Sumário
CURRÍCULO ESCOLAR E CIDADANIA ............................................................................................ 4
EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DA DEMOCRACIA ................................... 8
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ....................................................................................... 9
DIREITOS FUNDAMENTAIS: Direito Político como Essencial ao Exercício da Cidadania .............. 11
EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DA DEMOCRACIA ................................. 13
A EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................................................................................................. 17
MÍDIA SOCIAL E A EDUCAÇÃO POLÍTICA CIDADÃ ..................................................................... 19
CURRÍCULO: CONCEITOS BÁSICOS ........................................................................................... 25
MODELOS DE DESENVOLVIMENTO CURRICULAR .................................................................... 25
Reflexões Críticas em Currículo ...................................................................................................... 31
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DA ESCOLA E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM...................... 34
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CURÍCULO ESCOLAR ............................................................ 35
CURRÍCULO E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR ...................................................... 37
CURRÍCULO, AVALIAÇÃO E MOBILIDADE ESCOLAR ................................................................. 41
Currículo: elemento básico de articulação das práticas educativas ................................................. 44
Abordagem contextual sobre currículo ............................................................................................ 45
O currículo social e suas questões educacionais............................................................................. 46
O currículo oculto ............................................................................................................................ 48
O currículo estruturador ................................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 52
4
CURRÍCULO ESCOLAR E CIDADANIA
A sociedade em crise busca, hoje, nos
espaços educativos, a possibilidade de
formação de indivíduos com uma nova
mentalidade, que enxerguem novas pistas
que conduzam à superação dos dilemas
sociais e à construção de uma nova forma
de gerenciar os recursos naturais e
históricos da humanidade; uma forma mais
adequada socialmente, menos predatória, e mais solidária nas relações entre os
indivíduos e com o planeta.
Nessa perspectiva, o currículo escolar busca as suas fontes de inspiração no
saber e nas necessidades do contexto social. É função da escola, hoje, entre
outras, apresentar ao aluno, com os instrumentos de cada disciplina, as
possibilidades de leitura das dimensões do todo, integrando-as
interdisciplinarmente, para uma visão de complexidade da realidade. A necessária
superação da visão fragmentada de conhecimento pode viabilizar-se no currículo,
integrando as disciplinas para a compreensão da realidade em suas dimensões.
O sistema, o todo, é mais do que a soma das partes, pois emergem
características não contidas nas partes isoladamente; a visão sistêmica passa a
ser o "que rejunta o todo e impulsiona a razão aberta, pois conhecer é sempre
rejuntar uma informação a seu contexto e ao conjunto ao qual pertence" MORIN
(1989, p. 33)
Ética e cidadania, trabalho e consumo, desigualdades sociais, educação
sexual, educação para a saúde, educação ambiental, informática, tecnologias são
realidades do mundo atual, entre outras, que a escola deve trabalhar, de forma
integrada e interdisciplinar, como ponto de partida para a compreensão da
complexidade dos fenômenos sociais em suas contradições. O seu tratamento no
currículo pode viabilizar um novo rosto aos conteúdos escolares, tendo em vista a
formação para a cidadania.
No exercício da função social da escola, cabe a construção de um projeto
político-pedagógico, expresso no desenvolvimento de um currículo que ajude a
5
compreender a complexidade dos fenômenos da realidade, articulando-os ao todo
social de que faz parte. A trajetória de transformação da escola historicamente
conservadora e racional para uma escola reflexiva e emancipadora (ALARCÃO,
2001) é um processo de mudança continuado, em construção, em conflito
permanente com a ordem vigente. Exige esforço contínuo, racional, ético, coletivo
e solidário; uma demonstração de que a prática pedagógica é, também, um
campo aberto à formação e (re)construção da cidadania.
No desenvolvimento do currículo, formar alunos reflexivos implica em uma
prática docente reflexiva, de que as instituições escolares são também
responsáveis, pois a construção do projeto político-pedagógico das escolas exige
uma permanente avaliação e formação.
