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Capítulo 6

FLEXÃO PURA
6.1 – Introdução

Na flexão pura as diversas seções do elemento estrutural estão sujeitas a momentos


fletores apenas. O trecho central da viga ilustrada na Figura 6.1, por exemplo, está sujeito a
flexão pura; os trechos compreendidos entre os apoios e as cargas aplicadas, estão sujeitos a
flexão simples que é caracterizada pela existência do momento fletor e da força cortante. Vigas
e lajes são elementos estruturais que estão sujeitos predominantemente a flexão simples, com
suas seções críticas (onde ocorrem os momentos máximos) sujeitas a flexão pura.

P P
a a

Figura 6.1 – Viga isostática sujeita a um carregamento simétrico

Este capítulo trata do dimensionamento no estado limite último de seções retangulares,


seções L e T, e de seções simétricas com zona comprimida de forma qualquer, sujeitas a flexão
pura. As hipóteses e os conceitos estabelecidos no capítulo anterior são aqui considerados
novamente com o objetivo de desenvolver métodos práticos para o dimensionamento dessas
seções.
No caso da flexão pura, como já visto no capítulo anterior, os domínios de deformação
correspondentes ao estado limite último são os domínios 2, 3 e 4 (Fig. 6.2). Dependendo das
características da seção, tais como dimensões e quantidade de armadura, a seção pode atingir o
estado limite último devido à deformação plástica excessiva da armadura tracionada (Domínio
2), ao escoamento da armadura seguido do esmagamento do concreto comprimido (Domínio 3)
ou devido ao esmagamento do concreto sem escoamento da armadura (Domínio 4).

Tração Compressão

ε cu = 3,5

3 4

10 ε yd 0

Figura 6.2 – Domínios de deformação para o caso de flexão pura


Capítulo 6 – Flexão Simples 30

6.2 – Seções retangulares com armadura simples

6.2.1 - Tabelas universais – Diagrama parábola-retângulo

A Figura 6.3 mostra a distribuição das tensões e deformações numa seção retangular de
concreto armado com armadura simples.

b εc 0,85 f cd
ξ' x
2 x Rc
d
z
Md
As
εs
Rs
(a) (b) (c)
Figura 6.3 – Tensões e deformações numa seção retangular de concreto armado
com armadura simples – digrama parábola-retângulo

A partir desta figura obtêm-se as equações de equilíbrio (Fig. 6.3c)

x
Rc = Rs ⇒ ∫ σ ( y ) b dy = A σ
0
s s (a)
x
M d = Rc z ⇒ M d = z ∫ σ ( y ) b dy (b)
0

e a equação de compatibilidade (Fig. 6.3b)

x =ξ d (c)

na qual, por definição

ξ= εc (6.1)
εc +εs

Nas expressões (a) e (b), a tensão σ(y) no concreto é descrita, conforme já apresentado no
Capítulo 2, em função da variável y (Fig. 6.4) pelas expressões

σ ( y ) = 0,85 f cd para ε(y) > 2‰ (d)

0,85 f cd
σ( y ) = [ 4 ε ( y ) − ε ( y )2 ] para ε(y) ≤ 2‰ (e)
4

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onde, conforme a Figura 6.4,

εc
ε( y ) = y (f)
x
εc 0,85 f cd

2 x
ε(y) y σ(y)

Figura 6.4 – Tensões e deformações na zona comprimida de uma seção


retangular de concreto armado

Sejam, ainda, por definição, o coeficiente α tal que multiplicado pela tensão máxima 0,85fcd
fornece a tensão média de compressão no concreto (Fig. 6.5) e o coeficiente ξ’ tal que
multiplicado pela altura x da linha neutra fornece a distância do ponto de aplicação da força Rc,
resultante das tensões no concreto, ao bordo mais comprimido da seção (Fig. 6.5). A
determinação desses coeficientes será feita mais adiante.

