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AS FEIRAS DO NDONGO. A OUTRA VERTENTE DO COMERCIO NO SECULO XVII por ROSA DA CRUZ E SILVA Arquivo Histérico Nacional — Luanda ‘A comunicagao que trazemos a este semindrio pretende ser a nossa contribuicao, para a caracterizagéo de uma sociedade africana no sécu- lo XVII, o antigo reino do Ndongo, centrando a nossa andlise nos principais circuitos comerciais vigentes, e que desembocavam nos varios mercados € feiras que se foram organizando ao longo dos tempos no conjunto das aglomeracées urbanas, ali onde as condigGes climaticas, sobretudo, favore- ceram de facto 0 assentamento das populagées. Assim, entende-se facil- mente que neste caso, os mercados ¢ feiras a que faremos referéncia neste texto se posicionem em zonas nao muito afastados dos principais cursos de 4gua. Esta tentativa de reconstituicgo do modelo econémico pré-colonial no Ndongo, e as alteragées que af se operaram na sequéncia dos contactos que se foram estabelecendo com os europeus, na medida que permitirem as fontes ao nosso alcance, visa, em primeira instancia, chamar a atengio para o estudo que se impde sobre as instituigGes africanas antigas, cujo nivel de abordagem, entre nés, € muito escasso. Quanto as insuficiéncias das nossas fontes, j4 que estas, na sua maioria, se constituem de crénicas, descriges de missionérios, ou até de relatérios e outros documentos de governadores, cuja forma de olhar e aprender este mundo para si desco- nhecido nfo deixa de ser, salvo as excepgSes, em muitos casos, preconcei- tuoso, o facto é que a nossa curta experiéncia em lidar com tais materiais demonstrou que, através deles, podemos ir refazendo gradualmente as vé- rias fases desse passado longinquo dos antigos reinos que integram hoje territério de Angola. E nosso propésito rever a dinfmica sécio-econémica das sociedades afticanas, localizadas ao longo € na confluéncia dos principais cursos flu- viais, nesta regio, sendo que af a pratica do comércio permitiu a abertura de rotas comerciais importantes que estabeleceram a ligacao entre os povos 407 ENCONTRO DE POVOS E CULTURAS EM ANGOLA das diversas regides, sejam as mais vizinhas, como as de reas mais afasta- das. Rotas essas que vao ser retomadas pelos novos parceitos comerciais com a intervengo dos Portugueses que, chegados no tiltimo quartel do século xvi via Adantico, «invadem» o Kwanza e penetram no interior do Reino do Ndongo. As contribuigées de Jan Vansina e de David Birmingham, que iniciam a abordagem da problematica do comércio pré-colonial na regiao central- -ocidental de Africa, sao as luzes que indicam a estrada que nos resta percorrer para que se alcance um maior conhecimento destas sociedades. Os mercados do Ndongo, no periodo a que se refere este texto, assu- mem uma importancia extraordinéria, porquanto 0 seu estudo, em nosso entender, permite avaliar o tipo de relages econémicas que entéo domi- navam, o nivel de intervengao dos poderes afticanos nesses mesmos circui- tos comerciais, e ainda verificar como se processou a reac¢ao africana & nova realidade econémica que se construfa no seu territério. E nossa intengao trazer a lume a problematica das rotas comerciais antigas que ligavam esses mesmos estados ou os seus povoados entre si. Em que medida permaneceram ou nfo as rotas ¢ todo o sistema de comércio preexistente, de que a referéncia & feira como espaco privilegiado das tran- sacgGes comerciais para este caso é nota dominante na maior parte dos documentos portugueses seleccionados para este estudo. O Perfopo PRE-CoLoNIAL As primeiras noticias sobre a pratica do comércio entre os Mbundu, mais concretamente no Reino do Ndongo, chegam-nos dos escritos dos missionérios jesuitas (portugueses ¢ castelhanos) que integraram a comiti- va de Paulo Dias de Novais, aquando da sua primeira viagem as terras de Ngola Kiluanje, o soberano do Ndongo. Chegados a barra do Kwanza no ano de 1560, ¢ movidos pela ambigao da expansio comercial, das potencialidades minerais, o que levaria posteriormente & conquista do rei- no, falam-nos com algum pormeénor dessa aventura que foi o tentar des- 408 AS FEIRAS DO NDONGO bravar a terra, € os esforcos empreendidos para conquisté-la. Puderam es- tes homens entrar rio acima para serem conduzidos até & corte do Ngola. Por todos os caminhos, dizem os cronistas, 0 mercado era uma constante. «{..