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Comunicação e Linguagem
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autor
Marcelo Paiva
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução...............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
Comunicação....................................................................................................................................................................7
Capítulo 2
Interpretação de texto............................................................................................................................................... 23
Capítulo 3
Coerência........................................................................................................................................................................ 40
Capítulo 4
Coesão............................................................................................................................................................................. 54
Capítulo 5
Tipologia textual......................................................................................................................................................... 67
Capítulo 6
Produção textual.......................................................................................................................................................... 85
Referências.........................................................................................................................................................................103
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.
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Organização do Livro Didático
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Saiba mais
Sintetizando
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
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Introdução
Seja bem-vindo(a) ao módulo de Comunicação e Linguagem!
O conteúdo foi dividido em tópicos específicos a fim de facilitar a compreensão de assunto tão
importante em nossa vida pessoal, social e profissional. Abordaremos de forma bem objetiva e
prática os temas mais importantes relacionados à comunicação, ao discurso, à interpretação e
produção textual. O enfoque será sempre o aprendizado relevante em atividades acadêmicas e
profissionais para que você possa melhorar cada vez mais a sua capacidade de observar como
a boa comunicação é essencial para o sucesso em todas as áreas desejadas.
Espero que, ao final do estudo, você se sinta mais confiante e fortalecido(a) para usar a comunicação
a seu favor e compreender textos com mais profundidade em diferentes modalidades e diferentes
áreas do conhecimento e do mercado de trabalho.
Objetivos
» Detalhar o estudo da análise textual com a identificação da ideia principal e das ideias
secundárias.
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CAPÍTULO
COMUNICAÇÃO 1
Introdução
A comunicação é o assunto principal de nosso primeiro capítulo e será estudada durante todo o
módulo. Abordaremos seu conceito e, principalmente, sua importância em nossa vida pessoal
e social. Ministro cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e corporativos há muitos anos
e observo a necessidade de nos prepararmos para interpretar adequadamente os conceitos
apresentados para desenvolvermos capacidades mais amplas em nossa vida profissional.
Espero que você se sinta estimulado(a) a participar de todos os módulos do curso com mais
interesse com base nos tópicos desenvolvidos neste primeiro módulo! Ele será de muita
importância para a compreensão mais detalhada do conteúdo de todos os outros módulos do
curso.
Objetivos
Conceito
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
Emissor é quem inicia o processo da comunicação (geralmente por meio de uma fala ou de um
texto escrito), e receptor é quem recebe a informação (quem ouve ou lê). Na ilustração anterior,
o homem sem bigode fala (emissor), e o homem com bigode ouve (receptor). A comunicação,
no entanto, pode ocorrer de diversas outras formas. O emissor pode ser um sinal de trânsito,
uma música, um programa de televisão.
Algumas vezes, somos o emissor e outras vezes somos o receptor. Se nós dois estivermos
conversando por horas, serei o emissor, quando falo; e você, o receptor. Quando você fala, você
passa a ser emissor e eu, receptor.
A comunicação permite o aprendizado de novos assuntos e torna nossa vida mais ampla. Assim,
é importante nos comunicarmos bem para sermos pessoas cada vez melhores em nossa vida e
em nossa profissão.
Atenção
A comunicação é essencial à vida humana e à vida social. Tudo que aprendemos ocorre por causa da comunicação.
Aprender a se comunicar significa criar condições de aprender mais e se tornar melhor pessoa,
como cidadão e como profissional.
Para refletir
A palavra distingue homens e animais. A linguagem distingue as nações entre si. Não se sabe de onde é o homem
antes que ele tenha falado. Desta forma, temos a certeza de que sem a linguagem não haveria meios de estabelecer
relações, pactos, interpretações. A história talvez não existiria, assim como não existiria o próprio processo de
comunicação. Desde que o homem foi reconhecido por um outro ser sensível e semelhante a si próprio, o desejo e a
necessidade de comunicar seus pensamentos fizeram-no buscar meios para isto.
Rousseau
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Comunicação • CAPÍTULO 1
seu papel na função que exerce. Há pessoas com uma excelente bagagem que
não conseguem passar para uma posição de gerência por absoluta falta de
comunicação. Como poderão dirigir pessoas se não sabem como transmitir a
elas o que desejam, suas metas, diretrizes e expectativas de desempenho?
Posicionamento do autor
O termo comunicação (latim communis, communicare) significa tornar comum, partilhar, repartir,
distribuir. O ser humano não é o único ser na natureza a transmitir ou receber informações,
experiências ou sentimentos. A comunicação está presente em toda forma de vida e ocorre
em grande parte de maneira não perceptível a nossa atenção. Uma pessoa pode dizer que está
calma (comunicação consciente) e, ao mesmo tempo, manter uma postura que revela tensão
(comunicação inconsciente). Trata-se de comunicação não verbal (estudaremos o assunto daqui
a pouco).
A evolução da vida está plena de comunicação. Durante décadas, apenas áreas relacionadas
à linguagem, à sociologia ou à psicologia se interessavam de forma pragmática pelo estudo
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
A comunicação não se limita apenas a linguagem escrita ou oral por meio de um código
linguístico padronizado e usado por um grupo de pessoas. Trata-se de processo mais amplo, e
o uso de idiomas revela apenas parte do ato de transmitir ideias, experiências ou sentimentos.
Limitar o estudo da teoria da comunicação a processos unicamente linguísticos é certamente
a forma mais rudimentar de reduzir o conhecimento possível sobre o tema no ser humano e
na natureza.
A mãe com o filho de meses ao colo se comunica sem o uso de idiomas convencionais. Animais e
aves possuem código específico de proteção mútua e direcionamento em grandes movimentações
pelo planeta.
O estudo acadêmico define linguagem verbal como aquela que ocorre por meio da escrita ou da
fala e linguagem não verbal é aquela que ocorre por meio de imagens, símbolos, postura, gestos,
música, pintura, desenhos etc.
Elementos da comunicação
Para entendermos como a comunicação ocorre, vamos dividi-la em seis elementos consagrados
no estudo da teoria da comunicação. Observe a ilustração e a explicação a seguir.
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Comunicação • CAPÍTULO 1
Figura 1.
Emissor ou remetente: quem envia a mensagem (pessoa, televisão, rádio, placa de trânsito,
cartazes).
» Canal: meio pelo qual a mensagem é transmitida. O canal pode ser um livro, um disco etc.
» Código: sinais compreendidos tanto pelo emissor quanto pelo receptor. Pode ser verbal
(palavras faladas ou escritas) ou não verbal (sinais de trânsito, expressão facial).
Observe exemplo do processo de comunicação. Lucas envia mensagem eletrônica a seu irmão
Paulo para informar que ainda está no trabalho.
Abraços.
Lucas.
Emissor: Lucas.
Receptor: Paulo.
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
Referente: o assunto da mensagem (não poderei sair, pois ainda estou no trabalho).
Outro exemplo de comunicação é quando assistimos a uma publicidade na televisão. Imagine que
você está sentado na sala de sua casa e vê na televisão anúncio com Galvão Bueno anunciando
a próxima partida da seleção brasileira. Vamos analisar os elementos da comunicação.
Receptor: você.
O ato de comunicar pode ser verbal (por meio de palavras) ou não verbal (por meio de desenhos
ou símbolos). Quando uma pessoa fala ou escreve para outra pessoa, ela usa palavras. Assim,
a comunicação é verbal. Quando uma pessoa abraça outra pessoa sem dizer palavra alguma.
Apenas um abraço gostoso. A comunicação ocorre de forma não verbal.
Linguagem verbal
A linguagem verbal, assim, é o uso de um código (língua escrita ou oral) formado por signos
linguísticos responsáveis pela representação de ideias. A relação entre o significante (palavra)
e o significado (ideia) é o conceito básico da comunicação verbal. Ao usarmos a palavra “casa”
(significante), as pessoas que dominam o idioma português a associam à imagem de uma
construção que serve de moradia (significado).
A linguagem não verbal está muito presente em nossa forma de comunicação. Apesar de
não falarmos nada, podemos expressar com o corpo, por exemplo, várias informações.
Geralmente, a linguagem não verbal complementa ou reforça a linguagem verbal. Outras vezes,
percebe-se conflito na transmissão de informação verbal e não verbal. Uma pessoa pode responder
verbalmente que não está com frio e você perceber que ela está tremendo na noite gelada.
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Comunicação • CAPÍTULO 1
Observe duas situações diferentes de comunicação para diferenciarmos com clareza linguagem
verbal e linguagem não verbal.
Um rapaz encontra a namorada e diz “eu te amo!”. Ele usou comunicação verbal (palavras).
Ela se sente amada e entendeu o que ele quis comunicar.
No outro dia, o rapaz encontra novamente a namorada e dá um beijo e um abraço carinhoso sem
dizer palavra alguma. Agora, ele empregou comunicação não verbal. Ela também se sente amada
e entendeu o que ele quis comunicar. Mesmo sem usar palavra alguma, houve comunicação.
Atenção
O ser humano é naturalmente comunicativo. É justamente a comunicação que aumenta o desenvolvimento de todos
nós e nos tornamos melhores como pessoa em nosso dia a dia e em nossas atividades profissionais.
Ruídos na comunicação
Diversos fatores podem prejudicar ou mesmo impedir a comunicação. São os chamados ruídos
ou barreiras. Eles atrapalham e devem ser evitados. Uma pessoa que não transmite a mensagem
com clareza prejudica o entendimento do receptor. Por sua vez, se o receptor não estiver
atento, a mensagem certamente não será compreendida também. Tudo aquilo que perturba a
comunicação é um ruído. A compreensão inadequada de uma mensagem muitas vezes provoca
atitudes inadequadas.
Deve-se evitar falhas na comunicação. Assim, ao falar ou escrever, procure ser claro(a). Ao ouvir
ou ler, procure estar atento(a) e saber se entendeu perfeitamente a mensagem recebida. Caso
haja dúvida, não se deve ter vergonha de perguntar.
Os ruídos são falhas que impedem a perfeita compreensão por parte do receptor. Eles podem
ocorrer por aspectos físicos (barulhos altos próximos ao emissor ou falta de luz para boa leitura),
fisiológicos (dor de cabeça, problemas auditivos ou visuais), psicológicos (divagação, preocupação
com outros assuntos etc.) ou semânticos (o texto é exageradamente técnico ou ambíguo, por
exemplo).
Os ruídos devem ser evitados para o sucesso da comunicação. O rebuscamento, por exemplo,
é um ruído muito comum em textos jurídicos. O uso exagerado de termos técnicos em diversas
reuniões de administradores pode comprometer o entendimento de participantes que não
conhecem expressões tão específicas. São muitos os casos em que devemos ter atenção para
nos comunicarmos com eficiência.
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
Linguagem
Linguagem é a expressão de nossa comunicação. Ela ocorre por meio de palavras faladas ou
escritas, por meio de sinais de trânsito, por meio de gestos etc. O termo linguagem passou a ser
empregado para indicar forma de comunicar informações, experiências ou sentimentos por meio
de códigos linguísticos. O termo linguagem também é usado em diversas outras áreas: informática
(símbolos, palavras e regras que processam instruções e etapas a serem desenvolvidas pelos
computadores), lógica (símbolos em enunciados formados por axiomas e regras específicas),
psicologia (linguagem consciente e linguagem inconsciente) etc.
Funções da linguagem
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Comunicação • CAPÍTULO 1
Função fática: a intenção do autor é destacar ou testar o canal da comunicação. Você já deve ter
observado que quase todas as pessoas costumam repetir expressões ao falarem: “tá”, “tudo bem”,
“assim”, “tá entendendo”. São, na verdade, recursos para testar o canal. Ao atender ao telefone,
dizemos “alô”. Temos aí outro exemplo de função fática.
Função poética: a intenção do autor é destacar a própria mensagem. Um poema, por exemplo,
possui rima, sonoridade e tantos recursos que o tornam bonito. Além da informação, a literatura
procura destacar a forma como se transmite. Isso é função poética. Outro exemplo é a letra de
uma música e muitas campanhas de publicidade.
