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RESUMO
1
Bacharel em Nutrição. Especialista em Nutrição Materno-Infantil. E-mail:
carolinevieiranutri@hotmail.com
2
Bacharel em Nutrição. E-mail: ariane.assisfreires@gmail.com
³ Bacharel em Nutrição. Especialista em Nutrição Esportiva. E-mail: patriciacristi_@hotmail.com
4
Bacharel em Nutrição. Especialista em Nutrição Clínica e Hospitalar. E-mail:
caroline.portonutri@esamaz.com.br
1. INTRODUÇÃO
Definido como um conjunto de desordens neurais, o Transtorno do
espectro autista (TEA) reflete no indivíduo danos no convívio social,
comunicação e comportamento, além de tornar seus interesses e atividades
restritivos e repetitivos (GALISHI et. al., 2016; HARRINGTON E ALLEN, 2014).
De acordo com a CID 10, o autismo classifica-se como um Transtorno
Global do Desenvolvimento e abrange as seguintes síndromes: Transtorno
desintegrativo da infância, Síndrome de Asperger e o Autismo infantil, Autismo
atípico, Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e movimentos
estereotipados e Transtornos globais não especificados do desenvolvimento
(TID SOE). Já segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM- 5), o autismo passou a ser denominado Transtorno do Espectro
Autista (TEA), onde apenas o TID SOE não integra mais a nova classificação
(APA, 2014; ARAÚJO E NETO, 2014).
Ainda que não se tenha chegado a uma causa específica e também não
se conheça uma cura possível, várias linhas de estudos têm sido identificadas
para colaborar com um progresso positivo na sintomatologia dos indivíduos que
apresentam essa condição. Uma delas é de que a Nutrição, de várias formas,
tem influência direta na melhora clínica do transtorno do espectro autístico.
Através da pesquisa foi possível constatar que os sintomas
gastrointestinais podem ser tratados através da intervenção dietoterápica como
restrições alimentares (retirada do glúten e da caseína), manutenção da flora
intestinal, mantendo assim a conexão cérebro-intestinal e consequentemente
influenciando no estado comportamental dos pacientes. A suplementação de
vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais é de suma importância devido à
baixa ingestão e variedade de alimentos pelo autista, como também em relação
ao aumento da permeabilidade intestinal, colaborando com a diminuição de
alguns sintomas e beneficiando o estado nutricional do paciente.
Dessa feita, essa revisão bibliográfica tem como objetivo identificar as
diversas formas de Intervenções Nutricionais que contribuem para melhoria dos
sintomas dos pacientes e, por conseguinte para uma melhor qualidade de vida.
2. MATERIAL E MÉTODOS
3.2 SINTOMATOLOGIA
Segundo Facion (2013), o autismo é uma síndrome, consequentemente
um conjunto de sintomas, presente desde o nascimento e que se revela
invariavelmente antes dos 3 anos de idade. Essa síndrome caracteriza-se por
respostas anômalas a estímulos auditivos e/ou visuais e por dificuldades
graves na compreensão da linguagem oral. A fala leva tempo a aparecer e,
quando ocorre, pode-se observar a ecolalia (repetição de palavras), o uso
inadequado de pronomes, estrutura gramatical imatura e grande inaptidão para
usar termos abstratos.
O autismo apresenta uma tríade como sintomatologia básica: dificuldade
de interação social, déficit da comunicação verbal, interesses restritos e
padrões repetitivos (estereotipias). Pessoas com autismo podem ser
classificadas atualmente em três graus: leve, moderado e severo (FACION,
2013).
3.3 PREVALÊNCIA
A prevalência mundial dos Transtornos do Espectro do Autismo é
estimada atualmente entre 1% e 3%. À escala global, os estudos sobre a
prevalência mostram valores variados desta, estas diferenças podem ser
justificadas devidas os distintos meios de diagnóstico disponíveis, as diferentes
condições das redes de saúde e o acesso a estas, escolaridade e
consciencialização ou exposições ambientais (ISAÍAS, 2019).
