Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
- DIVERSA
Leia também:
+ Quais termos evitar ao se referir a pessoas com deficiência (https://diversa.org.br/educacao-inclusiva/por-onde-comecar/conceitos-
fundamentais/#como-chamar)
Jamais houve ou haverá um única expressão correta, válida definitivamente em todos os tempos e espaços. A
cada época são utilizadas palavras cujos significados são compatíveis com os valores vigentes no período.
Percorramos, mesmo que superficialmente, a trajetória da terminologia utilizada ao longo da história da atenção às
pessoas com deficiência no Brasil.
Foi um avanço a sociedade reconhecer que a pessoa com deficiência poderia ter capacidade, mesmo que
reduzida. Mas, ao mesmo tempo, considerava-se que a deficiência, qualquer que fosse o tipo, eliminava ou reduzia
a capacidade da pessoa em todos os aspectos: físico, psicológico, social, profissional etc.
https://diversa.org.br/artigos/como-chamar-pessoas-que-tem-deficiencia/ 1/6
28/07/2020 Como chamar as pessoas que têm deficiência? - DIVERSA
Simultaneamente, difundia-se o movimento em defesa dos direitos das “pessoas superdotadas”, expressão
substituída posteriormente por “pessoas com altas habilidades” ou “pessoas com indícios de altas habilidades”. O
movimento mostrou que a expressão “os excepcionais” não poderia referir-se exclusivamente àqueles com
deficiência intelectual, pois as pessoas com altas habilidades/superdotação também seriam excepcionais por
estarem na outra ponta da curva da inteligência humana.
A década de 1980
Por pressão das organizações de pessoas com deficiência, a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou
1981 como Ano internacional das pessoas deficientes. E o mundo achou difícil começar a dizer e escrever
“pessoas deficientes”. O impacto dessa terminologia foi profundo e ajudou a melhorar a imagem desse segmento
da sociedade. Foi atribuído o valor “pessoas” àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direitos e dignidade
a todos.
• Pessoas deficientes: o substantivo “deficientes” passou a ser utilizado como adjetivo, sendo-lhe acrescentado o
substantivo “pessoas”.
De 1988 a 1993
Líderes de organizações de pessoas com deficiência passaram a contestar a expressão “pessoa deficiente”,
alegando que ela sinalizava que a pessoa inteira seria deficiente. Ganhou terreno o termo “pessoas portadoras de
deficiência” nos países de língua portuguesa. Pela lei do menos esforço, logo foi reduzido para “portadores de
deficiência”.
“Portar uma deficiência” passou a ser um valor agregado à pessoa. Com isso, a deficiência passou a ser um
detalhe da pessoa. O termo foi adotado na Constituição federal e em todas as leis e políticas públicas. Conselhos,
coordenadorias e associações passaram a incluir a expressão em seus nomes formais.
• Pessoas portadoras de deficiência: foi proposto para substituir “pessoas deficientes”.
A partir de 2000
O fim da década de 1990 e a primeira década do século XXI foram marcadas por eventos mundiais liderados por
organizações de pessoas com deficiência. A Declaração de Salamanca preconiza a expressão “pessoas com
deficiência”, com a qual os valores agregados às pessoas com deficiência passou a ser o do empoderamento (uso
do poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle da situação de cada um) e o da
responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a sociedade rumo à inclusão de todas as pessoas,
com ou sem deficiência.
https://diversa.org.br/artigos/como-chamar-pessoas-que-tem-deficiencia/ 2/6
28/07/2020 Como chamar as pessoas que têm deficiência? - DIVERSA
• Pessoas com deficiência: passa a ser o termo preferido por um número cada vez maior de adeptos, boa parte
dos quais é constituída por pessoas com deficiência.
Os princípios da terminologia
Os movimentos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo os do Brasil, já fecharam a questão: querem ser
chamados de “pessoas com deficiência”, em todos os idiomas. Esse termo faz parte do texto da Convenção sobre
os direitos das pessoas com deficiência (https://diversa.org.br/educacao-inclusiva/por-onde-comecar/marcos-legais/#convencao-da-onu-sobre-os-
direitos-das-pessoas-com-deficiencia),
adotado pela ONU em 2006, ratificado com equivalência de emenda constitucional no
Brasil através do Decreto Legislativo nº 186 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Congresso/DLG/DLG-186-2008.htm) e
promulgado por meio do Decreto nº 6.949 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm), em 2009. Os
princípios básicos para os movimentos terem chegado a essa terminologia foram:
Não esconder ou camuflar a deficiência;
Não aceitar o consolo da falsa ideia de que todos têm deficiência;
Mostrar com dignidade a realidade da deficiência;
Valorizar as diferenças e necessidades decorrentes da deficiência;
Combater eufemismos que tentam diluir as diferenças, tais como “pessoas com capacidades especiais”, “pessoas
com eficiências diferentes”, “pessoas com habilidades diferenciadas”, “pessoas dEficientes”, “pessoas com
disfunção funcional” etc.
