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1. Apresentação
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Graduanda em Psicologia pela UFAL.
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Mestranda em Linguística pelo PPGLL da FALE/UFAL.
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Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social – PPGDS/ Unimontes.
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Compondo uma equipe de alunos sedentos pela descoberta da pesquisa
etnográfica, adentramos no CELMM com muita disposição e ânsia de contribuir com a
pesquisa. Foi um total de quatro viagens com parada obrigatória nos municípios de:
Maceió, Marechal Deodoro, Pilar, Santa Luzia do Norte e Coqueiro Seco. O resultado
disto foi um corpus composto por 204 questionários aplicados em todo o complexo
fileseiro e analisados com o auxílio do programa Excel 2010. As implicações
decorrentes dessa investigação nos fornecem material de sobra para asseverarmos a
discussão a respeito da patrimonialização do filé alagoano.
Começando pela origem do nome filé, vejamos o que nos diz a etimologia da
palavra: o diminutivo de fil (velha) do latim filum deu origem ao vocábulo francês filet –
uma rede ou renda com um padrão simples de quadrados; rendas de tear uma malha
quadrada; um tecido delicado decorativo em uma rede aberta de padrões simétricos; ou
decorar com um cordão de desenhos geométricos.4
Por meio do contato com o filé alagoano, nosso olhar foi despertado para uma
nova possibilidade de definição desse termo, pois de acordo com a realidade das
comunidades visitadas, concordamos com o que diz Bárbara Pacheco em seu Blog: “A
variedade de cores e tons, a diversidade de pontos em uma mesma peça e o acabamento
4
http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&langpair=en|pt&u=http://www.thefreedictionary.com/f
ilet.
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impecável, através do trabalho manual realizado pelas rendeiras, confere ao filé
alagoano – tradicional técnica artesanal – um design autêntico e diferenciado”.5
A afirmação acima pode ser claramente observada, por exemplo, numa visita ao
Pontal da Barra, bairro de Maceió, onde o filé faz parte do cotidiano de seus moradores.
Faz parte do cenário pitoresco do lugar a presença de pescadores na lagoa dentro das
jangadas, concertando barcos, balanças, redes e jogando conversa fora. À tarde a
paisagem muda completamente, os nativos se preparam para receber os turistas, o que
não deixa de ser uma estratégia de puro marketing. Cenas como crianças fazendo filé
nas ruas são absolutamente comuns, pois fazem parte do espetáculo “para inglês ver”;
vendedores ambulantes começam a circular pelas ruas cada um com o seu estilo próprio
para chamar a atenção dos turistas, prováveis compradores de suas mercadorias, aqueles
entoam cantorias improvisadas enchendo de graça o ambiente, já não são mais josés,
marias ou joãos, porém verdadeiras celebridades instantâneas, atrações turísticas que
com todo o seu carisma buscam não só a venda de seus produtos, mas também
conquistar a simpatia do visitante.
Além das crianças, percebemos a presença cada vez mais crescente de mulheres
sentadas em suas calçadas conversando e trabalhando em suas peças, o que enche os
olhos de qualquer um que aprecie artesanato, o que se vê é uma verdadeira explosão de
artesãos florescendo ao entardecer favorecendo assim, uma relação de muita
proximidade entre o artesão e o consumidor, entre o produto que está sendo feito ali
naquele momento e o seu comprador.
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http://www.palmeira24horas.com.br/v3/index.php/principal/capital/4245-file-ja-ocupa-mais-da-metade-
dos-artesaos-de-alagoas-e-tera-selo-de-origem-.
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Em meio a redes, agulhas, linhas, cores e rendas vai sendo tecida uma relação
interessante entre turista e artesão, na qual surge um diálogo aparentemente corriqueiro
que envolve muito mais do que o artesanato, como por exemplo, o interesse pelas vidas
envolvidas naquele processo, a história do filé alagoano e a cultura que circunda os
moradores daquele lugar.
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forma, ela assevera que o filé chegou pelas mãos dos colonizadores, como dito
anteriormente, e encontrou condições favoráveis para a sua produção na região do
CELMM. Assim sendo, o filé chega em Alagoas com o estilo e moldes europeus,
todavia por conta da criatividade, improviso e ousadia das fileseiras da região ele acaba
tomando outra cara mais parecida com a cultura do povo local. O que antes era feito
com fio, tucum e algodão, passou a contar com o auxilio da rede de pesca, solução
prática e barata para fazer a grade, que antigamente era chamada de malha de calo; e
estilizado com a mistura de cores vivas, novos pontos criados pelas mãos das fileseiras
locais, diversidade de peças – o que conquistou um público maior de apreciadores desse
tipo de artesanato.