0,85 f cd

ξ' x

y x Rc

α 0,85 f cd

Figura 6.5 – Definição dos coeficientes α e ξ’

Introduzindo os coeficientes α e ξ’ e a equação (c ) nas Eqs. (a) e (b), estas tornam-se

α 0,85 f cd b ξ d = As σ s (g)
M d = α 0 ,85 f cd b ξ d ( d − ξ ′ x ) (h)

que podem ser escritas na forma adimensional como

σs
0 ,85 α ξ = ω (6.2)
f yd s
µ d = 0,85 α ξ ( 1 − ξ ξ ′ ) (6.3)

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onde a taxa mecânica de armadura ω e o momento reduzido µd são definidos como

As f yd
ω= (6.4)
bd f cd
Md
µd = (6.5)
bd 2 f cd

Outro parâmetro, braço de alavanca relativo, é definido como

z
ζ = (6.6)
d

Considerando que z = d - ξ’x = d - ξ’ξ d, então

ζ = 1−ξ ξ ′ (6.7)

O coeficiente α é obtido a partir da condição

x
α 0,85 f cd b x = ∫ σ ( y ) b dy (i)
0

e o coeficiente ξ’ a partir do ΣM em relação ao ponto A na Figura 6.5

x x
( x − ξ ′ x ) ∫ σ ( y ) b dy = ∫ σ ( y ) b y dy (j)
0 0

A integração dessas expressões fornece as seguintes equações para o cálculo dos coeficientes α
e ξ’:

εc( 6 − εc )
α= para εc ≤ 2‰ (6.8)
12

3ε c − 2
α= para εc > 2‰ (6.9)
3ε c

8 − εc
ξ′ = para εc ≤ 2‰ (6.10)
4( 6 − ε c )

ε c ( 3ε c − 4 ) + 2
ξ′ = para εc > 2‰ (6.11)
2ε c ( 3ε c − 2 )

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Capítulo 6 – Flexão Simples 33

Construção da tabela (Tabela 1)

Atribuindo-se valores para as deformações εc e εs de modo a cobrir os domínios de


deformação 2, 3 e 4, obtêm-se para cada par de valores εc e εs o coeficiente ξ pela Eq.(6.1), os
coeficientes α e ξ’ pelas Eqs.(6.8) a (6.11), o coeficiente ζ pela Eq.(6.7) e, finalmente, os
coeficientes ω e µd pelas Eqs. (6.2) e (6.3) respectivamente.

Emprego da tabela

1) Para dimensionamento

Dados: Md, fcd, b, d


Obter: As
Md
Parâmetro de entrada na tabela: µ d =
bd 2 f cd
Parâmetro obtido na tabela: ω
bd f cd
Cálculo de As : Pela Eq.(6.4) obtém-se As = ω
f yd
ou, considerando a equação de equilíbrio Md = As σs z = As σs ζ d, ⇒ As = Md / ζ d σs

2) Para verificação

Dados: As, fcd, b, d


Obter: Md
As f yd
Parâmetro de entrada na tabela: ω =
bd f cd
Parâmetro obtido na tabela: µd
2
Cálculo de Md : Pela Eq.(6.5) obtém-se M d = µ d bd f cd

Observações
• No domínio 4 os valores de ω dependem do tipo de aço pois σs < fyd na Eq. 6.2.
• Sempre que possível, deve-se evitar o dimensionamento no domínio 4 pois, como será visto
mais adiante, uma solução mais econômica é obtida empregando-se uma armadura no bordo
comprimido.

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EXEMPLO 6.1

Dada a seção ilustrada na figura, calcular a armadura de tração As


15 cm
Md = 194 kN.m
fck = 30 MPa
Aço CA-50
fyd = 435 MPa
εyd = 2,07 ‰ Mk
55

As
5

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EXEMPLO 6.2

Calcular o momento Md que pode ser resistido pela seção indicada na figura abaixo.

fck = 25 MPa 20
Aço CA-50
fyd = 435 MPa
εyd = 2,07 ‰
Md
As = 8,0 cm2 50

As
5

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EXEMPLO 6.3

Calcular a altura d e a armadura As da viga representada na figura abaixo.

fck = 30 MPa 30 cm

Aço CA-50
fyd = 435 MPa
εyd = 2,07 ‰
q = 45 kN/m q h d
l = 14 m
As
l 8

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6.2.2 - Tabelas universais – Diagrama retangular de tensões

No caso do emprego do diagrama retangular de tensões no concreto (Fig. 6.6) as


equações de equilíbrio assumem a forma

b εc 0,85 f cd
0,4 x
0,8 x
x Rc
d
Md z

As Rs
εs

Figura 6.6 – Tensões e deformações numa seção retangular de concreto armado


com armadura simples – digrama retangular de tensões

Rc = Rc ⇒ 0 ,68 x b f cd = As σ s (k)
M d = Rc z ⇒ M d = 0 ,68 x b f cd ( d − 0 ,4 x ) (l)

