Você está na página 1de 89

UNIVERDIDADE FEDERAL DO PARANÁ

UFPR

ALINE CRISTINA ZOCANTE MAMEDE

A COMPLEMENTARIEDADE E TIPOS PSICOLÓGICOS NA DINÂMICA

PSÍQUICA EM RELAÇÕES ESTÁVEIS

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

CURITIBA

2016

ALINE CRISTINA ZOCANTE MAMEDE


A COMPLEMENTARIEDADE E TIPOS PSICOLÓGICOS NA DINÂMICA

PSÍQUICA EM RELAÇÕES ESTÁVEIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora


da Universidade Federal do Paraná, como
exigência parcial para a obtenção do título de
Mestre em Psicologia Clínica, sob a
orientação.
Prof Dr. Carlos Augusto Serbena.

CURITIBA

2016
Catalogação na Publicação

Cristiane Rodrigues da Silva – CRB 9/1746

Biblioteca de Ciências Humanas e Educação – UFPR

Mamede, Aline Cristina Zocante


A Complementariedade e Tipos Psicológicos na Dinâmica Psíquica em Relações
Estáveis./ Aline Cristina Zocante Mamede. – Curitiba, 2017.
77 f.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto Serbena.
Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Setor de Ciências Humanas da Universidade
Federal do Paraná.
1. Psicologia Analítica. 2. Tipos Psicológicos. I.Título.
CDD 150
Dedico este trabalho a todos que buscam uma compreensão

maior sobre o amor


AGRADECIMENTOS

A meu orientador, Professor Dr. Carlos Augusto Serbena, por seu apoio,

competência e especial atenção nas revisões e sugestões, fatores fundamentais para a

conclusão deste trabalho, paciência, colaboração e dedicação.

Aos meus amigos Juliane Braz e André Gugelmin Valente, que tanto me

apoiaram, me ajudaram e organizaram as ideias, por vezes tão nebulosas.

A minha família, em especial, meus pais amados Elisabeth e Luiz Mamede que

constantemente torceram e deram força nos momentos mais difíceis. A minha sobrinha,

Juliana, por toda sua alegria e seu amor.

Ao meu namorado, Matheus pelo seu incentivo, compreensão e carinho.

A minha terapeuta Renata Wenth e a minha supervisora Suzana Lyra, tão

especiais por torcerem e acompanharem cada desafio com entusiasmo e otimismo.

A todos aqueles que de algum modo participaram e se envolveram para a

concretização deste trabalho.

Aos meus pacientes e amigos que cederam um tempo para a realização da

pesquisa.

A vida, por me lembrar que sem desafios não há vitórias.


RESUMO

A teoria clássica Junguiana coloca que nos relacionamentos afetivos existe


complementariedade psíquica de atitude e função psicológica, especialmente no
casamento. Tendo em vista as profundas mudanças sócio-culturais e nas configurações
dos papéis de gênero e de conjugalidade o objetivo deste trabalho foi avaliar de forma
exploratória e quantitativa é avaliar a ocorrência de complementariedade psíquica de
atitude e função psicológica em casais heterossexuais com relacionamento estável de
pelo menos doze meses. Para tanto, foram mensurados em uma amostra por
conveniência de 41 casais heterossexuais, resultando em 41 homens e 41 mulheres no
período de março a setembro de 2015 em por meio do Questionário de Avaliação
Tipológica (QUATI) a atitude e a função principais de cada parceiro em casais de
relacionamento estável. Nos casais a idade média das mulheres era de 27,6 anos (DP=
6,4), dos homens 29,5 anos (DP= 6,4) com duração média de 73 meses (DP= 56,2). A
partir disto, determinou-se a oposição ou complementariedade do tipo e função nos
casais e realizou-se uma reflexão critica comparando os dados da pesquisa com a teórica
Junguiana. Os resultados apresentados demonstraram não haver, a princípio, uma
correlação entre tipologias opostas para a composição dos casais, tanto para a função
predominante quanto para a atitude. São observadas limitações do trabalho e realizada
uma reflexão crítica quanto às novas configurações de relacionamentos afetivos e seus
impactos na dinâmica psíquica e na teoria Junguiana.

Palavras-chave: Conjugalidade, tipos psicológicos, psicologia analítica,


complementariedade, oposição.
ABSTRACT

Jungian classical theory states that the affective relationships exist psychic
complementariness attitude and psychological function, especially in marriage. In view
of the profound socio-cultural changes and configurations of gender roles and marital
the purpose of this study was exploratory and quantitative way to assess the occurrence
of psychic complementariness attitude and psychological function in heterosexual
couples with stable the relationship least twelve months. Therefore, they were measured
in a convenience sample of 41 heterosexual couples, resulting in 41 men and 41 women
from March to September 2015 through Typological Assessment Questionnaire
(QUATI) the main attitude and role of each partner in stable relationship of couples. In
couples the average age of women was 27.6 years (SD = 6.4), men 29.5 years (SD =
6.4) with a mean duration of 73 months (SD = 56.2). From this, it was determined the
opposition or complementary type and function in couples and held a critical reflection
comparing the survey data with the Jungian theory. The results presented showed no at
first, a correlation between opposing types for the composition of couples, both the
predominant function as to the attitude. Work limitations are observed and performed a
critical reflection about the new affective relationships settings and their impact on
psychic dynamics and Jungian theory.

Keywords: Conjugality, psychological types, analytical psychology, complementarity,


opposition.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

2. CONJUGALIDADE, COMPLEMENTARIEDADE E PSICOLOGIA

ANALÍTICA ........................................................................................................................ 7

3. TIPOS PSICOLÓGICOS E RELACIONAMENTO .................................................... 13

3.1 TIPOS, FUNÇÃO E ATITUDE PSICOLÓGICA ........................................................... 13

3.2. AS RELAÇÕES AMOROSAS E A PSICOLOGIA ANALÍTICA ................................ 17

3.3. A QUESTÃO DOS OPOSTOS E DA COMPLEMENTARIEDADE PSIQUICA.......... 22

4. PROCEDIMENTO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS .................................... 29

4.1. COLETA DE DADOS .................................................................................................. 29

4.2. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS................................................................ 31

4.3. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS.......................................................... 32

5. RESULTADOS ............................................................................................................ 36

5.1. PERFIL DOS PARTICIPANTES .................................................................................. 36

5.1.1 DADOS SOCIO DEMOGRÁFICOS ........................................................................... 36

5.1.2. PERFIL TIPLÓGICO DOS PARTICIPANTES.......................................................... 38

5.2. COMPARAÇÃO TIPOLÓGICA ENTRE OS CASAIS................................................. 43

5.2.1. COMPLEMENTARIEDADE DE ATITUDE ENTRE OS PARCEIROS ................... 43

5.2.2. COMPLEMENTARIEDADE DA FUNÇÃO PRINCIPAL ........................................ 44

5.2.3. FUNÇÃO AUXILIAR NO CASAL .......................................................................... 45

5.2.4 RELAÇÃO ENTRE AS FUNÇÕES PRINCIPAIS ...................................................... 46

5.2.5. ATITUDE E FUNÇÃO PRINCIPAL NA COMPOSIÇÃO DOS CASAIS ................ 48

5.2.6. RELAÇÃO ENTRE FUNÇÃO PRINCIPAL E FUNÇÃO AUXILIAR ...................... 49

6. DISCUSSÃO: OS DADOS E A TEORIA CLÁSSICA ............................................... 50


7. CONSIDERAÇOES FINAIS: COMPLEMENTARIEDADE, OPOSTOS E

NOVAS CONFIGURAÇÕES DAS RELAÇÕES ............................................................. 57

8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 64

9. ANEXOS ........................................................................................................................ 70

9.1 ANEXO 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................ 71

9.2 ANEXO 2 – Declaração de Responsabilidade ................................................................ 74

9.3. ANEXO 3 – Termo de Confidencialidade ..................................................................... 75

9.4. ANEXO 4 – Roteiro para conferência e aceite de projetos de pesquisa com seres

humanos encaminhados via Plataforma Brasil ao CEP ......................................................... 76


1

1. INTRODUÇÃO

A busca pelo sentimento de plenitude e pela suposta segurança de uma união estável

impulsiona os indivíduos a se relacionarem e a estreitarem laços afetivos. As materializam em

regras esta união entre parceiros.

No Brasil, o artigo 1.723 do Código Civil de 2002, o conceito de união estável é

reconhecida como "entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada

na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de

família" (Brasil, 2002).