Nos primórdios dessa prática não existia a demanda de consumidores que se têm
hoje, então, as fileseiras encontraram uma forma alternativa de vender as suas rendas,
por meio dos marinheiros que atracavam nos navios na orla marítima, elas conseguiram
convencê-los a tornarem-se revendedores do filé da região para o resto do mundo, além
do pagamento pelas peças eles ainda lhes traziam revistas estrangeiras de moda da
época para que elas pudessem inspirar suas peças com as tendências europeias.
Hoje em dia não é necessário o auxílio dos marinheiros para propagar o filé
alagoano pelo resto do mundo, uma vez que turistas do mundo inteiro vem a Alagoas
comprar o filé diretamente das mãos de seus produtores ou comerciantes.
Como a produção do filé leva muito tempo e dedicação, ela sempre esteve ligada
aos pés de calçadas, à boa vizinhança, à conversa entre fileseiras, ao cuidado com os
meninos que brincavam na rua, e assim, as mulheres iam fazendo a sua arte e cuidando
dos outros afazeres que a elas “competiam”, conforme dita a sociedade machista em que
vivemos. A grande novidade era que as famílias mais carentes, aquelas que mais
necessitavam da renda do filé para o seu orçamento financeiro obrigava os homens da
família a entrarem para a confecção do artesanato, porém por causa do preconceito os
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mesmos faziam seus trabalhos trancados dentro de casa, longe das más línguas, afinal
de contas “filé era coisa de mulher”. Com o passar do tempo e graças à aceitação do filé
alagoano pelo consumidor do mundo inteiro, os homens fileseiros vem passando
timidamente pela porta da frente para se sentar ao lado das mulheres fileseiras nas
calçadas, cena cada vez mais comum em algumas regiões do CELMM.
Há uma forte ligação entre as lagoas, a pesca, o filé, a cultura alagoana. Isto
pode ser explicado pelo fato da rede de pesca ter sido introduzida à produção do filé
nessa região. A prática artesanal do filé, inicialmente como meio de subsistência, chega
a ser a principal renda de algumas famílias do CELMM, sobretudo daquelas que moram
em Pontal da Barra, região privilegiada por conta de sua localização geográfica, parada
turística obrigatória no passeio das sete ilhas; porém, estima-se que com a Indicação
Geográfica (I.G.), que garantirá o selo de qualidade a esse patrimônio cultural imaterial
alagoano, a realidade do orçamento familiar possa melhorar bastante.
A grande maioria dos artesãos é composta por mulheres, daí pode-se dizer que
se trata da principal atividade econômica feminina na região das lagoas. Diz-se que as
características da flora local, do gosto tropical e da circularidade das inter-relações
étnicas que compõem as raízes nacionais são as responsáveis pelo filé considerado
tipicamente alagoano. (Enciclopédia dos Municípios alagoanos - 2006)
De acordo com os dados obtidos por meio da pesquisa de campo realizada entre
os meses de setembro e outubro de 2011 na região estuarina lagunar foram aplicados
227 questionários, dentre os quais: 104 foram direcionados aos artesãos; 72 aos
comerciantes e 51 aos turistas.
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2.2. Perfil do artesão
Dos artesãos que responderam aos questionários aplicados 97% são do sexo
feminino – o que reforça a ideia de que o filé ainda é tido como atividade econômica
tipicamente feminina.
Conforme os dados apresentados, vemos que 22% dos artesãos tem idade entre
31 e 40 anos, 18% de 21 a 30 anos, 17% de 41 a 50 anos e 15% de 51 a 60 anos – o que
comprova que a atividade com o filé não parece tão atrativa para os jovens. Os dados
mostram ainda que 93% dos artesãos são naturais de Alagoas, o que demonstra
claramente que a formação étnica, histórica e cultural do povo alagoano é um forte
ingrediente na produção do filé.