Língua
São os termos com significados e regras que permitem a comunicação. Por exemplo, empregamos
a língua portuguesa para nos expressarmos no Brasil. Os argentinos usam o espanhol. Os ingleses
usam o inglês. Cada povo possui uma língua para se comunicar.
Fala
É a forma como cada pessoa usa a língua. Embora João, Pedro, José, Maria, Paula e tantas outras
pessoas usem a língua portuguesa para falar, cada um faz de uma maneira própria. A fala é o uso
da língua que cada um de nós fazemos.
Falar e escrever são duas formas de nos comunicarmos. Há diferenças entre elas. Ao falar, somos
mais espontâneos e despreocupados. Ao escrever, ficamos mais atentos e procuramos palavras
mais bonitas e corretas.
Basta você imaginar que está conversando com um grande amigo (linguagem oral) ou escrevendo
uma carta para o patrão (linguagem escrita). A diferença é grande algumas vezes.
Para refletir
Há momento em que usamos a linguagem oral e há momentos em que usamos a linguagem escrita. Saber usá-las de
forma adequada é muito importante na profissão e na vida social.
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
Níveis de linguagem
A linguagem pode ser classificada em relação a seu contexto social e cultural. Certamente, você
não escreveria da mesma forma um texto para um adulto e para uma criança. São pessoas com
capacidade de entendimento diferente. Também o seu texto deve ser diferente para cada um
deles. É necessário, assim, preocupar-se e muito com quem receberá o seu texto. Veja, a seguir,
os diferentes níveis.
O Supremo Tribunal Federal determinou o bloqueio imediato dos bens de todos os diretores
envolvidos no escândalo do Banco do Brasil. A priori, a instituição deverá prestar contas dos
gastos de seis diretorias que foram aliciadas por meio de propina para a liberação de verbas a
agências publicitárias.
Linguagem coloquial, oral ou informal: utilizada pelas pessoas que falam e/ou escrevem com
mais espontaneidade. É a linguagem do rádio, da televisão, meios de comunicação de massa, tanto
na forma oral quanto na escrita. O emprego do vocabulário da língua comum e da obediência às
disposições gramaticais é relativo, permitindo-se até mesmo construções próprias da linguagem
oral. Observe um texto coloquial.
Brother, dentro dessa nova edição do Concurso 500 testes tem tudo para que minha prova role na
maior. Só de português são mais de 800 questões. Ah, tem uma lista de livros e dicas para todos
ficarem por dentro do que é moleza que caiu na prova. Vou encarar este estudo.
Para refletir
O escritor Rubens Alves nos ensina que a leitura nos leva por mundos que nunca existiram nem existirão. É desse
mundo diferente, estranho ao nosso, que passamos a ver o mundo em que vivemos de outra forma.
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Comunicação • CAPÍTULO 1
Texto
O termo “texto” vem do latim texere com o sentido de tecer, construir. O particípio passado textus
era empregado para indicar a maneira de tecer e, mais tarde, a estrutura. No século XIV, passou
a ter dois sentidos: tecelagem ou estruturação de palavras. Quase todas as línguas ocidentais
mantiveram relação com a origem da palavra: text (inglês), texte (francês), testo (italiano), texto
(espanhol), text (catalão), text (alemão).
Assim, o sentido original do termo estava relacionado a tecido. Importante destacar que vários
termos relacionados ao ato de escrever também se referem ao ato de tecer. Podemos citar, por
exemplo, que da mesma forma que os fios do tecido não aparecem soltos em uma roupa, também
as palavras se agrupam para formar um texto. O termo “linha”, por exemplo, vem do latim linea
com o sentido de fio de linho (tecido). Da mesma forma que os fios se agrupam para formar o
tecido e a roupa, as palavras se unem para organizar frases e parágrafos. Texto pressupõe interação
entre emissor e receptor:
O interesse pelo texto como objeto de estudo gerou vários trabalhos importantes de teóricos da
linguística textual, que percorreram fases diversas, cujas características principais eram transpor
os limites da frase descontextualizada da gramática tradicional e ainda incluir os relevantes
papéis do autor e do leitor na construção de textos.
Há diferença entre redação e texto. O uso do termo redação é muito comum no ensino médio e em
provas. Isso ocorre desde a edição do Decreto 79.298, em 24 de fevereiro de 1977, que determinou
a inclusão obrigatória da redação nas provas públicas do atual ensino médio e vestibulares.
Com isso, perdeu-se a noção mais completa do termo “texto”. A preocupação passou apenas a
fazer um trabalho escrito para aprovação de um professor ou banca.
Fazer uma redação passou a significar um conjunto de parágrafos – em alguns casos apenas
períodos – organizados em torno de uma ideia com coerência, coesão, objetividade, clareza
e correção gramatical. O interesse é observar a capacidade de defender uma abordagem com
argumentos que embasam adequadamente.
Texto, no entanto, envolve um conceito mais amplo. Ele abrange a ideia de que a pessoa não
apenas busca se comunicar, mas também apresentar uma ideia coerente, coesa, clara. Em alguns
casos, o texto procura persuadir com a ideia transmitida. Escrever um texto, assim, não é apenas
se preocupar em transmitir uma ideia com correção gramatical e organização textual. Fazer um
texto é convencer o leitor ou ouvinte de sua ideia e influenciá-lo com o discurso apresentado.
O escritor e pesquisador italiano Umberto Eco, em sua obra Conceito de Texto, analisa a noção de
texto como fundamental para se entender o processo de comunicação. Fazer uso competente da
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
Elaine Brito Souza, doutora em Literatura Brasileira, faz o seguinte esclarecimento sobre texto.
Imagine, por exemplo, que você está lendo um livro e, de repente, encontra em
uma página qualquer um papel com a palavra “madeira”. Ora, certamente você
ficará intrigado ou simplesmente não dará importância a isso.
Agora, vamos imaginar outra situação: você está no meio de uma floresta e ouve
alguém gritar: “Madeira!”. Bem, se você pretende preservar sua vida, sua reação
imediata é sair correndo. Isso acontece porque a situação em que você se encontra
levou-o a interpretar o grito como um sinal de alerta.
1o - os textos não são apenas escritos, eles também podem ser orais;
Na segunda situação, uma única palavra foi capaz de transmitir uma mensagem
de sentido completo, por isso ela pode ser considerada um texto. Mas o que leva
um texto a fazer sentido? Isso depende de alguns fatores, como o contexto e o
conhecimento de mundo.
Contexto
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Comunicação • CAPÍTULO 1
Para refletir
A professora Maria Lúcia Mexias Simon (2014) demonstrou, no I Simpósio de Estudos Filológicos e Linguísticos,
promovido na UERJ, a importância dos conceitos na construção de um texto dividida em tópicos relevantes para a
compreensão do assunto da seguinte forma.
A noção de texto é central na linguística textual e na teoria do texto, abrangendo realizações tanto orais quanto
escritas, que tenham a extensão mínima de dois signos lingüísticos, sendo que a situação pode assumir o lugar de
um dos signos como em “Socorro!”. (STAMMERJOHANN, 1975). Para a construção de um texto é necessária a junção
de vários fatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relações sintático-semânticas, quanto às
relações entre o texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte, situação (pragmática).
Um texto bem construído e, naturalmente, bem interpretado, vai apresentar aquilo que Beaugrande e Dressier
chamam de textualidade, conjunto de características que fazem, de um texto, e não uma sequência de frases. Esses
autores apontam sete aspectos que são responsáveis pela textualidade de um texto bem constituído:
» Coerência: é o aspecto que assume os conceitos e as relações subtextuais em um nível ideativo. A coerência é
responsável pelo sentido do texto, envolvendo fatores lógico-semânticos e cognitivos, já que a interpretabilidade
do texto depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Um texto é coerente quando compatível
com o conhecimento de mundo do receptor. Observar a coerência é interessante, porque permite perceber que um
texto não existe em si mesmo, mas, sim, se constrói na relação emissor-receptor-mundo.
» Intertextualidade: concerne aos fatores que tornam a interpretação de um texto dependente da interpretação de
outros. Cada texto constrói-se não isoladamente, mas em relação a outro já dito, do qual abstrai alguns aspectos
para dar-lhes outra feição. O contexto de um texto também pode ser outros textos com os quais se relaciona
» Intencionalidade: refere-se ao esforço do produtor do texto em construir uma comunicação eficiente, capaz de
satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer dizer, o texto produzido deverá ser compatível com as
intenções comunicativas de quem o produz.
» Aceitabilidade: o texto produzido também deverá ser compatível com a expectativa do receptor em colocar-
se diante de um texto coerente, coeso, útil e relevante. O contrato de cooperação estabelecido pelo produtor e
pelo receptor permite que a comunicação apresente falhas de quantidade e de qualidade, sem que haja vazios
comunicativos. Isso se dá porque o receptor esforça-se em compreender os textos produzidos.
» Informatividade: é a medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, pelo
receptor. Um discurso menos previsível tem mais informatividade. Sua recepção é mais trabalhosa, porém mais
interessante, envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado pelo receptor, que não poderá processá-
lo. O ideal é que o texto se mantenha num nível mediano de informatividade, que fale de informações que tragam
novidades, mas que venham ligadas a dados conhecidos.
» Situacionalidade: é a adequação do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. Note-se que a situação
orienta o sentido do discurso, tanto na sua produção como na sua interpretação. Por isso, muitas vezes, menos
coeso e, aparentemente, menos claro pode funcionar melhor em determinadas situações do que outro de
configuração mais completa. É importante notar que a situação comunicativa interfere na produção do texto,
assim como este tem reflexos sobre toda a situação, já que o texto não é um simples reflexo do mundo real. O
homem serve de mediador, com suas crenças e ideias, recriando a situação. O mesmo objeto é descrito por duas
pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso. Muitos linguistas têm-se preocupado em desenvolver
cada um dos fatores citados, ressaltando sua importância na construção dos textos.
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
Discurso e intencionalidade
A comunicação não é feita apenas por palavras soltas que se juntam para dar um significado.
A intenção do autor ao escolher palavras em determinado contexto produz o texto. O objetivo
do autor deve ser levado em consideração para compreendermos o processo da comunicação.
É a intenção do autor ao escolher palavras com um determinado objetivo que cria o sentido
textual.
Há diferentes formas de nos comunicarmos. São várias as leituras possíveis de um texto. Podemos
transmitir a mesma informação de formas tão diferentes quantas forem nossas intenções com o
texto. Assim, o texto possui um discurso, que é a intenção do autor com o próprio texto. Há uma
disciplina no estudo da comunicação chamada “Análise do Discurso”, que estuda justamente a
intenção presente em toda comunicação por meio da linguagem empregada. Devemos sempre
estar atentos a isso. Diversas áreas do conhecimento se interessam pelo assunto (sociologia,
psicologia, psicanálise, direito, história, administração), pois a compreensão da intencionalidade
de um texto é fundamental.
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Comunicação • CAPÍTULO 1
Patrick Charaudeau (2002), no prefácio de seu livro Linguagem e Discurso, afirma que a linguagem
é própria do homem. Ele explica que é a linguagem que permite ao homem pensar e agir. Pois
não há ação sem pensamento, nem pensamento sem linguagem. É também a linguagem que
permite ao homem viver em sociedade. Sem a linguagem, ele não saberia como entrar em
contato com os outros, como estabelecer vínculos psicológicos e sociais com esse outro que é,
ao mesmo tempo, semelhante e diferente. Da mesma forma, ele não saberia como constituir
comunidades de indivíduos em torno de um desejo de viver juntos. A linguagem talvez seja o
primeiro poder do homem.
Observe o texto a seguir para diferenciar aspectos explícitos e implícitos em um simples comentário
de Alexandre sobre o atraso da colega de trabalho Patrícia.
Um texto deve ser analisado em seu contexto para se chegar à intenção real do conteúdo.
