas também não ó possível afirmar que tenham sido
predominantemente equívocos os fatores de oposição que apareceram no relato verbal
dos sujeitos da presente pesquisa. Primeiramente pela formação, vivência acadêmica e
profissional que tiveram com a abordagem, e com a comunidade behaviorista. Em
segundo lugar, porque ó no mínimo difícil sustentar que uma crítica feita a aspectos
constitutivos de uma abordagem reflita desconhecimento sobre ela. Um bom exemplo
seria a crítica ao lugar do acaso na determinação, realizada pelo Sujeito 2, um lugar
existente na Análise do Comportamento, do qual o crítico tem ciência, mas do qual
discorda, considerando-o insuficiente.
Os sujeitos ressaltam inúmeros aspectos positivos da teoria e da comunidade
behaviorista, bem como da aplicação de conhecimentos. Também destacam um enorme
leque de discordâncias, algumas das quais se constituem em fortes fatores de oposição.
Existem aspectos idiossincráticos e outros relativamente comuns; dentre os últimos,
ressaltam várias facetas de argumentação.
Em linhas gerais, os resultados mostraram que a concepção de homem que os
sujeitos atribuem ao Behaviorismo Radical é de um homem passivo, reagente e reativo,
baseando-se em concepção de atividade e passividade bastante diferentes da contida
na teoria behaviorista, que inclui aceitação de determinação por fatores internos, como
escolhas relativamente independentes de contingências e uma certa dose de livre-arbítrio.
Com a aceitação desses pré-requisitos para julgar o homem como ativo, não é de se
admirar que considerem o homem, no Behaviorismo, passivo. Também não é possível
dizer que exista engano ou equívoco na afirmação, mas, sim, uma enorme diferença de
pressupostos que não passa pela questão de maior ou menor conhecimento sobre o
Behaviorismo, mas, sim, de concordar ou não com os seus pressupostos.
A subjetividade não é algo a ser somente explicado, mas é fonte de explicação
sobre o homem. Indo além, a explicação que a subjetividade proporciona não é sobre o
comportamento, porque não ó o comportamento que está em questão para o crítico.
Não é esse o seu objeto de estudo (são vários outros, mas não o comportamento). A
concepção de comportamento do Behaviorismo é apenas diferente da deles, e não
desconhecida. Existe ou discordância para com a definição de comportamento
(considerada muito ampla), ou então total desinteresse pelo tema e pela palavra, que
não fazem parte do escopo teórico psicológico atualmente assumido.
Os sujeitos declararam não serem dualistas (pelo menos não estabelecem divisão
entre mente e corpo ou espírito e matéria, conforme a questão feita), mas assumem a
existência de divisão do homem em diferentes níveis de funcionamento, diferentes níveis
de organização da matéria, reconhecem diferentes manifestações humanas regidas por
diferentes leis. Arriscaríamos dizer que existiria até, em alguns casos, a divisão entre
aparência e essência ao tratar a natureza. Portanto, são dualistas e não monistas. Não
assumem a existência de apenas um gênero de substância regida pelos mesmos
princípios. Outra diferença de fundo.
Com todas as diferenças em concepção de homem, de determinação, de
comportamento e de subjetividade acima lembradas, também não surpreende o fato de
considerarem linguagem como não comparável a comportamento operante e não
controlada pela contingência tríplice e, portanto, não equiparada a comportamento verbal.
A insatisfação com o tratamento dado ao tema pelo Behaviorismo Radical constitui-se,
sem dúvida, em fator de oposição.
Diferem em escopo teórico, pressupostos filosóficos, epistemológicos e, como não
poderia deixar de ser, em fatores metodológicos também. Além de o objeto de estudo ser
diferente, os objetivos da ciência diferem, assim como os métodos de estudo. Não preten
dem nem mensurar, nem descrever e nem prever o comportamento e sim explicá-lo, recor
rendo para isso a interpretações que envolvem determinação por fatores internos. Alguns
também não pretendem nem explicar, nem intervir, nem criar técnicas de intervenção sobre
a realidade. Ou por desacreditar da possibilidade de se chegar a estabelecer conhecimen
tos e técnicas que permitam essa intervenção, ou por considerar o homem, a priori,
conflituoso, sendo desejável que isso ocorra para o seu próprio desenvolvimento. O argu
mento da impossibilidade de se intervir na realidade tem diversas facetas, incluindo impos
sibilidade cientlfico-metodológica de dominar a quantidade e complexidade de variáveis (com
plexidade contingencial) que constituem fenômenos humanos (sociais, políticos, educacio
nais etc.), até incorreção política (ao pretender controlar comportamento) e ética (atuar
com possibilidade pensada de ocupar posição estratégica nas transformações sociais).
Os fatores de oposição metodológicos têm, portanto, estreitas semelhanças com
os de função social e aplicação do conhecimento. E se esses sujeitos não relatam
considerar o Behaviorismo reacionário, também não relatam muita coisa a favor de seu
envolvimento em lutas democráticas, atribuindo eventuais influências a características
individuais e não da teoria. A propósito, a distinção entre a adesão ao Behaviorismo e à
AEC (sujeito2) foi inesperada, mas bastante coerente com a argumentação do crítico.
A concepção de ciência não foi suficientemente investigada para esses sujeitos,
mas pelo conjunto de informações ofertadas provavelmente diferiria da do Behaviorismo.
A concepção de conhecimento é diferente, o papel do sujeito na produção de
conhecimento, de si próprio e da realidade também difere (confundindo-se com
autodeterminação e não relação sujeito e ambiente). Além disso, o homem não teria
aspectos em comum, além dos muito elementares, com outros animais. Aí, confirmam-
se a descontinuidade interespécies e uma espécie de dualismo, que divide o
funcionamento humano em dois níveis, um deles o animal. Sendo assim, o homem seria
um objeto de estudo diferente dos demais, em complexidade, variabilidade e
previsibilidade. O homem é de certa forma imprevisível, porque singular e livre, e capaz
de efetuar escolhas. Livre para, até mesmo, escolher se livrar das contingências.
De fato, seria difícil dizer que o homem não tenha características bastante parti
culares, especialmente no que se refere a comportamento verbal. Aspectos como com
plexidade, variabilidade e previsibilidade (entre outros não mencionados) constituem-
se, de fato, em grandes desafios, especialmente metodológicos. Nesse sentido, a crítica
é particularmente útil para favorecer reflexão sobre os aspectos criticados, com vistas
até mesmo a um fortalecimento ou aprimoramento da abordagem, conforme nos orienta
Carrara (1998).
Um grupo de fatores em que também se concentram muitos fatores de oposição,
embora, com menor unanimidade, é o relacionado à comunidade interna, a dos próprios
analistas do comportamento. Esse fator é dos menos analisados pela literatura e provavel
mente dos mais controvertidos e passíveis de discussão e reações negativas (da comunida
de e dos opositores), mas não pudemos nos furtar a considerá-lo. A comunidade é tanto
amada quanto odiada, por vezes pelo mesmo sujeito. Dois dos sujeitos apresentaram
forte oposição nesse agrupamento em especial, embora as críticas aos objetivos de ciência
e de aplicação do conhecimento, efetuadas por outros sujeitos, nos pareçam por vezes um
tanto semelhante. Em ambos os casos, surgem termos como pretensão, arrogância,
supervalorização do próprio conhecimento e variações em torno do mesmo tema. Caracte
rísticas positivas são apontadas, como rigor, seriedade e qualidade na produção acadêmica,
mas críticas severas também aparecem, entre elas o intenso policiamento da linguagem,
gerando punição ao uso de palavras mentalistas de uso corrente em nossa cultura. Banaco
(1997) já havia apontado que a comunidade é por vezes implacável nesse sentido e não
aceita um meio componente. Esse meio componente poderia ser objeto de discussão
mais detalhada, mas, em todo o caso, o que os sujeitos relatam é que foram alvo de retali
ação interna mais do que externa, ao contrário do que se poderia supor.
A questão da punição do grupo pelo próprio grupo, ou entre subgrupos, caso não
seja uma idiossincrasia da experiência dos sujeitos desta pesquisa, nos parece particu
larmente problemática, em parte porque especialmente delicada do ponto de vista huma
no, ótico e acadêmico e, em outra parte, porque não ajuda muito na dissolução de oposi-
ções, sejam relativas a equívocos, sejam relativas a discordâncias. Ao contrário, podem
acirrar as existentes e provocá-las onde não ocorrem, reduzindo o número de adeptos e
impedindo, senão a produção, pelo menos a divulgação mais ampla da abordagem e a
interlocução com diferentes comunidades acadêmicas e a sociedade em geral.
Quanto às limitações de época gerando fatores de oposição, como no caso das
críticas em relação ao tratamento da subjetividade nos anos 1970, vale lembrar que se houve
mudanças, avanços ou acréscimo em conhecimentos e interesses investigativos, cabe á
comunidade behaviorista, em primeiro lugar, a divulgação de resultados de pesquisas recen
tes sobre esse tema e outros. Caso não tenha havido mudanças em aspectos que possam
ser aprimorados, cabe também à comunidade behaviorista atuar no sentido de ampliar o seu
trabalho em pontos ainda não suficientemente explorados e sobre os quais existe demanda
social e acadêmica.
O Behaviorismo Radical tem características ligadas ao seu processo de evolução
histórica e a própria obra de Skinner possui uma complexidade crescente (Moxley, 1998).
Vale enfatizar que conceitos muito importantes na obra de Skinner foram publicados num
período relativamente recente. Sendo assim, os sujeitos que tenham tido uma formação
situada num tempo anterior ao da produção e divulgação de determinados conceitos mais
atuais podem possuir um conhecimento correto para a época e incorreto para o período
atual.
Provavelmente, a maior parte das criticas é, de fato, uma profusão de equívocos sobre
a abordagem, conforme amplamente acordado pela literatura (embora não com unanimidade).