Os dados que versam sobre o tempo em que cada artesão produz o filé são
bastante diversificados. A necessidade de contribuir com a renda familiar pode ter
despertado o interesse pela confecção do filé, sendo assim, o que pode ter surgido como
uma alternativa emergencial em tempos de crise acabou ganhando espaço e
convencendo a muitos que a produção e comercialização do artesanato pode ser bastante
vantajosa do ponto de vista lucrativo.
O filé, por ser uma tradição familiar, é ensinado aos filhos, passando de geração
a geração como mostram outros dados. A arte é sempre passada por pessoas do sexo
feminino, como por exemplo: a mãe, a avó, a tia, a irmã, a sogra ou até mesmo por
vizinhas e representantes de associações locais.
Como 97% dos artesãos entrevistados garantem que o seu filé é de qualidade,
41% afirmaram que a grade miúda é a responsável por um filé bem feito, juntamente
com os fatores: linha de qualidade (Ane, Cléia); um uso adequado de cores e um bom
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acabamento com o fechamento adequado dos pontos. Segundo 81% deles, existem
diferenças entre o filé das lagoas e aqueles que são confeccionados em outros lugares,
as principais diferenças são a qualidade da matéria-prima (ao invés de linha usa-se o
cordão) e a qualidade do produto final (do acabamento), como por exemplo: o filé de
Fortaleza-Ceará e o de outros lugares do próprio CELMM. Isto garante uma supremacia
da qualidade do filé alagoano em relação ao filé de outras regiões e, ao mesmo tempo,
uma disparidade de opiniões entre o filé produzido no mesmo complexo lagunar.
Conforme 60% dos artesãos, o filé produzido atualmente supera em muito o filé
confeccionado antigamente, havendo muitas diferenças entre eles, dentre as quais
podemos destacar: o aumento da trama da rede ou grade, a diversidade de pontos e de
cores de linhas, a variedade de modelos e antigamente se usava moldes/ riscos para se
fazer a renda, coisa que hoje caiu em desuso.
O fato de 53% dos compradores do filé se interessarem pela história dele prova
que a sua produção é tida como característica do CELMM e encontra-se associada ao
modus vivendi das populações que ali habitam, fato que parece fazer parte do imaginário
daqueles que procuram esse tipo de artesanato. Este é um ponto bastante interessante,
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uma vez que quando vamos fazer a compra de um determinado produto não desejamos
saber de onde ele vem ou de como ele é feito a menos que suponhamos ser ali, naquele
lugar onde estamos realizando tal compra, o seu lugar de origem e estarmos cara a cara
com seu produtor, não é verdade?
Quase 50% dos artesãos não estão associados em nenhuma das associações
locais. Este é um fato preocupante, pois tem implicações diversas. Quer dizer que
metade dos artesãos não acredita na instituição, julga não precisar dela, acostumou-se a
trabalhar sozinho, ou simplesmente deixou que pequenos conflitos internos abalassem a
sua relação com a associação. Talvez esse fato decorra da aparente “aversão” do grupo a
sociabilidade, já que apenas 35% dos artesãos fazem parte de algum grupo social, de
preferência o religioso.
Agora vamos ver o que os dados referentes aos comerciantes nos dizem: 85%
dos comerciantes de filé são do sexo feminino contra 15% do sexo masculino, isto
evidencia mais uma vez a soberania das mulheres em relação aos homens nesse tipo de
atividade econômica.
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A maioria dos comerciantes apresenta algum grau de instrução, sendo que 10%
deles possuem o nível fundamental completo, 47% o ensino médio completo, 11% o
nível superior e os 32% restantes possuem grau de escolaridade incompleto ou
inexistente.
De acordo com os dados, 60% dos revendedores de filé não sabem confeccioná-
lo contra 40% que produzem e vendem o próprio produto. Sendo que 74% deles têm
conhecimento de outros estados que vendem filé, sendo o principal deles o Ceará cuja
qualidade é considerada inferior a do filé alagoano por 58% dos entrevistados. Segundo
estes, a qualidade da linha, do acabamento final do produto e da malha ou grade são
inferiores ao material usado e a forma como o filé alagoano é feito.
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Com relação aos turistas, 67% deles são do sexo feminino contra 33% do sexo
masculino. Procedem em sua maioria das regiões sul e sudeste do país, 63% deles são
profissionais liberais, a maioria veio ao estado pela primeira vez, porém 24% já vieram
outras vezes.
