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EXPERIÊNCIA DE REYNOLDS

Experiência de Reynolds

1. Objetivo

O objetivo da experiência de Reynolds é visualizar os diferentes padrões de


escoamento de um líquido através de um tubo de vidro e considerar os efeitos dos
joelhos sobre o mesmo. Com isto, pretende-se que o aluno consiga identificar os
diferentes regimes existentes, segundo o estabelecido por Reynolds.

2. Introdução teórica

Em hidrodinâmica, é muito importante o tipo de escoamento que rege o


movimento de um fluido dentro de uma tubulação. Para a definição deste, o científico
Osborne Reynolds definiu um número adimensional, o número de Reynolds, a partir da
combinação das forças de inércia, representada pela energia cinética por unidade de
volume (v2), que são equilibradas pelas forças de viscosidade, representadas pelo
esforço de Newton (v/D). Assim, surge o número de Reynolds (equação 1).

efeito de inércia v 2 vD


Número de Reynolds    (1)
efeito viscoso v 
D

Intuitivamente, quando o número de Reynolds for muito baixo, predominarão os


efeitos viscosos, e o escoamento será laminar. Isto implica que o deslocamento das
camadas de líquido é ordenado e uniforme, deslizando umas sobre as outras e
experimentando apenas transporte molecular de momento. O sistema obedece à lei de
Newton da viscosidade (equação 2).

 dv 
 xz     x  (2)
 dz 

O parâmetro xz representa o esforço cortante (N/m2) ao longo do eixo X que acontece
como consequência do gradiente de velocidade no eixo Z (dvx/dz), sendo a constante de
proporcionalidade a viscosidade (, Kg/ms). Às vezes, usa-se o termo viscosidade
cinemática (, m2/s) (equação 3).

μ
  (3)
ρ

No caso contrário, quando a velocidade for muito alta, as forças de inércia


dominarão, e o tipo de escoamento será turbulento, formando-se turbilhões ou vórtices

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Experiência de Reynolds

dentro da tubulação. As moléculas se movimentam como pequenos pacotes em todas as


direções, com movimento caótico e uma troca de momento transversal elevado. Neste
caso, por analogia com a lei de Newton, pode ser assumida uma equação similar à
equação 2, com a contribuição correspondente ao escoamento turbulento, representado
por uma viscosidade turbulenta T.

 xz      T  x 
 dv 
(4)
 dz 

A existência destes dois tipos de regimes foi estabelecida por Reynolds de forma
qualitativa mediante um simples experimento cuja representação esquemática se mostra
na Figura 1. Nele, aplicando vazões de água variáveis, injetava-se um corante,
observando-se escoamentos sensivelmente diferentes em função da vazão de água
aplicada.

Recipiente com Recipiente com


água água
Recipiente com Recipiente com
corante corante

ESCOAMENTO LAMINAR ESCOAMENTO TURBULENTO

(a) (b)

Figura 1. Representação esquemática dos dois tipos extremos de escoamento: (a)


Laminar, (b) Turbulento

Como mencionado anteriormente, o número de Reynolds é um bom critério para


discernir entre os tipos de escoamento. No caso da circulação de um fluido por uma
tubulação lisa, estabelecem-se os seguintes limites:

a) Re < 2.100  escoamento laminar  situação (a) da Fig. 1


b) Re > 3.500  escoamento turbulento  situação (b) da Fig. 1
c) 2.100 < Re < 3.500  regime de transição  situações intermediárias entre a e
b.

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Experiência de Reynolds

O estabelecimento do regime de escoamento é fundamental, pois influenciará de


forma significativa nas velocidades que governarão o transporte das propriedades
extensivas (massa, energia e momento) nos processos industriais, e, portanto, no projeto
dos equipamentos envolvidos.

3. Instalação experimental

A instalação experimental (Figura 2) consta de um recipiente grande de acrílico


com duas saídas, consistente em duas tubulações de diferente diâmetro construídas no
mesmo material. O diâmetro interno da mais grossa é de 2,0 cm, enquanto o diâmetro
interno da mais fina é 1,5 cm. Estas apresentam um primeiro joelho de 90º, do mesmo
diâmetro que as tubulações, após os quais existe uma válvula de assento para regulagem
do fluxo. Imediatamente depois destas, existe outro joelho de 90º com o mesmo
diâmetro interno. Na saída da tubulação imediatamente após este último joelho, existe
um pequeno tobogã que permite desviar o fluido para o tanque de saída ou para as
provetas com objeto de medir a vazão. No tanque de saída existe uma torneira que
permite seu esvaziamento mediante envio a sumidouro.

