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Escola Municipal Marinheiro Marcílio Dias

Turma: HV3
Aluno(a): _____________________________________________________________________________________________

Mês: fevereiro
Profª.:

Atividades de Português
Aula do dia 08/02 – Assunto: Conto de enigma

SE EU FOSSE SHERLOCK HOLMES


Medeiros e Albuquerque

Os romances de Conan Doyle me deram o desejo de empreender alguma façanha no gênero das de Sherlock
Holmes. Pareceu-me que deles se concluía que tudo estava em prestar atenção aos fatos mínimos. Destes, por uma
série de raciocínios lógicos, era sempre possível subir até o autor do crime.
Quando acabara a leitura do último dos livros do Conan Doyle, meu amigo Alves Calado teve a oportuna
nomeação de delegado auxiliar. Íntimos, como éramos, vivendo juntos, como vivíamos na mesma pensão, tendo até
escritório comum de advocacia, eu lhe tinha várias vezes exposto minhas ideias de “detetive”. Assim, no próprio dia
de sua nomeação ele me disse:
— Eras tu que devias ser nomeado!
Mas acrescentou, desdenhoso das minhas habilidades:
— Não apanhavas nem o ladrão que roubasse o obelisco da avenida!
Fi-lo, porém, prometer que, quando houvesse algum crime, eu o acompanharia a todas as diligências. Por outro
lado levei-o a chamar a atenção do seu pessoal para que, tendo notícia de qualquer roubo ou assassinato, não invadisse
nem deixasse ninguém invadir o lugar do crime.
— Alta polícia científica – disse ele, gracejando.
Passei dias esperando por algum acontecimento trágico, em que pudesse revelar minha sagacidade. Creio que
fiz mais do que esperar: cheguei a desejar.
Uma noite, fui convidado por Madame Guimarães para uma pequena reunião familiar. Em geral, o que ela
chamava “pequenas reuniões” eram reuniões de vinte a trinta pessoas, da melhor sociedade. Dançava-se, ouvia-se boa
música e quase sempre ela exibia algum “número” curioso: artistas de teatro, de music-hall ou de circo, que contratava
para esse fim. O melhor, porém, era talvez a palestra que então se fazia, porque era mulher muito inteligente e só
convidava gente de espírito. Fazia disso questão.
A noite em que lá estive entrou bem nessa regra.
Em certo momento, quando ela estava cercada por uma boa roda, apareceu Sinhazinha Ramos. Sinhazinha era
sobrinha de Madame Guimarães; casara-se pouco antes com um médico de grande clínica. Vindo só, todos lhe
perguntaram:
— Como vai seu marido?
— Tem trabalhado por toda a noite, com uma cliente. [...]
A casa era de dois andares e Madame Guimarães, nos dias de festas, tomava a si arrumar capas e chapéus
femininos no seu quarto:
— Serviço de vestiário é exclusivamente comigo. Não quero confusões. [...]
Nisto, uma das senhoras presentes veio despedir-se de Madame Guimarães. Precisava de seu chapéu. A dona
da casa, que, para evitar trocas e desarrumações, era a única a penetrar no quarto que transformara em vestiário,
levantou-se e subiu para ir buscar o chapéu da visita, que desejava partir.
Não se demorou muito tempo. Voltou com a fisionomia transtornada:
— Roubaram-me. Roubaram o meu anel de brilhantes…

