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Resumo

No primeiro parágrafo, Descartes começa por falar das suas “meditações na


Metafísica”, que eu entendo pela observação do mundo, da sua perspetiva. Descartes
diz que, por convenção, as pessoas aceitam como verdade o saber livresco, mesmo que
esse saber pode conter incorreções. Quando começou as “meditações na Metafísica”,
levanta dúvidas de natureza cética no sentido de que poderemos não ter qualquer
conhecimento do mundo. A partir desta dúvida, aceita apenas o que for tão claro e tão
evidente que seja indubitável a sua veracidade, construindo assim a base para um novo
conhecimento.
No parágrafo seguinte, Descartes começa por explicitar a sua opinião sobre os
sentidos enquanto fonte de conhecimento verdadeiro justificado. Citando Descartes,
“Posso tomar por ouro e diamantes o que não é mais do que um bocado de cobre e
vidro”, ou seja, os sentidos enganam. O seu segundo motivo de dúvida está relacionado
com os raciocínios matemáticos, dizendo que se podemos cometer erros até nos
raciocínios mais simples, não podemos justificar crenças com eles. O seu terceiro motivo
de dúvida está relacionado com o argumento do sonho. Descartes diz que não
conseguimos saber se estamos a sonhar ou se estamos acordados; de forma análoga,
não sabemos o que é ilusão e o que é a realidade (não temos nada que nos distinga uma
da outra). Por conta do ceticismo desenvolvido (dúvida hiperbólica), Descartes duvida
da sua própria existência. A partir desta dúvida, ele estabelece uma linha de raciocínio:
se duvido, penso; penso, logo existo (Cogito ergo sum). Assim, Descartes desenvolveu a
sua primeira verdade.
No terceiro parágrafo, Descartes faz uma análise profunda de si mesmo. Ele
admite que é uma substância da natureza cujo propósito é pensar. Outra observação
que faz é que a sua razão não depende de algo material; por outras palavras, o que lhe
permite ser filósofo, a sua alma, é distinta do corpo. Descartes diz que, mesmo sem
corpo, a alma continuaria a existir.
No quarto parágrafo, Descartes diz que a sua primeira verdade “Penso, logo
existo” não garante verdade alguma, por isso preocupa-se em encontrar um
mecanismo, um critério que lhe permita encontrar as verdades, o critério da evidência
(“Só devo admitir como verdade o que for tão claro e tão distinto que não posso colocar
em dúvida”- Descartes).
No quinto parágrafo, a partir do princípio da causalidade e usando o critério da
evidência, Descartes deduz que Deus existe, seguindo a seguinte linha de raciocínio: se
duvido, sou imperfeito; se sou imperfeito, existe alguém perfeito, ou seja, Deus.
No sexto parágrafo, Descartes admite que, no caso da sua existência ser a mais
perfeita, tudo o que está à sua volta depende de si, positivamente ou negativamente.
Mas, com a ideia de um ser mais perfeito, Deus, isso já não acontece, até porque “tê-la
formado do nada era manifestamente impossível”; refere também que é contraintuitivo
admitir que um ser mais perfeito seja consequência de um ser menos perfeito. Ergo, tal
ideia só pode ter sido colocada em nós por um ser de natureza superior, Deus.
No sétimo parágrafo, reforça a ideia de que não é o único ser existente, visto que
reconhece que carece de algumas perfeições. Ele admite que toda a perfeição que
possui provém de Deus. Descartes lamenta-se porque diz que, se fosse perfeito, não
duvidaria e não precisaria de Deus para garantir as suas evidências.
No oitavo parágrafo, Descartes usa-se a si como modelo para reconhecer que
Deus não tem nenhuma das imperfeições dele, como a dúvida, a tristeza, a inconstância.
Todas as outras perfeições que existem em Descartes também Ele tem.
No nono parágrafo, Descartes recorda que o corpo e a alma são distintos e que
quase todos os seres pressupõem uma certa dependência dos dois elementos, sendo
esta uma imperfeição. Ergo, deduz-se que Deus não tem corpo, porque Ele é perfeito e