"Outro fator intervém a despeito das novas tecnologias, da modernização
dos currículos, da renovação das ideias pedagógicas, o trabalho dos professores
evolui lentamente porque depende pouco do progresso técnico, porque a relação
educativa obedece a uma trama bastante estável e porque as condições de
trabalho e sua cultura profissional instalam os professores em rotinas. É por isso
que a evolução dos problemas e dos contextos sociais não se traduz 'ipso facto'
por uma evolução de práticas pedagógicas". PERRENOUD (1999, p. 12)
Um professor reflexivo trabalha
com e sobre o pensar da e na prática
pedagógica, em processo
continuamente repensado e
reconstruído. Ao profissional de
educação, é necessário dar-se tempo e
oportunidade de familiarização com os
eixos de uma renovação curricular e
com as novas tecnologias educativas; possibilitar-lhe condições de reflexão sobre
o tipo de educação e de currículo a ser desenvolvido, em função universo social
de alunos e professores. Sempre que pensamos criticamente nossa ação
educativa, entramos também no domínio da ética, além do domínio das
dimensões da ciência, da técnica e da política. Questionamentos poderão ser
levantados: "por que trabalhamos a nossa prática pedagógica desta ou daquela
6
maneira?", "Por que trabalhar novos eixos paradigmáticos?", "Em que medida
esses eixos instigam a uma prática pedagógica inclusiva?", "Por que trabalhar a
complexidade de fenômenos sociais no desenvolvimento do currículo?". Essa
reflexão no coletivo da escola pode fazer a diferença em relação a possibilidades
de educar para um novo modo de pensar, de construir e de acessar
conhecimento numa sociedade tecnológica.
Conquistas inegáveis na trajetória humana, em que a tecnologia esteve
presente, contribuíram para o processo de globalização: desde a época das
estradas terrestres que, no império romano, facilitaram as trocas comerciais, das
estradas marítimas que modificaram o conceito de mundo de então, ao final da
Idade Média, passando pelas estradas do ar que encurtam distâncias e tempo,
até as estradas da informação que, hoje, se intercruzam planetariamente, de
forma virtual. Importa, nesse contexto, que o gestor de processos educativos, em
cada âmbito escolar, oportunize o preenchimento do vazio existente nas fronteiras
disciplinares, com a problematização das condições de desigualdade de vida e de
acesso ao conhecimento. Contingentes populacionais espalhados pelo planeta
Terra, em que o Brasil se inclui, não usufruem do conhecimento, nem
compartilham de direitos iguais no acesso a bens materiais e espirituais. Trata-se,
pois, de uma questão de natureza ética e sociológica, não apenas epistemológica
ou tecnológica. Trata-se, sim, para os homens e para as mulheres, de uma
questão de formação para a cidadania, numa busca da sua própria humanidade.
A sociedade em crise busca, hoje, nos espaços educativos, a possibilidade
de formação de indivíduos com uma nova mentalidade, que enxerguem novas
pistas que conduzam à superação dos dilemas sociais e à construção de uma
nova forma de gerenciar os recursos naturais e históricos da humanidade; uma
forma mais adequada socialmente, menos predatória, e mais solidária nas
relações entre os indivíduos e com o planeta.
Nessa perspectiva, o currículo escolar busca as suas fontes de inspiração no
saber e nas necessidades do contexto social. É função da escola, hoje, entre
outras, apresentar ao aluno, com os instrumentos de cada disciplina, as
possibilidades de leitura das dimensões do todo, integrando-as
interdisciplinarmente, para uma visão de complexidade da realidade. A necessária
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superação da visão fragmentada de conhecimento pode viabilizar-se no currículo,
integrando as disciplinas para a compreensão da realidade em suas dimensões.
O sistema, o todo, é mais do que a soma das partes, pois emergem
características não contidas nas partes isoladamente; a visão sistêmica passa a
ser o "que rejunta o todo e impulsiona a razão aberta, pois conhecer é sempre
rejuntar uma informação a seu contexto e ao conjunto ao qual pertence" MORIN
(1989, p. 33)
Ética e cidadania, trabalho e consumo, desigualdades sociais, educação
sexual, educação para a saúde, educação ambiental, informática, tecnologias são
realidades do mundo atual, entre outras, que a escola deve trabalhar, de forma
integrada e interdisciplinar, como ponto de partida para a compreensão da
complexidade dos fenômenos sociais em suas contradições. O seu tratamento no
currículo pode viabilizar um novo rosto aos conteúdos escolares, tendo em vista a
formação para a cidadania.