Para isso, o receptor (leitor ou ouvinte) precisa dominar os aspectos gramaticais e semânticos
do texto, além de observar detalhadamente o contexto apresentado pelo autor. Um estudante
de graduação compreenderá melhor um texto apresentado pelo professor se dominar conceitos
relacionados à sua área de atuação e abordados no texto indicado pelo professor.
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CAPÍTULO 1 • Comunicação
A intenção do autor por meio da comunicação é o grande sucesso do humor. Observe o exemplo
a seguir.
Dois políticos famosos se encontraram em Brasília depois de escapar de mais uma CPI:
– Vamos. De quem?
O leitor ou ouvinte logo percebe que a comunicação envolve todo o contexto em como os políticos
são considerados por grande parte da população brasileira. A graça está em compreender o que
está além do que está escrito literalmente e observar a intenção implícita do autor.
Sintetizando
» Ruídos da comunicação.
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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
CAPÍTULO
2
Introdução
O conteúdo foi elaborado de forma didática a explorar cada tópico de forma específica e necessária
ao nosso estudo. Observamos a análise de diferentes textos em situações diversas.
Objetivos
» Desenvolver a capacidade de interpretar adequadamente diferentes modelos de texto.
A palavra interpretar vem do latim interpretare e significa explicar, comentar ou aclarar o sentido
dos signos ou símbolos. Tal vocábulo corresponde ao grego analysis, que tem o sentido de
decompor um todo em suas partes, sem decompor o todo, para compreendê-lo melhor.
Ler adequadamente é mais do que ser capaz de entender as palavras ou combinações de frases
ordenadas. Deve-se aprender a “enxergar” o texto como um todo e, principalmente, a real
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CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
A importância da leitura
Sabemos que ler faz bem. Trata-se de uma frase que ouvimos durante toda a vida. No entanto,
também ouvimos que o brasileiro lê pouco. Isso é uma verdade relativa. Boa parte da população
brasileira lê muito e apresenta índices comparáveis aos países do primeiro mundo. No entanto,
por diversas causas, parte significativa da população não tem condições ou acesso a livros ou a
internet (muitos sequer têm acesso à educação básica).
Ao compararmos estudos internacionais, o Brasil não tem apresentado bons resultados no tópico
de leitura. O exame Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) mede o nível educacional
de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências em diversos países
do mundo. O exame é realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), entidade formada por governos de trinta países que têm como
princípios a democracia e a economia de mercado. Países não membros da OCDE também podem
participar do Pisa, como é o caso do Brasil, convidado pela terceira vez consecutiva.
O objetivo principal do Pisa é produzir indicadores que contribuam, dentro e fora dos países
participantes, para a discussão da qualidade da educação básica e que possam subsidiar políticas
nacionais de melhoria da educação. Na prova de leitura, o Brasil ficou entre os doze piores
países, com uma média de 407, bem abaixo da média de 493 da OCDE. Isso demonstra que há
necessidade de um esforço conjunto para aprendermos a ler, pois a leitura é de importância
fundamental na vida de todos nós.
A origem latina da palavra ler é legere, que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os
olhos. Não há necessidade de ser especialista para saber que a leitura amplia a capacidade de
aprendermos e nos aperfeiçoarmos. Interpretar um texto é justamente criarmos mecanismos
para compreendermos o conteúdo intencional presente no conjunto de palavras reunidas pelo
autor. Para isso, precisamos observar características de um texto.
A ciência cada vez mais explica como a leitura melhora o funcionamento do cérebro e da própria
vida do leitor. Pesquisas indicam que a leitura melhora o funcionamento do cérebro, estimula a
criatividade, desenvolve senso crítico e promove a empatia. Quatro são as características mais
perceptíveis como consequência da boa leitura.
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Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
» Funcionamento do cérebro: o ato de ler estimula conexões neurais e faz com que o
cérebro funcione melhor. O cérebro não apenas compreende o conteúdo como vivencia os
eventos lidos. A prática da leitura evita diversas doenças no envelhecimento relacionadas
ao funcionamento cerebral.
Erros de leitura
Extrapolar
Trata-se de um erro muito comum. Ocorre quando o autor sai do contexto, acrescentando ideias
que não estão presentes. A interpretação fica comprometida. Frequentemente, relacionamos
fatos reais a outros contextos.
Reduzir
Trata-se de um erro oposto à extrapolação. Ocorre quando se dá atenção apenas a uma parte
ou aspecto do texto, esquecendo a totalidade do contexto. Destaca-se, desse modo, apenas um
fato ou uma relação que pode ser verdadeira, porém insuficiente se for levado em consideração
o conjunto das ideias.
Contradizer
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CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
Unidade
Um texto só pode ser considerado como tal se possuir uma unidade de entendimento. A simples
expressão não caracteriza o texto em si. A origem do termo “texto” está relacionada a “novelo”, ou
seja, um emaranhado de assuntos. Assim, todo o texto perpassa uma ideia maior desenvolvida
em partes. Observe como isso se dá no texto a seguir.
Perceba que o texto anterior está dividido em três períodos, cada um com uma ideia específica.
No entanto, o tema principal é a destruição do meio ambiente. Aí está a unidade. Bom texto
apresenta um assunto principal que perpassa todos os parágrafos.
Clareza
Inúmeras são as vezes em que a má redação compromete o entendimento. O texto claro é aquele
que não permite dificuldade de entendimento. A compreensão deve ser imediata. Observe trecho
de circular produzida pelo Banco Central do Brasil com falta de clareza.
Coerência
Coerência é a lógica presente no conteúdo. Ela envolve o texto como um todo de forma que o
leitor considere as ideias razoáveis e possíveis. Observe exemplo de texto incoerente.
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Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
O parágrafo aborda inicialmente uma visão positiva em relação à cidade e, no final, explora uma
ideia contrária à ideia principal.
Observe agora texto coerente com ideias que se relacionam de forma lógica.
Coesão
A coesão é o tijolo que une as partes de um texto. Geralmente, ela ocorre com conectivos (portanto,
porque, pois, conquanto etc.). Assim, o texto coeso é aquele em que as palavras, as orações, os
períodos e os parágrafos estão interligados e coerentemente dispostos. Observe alguns elementos
de coesão (estudaremos a coesão detalhadamente mais à frente).
Perífrase, antonomásia, epítetos: ocorre com o uso de um termo ou expressão que se relaciona
à ideia anteriormente apresentada.
Brasília é uma cidade muito boa. A capital do Brasil apresenta uma qualidade de vida que se
destaca em todo o Brasil.
O deputado afirmou duas coisas: a primeira era que não iria renunciar. A segunda, que tudo era
mentira.
27
CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
Repetição de parte do nome próprio: para não repetir o nome inteiro, recorre-se a uma parte
que faça referência.
Aspectos semânticos
A semântica é o estudo do significado das palavras. Ao ler um texto com a palavra “carro”, você logo
pensa no objeto que conhecemos por carro. A semântica é justamente a relação entre o termo e
a imagem ou significado que o termo produz em cada um de nós. Quando você escuta um termo
desconhecido, não há significado algum. Uma pessoa que domina diversos significados é muitas
vezes considerada culta. A leitura é muito importante por isso. As pessoas cultas geralmente
entendem de forma mais rápida os textos e sabem se comunicar melhor. Procure ler sempre.
Caso não saiba o significado de um termo, procure no dicionário.
Denotação: palavra empregada em seu sentido de dicionário, sentido real. A palavra “livro”, por
exemplo, apresenta como sentido real a imagem de um objeto com capa, folhas e texto. Esse é o
sentido real. Ao usarmos o termo “janela”, pensamos em um objeto na parede que abre e fecha.
Esse é o sentido real.
Conotação: palavra empregada em sentido figurado. Significa que o termo empregado não está
sendo entendido no sentido real, mas por meio de uma associação com o sentido real. Se alguém
diz que você é joia, ele associa as qualidades de uma joia a você. Se eu me refiro a minha esposa por
“rainha da minha vida”, certamente ela sabe que não é uma rainha de verdade. O termo “rainha”
foi empregado em sentido figurado, ou seja, eu demonstro que ela apresenta características de
uma rainha para mim. Observe exemplos de sentido figurado.
A fazenda é um paraíso.
28
Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
Palavras sinônimas: termos com significados semelhantes: próximo e perto; bonito e lindo,
longe e distante.
Palavras antônimas: termos com significados contrários: perto e longe; bonito e feio; bom e ruim.
Palavras homônimas: palavras que possuem som e/ou grafia idênticos. Cela (substantivo), sela
(verbo); sessão (horário) e seção (departamento).
Comprimento e cumprimento
Descrição e discrição
Outro exemplo é o termo “manga”. Pode-se entender a fruta, uma parte da camisa e, em alguns
lugares do Brasil, pode representar também um grupo de amigos.
Um bom texto apresenta uma ideia principal e outras que comprovam, exemplificam ou ampliam
(secundárias). Todas as ideias devem estar organizadas em torno de uma ideia central. Observe
o exemplo a seguir.
Logo no início, o autor procura enfatizar a ideia que abordará no parágrafo. Após a ideia principal,
seguem as ideias secundárias que exemplificam a primeira ideia.
29
CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
Ideias secundárias:
c. paciência e muitos exercícios são necessários para obter sucesso na lida com os cavalos.
Assim, o texto apresenta uma unidade entre a ideia principal e as ideias secundárias.
Ideias secundárias: “a maioria do povo ganha pouco” e “o salário de muitos não consegue pagar
nem os alimentos”.
Se você respondeu algo relacionado à importância do estudo para o trabalhador, acertou em cheio.
30
Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
Se você respondeu que a ideia principal é o “Ministério Público Federal recomenda que a
importação e a aplicação de agrotóxicos que contêm Benzoato de Emamectina sejam proibidas”
acertou. Todos os demais componentes do texto acrescentam informações para comprovar a
ideia principal.
Figura 2.
Fonte: https://www.google.pt.portugues.
31
CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
Observe que a moça fala bem inglês, espanhol, francês, italiano e alemão. No entanto, ela não
domina o próprio idioma português. A intenção do autor é indicar que muitas vezes a pessoa
procura emprego à espera de que apenas o conhecimento de outros idiomas seja o importante,
mas não sabe falar português corretamente. Isso pode comprometer o interesse de quem contrata.
Outro recurso a ser combatido é o uso de paraísos fiscais para obter vantagens e
isenções tributárias para evitar o pagamento de impostos. A venda é intermediada
por uma empresa localizada em um paraíso fiscal, que recoloca o preço em seu
patamar real e conclui a venda ao real comprador. O lucro realizado por essa
empresa retorna ao exportador sem ônus fiscal.
Vamos analisar qual a ideia principal do texto e quais são as ideias secundárias. Em sua opinião,
qual é a ideia principal? Quais ideias sustentam a ideia principal?
Ideia principal:
Você observará que a intenção principal do autor é informar que a Receita Federal brasileira
iniciará processo de integração com o fisco de diversos países para combater fraudes fiscais
(ideia principal).
Ideias secundárias:
O segundo e o terceiro parágrafo justificam a ideia principal com exemplos claros de como
ocorrem as fraudes (ideias secundárias).
Geralmente, no texto dissertativo, a ideia principal aparece logo no início; e as ideias secundárias,
nos demais parágrafos. Isso não ocorre sempre, mas é bem comum o texto estar assim
estruturado.
32
Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
Em sua opinião, em qual opção a seguir temos o resumo da ideia principal do texto?
b. O Conselho Nacional de Justiça afirma que 88% das ações de assédio se deram na esfera
trabalhista.
d. Empresas estão alterando suas regras como vetar algumas interações entre homens e
mulheres por causa da transformação radical nos códigos de conduta promovida pelas
denúncias de assédio sexual.
e. Os homens ainda estão confusos sobre como devem agir para evitar o assédio sexual
no ambiente de trabalho.
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CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
Você observará que a intenção principal do autor do texto como ideia principal é mostrar que
empresas estão adotando nova postura por causa das denúncias de assédio sexual. Assim, a letra
“d” será a opção a ser indicada. As demais opções apresentam ideia presentes no texto como
ideias secundárias relacionadas com a ideia principal.
