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1. Introdução
Desde a criação da Norma Regulamentadora NR-18 (Condições e Meio Ambiente de
Trabalho na Construção Civil), os esforços na sua implantação nos canteiros de obras, seja
por obrigações impostas por lei ou pela política interna das empresas, têm sido crescente.
Mesmo assim, os acidentes de trabalho no setor continuam a existir e em número elevado.
Segundo dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), que registra o número de
acidentes oficiais, informados através de Comunicação de Acidente de Trabalho, foram
registradas em 2005, 28.987 ocorrências envolvendo trabalhadores do setor da construção
civil, sendo que 37,7% desses acidentes estavam relacionados com a queda em altura,
conforme pesquisa realizada através de prontuários hospitalares (SILVEIRA et al., 2005).
Os acidentes da área da construção civil podem estar relacionados principalmente a dois
fatores: a condição insegura e o ato inseguro. O primeiro deles está atrelado aos riscos
inerentes da profissão e do ambiente de trabalho. Nesse caso, cabe à empresa responsável
realizar uma análise e oferecer aos operários, condições seguras de trabalho, definindo os
procedimentos para a execução das tarefas, proporcionando treinamento aos trabalhadores,
equipamentos de proteção coletiva e/ou individual, entre outras providências. Já o segundo
fator está ligado ao comportamento do trabalhador, que pode causar falhas operacionais e
tomar posturas no ambiente de trabalho que desobedeçam as normas ou as prescrições de
segurança, em decorrência da decisão livre e consciente de cada trabalhador (VILELA, 2007).
A instrução, a implementação de treinamentos e a disponibilização de equipamentos de
proteção individual podem ser recursos inúteis por estarem sujeitos à capacidade intelectual
dos indivíduos e a reação que cada um deles tem às condições de trabalho, que incluem
situações de pressão, longas jornadas, e preocupação com a produtividade exigida. A reação
individual dos trabalhadores também é influenciada por suas experiências anteriores, pelo que
já vivenciaram no que diz respeito a acidentes. Segundo França (2006), o reconhecimento de
uma situação de risco está associado ao contexto existente e à percepção individual do risco.
Acredita-se que analisando as dificuldades na percepção e identificação de risco de acidentes
pelos trabalhadores no setor, possam-se centralizar esforços no sentido de redimi-las e,
conseqüentemente, reduzir o número de acidentes relacionados à queda em altura.
O objetivo principal deste trabalho é reconhecer a percepção e a identificação que os
trabalhadores do setor de construção civil têm dos riscos no ambiente trabalho a partir de
entrevistas com um grupo de operários que exercem trabalhos em altura no setor da
construção civil, que estão mais propensos a serem vítimas de acidentes de trabalho. Para que
isso fosse possível, foram pesquisadas as características supostamente determinantes para a
identificação de um grupo, e aplicada avaliação com situações de risco conforme visão
pessoal, dentro de uma escala pré-determinada.
2. Revisão bibliográfica
A indústria da construção civil possui algumas peculiaridades: o porte da empresa; o caráter
temporário das instalações; a diversidade dos trabalhos executados em uma obra; a
rotatividade de mão-de-obra empregada; e a terceirização de serviços (ROCHA, 1999). Além
disso, o setor da construção civil pode ser dividido em três setores distintos, de acordo com
Lima Júnior et al. (2005): construção pesada, montagem industrial e edificações. Sendo este
último, o setor focalizado neste artigo.