No exercício da função social da escola, cabe a construção de um projeto
político-pedagógico, expresso no desenvolvimento de um currículo que ajude a
compreender a complexidade dos fenômenos da realidade, articulando-os ao todo
social de que faz parte. A trajetória de transformação da escola historicamente
conservadora e racional para uma escola reflexiva e emancipadora (ALARCÃO,
2001) é um processo de mudança continuado, em construção, em conflito
permanente com a ordem vigente. Exige esforço contínuo, racional, ético, coletivo
e solidário; uma demonstração de que a prática pedagógica é, também, um
campo aberto à formação e (re)construção da cidadania.
No desenvolvimento do currículo, formar alunos reflexivos implica em uma
prática docente reflexiva, de que as instituições escolares são também
responsáveis, pois a construção do projeto político-pedagógico das escolas exige
uma permanente avaliação e formação.
Outro fator intervém a despeito das novas tecnologias, da modernização dos
currículos, da renovação das ideias pedagógicas, o trabalho dos professores
evolui lentamente porque depende pouco do progresso técnico, porque a relação
educativa obedece a uma trama bastante estável e porque as condições de
trabalho e sua cultura profissional instalam os professores em rotinas. É por isso
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que a evolução dos problemas e dos contextos sociais não se traduz 'ipso facto'
por uma evolução de práticas pedagógicas. PERRENOUD (1999, p. 12)
A EDUCAÇÃO NO BRASIL
Para alcançar um nível de educação
satisfatório, o indivíduo precisa ser alfabetizado e
ser também capaz de ler e interpretar textos.
Portanto, o simples índice de analfabetos em um
Estado não traz uma real perspectiva da educação
de seus cidadãos. Nesse sentido, o Instituto Paulo
Montenegro e a ONG Ação Educativa, em parceria, criaram o Indicador de
Alfabetismo Funcional (Inaf)[2]. Segundo informações do Instituto: “O Indicador de
Alfabetismo Funcional (Inaf) revela os níveis de alfabetismo funcional da
18
população brasileira adulta. Seu principal objetivo é oferecer informações
qualificadas sobre as habilidades e práticas de leitura, escrita e matemática dos
brasileiros entre 15 e 64 anos de idade, de modo a fomentar o debate público,
estimular iniciativas da sociedade civil, subsidiar a formulação de políticas
públicas nas áreas de educação e cultura, além de colaborar para o
monitoramento do desempenho das mesmas. Dessa forma, pretende-se que a
sociedade e os governos possam avaliar a situação da população quanto a um
dos principais resultados da educação escolar: a capacidade de acessar e
processar informações escritas como ferramenta para enfrentar as demandas
cotidianas. Revela os níveis de alfabetismo funcional da população brasileira
adulta. Seu principal objetivo é oferecer informações qualificadas sobre as
habilidades e práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre 15 e
64 anos de idade, de modo a fomentar o debate público, estimular iniciativas da
sociedade civil, subsidiar a formulação de políticas públicas nas áreas de
educação e cultura, além de colaborar para o monitoramento do desempenho das
mesmas. Dessa forma, pretende-se que a sociedade e os governos possam
avaliar a situação da população quanto a um dos principais resultados da
educação escolar: a capacidade de acessar e processar informações escritas
como ferramenta para enfrentar as demandas cotidianas. ”
Dessa forma, o referido indicador mede não apenas a habilidade de leitura e
escrita, como também a capacidade do indivíduo adulto de interpretar textos e se
relacionar com o mundo que o cerca, denominado alfabetismo funcional. Essa
releitura sobre índices de analfabetismo foi vivenciada pela UNESCO, que em
1.958 definiu como alfabetizado aquele que possui habilidade de ler e escrever
um enunciado simples relativo à sua rotina e, 20 anos após, passou a adotar os
dois conceitos, o de analfabetismo e alfabetismo funcional. A pessoa alfabetizada
funcionalmente deve conseguir aplicar a leitura, escrita e habilidades matemáticas
em seu meio, desenvolvendo-as ao longo de sua vida.