No entanto, constatar a profusão de equívocos não nos diz nada sobre o seu conteúdo, a sua
instalação e a sua manutenção. Para responder a perguntas como: Por que mitos e equívocos
sobre a abordagem? Por que mitos e equívocos recorrentes em aspectos específicos? Como
desfazer os mitos e equívocos? Precisaremos efetuar, no mínimo, uma maior análise sobre o
nosso próprio comportamento e questionarmos a eficiência com que a comunidade behaviorista
tem divulgado seus conhecimentos ou tem tratado de assuntos de relevância social, assim
como temas polêmicos, conforme nos alertam Morris (1985), Banaco (1997), Foxx (1996)
entre outros. Para isso, precisamos analisar o conteúdo da crítica e a sua história de desen
volvimento na história da Psicologia, da abordagem e de sujeitos concretos que dela fazem
parte. Equívocos, mal-entendidos ou mitos (caso se pretenda manter essa denominação)
parecem constituir-se mais em uma conseqüência de deficiência da própria comunidade, no
gerenciar seu relacionamento profissional/acadêmico com públicos interno e externo, do que
uma deficiência posta em outro lugar.
Ainda que as características de rigor e seriedade acadêmica, apontadas por quase
todos os sujeitos, sejam de fato definidoras da comunidade (e provavelmente são), não se
constituem em privilégio desta comunidade em especial e não garantem que o conhecimen
to produzido por ela ultrapasse os limites do grupo. Caso se deseje disseminar, com correção,
a abordagem, torná-la útil e utilizada pela sociedade mais ampla, é necessário criar estraté
gias de análise e de intervenção no fenômeno. Conforme já mencionado por autores como
Morse e Bruns (1983) é necessário que analistas do comportamento criem estratégias para
o gerenciamento de fatores de oposição, especialmente os relativos a eles próprios como
comunidade, uma vez que há fortes indícios de sua participação no vôo de colegas para fora
da Análise do Comportamento. Morris (1985) também supôs que a oposição pudesse ser
uma decorrência da insensibilidade de analistas do comportamento em relação a diferenças
em linguagem, valores e preocupações prevalecentes na cultura e disseminação/divulga
ção da abordagem.
Também não consideramos adequado esperar que os demais, especialmente
quando possuem discordâncias, tenham a preocupação de contextualizar suas críticas,
seu vocabulário e desfazer problemas com a nossa linguagem. Essa é uma tarefa para
os interessados, por assim dizer, conforme já apontado por Deitz e Arrington (1983) ao
mencionar os problemas de comunicação (possivelmente gerando equívocos e
discordâncias) relacionados ao uso de palavras cunhadas por meio do que os filósofos
chamam de revisão conceituai.
Entre as estratégias que a comunidade behaviorista poderia criar, consideramos
particularmente importante a criação de material, incluindo material didático para alunos
de Psicologia, Pedagogia e áreas afins, que divulgue informações sobre a abordagem, a
partir de um exame cuidadoso de quais são os possíveis pontos relativos à própria
abordagem passíveis de oposição e com uma dose de diplomacia ao tratar de aspectos
polêmicos. De modo algum, o material deve se resumir a rebater críticas tradicionalmente
dirigidas á abordagem ou a tratá-las como mera confusão, equívoco, deturpação ou
falta de informação. Essa estratégia, pelas conseqüências que tem produzido, já
demonstrou a sua ineficiência.
A compilação de absurdos sobre o Behaviorismo, por meio da análise de textos
didáticos, de preenchimento de questionários ou de análise de respostas a questões, é um
passo necessário e bastante importante no estudo do fenômeno de oposição ao
Behaviorismo Radical/Análise do Comportamento, assim como na possibilidade de criação
de estratégias de intervenção, mas certamente não é suficiente. Estudos desse tipo têm
sido feitos na área (Todd e Morris, 1983; Yousef, 1992), e é importante que continuem
existindo estudos dessa natureza. Até o presente momento, o único registro conhecido de
um estudo brasileiro sobre tratamento razoavelmente amplo dado ao Behaviorismo em
textos didáticos é o de Gioia (2001), no que se refere à abordagem behaviorista radical
transmitida pelo livro de Psicologia direcionado à formação de professores. Um estudo
desse tipo com textos didáticos direcionados à formação de psicólogos seria uma sugestão
de estudo especialmente relevante. Temos o exemplo de França (1997) que analisou Alvitte
e apontou a necessidade de esclarecermos determinadas verdades que são ensinadas
sobre a abordagem e que se fundam em aspectos talvez mais próximos de equívocos do
que de reais discordâncias. De fato, o conhecimento do crítico/opositor sobre a teoria criticada
é, em qualquer circunstância, condição sine qua non para podermos situar sua crítica como
gerada por discordância.
Porém, a principal contribuição do presente trabalho e seu caráter inovador residem
em não tratar a crítica e a oposição como meros equívocos, examinando o conteúdo da
oposição de sujeitos menos passíveis de cometê-los, por possuírem uma história de formação
e atuação na abordagem behaviorista. Interessante ressaltar que os sujeitos não efetuaram
apenas críticas, mas também muitos elogios em diferentes aspectos, alguns chegando a
relatar influências que perduram até o presente momento, advindas de sua formação e atuação
anterior na abordagem. Foi extremamente esclarecedor verificar como uma crítica aparente
mente equivocada adquiria contornos de discordância a partir de sua exploração na entrevista
e na análise posterior. Essa verificação não é de modo algum generalizável, nem entre os ex-
behavioristas e muito menos aos críticos e/ou opositores em geral.
A existência de discordâncias não anula, por assim dizer, a existência de críticas
infundadas ou mal fundadas, e a literatura é pródiga em discorrer sobre as últimas. Os
próprios sujeitos da presente pesquisa mencionaram a existência de inúmeras criticas-
padrão, do tipo panfleto, falácia ou equivoco (Behaviorismo e Positivismo, oposição
entre métodos quantitativos e qualitativos, atribuição de incompatibilidade com
posicionamentos políticos progressistas e tantas outras aqui não mencionadas).
Apenas não consideramos possível nos furtar a esse debate, generalizando como
não pertinentes todas as críticas, e como mal informados, todos os críticos.
Inúmeros desdobramentos poderiam advir de um trabalho como o aqui apresenta
do, desde sugestões para futuras pesquisas, entre elas estudos que ampliem o número
de fatores passíveis de ocorrência e exames mais detalhados de cada um dos fatores aqui
apontados, dentre outros que eventualmente possam existir. Destacamos especialmente
a necessidade do estudo de fatores relacionados ao desenvolvimento histórico da aborda
gem e à complexidade crescente da obra de Skinner, relacionando a história da aborda
gem com o exame do tipo e extensão do impacto que obteve em diferentes áreas (teóri
cas, aplicadas, científicas ou da sociedade em geral).
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<ki<MUtdoouvtntm.m<M
f ) n p o n to «tM Mm » v á »itntxéj* m m « ic t t ln t o n t o c o m o mtlnnjêo* d m o rtT M rm ttvrm o m n tt In U tro m a ti p o r u i a ó Slmôokmuttttzmdaep o r
h u m a n o « , o n tm ta n k ) . p a re ç a m mm in u K o m a la fte x lv o w d o q u « o a e a tlm u lo a d ta c rln iln a ttv o a p r a v liim u n t» a m c flM c k m
Primeiro Uso - Responder apropriado à verbalização de alguém
Este uso envolve a emissão de comportamento de ouvinte sob o controle discrimi
nado de estímulos verbais. Para que a compreensão ocorra, neste caso, o ouvinte teve de
ser reforçado no passado emitindo determinadas respostas na presença dos mesmos
estímulos verbais. Por exemplo:
1. Pode-se dizer que Moe compreendeu o que Homer disse quando deu uma
cerveja para ele mediante a verbalização:
- Hei Moe, me dá uma cerveja?
Ao dar a cerveja para Homer, é possível concluir que Moe compreendeu o que
Homer dissera, uma vez que emitiu um responder apropriado à verbalização de Homer.
Mas, para que a verbalização de Homer tivesse esta função discriminativa sobre o com
portamento de ouvinte de Moe, foi necessário que Moe tivesse recebido reforços no pas
sado por emitir respostas similares na presença de verbalizações semelhantes. Contudo,
se Moe não tivesse reforçado o mando de Homer, não significaria obrigatoriamente que ela
não o compreendera. É importante notar que um estimulo discriminativo não produz obri
gatoriamente a emissão de uma resposta operante específica como ocorre no condiciona
mento clássico. Como será exemplificado adiante, Moe poderia ter demonstrado compre
ensão emitindo diversas outras respostas.
Este primeiro uso, contudo, não se restringe apenas aos comportamentos
operantes. Determinadas respostas verbais adquirem funções eliciadoras por condiciona
mento respondente por evocarem a emissão da visão condicionada (Skinner, 1953/1994)
ou por diretamente exercerem a função de estímulo condicionado. Um exemplo interes
sante deste uso ocorreu quando o autor deste trabalho estava aplicando um procedimento
de dessensibilização sistemática a um caso de vaginismo. Quando as cenas descritas
continham a palavra '‘penetrar" ao invés de "inserir", a cliente relatava um nível muito mais
alto de respostas de ansiedade. De acordo uma análise estrutural, as duas palavras seri
am consideradas sinônimas neste contexto, contudo, a palavra “penetrar" possuía fun
ções eliciadoras não partilhadas pela palavra “inserir". Pode-se dizer, portanto, que cada
pessoa possui uma relação íntima com cada palavra dependendo da sua história, e o
controle que uma palavra exerce sobre o comportamento de ouvinte não depende neces
sariamente de uma relação símbolo referente.
O seguinte exemplo ilustra este primeiro uso de compreensão baseado em uma
resposta reflexa: Pode-se dizer que Marge Simpson compreendeu um livro de contos
eróticos ficando sexualmente excitada ao lê-lo. Ficar sexualmente excitada neste caso
evidenciou um responder apropriado à verbalização do autor do conto.
