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1 – Distinga “langue” e “parole”. Dê exemplos e comente os exemplos.

Para Ferdinand de Saussure, a linguagem pode ser dicotomizada em langue (língua) e


parole (fala), visando melhor constituir o objeto de estudo da Linguística, conforme concebida pelo
linguista. Langue refere-se ao sistema gramatical de determinado idioma, uma entidade abstrata que
é de posse do coletivo e não encontra-se em nenhum indivíduo em sua totalidade. Já parole diz
respeito às realizações individuais da langue, às produções dos falantes, sujeitas a erros de
performance e variações.
Para ilustrar a dicotomia langue x parole, pode-se citar o exemplo das concordâncias verbais
de número em português brasileiro. No sistema gramatical da langue há um paradigma de
morfemas verbais correspondentes a número -o, -as, -a, -amos, -ais, -am para verbos de primeira
conjugação. Contudo, nas produções individuais (parole), o que se observa frequentemente é uma
variação em emprego ou não emprego desses morfemas, de forma que produções como “nós ama”
concorrem com “nós amamos”. Dessa forma, a parole é o lugar da variação, enquanto na langue
está a língua enquanto sistema.

2 – Se compararmos o português arcaico e o português atual, podemos ver que o verbo


“haver” tinha um sentido de posse que não aparece no português atual. Essa frase poderia ser
uma análise diacrônica ou sincrônica na linguística estruturalista?
Essa frase pode ser considerada uma análise diacrônica, conforme a linguística estruturalista,
uma vez que não se refere a um estado específico do sistema e às relações entre seus itens, mas a
um item específico e sua mudança no eixo das ocorrências históricas.

3 – Quais são os dois princípios do signo, segundo Saussure? Explique.


Para Saussure, o signo linguístico respeita dois princípios: é arbitrário, e possui caráter
linear.
Ser arbitrário significa que um signo linguístico específico não tem uma forma motivada, ou
seja, não há motivo algum para que o signo que tem como seu referente a fruta maçã seja
constituído pela imagem acústica [ma.sɐ̃]. Isso se verifica ao observar-se que, houvesse algum
motivo em particular para o emprego da imagem acústica [ma.sɐ]̃ , não haveria variação nas línguas
do mundo entre as imagens acústicas usadas para expressar o conceito ‘maçã’ (“maçã”, “apple”,
“яблоко” etc.)
Ser linear significa que a forma do signo, possuindo uma forma de natureza auditiva,
desenvolve-se no tempo, e assim projeta-se de forma linear; uma palavra por vez, um fone por vez.

4 – Escolha duas dicotomias saussurianas, mencione-as, explique-as e apresente exemplos.


Duas dicotomias importantes para a linguística saussuriana são: significante x significado, e
sincronia x diacronia.
Para Saussure, o signo linguístico é formado por Significante e Significado. Significante diz
respeito à forma material que expressa o significado do signo; é a imagem acústica associada a
determinado conceito e/ou referente. Já Significado refere-se ao conteúdo semântico expresso pela
forma material significante. Para exemplificar essa dicotomia, pode-se lançar mão de uma palavra
qualquer, “moeda” por exemplo. Esse signo compõe-se de duas partes: a ideia/conceito de moeda,
uma conceptualização arquetípica de um objeto físico particular, e a forma acústica que expressa
essa ideia na fala: [mo.ɛ.dɐ], uma sequência de sons específicos que convencionou-se como
expressão de uma ideia em particular.
Quanto à dicotomia sincronia x diacronia, diz respeito a dois pontos de vista para a análise
linguística. A sincronia refere-se a um estado de língua específico, um ponto na linha temporal,
enquanto a diacronia diz respeito à mudança entre estados de língua específicos no decorrer do
tempo. Portanto, em sincronia faz-se a análise das relações sistêmicas de um estado de língua,
enquanto que em diacronia, faz-se a análise das mudanças em determinado item/aspecto da língua.
Pode-se ilustrar a sincronia com estudos a respeito da gramática do português brasileiro
contemporâneo; tais estudos buscam determinar a configuração do sistema no atual estado de
língua. Já para exemplificar a diacronia, pode-se citar as investigações acerca da evolução de itens
vocabulares como a palavra “homem”: homem (português) ← omẽe (galego-português) ←
hominem (latim, acusativo de homo).

1 – Explique a visão de Chomsky acerca da aquisição de linguagem. Inclua as suas críticas ao


Behaviorismo.
A teoria de Chomsky (gerativismo) possui uma abordagem epistemológica cognitivista, e
lança mão de uma proposta inatista para explicar a aquisição da linguagem. Para o teórico, todos os
seres humano possuem um componente mental específico que os capacita a compreender e fazer
uso de linguagem, de forma que quando uma criança é exposta a dados de língua, seu cérebro faz
uso desses dados para modelar aos poucos uma gramática interna da língua à qual os dados dizem
respeito.
Portanto, a visão chomskiana rejeita as hipóteses behavioristas, uma vez que a repetição de
comportamentos não explica como a criança seria capaz de adquirir toda uma gramática; o estímulo
é pouco e desordenado. Além disso, a repetição de comportamentos também não explica como a
criança é capaz de formular hipóteses lógicas, mas não respaldadas pelas produções daqueles que já
plenamente adquiriram o idioma, como “a porta está abrida” (cair → caída, abrir → abrida), e não
explica como o ser humano é capaz de produzir enunciados novos que nunca ouviu antes.

2 – Comente o trecho […].


A partir de alguns meses de vida, crianças passam a engajar em interações de forma triádica,
ou seja, seu engajamento com o mundo se dá junto de um engajamento social, de forma que o
adulto e a criança interagem entre si e em conjunto interagem com referenciais externos. É a partir
da observação, imitação e interação com o adulto, que a criança adquire compreensão da intenção
comunicativa, o que lhe possibilita posteriormente fazer uso de símbolos linguísticos.

3 – Explique como se dá a aquisição de linguagem no Behaviorismo.


O behaviorismo se propunha a analisar o comportamento humano e de animais, com ênfase
em estímulo e reações, sem o recurso da introspecção. Por conta destas características, o
behaviorismo se tratou de um movimento comportamental. A aquisição da linguagem, para os
behavioristas, se dava pelo método de estímulos e reações, onde o indivíduo, em sua fase de
aprendizado, é apresentado à língua e, por meio das interações sociais, adquire o conhecimento
linguístico por tentativa e erro (estímulos positivos ou negativos).

4 – […] a) Quais são as fases segundo esse autor? b) O que é preciso para que uma criança
aprenda o uso de signos linguísticos intersubjetivamente compreendidos (ou seja, não estamos
falando de meras repetições)?
São as fases envolvendo processos cognitivos gerais: a fase de engajamento didático, em
que a criança compartilha com o adulto seus estados interiores de emoção; a fase de engajamento
triádico, em que há o compartilhamento com o adulto de atenção em relação a objetos e outros
seres, a ‘terceiros’; e por fim, há a fase do engajamento colaborativo, em que a criança compartilha
com o adulto estados emocionais, intencionais e manifestações de ação visando atingir objetivos em
comum com o adulto.
Já para que uma criança aprenda o uso de signos linguísticos, é necessário que antes ela
ganhe a compreensão de que o adulto linguística e simbolicamente competente faz uso de signos
linguísticos visando determinados objetivos, e, para isso, é necessário a compreensão das ações de
outros indivíduos com relação a referentes externos, e com relação aos próprios estados internos da
criança.

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