Interpretação explícita
A televisão procura atender ao gosto da população. Assim, não propõe programas novos educativos
e com mais cultura. Por isso, encontramos tantos programas sem graça e sem conteúdo.
a. porque se dirige a um público sem cultura e pouco inteligente, a televisão não se preocupa
com a qualidade de seus programas.
b. a televisão não se preocupa em melhorar o nível de seus programas, pois o público não
é sério.
d. a televisão está interessada em produzir programas novos, pois o público tem interesse
por isso.
A primeira frase do texto afirma que a televisão procura atender ao gosto da população. Assim,
podemos afirmar que apenas a letra “e” apresenta interpretação explícita, pois a ideia presente
na letra “e” é a mesma da primeira oração do texto.
Vamos analisar outro texto agora. Peço para você ler e indicar qual opção apresenta ideia explícita.
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Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
b. os problemas da agricultura são causados pelos agricultores que não usam tecnologia.
c. os problemas da agricultura ocorrem pela forma como é feita a modernização e não por
causa dos agricultores que não usam tecnologia.
O autor afirma que os problemas da agricultura ocorrem mais pela forma como é feita a
modernização do que pela resistência dos agricultores que não usam tecnologia. Assim, a única
opção com interpretação explícita é a letra “c”.
Algumas vezes, a informação apresentada é contaminada pela nossa opinião sobre o assunto. Isso
deve ser evitado para não extrapolar ou reduzir o conteúdo real do texto recebido. Ideia explícita
é aquela presente no texto. A nossa opinião sobre a ideia explícita é outro assunto a ser estudado.
Interpretação implícita
A interpretação implícita exige mais atenção do leitor ou do ouvinte. O autor não transmite
literalmente a ideia desejada. Ele apresenta ideias que podem provocar no receptor interpretações
dedutivas ou indutivas.
A interpretação de ideias implícitas merece mais atenção. Observe o texto a seguir para entendermos
bem o assunto.
Peço a você refletir e observar quais construções a seguir apresentam interpretações implícitas
do texto (não estão escritas pelo autor, mas podemos considerar adequadas).
II. Se a espécie humana tivesse outro peso e volume com certeza não teria sobrevivido.
III. Viver fora do lugar de nascimento depende da capacidade de criar o próprio alimento.
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CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
IV. O tamanho de outros bichos impediu que eles andassem pelo mundo.
VI. As grandes mudanças que ocorrem no homem permitiram que ele sobrevivesse.
Podemos observar que as construções I, III e V apresentam ideias implícitas. As demais construções
(II, IV, VI) podem ou não ser verdadeiras, mas não encontramos embasamento no texto para
afirmar.
Vamos observar agora outro texto para tentar encontrar interpretação explícita e interpretação
implícita.
Monteiro Lobato foi o primeiro brasileiro a adaptar a história de Peter Pan. Dona Benta conta à
turma do Sítio do Picapau Amarelo as aventuras de Peter Pan, que ficou conhecido em livro no
Brasil antes da Disney fazer filmes nos Estados Unidos.
d. Monteiro Lobato adaptou a história de Peter Pan antes de qualquer outro brasileiro.
A única opção que apresenta ideia explícita é a letra “d”, pois está literalmente escrito no texto a
informação de que Monteiro Lobato foi o primeiro brasileiro a adaptar a história de Peter Pan.
As demais construções não podem ser retiradas do texto, pois não há informações sobre isso.
Agora, vamos encontrar opção que apresenta ideia implícita do mesmo texto.
A única opção que apresenta ideia implícita é a letra “c”, pois há referência de que Monteiro
Lobato fez a adaptação da história e ela foi publicada em livro antes de se transformar em filme
36
Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
nos Estados Unidos. As demais opções podem ser verdadeiras ou não, mas não há referências
explícitas ou implícitas para que possamos afirmar isso.
Vamos estudar um pouco o pensamento dedutivo e o pensamento indutivo. A relação entre lógica
e comunicação é a capacidade de observar a validade de uma abordagem ou análise por meio
de proposições e conclusões. O silogismo desenvolvido por Aristóteles (duas premissas e uma
conclusão) é exemplo comum de lógica de argumentação. Observe exemplo clássico de silogismo.
Lógica aristotélica
Aristóteles é considerado o filósofo que melhor sistematizou o estudo da lógica. Sabe-se que,
antes dele, na própria Grécia, outros filósofos já ensinavam estruturas semelhantes. Aristóteles,
no entanto, desenvolveu a teoria lógica de forma mais abrangente e coerente. Cientistas e
pensadores questionaram em diversos momentos a lógica aristotélica (FREGE, G., ano; RUSSEL,
B., ano; KANT, ano) , porém, ainda hoje, consideram a lógica formal de Aristóteles a que apresenta
resultados mais notáveis.
Os textos do filósofo sobre o tema aparecem em seis obras conhecidas como Organon. Aristóteles
afirmava que um termo (componente básico da proposição) não deve ser considerado como
verdadeiro ou falso. A ideia de “premissa” (latim protasis) indicava sentença com afirmação ou
negação. As premissas eram apresentadas em sentenças.
Sentenças
Sentenças podem ser construções linguísticas com intenção apenas de expressar algo. Observe
exemplos.
Bom dia!
37
CAPÍTULO 2 • Interpretação de texto
Nas construções acima, não temos uma proposição. Assim, passaremos a tratar por frase ou
construção linguística.
As sentenças que apresentam proposição são aquelas em que se pode considerar como válida
ou inválida. Observe exemplos.
Vários são os argumentos que possibilitam a ideia do silogismo e a boa interpretação de um texto.
Argumento categórico
Lucas é brasileiro.
Argumento disjuntivo
Isabela é honesta.
Argumento condicional
Hoje é segunda-feira.
Argumento dedutivo
Ricardo é homem.
Ricardo é mortal.
Argumento indutivo
38
Interpretação de texto • CAPÍTULO 2
Silogismo
a. Houve, por parte das mulheres, entre as quais a autora se inclui, um momento de
aceitação passiva de injustiças.
Você observará claramente que as letras “b” e “c” não apresentam ideias presentes no texto
(nem de forma explícita nem de forma implícita). A letra “d” apresenta ideia explícita, pois está
literalmente escrito no texto. Apenas a letra “a” indica ideia implícita do texto. Não está escrito,
mas podemos retirar a informação do texto por dedução.
Sintetizando
39
CAPÍTULO
COERÊNCIA 3
Introdução
Objetivos
Introdução à coerência
Grande parte de nosso material didático foi elaborado por Vicente Martins, mestre em educação
brasileira pela UFC, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Ceará.
Ao analisar diversos materiais, considerei sua abordagem sobre o assunto bem sintetizada e
fundamentada.
40
Coerência • CAPÍTULO 3
Ao analisar esses mecanismos, mostramos, por meio de exemplos, as formas em que podem ocorrer.
Ao mesmo tempo, procuramos fazer com que os usuários saibam empregar adequadamente
cada mecanismo não só para depreender o sentido de um texto, como para produzir textos com
sentido, estabelecendo uma continuidade entre as partes, de modo a instaurar entre elas uma
unidade, ou seja, a coerência.
Este tema será, portanto, desenvolvido com o objetivo de mostrar aos usuários da língua que:
Coerência
O que leva as pessoas a fazerem tais observações, provavelmente, é o fato de perceberem que,
por algum motivo, escapa a elas o entendimento de uma frase ou de todo o texto.
41
CAPÍTULO 3 • Coerência
O domínio das regras que norteiam a língua – isso vai possibilitar as várias
combinações dos elementos linguísticos;
Portanto, a coerência estabelece-se numa situação comunicativa; ela é a responsável pelo sentido
que um texto deve ter quando partilhado por esses usuários, entre os quais existe um acordo
preestabelecido, que pressupõe limites partilhados por eles e um domínio comum da língua.
A coerência se manifesta nas diversas camadas da organização do texto. Ela tem uma dimensão
semântica – caracteriza-se por uma interdependência semântica entre os elementos constituintes
do texto. Tem principalmente uma dimensão pragmática – é fundamental, no estabelecimento
da coerência, o nosso conhecimento de mundo, e esse conhecimento é acumulado ao longo de
nossa existência, de maneira ordenada.
Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, devemos dizer que a ele se acrescentam
as informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode-se tornar incoerente devido
à não familiaridade do ouvinte/leitor com essa massa desconhecida de informações. É isto que
acontece, por exemplo, quando lemos um texto muito técnico, de uma área na qual somos leigos.
Na verdade, quando dizemos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que motivos
nos levaram a afirmar isso. Ele pode ser incoerente em uma determinada situação porque
quem o produziu não soube adequá-lo ao receptor, não valorizou suficientemente a questão da
comunicabilidade, não obedeceu ao código linguístico, enfim, não levou em conta o fato de que
a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto.
42
Coerência • CAPÍTULO 3
Podemos notar que as quatro primeiras não oferecem qualquer problema de compreensão.
Dizemos, então, que elas têm coerência. Já não ocorre o mesmo em relação às duas últimas.
Em As árvores estão plantadas no deserto, há duas ideias opostas, uma contrária a outra. Em A
árvore está grávida, há uma restrição na combinatória ser vegetal + grávida, o que não ocorre
em A mulher está grávida, em que temos a combinatória possível ser racional + grávida.
» O pássaro voa.
» O homem voa.
A frase a tem um grau de aceitação maior do que a frase b, que depende de uma complementação
para esclarecer qual o meio utilizado pelo homem para voar – O homem voa de asa-delta, por
exemplo. A combinação de homem com voa tem outras significações no plano da conotação:
O homem sonha, o homem delira, o homem anda rápido. Neste plano, muitas outras combinações
são possíveis:
b. Apesar de estar derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores.
As frases de letra a de cada par são facilmente compreendidas, têm coerência; as frases de letra
b de cada par apresentam problema de compreensão.
43
CAPÍTULO 3 • Coerência
1 a) Todo mundo destrói a natureza O vocábulo menos indica exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste
menos eu. caso, pode ser combinado com o pronome eu.
Há uma restrição, porque o vocábulo menos indica exclusão de uma parte
1 b)Todo mundo destrói a natureza
do grupo, portanto, neste caso, não pode ser combinado com todo mundo,
menos todo mundo.
que indica o grupo inteiro.
2 a)Todo mundo viu o mico-leão, mas Mas introduz uma ideia oposta, que é perfeitamente aceitável, porque todo
eu não. mundo se diferencia de eu.
Mas introduz uma ideia oposta, que é inaceitável porque o conteúdo da
2 b) Todo mundo viu o mico-leão, mas ideia introduzida por mas não é o contrário da ideia anterior. Assim, a
eu não ouvi o sabiá cantar. primeira parte Todo mundo viu o mico-leão não pode ser combinada com
eu não ouvi o sabiá cantar por intermédio do vocábulo mas.
3 a) Apesar de estar derrubando muitas O uso de apesar de pressupõe a presença de ideias contrárias, qualquer
árvores, a floresta sobrevive. que seja a ordem: negativa/positiva, positiva/negativa.
3 b) Apesar de estar derrubando muitas O uso de apesar de pressupõe a presença de ideias contrárias, qualquer
árvores, a floresta não tem muitas que seja a ordem: negativa/positiva, positiva/negativa. Daí a incoerência da
árvores. frase b, em que ocorrem duas negativas simultâneas.
Essas observações mostram que a coerência de uma frase, de um texto, não se define apenas
pelo modo como elementos linguísticos se combinam; depende também do conhecimento do
mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto em questão. Podemos ainda
dizer que, nas frases de letra b, os elementos de coesão não foram usados de forma adequada,
por isso não contribuíram para estabelecer a coerência.
O trecho mostra as dificuldades sentidas pelos habitantes da Mata Atlântica como consequência
da crise econômica. O sentido do texto é viabilizado pela combinação dos elementos presentes
numa progressão harmoniosa. Veja como este sentido vai sendo construído a partir da ocorrência
de vocábulos relacionados entre si. Por exemplo:
Observe finalmente:
44
Coerência • CAPÍTULO 3
Numa primeira leitura, esta mensagem parece vaga: aqui aponta para várias possibilidades de
significação, entretanto, cada uma delas claramente se opõe à “cidade”. Mas, se situarmos esta
frase como introdutória ao texto sobre a Mata Atlântica, o sentido fica mais explícito, sobretudo
se a frase for acompanhada da imagem de um habitante da Mata Atlântica.