Em 2010, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, dois de abril,
a ONU declarou que é possível que a doença atinja cerca de 70 milhões de
pessoas em todo o mundo, afetando a maneira como esses indivíduos se
comunicam e interagem. O Autismo, afeta em média uma em cada 110
crianças nascidas nos Estados Unidos, de acordo com o Centro de Controle
e Prevenção de Doenças (CDC) em 2006.
Teixeira (2010) diz que a prevalência do Autismo no Brasil ainda não é
conhecida, sendo utilizada a maioria dos dados populacionais sobre TEA de
países desenvolvidos.
3.4 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito por meio de uma série de diferentes medidas e
instrumentos de triagem, sendo a escala CARS (Childhood Autism Rating
Scale ou “Escala de Pontuação para Autismo na Infância”) de Schopler a mais
utilizada e eficaz, sendo traduzida em vários idiomas (RAPIN e GOLDMAN,
2008).
As formas mais graves dos transtornos do espectro do autismo são
diagnosticadas nos primeiros anos de vida, enquanto formas moderadas são
identificadas apenas a partir da entrada na escola (MANDELL, NOVAK &
ZUBRITSKY APUD ALBORES-GALLO ET AL. 2008).
A dificuldade de diagnóstico tem como consequência um atraso na
busca dos recursos necessários ao atendimento e educação da criança.
Consideramos que o diagnóstico precoce é importante porque propicia que a
criança autista seja encaminhada o mais cedo possível para terapias e
educação especializada, o que certamente resultará em melhores condições
para seu desenvolvimento (JENDREIECK, 2014).
3.7.1.2 Probióticos
Probióticos são microorganismos vivos, que quando administrados em
quantidades adequadas conferem benefícios à saúde do hospedeiro,
melhorando seu equilíbrio microbiano intestinal. O consumo de alimentos que
os contém promove a síntese de vitaminas, a inibição de patógenos, a
reconstituição da microbiota intestinal após o uso de antibióticos, o aumento da
imunidade, a redução da atividade ulcerativa de Helicobacter pylori, o controle
da colite e o possível efeito hipocolesterolêmico (GOLDIN, GORBACH, 2008).
Evidências clínicas indicam que os probióticos interferem no sistema
nervoso central e no comportamento do hospedeiro, restringindo a resposta ao
estresse e a ansiedade, permitindo assim uma nova abordagem para o
tratamento de doenças mentais, como o TEA, através da modulação do eixo
microbioma-intestino-cérebro (LÁZARO; PONDÉ, RODRIGUES, 2017).
Em um estudo realizado com 30 crianças autistas de 5 a 9 anos, foi
utilizado suplemento nutricional de probióticos, com três linhagens probióticas:
Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacteria longum,
durante 3 meses. Os resultados mostraram uma melhora significativa em
comparação ao início do estudo, com melhora na gravidade do autismo e
redução dos sintomas gastrointestinais (SHAABAN et al., 2018).
3.7.1.4 Vitamina D
A vitamina D, ou colecalciferol, é um hormônio esteroide que atua no
desenvolvimento e na manutenção do tecido ósseo, na homeostase normal do
cálcio e do fósforo, na diferenciação e proliferação celular, secreção hormonal,
assim como no sistema imune e em diversas doenças crônicas não
transmissíveis (BOUILLON, 2008).
Pode ser encontrada em alimentos como óleo de peixe, óleo de fígado
de bacalhau e gema de ovo, porém sua ação depende da síntese na pele pela
exposição solar (GREDEL, 2012).
Estudos apontam um aumento na prevalência de autismo em crianças
nascidas em locais com maiores latitudes e em filhos de migrantes de pele
negra. Além disso, é observada uma redução na espessura do metacarpo em
meninos autistas, o que leva à hipótese de que baixos níveis de vitamina D
durante o desenvolvimento poderiam ocasionar a doença (EYLES, 2012).
Saad et al (2016) avaliaram 122 crianças com TEA, comparando três
grupos: o de controle, o com deficiência de vitamina D e outro que recebeu
suplementação de Vitamina D3 (300 UI/kg/dia) por 3 meses. Seus resultados
mostraram que 57% dos pacientes apresentaram insuficiência de vitamina D;
pacientes em casos mais graves de TEA tinham menor concentração dessa
vitamina em relação aos pacientes moderados; o grupo suplementado
apresentou melhora em relação ao comportamento, contato visual e tempo de
atenção (SAAD et al., 2016).