Ryle (1949) aborda compreensão como conceito disposicional aberto, isto é:
"(...) ele [quem compreende] não está num momento particular em processo de
fazer ou passar por qualquer coisa, mas, que ole é capaz de fazer certas coisas,
quando a necessidade surge, ou que ele tende a fazer ou sentir certas coisas em
situações de certo tipo." (Ryle, 1949, p 112)
Este uso apresentado por Ryle ó perfeitamente compatível com o primeiro uso de
Skinner. Ambos autores não encaram a compreensão enquanto um processo que medeie
outros comportamentos. Considerar a compreensão como um conceito disposicional aberto
significa se comportar apropriadamente à verbalização de alguém dadas certas condições,
e que a compreensão pode ser evidenciada por um amplo conjunto de comportamentos
distintos. Por exemplo, ao se dizer que Moe compreendeu o mando de Homer, pressupõe
que Moe entregará a cerveja (e.g., responder apropriado) quando houver uma operação
estabelecedora (necessidade) ou um Sd (situações de certo tipo). Novamente, Moe poderia
ter compreendido o mando de Homer mesmo sem ter entregado a cerveja a ele, por
exemplo: "sinto muito Homer, mais a cerveja está quente", neste caso, Moe não deu a
cerveja para o Homer pela falta de S ou situações de certo tipo.
Os usos dos dois autores também lidam satisfatoriamente com o seguimento de
regras. Por Exemplo: Homer aconselha Bart:
“Oh Bart, não faça faculdade, você é muito burro para isso. Veja, você pode ter
sucesso profissional como o meu".
Neste caso, pode-se dizer que Bart compreendeu a regra se, ao fim de seu
colegial (Sd ou situação de certo tipo), ingressar diretamente no mercado de trabalho.
Neste caso, pode-se dizer que compreender uma regra è conceito disposicional, no
sentido em que mudará a probabilidade de emissão de determinado comportamento
quando o ouvinte se deparar com a contingência descrita pela regra.
É importante ressaltar que em todos esses exemplos a compreensão foi
evidenciada pela emissão de comportamentos não verbais segundo a definição de Skinner
(1957/1978) de comportamento verbal.
O principio polar deste uso (Harzen & Miles, 1978), ou seja, o quê não seria
considerado compreensão, diz respeito à noção de "apropriado". Não compreender no
exemplo do Moe e do Homer seria evidenciado por Moe entregar leite para o Homer, por
exemplo. Neste caso, Moe não emitira um responder apropriado, respondendo como se
não estivesse sob controle das verbalizações do Homer. É evidente que é necessário
supor que existam operações estabelecedoras ou necessidade para que Moe entregue
a cerveja para o Homer, em outras palavras que ele a entregaria se tivesse compreendido.
Conclusões
Foi observado um grande número de concordâncias entre os usos apresentados e
discutidos pelos dois autores. Sendo assim, ó possível concluir que os usos de Skinner
se aproximam dos usos cotidianos do termo. Ambos os autores remontam à noção de
que compreender não ó tornar um significado comum, pois ambos lidam com a noção de
significação pelo uso (Ryle, 1957). Para ambos autores, cada pessoa possui uma relação
íntima com cada expressão verbal, o que impossibilita uma compreensão perfeita do
tipo - partilhar significados, uma vez que a compreensão não se dá por uma captura de
significados, em sim pelas performances emitidas sob o controle de eventos.
Os exemplos apresentados por Skinner e Ryle demonstram claramente uma
desvinculação do conceito de compreensão à emissão de respostas verbais. Novamente,
nem os eventos a serem compreendidos, nem as respostas que evidenciam a
compreensão precisam ser verbais. Neste sentido, pode-se dizer que os analistas do
comportamento citados acima revêem o conceito do compreensão ao atrela-lo ao compor
tamento verbal.
Um outro ponto importante foi a conclusão de que compreensão se trata de um
conceito disposicional aberto, relacionando-se com um grande número de diferentes con
ceitos comportamentais como comportamento de ouvinte discriminado; discriminação
operante; generalização respondente; Intraverbais e tatos; etc. Para se descrever o com
portamento com o uso destes conceitos é essencial que se conduza a análise funcional
de cada exemplo específico. A compreensão enquanto conceito disposicional aberto,
também só mantém o seu poder preditivo caso se analise qual o uso do termo em ques
tão. Ao contrário dos conceitos comportamentais mencionados anteriormente, o termo
compreensão não possui definições precisas e teve os seus usos contaminados pelas
numerosas revisões conceituais que sofreu. Revisões estas que induzem à noção de
causalidade interna e de processos mediacionais, ou seja, se constituindo no tipo de
explicação que Skinner e Ryle mais se preocuparam em negar. Sendo assim, não parece
aconselhável manter o seu uso para uma descrição científica do comportamento. O con
ceito de compreensão precisa ser estudado enquanto conceito utilizado pelo falante coti
diano. Contudo, para uma análise científica do comportamento é preferível utilizar os con
ceitos comportamentais princípios comportamentais já mencionados.
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São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953.)
Skinner, B. F. (2000). Sobre o behaviorismo (Trad. M.P. Villalobos.) São Paulo: Cultrix. (Trabalho
original publicado em 1974.)
Capítulo 15
Estratégias auxiliares em terapia
comportamental
M a íy Deíitti
Pontifícia L/mvcrsidadc C'atóíica dcSào Paulo
Caso Clinico
Cliente B., mulher muito bonita, 39 anos, separada, dois filhos de 11 e 8 anos,
executiva de multinacional. Falou para a terapeuta que preteria um terapeuta homem, mas
que seu chefe havia feito a indicação.
Queixa: "Sinto-me só, sem amigas, me relaciono mal com as colegas de trabalho.
Com os homens sempre me dou muito bem, pois, qualquer homem, jovem ou velho, sempre
é um homem".
No decorrer da terapia, observou-se que B. era extremamente sedutora com qual
quer homem, mantendo vários casos amorosos durante o casamento e depois dele. Esta
cliente queixava-se que os homens não a levavam a sério, só queriam sexo e os parceiros
de trabalho após efêmeras relações deixavam de respeitá-la profissionalmente.
Sua relação com mulheres sempre foi muito complicada. Sua mãe era alcoólatra e
violenta e a irmã mais velha se casou muito cedo para sair de casa. Nunca teve uma amiga
próxima e os homens sempre a cortejaram, ela achava fácil se relacionar com eles.
A terapia se centrou na análise de seu repertório e na instalação de um novo reper
tório social, na busca de amizade com mulheres e melhora no relacionamento desta cliente
com sua irmã e outras pessoas significativas do sexo feminino. Além disso, procurou-se
estabelecer relações diferentes com os homens, isto ó, com respeito e amizade, e para tal
ela passou a emitir comportamentos incompatíveis com os usuais, considerados “sensuais"
por ela, ( vestir sempre roupas provocantes, se aproximar fisicamente, tocar no ombro ou no
braço, etc.).
Relato de Sonho
"Eu estava dando uma festa em meu novo apartamento, estava cheio de gente.
Mas, eu me sentia sozinha. Fiquei andando pelo apartamento e quando cheguei ao banheiro
encontrei você (a terapeuta) lá tomando vinho. Ficamos conversando e eu me senti bem".
A partir da análise deste relato, e dos outros dados da história de vida concluiu-
se que a figura feminina era sinalizadora de punição e ansiedade e a que a cliente havia
desenvolvido um repertório de sedução reforçado pelos homens.
Em uma das últimas sessões de atendimento, a cliente disse para o terapeuta:
“Estou bem, tenho amigas, não muitas, mas boas. Coloquei você no meu banheiro
e me senti tranqüila, acho que depois que me senti íntima de você, perdi a dificuldade de
me relacionar com mulheres".
Além de relatos de sonhos, terapeuta pode se utilizar vários recursos para
melhorar seu trabalho. Metáforas verbais, fotografias, desenhos e fantasias podem ser
estratégias úteis na prática clínica. O importante é que o clinico saiba discriminar bem os
Sds fornecidos por seu cliente e saiba ser sensível às contingências da sessão. O caso
que se segue mostra como o terapeuta imitou a classe de comportamento verbal do
cliente(poesia) e com isto facilitou o vínculo terapêutico.
Cliente: homem, 44 anos, jornalista, entra no consultório e assim que se senta
diz para o terapeuta:
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada, todos os meus conhecidos tem
sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil...
O terapeuta respondeu:
“Sou um evadido. Logo que nasci fecharam-me em mim, ah, mas eu fugi. Se a
gente se cansa do mesmo lugar, do mesmo ser porque não se cansar?...’’.
Após esta fala do terapeuta, o cliente falou:
- "Até que enfim encontrei o terapeuta que eu tanto procurava. Alguém que conhece
Pessoa e me respondeu perfeito".
Os dois poemas, o primeiro de Álvaro de Campos (Heterônimo de Fernando Pessoa)
e o segundo, do próprio Fernando Pessoa, facilitaram a comunicação e o estabelecimento
do vínculo terapêutico.
É claro que os terapeutas não precisam conhecer ou gostar de poesia (ainda que
cultura geral seja indispensável), e que haveria outras formas de estabelecer um bom
relacionamento com o cliente, mas este foi um exemplo de padrão de interação verbal que
usualmente não é a usada na clínica (recitar não é papel do terapeuta) e que neste caso
se mostrou efetiva.
O próximo exemplo é de um caso em que um poema foi utilizado para facilitar o
acesso aos eventos encobertos.
Poema como SD para acessar encobertos.
Cliente: Homem, advogado, 50 anos, procura a terapia relatando descontentamento
com a vida, cansaço por ser tão racional, sente vontade de largar tudo.
Este cliente apresentava um comportamento verbal muito bem estruturado, objetivo
e racional e sempre respondia ao terapeuta que não conseguia identificar seus sentimen
tos. Estava, nas sessões discutindo a sua dificuldade de tomar decisões profissionais
porque achava que iria se arrepender se fosse ousado,
“melhor ser covarde do que me arriscar, mas me sinto infeliz por pensar assim"
(sic).
Após algumas sessões o terapeuta pediu que o cliente lesse, na sessão um
trecho de um poema de Álvaro de Campos que é o seguinte:
“Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse dito as frases que só agora, no meio sono elaboro-
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse
Mas só agora o que nunca foi nem será para trás me dói...".