Tipos de coerência
Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de coerências, a saber: coerência semântica,
coerência sintática, coerência estilística, coerência pragmática.
Coerência semântica
Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência; a incoerência
aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são contraditórios. Exemplos:
... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorreram muitos fotógrafos e telegrafistas
para registrarem o fato.
O uso do vocábulo telegrafista é inadequado neste contexto, pois o fato que causa
espanto será documentado por fotógrafos e, talvez, por cronistas, que, depois,
poderão escrever uma crônica sobre ele, mas certamente telegrafistas não são
espectadores comuns nessas circunstâncias.
45
CAPÍTULO 3 • Coerência
Educação, problema universal que por direito todo indivíduo deve ter acesso.
Ainda dentro desse tipo de coerência, lembramos que o pouco domínio do sentido dos vocábulos
e das restrições combinatórias pode também gerar frases com problemas de compreensão, como
as que se seguem:
Não deu asas ao pensamento, obviamente com medo de aferir a opinião dos outros.
46
Coerência • CAPÍTULO 3
Coerência sintática
Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos, pronomes
etc. Exemplos:
Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular. Onde
há métodos, equipamentos e até professores melhores.
Na verdade, essa falta de leitura, de escrever, seja porque tudo já vem pronto,
mastigado para uma boa compreensão, não precisando pensar.
Há, nesta frase, vários problemas que prejudicam a sua coerência. O primeiro
é o não paralelismo entre leitura (nome) e escrever (verbo); seria desejável,
por exemplo, dizer falta de ler, de escrever, ou falta de leitura, falta de treino
de escrita. Depois foi empregada a conjunção seja, que geralmente se usa para
apresentar mais de uma alternativa: seja porque tudo já vem pronto, seja porque
não há estímulo por parte dos professores; usada isoladamente, ela perde o seu
sentido alternativo. Talvez o autor estivesse querendo dizer seja porque tudo já
vem mastigado; a elipse da conjunção na segunda expressão foi inadequada.
Percebemos, ainda, que o sujeito essa falta de leitura acabou não se juntando a
nenhum predicado, e a frase ficou fragmentada. Por último, não foi explicitado
o termo que pode preencher essa função.
47
CAPÍTULO 3 • Coerência
Esta frase apresenta o seguinte problema: ela é longa demais, por isso o predicado,
muito distante do sujeito, acaba discordando dele, não gramaticalmente, mas pela
inadequação do vocabulário. Pode-se dizer que há um cruzamento na estrutura
da frase, o que causa uma incoerência sintática.
(As frases usadas como exemplos foram produzidas por alunos recém-ingressos na universidade).
Coerência estilística
Percebemos, pelos exemplos citados abaixo, que esse tipo de coerência não chega, na verdade,
a perturbar a interpretabilidade de um texto; é uma noção relacionada à mistura de registros
linguísticos. É desejável que quem escreve ou lê se mantenha num estilo relativamente uniforme.
Entretanto, a alternância de registros pode ser, por outro lado, um recurso estilístico.
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA
O autor procede como se estivesse falando, aconselhando alguém, advertindo sobre uma possível
“cantada”. Há mistura de tratamento (tu/você), mistura de registros, pois o autor utiliza várias
expressões da língua oral, como “do tamanho de um bonde”, “se ele se rasgar todo”, “cai fora”,
ao mesmo tempo em que emprega o futuro do subjuntivo, tempo mais comum num registro
mais cuidado.
48
Coerência • CAPÍTULO 3
... isso aí é um conceitozinho um pouco maior, é que nós sabemos que os cloretos,
por decoreba, aquele negócio que eu falei, os cloretos e prata, chumbo são
insolúveis, todos os outros cloretos são solúveis. Agora pergunto: aquilo lá não
é uma cascata muito grande? Quando a gente agora está por dentro do assunto?
O que o cara quer dizer com solúveis, muito solúveis, pouco solúveis? Apenas
um conceito relativo. AgCl é considerado insolúvel porque o que fica de AgCl é
um troço tão irrisório que a gente não considera ... Entendeu qual é a jogada? O
que tem na solução daqueles íons não vai atrapalhar ninguém. Você pode comer
quilos desse troço que a prata não vai te perturbar.
(Corpus do Projeto NURC/RJ – UFRJ – Informante: homem, 31 anos, professor de química numa aula
para o terceiro ano do Ensino Médio.)
Nesta exposição, chamada, dentro do corpus do projeto, de elocução formal, o professor emprega
uma grande variação de registro, movendo-se todo o tempo entre o formal, para explicar o
conceito de solubilidade, e o informal, servindo-se de gírias (troço, cascata, estar por dentro,
jogada, decoreba, cara), talvez com o objetivo de tornar a explicação menos pesada e a exposição
mais interessante para os alunos, aproximando-se deles ao usar essa maneira de falar. Portanto,
nesta passagem, a mistura de registros, sem causar incoerência, pode ter uma causa objetiva.
Coerência pragmática
Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Para haver coerência nesta sequência,
é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez
de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta
a outra, a resposta pode-se manifestar por meio de uma afirmação, de outra pergunta, de uma
promessa, de uma negação. Qualquer uma dessas sequências seria considerada coerente. Por
outro lado, se o interlocutor não responder, virar as costas e sair andando, começar a cantar,
ou mesmo dizer algo totalmente desconectado do tema da pergunta, essas sequências seriam
consideradas incoerentes. Exemplo:
– Um momentinho.
– Muito obrigado.
49
CAPÍTULO 3 • Coerência
Para quem fez a pergunta, não pareceu nem um pouco incoerente a resposta obtida. Entretanto,
a frase de B não é a resposta, é simplesmente um pedido de tempo para depois dar atenção ao
interlocutor A. Nós é que percebemos a incoerência da sequência e tomamos o conjunto como
uma piada.
Como último exemplo observe esta frase, ouvida recentemente em um programa de televisão:
“Me inclui fora dessa”. Parece que o emissor não conhece o sentido do verbo incluir, que
certamente não pode ocorrer combinado com fora. Ou então, usa expressamente o advérbio
fora para explicar sua intenção de não ser incluído em algum projeto.
Texto e coerência
A coerência e a coesão ocorrem nos diversos tipos de texto. Lembramos que cada tipo de texto
tem sua estrutura própria, por isso os mecanismos de coerência e de coesão também vão se
manifestar de forma diferente na superfície linguística, conforme se trate de um texto narrativo,
descritivo ou dissertativo-argumentativo.
A pesca
o anil a garganta
o anzol a âncora
o azul o peixe
o silêncio a boca
o tempo o arranco
o peixe o rasgão
a agulha aberta a água
vertical aberta a chaga
mergulha aberto o anzol
a água aquelíneo
a linha ágil-claro
a espuma estabanado
o tempo o peixe
a âncora a areia
o peixe o sol
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Coerência • CAPÍTULO 3
azul
anzol boca
anil
isca rasgão
material peixe mar areia
“agulha” chaga
sol
linha garganta
mergulha
A história infantil A Casa Sonolenta (WOOD, 1999), um texto narrativo e descritivo, é mais um
bom exemplo de como a sequência é fundamental para que se estabeleça a coerência textual.
A Casa Sonolenta
Era uma vez Em cima desse cachorro tinha um gato
uma casa sonolenta um gato ressonando,
onde todos viviam dormindo em cima de um cachorro cochilando,
Nessa casa em cima de um menino sonhando,
tinha uma cama em cima de uma avó roncando,
uma cama aconchegante, numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta, numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo. onde todos viviam dormindo.
Nessa cama Em cima desse gato
tinha uma avó, tinha um rato,
uma avó roncando, um rato dormitando,
numa cama aconchegante, em cima de um gato ressonando,
numa casa sonolenta, em cima de um cachorro cochilando,
onde todos viviam dormindo. em cima de um menino sonhando,
Em cima dessa avó em cima de uma avó roncando,
tinha um menino, numa cama aconchegante,
um menino sonhando, numa casa sonolenta,
em cima de uma avó roncando, onde todos viviam dormindo.
numa cama aconchegante, E em cima desse rato
numa casa sonolenta, tinha uma pulga...
onde todos viviam dormindo. Será possível?
Em cima desse menino Uma pulga acordada,
tinha um cachorro, que picou o rato,
um cachorro cochilando, que assustou o gato,
em cima de um menino sonhando, que arranhou o cachorro,
em cima de uma avó roncando, que caiu sobre o menino,
numa cama aconchegante, que deu um susto na avó,
numa casa sonolenta, que quebrou a cama,
onde todos viviam dormindo. numa casa sonolenta,
onde ninguém mais estava dormindo.
51
CAPÍTULO 3 • Coerência
2o momento – todos acordam, cada um, por sua vez, movidos pela ação da pulga.
Lembramos, ainda, o título do conto de Carlos Drummond de Andrade – “Flor, telefone, moça”.
Os três vocábulos juntos, aparentemente, não constituem título coerente para um conto.
No entanto, a coerência advém do próprio conto, que se resume na seguinte história: uma moça,
que tinha o costume de passear no cemitério, um dia, com um gesto distraído, arrancou uma
flor de um túmulo, machucou-a com as mãos e depois jogou-a fora. A partir daí, passa a receber
insistentes telefonemas feitos por uma voz que reclama de volta a sua flor. A família se envolve,
tentando uma solução para os telefonemas que, a cada dia, deixam a moça mais nervosa e sem
apetite. O caso termina em tragédia. A moça, sem ânimo para coisa alguma, acaba definhando
e morrendo. Nunca mais houve telefonemas. Apenas os fatos narrados no conto justificam a
ordem em que os vocábulos foram organizados no título.
No texto descritivo, a coerência estabelece-se, sobretudo, por uma ordenação espacial. Quem
descreve, procura percorrer os detalhes daquilo que descreve, seja uma pessoa, seja um cenário,
seja um objeto, obedecendo a uma sequência, com a finalidade de auxiliar o(a) leitor(a)/ouvinte
a compor o todo a partir dessas informações parciais. No trecho abaixo, extraído de Vidas Secas,
temos uma série de atos que, se alterada, prejudica a coerência do texto.
(Sinhá Vitória) Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher,
acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro. Jogo
longe uma cusparada, que passou por cima da janela e foi cair no terreiro.
52
Coerência • CAPÍTULO 3
Com respeito a essa ordenação das informações num texto descritivo, é interessante assinalar que
a ordem em que são percebidos os objetos ou os componentes de uma cena pode determinar a
organização linear das sequências usadas para descrevê-los, como no parágrafo abaixo:
Entretanto, isto pode não acontecer, ou seja, a ordenação é feita a partir da seleção das informações
julgadas relevantes, como no texto abaixo:
Sintetizando
» Como o domínio adequado do sentido dos conectivos é importante para transmitir a ideia desejada.
53
CAPÍTULO
COESÃO 4
Introdução
A coesão é responsável por criar uma rede de ligação entre palavras e ideias dentro do texto.
Assunto de grande importância a quem deseja interpretar e produzir textos com clareza,
objetividade, correção e adequação. Geralmente, ela ocorre com conectivos (portanto, porque,
pois, conquanto etc.), mas observaremos no capítulo que também substantivos, numerais e
pronomes exercem a função coesiva.
Objetivos
Introdução à coesão
São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão. Apoiados nos
trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1998) e Marcuschi (1983), apresentamos algumas
considerações sobre o conceito de coesão com o objetivo de mostrar a presença e a importância
desse fenômeno na produção e interpretação dos textos.
Koch (1997) conceitua a coesão como “o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos
linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos
também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentido”. Para Platão e Fiorin (1996),
a coesão textual “é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto”.