Dos turistas que vem ao estado, 42% compram o filé para ter uma lembrança do
lugar e 14% por causa da originalidade do produto, dados que comprovam a ideia de
que os turistas já supõem que o filé é genuinamente alagoano antes mesmo de conhecê-
lo.
A maioria dos turistas (90%) que compram o filé alagoano tem o costume de
comprar artesanato por onde passam, dentre eles 41% gostam de adquirir produtos do
vestiário e utilitários.
De acordo com a leitura dos dados, 33% dos turistas atribuem ao filé o posto de
artesanato alagoano por excelência, enquanto 15% dizem que as rendas de uma forma
geral são tipicamente alagoanas, 26% dos entrevistados conhecem o filé e 14% deles
definem o filé como renda ou bordado. Apenas 35% conhecem o filé de outros lugares e
39% citaram o filé do Rio Grande do Norte.
6 SILVA, S. SIQUEIRA. A Patrimonialização da Cultura como forma de Desenvolvimento: considerações sobre as teorias do
desenvolvimento e o patrimônio cultural. In: AURORA, ano V número 7 – Janeiro de 2011.
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lugar. Quando um bem material é reconhecido como patrimônio cultural, ele é tombado,
no caso do bem imaterial, ele é registrado.
Durante a primeira parte da pesquisa Filé das Lagoas Mundaú e Manguaba, que
visou à obtenção da Indicação Geográfica (I.G.)8 para que tal bem possa ser
reconhecido pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como
um ícone que representa o estado de Alagoas. Para tanto foi realizado nos municípios
acima descritos uma série de aplicação de questionários in loco, registros fotográficos,
filmagens a partir de observações participantes de alunos do curso de Ciências Sociais
sob a supervisão dos professores Raquel Rocha de Almeida Barros e Bruno César
Cavalcanti, coordenadores do Laboratório da Cidade e do Contemporâneo (LACC).
7 Os sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois: Princípios, ações e resultados da política de salvaguarda do patrimônio
cultural imaterial no Brasil, 2003-2010.
8 Segundo o portal virtual do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), trata-se da identificação de um produto ou serviço
como originário de um local, região ou país, quando determinada reputação, característica e/ou qualidade possam ser vinculadas
a esta sua origem particular. Sendo de duas espécies: a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO), enquanto
o primeiro diz respeito à forma de proteção de um determinado produto quando o nome geográfico é conhecido pela produção e
/ou prestação de um serviço lhe agregando valor, o segundo fala de uma situação diferenciada, quando o referido produto e/ou
serviço seja exclusiva e essencialmente designado pelo determinado nome geográfico.
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possível perceber diversas faces do filé, desde a sua tradição em passar de mãe para
filha ao modo de fazer que caracteriza essa arte como legitimamente da área do
Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba.
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Nas cidades que margeiam o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba
(CELMM) duas atividades são encontradas com facilidade: a pesca e o filé, pois durante
a pesquisa pudemos perceber como elas são relacionadas pelos próprios moradores, já
que em geral são homens pescadores e suas esposas, filhas ou namoradas, mulheres
rendeiras, embora tenhamos encontrado homens que também bordem, ou para ajudar na
renda da casa ou por falta de trabalho na pescaria, e da mesma maneira mulheres que se
reconhecem como pescadoras. Mas de fato a atividade com o filé inclui mais mulheres
que homens. Outro fator que também possibilita a relação entre pesca e filé é a
semelhança entre suas redes, embora o material não seja necessariamente o mesmo, o
fato é que várias entrevistadas acreditam ser o filé procedente da rede de pesca, que o
mesmo pode ter sido originado a partir da mulher ou de mulheres de pescadores que
pela sua condição ociosa “inventaram”, por assim dizer, o modo de fazer filé tendo
como ponto de partida redes de pesca.
9 CORREIA, M. DORIGO, SOVIERZOSKI, H. HELENA. Situação atual do ecossistema Manguezal da costa do Estado de Alagoas, Brasil.
In: Revista da Gestão Costeira Integrada, Número Especial 2, Manguezais do Brasil 2010.
10 Pesquisa de campo em: 30/09/2011.
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Artesanato da Pajuçara e, bem em frente a esta, o Pavilhão do Artesanato11, onde o filé é
apenas parte de um grande arsenal de materiais produzidos para o público turístico.