O documento INAF BRASIL 2011 - Indicador de Alfabetismo Funcional –
apresenta os principais resultados do estudo realizado entre dezembro de 2011 e
abril de 2012:
19
Considerando os resultados apresentados, verifica-se que cerca de 73% da
população é alfabetizada funcionalmente, sendo que desses apenas 23%
possuem capacidade crítica. Portanto, os números descritos demonstram as
dificuldades inerentes à participação popular no âmbito do poder público, uma vez
que grande parte da população não possui capacidade de análise critica do
cenário no âmbito público. Nesse sentido, tendo em vista que parcela
considerável do povo desconhece os seus direitos políticos descritos na
Constituição e que grande parte, a despeito de possuir conhecimento de seus
direitos democráticos, não tem capacidade para analisar o caso concreto de
forma crítica e independente, como esperar que o cidadão esteja politicamente
engajado? Como esperar um real envolvimento da população no processo
decisório? Faz-se necessária a promoção de politicas públicas de melhoria na
educação com vistas à conscientização dos cidadãos acerca dos conceitos
jurídicos e políticos, visando assegurar a participação popular independente,
consciente e livre de influências externas nesse processo.
Destaca-se que para educar o povo brasileiro, não basta instituir normas
alterando a grade curricular escolar. A promulgação de uma lei no sentido de
incluir conteúdos de cidadania nos os currículos das escolas de ensino
fundamental e médio foi uma iniciativa louvável dado pelo Estado de Minas
Gerais, entretanto, ainda espera-se a concretização da referida norma. Além
disso, o país como um todo ainda sofre de problemas estruturais na educação, na
alfabetização de seus cidadãos.
MÍDIA SOCIAL E A EDUCAÇÃO POLÍTICA CIDADÃ
A partir do inicio dos anos 50, a Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC’s) entraram em um sistema amplo e veloz de desenvolvimento,
desencadeando consideráveis mudanças no comportamento da sociedade. Na
década de 90, as TIC’s já proporcionavam a capacidade de interligação mundial
através da rede de internet, possibilitando a interação de indivíduos nesse
ciberespaço. Levy define ciberespaço como “O espaço de comunicação aberto
pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores”
(LEVY, 1999). Essa definição engloba todos os sistemas de comunicação
20
eletrônicos, que transmitem informações dentro do ambiente virtual, tendo os
aparelhos de computadores como suporte.
Atualmente, fala-se em uma Revolução Tecnológica, processo capaz de
manifestar novas formas de sociabilidade através de ferramentas online de
comunicação, como as denominadas redes sociais. Nesse sentido, Recuero
dispõe que “uma rede é definida como um conjunto de nós conectados por
arestas. Assim, uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos:
atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (Wasserman e Faust,
1994, Degenne e Forsé, 1999).” (RECUERO;RAQUEL, 2007, , p.2). A partir dessa
perspectiva as redes sociais podem ser definidas como um meio de criação,
interação e difusão de informações no qual os atores interconectados ocupam as
posições de emissores e receptores de mensagens. Existem diversas
denominações para esse novo formato comunicacional que, a partir de sua
interferência, desencadeia importantes transformações no modo em que a
sociedade contemporânea se comunica, não sendo preciso mais ter contato físico
e conhecimentos sobre a pessoa na qual está se relacionando, basta uma
apresentação de “perfis virtuais” e, em virtude de uma afeição entre os dois atores
(donos de tais perfis), é estabelecida uma relação virtual. Nesse sentido dispõe
Recuero:
(...) “ É importante que se distinga o que são as redes sociais na Internet.