De acordo com Diniz (1998), a união estável é "a convivência duradoura, pública e

contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com o objetivo de constituição de

família” (Diniz, 1998, p. 660).

Cahali (2002) refere que para configurar uma união estável, a convivência entre um

homem e uma mulher é independente do casal coabitar, entretanto, os dois não podem ter

outro vínculo marital e precisam conviver como marido e mulher, ter um relacionamento

revestido das características similares a de um casamento e se apresentar à sociedade como

um casal.

Não obstante existam dispositivos legais para proteção dos relacionamentos, no

contexto da modernidade, os laços afetivos se encontram profundamente fragilizados.

Ao se reportar à fragilidade dos laços afetivos, Bauman (2004), utilizou a metáfora

do "amor líquido", referindo que em decorrência do capitalismo de consumo, as relações

humanas se encontram mercantilizadas e os sentimentos são tratados como descartáveis. E

embora se busque união, os relacionamentos humanos se configuram de forma efêmera, e a

busca desesperada pela individualização - característica marcante da sociedade na atualidade

se antagoniza com a necessidade de estreitamento de vínculos afetivos, o que produz em

última análise sentimentos conflitantes.


2

E assim, os relacionamentos "oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como

determinar quando um se transforma no outro. Na maior parte do tempo, esses dois avatares

coabitam - embora em diferentes níveis de consciência" (Bauman, 2004, p.8).

Apesar destas características efêmeras e do afrouxamento dos relacionamentos

afetivos nos tempos modernos, as pessoas buscam a totalidade de uma união e por suprir as

suas necessidades de intimidade, de cumplicidade e de segurança afetiva e de algo mais que

denomina-se “amor”.

De acordo com Stein (1974), o amor é "antes de tudo um movimento em busca de

união" (p.158) e este arquétipo de união e totalidade é uma predisposição humana

fundamental.

Na busca por totalidade as pessoas se unem e da união de duas individualidades e de

seus respectivos projetos de vida, de seus desejos e de seus sonhos se forma a identidade do

casal. Esta identidade também pode ser denominada conjugalidade. A conjugalidade é um

processo complexo que envolve desejos e projetos compartilhados para a construção de uma

realidade comum, em que dois sujeitos ao se relacionarem criam referências comuns e uma

identidade conjugal do casal, na relação que estabelecem com o meio social (Féres-Carneiro

& Neto, 2010).

A ilusão tem significativa importância na construção dos laços afetivos, uma vez que

se destaca como um conceito “fundante do vínculo amoroso: entendida não como algo falso,

mas como algo que é "um produto dos desejos humanos" (Zago, 2009, p.119). Sobre a

projeção da ilusão nos laços conjugais, Neves, Dias & Paravidini (2013), referem:

Na ilusão, o outro pode ser quem se deseja; portanto, no apaixonamento, o outro pode

se tornar facilmente fonte de gratificação colocam dotado de características únicas,

exclusivas e especiais, inclusive se tornando alguém que complementa o que falta ao

outro. O caráter de complementaridade que foi aqui destacado toma forma nesse
3

processo, pois na condição faltante o outro se torna essencial para "preencher" essa

falta (Neves, Dias & Paravidini, 2013, pp.77-78).

O processo que leva à escolha de um parceiro afetivo é complexo e a personalidade

de cada um dos parceiros é um fator importante. A personalidade é uma palavra de origem

latina que significa "alma", e na Psicologia Analítica a personalidade como um todo é

compreendida como psique. A psique "abrange todos os pensamentos, sentimentos e

comportamentos, tanto os conscientes como os inconscientes. Funciona como um guia que

regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico” (Hall & Nordby, 2000, p.25).

A personalidade pode ser compreendida como uma disposição predominante particular

do indivíduo que lhe possibilita adaptar-se simultaneamente às exigências da realidade

objetiva do meio ambiente e social em que está inserido e à realidade de seu mundo subjetivo.

A personalidade é uma forma peculiar do indivíduo funcionar no mundo (Ramos, 2005).

Na década de 1920, o psicólogo e fundador da Psicologia Analítica C. G. Jung

trouxe uma importante contribuição para compreensão da personalidade humana. Em sua obra

intitulada Tipos Psicológicos (Jung, 2011d), publicada originalmente em 1921, ele classificou

os tipos de personalidades de acordo com a disposição e a atitude psíquica que apresentam,

referindo que os tipos de personalidade se constituem a partir dos fluxos libidinais (Ramos,

2005). Ele se refere ao fluxo libidinal como energia dinâmica psíquica que dá vida à psique

(Stein, 2006).

Para Jung (2011d), os tipos se referem à predisposição do fluxo consciente e

inconsciente da libido que fluem em dois sentidos opostos, porém complementares, no

sentido da extroversão e no sentido da introversão. Além destas duas disposições psíquicas, a

psique possui quatro funções, as funções de sensação e intuição e as funções de pensamento e

sentimento que também consistem em mecanismos adaptativos à realidade objetiva e

subjetiva. Em outras palavras, a combinação ou alternância entre as duas predisposições do


4

fluxo e as quatro funções psíquicas constituem o tipo psicológico da personalidade dos

indivíduos. E isto é fundamental na interação do indivíduo com os outros e seus parceiros

afetivos.

Deste modo, é na interação entre duas personalidades singulares que se constrói a

identidade conjugal, e a dinâmica do relacionamento afetivo se estabelece. Para que se

constitua um casal, é necessário que as duas partes envolvidas construam um território em

comum, em que os projetos de vida e os sonhos sejam compartilhados, no entanto, na

sociedade contemporânea, os ideais de relacionamento afetivo enfatizam a necessidade de

manutenção da individualidade, da autonomia e da satisfação de cada indivíduo, em

detrimento de uma identidade conjugal e de laços de dependência entre as partes (Féres-

Carneiro, 1998).

Na perspectiva da Psicologia Analítica, a construção de uma relação estável se inicia a

partir de uma busca por complementariedade de aspectos inconscientes da personalidade,

particularmente nos tipos psicológicos de cada um dos indivíduos que formam o casal e

também envolve tensões trazidas pela díade individualidade - conjugalidade, que os consortes

nem sempre estão preparados a sobrelevar. Este conflito acrescenta dificuldades a serem

superadas nos relacionamentos e geram desencontros que produzem sofrimento e muitas

vezes levam a rupturas traumáticas.

Esta dualidade justifica-se pelo fato do ego, a parte consciente da personalidade, e da

persona, o conjunto de papéis e máscaras sociais, serem complexos afetivos com objetivos

contraditórios e movimentos antagônicos, conforme refere Stein (2006):

O ego movimenta-se de um modo fundamental, no sentido da separação e da

individuação. Há no ego um forte movimento para a autonomia, para uma "egoidade"

que possa funcionar independentemente. Ao mesmo tempo, uma outra parte do ego,

que é aquela onde a pessoa ganha raízes, movimenta-se na direção oposta, no sentido
5

do relacionamento, uma necessidade de separação e independência por um lado, e

uma necessidade de relacionamento e de participação,por outro” (Stein, 2006, p.107).

Para Oliveira (2009), "A dificuldade está em compatibilizar a individualidade e a

reciprocidade familiar, pois, ao abrir espaço para tal individualidade, renovam-se as

concepções das relações familiares" (Oliveira, 2009, p. 67), e o cotidiano das relações sofrem

o impacto destas dificuldades.

O modo de se relacionar e a forma individual de como se entende e se sente em um

relacionamento podem influenciar na forma como se processa a relação, tanto para a

aproximação quanto para o estabelecimento da dinâmica conjugal, uma vez que nessa visão

individual residem expectativas, valores, crenças sobre o amor.

Diante destas questões surge a pergunta de fundo desta pesquisa: Nos relacionamentos

estáveis da atualidade existe um padrão de complementariedade de tipos psicológicos nos

encontros amorosos, na manutenção da relação afetiva e, consequentemente, nos possíveis

aspectos que culminam no rompimento destas?

Buscando responder esta questão, objetiva-se estudar as relações complexas entre a

tipologia psicológica e a busca do parceiro nos envolvimentos amorosos, especificamente a

questão da existência da complementariedade psíquica entre os parceiros em relações

estáveis.