Referências
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Psychotherapy in Clinical Practice: Cognitive and Behavioral Perspectives (pp. 388-443). New
York; Guilford Press.
C/tse/e Delinski'
M tin l/d M estre'
De fato, só se tem acesso aos encobertos de uma pessoa através de seu relato
verbal. Banaco (1999) diz que a cultura (comunidade verbal) é quem possibilita ao homem
ter acesso aos seus encobertos, porém, nem sempre esta cultura vai propiciar um repertório
comportamental adequado para que o sujeito discrimine com precisão estes eventos; ó a
comunidade verbal que nos ensina a descrever o que fazemos, o que pensamos e o que
sentimos (Skinner, 1989 in Meyer, 2001).
Fantasia
Fantasia podo ser definida como o ato ou função de formar imagens ou
representações por percepção direta ou pela memória. Se mostra útil pois favorece a
identificação das seqüências de comportamentos abertos e encobertos; também fornece
pistas de quais variáveis estes comportamentos são função (Regra, 2001).
Tem sido muito empregada em psícoterapía comportamental com crianças e ado
lescentes, mas alguns terapeutas (Mestre, comunicação pessoal, 2001), vêm utilizando o
"fantasiar" e o relato de fantasias, como técnica terapêutica também com adultos e princi
palmente no trabalho com famílias e/ou grupos terapêuticos. O conhecimento do que são
comportamentos encobertos e, no caso a fantasia, auxilia ao terapeuta a escolher as
técnicas de intervenção, favorece o reconhecimento por parte do cliente destes comporta
mentos desadaptativos e de seus possíveis fatores determinantes e ajuda a encontrar
novos padrões de comportamento mais adaptativos.
Sonho
O sonhar possui três funções ao seres humanos: 1) biológica: de descarga de
energia armazenada ou da estimulação recebida durante o dia mas que não teve função
para a pessoa. É como se fosse uma “limpeza da lixeira” de um computador. São os
sonhos desconexos e dos quais não temos lembranças. 2) reorganização de lembranças
funcionais: são as experiências vividas, ou o que se percebe da vivência alheia, e que
pode auxiliar na construção de novas regras ou na reconstrução e/ou extinção de velhas
normas. 3) discriminativos: funcionam como possibilitadores de compreensão de
estímulos que a pessoa percebeu mas ou não havia decodificado por sua atenção ter
estado focada em estímulos concorrentes ou por ter lhe faltado condições de análise da
mensagem contida, por falta de repertório.
Neste sentido, o sonhar funcionaria como a fantasia, a diferença é que o primeiro
ocorre em estado de repouso, dormindo; a segunda ocorre com o organismo acordado,
embora o "senso comum" costume dizer que quem "sonha acordado" vive no "mundo da
fantasia" (Mestre, comunicação pessoal, 2001).
Então, sonhar ó entendido como a capacidade de ver na ausôncia da coisa vista.
Está sob controle da estimulação do ambiente naquele momento, da história de vida da
pessoa e do seu estado de privação e emoção.
Os sonhos podem conter elementos de contingências passadas, podem ajudar o
terapeuta a obter dados relevantes sobre o cliente (Meyer, 1992). A análise dos sonhos
permite ao terapeuta, não só realizar uma melhor análise funcional, mas providencia também
uma boa medida de avanço terapêutico. (Mestre, comunicação pessoal, 2001).
Intuição
Intuir diz respeito a capacidade de pressentir, pela qual se chega a uma verdade
sem fazer uso da razão. Skinner disse que intuições são comportamentos regidos por
contingências, para as quais nenhuma regra foi ainda formulada. Diz respeito a leitura de
estímulos discriminativos que estão no ambiente mas que não são percebidos pela
consciência (Meyer, 1992).
Por treino seletivo, o ambiente proporciona que algumas pessoas desenvolvam
uma maior capacidade de percepção discriminativa, refinada, de estímulos imperceptíveis
para a maioria das outras pessoas. Por exemplo, um indígena que viva na selva terá maior
desenvolvimento da percepção de mudanças ambientais que lhe indiquem a proximidade
de temporal do que um cidadão urbano. Se colocado na cidade, ele poderia conservar a
capacidade de “leitura" de tais estímulos; para o urbano pareceria algo de extraordinário
um indígena, em pleno dia de sol, dizer que vai dar temporal e acertar na previsão. Mães
costumam "intuir" acerca das amizades dos filhos. Estes podem não gostar de ouvi-las
dizer que fulano ou siclano não ó boa companhia e, meses depois verem confirmadas as
"previsões" maternas sobre aquela pessoa. Nada de mágico, apenas a mãe, pela experiência
de vida "intuiu" estímulos invisíveis para o filho.
Saber mais sobre as intuições do cliente poderá fazer com que o terapeuta saiba mais
sobre este; é importante também, treinar o cliente para a decodificação das próprias "intuições".
Sentimento
Sensações são respostas fisiológicas que um organismo apresenta (por exemplo,
frio e calor). Emoções são respostas reflexas, inatas, dizem respeito a capacidade que
uma pessoa tem de vincular-se, afastar-se ou atacar alguém; segundo Millenson (1967),
são três as emoções básicas: amor (capacidade de formar vínculo), raiva e medo. O
sentimento surge da relação do sujeito com o ambiente; é o desenvolvimento das emoções
básicas, em graus variados de intensidade e freqüências, de acordo com a história do
sujeito. Brandão (2001 - comunicação pessoal) diz ainda que sentimento é o que se
aprende culturalmente, é aquilo de que se tem possibilidade de falar a respeito, e só
aprendemos na relação com o outro. Skinner (1991), afirma que “palavras que designam
sentimentos não são ensinadas com tanto sucesso quanto as palavras que designam
objetos". Além disso, fala da dificuldade de distinguir sentimento de sua causa, porque as
duas coisas acontecem juntas, ou quase. Porém, os eventos responsáveis pelo que
fazemos e sentimos fica num passado distante. Segundo ele, é preciso entender, pela
análise do comportamento, os papéis dos ambientes passado e presente.
Mestre (comunicação pessoal, 2001) apresenta a idéia de que as emoções são
respondentes à estimulação ambiental associados a aproximação e/ou fuga/esquiva de
fatos, objetos ou situações, que ocorrem simultaneamente as contingências operantes e
que servem para descrevê-las. Sentimento é outra categoria de comportamento encober
to. Implica em uma associação entre as emoções, primárias: medo, amor e raiva, que
acompanham as contingências operantes e os pensamentos (regras) culturais que se
têm acerca de tais emoções e ações. Assim os sentimentos se “vestem" de valores que
se atribui às emoções. As emoções são despidas de tais valores, a pessoa as sente e
pronto. Os sentimentos vêm carregados daquilo que o grupo cultural selecionou como
"verdades". Assim, para nossa cultura, medo e raiva são emoções (sentimentos) ‘negati
vos’ e o amor um sentimento ‘positivo’. No entanto, os três podem ser funcionais ou
disfuncionais para aquele que os sente, de acordo com qual situação, fato, objeto ou
pessoa esteja associado. (Mestre, comunicação pessoal, 2001).
Kerbauy (2000) diz que, dentro do Behaviorismo Radical, Skinner descreveu
detalhadamente alguns pressupostos no estudo das emoções, entre eles:
a) o que se sente é tão importante quanto o que se faz; sentimento ó um tipo de ação
sensorial;
b) as palavras que designam os sentimentos são mais difíceis de ensinar do que a
nomeação de objetos;
c) temos sentimentos porque alguma coisa ocorreu;
d) sentimos quando estamos nos comportando ou até antes, por isso, sentimentos
são confundidos com causas;
e) é relevante o papel do ambiente passado e presente;
f) só se muda a emoção, mudando o que se faz.
Vale ressaltar que na prática clínica, os clientes procuram terapia porque seus
sentimentos lhes causam sofrimento, muitos vêm com a "certeza" de que os encobertos
são a causa de seus problemas, assim, segundo Delitti (1993), uma das funções do
terapeuta ó possibilitar que o cliente perceba que seus encobertos são apenas um elo da
contingência que está relacionada com outros eventos internos e externos.
Meyer (2001) lembra que em Sobre o Behaviorismo Skinner descreve vários sen
timentos que ocorrem de forma associada aos processos comportamentais. Veja alguns
exemplos:
Tabela 1: Exemplos de sentimentos, suas prováveis contingências e conseqüências.
Fó Ato ó q uase sem pre Reforçado Certoza do que seró bem -sucecidada
Confiança
Poder/Domlnlo
Referências
Banaco, R. A. (1999). O acesso a eventos encobertos na prática clínica: um fim ou um meio?
Revista Brasileira do Terapia Comportamental e Cognitiva, 1(2), 135-142. Campinas: Átomo.
Meyer, S. B. (2001). Sentimentos e emoções no processo clínico. In M. Dolitti (Org ), Sobre Com
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Skinner, B. F. (1978). Ciôncia e Comportamento Humano (3rd ed.). São Paulo: Edart.
Tipos de tratamento
Manejo de contingências
Tipos de delineamento
Tratamento combinado
Dessensibilização
Porcentagem
Auto Manejo
Exposição
Modelação
Total
A-B 29 14 3 12 4 17 79 45%
Linha de base múltipla 4 4 3 2 1 10 24 14%
Tempo seriado 1 1 2 01.5%
Reversão 2 2 00.6%
Tratamentos Alternados 1 1 38%
Experimental com controle de grupo 9 3 27 2 13 12 66
Total 43 21 33 19 18 40 174
Porcentagem 25% 12% 19% 11% 10% 23%
Uma análise, ainda que superficial, da Tabela I, põe em evidência concreta o que
foi afirmado anteriormente. Em 174 estudos sobre tratamentos comportamentais do medo,
encontrados no periodo de 1920 a 1998, há o predomínio do delineamento tipo sujeito
único (pelo menos 100 estudos utilizam essa metodologia). Dentre esses delineamento o
do tipo A-B é o preferido (45% ou 79 estudos optam por essa forma de estratégia de
controle em seu trabalho). Dessa forma, vemos a importância de discutir os ganhos com
a continuidade dos estudos de caso tipo A-B.