Elas são constituídas de forma diferente das redes offline, justamente por conta
da mediação. As redes sociais online, por exemplo, são apresentadas através de
representações dos atores sociais. Ou seja, ao invés de acesso a um indivíduo,
tem-se acesso à uma representação dele. Do mesmo modo, as conexões entre
os indivíduos não são apenas laços sociais constituídos de relações sociais. No
meio digital, as conexões entre atores são marcadas pelas ferramentas que
proporcionam a emergência dessas representações. As conexões são
estabelecidas através dessas ferramentas e mantidas por elas.” (RECUERO,
2012, p.2).
As redes sociais foram as principais ferramentas de comunicação utilizadas
para divulgar as manifestações que aconteceram no ano de 2013. A propagação
das informações desse movimento foi feita por meio do Facebook, Twitter, blogs
21
entre outras, sendo que milhares de pessoas formaram grupos e comunidades
virtuais para reivindicar a redução da tarifa de transporte público. Cabe asseverar
que Recuero define as redes sociais online como associativas, afirmando que as
mesmas possuem a tendência de serem muito mais amplas e interconectadas
que as redes off-line. Essas ferramentas possuem um alcance rápido de
indivíduos que estão interconectados, acarretando uma rápida propagação das
informações e, com isso, torna-se possível a reunião de uma extensa massa
popular que, além de manifestarem dentro das próprias redes sociais, foram as
ruas de todo o Brasil reivindicar seus direitos. Com a expansão das divulgações
via redes virtuais, houve uma extensa divulgação e expansão do número de
pessoas a aderir esse movimento, até mesmo em outros países, brasileiros e
estrangeiros mostraram seu apoio manifestando-se dentro do ciberespaço através
de postagens de fotos, vídeos, tuítes e compartilhamentos de diversos tipos de
informações. Entretanto, após a vitória da reivindicação do Passe Livre, outras
demandas geradas pela insatisfação popular começaram a surgir entre os
manifestantes. Com a massiva dispersão do movimento evidenciada, a “falta de
foco” dos manifestantes foi uma característica bastante discutida pelas agências
mediáticas. Notava-se que as reivindicações não eram mais específicas, o que
estava sendo percebido era a generalização da problemática em meio a várias
solicitações simultâneas por parte dos manifestantes. Nesse diapasão dispõe
Ávila:
(...) “ A medida que os protestos se tornavam maiores, eventos criados nas
redes sociais incitavam as pessoas à adesão a luta, mas agregavam
particularidades: pautas diversas começaram a surgir. “Gritos de guerra” como “o
gigante acordou” entoaram as manifestações virtuais e físicas. Ativistas
reforçaram a onda de indignação generalizada com os serviços públicos do país e
colocaram em pauta reivindicações contra leis específicas em processo de
votação pelo poder legislativo. As ruas passaram a “abrigar” uma massa de
milhares em marcha, mas com propósitos próprios, que não necessariamente
convergiam uns com os outros” (ÁVILA, 2013, p.2).
O movimento durou cerca de 3 meses, acontecendo nos meses de março,
maio e junho. Após o seu término pouco se ouviu falar sobre as manifestações e
22
seus efeitos nas redes sociais, “a bola da vez” passava ser algum assunto que
estava “na moda” dentro das ferramentas online, como o campeonato brasileiro
de futebol que inicia-se geralmente no mês de agosto. O engajamento dos
indivíduos para lutar por seus direitos durante as manifestações de 2013 foi
intenso, mas não duradouro. Muitas pessoas aderiram a causa sem conhecerem
a fundo o que estavam reivindicando e como realmente é conduzido o processo
político brasileiro. A partir de mensagens absorvidas nas redes sociais os
indivíduos se engajaram de maneira imediatista e líquida, gerando um grande
fluxo de informações absorvido e disseminado dentro do ciberespaço, sendo que
na maioria das vezes a veracidade dessas informações não era verificada. A
autora Marilena Chauí nomeia como “Pensamento Mágico” a disseminação de
informações pelas redes sociais e a adesão dos atores virtuais a esse propósito.