A questão da complementariedade e, por consequência dos opostos, é um eixo central

na obra Junguiana e na teoria da Psicologia Analítica e se apresenta claramente na teoria dos

tipos psicológicos de Jung (2011d). O tipo psicológico é configurado pela atitude e pela

função dominante. A função é a forma de funcionamento dominante na consciência egóica do

indivíduo e constitui-se de dois pares de opostos, a saber, o par pensamento e sentimento e o

par sensação e intuição. A atitude determina o fluxo predominante da libido, sendo


6

introversão coma libido dirigindo-se para objetos internos e extroversão para objetos externos

(Jung, 2011d).

Esta teoria propicia uma compreensão do inconsciente e seus contrastes na vivência

humana. A psique é formada por basicamente dois polos que se complementam: consciente e

inconsciente, em um processo constante de interação. Isto se repete na questão dos tipos

psicológicos, pois se a personalidade consciente se constitui em um determinado tipo

psicológico, o inconsciente tende a ter o funcionamento delimitado pelo tipo oposto ao da

consciência. A psique, segundo a Psicologia Analítica tende a compensar o tipo psicológico

oposto à personalidade do sujeito procurando relacionar-se com personalidades com o tipo

oposto ao da consciência, o que se reflete em muitos relacionamentos conjugais (Jung,

2011d).

Deste modo, a pesquisa dos tipos psicológicos de casais contemporâneos é uma

importante ferramenta para compreensão das nuances da dinâmica das relações afetivas

atuais, apesar da pouca literatura encontrada sobre este assunto. Os diferentes tipos

psicológicos são verificados na prática clínica, porém dada a fecundidade da teoria dos tipos

foram desenvolvidos instrumentos psicométricos e quantitativos na forma de questionários de

avaliação dos tipos e funções, destacando-se o Indicador de Tipos Myers-Briggs (Myers-

Briggs Type Indicator, mais conhecido por sua sigla, o MBTI) nos EUA e o Questionário de

Avaliação Tipológica (QUATI) no Brasil (Zacharias, 2000).

Na literatura pesquisada para este trabalho foram encontradas pesquisas qualitativas

sobre a tipologia dos relacionamentos, porém não foram encontradas comparações

quantitativas de abordagem os psicométricas. A psicometria explica o sentido das respostas

fornecidas pelos sujeitos através de dados quantitativos com relação a tarefas e propõe

técnicas para medir os processos mentais, fornecendo um complemento importante, mas

relativo ao grupo de pessoas (Pasquali, 2009).


7

Assim, o principal objetivo desta pesquisa é avaliar a existência de

complementariedade psíquica de atitude e função psicológica, segundo a teoria Junguiana, dos

parceiros de um relacionamento estável.

Para tanto, foram mensurados por meio do Questionário de Avaliação Tipológica

(QUATI) (Zacharias, 2000) a atitude e a função principais de cada parceiro em casais de

relacionamento estável. A partir disto, determinou-se a oposição ou complementariedade do

tipo e função nos casais e realizou-se uma reflexão critica comparando os dados da pesquisa

com a teórica Junguiana.

Sendo uma pesquisa de caráter quantitativo a pesquisa foi estruturada em duas

hipóteses básicas, decorrentes da abordagem Junguiana: (I) há uma porcentagem significativa

de díades conjugais nos quais os parceiros apresentam função principal opostas e (II) há uma

porcentagem significativa de díades conjugais nos quais os parceiros apresentam atitudes

psicológicas opostas.

2. CONJUGALIDADE, COMPLEMENTARIEDADE E PSICOLOGIA ANALÍTICA

Pode-se afirmar uma mudança comportamental nos relacionamentos conjugais que, há

algumas décadas, vêm apresentando um novo panorama neste contexto. Antes, com o

advento do amor romântico, os papeis de cada gênero na relação heterossexual era bem

delineado, a mulher cuidava das relações afetivas, dos afazeres domésticos e pouco se

preocupava com ambições profissionais, além da responsabilização pela educação e cuidados

com os filhos. Os homens, por sua vez, buscavam a estabilidade financeira, o status social e o

desempenho intelectual, pouco opinava na educação dos filhos.

Aos poucos, esse quadro começara a dar passos de mudanças, mulheres buscando a

igualdade com os homens (Giddens, 1993, p. 9), realização pessoal e profissional, alterando

significativamente o contexto da relação conjugal, e assim propiciando uma nova forma de

relacionamento. Essa moderna conjectura tem trazido transformações e inquietações sobre os


8

papeis de cada um na relação e nos laços afetivos. Amores antes sólidos, hoje se tornaram

líquidos, dissolvendo juras de amor frágeis aos sinais dos primeiros desentendimentos:

Homens e mulheres anseiam relacionar-se na busca pela segurança e cumplicidade em

momentos de aflição. Em contraponto, essa circunstância abarca encargos e tensões

que não estão preparados e nem determinados a sobrelevar. A ambiguidade dos

sentimentos, como o amor e o ódio, geram conflitos e não há como prever quando um

se transforma no outro, mas é por meio da frustração que a consciência é revelada

(Bauman, 2004, p. 8-9).

De acordo com a teoria sistêmica, a conjugalidade é vista como uma estrutura

complexa que envolve um processo de construção de realidade comum, ou seja, dois sujeitos

individuais que ao se relacionar, criam referências comuns e uma identidade conjugal, do

casal e desse na relação com o meio social, e assim, concretizam a realidade psicossocial de

cada um (Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010).

A experiência de juntar duas individualidades, dois projetos individuais, desejos,

sonhos em um só é o que se denomina identidade do casal ou conjugalidade na orientação

sistêmica. Segundo Féres-Carneiro dois itens caracterizam a realização da conjugalidade: a

sexualidade e a aliança. A sexualidade dentro de um casamento tem a realização da junção de

duas individualidades, de duas famílias distintas que se unem para a procrastinação e

perpetuação de uma nova família e a aliança é a interação do grupo sob a escassez de bens

considerados essenciais para a sobrevivência (Féres-Carneiro, 1998).

O processo que leva a escolha de um parceiro afetivo é, até hoje um desconhecido

mistério podendo dizer que quando se tenta compreender os motivos pelos quais essa decisão

ocorre e para tanto, tal escolha pode fornecer dados importantes à dinâmica conjugal dos

casais.
9

A personalidade é um fator importante na observação do comportamento conjugal e

um modo para a compreensão da dinâmica do relacionamento afetivo, pois é na soma de duas

personalidades singulares que se constrói uma identidade conjugal.

Para a Psicologia Analítica o objeto de estudo é a psique, a totalidade na qual se

encontra a consciência e o inconsciente. Concebe como uma possibilidade o inconsciente ser

um meio de escolha do parceiro em uma relação afetiva, assim, aspectos de

complementariedade psíquica podem ficar evidenciados nessa opção inconsciente (Jung,

2011j). Entender o amor como uma metáfora, um simbolismo que desponta como mais uma

forma de individuar-se, conhecer a si mesmo através das relações.

Não obstante para a Psicanálise, segundo Neves, Dias e Paravidini (2013) a

conjugalidade é vista também como uma forma de complementariedade, no caso, uma

realização de um desejo de encontrar o objeto perdido, ou seja, a ilusão de encontrar algo

faltante, que na infância é representado pela separação da relação simbiótica com a mãe,

necessária para sair do narcisismo primário, e integrar e formar o eu. Sobre essa projeção nos

laços conjugais, a ilusão é um conceito fundamental entendida como um produto dos desejos

humanos (Zago, 2009).

Na ilusão, o outro pode ser quem se deseja; portanto, no apaixonamento, o outro pode

se tornar facilmente fonte de gratificação, dotado de características únicas, exclusivas e

especiais, inclusive se tornando alguém que complementa o que falta ao outro. O caráter de

complementaridade que foi aqui destacado toma forma nesse processo, pois na condição

faltante o outro se torna essencial para "preencher" essa falta.

Esta complementariedade aparece claramente no conceito do amor romântico, no qual

o homem e a mulher formam um par complementar. A psicologia Analítica interpreta isto

como o encontro e projeção mútua dos parceiros de dois complexos da psique que são

normalmente inconscientes: anima e animus Stein (2006). A anima corresponde à imagem


10

inconsciente do feminino no homem e o animus a imagem inconsciente do masculino na

mulher. Em um relacionamento íntimo não são apenas os egos que se relacionam, mas após

um tempo de convivência, o relacionamento começa a apresentar algumas características

inconscientes destas estruturas psíquicas, que durante o período de namoro constituíram

fatores de atração para ambos os parceiros.