Comparando as Eqs. (k) e (l) com as Eqs. (g) e (h) conclui-se que os coeficientes α e ξ’
assumem os valores constantes α = 0,80 e ξ’= 0,4. Assim, as equações adimensionais de
equilíbrio passam a ser

σs
0 ,68 ξ = ω (6.12)
f yd s

µ d = 0 ,68 ξ ( 1 − 0 ,4ξ ) (6.13)

O coeficiente ζ é dado por (Eq. 6.7 com ξ’= 0,4)

ζ = 1 − 0 ,4ξ (6.14)

A taxa mecânica de armadura ω e o momento reduzido µd são definidos da mesma forma como
no caso anterior (Eqs. 6.4 e 6.5)

- Construção da tabela (Tabela 2)

A tabela é construída segundo um procedimento semelhante ao do caso anterior.


Atribuindo-se valores para as deformações εc e εs de modo a cobrir os domínios de deformação
2, 3 e 4, obtêm-se para cada par de valores εc e εs o coeficiente ξ pela Eq.(6.1), os coeficientes
ω, µd e ζ pelas Equações (6.12), (6.13) e (6.14) respectivamente.

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Capítulo 6 – Flexão Simples 38

- Emprego da tabela

Essa tabela é empregada, tanto para o dimensionamento como para a verificação da


seção, da mesma forma como no caso da tabela anterior construída com o diagrama parábola
retângulo.

EXEMPLO 6.4

Refazer o Ex. 6.1 empregando a tabela construída com o diagrama retangular de tensões no
concreto (Tabela 2)

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EXEMPLO 6.5

Refazer o Ex. 6.2 empregando a tabela construída com o diagrama retangular de tensões no
concreto (Tabela 2)

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EXEMPLO 6.6

Refazer o Ex. 6.3 empregando a tabela construída com o diagrama retangular de tensões no
concreto (Tabela 2)

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6.3 – Seções retangulares com armadura dupla

A armadura dupla é geralmente empregada com o objetivo de evitar o dimensionamento


com armadura simples no domínio 4. Quando o valor do momento reduzido µd for superior ao
valor correspondente ao limite entre os domínios de deformação 3 e 4 (Para o aço CA-50, por
exemplo, este valor é µd = 0,319), o dimensionamento com armadura simples ocorreria no
domínio 4. Um dimensionamento mais econômico é obtido acrescentando-se uma armadura de
compressão, impondo a condição de que o dimensionamento seja feito no limite entre os
domínios 3 e 4.
Tal como no caso da armadura simples, os domínios de deformação correspondentes ao
estado limite último são os domínios 2, 3 e 4.

6.3.2 - Dimensionamento

A Figura 6.7 mostra a distribuição das deformações e das forças internas numa seção de
concreto com armadura dupla. As deformações e forças internas ao longo da altura da seção
são mostradas na Figura 6.7a. A situação mostrada nesta figura está desmembrada nas duas
situações mostradas nas Figuras 6.7b e 6.7c, de tal maneira que:

b εc
d'
εs R's
As R's
x Rc Rc
d

d - d'
Md
+
Md,c ∆Md

As Rs2
εs Rs Rs1
(a) (b) (c)

Figura 6.7 – Tensões e deformações numa seção retangular de concreto com


armadura dupla– digrama parábola retângulo

Md = Md,c + ∆Md
Rs = Rs1 + Rs2
As = As1 + As2

onde
Md,c = momento resistido pela seção com armadura simples (As1)
∆Md = momento resistido pela seção metálica constituída pelas armaduras As2 e A′s
Rs1 = As1 σs
Rs2 = As2 σs

Cálculo da armadura de tração


As armaduras As1 e As2 são obtidas a partir das condições de equilíbrio

Md,c = Rs1 z = As1 σs ζ d ⇒ As1 = Md,c / ζ d σs

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Capítulo 6 – Flexão Simples 42

∆Md = Rs2 (d – d´) = As2 σs (d – d´) ⇒ As2 = ∆Md / σs (d – d´)

Como As = As1 + As2 , então

1  M d ,c ∆M d 
As =  +  (6.15)
σ s  ς d d − d ′ 

onde

Md,c = µd b d2 fcd (6.16)

