Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CÂMPUS DE MARÍLIA
Faculdade de Filosofia e Ciências

Formação Histórica do Brasil – Curso: Relações Internacionais, Professor Dr. Paulo


Eduardo Teixeira
Discentes: Isabela Infante Messas, Lavínia Victoria Gonçalves, Guilherme Henrique dos
Santos Modesto, Tatiane de Olim Valença e Thainá L. Sales.

De Colônia a Metrópole: A Atuação das Tropas Brasileiras Durante a


MINUSTAH para a Manutenção de um Sistema Imperial
Isabela Infante Messas, Lavínia Victoria Gonçalves, Guilherme Henrique dos Santos
Modesto, Tatiane de Olim Valença e Thainá L. Sales
RESUMO

Este trabalho trata da atuação das tropas do exército brasileiro durante a execução da
MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti), no Haiti, no
período de 2004 a 2017. O objetivo do trabalho é analisar os abusos cometidos pelos
soldados brasileiros em relação a população haitiana, fazendo uma relação de colonização
e violência entre o Brasil Colonial (com seus respectivos colonos que utilizavam a
violência para garantir a manutenção do sistema) e o Haiti contemporâneo (que ficou
sujeito a atuação das tropas aprovada pelo Conselho de Segurança da Organização das
Nações Unidas, com uma suposta proposta de manutenção da paz) e, assim, pretende-se
demonstrar o processo de imperialismo que o primeiro executou no segundo. Desta
maneira, busca-se, primeiramente, explicar a instabilidade política do Haiti diante dos
interesses do governo brasileiro em estabelecer a missão. Em seguida, há a exposição dos
abusos cometidos pelas tropas brasileiras no território haitiano, a partir do levantamento
de dados de relatos da população. A partir disto, se faz a relação entre a ação violenta da
metrópole portuguesa no Brasil Colônia e a ação dos soldados no Haiti, por meio da do
confrontamento da análise de documentos dos dois períodos. Por fim, uma breve análise
das consequências da MINUSTAH é exposta.

Palavras-chaves: MINUSTAH; abuso e violência; exército brasileiro; Brasil Colônia.


INTRODUÇÃO

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Conselho de Segurança, promove
intervenções militares em países desestabilizados de alguma maneira. Essas intervenções
podem utilizar a força desde que o processo de votação em uma reunião do Conselho seja
aprovado: foi assim que o Brasil passou a comandar a Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti (MINUSTAH).
O Haiti, visto como politicamente desestabilizado pelo sistema internacional, e o Brasil,
entendido como país democrático capaz de lidar com uma operação definida como
“missão de paz” (mesmo ela sendo encabeçada por um corpo detentor da força em forma
de homens – o exército), passaram a ter uma relação baseada no processo da ONU.
Quais seriam as problemáticas desta ação, já que, aparentemente (como tudo aparenta ser
na ONU), a estabilização do Haiti por meio da MINUSTAH o tornaria um país apto a
“desenvolver-se”? A primeira delas já se mostra com os objetivos da missão:
1. Estabilização política buscada por outro país [no caso, por meio do Brasil],
insinuando que a população haitiana não era capaz de consolidar um processo
democrático sem ajuda estrangeira;
2. Fim da violência e asseguramento dos direitos humanos com práticas
‘violentas’ do país operador da missão [no caso, mais uma vez, o Brasil];
3. Caráter ante-histórico e hipócrita ao não considerar a formação do Haiti com
a colonização de potências europeias e até americanas no passado, para
estabelecer a missão, desconsiderando as consequentes manifestações contra
a intervenção militar.
Em segundo lugar, a figura do Estado enquanto detentor do monopólio legítimo da força
consolida a existência da violência provocada no Haiti. Isto é, não seria uma operação de
paz com a figura de homens armados que tinham legalidade para matar ou demonstrar
poder. Matando ou demonstrando a possibilidade [o poder] de matar aconteciam os
abusos. E esses abusos não eram analisados, concretamente (uma vez que eram
denunciados e, consequentemente, ignorados por todos 13 anos de atuação da
MINUSTAH), de modo subjetivo. Não havia tribunais ou número de “gangues” mortas
ou análise de casos de estupro e invasão de casas, julgando o que era realmente eficaz
para estabilização política do país.
Por fim, o Brasil possuía interesses escancarados em participar da missão, procurando
estabelecer-se como membro do Conselho de Segurança da ONU. Como a paz poderia
ser cunhada em cima de interesses políticos?
Assim, essas três problemáticas demonstram a ineficiência e a violência da MINUSTAH,
fazendo relação com uma atuação imperialista do Brasil no Haiti, de acordo com o
histórico do território brasileiro em sua relação colônia-metrópole com Portugal.