Nesse sentido dispõe:
(...) “Assume gradativamente uma dimensão mágica, cuja origem se
encontra na natureza do próprio instrumento tecnológico empregado, pois este
opera magicamente, uma vez que os usuários são, exatamente, usuários e,
portanto, não possuem o controle técnico e econômico do instrumento que usam
– ou seja, deste ponto de vista, encontram-se na mesma situação que os
receptores dos meios de comunicação de massa.(CHAUI, 2013, P.?)
A filósofa faz o comparativo entre as redes sociais e os meios de
comunicação de massa (MCM), uma vez que ambos os meios são capazes de
alcançar milhares de indivíduos e incitá-los a absorver determinados assuntos.
Desse modo, a sociedade civil conta, agora, não apenas com os Meios de
Comunicação de Massa (MCM) mas, também, com Plataformas Comunicativas
Multimidiáticas Ciberespaciais (PCMC). As habilidades inerentes ao meio digital
(como sincronia, hipertextualidade, entre outras) propiciam o surgimento de
competências comunicativas que favorecem um processo de construção de
opinião, minimizando interferências. Constatamos que as PCMC abrigam desde
fóruns de debate público, como exemplificam as listas de discussão, até formatos
inéditos de jornalismo como o colaborativo, os quais subvertem processos
excludentes, próprios dos MCM (Brittes, 2007, p. 2). A professora Juçara Gorski
Brittes (2013) também compara as Plataformas Comunicativas Multimidiáticas
23
Ciberespaciais (PCMC) aos Meios de Comunicação de Massa (MCM), mas
enfatizando uma diferença entre eles. Segundo a professora, os MCM são
excludentes, pois não há interação direta com o receptor, a exemplo o jornal que
produz uma matéria política impressa em que os seus leitores não conseguem
exercer uma interferência direta e imediata sobre aquela matéria. Entretanto, se a
mesma matéria for publicada em um jornal digital os leitores terão a possibilidade
debater diretamente e exatamente no momento da sua publicação. Esse é o
formato utilizado pelas redes sociais, os atores recebem a todo momento diversos
tipos de informações e podem optar por exprimir suas opiniões sobre elas e
repassar a respectiva informação, o que como já dito acima os coloca na posição
de destinatários e receptores de mensagens.
A respeito do tema Recuero (2012) dispõe acerca do efeito cascata definido
por Kleinberg e Easley:
“A rede proporciona aos indivíduos influenciarem-se uns aos outros. Parte
dessa influência dá-se pela informação disponível que circula na rede. Quando
essa informação consegue impactar a decisão de diversos indivíduos e gerar um
comportamento de massa na sua difusão, há uma epidemia”. (KLEINBERG E
EASLEY, 2010)
Os autores Kleinberg e Easley (2010) chamam a esse comportamento
“cascata”, tendo em vista que as redes sociais são capazes de atingir
rapidamente os seus usuários e esses ainda podem exprimir suas opiniões, tirar
suas dúvidas e disseminar as informações que entendem convenientes. Desse
modo, esse meio agrega a capacidade de ser um novo formato educacional,
ajudando os indivíduos a formar senso crítico perante as notícias que recebem de
diversos meios de comunicação, pois não mais ocupam apenas o lugar de
receptores passivos de mensagens. Esse talvez seria o tão almejado formato de
esfera pública definido por Habermas (2003), um espaço no qual os indivíduos se
encontrariam para discutir sobre questões de interesse público formando
argumentos e opiniões visando o bem comum (Habermas,1984). Entretanto, o
que se observa, como no caso das manifestações de 2013, é que não há um
efetivo interesse na criação de senso crítico, os indivíduos recebem as
informações advindas das redes sociais, relutam sobre elas ou as propagam sem
24
analisar qual é verossimilhança das mesmas. O que parece existir é um interesse
em participar do momento que está acontecendo dentro do ambiente virtual. O
indivíduo refuta ou concorda com alguma informação que está em pauta, mas não
parece se importar ou ao menos cogitar se possui entendimento e engajamento
suficiente para estar presente naquele debate e também não é realizada uma
busca por maiores informações acerca do assunto. O professor da Universidade
Federal do Rio Grande Sul Lucas Casa Grande, relata em seu artigo “As
Manifestações de 2013 no Brasil e as Organizações Imediatistas”, um fato
ocorrido durante esse acontecimento, in verbis:
“Quero relatar um caso breve: enquanto professor de uma Universidade, um
grupo de alunos se aproximou ao final de uma aula e me perguntou o que eles
deveriam escrever nas faixas e cartazes que levariam às manifestações.