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Todos se reuniram em torno dela. Como era? Como não era? Não havia, aliás, nenhuma senhora que não o
conhecesse: um anel com três grandes brilhantes de um certo mau gosto espetaculoso, mas que valia de sessenta a
oitenta contos.
Sherlock Holmes gritou dentro de mim: “Mostra o teu talento, rapaz!”.
Sugeri logo que ninguém entrasse no quarto. Ninguém! Era preciso que a Polícia pudesse tomar as marcas
digitais que por acaso houvesse na mesa de cabeceira de Madame Guimarães. Porque era lá que tinha estado a joia.
Saltei ao telefone, toquei para o Alves Calado, que se achava de serviço nessa noite, e preveni-o do que havia,
recomendando-lhe que trouxesse alguém, perito em datiloscopia.
Ele respondeu de lá com a sua troça habitual:
— Vais afinal entrar em cena com a tua alta polícia científica?
Objetou-me, porém, que a essa hora não podia achar nenhum perito. Aprovou, entretanto, que eu não
consentisse ninguém entrar no quarto. Subi então com todo o grupo para fecharmos a porta a chave. Antes de se fechar,
era, porém, necessário que Madame Guimarães tirasse as capas que estavam no seu leito. Todos ficaram no corredor,
mirando, comentando. Eu fui o único que entrei, mas com cuidado extremo, um cuidado um tanto cômico de não tocar
em coisa alguma.[...]
Retiradas as capas, o zunzum das conversas continuava. Ninguém tinha entrado no quarto fatídico. Todos o
diziam e repetiam.
Foi no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu dentro de mim. Anunciei:
— Já sei quem furtou o anel.
De todos os lados surgiam exclamações. Algumas pessoas se limitavam a interjeições: “Ah!”, “Oh!”. Outras
perguntavam quem tinha sido.
Sherlock Holmes disse o que ia fazer, indicando um gabinete próximo:
— Eu vou para aquele gabinete. Cada uma das senhoras aqui presentes fecha-se ali em minha companhia por
cinco minutos.
— Por cinco minutos? ‒ indagou dr. Caldas.
— Porque eu quero estar o mesmo tempo com cada uma, para não se poder concluir da maior demora com
qualquer delas que essa foi a culpada. Serão para cada uma cinco minutos cronométricos. [...]
Houve uma hesitação. Algumas diziam estar acima de qualquer suspeita, outras que não se submetiam a
nenhum inquérito policial. Venceu, porém, o partido das que diziam “quem não deve não teme”. Eu esperava, paciente.
Por fim, quando vi que todas estavam resolvidas, lembrei que seria melhor quem fosse saindo despedir-se e partir.
E a cerimônia começou. Cada uma das senhoras esteve trancada comigo justamente os cinco minutos que eu
marcara.
Quando a última partiu, saiu do gabinete, achei à porta ansiosa, Madame Guimarães:
— Venha comigo ‒ disse-lhe eu.
Aproximei-me do telefone, chamei Alves Calado e disse-lhe que não precisava mais tomar providência alguma,
porque o anel fora achado.
Voltando-me para Madame Guimarães entreguei-o então. Ela estava tão nervosa que me abraçou e até beijou
freneticamente. Quando, porém, quis saber quem fora a ladra, não me arrancou nem uma palavra.
No quarto, ao ver Sinhazinha Ramos entrar, tínhamos tido, mais ou menos, a seguinte conversa:
— Eu não vou deitar verdes para colher maduros, não vou armar cilada alguma. Sei que foi a senhora
que tirou a joia de sua tia.
Ela ficou lívida. Podia ser de medo. Podia ser cólera. Mas respondeu firmemente:
— Insolente! É assim que o senhor está fazendo com todas, para descobrir a culpada?
— Está enganada. Com as outras converso apenas, conto-lhes anedotas. Com a senhora, não; exijo que me
entregue o anel.
Mostrei-lhe o relógio para que visse que o tempo estava passado.
— Note ‒ disse eu ‒ que tenho uma prova, posso fazer ver a todos.
Ela se traiu, pedindo:
— Dê sua palavra de honra que tem essa prova!
Dei. Mas o meu sorriso lhe mostrou que ela, sem dar por isso, confessara indiretamente o fato.
— E já agora ‒ acrescentei ‒ dou-lhe também a minha palavra de honra que nunca ninguém saberá por mim o
que fez.