-] todos los dias del mundo hazen por sus tierras el mercado adonde trae todas sus cossas a vender, la sal es alla su moneda y con el compran todas sus cossas que an menester [...].»! Nao parece existir diivida quanto as possibilidades dos recursos ¢ a capacidade destes povos de os explorar, para a criagio de espacos prdprios para a organizacio do comércio. A produgao local supria as necessidades das comunidades, permitindo 0 abastecimento regular dos mercados na maioria dos povoados, que foram entio visitados pelos prdprios missiond- ios, No decorrer das negociagSes entre os portugueses dirigidos por Paulo Dias de Novais e Ngola Kiluange, e dadaa demora de tal processo negocial, os mantimentos que se guardavam a bordo das embarcagées portuguesas escassearam a tal ponto que estes nao tiveram outra alternativa que nio fosse abastecer-se de alimento nos mercados que se faziam na proximidade da barra do Kwanza: «[...] esteue toda la gente alli muy enferma y quasi a la muerte, porque nao tenia y a que comer sino harina de la tierra cozida que trase los negros a uender alli [...]2.» As fontes minerais, (sal, ferro), os aiveis de produgio vindos da agricultura e da pastoricia, ou ainda de uma pequena industria local, foram suficientes para fazer movimentar homens © mercadorias e fomentar uma complexa rede de comércio, primeiro os mercados locais que supriam as necessidades mais ingentes das populagées locais ¢ Areas vizinhas, ou nas grandes feiras onde a amplitude das transac- Ses comerciais exigia obviamente outros recursos, sendo que os seus con- correntes eram provenientes de paragens mais longinquas. Af, o circuito comercial existente antes da presenga portuguesa na regiao fazia correr gente de regides muito afastadas, 0 chamado comércio de longa distancia. O sal da Kissama a poucos quilémetros da costa, no interior, controlado pelos titulares do poder Ngola, era bastante procurado nas feiras do Ndongo por gente vinda do Songo ou até mesmo da Lunda’. A diversidade de unidades 2 PE. ANTONIO BRASIO, Monumenta Missiondria Africana, vol. 1, p. 511, Agencia Geral do Ultramas, 1953. 2 Ibidem, p. 499. 3 Ibidem, p. 520. Citado em BIRMINGHAM, (1970), p. 165. 409 ENCONTRO DE POVOS E CULTURAS EM ANGOLA de troca nestas transacgées explica por si a complexidade destes circuitos comerciais. No que se refere & diferenciagao que também aqui nos parece licita estabelecer entre 0 mercado e a feira propriamente dita, para usar a termi- nologia das nossas fontes, partindo do pressuposto que tais conceitos obe- decem exclusivamente aos padrdes mentais dos missiondrios que os des- creveram, ainda assim julgamos que podemos avangar um pouco mais nes- ta problemética a partir dos contributos dos historiadores que se dedica- ram ao estudo das actividades comerciais em periodos muito espectficos de outras sociedades cuja organizagao econémica pouco se diferencia da que vimos tratando neste texto. As feitas ¢ mercados vistos como um fenémeno universal sio a sequéncia Idgica da organizagio de um espaco urbano em que os produtores se obrigam a dar um destino adequado aos seus exce- dentes, provocando-se naturalmente a expansio das transacgdes comer- ciais, sendo que estas variam de acordo com o volume de mercadorias que intervém neste tipo de operagées. Segundo Virginia Rau no seu estudo As Feiras Medievais Portuguesas, ena senda de Henti Pirenne, o mercado ¢ um modelo com caracteristicas muito locais de pequena dimensio, destina-se exclusivamente a prover a populagio dos bens alimentares correntes, no quotidiano ¢ nos espagos em que estes tém lugar‘. De acordo com esta classificagao, em nosso entender, ela ajusta-se ao exemplo do Ndongo. Os mercados descritos pelos missio- nérios da