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BIZÂNCIO E JUSTINIANO
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
4. Reconhecer os problemas internos e externos enfrentados pelo Império Bizantino ao longo dos séculos VI e
VII;
Como vimos na aula passada, em 518 inicia-se a Dinastia Justiniana, com a subida ao trono do soldado Justino.
Segundo a historiografia, o governo era exercido de fato por seu sobrinho, Pedro Sabático. O jovem viria a
Ao longo das primeiras dinastias, o Império Romano do Oriente preservou a essência dos elementos romanos,
mantendo, inclusive, o latim como idioma oficial. Em termos de estruturas político-administrativas, essa lógica se
repetiu. A partir do século VII, as contribuições gregas e asiáticas passam a prevalecer, o que alguns entendem
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Justiniano (527-565) era casado com uma mulher de origem humilde chamada Teodora. Ao contrário da maioria
das mulheres de seu tempo, relegadas a um papel secundário pelos narradores, ela foi diversas vezes citada por
seu papel significativo no governo do esposo. Teria influenciado decisivamente em questões de foro político e
religioso.
Logo no início de seu governo de fato, o imperador Justiniano tentou solucionar uma questão que se arrastava
por décadas, o Primeiro Cisma da Igreja Católica. Mas o que foi esse Cisma? Em primeiro lugar, a palavra Cisma é
Você deve se lembrar do Cisma ocorrido entre as 12 tribos hebraicas que originou a formação de dois reinos: o
Em 478, o Patriarca de Roma tomou uma atitude extrema ao excomungar o líder religioso Oriental, o Patriarca
de Constantinopla.
Desde o Concílio de Niceia, em 325, a Igreja estava subdividida em cinco domínios: o de Roma, o de
Patriarca romano.
Isso ocorreu porque ele não tomara atitudes para coibir uma heresia, o Monofisismo, cujo número de adeptos
era significativo no Egito, Síria e na Terra Santa. Os monofisistas defendiam que a natureza de Cristo era una, ou
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Após a excomunhão, o imperador bizantino apoiou o Patriarca, enquanto os poderes então estabelecidos em
Roma ficaram ao lado do Papa, levando à desvinculação momentânea das Igrejas Ocidental e Oriental. Com o
projeto de reunir novamente Ocidente e Oriente, Justiniano se comprometeu a proteger a ortodoxia da Igreja e
passou a perseguir as heresias, a despeito de sua esposa, que seria adepta do Monofisismo.
1 Administração e economia
A administração do Império Bizantino foi aos poucos se baseando na lógica do Cesaropapismo, ou seja, o
imperador assumiu o poder secular e o poder religioso. Na prática, ele poderia ingerir sobre a doutrina e a
A Igreja passou a ser subordinada ao Estado enquanto o imperador era considerado um representante de Deus
na terra. Essa premissa não era uma novidade, visto que desde o governo de Constantino a prática já ocorria. O
imperador bizantino deveria, no entanto, respeitar e preservar os privilégios do clero. Baseado em uma
autocracia, esse líder era assessorado por uma complexa rede de funcionários.
A economia do Império Bizantino acompanhava a tendência natural da região. Sempre utilizada como entreposto
comercial, manteve essa característica, conectando-se ao Oriente e Ocidente por terra e mar.
organizadas pelo Estado. As propriedades rurais estavam concentradas nas mãos de poucos indivíduos, sendo a
belicista. Um exemplo da primeira conduta foi a assinatura do tratado de paz com o rei persa em 532. O objetivo
era apaziguar as fronteiras orientais do Império. Para tanto, Justiniano se comprometeu a pagar anualmente
Em relação ao Ocidente, sua postura foi diferenciada. Com objetivo de “reconstruir” o Império Romano,
empreendeu batalhas em várias frentes, começando pelo norte da África. Essa região estava sob domínio dos
vândalos, um dos povos que ocuparam os domínios romanos após a desagregação do Império. A empreitada foi
Continuando seu expansionismo, sob a tutela de seu general de confiança, Belisário, Justiniano retomou dos
godos a Sicília, Ravena, Nápoles e Roma e, dos visigodos, partes da Península Ibérica conforme observamos no
mapa:
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Apesar de seu governo ser conhecido como a época de ouro do Império Bizantino, suas conquistas mostraram-se
efêmeras. Mantê-las representava um ônus muito significativo para as receitas imperiais, pois demandavam
Além disso, essas áreas, em sua maioria, apresentavam-se financeiramente inviáveis. Em suma, redundavam em
fiscal que representou um acréscimo significativo na tributação interna. Esse foi um dos motivos para o início da
Revolta de Nika (ou Nike), ocorrida em 532, e que terminou com a morte de milhares de manifestantes. O fim do
Outro motivo alegado para o início do movimento, que durou aproximadamente uma semana e chegou a investir
O palco da revolta foi um lugar muito apreciado pela população: o hipódromo. Esse local era um centro de lazer,
mas também palco da vida social e de disputas religiosas e políticas. Lá, reuniam-se as facções desportivas
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Eram quatro equipes: os azuis, os verdes, os vermelhos e os brancos. Os mais beligerantes eram os primeiros
grupos, sendo que a equipe Azul refletia os interesses dos grandes proprietários e da tradição religiosa. Já os
Verdes representavam artesãos, comerciantes, altos funcionários provinciais, além de adeptos do monofisismo.
A situação foi precipitada por uma divergência acerca do cavalo vitorioso em um páreo. Justiniano, contrariando
a lógica de apoiar uma facção para enfraquecer outra, recusou-se a fazê-lo, o que gerou um efeito rebote: Azuis e
Como vimos, não foi um motivo bobo como o resultado de uma corrida, que desembocou no movimento e sim
um acúmulo de questões.