Outro aspecto relevante na relação é a atuação da sombra em diversas situações do

dia-a-dia. Jung debruçou boa parte de seus estudos sobre esse tema, seu interesse estava em

comprovar a ideia de complementariedade psíquica através dos opostos. Jung (2011g, 2011h)

promove discussão em algumas de suas obras sobre a ideia de bem e mal nas religiões e na

vida cotidiana.

Ele trata a sombra como um conteúdo de caráter psicológico, diferente do caráter de

conduta moral e ética. Faz uma crítica a esse corte que as religiões promovem, principalmente

no cristianismo. Defende a ideia proposta pelos gnósticos de que Cristo teria sim nascido com

uma sombra, contudo, os escritos dizem que esta foi destacada. Se destacada, essa metade

escura seria a representação simbólica de Satanás. (Jung, 2015)

Assim a moral cristã tenta evidenciar apenas o lado bom da personalidade de Cristo, o

que vai em desencontro a totalidade do sujeito. Esse movimento proposto pelas igrejas retira a

capacidade do sujeito de realizar o autoconhecimento e consequentemente fomenta a projeção

fora, ou seja, o aspecto negativo da minha personalidade é projetada fora, em algo alheio a

mim.

A sombra é o aspecto obscuro das inferioridades do sujeito. E todos os seres humanos,

sem exceção, segundo a psicologia analítica, possuem a sombra. Tem energia e por isso são

autônomos, e quando integrados à consciência são fonte criativa pois propicia o

autoconhecimento.
11

Entretanto, segundo Jung (2011g), as projeções são refletidas pelo sexo oposto são as

figuras de anima no homem e animus na mulher. A sombra por se tratar de conteúdos do

inconsciente pessoal são acessadas pela consciência sem dificuldades, diferente dos conteúdos

de anima e animus que encontram-se distantes da consciência e que em condições normais

não são percebidos. A anima está para Eros (feminino), como o animus está para o Logos

(masculino) psicompompos para o caminho da individuação, e através desses opostos, o

casamento é o lugar onde é possível a construção de uma relação de fertilidade para o

desenvolvimento do sujeito, pois o outro é o espelho que revelará, muitas vezes, o labirinto

desconhecido da face inferior da personalidade.

Os pais têm uma participação fundamental nas imagens de anima e animus dos

sujeitos e por isso, se não bem trabalhadas podem resvalar no parceiro conjugal. E desta

forma procrastinar o autoconhecimento do sujeito que projetará no cônjuge esse ideal

imagético.

Não é de se espantar que em muitas vezes os cônjuges se aproximem de tipos opostos

para a integração de aspectos obscuros em sua própria personalidade, tema da pesquisa em

questão. Por esse prisma, a psicologia analítica defende a ideia de complementariedade

psíquica, trazendo para o casamento, tipos psicológicos opostos. Entretanto a projeção oposta

pode ser trabalhada, dependendo do nível de maturidade do sujeito, no recolhimento dos

conteúdos projetivos e não necessariamente observados no parceiro conjugal.

Ao escrever sobre o filme o Anjo Azul, traz a problemática da sombra nas relações

conjugais, Byington (2010), afirma que a paixão

[...]é o primeiro capítulo do amor, que é o encontro pleno, construído pela sizígia da

anima e do animus dentro da alteridade. Por isso, o amor é quaternário, podendo o ego

interagir com as polaridades em relação dialética, inclusive a sombra, da mesma forma

que o outro (Byington, 2010, p. 37).


12

Ao discorrer sobre o filme, o autor relata a complementariedade psíquica de uma

relação sadomasoquista, em que o ator principal é masoquista e se apaixona por uma mulher

sádica que o rejeita e o humilha. Um projeta a sombra no outro. Sobre essa relação, afirma o

autor:

No sadomasoquismo, a função erótica é defensivamente submetida à função do poder,

de tal forma que a carência emocional do sádico é projetada no masoquista e a seguir

atacada. A paixão quando se torna sombria, isto é, defensiva patológica é

especialmente propícia para a dinâmica sadomasoquista. É a própria intensidade

emocional que, quando frustrada, causa fixação e agressividade defensiva, isto é

sombria. Assim, o masoquista recebe a agressividade que ele próprio deposita

defensivamente no sádico e, ao fazê-lo, posa de anjo e transforma o sádico cada vez

mais em demônio. Por isso, quanto mais o masoquista se submete à agressividade do

sádico e, ao se vitimizar, vence a disputa de poder pela angelização, mais o sádico

derrotado como vilão se enfurece e ataca com redobrado vigor. Esta é a psicodinâmica

da relação sadomasoquista (Byington, 2010, p. 37).

Aqui a patologia sadomasoquista evidencia a sombra um do outro, como uma forma

complementar, de subsistência. Nessa primeira etapa de fusão com o outro, na fase da paixão,

os arquétipos de anima e animus se constelam e a atuação da sombra fica desapercebida, e só

após a convivência diária é que ocorre a desilusão da paixão e o recolhimento da projeção.

(Byington, 2010).

Somente quando cada parceiro admitir e reconhecer a própria sombra é que a relação

poderá propiciar o desenvolvimento dialético e profundo consigo e com o outro, formando um

vínculo de alteridade maturidade relacional.

Além disto, a busca da totalidade aparece também na complementariedade da atitude,

onde um indivíduo com atitude dominante extrovertida tende a ser fortemente atraído por
13

alguém com atitude dominante oposta, isto é, introvertida. O mesmo ocorre em relação à

função psicológica, um sujeito com função dominante pensamento ou sensação tende

possuir atração por um possível parceiro com dominante oposta, isto é, sentimento ou

intuição respectivamente (Jung, 2011f).

Neste sentido o jogo não confessado de cada sujeito entre a consciência e o

inconsciente é reproduzido na relação. Deste modo, sob a perspectiva de que o outro

responda as suas angústias e com a expectativa de que o parceiro o liberte de seu conflito.

Esse arranjo seria uma matriz interacional, que organiza a vida amorosa do casal. Através

dessa realidade afetiva da conjugalidade, há uma troca de manifestações da personalidade

dos parceiros que propiciam um enredo em comum, que se organiza e se complementa

(Férez-Carneiro, 1998).

3. TIPOS PSICOLÓGICOS E RELACIONAMENTO

3.1 TIPOS, FUNÇÃO E ATITUDE PSICOLÓGICA

A teoria dos tipos psicológicos não é uma verdade absoluta, mas representa uma etapa

na busca de autoconhecimento do homem. Neste processo, um dos meios é utilizar-se de

sistemas classificatórios como ferramenta na busca de si. Os esforços em assentar a teoria da

personalidade com a prática psicoterápica como fonte de tratamento de doenças psiquiátricas

abriram a possibilidade de analisar o comportamento do homem em sua totalidade. Pode-se

observar, por exemplo, na medicina grega, por meio de Hipócrates (460 A.C – 370 A. C.),

que institui a filosofia naturalista com base nos 4 elementos da natureza (ar, fogo, água e

terra), a teoria dos humores, e o desequilíbrio desses resultariam em um quadro de doenças

(Zacharias, 2006).

Sob esse mesmo prisma, Galeno (130 D. C.- 217 D.C) cria sua teoria das faculdades

naturais que consistia na capacidade dos órgãos do corpo humano teriam a capacidade em

atrair o que lhe era positivo e expulsar o que lhe era negativo, estabelecendo a patologia
14

humoral, ou seja, o tipo melancólico à bílis negra, o tipo fleumático à inflamação do muco, e

assim por diante (Zacharias, 2006).

Com o desenvolvimento da Psicologia na metade do século XIX houve também a

expansão dos estudos neurológicos. Influenciados pelas ideias iluministas, discípulos dos

médicos Philippe Pinel (1745-1826) e Esquirol (1772-1840) desenvolveram sistemas de

descrição e classificação da psique humana (Zacharias, 2006).

Em termos comuns tende-se a relacionar C. G. Jung como discípulo e dissidente do

movimento freudiano, entretanto ele foi fortemente influenciado pelos ideais do romantismo,

que valoriza o irracional, a subjetividade, a natureza e o desconhecido. Assim, o rompimento

de Jung com Freud deve-se, além da questão do alcance da libido, á própria visão de mundo,

natureza e do psiquismo humano.

Nesta perspectiva, a personalidade do indivíduo deixa de ser tratada em um caráter

puramente biologicista e passa a ser bem mais psicológico, com a ideia dos complexos e das

atitudes típicas, o que seria impossível sem a ideia do inconsciente, desse modo, transpondo

os limites da psiquiatria (Jung, 2011a). “Para Jung, a psique expressa manifestações do

próprio sujeito e institui regularidades ou tipos” (Zacharias, 2006) e há um caminhar em

direção à totalidade. Em termos psicológicos isto representa a integração de conteúdos

inconscientes e uma plenitude de funcionamento psíquico que se expressa na questão dos

tipos psicológicos, isto é, da atitude e da função psíquica.