comitiva de Novais, para se referirem a frequéncia de tal pratica na maioria dos povoados por si visitados, mesmo porque cles préprios também se tornaram clientes ao abastecerem-se dos viveres africanos quando se esgotou a reserva vinda de Lisboa, como vimos mais acima. Quanto as feiras também reveladas nos documentos relativos aos pri- meiros contactos que tiveram lugar com as autoridades do Ndongo ¢ sua gente, estas implicam outros mecanismos ¢ mais recursos. Ainda, segundo Virginia Rau, as feiras constituem o ponto de reunifo periédica de merca- dotes profissionais. E um espaco onde se aumentam os mimeros seja de mercadores como de mercadorias, bem como a proveniéncia dos mercado- res que geralmente se deslocam em caravanas para percorrer distancias lon- 4-Vinciia Rau, Feiras Medievais Portuguesas, Substdios para o Seu Estudo, 1983, p. 56. 410 AS FEIRAS DO NDONGO gas’. Af sim, estamos perante uma feira. [al como nas demais sociedades, sejam elas europeias ou nao, este fendmeno repete-se, a diferenca aqui por- -se-4 mais em termos do tempo em que estas actividades ocorreram, tendo em conta as suas especificidades ¢ que correspondem naturalmente ao ni- vel de desenvolvimento de cada sociedade. E Henri Pirenne vai mais longe quando afirma: «(...] Por primitiva que seja, toda a sociedade sedentéria tem a necessidade de fornecer aos seus membros centros de reuniao ou, se quiser, lugares de encontro. A celebrago do culto, 0 arranjo dos mercado- res, [...] fixam necessariamente a indicagio de locais destinados a receber homens que querem ou deyem participar nesses actos [...]’» No caso do Ndongo, e para falar jé das feiras que os cronistas nos anunciaram, estas posicionam-se numa escala de valores que vai desde o rei, junto & Corte do qual se organiza a feira de maior importancia, aos sobas seus vassalos, ou ainda a qualquer particular que 0 possa em razao das suas possibilidades organizar. Cabe aqui referir que os espacos comerciais obedeciam obviamente a um conjunto de regras que garantiam o seu normal funcionamento. Sen- do que o poder politico tinha uma forte capacidade de intervensio, vale a pena deixar um extracto do documento de 1582-1583 que nos elucida melhor sobre a hierarquizagao desses espagos, onde o politico e comercial se justapdem, «{...] Antre elles no ha moeda de ouro nem de metal, nem cousa que responda a elle, mas usam em lugar disso de certas cousas que pial E para isto, alem das feiras particulares que cada Senhor faz em suas terras, tem seus precos certos e ordinarios, nos quais entrdo escravos [ ha outras gerais a que concorrem de todas as partes. E a principal se faz em Cabaga, que he a cidade onde residem os reis, ¢ nesta ha hu home da terra posto pello Rey, que tem por officio andar sempre no lugar em que se uendem as pecas para saber se algiia dellas he livre do qual tem grande pena o que o vende. E elle fica liure. E cujdo que o mesmo se faz nas outras feiras, pois sa6 regidas por officiais do Rey. E a experiencia que temos hé que antre os mesmos gentios se estranha tanto uenderse por escravo 0 que hé liure, que logo se sabe, polos rebates que dam nos passos, por onde 5 Ob. cit., 1983, p. 57. © Henri PiRenne, As Cidades da Idade Média, Publicagoes Europa Amética, p. 55. 411 ENCONTRO DE POVOS E CULTURAS EM ANGOLA pode sair, e maliJos que buscao pera o empedir’.»» O mercado afticano obedece obviamente a regras préprias. Neste caso vemos que a componente feira de escravos est mais expli- cita no documento que elegemos para o nosso trabalho. O papel do oficial do rei em todas as feiras, para além de ser o garante da paz da feira, tem como fungao 0 controlo do nivel de transacgdes efectuadas, 0 apuramento das receitas arrecadadas, bem como o controlo cerrado sobre a provavel venda de cidadaos livres, que, como vimos na passagem do documento acima transcrito, trata-se de estatuto de grande reputacao entre os Mbundu. O estatuto de escravo, 0 que se vende nas ditas feiras, € a de um ho- mem a quem foi retirada alguma liberdade por motivos que resultam