A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), “o encadeamento semântico que produz a textualidade;
trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença
A”. Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma
54
Coesão • CAPÍTULO 4
na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: “são aqueles que
dão conta da sequenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua
que permitem estabelecer, entre os elementos linguísticos do texto, relações de sentido”.
A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto em enunciados mais
complexos. Observe:
Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de três gerações e o
fato, respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas de mulheres e os seres
humanos, respectivamente. Estes são apenas alguns mecanismos de coesão, mas existem muitos
outros, como veremos mais adiante.
Os amigos que me restam são da data mais recente; todos os amigos foram
estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de
quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três
fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar
os dicionários, e tal frequência é cansativa (ASSIS, 1998).
No primeiro período, temos o pronome que remetendo a amigos, que é o sujeito dos verbos
restam e são, daí a concordância, em pessoa e número, entre eles. Do mesmo modo, amigos é
o sujeito de foram, na oração seguinte; todos e os se relacionam a amigos.
Já no segundo período, em que o autor discorre sobre as amigas, os pronomes algumas, outras,
todas remetem a amigas; os numerais duas, três também remetem a amigas, que, por sua vez, é
o sujeito de datam, creem, fariam, falam; nela retoma a expressão na mocidade, evitando sua
repetição; que representa a língua. E, para retomar muita vez, o autor usou a expressão sinônima
tal frequência.
55
CAPÍTULO 4 • Coesão
respectivamente. Dessa maneira, por meio dos elementos de coesão, o texto vai sendo “tecido”,
vai sendo construído.
A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em obra clássica sobre
coesão textual, que tem servido de base para grande número de estudos sobre o assunto, afirmam
que a coesão é condição necessária, mas não suficiente, para que se crie um texto. Na verdade,
para que um conjunto de vocábulos, expressões, frases seja considerado um texto, é preciso haver
relações de sentido entra essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das unidades
linguísticas presentes no texto (coesão). Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva,
por algumas razões. Uma delas é que podemos ter conjuntos linguísticos destituídos de elos
coesivos que, no entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é, apresentam uma
continuidade semântica, como vimos no texto “Circuito Fechado”, de Ricardo Ramos.
Um outro bom exemplo da possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos coesivos
explicitados linguisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, em que só existem verbos.
Neste texto, a coerência é depreendida da sequência ordenada dos verbos com os quais o autor
mostra o dia a dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se... transmitem
um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de um empresário.
Podemos constatar que “Como se conjuga um empresário” não precisou de elementos coesivos
para ser considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são suficientes para garantir a
coerência de um texto. É o caso do exemplo a seguir.
56
Coesão • CAPÍTULO 4
Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se
constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam
as relações entre seus diversos componentes. A coerência em textos didáticos, expositivos,
jornalísticos depende da utilização explícita de elementos coesores.
Mecanismos de coesão
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de
coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no
texto (quando estão) e de que maneira contribuem para sua tecitura, sua organização.
Coesão gramatical
Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores, dos
pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí),
artigos definidos, de expressões de valor temporal.
De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos
de conexão gramatical, a saber: frásica, interfrásica, temporal e referencial.
Coesão frásica
Este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base
na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e
seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal. Exemplos:
Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas,
sofisticadas.
Concordância nominal
Praias desertas, agitadas, rústicas, sofisticadas
(subst.) (adjetivos)
57
CAPÍTULO 4 • Coesão
Todos Os Gostos
(pron.) (artigo) (substantivo)
Concordância verbal
Florianópolis tem
(sujeito) (verbo)
A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo
que poucas cantoras, no mundo inteiro, têm.
Concordância nominal
voz rascante, oclusiva, suingada
poucas cantoras
música brasileira
mundo inteiro
Concordância verbal
voz é cantoras têm
A expressão com um olhar lânguido, devido à posição em que foi colocada, causa ambiguidade,
pois tanto pode se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um ou outro sentido, é
preciso alterar a ordem dos vocábulos.
A análise deste período mostra que ele é formado de duas orações: A moto saiu da estrada
e em que ele estava passeando. A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio lentamente?
Da forma como foi colocado, pode se ligar a qualquer uma das orações. Para evitar a ambiguidade,
recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos. Poderíamos ter, então:
58
Coesão • CAPÍTULO 4
Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem tomados
alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é, conforme a
relação que estabelecem com o seu complemento.
Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser espectador, estar
presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba. Entretanto,
na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposição. Por isso, com frequência, temos
frases como: Ainda não assisti o filme que foi premiado no festival, ou, A peça que assisti ontem
foi muito bem montada (ao invés de a que assisti).
No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se com proposição ou não.
Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite. Os Anjos do Asfalto assistiram as
vítimas do acidente.
No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados podem se
prestar a mais de uma interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no fim
do verão, podemos entender que a Mesbla foi liquidada, foi vendida ou que a Mesbla promoveu
uma liquidação de seus produtos. Isso acontece porque o nome liquidação está acompanhado
de um outro termo (da Mesbla). Dependendo do sentido que queremos dar à frase, podemos
reescrevê-la de duas maneiras:
Coesão interfrásica
59
CAPÍTULO 4 • Coesão
Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água.
Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças, até que,
depois de cinco anos, é completamente diferente da original.
Para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) – indicam uma finalidade. Porém (exemplos c, d), mas
(e), embora (g), no entanto (h) – indicam uma contraposição.
Como (exemplo d), tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) – indicam uma comparação
Depois (a), por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em
seguida (f), até que (c) – servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos.
Então (d) – operador que serve para dar continuidade ao texto. Se (exemplo i) – indica uma
forma de condicionar uma proposição a outra. Não só ... mas também (exemplo i) – serve
para mostrar uma soma de argumentos. Na verdade (exemplo j) – expressa uma generalização,
uma amplificação. Ou (exemplo j) – apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa.
Por exemplo (exemplo m) – serve para especificar o que foi dito antes. Também (exemplo n) –
operador para reforçar mais um argumento apresentado.
60
Coesão • CAPÍTULO 4
explicitados, eles são depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho
abaixo é um exemplo de justaposição.
Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres,
foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por
longas temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecendo
Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era irreverente
demais e calculista de menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se
irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também
pintor Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se
reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di (VEJA, 1997).
Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração “Quando se
irritava com alguém, não media palavras”. Os demais possíveis conectores são indicados por
ponto e ponto e vírgula.
Coesão temporal
Uma sequência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver de
acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou
no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto
apresentará problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado
dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a
situar o leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplos:
Temos, neste parágrafo, a apresentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para
a clareza desta trajetória é a sequência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de 1920,
61
CAPÍTULO 4 • Coesão
em 1939, Após várias experiências por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em
setembro de 1950, nesse mesmo ano, hoje.
Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a ordenação
espacial que acompanha as diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre
Nova Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro.
Coesão referencial – neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a
outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente empregados
os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí),
artigos. Exemplos:
Ela, a – retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe.
Ele também o faz – o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.
Madre Teresa de Calcutá que, em 1979, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por
seu trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada.
Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde
agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre,
na ativa. Já que não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um
ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos.
Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos
87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil
e sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque cardíaco. O Papa João Paulo
II declarou-se “sentido e entristecido”. Madre Teresa e o Papa tinham grande
afinidade.
62
Coesão • CAPÍTULO 4
Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guarda-
costas não se lembra de nada.
Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece
porque os pronomes Ele e Elas, que se referem, respectivamente, a guarda-costas
e mulheres aparecem antes do nome que retomam.
Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e levava é
A expedição de Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente ela, mas
por elipse, isto é, a concordância do verbo – 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do
indicativo – é que indica a referência.
Existe, ainda, a possibilidade de uma ideia inteira ser retomada por um pronome, como acontece
nas frases a seguir:
Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação
de pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm
alcançando bons resultados.
63
CAPÍTULO 4 • Coesão
transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos moradores o custo disso,
ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela
instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida
para os moradores. Além disso, a aprovação do texto foi obtida mediante emprego
de argumentos falsos.
Além disso – conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao
que está sendo discutido.
Coesão lexical
Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram,
porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão
lexical, podemos distinguir a reiteração e a substituição.
Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma
refinaria brasileira dar certo.
E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões
que indicavam outra direção.
64
Coesão • CAPÍTULO 4
Quem poderia imaginar que, a partir de uma refinaria como aquela, a Ipiranga
se transformaria numa das principais empresas do país, com 5.600 postos de
abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares?
É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado
trabalhando que nunca sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias
(VEJA, 1997).
A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por meio da sinonímia, da antonímia, da
hiperonímia, da hiponímia.
Sinonímia
Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar em janeiro a
Ilha da Fantasia.
Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso,
há um julgamento de valor na substituição de Cuba por Ilha da Fantasia, numa alusão a lugar
onde não há seriedade.
Antonímia
Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas paisagens
catarinenses.
Hiperonímia e hiponímia
Por hiperonímia, temos o caso em que a primeira expressão mantém com a segunda uma relação
de todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia, designamos o caso inverso: a primeira expressão
mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe. Em outras palavras,
essas substituições ocorrem quando um termo mais geral – o hiperônimo – é substituído por
um termo menos geral – o hipônimo, ou vice-versa.
65
CAPÍTULO 4 • Coesão
Hiperônimos Hipônimos
(termos mais gerais) (termos mais específicos)
Baleias Jubartes
Animais Jubartes
Cetáceos Baleias
Artesanato Renda de bilro
Litoral norte Praia, ilha, enseada
Instrumentos Pá, picareta, foice, enxada
Sintetizando
» Substantivos, pronomes, numerais, conjunções exercem a função de unir ideias e criar unidade no texto.
66
CAPÍTULO
TIPOLOGIA TEXTUAL 5
Introdução
Objetivos
Tipologia textual
Para refletir
A todo o momento nos deparamos com vários textos, sejam eles verbais e não verbais. Em todos há a presença do
discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo que está sendo transmitido entre os interlocutores.
Esses interlocutores são as peças principais em um diálogo ou em um texto escrito, pois nunca escrevemos para nós
mesmos, nem mesmo falamos sozinhos.
É de fundamental importância sabermos classificar os textos dos quais travamos convivência no nosso dia a dia. Para
isso, precisamos saber que existem tipos textuais e gêneros textuais.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opinião
sobre determinado assunto, ou descrevemos algum lugar pelo qual visitamos, e ainda, fazemos um retrato verbal
sobre alguém que acabamos de conhecer ou ver.
É exatamente nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos textos naquela tradicional tipologia:
Narração, descrição e dissertação.
67
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Para melhor exemplificarmos o que foi dito, tomamos como exemplo um editorial, no qual o autor expõe seu ponto
de vista sobre determinado assunto, uma descrição de um ambiente e um texto literário escrito em prosa.
Em se tratando de gêneros textuais, a situação não é diferente, pois se conceituam como gêneros textuais as diversas
situações sociocomunicativas que participam da nossa vida em sociedade. Como exemplo, temos: uma receita
culinária, um e-mail, uma reportagem, uma monografia, e assim por diante. Respectivamente, tais textos classificar-
se-iam como: instrucional, correspondência pessoal (em meio eletrônico), texto do ramo jornalístico e, por último,
um texto de cunho científico.
Mas como toda escrita perfaz-se de uma técnica para compô-la, é extremamente importante que saibamos a maneira
correta de produzir esta gama de textos. À medida que a praticamos, vamos nos aperfeiçoando mais e mais na sua
performance estrutural.
Dissertação
Trata-se de um discurso lógico que apresenta uma tese (a ideia principal), argumentação
(comprovação com fatos que justificam a ideia do autor) e a conclusão. Dissertar pressupõe
sempre conhecimento sobre o assunto. Observe exemplo de dissertação.
O Brasil é o melhor lugar do mundo para se viver. Vários são os motivos para
essa afirmação: população simpática, clima agradável, o país não se envolve
em guerras. Assim, o Brasil se torna destino de estrangeiros em busca de um
lugar ideal.
Introdução
Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das sociedades
de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma entre homens e mulheres.
68
Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer outro tipo que permita considerar aqueles
superiores a estas.