Antes de prosseguir na presente reflexão, cabe um aparte de esclarecimento. As
considerações feitas sobre a Tabela I e a seguir sobre outros tipos de estudos de caso,
puderam ser desenvolvidas sobre os “ombros largos" da metodologia tradicional e do
delineamento experimental de caso único, num processo dinâmico de construção de
conhecimento que caracteriza a ciência.
Características do caso
Dados objetivos + + +
Avaliação continua + +
Estabilidade do problema - +
Múltiplos casos - +
Maturação ? +
Teste + +
Instrumentação + +
Regressão estatísca + +
Nota:
+ indica que a ameaça á validade interna provavelmente está controlada.
- indica que a ameaça á validade interna provavelmente não está controlada.
? indica que a ameaça á validade interna pode permanecer sem controle.
Se apenas uma dessas questões for respondida positivamente o estudo de caso é
classificado como tipo I, se pelo menos três questões forem respondidas positivamente,
como tipo II e se mais de três forem assim respondidas, é do tipo III (Tabela II). Obviamente
os estudos de caso do tipo III são mais confiáveis do que os de tipo II e estes mais confiáveis
que os de tipo I. Isto porque, como a própria tabela busca demonstrar, o número das ameaças
que são possíveis de afastar está na dependência de quais perguntas antes o clínico pode
responder. Assim, se o clínico tem dados objetivos e medidas repetidas do comportamento,
mas não sabe nada acerca da estabilidade do problema ainda que tenha dados de mudança
comportamental acentuados não consegue afastar as ameaças de história e maturação.
Se, entretanto, ele tem dados de estabilidade do problema e múltiplos casos, além dos dois
primeiros cuidados, ele pode afastar essas duas ameaças mesmo que os efeitos de seu
trabalho não sejam tão rápidos e acentuados como se desejaria.
Referências
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Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado om 1953.)
Capítulo 18
O controle aversivo no contexto
terapêutico: implicações éticas
Nunca se falou tanto em ética quanto nesses últimos anos. Porém, verificamos
uma certa banalização do significado deste conceito, chegando-se ao cúmulo de denominar
de "código de ética" até as normatizações de conduta de organizações criminosas. Além
disso, há muita confusão no que diz respeito ao uso do termo "ética", que é freqüentemente,
usado como se referindo a deontologia ou moral.
Embora não seja o interesse desse artigo fazer um aprofundamento hermenêutico
dos termos ética e moral, consideramos importante uma definição destes termos, pois
como afirma Gouvêa (2002) “A distinção [entre moral e ética] é muito benéfica para a
reflexão teórica sobre questões éticas" (p. 12).
Se considerássemos apenas a etimologia das palavras, encontraríamos que o
termo Ética deriva de Êthos (hábito ou costume) e/ou Êthos (lugar ou pátria onde
habitualmente se vive e o caráter habitual, maneira de ser e pensar, da pessoa). Já o termo
Moral viria de Mos ou Mores, ou seja, hábito ou costume. Assim sendo, desse ponto de
vista, a confusão entre os termos seria facilmente justificada.
Do ponto de vista da história do pensamento filosófico, embora possamos encontrar
diversas definições de ética e moral variando de acordo com os diferentes autores e escolas,
uma distinção bastante aceita e difundida é a de que Moral se refere à prática concreta
dos homens em conformidade com os valores, hábitos e costumes de uma dada sociedade.
E a Ética se refere á reflexão científica, filosófica e às vezes teológica sobre essas práticas
e suas especificidades (Marchionni, 1999; Gouvêa, 2002). Esta distinção está longe de
ser consensual. Para alguns filósofos moral e ética seriam aspectos de uma só coisa. A
ética seria a teoria da moral, e a moral a realização prática da ética.
Para os autores que defendem a ética como uma reflexão crítica sobre a ação
humana, a sociedade ocidental construiu modelos de pensamento critico com o intuito de
elaborar parâmetros para essa reflexão. Os modelos filosóficos básicos fundantes da
reflexão ética no ocidente seriam: o realismo, o empirismo, o cepticismo, o
transcendentalismo e a dialética (Oliveira, 1995). A despeito das diferentes concepções
de ética desses modelos, como, por exemplo, a divergência entre a impossibilidade de
uma ótica universal defendida pelos empiristas e cepticistas em contraposição ao
universalismo contido no transcendentalismo, percebemos em todos eles algo em comum:
a noção de livre-arbítrio e a metafísica.
Mesmo se tomarmos como parâmetros a tradição consequencialista/teleológica do
aristotelismo, tanto quanto a deontológica do kantismo, que são duas posturas filosóficas
tradicionais e basilares diante da ética e da moral, ainda assim a reflexão se sustenta sobre a
noção de livre-arbítrio e metafísica. Na herança aristotélica a ética seria a realização do viver
bem, da vida boa (o eudemonismo), já na herança kantiana a moral é definida pelo caráter da
obrigação da norma determinada pela pura “vontade moral”. A “existência" de uma razão ou
logos como um agente metafísico a priori e o eu iniciador e realizador da ética, são vistos
como fundamentais para a discussão da ética nessas tradições.
O behaviorismo, como afirma Skinner (1974), é a filosofia da ciência do comporta
mento. Apesar disso, não chama para si a responsabilidade de ser um modelo de reflexão
sobre a ética. Mas será que podemos entender a ética do ponto de vista comportamental?
Referências
Carvalho, H. B A. (2000). Alasdair Maclntyro o o rotorno às tradições morais do pesquisa
racional. In M. A. Oliveira (Org ), Correntes fundamentais da Ética contemporânea. Potrópolis:
Vozes
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Rinehart & Winston.
------------ Capítulo 19
Considerações sobre expressividade
emocional na prática clínica:
Um levantamento teórico preliminar
Fernanda S. Hrandàd
Pra. Sonia fí. M eyef'
"(...) Os eventos privados são da mesma natureza dos públicos. Skinner não é
um cartesiano, não aceita a existência de duas substâncias (uma mental outra
material), nem, conseqüentemente, o dualismo mente-corpo cartesiano. (...) É
um monista. (...) Existem eventos subjetivos, mas sua condição subjetiva de
corro de sua privacidade e não de sua natureza - mental, para um cartesiano.
Eles são subjetivos porque são privados e não porque são mentais (...)" (Abib,
1997 p. 128).
* P sic ó lo g a Clinica d o P S I C C - Inalltuto d « Psicoturapla Coniportafnantal - L on d rin a - P R , m e stran da em paicologl« clinica [wla U S P - S P ■ o mall:
"Existom muitas boas razões para as pessoas falarem sobre seus sentimentos. O
quo elas dizem dão dicas quanto ao comportamento passado e as condições que
o afetaram, ao comportamento presente e às condições quo o afetam e às condições
relacionadas com comportamento futuro. O autoconhecimento tem um valor
especial para o próprio indivíduo. A pessoa está mais 'consciente de si mesma'
pelas perguntas que lhe fizeram e está numa melhor posição para predizer e
controlar seu próprio comportamento", (p. 191)
"Em primeiro lugar não há consenso sobro o uso dessas palavras quo se referom
a sentimentos, uma voz que elas são nomes arbitrários que a comunidade verbal
utiliza A única possibilidade confiável para distinguir sentimentos é descrever, de
forma abrangente, as contingências de reforçamonto em operação que os
produzem. Assim, por oxomplo, o medo poderia ser doscrito como o estado corporal
produzido por punição positiva (...)"; (p. 197)
E assim por diante... Esse mesmo autor ainda afirma que o uso coloquial da
nomeação de sentimentos pode atrapalhar o terapeuta em busca das contingências.
Então, as contingências bastam! Ele diz que o uso dessas palavras como medo ou culpa
podem ser mantidos desde que o terapeuta seja capaz de substitui-las pelas contingências
de reforçamento que lhes dão origem. Assim sendo, ficar sobre controle das contingências
que determinam o relato verbal do cliente e não do relato por si só, seria uma habilidade
importante para um terapeuta.
Em uma conferência, Banaco (2001) também falou sobre isso, sugerindo que o
sucesso de um processo terapêutico na aquisição de autoconhecimento depende também
do grau de correspondência entre o relato verbal do cliente e o estado de coisas a que
ele se refere alcançado nesse processo. E para tanto, constitui-se de tarefas do terapeuta
ensinar o cliente a observar, discriminar e descrever seus comportamentos.
Ainda este autor afirmou que o terapeuta dispõe de alguns recursos para atingir
essas metas: (1) princípios de aprendizagem (reforçamento, extinção, aprendizagem
social, entre outros), (2) conhecimentos gerais (literatura, cinema, sociologia, fisiologia,
medicina), (3) relação terapêutica, (4) sentimentos e emoções (do cliente e de si mesmo)
e (5) observação do cliente dentro da sessão. A Habilidade do terapeuta de investigar ou
fazer perguntas também é importante, pois pode levar a auto-observação, entre outros.
Skinner (1988), apontou que a psicoterapia consiste em um sistema de contingências
para aumentar a observação. O terapeuta leva o cliente à auto-observação por meio de
contingências verbais, como questões feitas ao cliente, sistematização de informações,
realizações de previsões, para que este possa analisar funcionalmente o que esta fazendo
ou sentindo e as razões pelas quais seus comportamentos são emitidos. Assim, o
terapeuta deve promover a discriminação, modefar novas respostas na sessão através
do reforçamento diferencial e fornecer regras para a ação.
Assim, possibilitar e modelar a auto-observação e conseqüentemente o
autoconhecimento seria mais um objetivo importante para o terapeuta.
Meyer (1997) argumentou que
Assim, de acordo com Meyer (1997), o papel do terapeuta vai além de facilitar
ocorrências de emoções. Eíe deve responder aos sentimentos expressos, no momento
adequado. Momento adequado pode ser entendido como aquele em que a probabilidade
do cliente escutar e continuar a análise ó grande. Neste sentido, momento não adequado
seria aquele no qual a resposta do terapeuta produza algum tipo de esquiva.