Esta é definida por Jung como “certa forma de atividade psíquica que, em princípio,

permanece idêntica sob condições diversas” (Jung, 2011d), sendo diferenciadas duas funções

de caráter avaliativo e, por isto, racionais (pensamento e sentimento) e duas funções de

percepção ou irracionais (sensação e intuição). Estas quatro funções podem ser representadas

graficamente por uma cruz onde a linha vertical se refere às funções racionais e a linha

horizontal as função irracionais (Figura 1).


15

Pensamento

Funções Irracionais  Sensação Intuição

Sentimento

Funções Racionais

Figura 1. Função Psíquica

As funções podem ser resumidas desta forma: “a sensação diz que alguma coisa é; o

pensamento exprime o que ela é; o sentimento exprime-lhe o valor.” (Jung, 2011d, p. 24) e a

intuição “é a função pela qual se antevê o que se passa pela esquinas, coisa que habitualmente

não é possível” (Jung, 2011d).

São consideradas funções racionais o pensamento e o sentimento porque avaliam os

objetos, pois sentimento mensura o valor dos objetos ou conteúdos para consciência e o

pensamento diferencia os objetos, realizando conexões causais e a relacionando os conceitos

com suas representações. A intuição e a sensação são funções de percepção e, deste modo,

irracionais. A sensação é resultado dos sentidos e corresponde com a percepção da realidade

simples e objetiva e dos seus detalhes. A percepção de processos sutis e do inconsciente é

responsabilidade da intuição.

A função predominante, principal ou superior corresponde ao modo de funcionar mais

frequente ou habitual, pois no seu desenvolvimento psíquico o indivíduo seleciona uma

função, se habitua a ela e tende a desenvolvê-la e deste modo, a consciência identifica-se com

ela. A função oposta, não sendo utilizada, permanece primitiva e inconsciente sendo

denominada de inferior. Assim, “nenhum indivíduo possui os dois opostos

[pensamento/sentimento ou sensação/intuição] agindo simultaneamente no mesmo grau de

desenvolvimento” (Jung, 2011d).


16

O mesmo modo ocorre quanto à atitude psicológica. “Na introversão, o sujeito é mais

determinado pelos objetos de seu interesse e o de outros mais pelo seu interior, pelo

subjetivo” (Jung, 2011d), sendo o centro do seu interesse sua própria subjetividade. Na atitude

extrovertida, ocorre o oposto, o centro de interesse é o objeto externo, que “recebe o valor

preponderante. O sujeito tem sempre importância secundária (Jung, 2011d) e neste caso a

subjetividade é secundária ou perturba o mundo objetivo.

No seu processo de amadurecimento e desenvolvimento o sujeito constitui o ego

separando o mesmo do inconsciente e determina um modo principal de funcionamento

psicológico, uma determinada atitude e função psicológica com a atitude e função oposta

permanecendo inferior e inconsciente. Assim, considerando o amor como uma busca de

completude, a questão da relação e da completude também envolve os tipos psicológicos.


17

3.2. AS RELAÇÕES AMOROSAS E A PSICOLOGIA ANALÍTICA

Um dos mais importantes aspectos que se toma na clínica envolve o amor e suas

relações. O amor é um enigma, ao mesmo tempo em que acalenta, faz as pessoas perderem

sua estabilidade (nos faz perder o chão), e é na conjugalidade que os aspectos de amor e ódio

se intercalam quando se trata de relações afetivas.

Amar significa abrir-se ao novo, a um futuro incerto e confuso, em que o medo se

funde ao desejo, possibilitando a satisfação do amor individual, para tanto se exige

elementos de coragem, fé e disciplina (Bauman, 2004, p. 21).

Passando de uma sociedade em que as pessoas se relacionavam por interesses e

posições sociais a uma nova organização em que a abertura para a cultura propiciou um maior

poder de decisão, escolha e exigência peculiares a cada sujeito, assim as relações afetivas vão

de encontro com projeções e necessidades individuais (Jung, 2011d).

Gadotti (2010) traz a ideia que um estado individual e narcisista depende de uma

verdadeira inclusão do outro. Neste desafio, o sujeito liberta-se da imagem primária de prazer

e contemplação do perfeito, para arriscar-se em uma jornada complexa e imprecisa que se faz

através da relação com o outro.

“Para compor a conjugalidade, duas individualidades constituem um modelo singular

e absoluto que define o modo de ser de um casal, sua existência conjugal e determina seus

limites, transformando-se mutuamente” (Féres-Carneiro apud López, 2008, p. 15). Toda

relação possui um terceiro elemento em que cada indivíduo assimila as individualidades um

do outro, constituindo assim um par inconsciente que opera em paralelo às projeções mútuas,

onde ficam depositadas expectativas e idealizações além de defeitos e sombra. Contudo

Grinberg (2010) afirma que essa visão é obtusa, uma vez que o olhar apaixonado permite uma

visão idealizada, somente para um dos lados.


18

Torres apud Lópes (2008) citam que elementos como motivações pessoais, valores

culturais e sociais propiciam o conjugar da relação, em que tais elementos contribuem para a

formação da identidade na relação com o par. Sob essa mesma perspectiva, Andolfi et

al.(1995) reforça a importância da conjugalidade na trajetória percorrida durante a vida.

Ao chegar à idade adequada para uma relação conjugal, o jovem se apaixona, mas não

compreende os motivos da sua escolha agindo de modo não consciente. Apesar dessa escolha

pelo parceiro parecer algo consciente, conteúdos não percebidos interferem nessa escolha,

fazendo com que não seja uma decisão tomada de maneira totalmente livre. O campo de

escolha diminui conforme a inconsciência predomina (Jung, 2011d).

O processo de escolha do cônjuge ou parceiro passa por etapas importantes para a

maturação emocional do sujeito. O fato de criar consciência e separar-se do modelo familiar

de base possibilita a entrada do outro que contribuirá com trocas, conflitos, parcerias e

consequentemente com o desenvolvimento da identidade. Sai-se de uma condição simbiótica,

individual para a entrada do conjugar, da alteridade, como segue:

Rumo à individuação, que é um processo de autoconhecimento permeando a

ampliação de consciência, o adolescente passa por um processo consciente e

inconsciente em que ocorrem intensos conflitos parentais ao dissipar sua inocência,

transformando sua identidade familiar para a entrada de novos conteúdos, assim são

construídas novas possibilidades de relacionamento afetivo social, mais simétricas e

constantes na relação com o outro. Nessa dinâmica de alteridade, parcerias, acordos e

cooperação são ingredientes não disponíveis anteriormente na infância. Além da

relação com o semelhante, o ego interage com o outro diferente, numa tentativa de

encontrar diferentes iguais, favorecendo a formação da identidade (Penna & Araújo,

2010, p. 28).
19

Nesta particular preparação para o encontro com outro, a fase da infância e

adolescência contém um movimento inconsciente da manutenção do modelo referencial dos

pais. À medida que o sujeito vai se desenvolvendo, o instinto que aproxima o par por motivos

de preservação da espécie, vai perdendo força quando os conteúdos e motivações da escolha

tornam-se conscientes, possibilitando a verdadeira conjugalidade, o real ingresso do outro na

relação.

Para Jung, a construção da relação requer a consciência do eu e do outro, para então

formar-se uma relação entre eles e essa conivência vem de acordo com a relação que o

indivíduo estabelece com o mundo. Há aspectos que interferem na escolha do cônjuge

e estes podem ser identificados à medida que se amplia o autoconhecimento (López,

2008, pp. 55-56).

Segundo Gambini (1988), Jung caracterizou o inconsciente a conteúdos obscuros,

desconhecidos, diferentes, afirmando que essas qualidades são como um espelho da própria

psique. Desta forma, pode-se considerar o outro da relação como um reflexo da psique do

próprio sujeito.

Nos conflitos afetivos, sentimentos de ciúmes, possessividade, poder, agressividade,

egoísmo, mesquinhez, submissão, fraquezas assoalham as mais belas histórias de amor, os

conteúdos de sombra revelam uma faceta sombria da personalidade. Nas relações afetivas, o

parceiro pode despontar a face oculta e não integrada da psique, uma vez que na dinâmica

psíquica, a busca inconsciente pelo parceiro pode trazer a complementariedade do conteúdo

empobrecido na personalidade de quem escolhe.