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Ela tremia toda.
— Veja que falta um minuto. Não chore. Lembre-se de que precisa sair daqui com uma fisionomia jovial.
Diga que estivemos falando de modas.
Ela tirou a jóia do seio, deu-ma e perguntou:
— Qual é a prova?
— Esta ‒ disse-lhe eu apontando para uma esplêndida rosa-chá que ela trazia. ‒ É a única pessoa, esta noite,
que tem aqui uma rosa amarela. Quando foi ao quarto de sua tia, teve a infelicidade de deixar cair duas pétalas dela.
Estão junto da mesa de cabeceira.
Abri a porta. Sinhazinha compôs magnificamente, imediatamente, o mais encantador, o mais natural dos
sorrisos e saiu dizendo:
— Se este Sherlock fez com todas o mesmo o que fez comigo vai ser um fiasco.
Não foi fiasco, mas foi pior.
Quando Sinhazinha chegara, subira, logo. Graças à intimidade que tinha na casa, onde vivera até a data do
casamento, podia fazer isso naturalmente. Ia só para deixar a sua capa dentro do armário. Mas, à procura de um alfinete,
abriu a mesinha de cabeceira, viu o anel, sentiu a tentação de roubá-lo e assim fez. Lembrou-se de que tinha de ir para
a Europa daí a um mês. Lá venderia a joia. Desceu então novamente com a capa e mandou pô-la no automóvel. E como
ninguém a tinha visto subir, pôde afirmar que não fora ao andar superior.
Eu estraguei tudo. Mas a mulherzinha se vingou: a todos insinuou que provavelmente o ladrão tinha sido eu
mesmo, e, vendo o caso descoberto antes da minha retirada, armara aquela encenação para atribuir a outrem o meu
crime.
O que sei é que Madame Guimarães, que sempre me convidava para as suas recepções, não me convidou para
a de ontem… Terá talvez sido a primeira a acreditar na sobrinha.

1. Faça uma breve pesquisa. Quem foi Conan Doyle? E quem era Sherlock Holmes?
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2. O narrador do conto é personagem (ele narra e participa da história) ou observador (apenas narra,
não participa da história)? Justifique.
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3. Qual é a principal característica da personalidade do narrador? Ela é decisiva para sua atitude diante
do caso do roubo? Justifique
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Um conto de enigma é uma narrativa e, assim, desenvolve uma sequência de ações que formam um enredo. Em
geral, ele se inicia depois da ocorrência de um mistério que precisa ser desvendado (um crime, por exemplo).
Apresenta-se, então, um detetive, que, por meio de pistas, deve solucionar o caso. A resolução do enigma costuma
ser inesperada e surpreender o leitor.

4. Em contos de enigma, há tipos, ou seja, personagens que representam comportamentos padronizados:


o detetive, o criminoso, a vítima, os suspeitos. No conto lido, que personagens se enquadram em
cada um desses tipos?
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5. Em que espaço(s) se desenvolvem as ações narradas no conto?
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6. Procure determinar: em que período do tempo se deram essas ações?


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7. Que medidas foram tomadas para descobrir quem havia furtado o anel?
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8. Qual foi a pista determinante para que o enigma fosse desvendado?


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9. O que motivou Sinhazinha Ramos a cometer o crime? Por que ela supôs que não suspeitariam dela?
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Aula do dia 11/02 – Assunto: Conto de terror