A INSTABILIDADE POLÍTICA NO HAITI DIANTE DOS INTERESSES DO


GOVERNO BRASILEIRO EM ESTABELECER A MINUSTAH

A Missão da Nações Unidas para Estabilização no Haiti, (MINUSTAH, do


acrônimo francês), iniciou-se em 2004 e previa a estabilização política e o fim da
violência no Haiti. A intervenção veio após o exílio do então presidente Jean-Bertrand
Aristide, acusado de ter fraudado a eleição em que se reelegeu em 2000, o que resultou
numa série de protestos da oposição e a violência entre grupos simpatizantes e a oposição.
Entretanto, a instabilidade política do país perdura desde de sua independência.
O Haiti foi a primeira nação negra independente. Ainda no final do século XVIII
começou um movimento pela sua independência da França, porém, após o fim da
Revolução Haitiana, a estrutura social continuou a mesma, contribuindo para a
manutenção da desigualdade, deixando o poder concentrado nas mãos de uma minoria.
A situação se agravou após a França exigir uma altíssima indenização pela perda
da colônia. Diante disto, o conflito pelo poder interno fez com que o país estivesse sobre
a influência de outras potências, como Inglaterra e Estados Unidos.
Garantindo seus interesses no país, os Estados Unidos o ocuparam militarmente
entre 1915 e 1934. Durante a ocupação, foi criada a Gendarmerie d’Haïti, para “conter
rebeliões e manter a ordem interna”, além disto a elite do território foi colocada no poder.
Após 1934 a disputas entre negros e mulatos continuaram até 1956, quando François
Duvalier assumiu a presidência e buscou conter as revoltas populares e até mesmo o papel
político das Gendarmerie d’Haïti. Em 1962, no entanto, Papa Doc, assim chamado,
instaurou um governo autoritário que perdurou até 1986, com o seu filho “Baby Doc”. A
Família Duvalier matou aproximadamente 300 mil pessoas, apoiado pelos EUA, para se
manter no poder. O Haiti apenas teve sua primeira experiência democrática em 1990 com
a eleição do mesmo presidente que foi levado a exílio em 2000, Jean-Bertrand Aristide.
Após o exílio, as Nações Unidas autorizaram o envio de uma Força Multinacional
Provisória e em junho de 2004, a MINUSTAH assumiu a autoridade e, ao final daquele
mês, o Brasil assumia formalmente o comando militar da Missão.
Para o Brasil a missão se apresentou como uma forma de conseguir um assento
permanente no Conselho de Segurança da ONU, abrindo as oportunidades para a política
externa brasileira, além de consolidar a sua liderança regional e expandir sua influência,
buscando crescentemente assumir um papel de articulador de iniciativas multilaterais.
Para os cerca de 37 mil militares enviados em 13 anos de missão, a MINUSTAH
possibilitou o treinamento e a experiência que não teriam no Brasil, além de um grande
prestígio e impactos positivos para as Forças Armadas, o que possibilita que o Brasil
participe de outras “missões de paz”.
Apesar dos grandes gastos brasileiros com a missão, cerca de 2 bilhões, (a maior
parte reembolsada pelas Nações Unidas), o Brasil lucrou com treinamento militar e
policial e na indústria bélica com a venda de armas leves. Além disso, o processo de
“pacificação” das favelas cariocas teve grande influência do treinamento ocorrido,
principalmente porque situação semelhante aconteceu em áreas de Porto Príncipe, como
Cité Soleil, Bel Air e Cité Militaire, locais de concentração de gangues criminais no Haiti.