Como o dimensionamento será feito impondo-se o limite entre os domínios de


deformação 3 e 4, ou seja, εc = 3,5 ‰ e εs = εyd o que implica em σs = fyd, as Eqs. (6.15 e
6.16) tornam-se então

1  M d ,lim ∆M d 
As =  +  (6.17)
f yd  ς d d − d ′ 

onde

Md,lim = µd,lim b d2 fcd (6.18)

Cálculo da armadura de compressão


A armadura comprimida A´s é calculada a partir da equação de equilíbrio dos momentos
na Figura 6.7c,

∆Md = R´s (d – d´) = A´s σ´s (d – d´)

Logo,
∆M d
A' s = (6.19)
σ's ( d − d ′ )

onde σ´s é obtida em função de ε´s pela equação de compatibilidade

x − d' ξ d − d'
ε' s = εc = εc
x ξd

Definindo δ´ = d´/d, obtém-se

ξ − δ'
ε' s = εc (6.20)
ξ

As Tabelas 1 e 2 já fornecem os valores de σ´s. As fórmulas apresentadas nesta seção aplicam-


se tanto para as tabelas construídas com o diagrama parábola-retângulo (Tabela 1) quanto para
as construídas com o diagrama retangular (Tabela 2).
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EXEMPLO 6.7 20 cm
Calcular as armaduras da seção representada ao lado. 3 cm
A's
fck = 25 MPa
Md
Aço CA-50
47
fyd = 435 MPa
εyd = 2,07 ‰
Md = 320 kN.m
As
3

6.4 – Seções T, L ou caixão

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Capítulo 6 – Flexão Simples 44

Quando as lajes e vigas de um pavimento de concreto armado são concretadas


monoliticamente elas se comportam de maneira integrada. As cargas suportadas pelas lajes são
transmitidas para as vigas que lhes servem de apoio e todo o conjunto (lajes + vigas) sofre
flexão. Consequentemente, para que haja compatibilidade de deformações, partes das lajes
atuam como flanges das vigas (Fig. 6.8). Quando o espaçamento entre as vigas é grande, a
tensão de compressão ao longo da laje é variável, com seus valores máximos ocorrendo sobre as
vigas. Essa variação é causada pelas deformações devidas às tensões de cisalhamento na
interface flange-alma da viga.

Distribuição real das tensões na laje


bf

M
Viga Laje

Figura 6.8 – Distribuição das tensões na laje atuando como flange da viga

A distribuição real das tensões no flange depende das dimensões relativas da seção
transversal, do vão e das condições de apoio da viga, além do tipo de carregamento. Essa
distribuição pode de ser obtida empregando a teoria da elasticidade. Na prática, entretanto, esse
problema apresenta complicações adicionais devido à fissuração do concreto e, por isso, a
determinação das tensões no flange é feita de maneira aproximada, definindo-se uma largura
efetiva da mesa.

6.4.1 – Largura efetiva da mesa

A largura efetiva bf deve ser tal que a resultante das tensões que atuam nesta largura
seja igual à resultante das tensões reais que atuam na laje. Segundo a NBR6118, a largura bf
pode ser obtida de acordo com o indicado nas Figuras 6.9 e 6.10.

bf bf
b3 bw b1 b1 bw
hf

b2

Figura 6.9 – Largura efetiva da mesa segundo a NBR6118

b1 ≤ menor entre [0,10a; 8 hf ; 0,5 b2]


b3 ≤ menor entre [0,10a; 6 hf]

em que a tem os seguintes valores:


• viga simplesmente apoiada a=l

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Capítulo 6 – Flexão Simples 45

• tramo com momento em uma só extremidade a = 0,75 l


• tramo com momentos nas duas extremidades a = 0,60 l
• viga em balanço a = 2,0 l

Quando existirem mísulas a largura fictícia da alma será obtida conforme indicado na Figura
6.10 abaixo.

b3 ba b1

bw

Figura 6.10 – Largura efetiva da mesa quando existirem mísulas, segundo a NBR6118

6.4.2 – Dimensionamento com armadura simples

No dimensionamento dessas seções, o emprego do diagrama retangular de tensões no


concreto é mais conveniente. Neste caso importa saber se a zona comprimida, cuja altura vale
0,8 x, se encontra na mesa ou se atinge a alma (Figura 6.11).