da aplicagao de penas por crimes varios por este cometidos, ou os capturados no decorrer das guerras entre estados vizinhos. O que nos parece impor- tante aqui destacar é que esta sociedade que vimos tratando, para realgar a componente econémica vista através dos circuitos comerciais, informa um dado de capital importancia. A questio do homem livre que goza inclusive de protecgao das autoridades do reino, quando uma situagao anémala, como neste caso, lhe pode retirar a respectiva liberdade. Julgamos que 2 organizacio de qualquer uma das feiras, a de mantimentos ea de escravos, obedecem seguramente aos mesmos pressupostos. © garante da paz da feira € fundamental, pelo que os oficiais do tei cumprem tal papel, seja para avaliar os lucros que possam servir de referéncia para a tributagao a0 rei, seja para dar aos mercadores principalmente os de fora (vindos de pa- ragens distantes), a tranquilidade que a concentrago de pessoas em mer- cado ou feira implica. Esta questio foi objecto de andlise igualmente no trabalho de Virginia Rau sobre as feiras medievais portuguesas, em que a dado passo se Ié: «No local onde se faziam as feiras existia uma paz especial, a paz da feira, que proibia nele toda a disputa ou vinganga, ou todo o acto de hostilidade, com penas severas como castigo em caso de transgressio. Todos os que as frequentavam estavam seguros pela protecdo outorgada pelo senhor territorial, © conductus. Guardas especiais, custodes nundinarum, fiscaliza- vam as transaccées ¢ tinham a seu cargo o policiamento das feiras ¢ a s 7 Ob. cit, 1953, p. 227 412 AS FEIRAS DO NDONGO jurisdigao®, Vemos pois que inclusivamente as regras de conduta para fazer funcionar os espagos de comércio em pouco variam nas sociedades que aqui se pem em confronto. A OuTRA VERTENTE DO COMERCIO Estamos assim em presenga de dois tipos de comércio, o de manti- mentos e 0 de escravos. Por um lado vendem-se os mantimentos como resultado da acumulagio da produso excedentaria local e, por outro, os escravos, a mao-de-obra, que jé nesta altura era bastante solicitada para as plantagées da cana-sacarina em Sao Tomé e no Brasil. Digamos mesmo que nos mercados afticanos de mantimentos se fazia igualmente a venda dos escravos. Este tiltimo tipo de comércio chegou ao Ndongo muito an- tes da intervencao oficial das autoridades portuguesas, que por esta altura mantinham com 0 Kongo ¢ com os seus mais altos dignitdrios relagdes politicas ¢ econémicas frutuosas. Os moradores de Séo Tomé, jé nas pri- meiras décadas do século xv1, recebiam navios transportando escravos, pro- venientes dos mercados do interior do Ndongo, situacao que teria provo- cado um mal-estar entre Lisboa ¢ o rei do Kongo, visto que este soberano africano reclamava para si o monopélio do comércio com Portugal. A de- manda de mao-de-obra escrava, com vista a satisfazer as necessidades do Brasil, das Indias e de Castela, nao se conformava com 0 movimento ma- ritimo no porto de Mpinda, pelo que, 2 margem da lei, os mercadores particulares portugueses percorriam o interior do reino com as suas fazen- das em busca do negécio barato. Daf que os mercados no Ndongo se fo- ram tornando ao mesmo tempo no espago para a venda de mantimentos e de escravos. Importa saber quais teriam sido as rotas para a circulac4o dos mantimentos e dos escravos. As tentativas da coroa portuguesa para o estabelecimento de contac- tos oficiais com o Ndongo datam de 1520, porém sem grandes resultados. ® Ob cit, 1983, p. 42. 