Argumentação
Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em inúmeras
atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão presentes, inclusive em
posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias, predominam no magistério e destacam-
se nas artes. No tocante à economia e à política, a cada dia que passa, estão vencendo obstáculos,
preconceitos e ocupando mais espaços.
Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo prisma
quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação feminina em detrimento
dos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade brasileira e mundial.
Conclusão
Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram essa revolução
de costumes. A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por completo, sobretudo no
mercado de trabalho. Tomando-se por base o crescimento qualitativo da representatividade
feminina, é uma questão de tempo a conquista da real equiparação entre os seres humanos,
sem distinções de sexo.
69
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Descrição
Texto I
70
Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Texto II
Narração
O texto narrativo envolve tempo e ação. O principal é mudar o tempo no texto. É contar uma
história sobre algo que aconteceu com lugar, tempo e pessoas. Observe um texto narrativo de
Manuel Bandeira.
Como se pode perceber, o texto narrativo apresenta algumas características no enredo: apresentação,
complicação, clímax, desfecho.
Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo;
ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o ar manso do
71
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
O texto narrativo geralmente apresenta discursos de personagens. Tais discursos podem ser
divididos em direto, indireto ou indireto-livre.
Direto
O narrador reproduz a fala da personagem por meio das palavras exatas pronunciadas. Não há
interferência do autor na transcrição e ela é feita diretamente. Observe exemplos.
Exemplo 1:
Exemplo 2:
- Com espigas de prata nos cabelos e nos apanhados da saia; simples e de muito
bom gosto.
- E bem-educada. Dizem que toca piano perfeitamente, e que tem uma voz
muito agradável.
72
Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Pronunciando estas palavras, a moça parecia de novo sentir sua alma refranger-se
atraída imperiosamente por esse pensamento recôndito que a absorvia.
ALENCAR, José de, Senhora. 34. ed. 2ª imp. São Paulo: Editora Ática, 2000.
Indireto
O narrador usa suas palavras para reproduzir uma fala de outrem. Geralmente, é escrito em
terceira pessoa. O autor do texto transcreve os discursos de forma indireta (com suas palavras e
não exatamente as do personagem).
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Indireto-livre
Exemplo 1:
Ele afirmou que não era cachorro. Quem ele pensa que é? Quem ele pensa que sou?
Exemplo 2:
Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão
leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha
de capuz vermelho. Então ela sacode de novo. ‘Assim tenho neve o ano inteiro’.
Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve.
Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes.
(Lygia Fagundes Telles, As Meninas.)
Exemplo 3:
73
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Gêneros textuais
O estudo dos gêneros textuais procura identificar estruturas linguísticas de textos em situações
diversas. De acordo com a estrutura e com a finalidade, os especialistas classificaram os textos
em gêneros textuais. Destacamos que um mesmo texto pode apresentar diversos gêneros ao
mesmo tempo. Geralmente, um gênero se destaca em relação aos demais, de acordo com o
interesse do autor.
Provavelmente você já ouviu histórias dos seus pais ou avós sobre como era a
escola no início do século 20. Professores severos, senhores do conhecimento,
armados com palmatória, réguas de madeira e punhados de milho, usados para
castigar alunos indisciplinados ou que não conseguiam aprender. O mestre falava;
os alunos anotavam. Quem tinha memória afiada para recitar a tabuada, e não
raciocínio crítico, ganhava nota alta e elogios. As engrenagens desse modelo
atravessaram décadas e, aqui e ali, ainda se veem resquícios do seu funcionamento.
Felizmente, uma jovem de 26 anos – a internet – tem sido a principal aliada de
empreendedores dispostos a banir esse padrão caduco e instaurar uma nova
ordem no ensino, muito mais afiada com as necessidades do século 21.
REVISTA PEGN. São Paulo, edição 343, de agosto de 2017.
Poesia, por sua vez, é o texto escrito com preocupação com a versificação, rimas e ritmo. Observe
exemplo de poesia.
74
Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Andarei de bicicleta
Subirei no pau-de-sebo
É outra civilização
De impedir a concepção
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CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Vontade de me matar
Romance
Possui um núcleo principal, mas outras tramas se desenvolvem também. É um texto longo, tanto
na quantidade de acontecimentos narrados quanto no tempo em que se desenrola o enredo.
Novela
Conto
Narrativa curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucas personagens que existem
em função de um núcleo.
Crônica
Por vezes é confundida com o conto. A diferença básica entre os dois é que a crônica narra fatos
do dia a dia, relata o cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e já até prevemos o
desenrolar dos fatos.
Fábula
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Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Parábola
Versão da fábula com personagens humanas. O objetivo é o mesmo, o de ensinar algo. Para isso
são utilizadas situações do dia a dia das pessoas.
Apólogo
Semelhante à fábula e à parábola, mas pode se utilizar das mais diversas e alegóricas personagens:
animadas ou inanimadas, reais ou fantásticas, humanas ou não. Da mesma forma que as outras
duas, ilustra uma lição de sabedoria.
Anedota
Tipo de texto produzido com o objetivo de motivar o riso. É geralmente breve e depende de
fatores como entonação, capacidade oratória do intérprete e até representação. Nota-se então
que o gênero se produz na maioria das vezes na linguagem oral, sendo que pode ocorrer também
em linguagem escrita.
Lenda
História fictícia a respeito de personagens ou lugares reais; sendo assim, a realidade dos fatos
e a fantasia estão diretamente ligadas. A lenda é sustentada por meio da oralidade, torna-se
conhecida e só depois é registrada por meio da escrita. O autor, portanto é o tempo, o povo e a
cultura. Normalmente fala de personagens conhecidas, santas ou revolucionárias.
Editorial
Textos de uma publicação periódica em que o conteúdo expressa a opinião da empresa, da direção
ou da equipe de redação, sem a obrigação de se ater a nenhuma imparcialidade ou objetividade.
Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado para os editoriais em duas
ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas.
Notícia
77
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Reportagem
A reportagem é gênero textual do jornalismo com características mais dissertativas com enfoque
expositivo. Seu objetivo é informar por meio de linguagem denotativa e de forma mais detalhada
do que a simples notícia.
Entrevista
Gênero textual em que se reproduz o diálogo entre pelo menos duas pessoas com enfoque em
assuntos específicos. A entrevista ocorre no jornalismo, no pedido de emprego e em outras
situações em que haja necessidade do diálogo com objetivos específicos. Geralmente, há um
entrevistador e um entrevistado. Assim, não basta apenas a reprodução do diálogo. Alguém faz
perguntas e o outro responde.
Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a realidade exterior: é
expressão da realidade interior e subjetiva de seu autor. São textos escritos para emocionar, que
utilizam a linguagem poética. Função emotiva e poética predominam no texto literário. Exemplos
de texto literário são o romance, o poema, o conto, a novela.
Círculo Vicioso
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Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Texto literário de Machado de Assis em prosa do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha
mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto.
Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a
gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender
ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando,
a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal
caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um
vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como
a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se,
despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!
Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos,
nem estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial,
perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não
estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do
exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável
como o desdém dos finados (ASSIS, 1982).
Negócios que não nasceram digitais precisam se transformar para ter relevância
na vida dos consumidores. Afinal, a utilização de dados, suportada por tecnologias
como big data, mobilidade e cloud computing, permite que as empresas
compreendam melhor a jornada dos clientes, com todas as suas etapas de
interação, para promover melhorias e até se antecipar às suas necessidades.
E é isso o que o consumidor espera. Não basta ser bem atendido. É preciso ser
surpreendido.
Nesse cenário, negócios inovadores estão um passo à frente. Quem não nasceu
digital precisa repensar suas atividades e mapear o que deve ser feito em todas
as áreas para atender às novas demandas dos consumidores.
79
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
“Não existe roteiro único para isso”, diz Marcello Miguel, diretor executivo de
marketing e negócios da Embratel. “Os casos bem-sucedidos, no entanto, têm em
comum uma estrutura eficiente e integrada de telecomunicações, TI, mobilidade,
nuvem e segurança da informação”, informa. É o essencial para que a empresa
suporte todas as demandas de conectividade, processe em tempo real o imenso
volume de informações e entregue dados para o usuário final onde quer que ele
esteja.
REVISTA EXAME. Edição 1145, de 13 de setembro de 2017.
Estilos
Estilística (do alemão Stilistik, pelo francês stylistique) é o ramo da linguística que estuda
os recursos de expressão de uma determinada língua. Estudam-se, assim, as características
que promovem sugestões e emoções no receptor da comunicação. Alguns estudiosos
consideram-na uma parte da gramática.
A estilística surgiu como estudo próprio em princípios do século XX, por meio das propostas
feitas pelo alemão Karl Vossler e pelo suíço Ferdinand de Saussure, com base em conhecimentos
clássicos, como a retórica ensinada pelos gregos.
Textos técnicos
Texto técnico é a modelo direcionado para área específica de atuação com necessidade de
linguagem objetiva e estrutura predefinida. São exemplos de documentos técnicos: parecer,
relatório, decisão judicial, trabalho acadêmico, laudo etc.
Ser competente para produzir texto técnico depende de dedicação constante. Observação aos
detalhes e prática promovem melhora significativa no ato de redigir. Nosso objetivo, assim, é que
você adquira capacidade de expressar com competência ideias em textos organizados, objetivos,
claros e corretos gramaticalmente.
Texto técnico pode ser informativo (comunicado, por exemplo) ou argumentativo (parecer,
decisão judicial, trabalho científico etc.) A argumentação visa persuadir o leitor acerca de uma
posição. Quanto mais polêmico for o assunto em questão, mais dará margem à abordagem
argumentativa. Pode ocorrer desde o início quando se defende uma tese ou também apresentar
os aspectos favoráveis e desfavoráveis posicionando-se apenas na conclusão. Agostinho Dias
Carneiro afirma que “argumentar é um processo que apresenta dois aspectos: o primeiro ligado
à razão, supõe ordenar ideias, justificá-las e relacioná-las; o segundo, referente à paixão, busca
capturar o ouvinte, seduzi-lo e persuadi-lo”.
80
Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Othon M. Garcia afirma que “na argumentação, além de dissertar, procuramos formar a opinião
do leitor ou a do ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco”, isto é, a verdade.
Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de
razões em face da evidência das provas e à luz de um raciocínio lógico e consistente.
Linguagem técnica
A sequência do texto deve atender a uma ordenação lógica, levando o(a) leitor(a) a compreender
todas as considerações formuladas e induzindo-o(a) à conclusão, que deve constituir o fecho
do documento. Antes de iniciar a redação do texto, é recomendável elaborar um roteiro básico
com todos os assuntos que deverão ser incorporados, preparando-se, portanto, a itemização
geral do documento.
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CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Este Relatório de Meio Ambiente descreve o andamento das atividades ambientais no período
de julho a setembro de 2006, compreendendo as atividades ambientais do canteiro de obras
e a implementação dos programas do Projeto Básico Ambiental, apresentados em quatro
capítulos:
I. Gerenciamento Ambiental
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Tipologia textual • CAPÍTULO 5
Texto publicitário
A publicidade cresce a cada dia e nos envolve de todos os lados. A função do texto publicitário é
convencer o potencial cliente a adquirir o melhor produto. É muito comum o uso de linguagem
verbal e não verbal na linguagem publicitária em vídeo e o uso de ideias explícitas e implícitas
em todos os formatos de publicidade.
Figura 3.
Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_G0HDtQr7vFo/SigZ1f2FZSI/AAAAAAAAAD0/YycupSVv4X8/s400/aurelio.jpg>.
O texto publicitário deve ser capaz de despertar o interesse do leitor a fim de realizar ou adquirir
algo. O objetivo implícito do texto publicitário é sempre estimular o receptor a fazer algo.
Não se trata apenas de informar. A persuasão é necessária em toda a propaganda.
83
CAPÍTULO 5 • Tipologia textual
Texto expositivo
No texto expositivo, o autor se preocupa em demonstrar que conhece o assunto. Não se deseja
abordar um posicionamento direto. Diversos autores não consideram o texto expositivo no
estudo da argumentação. No entanto, em muitos casos, a exposição revela por si só a intenção
de demonstrar ideia sobre o assunto. Observe exemplos a seguir.