OS ABUSOS COMETIDOS PELAS TROPAS BRASILEIRAS NO HAITI

A MINUSTAH teve seu caráter pacífico totalmente desmontado quando os


soldados brasileiros passaram a ser acusados de cometer abusos em território haitiano.
Denúncias de abuso sexual, repressão à militantes haitianos e acusações de terem trazido
doenças como a cólera para o território caribenho são algumas das acusações,
investigadas pela ONU e denunciadas pela população haitiana.
As queixas de abuso sexual começaram assim que um vídeo passou a circular pela
web, onde um garoto de aproximadamente 12 anos é imobilizado pelos militares sobre
um colchão, momento em que aparentemente estaria sendo vítima de um abuso sexual.
Após o ocorrido, foram relatadas diversas denúncias feitas por mulheres haitianas que
diziam que os soldados designados a comandarem a missão de paz no Haiti, dentre eles
diversos soldados brasileiros, estariam perpetuando ameaças físicas e violência sexual.
Alimentos, medicamentos, telefones celulares, roupas e computadores estariam
entre os bens ofertados a mulheres haitianas em troca de sexo. A falta de moradia, de
medicamentos, além da fome e a escassez das necessidades básicas foram os fatores
chaves que levaram diversas mulheres para o caminho da prostituição. Uma pequena
pesquisa realizada em Monrovia mostrou que pelo menos 500 mulheres tenham realizado
“transações sexuais” com os capacetes azuis em troca de dinheiro. Em todo o território
haitiano esse número ultrapassa mais de 2 mil abusos.
Outra atribuição que ronda a polêmica atuação dos soldados da MINUSTAH é em
relação ao surto de cólera que verberou no território caribenho, causando mais de 300
mortes. Testes mostraram que a doença que surgiu no Haiti é do mesmo tipo da que surgiu
no Nepal, onde as tropas à serviço da ONU também estavam atuando.
As forças militares da MINUSTAH foram também acusadas de uso excessivo de
força ao invadirem casas à procura de grupos e milícias que comandavam as
manifestações contra a “missão de paz”. Esses manifestantes mostraram suas críticas a
MINUSTAH através de pichações de grafites pelos muros de Porto Príncipe, os quais
denunciavam os inúmeros problemas trazidos ao Haiti pelas tropas designadas para a
missão de paz.