3.7.1.5 Ômega 3
O ômega 3 é um ácido graxo poliinsaturado de cadeia longa, que não
pode ser sintetizado pelos mamíferos, devendo ser proveniente da dieta. É
considerado um alimento funcional e pode ser encontrado em animais
marinhos e óleos de sementes como linhaça e chia (WAITZBERG, 2007).
Está associado a diversos efeitos benéficos à saúde, como a redução
nos níveis plasmáticos dos triglicerídeos, colesterol total e LDL, a ação
vasodilatadora e possível ação na prevenção e/ou tratamento do câncer
(mama, próstata e cólon), depressão e mal de Alzheimer, além de redução da
incidência de aterosclerose, atividade anti-inflamatória, anticoagulante e
antiagregante (MORAES, COLLA, 2006).
Estudos apontam dano oxidativo e processo inflamatório associados ao
TEA. Assim, as manifestações clínicas apresentadas por pacientes autistas
podem estar relacionadas, em parte, pela deficiência ou desequilíbrio de
Ácidos Graxos Poliinsaturados Ômega 3, e a suplementação pode representar
uma alternativa terapêutica para a melhoria dos sintomas (LEE et al, 2014).
Em uma investigação para analisar o uso deste elemento como
adjuvante na terapia do TEA, participaram 13 crianças com sintomas
agravados da patologia, como birras, comportamento auto lesivo e agressão.
Foi utilizado por 6 semanas 1,5g/dia de ácidos graxos ômega-3 (0,84g/dia de
ácido eicosapentaenoico + 0,7g/dia de ácido docosaexaenoico). Em
comparação ao placebo, houve diminuição de sintomas nessas crianças,
principalmente para o fator hiperatividade (AMMINGER et al., 2007).
4. CONCLUSÃO
Por meio da presente revisão de literatura podemos concluir que o TEA
é uma patologia que apresenta características peculiares como a seletividade
alimentar, alterações gastrointestinais, aumento da permeabilidade intestinal,
que causam impacto tanto na qualidade de vida como no estado nutricional do
paciente. Sendo assim, várias estratégias nutricionais como dieta sem glúten e
sem caseína, dieta cetogênica, dieta de carboidratos específicos, dieta baixa
em oxalato, além da utilização de suplemento são empregadas visando
melhorar a sintomatologia e o estado nutricional do autista.
Esta revisão buscou reunir informações acerca das abordagens
nutricionais potencialmente promissoras no tratamento do TEA e enfatizar a
importância de se terem protocolos específicos para esse tratamento. No
entanto, é importante salientar que mesmo com tantos estudos e varias linhas
de pensamento sobre abordagens para diminuir os sintomas gastrointestinais e
comportamentais ligados ao autismo ainda não existe um padrão que se
aplique a todos os casos. Por isso, concluímos que é de suma importância que
mais estudos atuais com tempo e tamanhos de amostras adequados sejam
feitos para que se possa criar protocolos específicos e padronizados para
assim determinar qual intervenção dietéticas é mais adequada para cada caso.
Enquanto não se tem protocolos é importante respeitar a individualidade e
necessidade de cada paciente.
ABSTRACT
Autism Spectrum Disorder (ASD) reflects damage to the individual in social life,
communication and behavior, presenting several peculiarities in relation to food,
therefone, nutrition has a direct influence on the clinical improvement of the
patient. The purpose of this study is to identify the various forms of Nutritional
Interventions that contribute to improving patients' symptoms and their quality of
life. An integrative literature review was carried out in order to gather
information about nutritional interventions in ASD, through the databases
SciELO, Google Scholar and PubMed. The most promising nutritional
interventions found were the Ketogenic Diet, the Specific Carbohydrate Diet, the
Low Oxalate Diet and the Casein and Gluten Restriction Diet. The offer of
various supplements has also been studied, showing satisfactory results, such
as Multivitamins and Multiminerals, Probiotics, Vitamin B12 (Methylcobalamin),
Vitamin D and Omega 3. More prospective controlled studies with adequate
sample sizes are needed before recommendations can be made regarding the
ideal diet for patients with ASD.
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