A máscara da morte rubra

A “Morte Rubra” há muito tempo devastava o país. Jamais se viu peste tão fatal ou tão hedionda. O sangue era
sua revelação e sua marca. A cor vermelha e o horror do sangue. Surgia com dores agudas e súbita tontura, seguidas
de profuso sangramento pelos poros, e então a morte. As manchas rubras no corpo e principalmente no rosto da vítima
eram o estigma da peste que a privava da ajuda e compaixão dos semelhantes. E entre o aparecimento, a evolução e o
fim da doença não se passava mais de meia hora.
Mas o príncipe Próspero era feliz, destemido e astuto. Quando a população de seus domínios se reduziu à
metade, mandou vir à sua presença um milhar de amigos sadios e divertidos dentre os cavalheiros e damas da corte e
com eles retirou-se, em total reclusão, para um dos seus mosteiros encastelados. Era uma construção imensa e
magnífica, criação do gosto excêntrico, mas grandioso do próprio príncipe. Circundava-a a muralha forte e muito alta,
com portas de ferro. Depois de entrarem, os cortesãos trouxeram fornalhas e grandes martelos para soldar os ferrolhos.
Resolveram não permitir qualquer meio de entrada ou saída aos súbitos impulsos de desespero dos que estavam fora
ou aos furores do que estavam dentro. O mosteiro dispunha de amplas provisões. Com essas precauções, os cortesãos
podiam desafiar o contágio. O mundo externo que cuidasse de si mesmo. Nesse meio-tempo era tolice atormentar-se
ou pensar nisso. O príncipe havia providenciado toda a espécie de divertimentos. Havia bufões, improvisadores,
dançarinos, músicos, beleza, vinho. Lá dentro, tudo isso mais segurança. Lá fora, a “Morte Rubra”.
Lá pelo final do quinto ou sexto mês de reclusão, enquanto a peste grassava mais furiosamente lá fora, o
príncipe Próspero brindou os mil amigos com um magnífico baile de máscaras.
Que voluptuosa cena a daquela mascarada! Mas antes descrevamos os salões em que ela se desenrolava. Era
uma série imperial de sete salões.[...] O sétimo salão estava todo coberto por tapeçarias de veludo negro, que pendiam
do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. [...] As vidraças,
ali, eram rubras – de uma violenta cor de sangue. [...]
Era também nesse apartamento que se achava, encostado à parede oeste, um gigantesco relógio de ébano. Seu
pêndulo oscilava de um lado para o outro com um bater surdo, pesado, monótono; quando o ponteiro dos minutos
completava o circuito do mostrador e o relógio ia dar as horas, de seus pulmões de bronze brotava um som claro, alto,
grave e extremamente musical, mas em tom tão enfático e peculiar que, ao final de cada hora, os músicos da orquestra
se viam obrigados a interromper momentaneamente a apresentação para escutar-lhe o som; com isso os dançarinos
forçosamente tinham de parar as evoluções da valsa e, por um breve instante, todo o alegre grupo mostrava-se
perturbado; enquanto ainda soavam os carrilhões do relógio, observava-se que os mais frívolos empalideciam e os
mais velhos e serenos passavam a mão pela teste, como se estivessem num confuso devaneio ou meditação. Mas, assim
que os ecos desapareciam interiormente, risinhos levianos logo se riam do próprio nervosismo e insensatez e, em