DE COLÔNIA PORTUGUESA A METRÓPOLE HAITIANA: O BRASIL


IMPERIALISTA POR MEIO DA AÇÃO DAS TROPAS NA MINUSTAH

A partir do momento que se analisa a inserção da violência no contexto


colonizador é possível estabelecer uma ligação direta e até mesmo simbiótica entre o
Estado e a força. Segundo Weber (1919), o Estado é o único detentor legítimo do uso da
violência. Ainda que a colonização preceda a elaboração desse conceito – e até mesmo
de uma classificação fixa do que é o Estado – as metrópoles que colonizaram o continente
americano já se estruturavam de tal forma em seu modus operandi de dominação.
Portanto, pode-se afirmar que a colonização de Portugal no território brasileiro
evidencia o uso da violência como fundamental para a dominação e imposição de sua
autoridade, tanto em um âmbito territorial quanto ideológico, social e até mesmo cultural.
Desde o princípio a Coroa Portuguesa já possuía um controle direto na
administração central das questões de defesa territorial, sendo contra índios ou invasores.
Mantendo-se desde a primeira instância a autoridade governante de tal território,
comprovada, assegurada e respeitada através do uso da força. Com a criação de capitanias
hereditárias, e a manutenção das relações coloniais a qualquer custo, Portugal traça um
histórico amplo de violência durante todo o período de colonização, sendo no âmbito
micro – como os estupros às mulheres nativas, apagadas da história pela literatura – ou
em uma perspectiva macro – a garantia da relação Metrópole-Colônia através da severa
repressão contra movimentos emancipacionistas, principalmente os de cunho popular,
como a Conjuração Baiana de 1798 – a violência estava em todas as camadas da
sociedade, com um único propósito: manter e, se possível, fortalecer a soberania e
dominação da Metrópole perante sua Colônia.
É com o neocolonialismo dos séculos XIX e XX que surge o termo
“imperialismo”, este conceito, entendido como a imposição de poder e autoridade das
potências mundiais ocidentais à África e Ásia em busca de recursos naturais e mão de
obra, assegurado também pela detenção do poder da força, é extremamente coerente
também ao se analisar o processo de colonização brasileira e do continente americano
como um todo. Há um padrão na forma como os países executam seu processo de
dominação. A força é o instrumento que garante a relação de dominador e dominado,
subjugador e subalterno.
A forma de dominação como exercida no período colonial sofreu várias mutações
e no século XXI, apesar de seguir os mesmos princípios, sua execução se dá de forma
mais oculta, até mesmo incógnita. A instalação de soberania dos Estados exige este
ocultamento das ações para que se tornem efetivas sem o ideal de ferimento aos direitos
humanos, cunhado por diversos âmbitos de toda a sociedade internacional. Isto é, é
preciso “mascarar” uma ação violenta para consolidar uma neocolonização, por meio dos
mesmos princípios imperialistas que se manifestam a partir de ações neoliberais,
garantindo o uso legítimo da força pelo Estado, ou seja, a partir das missões de paz da
ONU.
Assim, a relação do Brasil com o Haiti apresenta severas características que
mostram um exercício de autoridade perante um país marginalizado, tornando a
MINUSTAH a possibilidade do Brasil agir de maneira mais direta no contexto
contemporâneo.
As sementes de um imperialismo sofrido pelo Brasil germinaram de forma a torná-
lo um possível dominador, como Paulo Freire (1968) destaca em suas obras, tratando
desta inversão de posições (ainda que em um âmbito mais social): o oprimido [papel do
Brasil Colonial], quando tem a possibilidade de se tornar o protagonista da história [papel
do Brasil contemporâneo tendo a possibilidade de assumir um alto cargo no contexto
internacional por meio da execução de ações do Conselho de Segurança], assume o
método do opressor [a continuidade das relações violentas, imperialistas, primeiramente
expostas pela Metrópole portuguesa diante do Brasil Colônia], pois foi o único método
que aprendeu [o exército brasileiro é a expressão maior de uso do monopólio legítimo da
força pelo Estado – característica básica de um país capitalista]. Desta maneira, o
imperialismo se enraíza ao ponto que se faça com que aquele já dominado, continue com
este padrão de dominação, e isso pode até mesmo ser entendido como uma forma de
afirmação no cenário internacional, tendo em vista que as potências mundiais e os Estados
com maior poder são justamente aqueles que mais exerceram os ideias imperialistas.
O imperialismo no século XXI é palpável, assim como na relação Brasil-Haiti, um
país que antes Colônia rompe essa estrutura apenas para então dar continuidade à mesma
de outra posição, a de Metrópole, esse ciclo de dominação se mantém, a força continua
sendo o instrumento utilizado para a afirmação e imposição de interesses do Brasil perante
o Haiti, porém, o uso desta força torna a existência de um Estado mais legítima do que o
outro.
Portanto, a invasão de casas, o abuso sexual de grupos vistos como mais propensos
a violência (mulheres e crianças), a disseminação de doenças que não existiam no
território antes da nova colonização e a repressão a qualquer manifestação que se imponha
contra o uso legítimo da força por uma autoridade caracterizada em quem possui o
“poder” (neste âmbito temporal, o Estado brasileiro) são características presentes nos dois
períodos analisados – o Brasil Colônia e o Haiti contemporâneo. É uma continuidade
histórica a partir do momento em que a violência é a mesma, com princípios de ruptura
em relação a novos conceitos: uma metrópole na forma de Estado. A única mudança são
os atores (o Brasil, com os seus capacetes azuis, assume o papel violento da metrópole
portuguesa, em um espaço visto como menos “desenvolvido”: o Haiti) e a forma de
estabelecimento da força (o imperialismo, antes caracterizado por meio da colonização
em um ambiente de reinados, é difundido por meio de ideais neoliberais da ONU em um
sistema de elite capitalista no qual quem possui a força é o Estado).