413 ENCONTRO DE POVOS E CULTURAS EM ANGOLA ‘As informagGes sobre as potencialidades do reino, designadamente as mi- nerais, chegaram rapidamente a Lisboa, o que levaria mais tarde, entre 1560 1575, a organizacao de duas misses consecutivas capitaneadas por Paulo Dias de Novais. Estabelecidos os integrantes das comitivas (militares ¢ missionétios) na cidade de Luanda, miicleo inicial da colénia portuguesa nesta regio engendram-se a partir de af as estratégias para a ocupagio do tertitério, visto que o rei do Ndongo nao se mostrou nada receptivo as propostas de Lisboa. Os movimentos militares que entio se foram desencadeando com vista ao controlo das principais rotas comercais existentes, apesar da resis- téncia das forcas afticanas, levou & ocupacao paulatina do reino. A progressio militar acompanhou naturalmente as vias que os con- duziram & capital do reino, tentando dominar os vatios sobas ao longo de mesmo percurso. Ai se foram estabelecendo os presidios como garantes desse dominio. Acontece porém que os locais eleitos para a construg destas casas militares nao € arbitréria. Eles posicionam-se nos pontos de maior concentragao das populagées, eles acompanham os centros de co- mércio, isto é os mercados ¢ as feiras. Digamos que as feiras de que tanto falam os documentos jesuftas, ¢ que se multiplicam a um ritmo assustad com o crescendo da conquista, nao sio igualmente criagdo europeia’. Elas existiam jé para responder as solicitagSes do consumo interno € nao sé. bem ao ritmo da realidade econdmica deste estado africano. Com o acen- tuar desta intervengao, elas adaptam-se ao novo quadro vigente. ‘A problematica levantada por Adriano Parteira relativamente 20 balho de Jan Vansina, «Long-Distance Trade-Routes in Central Africa» torna-se bastante pertinente neste caso. Vansina caracteriza 0 comércio d Africa Central Ocidental em dois perfodos distantes: a fase anterior € pos terior & presenga europeia. No primeiro caso, antes dos Europeus, os AE canos dessa Africa Central-Ocidental protagonizavam um comércio de «a= ta distancia», entre vizinhos, comércio de caracteristicas essencialme: de regionais”; para o segundo caso, ainda nesta éptica, ocorre a novid: «comércio de longa distancia», que no caso do Ndongo ¢ introduzida p= * Eucenio Ferreina, Fetras ¢ Presidios, p. 47. "© ADRIANO PARREIRA, Economia e Sociedade no Tempo da Rainha Njinga, 1990, pp. 414 AS FEIRAS DO NDONGO los Portugueses. Aqui est4 0 pomo da discédia de Parreira, que admite a existéncia desse comércio de longa distancia antes da intervengo europeia e argumenta esta posi¢ao partindo de uma avaliacio desse mesmo comér- cio, nao pela amplitude do espaco percorrido pelos mercadores e seus pro- dutos, mas pelo perfodo de tempo percorrido, tendo em conta os condicio- nalismos climéticos entre outros, que naquela época acabavam por interfe- rir negativamente em qualquer intengSo de fazer chegar mais longe as mercadorias para a troca, Daf que nao admita a assercao de que 0 comércio de «longa distancia» tenha sido uma inovagao portuguesa; a novidade, essa sim, seria a ligagdo transatl4ntica das mercadorias afticanas que passaram a chegar a outros mundos, como muito bem assinala Parreira. Os exemplos do Ndongo, a que mais acima nos referimos, so quanto a nés suficientes para sustentar a argumentacfo de Parreira e que nés partilhamos. Perante estas evidéncias, torna-se mais importante avaliar de facto como funciona este circuito, quais as regras que 0 orientam e como se articulam os produtos do mercado tradicional africano ¢ as novidades que The chegam do exterior do continente. A entrada em cena dos novos protagonistas no sistema comercial do Ndongo, isto ¢ os mercadores, militares e missiondrios, ansiosos de faze- rem embarcar os navios de escravos e outras mercadorias afticanas, trouxe naturalmente algumas alteracées ao sistema jé estabelecido. Os interesses da economia portuguesa nfo se resumem exclusivamen- te ao negécio de escravos, como jé tivemos oportunidade de assinalar; ou- tros produtos estavam também na lista da demanda dos novos parceiros comerciais do Ndongo. E tido j4 como consenso geral que o negécio do trdfico se destacou nesta regido ¢ neste perfodo concretamente, quer pelos dados estatisticos que se vo podendo apresentar, quer pelas consequéncias que daf advieram para o Ndongo, cujo poder politico se viu desmoronar apés longos anos de guerra. Contudo hd que destacar que, para além dos escravos, outro tipo de mercadorias foram igualmente exportadas, embora se no conhegam ainda os ntimeros reais dos navios que as transportaram ou mesmo os valores apurados