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sussurros, diziam uns aos outros que o próximo soar de horas não produziria neles a mesma emoção; mas, após um
lapso de sessenta minutos (que abrangem três mil e seiscentos segundos do tempo que voa), quando o relógio dava
novamente as horas, acontecia a mesma perturbação e idênticos tremores e gestos de meditação de antes.
[...] E o festim continuou em remoinhos até que, afinal, começou a soar meia-noite no relógio. Então a música
cessou, como contei, as evoluções dos dançarinos se aquietaram, e, como antes, tudo ficou intranquilamente
imobilizado. Mas agora iriam ser doze as badaladas do relógio; e desse modo mais pensamentos talvez tenham se
infiltrado, por mais tempo, nas meditações dos mais pensativos, entre aqueles que se divertiam. E assim também
aconteceu, talvez, que, antes de os últimos ecos da última badalada terem mergulhado inteiramente no silêncio, muitos
indivíduos na multidão puderam perceber a presença de uma figura mascarada que antes não chamara a atenção de
ninguém. E, ao se espalhar em sussurros o rumor dessa nova presença, elevou-se aos poucos de todo o grupo um
zumbido ou murmúrio que expressava a reprovação e surpresa – e, finalmente, terror, horror e repulsa.
[...]A figura era alta e esquálida, envolta do pés a cabeça em vestes mortuárias. A máscara que escondia o
rosto procurava assemelhar-se de tal forma com a expressão enrijecida de um cadáver que até mesmo o exame mais
atento teria dificuldade em descobrir o engano. Tudo isso poderia ter sido tolerado, e até aprovado, pelos loucos
participantes da festa, se o mascarado não tivesse ousado encarnar o tipo da Morte Rubra. Seu vestuário estava
borrifado de sangue, e sua alta testa, assim como o restante do rosto, salpicada com o horror rubro.
Quando os olhos do príncipe Próspero pousaram nessa imagem espectral (que andava entre os convivas com
movimentos lentos e solenes, como se quisesse manter-se à altura do papel), todos perceberam que ele foi assaltado
por um forte estremecimento de terror ou repulsa, num primeiro momento, mas logo o seu semblante tornou-se
vermelho de raiva.
– Quem ousa…? perguntou com voz rouca aos convivas que estavam perto – quem ousa nos insultar com essa
caçoada blasfema? Peguem esse homem e tirem sua máscara, para sabermos quem será enforcado no alto dos muros,
ao amanhecer!
O príncipe Próspero estava na sala leste, ou azul, ao dizer essas palavras. Elas ressoaram pelos sete salões,
altas e claras, pois o príncipe era um homem ousado e robusto e a música se calara com um sinal de sua mão.
O príncipe achava-se no salão azul com um grupo de pálidos convivas ao seu lado. Assim que falou, houve
um ligeiro movimento dessas pessoas na direção do intruso, que, naquele momento, estava bem ao alcance das mãos,
e agora, com passos decididos e firmes, se aproximava do homem que tinha falado. Mas por causa de um certo temor
sem nome, que a louca arrogância do mascarado havia inspirado em toda a multidão, não houve ninguém que
estendesse a mão para detê-lo; de forma que, desimpedido, passou a um metro do príncipe e, enquanto a vasta multidão,
como por um único impulso, se retraía do centro das salas para as paredes, ele continuou seu caminho sem deter-se,
no mesmo passo solene e medido que o distinguira desde o início. [...] Foi então que o príncipe Próspero, louco de
raiva e vergonha por sua momentânea covardia, correu apressadamente pelos seis salões, sem que ninguém o seguisse
por causa do terror mortal que tomara conta de todos. Segurando bem alto um punhal desembainhado, aproximou-se,
impetuosamente, até cerca de um metro do vulto que se afastava, quando este, ao atingir a extremidade do salão de
veludo, virou-se subitamente e enfrentou seu perseguidor. Ouviu-se um grito agudo e o punhal caiu cintilando no tapete
negro, sobre o qual, no instante seguinte, tombou prostrado de morte o príncipe Próspero. Então, reunindo a coragem
selvagem do desespero, um bando de convivas lançou-se imediatamente no apartamento negro e, agarrando o
mascarado, cuja alta figura permanecia ereta e imóvel à sombra do relógio de ébano, soltou um grito de pavor
indescritível, ao descobrir que, sob a mortalha e a máscara cadavérica, que agarravam com tamanha violência e
grosseria, não havia qualquer forma palpável.
E então reconheceu-se a presença da Morte Rubra. Viera como um ladrão na noite. E um a um foram caindo
os foliões pelas salas orvalhadas de sangue, e cada um morreu na mesma posição de desespero em que tombou ao
chão. E a vida do relógio de ébano dissolveu-se junto com a vida do último dos dissolutos. E as chamas dos braseiros
extinguiram-se. E o domínio ilimitado das Trevas, da Podridão e da Morte Rubra estendeu-se sobre tudo.

(Edgar Allan Poe)

1. No conto, Morte Rubra era uma peste. Quais eram os sintomas dessa doença?
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2. Como o Príncipe se comporta diante da figura mascarada?
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3. Por que o Príncipe se isola com certas pessoas num local fortificado?
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4. O que há em comum entre as pessoas que o Príncipe Próspero decidiu salvar?


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5. Marque quais situações abaixo contribuem para o suspense:

( ) A fuga do Príncipe para uma de suas abadias com determinadas pessoas.


( ) A decisão do Príncipe de organizar um baile de máscaras.
( ) A descrição do sétimo salão, onde ocorre o baile.
( ) O badalar do relógio de pêndulo e a pausa que ele instaura na festa.
( ) A descrição da misteriosa figura mascarada.