UM LEGADO DE VIOLÊNCIA SEM FIM: AS CONSEQUÊNCIAS DA


MINUSTAH

A MINUSTAH, iniciada em 2004 e finalizada em 2017, foi objeto de pressões


para ser uma missão breve, de modo que os componentes militar e policial não fossem
mantidos no Haiti por muito tempo e que as Nações Unidas servissem apenas para apoiar
à construção institucional.
Entretanto, a missão permaneceu ativa no país por todo este período e o que era
para trazer “estabilidade ao país” acabou por tornar-se outro problema. Enquanto o Brasil
desfrutou do mérito de, pela primeira vez, comandar desde o início uma missão das
Nações Unidas, o Haiti pagou por isso com dor, miséria e impunidade.
Após o fim da missão, os haitianos reassumiram o controle da segurança pública
de um país em meio ao aumento da violência e da miséria persistente. As favelas de Bel
Air e Cité Soleil, que reúnem cerca de 250 mil pessoas, em 2017 não pareciam muito
diferentes do que eram em 2005, segundo o jornal Folha. O cenário, mesmo após a missão
de estabilização da ONU, ainda é composto por ruas cobertas de lixo, esgoto a céu aberto,
comércio informal de alimentos e casas aos pedaços.
Para o ativista de direitos humanos em Cité Soleil, Clermont Berthony, a
segurança melhorou com a saída dos militares: “coletamos 110 casos de vítimas de
soldados brasileiros, mas a maioria tem medo e não quer falar sobre isso”.
Acalmar a turbulência da vida política haitiana: esse era um dos objetivos
declarados da MINUSTAH. O processo de eleição do mais recente presidente do Haiti,
Jovenel Moïse, durou mais de um ano e contou com baixa participação popular. Um ano
antes, enquanto a MINUSTAH ainda estava ativa, a eleição foi anulada devido a fraudes
massivas.
Em novembro de 2017, a ONU declarou preferência em criar projetos de
assistência baseados na comunidade ao invés de fornecer atenção individual àqueles que
perderam membros da família devido à cólera. Parte da população criticou essa decisão,
alegando ser um desvio da promessa de colocar às vítimas e seus problemas no centro do
desenvolvimento.
Promover e proteger os direitos humanos eram outros objetivos da missão, mas,
como já visto, os abusos do exército brasileiro não possibilitaram o exercício disto.
Mesmo com inúmeras falhas, com o fim da MINSUTAH, criou-se a Missão das
Nações Unidas de Apoio à Justiça no Haiti (MINUJUSTH), que têm como objetivo apoiar
o fortalecimento das instituições públicas e o Estado de Direito no país. Mais uma vez,
os verdadeiros desafios socioeconômicos do país não serão resolvidos, abrindo espaço
para novas crises e novas intervenções. Essa missão vem causando receio na população
haitiana, que já sofreu por 13 anos consecutivos nas mãos da ONU.
Dessa vez, o Brasil não integrou a equipe da missão. Em 2016, membros do alto
escalão das Forças Armadas e do Ministério da Defesa trabalhavam com a ideia de fazer
parte de alguma ação da ONU no oeste da África; Diplomatas do Ministério das Relações
Internacionais, por sua vez, entendiam que a participação em outra missão só deveria
ocorrer se houvesse uma “justificativa grande” para o envolvimento brasileiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a demonstração do histórico de formação do Haiti e do Brasil e a


consequente relação imperialista provocada durante a atuação de tropas brasileiras no
primeiro país por meio da MINUSTAH, além das consequências da missão com o final
da mesma em 2017, responde-se à pergunta exposta na introdução:
“Como a paz poderia ser cunhada em cima de interesses políticos?”
Não houve paz. Não foi uma missão para estabilização do Haiti. O que foi
concretizado, na realidade, é o poder de força do Estado brasileiro legitimado pela ONU,
a fim de manter uma noção de direitos humanos neoliberal de manutenção do sistema
imperialista, no qual oprimidos tornar-se-ão opressores de novos oprimidos.
Caso houvesse uma consideração histórica desde o início com alto nível de debate
diante da população haitiana talvez a MINUSTAH não teria existido. Por isto, o estudo
da história e a análise de processos sangrentos, como foi a missão, se mostra
extremamente necessário em um âmbito de política internacional, demonstrando,
academicamente e para o restante da população a verdade sobre os interesses de Estados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Fernando Chaves. Poder americano e Estados Nacionas: uma abordagem a


partir das esferas econômicas e militar. 2006. Disponível em: <
http://www0.ufu.br/ie_dissertacoes/2006/9.pdf>. Acesso em 04/06/2018.

COSTA, Frederico Lustosa da. Brasil: 200 anos de Estaado; 200 anos de administração
pública; 200 anos de reformas. 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n5/a03v42n5>. Acesso em 04/06/2018.

Cruz, Lúcia Pfeifer, Abuso e exploração sexual em missões de paz da ONU: Um estudo
sobre o caso da MINUSTAH. 2018. 68f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. Disponível em: <
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/178574/001062040.pdf?sequence=1
> Acesso em: 03 jun. 2018.

Denúncias de abuso sexual pode prejudicar missão no Haiti, diz ONU. BBC. Disponível
em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/09/110905_haiti_minustah_sexual_mm
> Acesso em: 03 jun.2018.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, 1974. 253 p.

HAITI encerra eleições após um ano de incerteza política. G1, 20 nov. de 2016.
Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/11/haiti-encerra-eleicoes-
apos-um-ano-de-incerteza-politica.html>. Acesso em: 04 jun. 2018.