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A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
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O autor também destaca uma pesquisa desenvolvida pelo Serviço Social da Indústria (SESI),
denominado de “Projeto SESI na Construção Civil”, que visou compreender as características
e a dinâmica no setor. Os principais resultados encontrados por esta pesquisa foram: baixa
qualificação (72% dos trabalhadores entrevistados nunca freqüentaram qualquer curso ou
treinamento, 80% possuem apenas o 1º grau incompleto, e 20% são analfabetos); elevada
rotatividade (56,5% têm menos de um ano na empresa, e 47% estão no setor há menos de
cinco anos); baixos salários (50% dos trabalhadores ganham menos de dois salários mínimos,
e a média salarial é de 2,8 salários mínimos); absenteísmo (52% faltaram ao trabalho no mês
anterior à pesquisa devido principalmente a problemas de saúde); acidentes (14,6% já
sofreram algum tipo de acidente de trabalho no ano anterior à pesquisa.
Ainda segundo Lima Júnior et al. (2005) deve-se priorizar a prevenção de acidentes e doenças
no setor da construção civil e motivar os trabalhadores para melhor percepção dos riscos,
conforme sua cultura regional, além de combater o analfabetismo, pois todos esses fatores
contribuem para o elevado índice de acidentes, principalmente os graves e fatais.
2.1. A identificação dos riscos e perigos de acidente de trabalho
Segundo Faria (2005), o risco pode estar presente, mas as precauções implantadas diminuem
sua severidade. Desta forma, o risco varia na proporção direta da probabilidade e da
severidade, sendo quanto maior a probabilidade e a severidade, maior o risco. “Perigo é a
fonte ou situação com potencial para o dano, em termo de lesões e ferimentos para o corpo
humano ou danos para a saúde, para o patrimônio, para o ambiente local de trabalho, ou uma
combinação destes”. “Risco é a combinação da probabilidade e da(s) conseqüência(s) da
ocorrência de um determinado acontecimento perigoso”.
Na visão de Gonçalvez (2000), as causas fundamentais dos acidentes são os atos inseguros e
as condições inseguras. As condições inseguras são fatores presentes no local do trabalho, e
devem ser identificadas, localizadas e alteradas para que não venham proporcionar ocorrência
de acidente perante o risco existente. Os atos inseguros são ações que decorrem da execução
de tarefas contrárias às normas de segurança, e que colocam em risco a integridade física de
qualquer trabalhador.
Segundo Massera (2005), pesquisas e observações confirmam que os comportamentos de
risco ou inseguros estão envolvidos na maioria dos acidentes. A cultura de segurança envolve
três fatores (GELLER, 1994 apud FRANÇA, 2006): pessoais, ambientais e comportamentais.
Esses fatores são dinâmicos e mudanças em um deles podem causar impacto nos outros dois.
Geller (1994) apud França (2006) sugere que comportamentos que reduzem a probabilidade
de acidentes estão envolvidos com políticas de melhoria nos ambientes de trabalho e atitudes
pessoais. Binder et al. (2000) verificaram que é comum a atribuição dos acidentes a
comportamentos inadequados do trabalhador, como descuido, imprudência, negligência,
desatenção, e que geram posteriores recomendações como “prestar mais atenção”, “tomar
mais cuidado”, e que estas concepções pressupõem que os trabalhadores são capazes de
manter elevado grau de vigilância durante toda a jornada de trabalho, o que é incompatível
com as características bio-psico-fisiológicas humanas.