Nos conflitos presentes na relação com o outro se furta uma preciosa oportunidade de

integrar os dolorosos aspectos sombrios de nossa personalidade. É na sombra que aspectos

renegados em nossa personalidade são, muitas vezes, projetados a outrem, propiciando uma

dinâmica de isenção do reconhecimento em si sobre tais conteúdos.


20

Além da sombra, Benedito (1996) alude a outros aspectos para a escolha de parceiros,

afirmando:

A escolha do parceiro, geralmente, envolve um complexo arsenal de motivações,

ligados a vivências emocionais muito íntimas e profundas, [...], de difícil

representação no nível da consciência. Misturam-se desejos de várias ordens, e quanto

mais inconsciente o indivíduo estiver desses desejos, maior a possibilidade de tais

conteúdos serem “fisgados” numa relação. Isso ocorre porque certas características

observadas em alguém podem levar um outro indivíduo a estabelecer com ele uma

relação inconsciente, que o leva a crer, de maneira errônea, que esse alguém é idêntico

àquilo que nele é visto. Pode acontecer que a pessoa, ao fazer a escolha do parceiro,

tome o outro, pelo menos parcialmente, como uma parte de sua própria personalidade,

dissociada de sua consciência, e que então passa a fazer parte daquele outro, tornando-

o verdadeiro hospedeiro de conteúdos psíquicos que não lhe pertencem. Esse

mecanismo pode caracterizar uma projeção defensiva dos conteúdos de anima e do

animus. O indivíduo que não consegue tomar para si aquilo que constitui parte de seu

mundo interno fica perdido em si mesmo, buscando achar-se no outro (Benedito,

1996, p. 20-21).

Ao procurar no outro a integração de conteúdos que lhe faltam na própria

personalidade, a fantasia inconsciente projeta desejos inconscientes de amor e paixão.

Contudo, com o passar do tempo, a projeção delegada ao parceiro, passa pela paixão e

transmuta para a realidade do relacionamento, em que a persona aos poucos vai perdendo sua

força e cedendo espaço a própria personalidade. As dificuldades em lidar com outro começam

a surgir e nesses conflitos as projeções de conteúdos da sombra e da anima e animus vão

tomando forma, de modo inconsciente e propiciando as possíveis discussões da relação.


21

No vínculo conjugal, uma nova realidade se apresenta e cada indivíduo traz consigo

seus arquétipos de modo a iniciar uma hodierna jornada, que poderá ocasionar tanto a ruptura

da relação como também o desenvolvimento individual, pois nessa relação aprende-se a lidar

com sentimentos, complexos, aspectos inconscientes da psique pessoal e conjugal: “A relação

entre os indivíduos resulta em satisfações, conflitos, discussões e crescimento, favorecendo

assim o processo de individuação” (López, 2008, p.14).

Craig (1977) retrata a individuação por meio da conscientização da sombra projetada

no outro, e que o casamento é o ambiente propício para esse desenvolvimento: “O casamento

não é apenas um espaço de conforto, antes é um lugar de individuação. Através do conflito

consigo e com o outro, desliza no amor e no desprezo e dessa forma, conhece a si próprio”

(Craig, 1977, p. 71). Por meio do contato com a sombra inconsciente, torna-se possível o

desenvolvimento psicológico para a individuação.

Mesmo estando na companhia de outrem, é o momento que muitas vezes as pessoas se

sentem sozinhas, e a compressão entre aspectos de individualidade e universalidade produzem

a criatividade, em conhecer-se e compreender a totalidade da própria existência. “Nesse

sentido, o outro é o diferente, é quem propicia o autoconhecimento na conjunção dos

paradoxos de uma relação, o caminho que nos eleva para a ampliação da própria existência”

(Corneau, 1999, pp. 34-35).


22

3.3. A QUESTÃO DOS OPOSTOS E DA COMPLEMENTARIEDADE PSIQUICA

A ideia de complementariedade psíquica pode ser vista nas relações conjugais como

forma de preenchimento de espaços em situações de desencontros afetivos através de uma

dinâmica psíquica inconsciente, onde os parceiros procuram conjugues que realizem um

equilíbrio de sua falta ou vazio psíquico que é então projetado no parceiro (Campos, 2008).

O relacionamento inicia então por esta projeção no outro que preenche uma lacuna

interior, mas por esse jogo de espelhos projetivo ocorrem diferenças e desavenças nos casais.

Entretanto, existe a possibilidade de aprenderem a recolher e reconsiderar as próprias

projeções ou culminar no fim da relação. No primeiro caso, há possibilidade de

desenvolvimento saudável da relação, de cada parceiro e um caminhar em direção a totalidade

psíquica, isto é, individuação (López, 2008).

A partir deste novo modelo de aproximação e escolha conjugal, no qual o sujeito

projeta no parceiro afetivo seus conteúdos inconscientes como suas idealizações e fantasias. A

quebra da projeção significa enfrentar o outro como ele é e neste sentido:

O processo de individuação é tão valioso para o sujeito, casamento e sociedade, pois

uma vez individuado, o sujeito torna-se uma peça fundamental para a evolução

humana. Assim, o casamento promove esse processo de individuação mediando

aspectos conscientes e inconscientes do parceiro da relação. A consequência dessa

aproximação entre os opostos permite o surgimento do tertium, ou seja, o caminho do

meio, sendo um processo criativo que possibilitará a saída dos conflitos, possibilitando

assim o crescimento individual (Benedito, 1996, p. 97).

Deste modo, no casamento ou em uma relação estável “a pessoa tende a se unir com o

tipo oposto e assim ela está, ou pensa estar, livre da desagradável tarefa de enfrentar a própria

função inferior.” (Von-Franz, 2010, p. 15). Assim, há uma complementaridade ou oposição

inconsciente na relação afetiva que aprece na dinâmica da díade conjugal.


23

Em alguns casos, essa dinâmica inconsciente pode ser recebida como um facilitador

da vida em família ou em grupos quando a complementariedade é bem recebida para soluções

cotidiana e na qual os problemas ocorrem apenas quando há o término dos grupos. Entretanto,

“na maioria das famílias, e também em outros grupos, há uma tendência muito forte para se

resolver o problema das funções, distribuindo-as e confiando na função superior do outro"

(Von-Franz, 2010, p.15)

Este mesmo processo ocorre em relação à atitude, que se reporta a direção da libido ou

energia psíquica. Esta, segundo Jung (2011b), compreende não somente um deslocamento da

energia libidinal sexual, conforme Freud, mas a amplia para um caráter finalista, trazendo

questionamentos sobre o ponto de vista psicanalítico no que tange a libido infantil.

Ao compor seu ponto de vista, Jung (2011b) questiona sobre a personalidade sexual

“polimorfo-perversa” em que se o sujeito possui consciência da sua libido na fase da

puberdade, por que o olhar apenas sexual na infância, em que a criança apresenta vários

comportamentos tidos como perversos, ou seja, “quando sua libido não foi empregada em

funções normais” (Jung, 2011b).

A amplificação do conceito de libido para energia psíquica procura descaracterizar um

caráter puramente biologicista e reducionista e propor que seja visto como uma “posição

energética pura e simples, para que possamos conceber o processo vital em termos

energéticos, substituindo à antiga “interação” por relações de equivalência absoluta” (Jung,

2011b, p. 136).

Nesse sentido, Jung (2011b) vai, aos poucos delineando um olhar sobre a teoria da

libido introvertida, em que o fluxo dessa energia sai do exterior e é canalizado para o mundo

interno, das fantasias e afetos. Esse ponto de vista vai elucidando quando retrata a falácia do

paciente que traz as impressões e relatos vagos sobre seu passado, como uma forma de fuga

do afeto atual, para muitas vezes isentar-se no processo e procurar simbolicamente um objeto
24

fora responsável pelos motivos que lhe trouxera ou causara sofrimento. Sobre isso Jung

(2011b) entende que essas falas retratam imagos, imagens simbólicas que representam a

psique do próprio sujeito, e não tanto do objeto externo em si. Como segue:

É suspeito o fato de os pacientes terem manifesta tendência para apontarem como

causa de seu sofrimento uma vivência antiga qualquer; conseguem, com esta manobra

inteligente, desviar a atenção do analista do presente e levá-lo a uma pista falsa do

passado. [...] Esta pista falsa foi o caminho da primeira teoria psicanalítica. [...] Acho

que somente aquele que considera os acontecimentos do mundo como uma cadeia de

contingências mais ou menos errôneas e, por isso, acredita que há necessidade

constante da mão educadora do homem racional, pode chegar à conclusão que este

caminho trilhado pela pesquisa foi um caminho errado no qual se precisaria colocar

uma placa de alerta” (Jung, 2011b, p.136).