no erdtio dos principais protagonistas des- tas operagdes. Especial realce vai para a tacula, produto de muita procura no conjunto das necessidades dos portugueses. «Este pao de tacula o ouera Sua Magestade mandar lhe uiessem mujtos nauios per sua conta carrega- 415 ENCONTRO DE POVOS E CULTURAS EM ANGOLA dos ao rejno, e fizera nele muito mais prouajto do que fas no que lhe uem do Brazil, por ser de mor prestimo, mais groso e que valer4 mais dinheiro que odo Brazil [...]»» Outros produtos mais terdo entrado nesta lista, que no fossem escravos: marfim, cera, algilia, cobre, ferro, etc. Digamos que anova vertente do comércio orientava via Aclantico outro tipo de merca- dorias afticanas, cujo contributo para a renda da coroa portuguesa, ou para as cortes africanas, é-nos para ja desconhecida, O curso seguido pelos produtos africanos, seja no interior do reino ou com os seus vizinhos, em nada se alterou mesmo apés a chegada dos Por- tugueses. As zonas de maior concentragéo humana, pelas condig6es favo- raveis do clima ou outras, propiciavam o assentamento das populagées, daj que as principais mbanzas se situassem nao muito afastadas dos rios. Neste caso particular, vamos encontrar ao longo do corredor do Kwanza um sem niimero de povoados, cada qual com o seu grau de importancia seja politica como econémica. Os mercados af fixados funcionaram como principais elos de ligacéo entre os varios povoados. Nas tiltimas décadas do século XVI, 0 recurso & guerra respondia tio sé as barreiras que os Africanos se viram obrigados a desenhar para ver garantida a manutengao do seu dominio no tertitério. Temos noticia que jé nos anos 80 do referido século os Portugueses se haviam instalado por algumas zonas a0 longo do corredor do Kwanza, com vista ao controlo do cixo comercial af estabelecido, mercé das varias investidas militares desencadeadas desde Novais até Joao Corteia de Sousa Submetidas as autoridades em Massanganu, Muxima e Kambambe, est vam criadas as condig6es para uma presenga portuguesa no interior d reino. Nestas trés localidades foram neste petiodo edificados os respectives fortes como sinal dessa presenga. Esta op¢éo corresponde a importincia de cada uma no contexto politico ¢ econémico do reino. E dizer que nesses locais se vai assistir & adaptagéo dos novos intervenientes no sistema es belecido. Os mercados de mantimentos que corriam nesses lugares antes Ob, cit, 1953, vol Il, p. 745. Do professor Eugénio dos Santos (Universidade do Po no decorrer do debate no Seminario Internacional de Histéria de Angola «Encontto de Pow Culcuras», obtivemos a informagio que o pau de tacula serviu 8 indiistria mobilidria para a ae nobre, 2 exemplo do que vinha acontecendo com a madeira, também nessa época mui rada no Brasil. 416 AS FEIRAS DO NDONGO da intervenco europeia, véo passar a funcionar expondo as duas modali- dades, ora os produtos da venda tradicional ora os escravos a embarcar para o Novo Mundo, porque a demanda de mao-de-obra crescia, provo- cando-se também a abertura de novas feiras. Nos primeiros anos de Seiscentos, as acces militares sucederam-se a um ritmo sem precedentes na regio, em que ambas as partes envolvidas no conflito conheceram ora algumas vitérias ou até derrotas retumbantes. A reaccio afticana a esta pritica belicista tornou impraticével qualquer sucesso na actividade mercantil, porque suspenderamse as feiras € por to- dos os meios se impediu a circulagao de homens ¢ mercadorias, 0 que no deixava de ser nocivo aos préprios chefes afticanos que também se viam beneficiados com as mercadorias que lhes propiciava 0 comércio com os Europeus. Apesar de em certas areas vigorar a administragao militar portu- guesa, ainda assim, ¢ mesmo af, 0 comércio nao cortia, Tratava-se da res- posta africana aos intimeros abusos, desmandos € razias que a Ansia dos mercadores, missionarios e governadores impunham aos Africanos para ver facilitada, em seu entender, 0 movimento dos navios negreiros que partiam para as Américas. A OFICIALIZAGAO DAS FEIRAS No decorrer do século xv, 0 