Falando em habilidades importantes para os terapeutas, num levantamento bibli
ográfico, Meyer e Vermes (2001) listaram algumas categorias de comportamentos do
terapeuta importantes para o sucesso da terapia. Uma delas ó a empatia, calor humano,
compreensão, concordância: comportamentos verbais e/ou gestuais (inclusive expres
sões de rosto) que tenham como objetivo a aproximação e a demonstração de compreen
são. Esses comportamentos do terapeuta são úteis também para oportunizar a ocorrên
cia de emoções ou relatos de emoções do cliente.
A empatia é considerada uma habilidade importante para os terapeutas. De acordo
com Falcone (2001), a empatia é entendida como a capacidade de compreender e expressar
compreensão acurada sobre a perspectiva e sentimentos de outra pessoa, além de experi
mentar sentimentos de compaixão e de interesse pelo bem estar desta (Barrett-Lennard,
1993; Egan, 1994; Falcone, 1999). Ela complementa que a habilidade empática deve ocorrer
em pelo menos duas etapas. Primeiro, o indivíduo que é empático, no caso o terapeuta, está
envolvido em compreender os sentimentos e perspectiva da outra pessoa e, de algum modo
“Revendo a literatura sobre assertividade observa-se que esta tem sido considerada
como expressão de sentimentos, emoções e pensamentos no relacionamento
interpessoal, referindo-se à habilidade de falar de si mesmo e de defender os seus
direitos. Abrange também a manifestação do certas habilidades sociais tais como
Iniciar, manter e terminar um diálogo, entre outros". (Lima, 2000, p. 292).
Referências
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Editora da UFSCar.
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Lima, M V. (2000). Assertividade e Frustração: o uso do teste de frustração do Rosenazweig na
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do Pará.
Skinner, B. F. (1994). Ciência e Comportamento Humano (9th ed.). São Paulo: Martins Fontes.
Capítulo 20
O sentimento de culpa e suas implicações
para o controle coercitivo do
comportamento. Proposição de análise*
So/angcL Machado
Univ. Tuiuti do Paraná
Yara Kupcrstein Ingberman
Univ. hcdcral do Paraná
' “ConadAnda* ó u«npraondlda no M iifcJo axp»dtado por SWnnar (1900/1#80, p 289) ’A («m m kliKkt vortxil gara oonacéênda quando omtnu uin Indivíduo
a (tmcruviir iuhj comportamento paaaado a o comportamento eu»« ntn (rt |*uvnvutrMNrft) o x fl* no futuro • a k k trM tju a« vartfvafa dm quafc oa tnáa
«Ao pmvNvoliTmntn HkiçAo’
pelo detector de mentiras (...)”. Ter sido punido ao quebrar regras ensinou ao indivíduo
“quando" culpar-se e ter experimentado as respostas somáticas que acompanharam à
exposição à punição ensinou ao indivíduo "como" sentir-se culpado.
Nos excertos sobre culpa apresentados no inicio deste texto, três processos são
citados: quebra de regra estabelecida em relacionamento, autoavaliação negativa e ação
reparativa ou ação autopunitiva. Com base em Botomé e Kubo (1998), propõe-se a análise
do comportamento de culpar-se, procurando situar estes processos. Três questões foram
propostas pelos autores e adaptadas para esta análise, que não pretende ser exaustiva:
1. Quais aspectos do meio controlam o comportamento de quem “se culpa"?
A resposta está na identificação das condições antecedentes, baseadas na his
tória de aprendizagem do indivíduo. Seriam elas:
• A existência de regras em um sistema relacionai que inclui o indivíduo (relações pes
soais, grupais, institucionais, etc).
• Ter assistido alguém empreender, ter empreendido ou planejar empreender comporta
mento que fere as regras e ter assistido alguém sofrer, ter sofrido ou antecipar a puni
ção decorrente do ato.
Ou seja, podem ser condições antecedentes quaisquer condições relativas à
inobservância de regras e punição decorrente.
2. Quais classes de respostas que alguém apresenta mudam as condições antecedentes
para as condições conseqüentes?
Quaisquer comportamentos que diminuam os respondentes aversivos
associados, como ações de reparação, desculpabilização (busca de justificativas
ambientais ou transferência de responsabilidade para outros) ou autopunição.
3. O que resulta quando alguém emite estas classes de respostas em relação as
condições antecedentes?
As condições conseqüentes são a diminuição dos respondentes aversivos
associados á situação (isto é, o sentimento de culpa) - contingência de reforçamento negativo.
Também podem ocorrer mudanças no ambiente social em função das ações reparativas que
disponibilizem novamente para o indivíduo o acesso à reforçadores positivos.
O comportamento de culpar-se é descrito no Quadro 1:
Quadro 1. Descrição do comportamento de culpar-se.
Condições antecedent«» Classe« de respostas Condições conseqüentes
(...) uma condição de culpa ou vergonha não ó gerada apenas por comportamen
to previamente punido, mas por qualquer ocasião externa consistente com esse
comportamento. O indivíduo pode sentir-se culpado om uma situação na qual foi
punido. Podemos controlá-lo pela introdução de estímulos que causem esse efeito.
Dizer a alguém “você deveria ter agido melhor comigo" introduz os estímulos
para reenvià-lo à aversividade de contingências em que foi punido por não ter agido
conforme regras do relacionamento interpessoal ou expectativas de outras pessoas.
Conseqüentemente, a probabilidade de que responda tentando diminuir a aversividade
da experiência, atualizada naquele instante, aumenta. A classe de resposta emitida
provavelmente incluirá ceder às demandas do outro. Se estas forem de natureza coercitiva
o indivíduo será vítima de manipulação. O desdobramento do comportamento de ceder
à manipulação em contingência envolvendo a indução ao culpar-se poderia ser descrito
como segue (Quadro 2):
Quadro 2. Descrição do comportamento de ceder à manipulação coercitiva em
contingência que envolva indução ao se culpar.
"quando um indivíduo é punido por não responder de uma dada maneira, gera-
se uma ostimulaçâo aversiva condicionada quando estiver fazendo quaJquer
outra coisa. Apenas comportando-se daquela dada maneira ele consegue livrar-
se da culpa. Assim se podo evitar a estimulação aversiva condicionada gorada
por não cumprir o dever simplesmente cumprindo o dever".
Referências
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Alegro: Artmed.
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não publicado.)
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Loos, H., Ferreira, S. P. A., & Vasconcelos, F. C. (1999). Julgamento moral: estudo comparativo
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culpa. Psicologia: Reflexão e Critica, 12, 47-69.
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Nazare-Aga, I. (1997). Les manipuiateurs sont parmi nous. Quebec, Canada: Les Editions de
I 'Homme.
Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy.
Sígolmann, E., & Fernandes, L. M. (1986). Desenvolvimento de uma medida de culpa. Arquivo
Brasileiro de Psicologia, 38(2), 76-83.
A formação
Capítulo 21
Terapeutas experientes e iniciantes: O que a
Literatura aponta sobre eles?
Formação do vínculo
Em um estudo realizado por Dunkle e Friedlander (1996), sobre as contribuições
da experiência dos terapeutas e as suas características pessoais para formação da aliança
terapêutica, encontraram que as diversas características pessoais do terapeuta foram
preditivas para a formação do vínculo, independente do nível de experiência, como o apoio
social, o menor nível de hostilidade e a capacidade para desenvolver o relacionamento
* t-HpuüallHla urn (’Muoturaptai i m AnâNau do Curipurtamunto pula UfcL, pokrtfcigH do Chibo dun M A tm Unidas, (kxainto rio Puputtwmxito do Pulcologla Owal
o A i UMIm i do Coinportameotn d « UbL a du UntanfcJario Pitranaanaa* UNIRW* Mnatmnda « ti PnMxilogiu CtliitcM | x ií h USP n u n tu t n i » n n / a k t f J i in k ia / Imm
nuUmvukiaMimnuill imn RuaSêoBamnidodoCanipo, 172 Jd. Sumart LondrtutfPi CFP 86062-150
interpessoal íntimo e de conforto com seus clientes. Já a experiência dos terapeutas,
contrariando a hipótese inicial dos autores, não foi preditiva, na avaliação dos clientes
sobre os objetivos e tarefas que compõem a aliança terapêutica. O resultado confirmou a
hipótese de que a experiência não é preditiva para a formação do vínculo. Assim, de
acordo com os autores, os clientes não perceberam diferença na atuação dos terapeutas
sobre os componentes referentes ao vínculo, objetivos e tarefas da terapia, indicando
nesse estudo, que o nível de experiência dos terapeutas não interferiu na formação da
aliança terapêutica.
Para obter esses dados os autores investigaram 73 dlades terapeuta-cliente através
de diversos instrumentos. Um deles foi o WAI (Working Alliance Inventory, Horvath &
Greenberg, 1994). Esse instrumento foi utilizado para avaliar a percepção dos clientes
sobre os componentes da aliança terapêutica: vinculo (refere-se a ligações pessoais entre
cliente e terapeuta, desenvolvidas na atividade compartilhada da terapia; é expresso e
sentido em termos de amizade, simpatia, confiança, respeito pelo outro e um senso de
comprometimento comum e um entendimento compartilhado das atividades), tarefas (refere-
se a atividades específicas desenvolvidas pelo terapeuta e cliente para instigar ou facilitar
as mudanças) e objetivo (caracteriza-se pela negociação e entendimento mútuo entre
terapeuta e cliente acerca dos objetivos da terapia em termos de resultados). O outro
instrumento utilizado foi o INTREX(lntrex Introject Questionnaire, Benjamin, 1982; 1983)
e por meio dele avaliaram o nlvel da hostilidade autodirigida do terapeuta. A Social Provision
Scale (SPS) (Cutrona & Russell, 1987) foi utilizada para avaliar a qualidade do apoio social
do terapeuta (rede de relações sociais na vida cotidiana), e por fim utilizaram a Adult
Attachment Scale (AAS) (Collins & Read, 1990) para estimular a habilidade do terapeuta
em relatar o desenvolvimento do relacionamento.