Perguntei, então, por que iriam à manifestação. A resposta foi de que achavam
que o que ocorria no país naquele momento era "fantástico", "diferente de tudo" e
queriam tomar parte disso. No entanto, também queriam se sentir úteis e, por
isso, pensavam sobre o que deveriam manifestar. Dei algumas sugestões sobre
os cartazes - todas aceitas, porém não convincentes. Ao final, concluímos que o
mais importante era estar lá, experienciar o que aquele momento poderia gerar,
do que reivindicar algo ao estado. Não se tratava de buscar uma solução externa
à manifestação: naquele momento, a manifestação era a solução.”
Em sua obra Modernidade Líquida Bauman (2001) discute acerca da relação
existente entre a modernidade sólida e a modernidade líquida ou fluída, na qual
dispõe que “a modernidade “sólida” era uma era de engajamento mútuo. A
modernidade “fluída” é a época do desengajamento, da fuga fácil e da
perseguição inútil. Na modernidade “líquida” mandam os mais escapadiços, os
que são livres para se mover de modo imperceptível”(BAUMAN, 2001). Portanto,
a modernidade líquida parece estar presente no desengajamento ou na falta de
engajamento em relação às questões debatidas dentro das redes sociais,
tornando frágil o interesse em manter discussões sobre importantes questões que
devem ser debatidas.
Nesse sentido, conclui-se que para que as redes sociais se tornem formatos
educacionais efetivos é necessário que haja um estudo aprofundado das
25
questões debatidas, um filtro de informações e um real interesse em se engajar
sobre o assunto que está sendo tratado, para que assim seja criado a perspectiva
de senso crítico em relação às mensagens recebidas. Ou seja, a real participação
prescinde de educação política. Portanto, não basta apenas se envolver de forma
imediatista e momentânea sobre determinado assunto pois, assim como nas
Manifestações de 2013, passado o “boom” das discussões no meio virtual o
assunto é deixado de lado e trocado pelo próximo que terá mais
compartilhamentos, comentários, tuítes ou curtidas.
O currículo oculto
Lidar com as variáveis sociais não é uma
empreitada fácil, o respeito às diferenças, deve
ser trabalhado de forma objetiva. O currículo com
foco na formação social deveria se adequar a
realidade econômica e cultural das escolas, mas
diante da prática nem sempre refletida o currículo
acaba tendo uma dimensão oculta e deseduca
quando deveria educar. Sendo assim Silva cita
que: O que se aprende no currículo oculto são
fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações que permite
que crianças e jovens se ajustem da forma mais convincente às estruturas e às
pautas de funcionamento, consideradas injustas e antidemocráticas e, portanto,
indesejáveis, da sociedade capitalista (SILVA 2001, p. 78).
As regras e normas das convenções sociais do currículo oculto se fazem
presentes nas práticas dos(as) educadores(as) que ensinam, por exemplo, que os
meninos são mais forte que as meninas, que a mulher tem o dever de cuidar da
casa e dos filhos.
O currículo oculto está presente no cotidiano educacional: contendo
elementos que contribuem para aprendizagem de conceitos e valores de práticas
educativas que são incluídas como conteúdo escolar onde ainda meninos brincam
de carrinho e meninas de boneca.
Ricci (1998, p. 17) afirma que “toda estrutura curricular contém intenções
nem sempre explicitas.”, enquanto SILVA (2001, p. 81) apresenta um
posicionamento que diz que “não existe muita coisa oculta no currículo”.
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Concordo com o Ricci, o currículo possui uma dimensão oculta muito forte
que banaliza as questões sociais na vivência. Tanto o educador quanto os
educandos se tornam cúmplices das desigualdades e injustiças da sociedade que
são ensinadas e aprendidas nas escolas.