Sintetizando
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PRODUÇÃO TEXTUAL
CAPÍTULO
6
Introdução
Espero que você observe no capítulo como podemos melhorar nossa capacidade de produzir
texto melhores de acordo com a situação.
Objetivos
» Reconhecer que o leitor deve ser levado em consideração durante toda a produção textual.
» Identificar estilos que tornam o texto mais claro, coerente, objetivo e correto.
Para refletir
Não tenhas medo das palavras grandes, pois se referem a pequenas coisas.
assim a vida e a morte, a paz e a guerra, a noite, o dia, a fé, o amor e o lar.
Verás como é difícil fazê-lo, mas conseguirás dizer o que queres dizer.
Arthur Kudner.
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CAPÍTULO 6 • Produção textual
Competência textual
Clareza
Habilidade de transpor com exatidão uma ideia ou pensamento. O texto deve ser claro de tal
forma que não permita interpretação equivocada ou demorada pelo leitor. A compreensão
deve ser imediata. É importante usar vocabulário acessível, redigir orações na ordem direta,
utilizar períodos curtos e eliminar o emprego excessivo de adjetivos. Deve-se excluir da escrita
ambiguidade, obscuridade ou rebuscamento.
O texto claro pressupõe o uso de sintaxe correta e de vocabulário ao alcance do leitor. Seguem
recomendações para obtenção de clareza:
Concisão
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Produção textual • CAPÍTULO 6
b. dispense, sempre que possível, os verbos auxiliares, em especial ser, ter e haver, pois a
recorrência constante a eles torna a redação monótona, cansativa;
c. prefira palavras breves. Entre duas palavras opte pela de menor extensão.
› Inadequado: O contrato previa a construção da ponte em um ano, que era prazo mais
do que suficiente.
87
CAPÍTULO 6 • Produção textual
Coerência e coesão
Coerência é ordenar e concatenar ideias de maneira lógica com objetivo de obter clareza e
unidade de sentido no texto. A organização lógica busca apresentar e relacionar, principalmente,
fatos relevantes, sequência cronológica, estrutura argumentativa (dedutiva ou indutiva). Coesão
é apresentar relação adequada entre orações, períodos e parágrafos por meio de conectivos e
termos que retomem ou antecipem ideias.
Correção gramatical
e. adote a ordem direta da frase, por ser a que conduz mais facilmente o leitor à essência
da mensagem.
Objetividade
A objetividade consiste em ir diretamente ao assunto, sem rodeios e divagações. Para ser objetivo,
é necessário escrever apenas as palavras imprescindíveis à compreensão do assunto. Redigir com
objetividade é evidenciar a ideia central a ser transmitida e usar vocabulário de sentido exato,
com referencial preciso, para facilitar a compreensão do leitor. Observe exemplo de texto com
falta de objetividade retirado de revista de grande circulação:
Texto subjetivo
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Produção textual • CAPÍTULO 6
Texto objetivo
› Inadequado: O processo que foi arquivado e que apresentava informações que eram
relevantes.
89
CAPÍTULO 6 • Produção textual
90
Produção textual • CAPÍTULO 6
Evite também palavras que possam apresentar polissemia (vários sentidos no contexto),
neologismos (criações artísticas ou inovadoras), arcaísmos (palavras em desuso) ou gírias. Nossa
preocupação é apresentar uma ideia de forma clara e não produzir um texto literário.
Para refletir
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CAPÍTULO 6 • Produção textual
Nosso assunto agora é evitar defeitos que comprometem a expressão e, assim, a fundamentação.
Prolixidade
Pleonasmo
Repetição de termos que, em certos casos, têm emprego legítimo, para conferir à expressão mais
força, mais vigor, ou mesmo por questão de clareza. Na frase Conheça-te a ti mesmo, atribuída
a Sócrates, a redundância (te = a ti) produz inegável efeito retórico. À exceção desses casos, o
pleonasmo constitui vício inadequado em textos dissertativos.
Observe exemplo na expressão “nem tampouco”. O termo “tampouco” já tem sentido negativo e
equivale a também não. O emprego da segunda negativa (nem) é, portanto, redundante. Observe
lista de pleonasmos a serem evitados.
Acordo amigável
Compartilhar com
Deferimento favorável
Detalhe minucioso
Elo de ligação
E nem
Encarar de frente
Erário público
Exceder em muito
Expectativa futura
Experiência anterior
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Produção textual • CAPÍTULO 6
Fato verídico
Frequentar constantemente
Ganhar grátis
Habitat natural
Outra alternativa
Panorama geral
Peculiaridade própria
Planejar antecipadamente
Prosseguir adiante
Reincidir novamente
Superávit positivo
Surpresa inesperada
Tornar a repetir
Totalmente lotado
Frases feitas
A nível de
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CAPÍTULO 6 • Produção textual
Deixar a desejar
Fortuna incalculável
Inserido no contexto
Falta de paralelismo
» Inadequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e porque não atenderam
suas reivindicações.
Queísmo
O uso reiterado do “que” pode constituir erro de estilo e prejudicar a clareza do texto. Observe
exemplos a serem evitados.
O jornalista que redigiu a reportagem que apareceu no jornal receberá o prêmio que todos
desejavam.
Você tem que ter uma letra que todos possam entender o que está escrito.
O diretor afirmou que o relatório que foi escrito denuncia que tudo foi feito errado.
94
Produção textual • CAPÍTULO 6
Os amigos que ouvem o programa que você produz dizem que as notícias que você comenta
são falsas.
Ambiguidade
» Ambíguo: O Líder comunicou ao Deputado que ele está liberado para apoiar a matéria.
Cacófato
Cacófato é o som desagradável ou palavra obscena que resulta da combinação de sílabas de palavras
vizinhas. Deve, na medida do possível e do razoável, ser evitado, sobretudo quando demasiado
flagrante e grosseiro. Não cabe, no entanto, suprimir da língua combinações corriqueiras, como
da Nação, por cada, por razões etc.
Exemplos de cacófatos (e de como evitá-los): Ele havia dado tudo de si à frente da Comissão.
(Ele tinha dado...)
Ela tinha previsto tudo o que está ocorrendo. (Ela havia...) Uma minha parente foi quem teve a
ideia. (Uma parente minha...)
Palavras genéricas
Algumas palavras não expressam sentido único e, por isso, devem ser evitadas. É o caso de “coisa”,
que pode assumir diversas interpretações. Também alguns verbos apresentam sentido genérico
e normalmente são muito empregados em linguagem oral. Procure usar o verbo com o sentido
95
CAPÍTULO 6 • Produção textual
denotativo específico. Observe alguns verbos que devem ser evitados em sentido genérico em
texto mais formais.
Fazer
Pôr
Ela precisa pôr uma palavra a mais (ela precisa incluir uma palavra a mais).
Ter
Todos na sala têm boa reputação (todos na sala possuem boa reputação).
A construção do período
Procure sempre frases curtas. Uma, duas ou no máximo três orações por período. A frase curta
tem diversas vantagens: torna o texto mais claro, objetivo e com menor número de erros. Períodos
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Produção textual • CAPÍTULO 6
O texto abaixo apresenta a primeira falha de um período: falta objetividade. O autor escreveu de
tal forma que o leitor tem dificuldade para entender o sentido exato.
É indispensável que se conheça o critério que se adotou para que sejam corrigidas
as provas que se realizaram ontem, a fim de que se tomem as providências
que forem julgadas necessárias, onde procuraremos solucionar os problemas
que podem decorrer daquilo que for considerado obscuro, desde que de difícil
solução, no entanto, duvidosos.
A ordem direta facilita o entendimento. Certamente, você não a usará em todos os períodos. Em
alguns momentos, é importante intercalar uma ideia ou antecipar um adjunto adverbial, por
exemplo. No entanto, procure escrever em ordem direta, principalmente no início do parágrafo.
Evite iniciar a redação com: “Nos dias de hoje...”; “Atualmente...”; “No Brasil...”. Evite também
oração intercalada logo no início: “O governo – como todos sabem – demonstra insegurança...”.
As construções em voz ativa demonstram que o sujeito é o agente da ação e dão firmeza ao
pensamento.
Você deve usar voz passiva quando o sujeito paciente é mais importante do que o agente da
passiva.
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CAPÍTULO 6 • Produção textual
Apresente sua ideia com afirmativas sobre o tema. Diga o que é. Não o que não é.
Evite gerúndio
Você consegue substituir o gerúndio por ponto em quase todas as situações. Observe o exemplo
a seguir:
O período longo é o principal erro em redação. Acredito que com prática e dedicação você
perceberá como ele impede o bom texto. Observe o exemplo com período longo:
Se você quiser praticar períodos curtos e com poucos verbos, peço para reescrever o texto a seguir
(ele está com período longo e ideias misturadas).
Não tem sido fácil a vida do assalariado nesses últimos dez anos, pois toda vez
que o governo precisa arrecadar mais, a primeira vítima é sempre o contribuinte
pessoa física: basta aumentar o Imposto de Renda na fonte que no mês seguinte
o dinheiro cai no cofre do Tesouro, mas, de tanto sofrer nas garras do leão, o
assalariado despertou a sensibilidade do Congresso Nacional uma vez que, na
semana passada, o governo, pressionado pela Frente Parlamentar de Defesa
do Contribuinte, resolveu reduzir a carga tributária sobre os assalariados, sob
a ameaça de ver o pacote fiscal enviado no final do ano passado ser rejeitado
pelo Congresso.
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Produção textual • CAPÍTULO 6
A construção do parágrafo
A ideia e o texto devem seguir um processo de elaboração consistente e progressivo. Uma boa
redação pede planejamento, organização. Escrever um texto não significa apenas preencher o
papel com frases soltas. Escrever pressupõe uma série de operações anteriores.
Bom texto expressa boa relação entre as ideias. Observe que uma boa comunicação é aquela em
que o receptor reconhece com facilidade o assunto tratado e o posicionamento do emissor. Para
tal, o primeiro passo para uma boa redação é a unidade entre as ideias. Todas as ideias devem
estar relacionadas a um foco principal, a uma intenção do comunicador.
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CAPÍTULO 6 • Produção textual
Um bom parágrafo apresenta unidade e coerência entre os períodos. Isso é muito importante.
Observe outro exemplo.
Como você percebeu, a ideia central está totalmente relacionada com as ideias dos demais
períodos. É um parágrafo com unidade em que os períodos se completam. Os períodos devem se
auxiliar e, mesmo apresentando ideias independentes, devem manter uma relação bem próxima.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu
a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do
objeto significado. Não há dúvida que rima bem com ladroagem. Mas não tem
o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o
batismo adequado? Politiquice? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o
sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância
elucidativa.
O texto está dividido em três parágrafos e há relação coerente entre eles. Cada parágrafo apresenta
uma ideia principal relacionada com a ideia que perpassa todo o texto.
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Produção textual • CAPÍTULO 6
Modelo A
Modelo básico muito aprendido durante os anos escolares e acadêmicos. O primeiro introduz
a ideia e apresenta dois fundamentos que serão desenvolvidos nos parágrafos argumentativos.
Logo após vem a conclusão.
Outro fato de relevante importância é o respeito às normas estabelecidas para o bom funcionamento
das instituições. As forças armadas consideram qualquer movimento grevista por parte de seus
membros – como é o caso dos controladores de voo – como motim e julgam os participantes por
legislação penal militar própria. Não cabe ao governo interferir da forma como fez. Tal atitude
enfraquece a autoridade militar diante de sargentos, tenentes e tantos outros militares que
esboçam movimentos civis.
A prudência nos orienta que o governo deve conduzir situações com mais rigor e respeito.
Se houve falhas anteriores aos fatos, essas devem ser solucionadas com diálogo e negociação.
Determinados serviços não podem ser paralisados em hipótese alguma, como é o caso dos
controladores de voo, da assistência médico-hospitalar e da segurança.
Modelo B
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CAPÍTULO 6 • Produção textual
Sintetizando
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