Naquela manhã de sábado, entre andanças por vários pontos da cidade, não foi
difícil perceber a ociosidade da população, entre pessoas desocupadas nas portas das
casas e outras bebendo cachaça, grupos de homens separados dos de mulheres, inclusive
nos bares da cidade percebia-se com exclusividade a presença masculina. Não com
pouca ousadia, em um grupo composto por quatro meninas, decidimos vivenciar a
experiência de adentrar num ambiente tipicamente másculo – um dos bares da cidade,
um cenário grotesco, no qual a presença feminina causou olhares de repulsa e
indignação por parte dos pescadores que ali estavam. Sentindo o quão perturbadora era
a nossa presença naquele lugar, percebemos que são fortes ainda nas relações de gênero
entre os moradores dessas comunidades interioranas, um machismo primitivo
totalmente voltado para as relações patriarcais, nas quais só o homem manda, pode,
deve e faz.
Por toda parte o cheiro de peixe era o perfume típico do lugar, juntamente com
um arsenal de materiais relativos à pesca – o que nos fala do quanto na economia local é
predominante à atividade com a pesca em sobreposição à atividade com o filé.
11 Pesquisa de campo nos pontos de turismo freqüente: Feirinha de Artesanato da Pajuçara e Pavilhão de Artesanato em
01/10/2011
12 De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Alagoanos é um dos mais beneficiados pela presença de petróleo e gás natural.
08/10/2011.
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habitantes, segundo pesquisa do IBGE em 2007. Possui a cana-de-açúcar como
principal fonte de renda e cultura agrícola que, por sua vez, inclui coco, feijão, banana e
mandioca, vindo em seguida a atividade de pesca. Com relação ao filé, em Coqueiro
Seco se produz muito mais a rede do que as peças propriamente ditas, pois elas não têm
muita comercialização na cidade e as artesãs não dispõem de condições para ir à capital
a fim de vendê-las.
14Patrimônio Histórico de Alagoas e do Brasil, conhecida por ser o berço da colonização de Alagoas, sendo seu próprio nome uma
homenagem ao Proclamador da República Brasileira. Fonte: Enciclopédia dos Municípios de Alagoas, 2006. Pesquisa de campo
em: 08/10/2011
15 Em Santa Luzia do Norte há uma situação no mínimo curiosa, as manifestações populares de Chegança tradicionalmente
masculinas é, neste município, comandada por uma mulher. Pesquisa de campo em: 15/10/2011.
16 Pesquisa de campo em: 15/10/2011.
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4. Discussões finais
Como o objeto das Ciências Sociais é o próprio homem, o que parece ser
subjetivo é na verdade intersubjetivo, pois o sentido cultural é público, no sentido de
que a soma das subjetividades é a intersubjetividade. Dentro desse patamar teórico,
compreender o ponto de vista do outro não é necessariamente compreender a verdade
do outro; assim como compreendendo o ponto de vista do outro nos ajuda a
compreender quem somos e o comportamento humano.
Para nós, foi interessante descobrir o filé alagoano a partir da ótica daqueles que
se encontram direta ou indiretamente em seu processo de produção e comercialização,
porém como o ideal de mentalidade é perseguido, mas não alcançado de todo, não
podemos garantir que a leitura que fizemos dos dados colhidos é a mais correta ou a
única possível.
Como ser antropólogo é não se achar mais em lugar nenhum, mas perder-se de si
mesmo, como se alguma coisa se quebrasse dentro da gente para a vida toda, segundo as
palavras do Prof. Dr. Bruno, a experiência de participar do processo de
patrimonialização de um bem cultural imaterial alagoano nos fez perder o chão, o rumo
e repensar em nossas práticas como pesquisadoras, profissionais e principalmente, como
seres humanos.
Contudo, como toda pesquisa é uma “aventura controlada”, esse perder-se, esse
não achar-se mais no mundo tem uma certa temporalidade e consistência, no sentido de
que isto permanece, desconstrói, mas também, renova o ciclo e, ao mesmo tempo, em
que nos faz regredir para a estaca zero também nos faz avançar para um outro lugar, é
nesse ponto que refletimos e refratamos a nossa realidade num movimento continuo
sem-fim.
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Como só existe pesquisa no terreno do desconhecido, na obscuridade deliciosa
dos questionamentos, agradecemos a oportunidade de fazer parte de uma descortinação
possível da história e cultura que envolvem a produção do filé e a sua comercialização.
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