Outro estudo realizado por Novaki e Luiza (2000) sobre as habilidades dos
terapeutas na formação do vínculo, obteve resultados semelhantes aos do estudo de Dunkle
e Friedlander ( 1996) referentes ao desenvolvimento do vínculo terapêutico, pois, segundo a
percepção dos clientes, tanto os terapeutas experientes como os iniciantes, não diferiam
quanto aos aspectos referentes à formação do vínculo. Essa pesquisa teve como objetivo
investigar quais habilidades dos terapeutas promoviam a formação do vínculo, como também,
comparar as habilidades de terapeutas experientes e terapeutas iniciantes relacionados à
formação do vínculo terapêutico. O estudo envolveu alunos de graduação que estavam
iniciando seus atendimentos na abordagem comportamental, e profissionais três a dez
anos de experiência clínica na mesma abordagem. Os dados foram obtidos através de
questionários preenchidos pelos clientes dos terapeutas. Os resultados indicaram que
quanto às habilidades avaliadas (habilidades iniciais, ex: cumprimento e forma de entrar
no assunto principal; habilidades pessoais, ex: senso de humor e concentração; habilidades
não-verbais, ex: expressões faciais e gestos; e habilidades de investigar, ex: questionar e
informar) não houve diferenças entre os terapeutas analisados, ou seja, as habilidades
foram apresentadas na mesma proporção pelos dois tipos de terapeutas, segundo a
percepção dos clientes avaliados. Com relação às habilidades que estariam relacionadas
á formação do vínculo destacaram-se aquelas relacionadas às características pessoais
do terapeuta, como empatia, ser atencioso e acolhedor, e demonstrar simpatia.,
Mallinckrodt e Nelson (1991) também realizaram um estudo semelhante ao de
Dunkle e Friedlander (1996), porém, o objetivo do estudo foi verificar os efeitos do nível
de treinamento no desenvolvimento dos vários componentes da aliança terapêutica (víncu-
lo, tarefas e objetivos). Avaliaram 50 diades (terapeuta-cliente) sendo que os terapeutas
variavam de estudantes de graduação, terapeutas em treinamento a profissionais
experientes. O instrumento de avaliação utilizado foi o WAI (Working Al/iance Inventory,
Horvath & Greenberg, 1986; 1989).
Nesse estudo, os autores observaram que nas subclasses de tarefas e de objetivos
do WAI obtiveram resultados mais favoráveis os terapeutas mais avançados, na visão
dos clientes, ou os conselheiros com pós-doutorado, de acordo com sua própria auto-
avaliação, indicando assim, uma diferença entre os profissionais com relação aos objetivos
e tarefas da terapia. No entanto, corroboraram os estudos de Dunkle e Friedlander (1996)
e Novaki e Luiza (2000) quando afirmaram que em relação à formação do vinculo não
há diferenças entre os profissionais, pois a sua formação está muito mais relacionada às
características pessoais do terapeuta do que ao nível de experiência.
Assim, com base nesses estudos observa-se que com relação a variável formação
do vinculo nào há diferenças relacionadas ao nível de experiência do terapeuta, pois os
resultados indicam que esta variável está muito mais relacionada às características
pessoais do terapeuta.
Considerações
De fato, percebe-se com base nos estudos citados, que não existe um consenso
sobre se há ou não diferenças entre esses terapeutas experientes e iniciantes, e se
existem, quais seriam. Porém, observando mais detalhadamente esses estudos ocorre
que algumas diferenças entre os profissionais podem existir, apesar de todos apresentarem
melhoras nos resultados da terapia. Contudo essas diferenças só são percebidas quando
os dados coletados são mais específicos como o estabelecimento das tarefas e objetivos
da terapia, ou com clientes de idades diferentes. Desta forma, pode-se considerar que
essas diferenças estejam relacionadas aos comportamentos apresentados pelos terapeutas
em sessão (fatores específicos) e não à questão do seu relacionamento com o cliente
(fatores inespecíficos), até porque a maioria dos estudos sobre a aliança terapêutica
concorda que com relação à formação do vínculo esses terapeutas não diferem entre si.
Alguns estudos têm apontado a questão do comportamento do terapeuta na ses
são como um aspecto que pode diferenciar esses profissionais. Assim, comportamentos
como o de ser diretivo (Bohn Jr, 1965), obter um conhecimento mais rápido e mais profun
do sobre seu cliente (Mullen & Abeles, 1971), demonstrar menos ansiedade e mais habi
lidade (Pope, Nudler, Vonkorff & McGhee, 1974), definir os objetivos e as expectativas do
cliente (Garfield, 1995), foram apontados como sendo possíveis comportamentos que po
dem diferenciar profissionais experientes e iniciantes.
Outro aspecto relevante sobre as diferenças entre esses terapeutas, e que vem
sendo estudado (Novaki & Meyer, 2002), relaciona-se ao conhecimento que esses têm
sobre o que acontece em sessão, o que fazem e o porque o fazem, isto é, o quanto os
terapeutas são capazes de prever e controlar seu próprio comportamento na sessão.
Esse estudo aponta que o conhecimento de sua atuação pode ser um aspecto
que difere entre os terapeutas experientes e iniciantes, uma vez que o desenvolvimento
dessa capacidade permite aos terapeutas estar em melhores condições de prever e
controlar seu comportamento na sessão e, conseqüentemente, direcioná-ío no sentido de
trazer maiores ganhos para o cliente, e que terapeutas iniciantes por estarem mais sob
controle de instruções do que das contingências em sessão estariam em desvantagem
quanto ao conhecimento de sua atuação na terapia quando comparado aos terapeutas
com mais prática clínica.
Fica portanto a questão: apesar de ambos terapeutas obterem resultados com
sua atuação na terapia, seria o conhecimento que têm sobre essa atuação um fator que
diferenciaria terapeutas experientes de iniciantes?
Referências
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York; Prontico hall.
Bohn Jr, M J (1965). Counselor behavior as a function of counselor dominance, counselor
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Capítulo 22
Supervisão clínica: Um enfoque no
comportamento do terapeuta
L iiz / /. S. ferreira
Pui Campinas
“Uma análise funcional nada mais ó do que uma análise das contingónclas
responsáveis por um comportamento ou por mudanças nesse comportamento
(sejam eles comportamentos problemáticos - como quebrar vidraças-, ou acei
táveis - como estudar para o vestibular)." (Matos, M. A., 1999)
2Ó 0 I <ii7 H . S. hmfirci
funcional uma causa è substituída por uma mudança na variável independente (V.l.) e um
efeito é substituído por uma mudança na variável dependente (V.D.). A análise funcional
tenta responder à questão: À que uma pessoa está respondendo (V.l.) quando se compor
ta de determinada maneira (V.D.).
De acordo com Matos ( 1999):
"Cinco passos sâo básicos para a realização de uma análise funcional do com
portamento.
HlstòfttMi tie
VtiU
1'ithmilon
(tin te «luma K cupom«*
rmlmuliM
Dmrimmmivd»
Dados do Terapeuta
F. é do sexo feminino, 28 anos, havia terminado seu mostrado em psicologia
clínica e já atuava como terapeuta há três anos. Havia se casado há sete meses e
mudado para sua cidade de origem onde começa a atuar profissionalmente. Faz
supervisão desde que começou a trabalhar em clínica. Traz para a sessão o primeiro
atendimento do um cliente, que lhe foi encaminhado por seu marido. O marido do terapeuta
ó um profissional jovem e promissor na cidade e tem relações profissionais com o cliente,
que lhe relatou estar passando por dificuldades, o que resultou no encaminhamento.
Relato do caso
O relato do caso é a descrição verbal do terapeuta, feita na sessão de supervisão:
A cliente é arquiteta, bem sucedida, tem 44 anos, ó casada há 19 anos, tem dois
filhos, um menino de 16 anos e uma menina de 14 anos. Inicialmente, a cliente afirma que
faz terapia há cinco anos e percebe que não está resolvendo. Diz que já viveu metade de
sua vida e quer que a outra metade seja diferente, precisa de um tipo de terapia direta, que
aponte caminhos e não fique trabalhando "no mundo das idéias".
M. conta que sua vida está desestruturada, que não tem mais nada. Afirma que
nunca gostou do marido, que se casou por conveniência e há três anos não tem qualquer
interação com este, embora morem na mesma casa. Diz que deixou o quarto e atualmente
dorme num colchonete no quarto do filho. Reclama que não pode ver TV a cabo, pois uma
fica no quarto do marido e a outra é monopolizada pelos filhos (parece não ter afeto por
nenhum dos filhos).
M. demonstra extrema ansiedade na sessão, diz que havia tomado Olcadil e que
toma freqüentemente, não consegue dormir sem tomar calmante, se acorda tem pensa
mentos aterrorizadores.
A cliente afirma que o que mais a incomoda é que apaixonou-se por um homem
casado, com quem tem um caso há dois anos. Ela começou a freqüentar a Companhia
Atlética e o conheceu lá. Desde então se encontram, no local duas vezes por dia. Ele tem
38 anos, segundo ela, tem uma esposa loira de olhos azuis e mesmo assim "mantém
esse relacionamento paralelo" (a cliente embora seja bem cuidada, não parece mais uma
menininha). M. afirma que este homem é um galinha, que já teve outros relacionamentos
extraconjugais e que a vampiriza, mas é a única coisa reforçadora em sua vida. O problema
ó que ele a reforça intermitentemente, marca um programa e só quer conversar. Ela fica
louca, porque quer mesmo é ir pra cama, já que nunca se relacionou bem com o ex-
marido. "Não sei o que acontece, eu estou em forma, faço de tudo e ninguém quer transar
comigo". M. afirma que não quer que ele largue da esposa, apenas que ele a procure com
mais freqüência para relacionamento sexual.
A cliente também queixa-se de não ter amigos, não ter com quem sair. A única
amiga que tem é bem mais velha que ela e a reprime (a cliente é criticada por esta amiga
e pela própria mãe por ter "mania de grandeza", querer sempre andar com pessoas
elitizadas). De fato M. parece ser extremamente exigente, diz que tem um senso estético
muito apurado e por isso odeia pobreza, negros etc. Acha um absurdo a amiga ter um
Corsa, que é um carro chinfrim.