Por mais que o(a) educador(a) tente evitar com que o currículo oculto faça
parte do seu trabalho, a prática educativa acaba demonstrando o contrário. As
figuras dos livros didáticos reforçam as variações de classes econômicas, as
diferenças étnicas, homofóbicas, a intolerância religiosa entre outros. Este ensino
oculto está presente no cotidiano cultural e social escolar o que exige dos(as)
educadores(as) constante reflexão e vigilância sobre seu fazer pedagógico.
O currículo estruturador
Entendo que a expressão currículo articulador conceitue melhor o termo
currículo, pois ela traz a ideia que remete a rede e interação, que são
características fundamentais para a implementação do currículo normalmente
chamado de currículo estruturante. Essa ideia de articulação ajuda superar a
forma de listagem de informações normalmente confundidos com conteúdos da
disciplina.
Quando os conceitos que estruturam a área e as disciplinas estão
explícitos, pode-se ordenar um currículo recortando da realidade os fenômenos
que precisam ser compreendidos, traduzindo-os em temas de estudos, nos quais
os conceitos, procedimentos e atitudes serão construídos (RICCI 1998, p.
6). O conceito de currículo articulador desmistifica a ideia de que a
elaboração de disciplinas organizadas de forma fragmentada é mais eficiente no
processo educacional. O currículo estruturador busca ligar as disciplinas, afim de
que o conhecimento proposto seja articulado em todas as áreas de conhecimento.
Efland (1998, p. 61) sugere a organização de currículo a partir de uma ideia
chave. Sendo assim cada área de conhecimento se organiza por meio de um
tema problema. Os alunos precisam se envolver com questionamentos a fim de
se tornarem pesquisadores do próprio tempo histórico.
Na prática os alunos podem estudar fenômenos interdisciplinares de forma
não linear, e construir seu conhecimento traçando paralelos entre diversos
50
teóricos e conceitos bem como a evolução das pesquisas, suas mudanças e seus
conflitos, passando por vários autores e diversas áreas de práticas. Os(as)
educadores(as) que são mediadores/as destes processos devem estar atentos a
mudanças globais. Ricci afirma que:
Para o professor e a organização curricular o conceito
estruturante é fundamental na seleção do que será ensinado. È um
modo mais ordenado de definir temas, questões problema e mesmo
organizar projetos nos quais os conteúdos disciplinares possam ser
trabalhados num enfoque globalizador (RICCI 1998, p. 07). Para que a
articulação do currículo aconteça de forma positiva, as escolas devem
rever sua organização, estabelecer projetos e planejamentos
interdisciplinares, além de definir cada processo formador em conjunto
com os(as) educadores(as). Desta forma planejar os conteúdos de
modo objetivo e articulador proporciona a vivencia de um currículo
estruturante nas práticas educativas.
Para que o currículo educacional seja entendido, deve ser pensado como
uma produção social, pedagógica e cultural e encarado como parte integrante do
modo de organização que as escolas devem transformar para atribuir
significados. O currículo precisa ser visto como um meio que contribui tanto para
produzir como para reproduzir as experiências educacionais de determinados
grupos social, independente do segmento escolar.
O currículo necessita afastar-se das abordagens tradicionais que realçam a
aquisição de habilidades mecânicas. Na tentativa de atingir essa meta, a escola
deve, rejeitar os princípios conservadores e tradicionais que impregnam as
abordagens do currículo como um suporte de orientação pedagógica ou como
mera listagem de conteúdo.
É preciso conhecer a necessidade de promover a conciliação entre
currículo e sociedade, sem perder, a especificidade de cada um desses
processos. Isso implica reconhecer as muitas facetas de um e outro e a
diversidade de métodos e procedimentos para ensino, uma vez que não há um
método para a aprendizagem enfim há múltiplos métodos.
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Utilizar certos procedimentos de ensino, respeitando as características de
cada grupo e até mesmo de cada pessoa, exigirá formas diferenciadas de ações
pedagógicas. Sendo assim, o currículo necessita ser entendido e vivenciado
como elemento básico de articulação das práticas educativas.
REFERÊNCIAS 52