εc 0,85 fcd εc 0,85 fcd

hf x 0,8 x hf x 0,8 x

d LN d LN

As As
εs εs
(a) Zona comprimida na mesa (b) Zona comprimida atingindo a alma

Figura 6.11 – Zona comprimida numa seção T

Zona comprimida na mesa


O dimensionamento é feito tratando a seção como uma seção retangular com largura bf e
altura d.

Zona comprimida atingindo a alma


O dimensionamento é feito separando a parcela do momento resistido pelas abas da
parcela resistida pela alma. Assim, de acordo com a Figura 6.12,

Md = Mdf + Mdw
As = Asf + Asw

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Capítulo 6 – Flexão Simples 46

bf bf bw
0,85 fcd bw
0,8 x hf
hf
d d-
2 + d - 0,4x
As A sf A sw
Rs
bw
(a) (b) (c)

Figura 6.12 – Desmembramento de uma seção T, para efeito de dimensionamento

onde
Mdf = parcela de Md resistida pelas abas
Mdw = parcela de Md resistida pela alma
Asf = parcela de As associada ao momento Mdf
Asw = parcela de As associada ao momento Mdw

Da Figura 6.12b, obtém-se o momento Mdf

 hf 
M df = 0 ,85 f cd ( b f − bw )h f d −  (6.21)
 2

A armadura Asf é então obtida em função deste momento, pela equação de equilíbrio Rsf z = Mdf
referente à Figura 6.12b,

1 M df
Asf = (6.22)
σ s (d − hf / 2)

O momento Mdw resistido pela alma será

Mdw = Md - Mdf (6.23)

Da Figura 6.12c obtém-se Mdw = Asw σs z, onde z = d –0,4x = ζ d. Logo,

M dw
Asw = (6.24)
σ sζ d

A armadura total de tração será então a soma das duas parcelas Asf e Asw dadas pelas Eqs.
(6.23) e (6.24),

1  M dw M df 
As =  +  (6.25)
σ s  ζ d ( d − h f / 2 ) 

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Capítulo 6 – Flexão Simples 47

Procedimento de cálculo (Tabela 2)

Verificação da profundidade da zona comprimida:


Md
calcular µ d =
b f d 2 f cd
e com este valor obter ξ na tabela; calcular 0,8x = 0,8 ξd e comparar com o valor da altura
da mesa hf; se 0,8x ≤ hf a seção será tratada como retangular.

Se 0,8x > hf ,
• calcular Mdf pela Eq. (6.21)
• calcular Mdw pela Eq. (6.23)
• calcular novo valor de µd , agora em função de Mdw e bw
M dw
µ dw =
bw d 2 f cd
• com o valor de µdw calculado acima, obter na tabela o coeficiente ζ
• calcular As pela Eq. (6.25)

6.4.3 – Dimensionamento com armadura dupla

A Figura 6.13 mostra uma seção T com armadura dupla (Fig. 6.13a) desmembrada de
forma a separar as contribuições das abas (Fig. 6.13b), da alma com armadura simples (Fig.
6.13c) e da armadura de compressão (Fig. 6.13d). O momento total Md e a armadura total As
são compostos das seguintes parcelas:

bf bf bw
bw
d'
A's
hf
A's

+ + d - d'
As A sf A sw1 A sw2
Md Mdf Mdw,c ∆Mdw
(a) (b) (c) (d)
Figura 6.13 – Desmembramento de uma seção T com armadura dupla, para efeito de
dimensionamento

Md = Mdf + Mdw = Mdf + Mdw,c + ∆Mdw


As = Asf + Asw = Asf + Asw1 + Asw2

onde
Mdf = parcela de Md resistida pelas abas
Mdw,c = parcela de Md resistida pela alma com armadura simples
∆Mdw = parcela de Md resistida pela seção metálica A’s e Asw2

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Capítulo 6 – Flexão Simples 48

Armadura de tração
De acordo com o que já foi visto nas seções 6.3.2 e 6.4.2, a armadura de tração é dada por

1  M dw ,c ∆ M dw M df 
As =  + +  (6.26)
σ s  ζ d d − d' d − h f / 2 

Geralmente Mdw,c = Mdw,lim com σs = f yd

Armadura de compressão

1  ∆ M dw 
A' s =  d − d'  (6.27)
σ' s  

Procedimento de cálculo (Tabela 2)


 hf 
• calcular M df = 0 ,85 f cd ( b f − bw )h f  d − 
 2
• calcular Mdw = Md - Mdf
M dw
• calcular µ dw =
bw d 2 f cd
se µdw > µdw,lim será necessário o emprego de armadura dupla; calcular então
Mdw,c = Mdw,lim = µdw,lim bw d2 fcd
∆Mdw = Mdw - Mdw,,lim

