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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONA E MUCURI


INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
UNAÍ – MG

AGRICULTURA FAMILIAR E
DESENVOLVIMENTO
Autor: Prof. Dr. Ezequiel Redin

O Professor Dr. Ezequiel Redin, ao longo do texto, sintetiza as principais ideias sobre a
agricultura familiar tomando como base as estratégias de desenvolvimento rural.

A história dos agricultores no Brasil, em especial, aqueles que possuem poucas


extensões de terra, passou por vários processos de mudança, relacionados à sua
identidade enquanto categoria social. Na segunda metade do século XX, por exemplo,
as famílias rurais que possuíam pouca terra eram chamadas de camponeses. Após a
década de 60, a terminologia foi modificada para colonos. Segundo Altafin (2007),
colonos são agricultores de base familiar, a maioria sulista com origem europeia,
bastante tecnificados e inseridos ao mercado.

Posteriormente, usou-se a terminologia pequenos produtores para designar


essa parcela de agricultores que tem pouca terra, os quais produzem para o
autoconsumo e comercializam o seu excedente.

Na década de 90, nasceu no Brasil, a categoria “Agricultura Familiar” com uma


nova roupagem para se sobrepor ao estigma caricaturado. Isso foi reforçado com o Jeca
Tatu, personagem criado por Monteiro Lobato. Colono, gente da roça, gente das grotas
são adjetivos que remetem a um passado recente muito estigmatizado, de um modo
de vida camponês considerado arcaico, de resquícios negativos à psique humana dos
atores rurais, resultado de um feixe de chacotas, piadas, risadas e gargalhadas pelo
jeito truncado do agricultor ao andar, caminhar, se vestir e falar. Portanto, eram
considerados sujeitos atrasados, pouco letrados e em contribuição ao desenvolvimento
econômico.

Nesse processo de renovação da identidade das famílias rurais, várias pesquisas


foram feitas na década de 90 estimulando e reforçando a nova terminologia. Essa série
de pesquisas culminou em uma lei que consolida a definição. Para tanto, houve a
edição da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, a qual instituiu o conceito de
agricultura familiar. Nessa Lei, em seu Art. 3º, inciso I a IV, consolidou o conceito de
agricultor familiar e de empreendedor familiar rural, sendo que foi designado como

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aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos
seguintes requisitos:

I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas
do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo;
(Redação dada pela Lei nº 12.512, de 2011)1
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Nesse sentido, a criação de uma política da Política Nacional da Agricultura


Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, disposto no art. 4° dessa mesma Lei,
observará, dentre outros, os seguintes princípios:

I - descentralização;
II - sustentabilidade ambiental, social e econômica;
III - equidade na aplicação das políticas, respeitando os aspectos de gênero, geração e
etnia;
IV - participação dos agricultores familiares na formulação e implementação da
política nacional da agricultura familiar e empreendimentos familiares rurais.

Percebe-se que, ao criar o conceito legal, também cabe a esta categoria utilizar
ações que promovam o desenvolvimento rural sustentável, os quais precisam estar
contemplados nas diretrizes das políticas públicas, voltadas para os agricultores
familiares no Brasil.

Ainda, o art. 5º, dispõe que para alcançar seus objetivos, a Política Nacional da
Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais promoverá o
planejamento e a execução das ações, de forma a compatibilizar as seguintes áreas:

I - crédito e fundo de aval;


II - infraestrutura e serviços;
III - assistência técnica e extensão rural;
IV - pesquisa;
V - comercialização;
VI - seguro;
VII - habitação;
VIII - legislação sanitária, previdenciária, comercial e tributária;

1Foi revogado o inciso III que sustentava: “III - tenha renda familiar predominantemente originada de
atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;”

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IX - cooperativismo e associativismo;
X - educação, capacitação e profissionalização;
XI - negócios e serviços rurais não agrícolas;
XII - agroindustrialização. (BRASIL, 2006).

Conforme Wanderley (2003), a agricultura familiar é um modo de vida, sendo


o agricultor um ator social no mundo moderno, que a modernização o transforma em
agricultor, forçando-o adquirir novos conhecimentos técnicos necessários ao trabalho
com plantas, animais e máquinas e o controle de sua gestão rural. Portanto, estão
inseridos num dilema entre o modo de vida e a incorporação de técnicas modernas,
em conflito entre o passado e o presente.

Os estudos sobre a modernização da agricultura afirmam que foi a partir de


1960 que ocorreu a modernização do aparato agrícola no meio rural brasileiro. No
entanto, a tese de doutorado de Redin, defendida no Programa de Pós-graduação em
Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria, em 2015, traz outra
abordagem para a temática. Estudando a realidade dos agricultores familiares de
Arroio do Tigre no Rio Grande do Sul, sustenta-se que a partir do ano 2000, aconteceu
a revolução tecnológica no meio rural, com o acesso aos financiamentos voltados à
agricultura familiar. Isso ocasionou a modernização das propriedades dos
agricultores, como é o caso do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF). Esta linha de crédito é responsável por financiar investimentos em
infraestrutura produtiva, designada como Programa Mais Alimentos – Produção
Primária e também o “Banco da Terra” (atualmente, Crédito Fundiário), que financia
a aquisição de imóveis rurais e a infraestrutura comunitária.

Portanto, para esse local de estudo, a revolução tecnológica no meio rural está
em percurso: não é um fato passado, mas presente na vida e no trabalho rural
cotidiano.

SÍNTESE OPINATIVA

A nova identidade, a criação de um conceito legal de agricultura familiar e as


políticas relacionadas a categoria social foram fortalecidas a partir dos anos 2000.
Nesse período, intensificou-se um processo de liberação de crédito com o principal
argumento de que 70% dos alimentos produzidos no país são originários da
agricultura familiar. Foram criadas políticas públicas que estimularam os pequenos
estabelecimentos rurais. O rural se modernizou, aumentou a produção, a qualidade de
vida no campo, mas também o endividamento rural em vista da baixa capacidade de
resposta e gestão de algumas famílias. Em todo processo, há pontos positivos e outros
nem tanto, mas o que de fato há de se afirmar é que a agricultura familiar conseguiu
ser potencializada nessas últimas duas décadas, em especial.

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REFERÊNCIAS
ALTAFIN, I. G. Reflexões sobre o conceito de agricultura familiar. Brasília: UNB,
2007.
BRASIL. Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a
formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares Rurais. Congresso Nacional, DF, 24 jul. 2006. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm>. Acesso
em: 02 set. 2018.
REDIN, E. Família rural e produção de tabaco: estratégias de reprodução social em
Arroio do Tigre/RS. 305 f. (Tese de Doutorado) – Programa de Pós-graduação em
Extensão Rural, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. 2015. Disponível
em: < https://repositorio.ufsm.br/handle/1/3822>. Acesso em: 02 set. 2018.
WANDERLEY, M. N. B. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e
continuidade. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, n. 21, p. 42- 61, out.
2003.

Estudar na UFVJM é excelente!


Estudar com o Prof. Ezequiel, então, nem se fala!

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