6. Por que o trecho “até que finalmente começaram a soar as doze badaladas da meia noite no relógio
de ébano” acentua o efeito do mistério do conto?
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7. Contos de terror costumam apresentar elementos sobrenaturais, ou seja, situações que a ciência não
explica. O que há de sobrenatural na narrativa lida?
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O objetivo dos contos de terror é despertar no leitor sensações de medo e horror. Para atingir esse objetivo,
algumas narrativas apresentam elementos sobrenaturais. Em outras, o horror é produzido pela vivência da própria
condição humana. Nos contos de terror, tempo e espaço são recursos essenciais na criação do suspense.

8. Releia o trecho a seguir observando as palavras em destaque:

“[...] O sétimo compartimento era totalmente amortalhado por pálios de veludo negro que não somente pendiam das
paredes, como recobriam-lhe todo o teto e tombavam em dobras pesadas sobre um tapete do mesmo material e da
mesma cor. [...] Nos vitrais desta sala, predominava escarlate, ou antes, um tom profundo de vermelho sangue. [...]”

Como a opção por certas cores acentua o clima de terror da narrativa?


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9. A organização do baile de máscaras é fundamental para a construção da narrativa? Justifique sua


resposta.
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Com a finalidade de criar suspense em contos de terror, na narrativa podem ser apresentados indícios que sugerem
um perigo iminente ou a presença de um mal que ronda as personagens.

Como vimos, o texto “Se eu fosse Sherlock Holmes” é um conto de enigma. Enquanto “Morte rubra” é um conto de
terror. No de enigma, o suspense torna o leitor curioso sobre a revelação dos aspectos do crime narrado. Além disso,
ele termina com o crime solucionado. Já no conto de terror, ele cria uma atmosfera assustadora, propícia a elementos
sobrenaturais e costuma ter um desfecho negativo.

Atividade do dia 15/02 – Assunto: Revisão de sujeito

Observe estes títulos de notícias:

1) Câmara aprova plano de R$ 3 bilhões para socorro à cultura durante a pandemia. (Gazeta do Povo,
26/05/2020)

• De quem está se falando? Da Câmara (do RJ).


• O que está sendo dito sobre ele? Que aprova plano de R$ 3 bilhões para socorro à cultura durante a pandemia.

Com essa análise, concluímos que:


• A Câmara é o SUJEITO da oração
• O que se diz sobre a Câmara é o PREDICADO

2) Shoppings e centros comerciais reabrem hoje no Distrito Federal. (Isto É, 27/05/2020)

• De quem está se falando? De Shoppings e centros comerciais.


• O que está sendo dito sobre eles? Que reabrem hoje (no caso, o dia de publicação da notícia: 27/05/2020).

Com essa análise, concluímos que:


• Shoppings e centros comerciais são os SUJEITOS da oração
• O que se diz sobre os Shoppings e centros comerciais é o PREDICADO

Sujeito é o termo com o qual o verbo concorda; é sobre quem se fala. Predicado é o que se diz sobre o sujeito, é o
termo da oração em que está o verbo.

Ainda não entendeu o que é sujeito e predicado? Não tem problema, eu te ajudo. Sujeito é quem está agindo
nas frases. Por exemplo, quando eu digo “Rafael leu o livro.”, quem está agindo, quem leu algo foi Rafael. Isto é,
Rafael é o sujeito da frase.
Para facilitar sua vida, vou te dar uma super dica! Para encontrar o sujeito de uma oração, basta perguntar ao
verbo “Quem é que + verbo?”. A resposta de sua pergunta será o sujeito. Tudo o que sobrar da oração é o predicado.

Exemplo: Rafael comeu bolo de chocolate.

Neste caso, o verbo, a ação da frase, é “comeu”. Perguntaremos então: Quem é que comeu?
Bem, a resposta de nossa pergunta é: “Rafael”. Sendo assim, Rafael é o sujeito da frase. Logo, o predicado é tudo o
que sobrou, depois de termos tirado o sujeito: “comeu bolo de chocolate.”