1  M dw ,lim M df ∆ 
• calcular As =  + + M dw 
f yd  ζ d d − h f / 2 d − d' 
1  ∆ M dw 
• calcular A' s = onde σ’s é obtida nas tabelas
σ ' s  d − d' 

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Capítulo 6 – Flexão Simples 49

EXEMPLO 6.8
Calcular as armaduras As e, se necessário, A’s da seção indicada na figura abaixo,

a) para Md = 773 kN.m


b) para Md = 1100 kN.m b f = 80 cm
c) para Md = 1600 kN.m
h f = 10 cm
fck = 25 MPa
Aço CA-50
Md
75 cm

As

b w = 25 cm

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Capítulo 6 – Flexão Simples 50

6.5 – Seções simétricas com zona comprimida de forma qualquer

No caso de seções com zona comprimida de forma qualquer, tais como as representadas
na figura abaixo, o emprego do diagrama retangular de tensões no concreto é mais conveniente.

0,85 fcd 0,80 fcd

0,8 x 0,8 x
x x

LN LN

Md Md

As Rs As Rs As

Dependendo da forma da seção, o dimensionamento ou a verificação serão feitos por tentativas


ou analiticamente.

EXEMPLO 6.9
Determinar a armadura As da seção indicada na
figura ao lado.

Md = 92,33 kN.m 47 cm
fck = 30 MPa Md
Aço CA-50
As
3 cm
40 cm

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Capítulo 6 – Flexão Simples 51

Tabela 1
Flexão simples e flexão composta com grande excentricidade
Seção retangular - Diagrama parábola-retângulo
Aço CA-50
b εc 0,85 f cd
M sd d'
µd =
bd 2 f cd A's x

As f yd d
ω=
bdf cd

d' As
δ' = εs
d
Flexão composta
M sd = N d es
Nd
1  M sd 
Armadura simples: As =  ± N d 
σ s  ζd  A's
es
1  M sd ,c ∆M sd 
Armadura dupla: As = + ± Nd 
σ s  ζ d d − d' 

As
1  ∆M sd 
A' s =  
σ ' s  d − d' 
Nd positivo quando de tração; Nd negativo quando de compressão
Msd,c = momento resistido pela seção com armadura simples
Msd = Msd,c + ∆Msd
Em geral, Msd,c = Msd,lim
Flexão simples
Nd = 0 M sd = M d

1 Md bdf cd
Armadura simples: As = ou As = ω
σs ζ d f yd A's

Md
1  M d ,c ∆M d 
Armadura dupla: As = +
σ s  ζ d d − d' 
As
1  ∆M d 
A' s =  
σ ' s  d − d' 
Md,c = momento resistido pela seção com armadura simples
Md = Md,c + ∆Msd
Em geral, Md,c = Md,lim

PUC-Rio / DEC – ENG 1218 Estruturas de concreto armado I – Notas de aula Prof. Giuseppe Guimarães
Capítulo 6 – Flexão Simples 52

Tabela 1 - Flexão simples e flexão composta com grande excentricidade


Seção retangular – Diagrama parábola-retângulo - Aço CA-50
σ's (MPa)
ξ εc εs ζ µd ω δ' = 0,05 δ' =0,10 δ' =0,15 δ' =0,20
0,06 0,64 10,00 0,979 0,014 0,015 22
0,07 0,75 10,00 0,976 0,019 0,020 45
0,08 0,87 10,00 0,972 0,025 0,025 68
0,09 0,99 10,00 0,969 0,031 0,032 92
0,10 1,11 10,00 0,965 0,037 0,038 117 0
0,11 1,24 10,00 0,961 0,044 0,046 142 24
0,12 1,36 10,00 0,957 0,051 0,054 167 48

