Na história brasileira do século XX, há dois momentos marcantes de
autoritarismo governamental: Estado Novo de 1937 a 1945 e Ditadura Militar de 1964 a 1985. Como dois momentos que distam décadas podem resguardar semelhanças? O objetivo do presente trabalho é o levantamento de tradições teóricas do pensamento político e social brasileiro edificado nesses contextos: a ideologia autoritária gestada na primeira experiência e posteriormente o autoritarismo como instrumento. Trata-se de pesquisa bibliográfica, de caráter exploratório. Vale-se de ensinamentos de Oliveira Viana, teórico do autoritarismo civil durante a Era Vargas, e da adaptação de Wanderley Guilherme dos Santos nos anos de chumbo para a construção do conceito de autoritarismo como instrumento. Contém ainda remissão ao trabalho de Bolívar Lamounier sobre a formação de um pensamento político autoritário na Primeira República. Observa-se uma tensão liberalismo-autoritarismo em Oliveira Viana, considerado conservador pela tradição da teoria política nacional, ao propor um Estado fortalecido (daí o flerte com o totalitarismo) para desenvolver um liberal-desenvolvimentismo. Em Wanderley Guilherme dos Santos, sua análise de que o autoritarismo é instrumento transitório para se alcançar o liberalismo permite arriscar uma convivência entre elementos democráticos e resquícios autoritários (hibridismo da semidemocracia). Por fim, Bolivar Lamounier elucida que tais intelectuais, mesmo que identificados com o centro político e a elite agrária mercantil dominante e dissociados da base socioeconômica, têm sua importância, visto que ainda eram postos à margem do poder. Conclui-se pela permanente necessidade de reanálise desses processos históricos superando a interpretação corriqueira de que houve mera transposição do fascismo europeu (mormente o italiano) para o país.
Palavras-chave: Autoritarismo como instrumento. Ditadura militar. Estado Novo.
Ideologia autoritária.
Encontros Universitários da UFC, Fortaleza, v. 2, 2017 1483