movimento do tréfico enfrenta algumas dificuldades. A guerra nao era a via mais segura para o prosseguir do ritmo do comércio entéo em voga. A conquista do territério africano nao era posta em causa, apesar dos desaires militares, e nesta sequéncia o decrésci- mo dos niveis de captura de escravos. Outros mecanismos teriam de ser encontrados para se alcancarem os mesmos objectivos. Havia que se adop- tar outras medidas perante a inflexibilidade manifestada pelos titulares Ngola que conduziram na altura os destinos do Ndongo. Teria sido assim com Ngola Kiluanje, Ngola Mbande, e depois com Njinga Mbande, que esteye & frente dos destinos do reino cerca de quatro décadas até & derroca- da final, em que o Ndongo perde efectivamente a sua independéncia po- 417 ENCONTRO DE POVOS E CULTURAS EM ANGOLA Iitica. Mandato marcado por intimeras vicissitudes, acordos, contratos, guerras, sempre para evitar a perda do dominio do territério. A medida que o poder militar portugués se instalava no interior, fica- va mais ficil naturalmente o controlo sobre as rotas do comércio, seja para aquisicao dos escravos, seja para outro tipo de mercadoria africana, Os espagos onde se realizavam as feiras antigas passam em alguns casos para 0 controlo dos Portugueses. Porém, a partir dessa altura, véo-se registar imen- sas dificuldades para o seu normal funcionamento. Esta situago nao agrada as autoridades afticanas, que por diversas vvezes, como jé havlamos visto, obrigam & suspensio das vendas, impedin- do a circulagéo dos escravos. i dizer que o poder politico portugués se circunscreve as fronteiras do pres{dio, porque este nao tem capacidade de interferir como convém no sistema jé estabelecido, ainda que subtrafdos os espacos de actuagao do poder dos Africanos. Finalmente sdo estes que dominam de facto as rotas do comércio, sejam as interiores do territério seja a transatlintica. Sem mercados, sem escravos, sem mantimentos, tor- nava-se muito dificil governar. Este novo cendrio € descrito por Fernao de Sousa cujo mandato tem infcio em 1624. O regimento a partir do qual se orientou a sua governagao realcava explicitamente a proibigao da guerra, recomendava uma actuagio capaz de levar os reis africanos a permitirem 0 cumprimento dos objecti- vos portugueses!”, Ele torna-se o maior impulsionador da abertura das fei- ras antigas ou ainda da criagéo de novas feiras. Dizia a este propésito no seu extenso relatério aos filhos (1625-1630): «Procurey por todas as vias abriras feiras de escrauos por ser a sustancia deste Reyno, e depender dellas as armagGes € 0 contrato, ¢ pera ter effeito tive cé dona Anna di Sousa sefiora d’Angola todas as boas correspondencias, e em Bumba Aquizanzo mandei abrir a feira de Dongo, ¢ nela puz mani quitanda, e todos os mais officiaes, e meirinhos, e lancey bandos que nao passase fazendas da ditta feira polla terta dentro c6 pena dissi perdere, ¢ c6 regimento que nao antrasse nella homes brancos, ¢ tudo o que mais couinha pera conseruacio da feira. Em Samba Angombe abri outta, ¢ a isso mandey 0 capitéo Manoil di 1 CE «Regimento do governador de Angola de 20 de Margo de 1624», Bearaix Hemtze, 1985, p. 145. 418 AS FEIRAS DO NDONGO Medella c& mani quitanda, [...] Abri outra em Caqulo Cacabaca, ¢ 20 soua Amboyla mandey pedir que a abrisse em suas tetras, ¢ para o obrigar the mandei um presente, offerecendolhe pax e amizade com que o obriguey a fazelo, e nista feira pz mani quitanda, ¢ (officiaefs); e pola misma ma- neira ordiney feiras de mantimentos em todos os sitios em que as podia aver pera c6 clas baratear os pregos dos mantimentos, ¢ c6 a cobica da uenda obrigar os souas, ¢ ao gentio todo a tratar do comercio (como faziao antes das guerras) e polos obrigar a gostar da pax!» «A oficializagio das feirasy, isto ¢ a passagem para o dominio portu- gués das referidas feiras, dependia sempre o seu sucesso da vontade das autoridades africanas que permitiam ou ndo a circulagao dos produtos, Digamos que os poderes neste periodo coexistiam no tempo. Se por um lado os Portugueses mantinham