Domínio 2
0,13 1,49 10,00 0,953 0,059 0,062 193 72
0,14 1,63 10,00 0,949 0,067 0,071 220 98
0,15 1,76 10,00 0,945 0,075 0,079 247 124 0
0,16 1,90 10,00 0,940 0,083 0,088 275 150 25
0,17 2,05 10,00 0,936 0,091 0,097 304 177 51
0,18 2,20 10,00 0,931 0,099 0,107 333 205 77
0,19 2,35 10,00 0,927 0,107 0,116 363 233 104
0,20 2,50 10,00 0,922 0,115 0,125 394 263 131 0
0,22 2,82 10,00 0,912 0,130 0,143 435 323 188 54
0,24 3,16 10,00 0,902 0,145 0,161 435 387 249 111
0,2593 3,50 10,00 0,892 0,159 0,178 435 435 310 168
0,28 3,50 9,00 0,884 0,170 0,193 435 435 341 210
0,30 3,50 8,17 0,875 0,181 0,206 435 435 368 245
0,32 3,50 7,44 0,867 0,191 0,220 435 435 390 276
0,34 3,50 6,79 0,859 0,201 0,234 435 435 411 303
0,36 3,50 6,22 0,850 0,211 0,248 435 435 429 327
0,38 3,50 5,71 0,842 0,220 0,261 435 435 435 348
0,40 3,50 5,25 0,834 0,229 0,275 435 435 435 368
0,42 3,50 4,83 0,825 0,239 0,289 435 435 435 385

Domínio 3
0,44 3,50 4,45 0,817 0,247 0,303 435 435 435 401
0,46 3,50 4,11 0,809 0,256 0,317 435 435 435 415
0,48 3,50 3,79 0,800 0,264 0,330 435 435 435 429
0,50 3,50 3,50 0,792 0,272 0,344 435 435 435 435
0,52 3,50 3,23 0,784 0,280 0,358 435 435 435 435
0,54 3,50 2,98 0,775 0,288 0,372 435 435 435 435
0,56 3,50 2,75 0,767 0,296 0,385 435 435 435 435
0,58 3,50 2,53 0,759 0,303 0,399 435 435 435 435
0,60 3,50 2,33 0,750 0,310 0,413 435 435 435 435
0,62 3,50 2,15 0,742 0,317 0,427 435 435 435 435
0,6283 3,50 2,07 0,739 0,319 0,433 435 435 435 435
0,64 3,50 1,97 0,734 0,323 0,463 435 435 435 435
0,66 3,50 1,80 0,725 0,329 0,521 435 435 435 435
0,68 3,50 1,65 0,717 0,336 0,588 435 435 435 435
0,70 3,50 1,50 0,709 0,341 0,665 435 435 435 435
Domínio 4

0,72 3,50 1,36 0,701 0,347 0,754 435 435 435 435
0,74 3,50 1,23 0,692 0,352 0,857 435 435 435 435
0,76 3,50 1,11 0,684 0,358 0,980 435 435 435 435
0,78 3,50 0,99 0,676 0,363 1,126 435 435 435 435
0,80 3,50 0,88 0,667 0,367 1,303 435 435 435 435
0,82 3,50 0,77 0,659 0,372 1,520 435 435 435 435
0,84 3,50 0,67 0,651 0,376 1,795 435 435 435 435

PUC-Rio / DEC – ENG 1218 Estruturas de concreto armado I – Notas de aula Prof. Giuseppe Guimarães
Capítulo 6 – Flexão Simples 53

Tabela 2
Flexão simples e flexão composta com grande excentricidade
Seção retangular - Diagrama retangular
Aço CA-50
b εc 0,85 fcd
M sd d'
µd = ε's
A's 0,8 x
bd 2 f cd x

As f yd d
ω=
bdf cd
As
d'
δ' = εs
d
Flexão composta
M sd = N d es
Nd
1  M sd 
Armadura simples: As =  ± N d 
σ s  ζd  A's
es
1  M sd ,c ∆M sd 
Armadura dupla: As = + ± Nd 
σ s  ζ d d − d' 

As
1  ∆M sd 
A' s =  
σ ' s  d − d' 
Nd positivo quando de tração; Nd negativo quando de compressão
Msd,c = momento resistido pela seção com armadura simples
Msd = Msd,c + ∆Msd
Em geral, Msd,c = Msd,lim
Flexão simples
Nd = 0 M sd = M d

1 Md bdf cd
Armadura simples: As = ou As = ω
σs ζ d f yd A's

Md
1  M d ,c ∆M d 
Armadura dupla: As = +
σ s  ζ d d − d' 
As
1  ∆M d 
A' s =  
σ ' s  d − d' 
Md,c = momento resistido pela seção com armadura simples
Md = Md,c + ∆Msd
Em geral, Md,c = Md,lim