Enfim, ela queixa-se que não tem como conseguir outros homens concorrendo
com mulheres mais novas, acredita que os que não estão casados são tranqueira (sem
curso superior, sem dinheiro, sem cultura, feios, barrigudos...).
Sobre a história de vida, M. conta que morava em Vitória, a família era de classe
média, tinham sempre carros novos, mas a mãe sempre a boicotava, dizendo que ela não
devia andar com os filhos de médicos, que deveria andar com gente de classe mais baixa.
"Tudo o que eu desejava a minha mãe dizia que não era para mim, que eu deveria aspirar
menos" (M. acabou se casando com um médico).
Procedimento do terapeuta
Eu disse a ela (foi difícil, ela não parava de falar) que ela estava vivendo uma situa
ção muito aversiva, já que tinha perdido muitas coisas. Afirmei que tudo continuará sem
saída se ela não variar o próprio comportamento. Por exemplo, em casa. Questionei o fato
de ela dormir com o filho, sugeri transformar a sala de TV num quarto (já que ela disse que
o apartamento que pretende comprar só fica pronto daqui um ano e meio e que pagar
aluguel, nem pensar). M. afirma que não pode fazer isso, que tiraria o espaço das crianças
e que a situação da moradia é suportável, desde que ela tenha outra coisa para animá-la.
Afirmei que o cara com quem ela tem um caso é um manipulador e o melhor seria
ela encontrar outra pessoa, começar a freqüentar a academia em outros horários, diferen
tes dos dele. Ela afirma que gostaria de lutar por ele, mesmo que depois chegue á conclu
são que não era o que ela queria (ela costumava manipular os rapazes dessa forma na
juventude). Sobre mudar o horário da academia, ela afirma que isso atrapalharia o seu
trabalho.
Sugeri que ela venha duas vezes por semana, pra trabalhar com relaxamento, já
que a ansiedade é extrema. Ela concordou, embora tenha achado caro.
Senti que as poucas dicas que eu dei foram refutadas por ela. Ao mesmo tempo
que ela quer que aponte caminhos, parece ter sempre urna resposta pra manter a situação
como está. O que eu poderia sugerir pra ela conseguir novos amigos, aumentar o
repertório? A auto-estima dela é baixíssima...
Para operacionalizar a análise ela deverá ser colocada dentro do diagrama na
seqüência indicada:
3° Passo
Rcuposlns Islii/ltilos
1 2
3° Passo
Histórico de Vidti:
I ormada há 3 anos;
Hom repertório teórico;
lixiHcntc, responsável.
1° Passo / v.i). 2° Passo
hstimulos ( ontextuais:
I Analisa o
Trabalha em clinica lui ^ anos,
com portam ento do
- Setinu terapêutico
Kstlmulos cliente;
Respostas de
Anlcccdcnte.s
V I 2. Oferece alternativas; esquiva do cliente
Kstinuilos ( ’oiulicionais:
- ( 'ondiçtko sociocconftmica e
V Keuçóc*. corporais
características do cliente,
de ansiedade.
- M arid o encaminhou o cliente.
- r s i | i i i v i i t io a m a n t e
Referências
Andery, M. A. P. A., Micheletto, N., & Serio, T. M. A. P. (2001). Análise Funcional na Análise do
Comportamento. In H. J. Guilhardi (Org.), Sobre Comportamonto e Cognição. Expondo a Vari
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processos comportamentais. Interação, 5, 133-171. [Revista do Departamonto de Psicologia
da UFPR, Curitiba.]
Conlecçàode pam
óls Painóts sâo compostos (com Fuga/esquiva do ReJatar comportamentos
desenhos e palavras) em papel verbalizações relaciona próprios e de outras
mantui ou cartolinas orçjanizafv d a s ao tema. D ireção da pessoas do contexto de
do eventos, sequências atenção a estim ulos vida Portanto, isso pode
compoftamentals ou eotímulos diferentes d o s que ria aumentar a consdôn
antecedenteae consequentes constamnopainel. dasobreeventose
de urna resposta seqüências
comportamentais impor
tantes.
É possível que a estudante tenha aprendido a conhecer a criança por meio de sua
própria interação com ela e parece estar mais inclinada a brincar com a criança em vez de
interrogá-la.
Digiuseppe, Linscott e Jilton (1996) alertaram para a importância de terapeutas
infantis fomentarem a aliança terapêutica no tratamento de crianças e adolescentes. Sabe-
se que a aliança tende a desenvolver-se logo nas primeiras sessões e que ó preditora dos
resultados no tratamento, independentemente da severidade do problema ou da orienta
ção teórica (Digiuseppe, Linscott & Jilton, 1996). Um repertório lúdico deficitário do terapeuta
pode comprometer o sucesso das primeiras sessões com a criança e possivelmente, a
própria aliança terapêutica.
No presente capítulo, admitiu-se que a habilidade do TCI em conduzir atividades
lúdicas seja o centro da particularidade de sua atuação e por isso, merece treinamento
específico. Apresentou-se um programa de treino de habilidades elementares de TCIs e
uma lista de recursos lúdicos nele empregados, com os respectivos comportamentos da
criança a serem fortalecidos e enfraquecidos.
Sugeriu-se portanto, nesse capítulo, que as atividades lúdicas podem ser treina
das eficazmente e que a ampliação do repertório lúdico é extremamente recomendável
aos iniciantes da terapia comportamental infantil. Nesse sentido, o capítulo representa
uma síntese de uma das primeiras etapas de investigação nessa área, em que muito há
ainda para ser desenvolvido.
Referências
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Brandão, H., & Froeseler, M. G. V. (1997). O livro dos jogos e das brincadeiras. Belo Horizonte: Editora
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Acompanhamento
terapêutico
Capítulo 24
Acompanhamento terapêutico
- Da teoria à prática
AndrtaMdchdib Viânna
A M H A N 4 ÍCV M L A / ’ c A IS M
Thia#o R. de A . Sampaio
A M H A N -t IC ' - / M i / S n A f í f M
4. A formação do AT
Em virtude da grande demanda por este tipo de serviço, dos benefícios que este tipo
de tratamento traz aos pacientes, da oportunidade oferecida a estudantes de se inserirem no
mercado de trabalho e principalmente pela escassez de profissionais adequadamente forma
dos (que tenham as informações citadas acima), levou a equipe de profissionais do Ambula
tório de Ansiedade do Hospital das Clínicas (AMBAN) a organizar um curso anual para forma
ção de ATs na abordagem cognitivo comportamental (TCC).
O curso une o aprendizado formal que tem como resultado colocar o repertório verbal
do aluno sob o controle de estímulos discnminativos verbais e o prático que desenvolve o
repertório do mesmo, quando colocado sob controle dos estímulos do próprio fenômeno. Não é
a precisão teórica ou formal da análise que comumente controla o comportamento do AT, mas
sim as conseqüências das suas intervenções no comportamento do paciente (Starling, 2002).
Em um primeiro momento os alunos são instrumentalizados de toda as informações
sobre identificação e manejo aplicados aos transtornos ansiosos, de humor, psicoses e transtor
nos alimentares. Nos quatro meses seguintes realizam atendimentos a pacientes do Ambulató
rio de Ansiedade supervisionados por psicólogos e psiquiatras especialistas em TCC.
O curso teve início há três anos e vem trazendo benefícios a pacientes, familiares,
estudantes e a profissionais já formados, que acreditam na efetividade do AT intervindo
segundo a óptica cognitivo-comportamental. A seguir, Thiago, ex-aluno do presente curso,
formado em Psicologia continua seu trajeto enquanto AT, nos apresenta um caso.
5. Contrato terapêutico
Um aspecto importante da prática do AT que procuraremos demonstrar ó a
flexibilidade que este profissional, muitas vezes estudante de psicologia, necessita para
lidar com contingências que escapam às condições ideais apresentadas pela teoria,
principalmente com relação ao comprometimento e a disponibilidade para o trabalho,
tanto do paciente como da família do mesmo, como a interação do AT com a equipe de
tratamento.
O primeiro contato do AT com o caso costuma ser com um profissional da área de
saúde, geralmente um psiquiatra ou um psicólogo, que solicita o serviço de AT para um
paciente seu. No momento do contato, são obtidas informações gerais do paciente como
sexo, idade, diagnóstico, objetivo da intervenção e outros detalhes. A seguir, é marcada
uma reunião no consultório do profissional.
Nessa reunião, necessariamente, devem estar presentes o profissional requisitante
e o paciente (dependendo do caso também solicitamos a presença de um familiar mais
próximo). O fato de o primeiro contato do AT com o paciente ser no consultório e na presen
ça do profissional que já o atende, além de favorecer o vínculo entre AT e o paciente, eviden
cia o caráter de equipe que o tratamento procura ter.
O paciente deve ter claro, o papel do AT e importância da troca de informações entre
a equipe e os profissionais onvolvidos em seu tratamento e que esta, tenha acesso ao que
ocorrer nos atendimentos com o AT. Uma vez que, os dados obtidos determinam a efetividade
do tratamento como um todo. Cabe ressaltar também, e deixar claro para o paciente, que
existe uma "semipermeabilidade" de informações entre o AT e as pessoas que moram com
eíe, pois a famífia deve saber a razão dos atendimentos serem realizados na casa do paciente.
Por exemplo, o ideal é que todos que moram com o paciente saibam que o AT é um profissional
e não um amigo. O entendimento, a compreensão e o consentimento das pessoas que vivem
com o paciente com relação ao trabalho do AT são fundamentais, mas nem sempre se consegue
a cooperação de todos os membros da familia.
É importante ressaltar que, dentro da mesma reunião, é estabelecido um contrato
terapêutico, onde se discute o número de atendimentos semanais, faltas que possam
ocorrer, valores dos encontros e forma de pagamento.
6. Descrição do caso
Paciente do sexo masculino, então com 25 anos de idade e solteiro. Morava com
os pais, recém formado na faculdade e não trabalhava no momento dos atendimentos.
Sua principal atividade durante o dia era treinar musculação em uma academia com um