HAMANN, Eduarda Passarelli; TEIXEIRA, Carlos Augusto Ramires Teixeira (Org.). A


Participação do Brasil na MINUSTAH (2004-2017): percepções, lições e práticas
relevantes para futuras missões. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:
<https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2017/10/16-10-2017-web-AE-MINUSTAH-
2017.pdf>. Acesso em: 04 jun. de 2018.
HUMAN Rights Watch. World Report. 2018. Disponível em:
<https://www.hrw.org/world-report/2018/country-chapters/haiti>. Acesso em: 04 jun.
2018.

INSTITUTO AGARAPÉ. A participação do Brasil na MINUSTAH (2004-2017):


percepções, lições e práticas relevantes para futuras missões. Disponível em: <
https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2017/10/16-10-2017-web-AE-MINUSTAH-
2017.pdf>. Acesso em 03 jun. 2018.

MAISONNAVE, Fabiano; VERPA, Danilo. Após 13 anos, Brasil deixa o Haiti entre paz
frágil e miséria. Folha de São Paulo, 27 out. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/08/1913374-apos-13-anos-brasil-deixa-o-
haiti-entre-paz-fragil-e-miseria.shtml>. Acesso em: 04 jun. 2018.

MAJUMDAR, Roshni. After 13 years, UN Peacekeeping Mission closes doors in Haiti.


Inter Press Service, 13 out. 2017. Disponível em: <http://www.ipsnews.net/2017/10/13-
years-un-peacekeeping-mission-closes-doors-haiti/>. Acesso em: 04 jun. 2018.

MATIJASCIC, Vanessa Braga. HAITI: UMA HISTÓRIA DE INSTABILIDADE


POLÍTICA. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. 2010. Disponível
em:<http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XX%20Encontro/PDF/Autores
%20e%20Artigos/Vanessa%20Braga%20Matijascic.pdf>. Acesso em 03 jun. 2018.

NEXO. Qual o balanço da missão de paz brasileira no Haiti. 2017. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/04/25/Qual-o-balan%C3%A7o-da-
miss%C3%A3o-de-paz-brasileira-no-Haiti>. Acesso em 03 jun. 2018.

OLIVEIRA, Ariel; CATAI, Heloisa; PEREIRA, Letícia. Haiti: a atual conjuntura da


MINUSTAH e o Brasil. 2015. Disponível em:
<https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/v-
2-n-3-haiti-atual-conjuntura.pdf>. Acesso em 04/06/2018.

ONU Investiga se soldados da MINUSTAH trouxeram cólera para o Haiti. BBC.


Disponível em: <
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2010/10/101029_haiti_colera_pu > Acesso em:
03 jun.2018.

Relatório diz que casos de exploração sexual por soldados são frequentes. G1. Disponível
em: < http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/06/relatorio-diz-que-casos-de-
exploracao-sexual-por-soldados-sao-frequentes.html > Acesso em: 03 jun.2018.

REUTERS. Oposição no Haiti mostra receio com nova missão da ONU após problemas
com MINUSTAH. G1, 23 out. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/oposicao-no-haiti-mostra-receio-com-nova-
missao-da-onu-apos-problemas-com-minustah.ghtml>. Acesso em: 04 jun. 2018.

SEITENFUS, Ricardo. Missão termina sem mudar cenário socioeconômico do Haiti.


Folha de São Paulo, 03 set. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/09/1915407-missao-termina-sem-mudar-
cenario-socioeconomico-do-haiti.shtml>. Acesso em: 04 jun. 2018.

Soldados Brasileiros são acusados de abusos sexuais no Haiti, diz agência de notícias.
ESTADÃO. Disponível em: <
https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,soldados-brasileiros-sao-acusados-de-
abusos-sexuais-no-haiti-diz-agencia-de-noticias,70001741751 > Acesso em: 03 jun.
2018.

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI. Anistia no Brasil: Colônia e Império.


Disponível em:
<http://www2.anhembi.br/html/ead01/ciencias_sociais/lu11/lo3/saibamais.htm>. Acesso
em 04/06/0218.

VALENTE, Jonas. ONU encerra missão no Haiti comandada pelo Brasil. Agência Brasil,
16 out. 2017. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-
10/onu-encerra-missao-no-haiti-comandada-pelo-brasil>. Acesso em: 04. jun 2018.

WEBER, Max. A política como vocação. Alemanha, 1919. 110 p.

Você também pode gostar