não pode ser dependente dele. Assimila-se também a ideia de que, porque estes seres
dependem dos dois elementos ao mesmo tempo, dependem também do poder de Deus,
não existindo sem Ele.
No décimo parágrafo, Descartes foi buscar outras verdades para examinar e
começou pelas demonstrações dos geómetras. Ele faz notar que muitas das afirmações
tidas como verdadeiras baseiam-se somente na evidência com que são concebidas.
No décimo primeiro parágrafo, ele continua o seu raciocínio. Diz que nada
garante a existência dos objetos descritos na geometria. Não obstante a isso, a
existência de Deus é tão verdade como a soma dos três ângulos de um triângulo dar
cento e oitenta graus. Podemos assim dizer que não existir na realidade é uma
imperfeição, ergo Deus existe.
No décimo segundo parágrafo, Descartes apresenta uma explicação para as
pessoas não acreditarem na existência de Deus: a ideia de Deus nunca esteve nos
sentidos, por isso é que as pessoas são incapazes de o conhecer; diz que até os filósofos
têm essa dificuldade, acreditando que tudo o que entendemos passa pelos nossos
sentidos. No entanto sabemos que estes nos enganam; usar a imaginação para entender
Deus é o mesmo que, por exemplo, tentar sentir a textura de um objeto usando a
audição.
No décimo terceiro parágrafo, Descartes afirma que nem a imaginação nem os
sentidos nos garantem verdades para absolutamente nada sem a intervenção da razão
neste processo.
No décimo quarto parágrafo, ele diz que, mesmo depois de apresentados os seus
argumentos, quem ainda assim não acreditar que Deus existe também está errado ao
assumir que esse indivíduo tem corpo, ou que existam astros ou a própria Terra.
Guiando-nos pela certeza moral, apenas coisas extravagantes podem nos levar à dúvida;
por outro lado, guiando-nos pela certeza metafísica, é obrigatório duvidar a partir do
momento em que percebemos que podemos nos induzir em erro durante o sonho,
admitindo como realidade pensamentos que temos durante o mesmo, estes sendo,
porventura, mais nítidos e vívidos. Descartes afirma que mesmo os “melhores espíritos”
conseguem abster-se dessas dúvidas apenas pressupondo a existência de Deus.
No décimo quinto parágrafo, Descartes afirma que, quando temos ideias
claras/verdadeiras e distintas, estas provêm de Deus (verdade e perfeição não provêm
do nada); já as ideias falsas apenas são falsas porque nós não somos perfeitos (não
foram originadas por Deus). Também diz que, se não soubéssemos que tudo o que
temos de perfeito vem de Deus, nada iria garantir que as nossas ideias seriam
verdadeiras.
No décimo sexto parágrafo, Descartes esclarece que uma ideia clara e verdadeira
pode ocorrer mesmo durante o sono; nada impede que, durante o sonho, tenhamos
ideias com valor de verdade (não temos de duvidar da verdade delas).
No décimo sétimo parágrafo, Descartes continua a afirmar que não nos podemos
guiar pelos sentidos, senão quando estes são defendidos pela evidência.
No décimo oitavo parágrafo, Descartes continua o seu raciocínio. Apesar de os
nossos sentidos nos mostrarem que o sol é pequeno, a razão pode não aceitar que ele
seja pequeno (os sentidos enganam). A nossa imaginação pode criar um leão num corpo
de bode, mas não acreditamos por isso que as quimeras são reais. Isto acontece porque
a nossa razão sugere-nos que as nossas ideias devem ter um fundamento verdadeiro, já
que Deus, que é perfeito e verdadeiro, não as teria colocado em nós sem isso.
No último parágrafo da quarta parte, Descartes diz que os nossos raciocínios não
são inteiramente perfeitos; não obstante a isso, devemos aceitar como verdadeiros, de
preferência, os raciocínios que temos enquanto acordados.
Comentário
Depois de ultrapassado o ceticismo inicial, “eu existo” e “eu sou um ser
pensante” já não estavam na dúvida. A partir destas verdades indubitáveis, Descartes