Ou seja, o trauma referente ao passado seria mais uma possibilidade estreita que de

fato o verdadeiro afeto envolvido na demanda real do paciente. Sobre isso, continua a

discorrer: “Os pacientes ainda conservam formas de utilização da libido que há muito

deveriam ter abandonado. É quase impossível fazer um inventário dessas formas, pois são de

uma diversidade muito grande” (Jung, 2011b, p. 144).

Jung (2011b) entende a manifestação inconsciente da energia psíquica como a

atividade exercida pela fantasia, que se caracteriza, segundo ele, pela acentuada atuação dos

desejos subjetivos. E o excesso da agilidade da fantasia é sempre sinal de aproveitamento

deficiente da libido à realidade:

Em vez de aplicar a libido numa adaptação bem exata às circunstâncias reais, fica ela

presa em aplicações fantásticas. Denomina-se este estado de introversão parcial em

que a aplicação da libido é ainda em parte fantasiosa ou ilusória ao invés de estar

adaptada às circunstâncias” (Jung, 2011b, p.144).


25

Ele compreende que as memórias do passado, em que a libido está “parcial ou

totalmente introvertida”, uma vez que não está, segundo ele,“a libido não é usada plenamente

para fins de adaptação à realidade, então ela é sempre mais ou menos introvertida” (Jung,

2011b, p.144-145).

Essas imagens recobradas do passado, que muitas vezes referem-se às figuras

maternas e paternas do indivíduo, sendo apresentadas na fantasia do sujeito e na sua libido

introvertida dizem respeito a sua imago. São reminiscências fortuitas sobre a potencialidade

que de fato se representam na totalidade das figuras maternas e paternas imaginadas pelos

sujeitos em suas fantasias intimistas e introvertidas e expressadas para o externo. Como

propõe a visão de Jung (2011b), isto “[...]traz um enfoque energético em vez de uma teoria

sexual, e propõe libido em vez de desejo, libido como um élan vital, ou ‘energia vital em

geral” (Jung, 2011b, p. 249). E como energia, “a libido é tanto fecundadora” (Jung, 2011b, p.

428).

De tal sorte, Jung propõe que neste viés da libido introvertida, exista a ativação do

arquétipo necessário como fonte criativa para o retorno a psique objetiva, a realidade dos

fatos. A dinâmica psíquica contém a contradição e mantém com o seu extremo oposto uma

peculiar comunicação (Jung, 2011c).

Não existe rito sagrado que eventualmente não se inverta em seu oposto, e quanto

mais extrema se tornar uma posição, tanto mais se pode esperar a sua enantiodromia,

sua reversão para o contrário. O melhor é o mais ameaçado com certa perversão

diabólica, pois foi o que mais reprimiu o mal” (Jung, 2011c, p. 441).

Há assim um processo de superar esta divisão por meio da capacidade criativa da

transcendência da psique possibilitando uma metamorfose da psique e a conciliação dos

opostos. Este processo é expresso metaforicamente pelo mito de Eros (Stein, 1974).
26

A forma da linguagem do inconsciente é a energia libidinal provida por imagens que

se manifestam simbolicamente. Jung sempre se preocupou em manter a importância do

instinto como força propulsora da vida psíquica, contudo acrescentou a vida criativa espiritual

do processo psíquico per se, como pode ser observado nos termos abaixo:

Não podemos tratar do problema da formação de símbolos sem incluir os processos

instintivos, pois é destes que provém à força motriz do símbolo. O símbolo em si

perde todo sentido quando não tem contra si a resistência do instinto, assim como os

instintos desordenados só chegariam à perdição do homem se o símbolo lhes desse

forma. Por isso é inevitável ocupar-nos com um dos instintos mais fortes, a

sexualidade, pois a maioria dos símbolos em maior ou menor grau representam

analogias deste instinto. A abordagem da formação dos símbolos a partir dos

processos instintivos corresponde a uma observação científica natural, que não

pretende ser a única possível. Concordo plenamente que a formação de símbolos

também poderia ser explicada do ponto de vista espiritual. Para isso basta a hipótese

de ser o “espírito” uma realidade autônoma que dispõe de energia específica

suficientemente forte para curvar os instintos e obrigá-los a assumir formas espirituais

(Jung, 2011c, p. 273-274).

É inegável a importância dos conteúdos sensuais da alma, a que a privação desta seria

inerente à condição do amor, como formula Stein (1974): “Na verdade, a parte animal-sensual

da alma deve ser tratada com o mesmo carinho e compreensão exigidos pela parte da criativa-

espiritual; caso contrário volta contra nós e dificulta a união” (Stein, p. 161).

A imagem de Eros foi explicitada por Jung ao se referir ao banquete de Platão como

“o intermediário entre mortais e imortais”, o agente que transforma uma situação a outra, é o

mensageiro dos homens aos deuses, “sempre a procura da sabedoria” (Jung, 2011c, p. 199).
27

Seria um tanto quanto superficial pensar o amor como uma simples satisfação das

energias sexuais, pois Eros emerge do amor e o amor sem Eros seria tão banalizado quanto

logos sem uma vontade essencial, um para quê. Eros emerge do amor, no entanto um amor

sem Eros se torna tão impessoal e animal como a psicanálise propunha como uma forma

mecanicista de sobrevivência. A sociedade moderna, na tentativa de explicar através da razão

todas as ações criativas do homem se depara com a ação irracional do impulso criativo da

conexão humana através da força do amor como busca pela união que tem “direção e visão”

(Stein, 1974, p. 158).

Desta forma a harmonia dos opostos pode ser vista também no amor com duas

funções: externamente sua expressão é a de abordar duas almas, e internamente para unir a

totalidade dicotômica entre mente e corpo. Não são duas forças antagônicas entre si, mas se

complementam a força sensual do instinto de sobrevivência, mas também o desejo criativo de

união (Stein, 1974).

Assim como outros afetos tais como a raiva, o medo, a angústia, o amor é também

uma forma de vivenciar essa porção da libido, sem saber para quais caminhos trilhar, conflitos

cotidianamente vivenciados e constantemente ouvidos na clínica psicológica, porém tão vital:

“O amor é um ingrediente essencial da alma humana por propor a criação e a inteligência

diretiva desta, ao mesmo tempo em que tem seu fluxo e leis próprias, não são rígidas ou fixas,

busca sempre o que tem vida” (Stein, 1974, p.161).

E sob a falta de direção dos caminhos do amor, um princípio vital se estabelece e Eros

se realiza: “Assim Eros tem seu papel fundamental na direção do amor, por buscar a ideia de

conjugalidade, ou seja, a humanização da alma” (Stein, 1974, p. 161).

Por meio da vivência do símbolo, da abertura para um diálogo com as imagens, sem

censura, a alma também pode ser expressa e não literalizada, ou reduzida, irrigando e

orientando os caminhos do amor:


28

Traduz-se na relação amor e erótico a possibilidade da transformação, viver a fantasia

não necessariamente de fato, mas possibilitar sem censura a forma como esta se

expressa é o modo criativo da psique transformadora, para tanto isso é possível quando

o ego diferencia-se do instinto carregado de afeto e volta sua força libidinal para

dentro, dando vazão ao mundo das representações psíquicas possibilitando o diálogo

simbólico das fantasias, em que ocorra a humanização da alma, em contraposição a ao

controle do ego do processo instintivo-emocional, que impossibilita a capacidade de

relações humanas criativas (Stein, 1974, pp. 175-179).

Pode-se considerar que as relações se baseiam em uma dose de Eros e de outra de

amor e que sem tais ingredientes a psique estaria estagnada, sem sabor ou sem crescimento.

Assim toda pesquisa sobre a conjugalidade possui no horizonte a transcendência, o símbolo, a

busca de totalidade, o mito e o indizível do mundo humano.