Recipiente
contêiner do Válvula
corante reguladora do
corante

Recipiente
contêiner da
água
Válvulas
reguladoras da
Coletor de água
vazão (de
Injetores do
assento)
corante

Figura 2. Instalação experimental para realizar o experimento de Reynolds

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Experiência de Reynolds

Dentro do tanque grande de água, existe um tanque menor que alberga ao corante. Este
apresenta duas saídas reguladas por duas válvulas que são conectadas a duas pequenas
mangueiras de silicone, permitindo injetar o corante nas linhas de saída do recipiente
grande de água. As pontas desses injetores são de um diâmetro muito inferior ao da
tubulação com o objeto de alterar o menos possível o escoamento.

4. Material

Para a realização da prática será necessário:

a) Instalação experimental já descrita.

b) Cronômetro.

c) Recipiente com corante verde.

d) Proveta.

e) Termômetro

5. Procedimento experimental

Seguir-se-ão os seguintes passos:

1. Carregar o recipiente grande que conterá a água até aproximadamente uns 6 litros
(marca no recipiente).
2. Carregar o recipiente que conterá o líquido corante até a marca estabelecida. A
seguir, serão adicionadas duas gotas do corante, sendo misturado de forma suave
com um bastão de vidro até obter cor uniforme.
3. Abrir de forma suave o fluxo de água através da válvula de assento da tubulação
grossa, e imediatamente abrir o regulador de vazão do corante. As válvulas serão
abertas de forma suave até observar um fluxo parecido ao mostrado na Figura 1(a)
(uma delgada linha do corante escoando pelo tubo). É importante manter regulada a
altura da água no tanque de água. Para isso, durante a prática se adicionará água
com ajuda de um balde.
4. A seguir, será medida a vazão volumétrica que circula pela tubulação. Para isso, o
tobogã será desviado para o lado onde se colocará uma proveta de 1 litro. Medir-se-

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Experiência de Reynolds

á o volume preenchido durante 10 segundos. A medida será repetida em três


ocasiões. Concluído isto se anotará a temperatura da água.
5. O seguinte passo será abrir de forma paulatina a válvula de assento até observar que
o fluxo de corante não é mais uma linha e começa a ficar caótico (aparição dos
primeiros turbilhões). Caso começar a ficar complicada a visualização do corante,
abrir levemente a válvula de regulação do tanque deste.
6. Medir da mesma forma que no passo 4 a vazão volumétrica, anotando o volume de
proveta preenchido em 10 segundos (repetir 3 vezes).
7. Completado o passo 6, continuar-se-á abrindo a válvula de assento até observar um
escoamento de corante completamente desordenado similar ao observado na Fig.
1(b).
8. Medir como no passo 4 a vazão volumétrica, anotando o volume preenchido em 10
segundos (repetir 3 vezes).

9. Completado tudo, os passos 1-8 serão realizados de novo com a tubulação fina.

6. Resultados e discussão

Discutir as seguintes questões na base das observações da experiência de


Reynolds:

1) Calcular o número de Reynolds correspondente a cada um dos três experimentos


realizados. Correlacionar os números obtidos com os regimes observados.

Tubulação grossa (D= 2,0 cm) Tubulação fina (D= 1,5 cm)
Nº do exp. Re Nº do exp. Re
1 1
2 2
3 3

Neste ponto, lembrar que a vazão volumétrica Q será calculada a partir do volume
medido na proveta (V) dividido pelo tempo médio (t) (equação 3).

V
Q (3)
t

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Experiência de Reynolds

Obtendo-se a velocidade (v) a partir da divisão de Q pela seção transversal (S) da


tubulação (equação 4).

Q
v

S  π  D2
4
 (4)

2) Descrever o que acontece nos joelhos no caso do primeiro ensaio de escoamento. À


que situação pode-se assemelhar este comportamento? Discutir de forma razoável
esta observação.

3) Comparar os resultados obtidos nas duas tubulações de diferente diâmetro,


especialmente no que se refere à correlação entre o número de Reynolds e as
velocidades. Justificar os resultados obtidos com base na influência do diâmetro da
tubulação.

4) Por que é recomendável regular a altura da água no tanque?

5) Discutir o que aconteceria se em lugar de usar água fosse usado um líquido mais
viscoso (por ex, glicerina).

7. Leituras recomendadas

 Alan S. Foust, Leonard A. Wenzel, Curtis W. Clump, Louis Maus, L. Bryce


Andersen. Princípios das Operações Unitárias. Traduzido por Horácio
Macedo. Ed. LTC, Rio de Janeiro, 2011. Páginas 202,203 e 217-221.

 Warren L. McCabe e Julian C. Smith. Operaciones Básicas de Ingeniería


Química. Traduzido por Fidel Mato Vázquez, José Coca Prado e Pablo
Mogollón Sánchez. Ed. Reverté, Barecelona, 1986. Páginas 63-65.

8. Links recomendados

 http://www.youtube.com/watch?v=xFCXGXOHO_s

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