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Rafael comeu bolo de chocolate.

sujeito predicado

CLASSIFICAÇÃO DO SUJEITO:

a) SUJEITO SIMPLES: é aquele que possui apenas um núcleo, ou seja, quando o verbo se refere a uma só palavra.
(Miguel viajou. / Nós aprendemos a música.)

b) SUJEITO COMPOSTO: é aquele que possui mais de um núcleo. (Pai e filho estudam juntos em casa. / Aprendem
mais os otimistas e os esforçados.)

c) SUJEITO OCULTO: é aquele que não está explícito na oração, mas pode ser determinado pela flexão número-
pessoa do verbo, ou por sua presença em alguma oração antecedente. (Gosto de viajar todos os anos. [Quem é que
gosto? Só pode ser eu] / Caímos de bicicleta. [Quem é que caímos? Só pode ser nós])

Exercícios:

1. Classifique o sujeito das frases abaixo.

a) “Um baiano e um paulista fazem a sena.” ________________________________________


b) “Coração mata uma pessoa a cada 34 segundos nos EUA.” ________________________________________
c) “Os dias e as semanas passavam devagar...” ________________________________________
d) Pedro saiu de casa cedo e até agora não voltou. ________________________________________
e) Muitas crianças puseram-se a cantar em voz alta. ________________________________________
f) Viajaremos amanhã cedo. ________________________________________
g) Eles tinham feito o bolo do aniversário. ________________________________________
h) O cachorro barulhento e o papagaio tagarela chamam a atenção. ________________________________________

2. Identifique o sujeito e o predicado das orações abaixo:

a) Eu e meus amigos planejávamos fazer uma excursão.

Sujeito: ________________________________________
Predicado: ________________________________________

b) O primeiro amor é inesquecível.

Sujeito: ________________________________________
Predicado: ________________________________________

c) No outro dia, o menino amanheceu doente.

Sujeito: ________________________________________
Predicado: ________________________________________

3. Complete as orações a seguir com os tipos de sujeitos indicados entre parênteses, para que fiquem coerentes com os
predicados.

a) ________________ acabaram de chegar. (sujeito simples)


b) ________________são meus melhores amigos. (sujeito composto)

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c) Terminaram ________________. (sujeito simples)
d) ________________ fizemos o trabalho sozinhos. (sujeito composto)
e) Partiu ________________. (sujeito simples)
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Atividade do dia 18/02 – Assunto: Revisão de sujeito

1. Sublinhe o sujeito das orações abaixo:

a) Os trabalhadores desempregados concentraram-se diante da Prefeitura.


b) As garotas discutiram o texto animadamente.
c) Estiveram aqui alguns repórteres.
d) O robô virou uma grande atração.
e) Os automóveis paravam na esquina.
f) Disciplinados pedestres cruzavam a movimentada avenida.
g) Aumentavam da noite para o dia os barracos.
h) Os moradores querem um semáforo no cruzamento.
i) Voou agora o último pássaro preso.
j) Viajaram ontem nossos atletas.
k) O cadeado deste portão está com defeito.
l) O leite materno é importante nos primeiros meses da criança.

2. Leia a tirinha abaixo:

a) Em “Jon e eu formamos um casal bacana”, qual é o sujeito da oração? Classifique-o.


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b) Qual é o predicado da oração do item acima (letra “a”)?
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c) O que Garfield realmente parece pensar sobre o casal?
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3. Leia a tirinha abaixo e responda ao que se pede:

a) No 2º quadrinho há 3 orações:

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Peixes comem insetos. Pássaros comem peixes. Gatos comem pássaros.

Identifique o sujeito das 3 orações.


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b) Os três sujeitos recebem a mesma classificação. Como se classificam os sujeitos acima?


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c) Na fala da última tirinha: “Não quero saber essas coisas”, o sujeito da oração é:
( ) simples ( ) composto ( ) desinencial

d) Justifique a resposta do item acima (letra “c”).