vai deduzir a existência de algo diferente de si, superior a si; Deus. Durante muito tempo
Descartes duvidava da Sua existência, mas conseguiu chegar a três argumentos a favor
da existência de Deus.
A sua primeira prova da existência de Deus, a prova ontológica cartesiana (que
tem como base o argumento de Santo Anselmo), diz que Deus existe a partir do
momento em que pensamos nele como ser perfeito e infinito. Na sua segunda prova,
Descartes conclui que Deus existe pelo facto de a sua ideia existir em nós (ideia inata).
Descartes afirma que Deus colocou-a em nós, já que somos imperfeitos e não
conseguimos gerar ideias de perfeição. A terceira prova baseia-se na contingência de
espírito. Nesta última prova, Descartes afirma que, como não nos conseguimos
conservar a nós próprios, não podemos garantir a nossa existência; por isso, é necessário
alguém garantir a nossa existência; precisamos de Deus. Na minha opinião, estas provas
da existência de Deus contêm falhas. Por exemplo, segundo o argumento de Santo
Anselmo, posso inferir a existência de Deus pensando nele como existente, mas isso não
é suficiente para provar a sua existência; eu posso pensar numa ilha perfeita, mas nada
me diz que ela existe. Uma outra incoerência que encontro nos seus argumentos é a
origem da ideia de perfeição, a tal ideia inata. Na parte em que ele refere que o
pensamento possui em si a ideia de perfeição, fá-lo antes de ser provado que não existe
o “génio maligno”. Como tal, este raciocínio poderá estar errado, por influência deste
“génio maligno”.
Descartes usa Deus para garantir as suas evidências, mas a forma que ele
encontra para justificar que Deus garante as suas evidências não é muito convincente,
na minha opinião. A crítica do círculo cartesiano, formulada por Nigel Warburton, no
fundo, fala de uma incongruência que existe na teoria de Descartes quando “cria” Deus
para justificar a retoma das bases do conhecimento. Nomeadamente, podemos fazer a
seguinte questão: “Como posso provar a existência de Deus?”, à qual irão responder
“Porque concebo a existência dele de forma clara e distinta”. Entretanto, irão contrariar
perguntando: “E como posso eu ter essa ideia de forma tão clara e distinta?”, ao que
irão responder: “Porque sei que Deus não me engana, pois é perfeito, e como tal poderei
confiar naquilo que penso”. Podemos então ver que Descartes justifica a existência de
Deus pela clareza que este dá à minha razão. Neste momento, já entrámos num
pensamento em círculo, assim deduzindo que Descartes cometeu uma falácia da petição
de princípio.
No sétimo parágrafo da quarta parte, Descartes lamenta-se, admitindo que
preferia ter mais perfeição do que a que tem. A meu ver, teve uma atitude um tanto
quanto egocêntrica. Devia estar agradecido por toda a perfeição que Deus lhe deu; todo
o conhecimento que recebeu, apesar de limitado, já é alguma coisa. É limitado porque
somos seres imperfeitos e um ser imperfeito não pode ter conhecimento perfeito e
infinito; não pode culpar Deus por ser imperfeito.
Em suma, penso que o pensamento cartesiano tem as suas falhas. Penso que ele
atribuiu demasiada importância a Deus, pondo todo o seu método e o seu raciocínio nas
mãos Dele. Não desvalorizo nem culpo Descartes por isso; como ser imperfeito, não
poderia pensar além do que sabe e do que vê.

Webgrafia:
https://pt.slideshare.net/JoannaFi/provas-da-existncia-de-deus
(consultado em 23/12/2020)

https://apontamentosecundario.blogs.sapo.pt/269.html
(consultado em 26/12/2020)
https://www.utm.edu/staff/jfieser/class/315/03-315-descartes.htm
(consultado em 08/01/2021)

Bibliografia:
Caderno Suplementar- Rodrigues, L. Filosofia 11º ano, Plátano Editora
Manual- Gaspar, A. M. e Manzarra, A. Filosofia 10, Raiz Editora
Rodrigues, L. Filosofia 11º ano, Plátano Editora
Descartes, R., O Discurso do Método, Quarta Parte

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