PUC-Rio / DEC – ENG 1218 Estruturas de concreto armado I – Notas de aula Prof. Giuseppe Guimarães
Capítulo 6 – Flexão Simples 54

Tabela 2 - Flexão simples e flexão composta com grande excentricidade


Seção retangular – Diagrama retangular - Aço CA-50
σ's (MPa)
ξ εc εs ζ µd ω δ' = 0,05 δ' =0,10 δ' =0,15 δ' =0,20
0,06 0,64 10,00 0,976 0,040 0,041 22
0,07 0,75 10,00 0,972 0,046 0,048 45
0,08 0,87 10,00 0,968 0,053 0,054 68
0,09 0,99 10,00 0,964 0,059 0,061 92
0,10 1,11 10,00 0,960 0,065 0,068 117 0
0,11 1,24 10,00 0,956 0,072 0,075 142 24
0,12 1,36 10,00 0,952 0,078 0,082 167 48
0,13 1,49 10,00 0,948 0,084 0,088 193 72

Domínio 2
0,14 1,63 10,00 0,944 0,090 0,095 220 98
0,15 1,76 10,00 0,940 0,096 0,102 247 124 0
0,16 1,90 10,00 0,936 0,102 0,109 275 150 25
0,17 2,05 10,00 0,932 0,108 0,116 304 177 51
0,18 2,20 10,00 0,928 0,114 0,122 333 205 77
0,19 2,35 10,00 0,924 0,119 0,129 363 233 104
0,20 2,50 10,00 0,920 0,125 0,136 394 263 131 0
0,22 2,82 10,00 0,912 0,136 0,150 435 323 188 54
0,24 3,16 10,00 0,904 0,148 0,163 435 387 249 111
0,2593 3,50 10,00 0,896 0,158 0,176 435 435 310 168
0,28 3,50 9,00 0,888 0,169 0,190 435 435 341 210
0,30 3,50 8,17 0,880 0,180 0,204 435 435 368 245
0,32 3,50 7,44 0,872 0,190 0,218 435 435 390 276
0,34 3,50 6,79 0,864 0,200 0,231 435 435 411 303
0,36 3,50 6,22 0,856 0,210 0,245 435 435 429 327
0,38 3,50 5,71 0,848 0,219 0,258 435 435 435 348
0,40 3,50 5,25 0,840 0,228 0,272 435 435 435 368
0,42 3,50 4,83 0,832 0,238 0,286 435 435 435 385

Domínio 3
0,44 3,50 4,45 0,824 0,247 0,299 435 435 435 401
0,46 3,50 4,11 0,816 0,255 0,313 435 435 435 415
0,48 3,50 3,79 0,808 0,264 0,326 435 435 435 429
0,50 3,50 3,50 0,800 0,272 0,340 435 435 435 435
0,52 3,50 3,23 0,792 0,280 0,354 435 435 435 435
0,54 3,50 2,98 0,784 0,288 0,367 435 435 435 435
0,56 3,50 2,75 0,776 0,296 0,381 435 435 435 435
0,58 3,50 2,53 0,768 0,303 0,394 435 435 435 435
0,60 3,50 2,33 0,760 0,310 0,408 435 435 435 435
0,62 3,50 2,15 0,752 0,317 0,422 435 435 435 435
0,6283 3,50 2,07 0,749 0,320 0,427 435 435 435 435
0,64 3,50 1,97 0,744 0,324 0,458 435 435 435 435
0,66 3,50 1,80 0,736 0,330 0,515 435 435 435 435
0,68 3,50 1,65 0,728 0,337 0,581 435 435 435 435
0,70 3,50 1,50 0,720 0,343 0,657 435 435 435 435
Domínio 4

0,72 3,50 1,36 0,712 0,349 0,745 435 435 435 435
0,74 3,50 1,23 0,704 0,354 0,847 435 435 435 435
0,76 3,50 1,11 0,696 0,360 0,968 435 435 435 435
0,78 3,50 0,99 0,688 0,365 1,112 435 435 435 435
0,80 3,50 0,88 0,680 0,370 1,287 435 435 435 435
0,82 3,50 0,77 0,672 0,375 1,503 435 435 435 435
0,84 3,50 0,67 0,664 0,379 1,774 435 435 435 435

PUC-Rio / DEC – ENG 1218 Estruturas de concreto armado I – Notas de aula Prof. Giuseppe Guimarães

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