Os sediciosos tomaram quase toda a capital. Segundo o historiador Procópio de Cesareia, Justiniano cogitou a
fuga e foi contido por sua esposa Teodora, que teria dito:
"Ainda mesmo que a fuga seja a única salvação, não fugirei, pois aqueles que usam a coroa não devem sobreviver
à sua perda. Se queres fugir, César, foge; eu ficarei, pois a púrpura é uma bela mortalha."
A partir de então os revoltosos foram visceralmente retaliados pelo general de confiança de Justiniano, Belisário,
e a situação contornada com a utilização dos impostos para a reconstrução dos monumentos depredados
durante o movimento.
grega e oriental gerou um produto novo, rico no que tange a cores, estilos e formas.
Foi uma arte extremamente ligada à funcionalidade, visto que servia essencialmente à religião.
Em relação à arquitetura, quase nada temos de construções mundanas, no entanto, muitos templos ainda
Durante os anos de seu governo, Justiniano implementou uma série de grandes construções, das mais diferentes
naturezas: desde de fortalezas até suntuosas igrejas, sendo a mais conhecida, a Basílica de Santa Sofia.
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Essa obra arquitetônica, também conhecida como Hagia Sofia, foi transformada em mesquita por volta de 1453,
quando os turcos otomanos seljúcidas dominaram o Império. No século XX, tornou-se um museu.
Na decoração interior, era largamente empregado o mosaico. O mosaico bizantino tinha como objetivo
ornamentar os templos, mas também o lado proselitista, ou seja, de divulgação dos valores cristãos entre os fiéis.
Dessa forma, eram retratados episódios da vida de Cristo e de seus seguidores. Em termos de técnicas, o dourado
era muito utilizado dado o seu simbolismo e os personagens sempre retratados frontalmente, sem nenhuma
A pintura seguia a rigidez dos mosaicos e era manifestada através de afrescos com imagens de anjos, apóstolos e
santos. Nos séculos seguintes, a questão da representação de seres humanos ou de Deus redundaria em uma
polêmica conhecida como Questão Iconoclasta. Assunto que trataremos nas próximas aulas.
A produção literária em Bizâncio foi igualmente profícua. Com o passar dos séculos, o latim foi sendo totalmente
substituído pelo grego nas composições. Era muito comum os manuscritos serem decorados com as chamadas
iluminuras.
Em termos de gêneros, temos uma maior quantidade de material ligado à religião, ou seja, hinos, hagiografias e
tratados de Teologia. Conhecemos também obras ligadas a assuntos mundanos, como poesia, tratados de guerra,
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5 O Corpus Iuris Civilis
Ao longo do governo de Justiniano, foram implementadas várias modificações no âmbito legal. A primeira delas,
no ano de 529, foi uma revisão do até então utilizado Código legal romano. Para tal tarefa foram designados dez
homens proeminentes. Alguns anos mais tarde, essa obra foi revista e complementada materializando do Corpus
Iuris Civilis. Essa foi a base legislativa do Império Bizantino até sua desagregação.
A preocupação de Justiniano com a reformulação do Direito é facilmente compreensível; seria uma maneira de
legitimar e consolidar o poder imperial e estabelecer um sistema jurídico eficaz para o Estado.
Esse documento foi subdividido em quatro livros: Codex, Digesto (também conhecido como Pandectas)
Institutas e Novelae, cada um deles com características particulares. Segundo a historiadora do Direito Flavia L.
Castro:
“O Codex foi completado em 529 e reúne a coleção completa das Constituições Imperiais, o Digesto é a seleção
das obras dos jurisconsultos, as Institutas são um manual de Direito para estudantes e as Novelae são a
publicação das leis do próprio Justiniano”. (CASTRO, F.L. História do Direito Geral e do Brasil. Rio de Janeiro:
Um dos elementos dignos de menção no Código Justiniano foi sua percepção acerca dos judeus. Foram criadas
várias normas que hoje qualificaríamos como anti-semitas, mas que adequavam à lógica de aproximação com a
Dentre essas medidas podemos citar: proibição de relações sexuais entre judeus e cristãos, os judeus estavam
proibidos de exercer qualquer cargo público, jamais poderiam testemunhar contra cristãos e, tampouco, ler a
Bíblia em hebraico.
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Alguns historiadores do Direito, como L. Genicot, identificam nesse documento a base para a tradição jurídica
ocidental, visto que muitos de seus fundamentos se aplicam nos dias atuais. Princípios tais como: não há crime
sem lei anterior que o defina e em caso de dúvida o réu deve ser beneficiado já estavam esboçados nesse
compêndio.
problemas militares. Tendo recusando-se a manter o pagamento de impostos ao governante persa, acordo que
territórios na região. Como é fácil concluir, o projeto expansionista de Justiniano não sobreviveu a seu realizador.
O Império passou a viver uma crise acentuada que demandou reformas empreendidas pela dinastia seguinte, a
Heráclida (610-717).
Apesar das tentativas, os problemas religiosos, as pendências econômicas, a corrupção e a falência militar se
acentuaram.
O Império Bizantino passou então a administrar conflitos de maior ou menor expressão. Já no século VII,
enfrentou um vivaz adversário, a expansão islâmica, assunto da próxima aula. Até lá!
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu as mudanças introduzidas por Justiniano na estrutura política e econômica de Bizâncio;
• Aprendeu que o Império Bizantino passou por momentos de instabilidade interna e externa ao longo dos
séculos VI e VII;
• Analisou algumas querelas religiosas surgidas no seio da Igreja Católica.
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