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Aula do dia 22/02 – Assunto: Crônicas

CRÔNICA

É um texto breve, ligado a vida cotidiana, com linguagem coloquial. Pode ter um tom humorístico ou um
toque de crítica indireta, especialmente quando aparece em seção ou artigo de jornal, revistas e programas da TV.

• Texto narrativo curto e com poucas personagens;


• As personagens não têm aprofundamento psicológico e são apresentadas em traços rápidos;
• O cronista explora temas do cotidiano;
• O enredo apresenta poucos fatos e eles acontecem em um curto espaço de tempo;
• O texto apresenta visão particular (subjetiva) do autor sobre os fatos que acontecem no cotidiano e pode
ser escrito em primeira ou terceira pessoa do discurso.
• O autor procura dar um "tom" específico para sua crônica: humorístico, crítico, satírico, irônico, reflexivo
ou de protesto.

Exercícios

A ÚLTIMA CRÔNICA

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou
adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais
um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida
diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao
circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de
uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada
para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria
o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem
os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao
longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar
pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou
também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três
seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém,
que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o
garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a
ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o

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pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da
naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão
apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena
fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à
sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto
ritual. A mãe 9 remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de
fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a
Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no
mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada,
cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe
recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-
se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de
bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso
da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila,
ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

Texto de Fernando Sabino, extraído do livro "A Companheira de Viagem", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1965, pág. 174.

1. Qual o objetivo desta crônica?


_____________________________________________________________________________

2. Existe alguma relação entre a situação vivida pela família da crônica e a de nossos dias?
_____________________________________________________________________________

3. Você seria capaz de buscar, num fato do seu dia-a-dia, momentos de fraternidade e sensibilidade e nele descobrir
suas belezas? Se sim, dê exemplos.
_____________________________________________________________________________

4. O acontecimento da crônica ocorreu num cenário e envolveu pessoas? Em que cenário? Como você descreveria
o botequim?
_____________________________________________________________________________

5. Quais são as personagens envolvidas no episódio narrado? Comente sobre elas.


_____________________________________________________________________________

6. O narrador-observador não está presente na festa de aniversário, mas é a personagem central dela, por quê?
_____________________________________________________________________________

7. Que hipóteses poderíamos formular para o fato de a mãe ter guardado as velinhas?
_____________________________________________________________________________

8. Há nas duas últimas orações do 2º parágrafo uma crítica a instituição família? Você concorda? Explique.
_____________________________________________________________________________

9. “Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual”. A que ritual o autor se refere?
_____________________________________________________________________________

10. O autor diz que o pai demonstra estar satisfeito com a celebração. E você, o que acha?
_____________________________________________________________________________

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Aula do dia 25/02 – Assunto: Crônicas

Continuação das questões do texto anterior (A última crônica, de Fernando Sabino)

1. Em sua opinião o constrangimento do pai, ao perceber que estava sendo notado, é normal?
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2. Apesar da dificuldade financeira, podemos destacar sentimentos nobres na relação daquela família. Cite alguns.
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3. É possível reconhecer na crônica em que época esse fato aconteceu?


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4. Os termos “acidental” e “essencial” conferem que sentido no texto?


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5. A linguagem usada na crônica é simples ou é rebuscada?


_____________________________________________________________________________

6. No segundo parágrafo, ao descrever a menina, o autor utiliza de adjetivos no diminutivo. Que motivo o leva a
fazer essa escolha lexical?
_____________________________________________________________________________

7. Defina crônica, com suas palavras, a partir da leitura do primeiro parágrafo do texto de Fernando Sabino.
_____________________________________________________________________________

8. Os acontecimentos estão organizados em quantos parágrafos?


_____________________________________________________________________________

9. O texto lido apresenta a seguinte estrutura:

a) situação inicial; ____________________________


b) início do conflito; ____________________________
c) clímax do conflito; ____________________________
d) resolução do conflito; ____________________________
e) volta à situação inicial. ____________________________

Relacione essa estrutura de acordo com os parágrafos do texto.

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