algum poder militar bem no interior do reino, € também verdade que nese mesmo perfodo o poder africano é em simulréneo um facto, mesmo porque sem a sua anuéncia ndo podem cor- rer normalmente as feiras, Pensamos que as feiras que Fernao de Sousa se propoe abrir, como as que se localizavam principalmente no corredor do Kwanza ¢ seus afluen- tes, Tombo, Massanganu, Dondo, ou ainda entre os rios Bengo e Ndande, so em nosso entender feiras antigas que na sequéncia da guerra haviam deixado de funcionar. Julgamos nés que tais feiras eram as tradicionais a que se referiram os missiondrios no século xvi. A interferéncia portuguesa transformou tais espagos de comércio, privilegiando a venda dos escravos, Pois os niimeros que se exigiam para os navios negreiros obrigavam natu- ralmente a abertura de novas feiras. Assim, melhor se compreenderd a ac- tuagao de Ferngo de Sousa que, por meios persuasivos, deveria junto dos sobas obrigé-los, através de virios expedientes, a abrir as feiras antigas ou, em alguns casos, a abrir novos espagos de comércio de escravos bem como de mantimentos. Importa também aqui sublinhar que as feiras de escravos exercidas no territério sob o controlo dos militares portugueses usavam os mesmos métodos que os antigos mercados africanos. Por exemplo, ¢ bastante referenciado nos documentos a figura de maniquitanda", sempre presente "3 Ibidem, p, 223, “Cf. BEATRIX HEINTZE, 1985, pp. 121 ¢ 127, 419 ENCONTRO DE POVOS £ CULTURAS EM ANGOLA nas feiras mandadas abrir aos sobas por Fernao de Sousa. Este personagem &0 correspondente do oficial do rei do Ndongo, que tinha por tarefa vigiar a actividade do comércio nas feiras gerais, particulares ou na do rei, para evitar irregularidades possiveis, como ja aqui tivemos a oportunidade de assinalar, A venda de um cidadao livre, por exemplo, retirava a0 pais um homem livre, que passaria a escravo, caso nao fossem tomadas as devidas precaugdes. O curioso neste caso € 0 termo da lingua kimbundu empregue nos documentos de Fernao de Sousa para nomear o fiscal da feira, Mani- -Quitanda que Beattix Heintze correctamente descodificou. Pensamos tra- tar-se de um cargo que existia naturalmente entre os oficiais do rei do Ndongo nas feiras que os missionérios que acompanharam Novais & corte do Ngola nos anunciaram téo logo tomaram contacto com esta sociedade, € que os Portugueses vo aplicar no circuito que eles prdprios se propdem organizar ¢ controlar, através de afficanos, ao que parece da sua inteira confianca"®. A interferéncia dos Portugueses no circuito comercial do Ndongo, feito & custa de acces de guerra em primeira instdncia, viria a demonstrar mais tarde que a sua adaptagéo na sociedade afticana, ainda que sob © estigma da submissio dos donos da terra, passava necessariamente pela aplicagéo dos mecanismos locais vigentes, como vimos com a ocupacao dos espagos de comércio antigo, isto é as feiras tradicionais no Ndongo « posteriormente com a utilizagio dos mecanismos de controlo até entao empregues pelos Africanos. Vimos finalmente que tais préticas em pouco se diferenciavam das jd conhecidas pelos Portugueses nas sua feiras. 45 Vejacse BEATRIX HEINTZE, 1985, p. 122. 420 AS FEIRAS DO NDONGO, BIBLIOGRAFIA BirmincHaM, David, A Conquista Portuguesa de Angola, Porto, A Regra de Jogo, 1974. —, A Africa Central até 1870, Luanda, Empresa Nacional do Disco ¢ Publicag6es (ENDIPU-U.E.E), 1992. —, Trade and Conflict in Angola, The Mbundu and their Neighbours under the influence of the Portuguese, 1483-1790, Oxford, Clarendon Press, 1966. BiRMINGHAM, David, Grav, Richard (eds.), Pré-Colonial African Trade, Essays on Trade in Central and Eastern Aftica Before 1900, Londres, OUP, 1970. BRASIO, Pe. Anténio, ed. Monumenta Missiondria Africans, 15 vols., Lisboa, Agencia Geral do Ultramar, Academia Portuguesa de Historia, 1952-1988. Baio, Domingos de Abreu, Um Inguérito a Vida Administrativa de Angola e do Brasil. Segundo manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Lisboa. 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