Defender a igualdade entre pessoas com deficiência e sem deficiência em termos de direitos e dignidade, o que
exige a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência;
Identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes e a partir daí encontrar medidas específicas
para o Estado e a sociedade diminuírem ou eliminarem as “restrições de participação” (dificuldades ou
incapacidades causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência).
Conclusão
A tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra “portadora”. Tanto o verbo “portar” como o
substantivo ou o adjetivo “portador” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa.
Por exemplo, não dizemos que certa pessoa é portadora de olhos verdes ou pele morena. Uma pessoa só pode
portar algo de modo deliberado ou casual. Por exemplo, uma pessoa pode portar um guarda-chuva se houver
necessidade e deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou se assim decidir. Não se pode fazer isso com uma
deficiência, é claro.
A quase totalidade dos documentos, a seguir mencionados, foi escrita e aprovada por organizações de pessoas
com deficiência que nos debates para a elaboração do texto da Convenção sobre os direitos das pessoas com
deficiência chegaram ao consenso quanto a adotar a expressão “pessoas com deficiência” em todas as suas
manifestações orais ou escritas.
Documentos do Sistema ONU
• 1990 – Declaração mundial sobre educação para todos (Unesco)
(http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf);
• 1993 – Normas sobre a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência (ONU);
• 1993 – Inclusão plena e positiva de pessoas com deficiência em todos os aspectos da sociedade (ONU);
• 1994 – Declaração de Salamanca (http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf) e linhas de ação sobre educação para
necessidades especiais (Unesco);
• 2001 – Classificação internacional de funcionalidade, deficiência e saúde (OMS);
• 2004 – Declaração de Montreal sobre deficiência intelectual
(http://www.portalinclusivo.ce.gov.br/phocadownload/cartilhasdeficiente/declaracaodemontreal.pdf) (OMS-Opas);
• 2004 – Declaração sobre o dia internacional das pessoas com deficiência (OIT);
• 2006 – Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência (https://diversa.org.br/educacao-inclusiva/por-onde-
comecar/marcos-legais/#convencao-da-onu-sobre-os-direitos-das-pessoas-com-deficiencia) e Protocolo facultativo à convenção sobre os
https://diversa.org.br/artigos/como-chamar-pessoas-que-tem-deficiencia/ 3/6
28/07/2020 Como chamar as pessoas que têm deficiência? - DIVERSA
Romeu Kazumi Sassaki é consultor de inclusão social, educação inclusiva e inclusão laboral. Presidente da
Associação nacional do emprego apoiado (Anea).
© Instituto Rodrigo Mendes. Licença Creative Commons BY-NC-ND 2.5 (https://creativecommons.org/licenses/by-
nc-nd/2.5/br/). A cópia, distribuição e transmissão dessa obra são livres, sob as seguintes condições: Você deve
creditar a obra como de autoria de Romeu Kazumi Sassaki e licenciada pelo Instituto Rodrigo Mendes
(http://institutorodrigomendes.org.br/) e DIVERSA (https://diversa.org.br).
TAMBÉM EM DIVERSA
Estudo avalia a percepção Mãe de garota com Saiba quais são os Profissional d
dos moradores da cidade de Síndrome de Down conta principais pontos para ficar como criou es
São Paulo sobre … como enfrentou dilema … atento nas eleições 2018 … inclusão esco
https://diversa.org.br/artigos/como-chamar-pessoas-que-tem-deficiencia/ 4/6
28/07/2020 Como chamar as pessoas que têm deficiência? - DIVERSA
Participe da discussão...
Nome
Ele " regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para
a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras
providências."
A nomenclatura "Pessoa Portadora de Deficiência" não devia ser alterada nos textos de leis e
decretos?
△ ▽ • Responder • Compartilhar ›
Nesta cadeira também temos que nos preocupar com pessoas, que chamarei aqui de,
"dependentes" de necessidades especiais, já que "portador" é uma pessoa que porta, que
carrega alguma coisa, um documento, uma bagagem, etc... e certamente, se fosse
possível, nenhuma pessoa iria gostar de "carregar", trazer consigo qualquer tipo de
anomalia psíquica, fisiológica ou anatômica. E lembro que esse termo foi debatido em aula,
por isso estou trazendo aqui.
Era isso!
Abraços! :D
1△ ▽ • Responder • Compartilhar ›
Olá, Salete,
Abraços,
△ ▽ • Responder • Compartilhar ›
https://diversa.org.br/artigos/como-chamar-pessoas-que-tem-deficiencia/ 6/6