Para Porto (2000), um ponto muito importante é a percepção de riscos pelos trabalhadores, e
que muitos fatores podem interferir nesta percepção, fazendo com que os trabalhadores não
percebam ou mesmo neguem a presença de riscos às vezes muito graves. A angústia frente
aos riscos graves e a falta de perspectiva de mudanças faz com que algumas pessoas neguem
de forma subconsciente os próprios riscos que se expõem. Segundo Cichinelli (2007) a
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80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Ferimento nas Ferimento nos Queda de Queda em Choque Machucar as
Mãos Pés objeto altura elétrico costas devido
à esforços
Figura 10 – Acidentes que os trabalhadores citaram em entrevista e acidente que mais temem sofrer
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6 MÉDIO 15 8 APREENSIVO 11
ALTO 7 4 SEGURO 4
FOTO BAIXO 8 ARRISCADO 11
7 MÉDIO 11 8 APREENSIVO 17
ALTO 31 22 SEGURO 22
FOTO BAIXO 0 ARRISCADO 0
8 MÉDIO 5 5 APREENSIVO 5
ALTO 45 45 SEGURO 45
FOTO BAIXO 0 ARRISCADO 1
9 MÉDIO 7 6 APREENSIVO 6
ALTO 43 43 SEGURO 22
FOTO BAIXO 12 ARRISCADO 15
10 MÉDIO 32 29 APREENSIVO 29
ALTO 6 6 SEGURO 6
Tabela 1 – Resumo das respostas dos trabalhadores por fotografia apresentada
Para as demais situações foi seguido o processo de seleção descrito anteriormente. Cada
situação teve seus resultados conforme a tabela 1. Depois de calculadas as médias aritméticas
de cada trabalhador para as respostas de todas as situações apresentadas, montou-se o gráfico
constante na Figura 13, onde se organizou os trabalhadores por ordem crescente da média
aritmética. Utilizando-se a mesma régua de faixa de risco do questionário, entre os 50
entrevistados foram classificados 15 trabalhadores como “comportamento arriscado”, 30
trabalhadores como “comportamento apreensivo” e 5 trabalhadores como “comportamento
seguro”.
4.1.3. Definição das características do grupo classificado como “comportamento
arriscado”
O “comportamento arriscado” predominou entre o grupo dos trabalhadores de 25 a 35 anos,
pois dentre os 21 entrevistados, 38,10% classificaram-se neste grupo. A idade da maioria dos
trabalhadores deste grupo também é entre 25 a 35 anos, conforme tabela 2.
9,00
Média artimética das 10 respotas da segunda parte
8,00
7,00
6,00
da entrevista
5,00
MÉDIA
4,00
3,00
2,00
1,00
-
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49
Quantidade de trabalhadores
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Entrevis-
Comporta- % entrevistados % total de
Participação em treinamentos mento mesma faixa de entrevis-
tados
arriscado treinamento tados
Treinamento somente na empresa atual 6 3 50,00% 20,00%
Treinamento empresa atual e na anterior 28 3 10,71% 20,00%
Treinamento somente em empresa anterior 13 6 46,15% 40,00%
Sem nenhum treinamento 3 3 100,00% 20,00%
Tabela 6 – Participação em treinamentos de segurança do trabalho dos trabalhadores classificados como
“comportamento arriscado”
Todos os trabalhadores que foram classificados como “comportamento arriscado” não
souberam explicar o que era um Equipamento de Proteção Coletiva, e com relação aos
Equipamentos de Proteção Individual, 38,46% dos entrevistados que afirmaram que sempre
que podem preferem não usar os EPI foram classificados como “comportamento arriscado”. A
maior quantidade dos trabalhadores do grupo usa os EPI por obrigação, com 53,33% de
representações, conforme tabela 7.
O “comportamento arriscado” foi definido para 100% dos trabalhadores que afirmaram não
pressentir riscos ocupacionais em seu ambiente de trabalho, e a maior parte dos entrevistados
que foram classificados neste grupo, afirmaram que às vezes pressentem riscos ocupacionais,
conforme tabela 8.
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Para 86,67% dos trabalhadores do grupo “comportamento arriscado”, o acidente mais temido
é a queda em altura, conforme tabela 9. Mesmo assim, 53,33% dos trabalhadores acreditam só
existir risco de queda em trabalhos executados acima de 6 metros de altura, conforme tabela
10. Entre 38 entrevistados que afirmaram temer mais a queda em altura, 34,21% foram
classificados no grupo “comportamento arriscado”, e entre os 12 trabalhadores que
consideram arriscado trabalhar a partir de 4 metros de altura, 41,67% foram classificados
como “comportamento arriscado”.
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Referências
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CICHINELLI, G. Sofrimento psíquico no trabalho medo, estresse, angústia podem estar ligados à atividade
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