29

4. PROCEDIMENTO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

O modo como o sujeito se organiza e se relaciona com e no mundo estabelece a forma

da energia psíquica consciente. Deste modo, é possível destacar o pensamento de Jung sobre a

realidade empírica que é antes psíquica: “Este objetivo se sobrepõe, por intermédio da

concepção, ao puramente empírico, mas será sempre, apesar de sua viabilidade geral e

comprovada, um produto da constelação psicológica subjetiva do pesquisador” (Jung, 2011d,

p. 24). Assim, na elaboração das teorias científicas há uma “equação pessoal”, pois

“enxergamos cores, mas não o comprimento das ondas” (Jung, 2011d, p. 24) e esta realidade

bem conhecida deve ser levada em conta na psicologia, mais do que qualquer outro campo. O

efeito dessa equação pessoal já começa na observação. Vemos aquilo que melhor podemos

ver a partir de nós mesmos” (Jung, 2011d, p. 24).

Com esta ressalva, delimita-se o escopo deste trabalho, em termos Junguianos, do

ponto de vista objetivo e da atitude extrovertida, pois trata-se de uma pesquisa estatística

quantitativa de caráter exploratório. Assim, as conclusões referem-se a grupos de conjuntos de

pessoas e díades conjugais e não ao ser humano e casais que são únicos e particulares.

Para avaliar a complementariedade das funções e atitudes nos casais, optou-se pelo

método hipotético-dedutivo, formulando hipóteses sobre a complementariedade psíquica dos

casais por meio de seus tipos psicológicos As hipóteses (I) há uma porcentagem significativa

de díades conjugais nos quais os parceiros apresentam funções psicológicos opostos e (II) há

uma porcentagem significativa de díades conjugais nos quais os parceiros apresentam atitudes

psicológicas opostas foram verificadas por meio de aplicação de instrumento quantitativo

(QUATI) em uma amostra por conveniência de 41 casais heterossexuais, resultando em 41

homens e 41 mulheres.

4.1. COLETA DE DADOS


30

O procedimento foi realizado no período de março a setembro de 2015 em Curitiba

por meio de aplicação direta do QUATI, na qual os casais foram instruídos para a

compreensão do teste e observados durante a sua aplicação pela pesquisadora.

Foram coletados dados sócio demográficos como o nome, idade, cidade de origem,

telefone e e-mail para contato, escolaridade, renda individual e o tempo do relacionamento.

Para a coleta dos dados referentes aos tipos psicológicos, foi utilizado o Questionário de

Avaliação Tipológica (QUATI), havendo opção por parte dos participantes de receberem o

resultado tipológico após a aplicação. Alguns participantes se interessaram em saber o

resultado que fora apresentado.

Para a coleta de dados, a amostra foi realizada por conveniência, sendo realizada com

41 casais heterossexuais com idades entre 18 e 40 anos, residentes no município de Curitiba-

PR, com pelo menos um ano de relacionamento estável. A coleta de dados ocorreu entre o

período de março a setembro de 2015. Todos os participantes leram e compreenderam e

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com protocolo do Comitê de Ética

sob o nº 36237314.0.0000.0102 (anexo 1). Também compartilharam desta amostra os

parceiros afetivos de estudantes bem como, outros casais aleatórios, interessados em

participar.

A coleta de dados foi realizada no período entre março a setembro de 2015, de acordo

com a disponibilidade dos participantes do presente projeto, e foram aplicados o QUATI. O

Termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi comunicado individualmente, e

foram esclarecidas eventuais dúvidas a respeito da pesquisa.

A participação na pesquisa possibilitou autoconhecimento a seus participantes e não

ocorrendo riscos de qualquer natureza na participação da pesquisa.

Os dados obtidos durante a realização desta pesquisa serão mantidos sob a

responsabilidade do pesquisador e da unidade da pesquisa (UFPR).


31

4.2. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

O instrumento consta de três partes, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(anexo 1), questionário sócio demográfico (anexo 2) e o instrumento de avaliação de tipos, o

teste de personalidade QUATI (Zacharias, 2000).

O QUATI consiste em um teste psicológico devidamente aprovado pelo Sistema de

Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) desenvolvido pelo Conselho Federal de

Psicologia (CFP) fundamentado nos tipos psicológicos de Jung cujo objetivo é avaliar a

personalidade por meio de escolhas situacionais. Apresentam-se circunstâncias cotidianas,

cada qual com pares de afirmações e o sujeito escolhe as que mais se aproximam do seu

comportamento.

Este teste psicológico de personalidade foi desenvolvido em 1989 tendo como base a

população e cultura brasileira, sendo utilizado no trabalho clínico, escolar e profissional

(Zacharias, 2000).

O Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) é um teste de personalidade

elaborado por Zacharias (2000) a partir da teoria tipológica de Jung (2011).

O Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) foi validado em comparação ao

questionário tipológico Myers-Briggs Type Indicator (MBTI), que apresentam em sua

elaboração a mesma base teórica. (Zacharias, 2000)

Foi escolhido o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) para esta pesquisa

uma vez que tal instrumento permitiu uma facilidade maior de acesso a sua aquisição e

aplicabilidade. Outro ponto importante é que o Questionário de Avaliação Tipológica

(QUATI) segue seguramente a teoria dos tipos psicológicos de Jung, pois fora elaborado por

um psicólogo com formação Junguiana, diferente do Myers-Briggs Type Indicator (MBTI)

que fora elaborado por duas pedagogas norte-americanas.


32

O Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) consiste em um caderno de

questões contendo 93 perguntas, subdivididas em seis situações do cotidiano, elencadas cada

uma com 15 perguntas. As categorias situacionais são elencadas em Festa, Trabalho, Viagem,

Estudo, Lazer e Pessoal, sendo que nesta última, existem 18 questões. Cada categoria contém

perguntas onde são avaliadas tanto as atitudes (Introversão e Extroversão) e as funções

(Pensamento, Sentimento, Intuição e Sensação) a partir das situações descritas nas perguntas.

O resultado é obtido através da diferença numérica das respostas encontradas. As

características referentes às atitudes e às funções se encontram espalhadas ao longo dos itens

referentes às funções sociais. Para obter o valor numérico, é utilizado um crivo durante a

correção. A partir dos valores encontrados tanto para as atitudes quanto para as funções, o

escore é calculado a partir da diferença numérica entre os resultados. Para calcular a atitude, o

escore é obtido através da subtração do menor resultado numérico para uma atitude do maior

escore encontrado para atitude. Para calcular a função principal, os escores individuais para

cada função são levados em consideração, sendo a função principal aquela com maior escore

dentre as quatro funções. A função auxiliar é determinada a partir do maior escore encontrado

nas funções cuja característica não se opõe à função principal encontrada. Caso a função

principal encontrada seja Racional, a função auxiliar deverá ser aquela com maior escore

entre as funções Irracionais.

4.3. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados coletados amostra foi realizada em duas etapas. Por se tratar de

uma amostra por conveniência com 41 casais participantes, foram realizados testes não-

paramétricos. A primeira etapa consistiu na aplicação dos testes não paramétricos Qui-

Quadrado e o teste binomial. Para a comparação dos dados obtidos foi utilizado nível de

significância de 5% (p=0,05) em relação às dimensões sociais avaliadas no instrumento. No

segundo momento houve a avaliação de concordância das funções principal e auxiliar em


33

relação ao tempo de relacionamento sendo comparados os resultados empíricos dos dados

com relação à frequência ou probabilidade de arranjos aleatórios.

Em cada categoria, foram avaliadas as classificações tipológicas, ou seja, a atitude

extrovertida ou introvertida, e as funções pensamento, sentimento, intuição e sensação. Além

disso, para esta classificação verificou-se por escore de resultados a função superior, auxiliar e

a menos desenvolvida, a atitude inferior, compondo a tipologia individual.

A partir dos dados colhidos junto aos participantes foi possível estabelecer um perfil

sócio demográfico da amostra, utilizando a estatística descritiva. Para a compreensão dos

dados obtidos, foi utilizada a metodologia de estatística descritiva para a organização de um

perfil sócio demográfico dos participantes assim como a distribuição tipológica encontrada na

população, considerando as estatísticas de média, mediana, valor mínimo, valor máximo e

desvio padrão para as variáveis quantitativas e frequências e percentuais para as variáveis

qualitativas.

A partir da obtenção dos escores individuais de cada parceiro, foram realizados testes

estatísticos para verificar se havia correlação entre as tipologias entre os pares. Deste modo,

foi utilizada a hipótese nula (H0) de não haver diferença significativa entre as atitudes

complementares entre os casais. Ou seja, a hipótese de que os casais estáveis seriam

compostos entre um parceiro com escore para Extroversão e outro com escore para

Introversão.

Com relação aos escores referentes à função, foi utilizada a hipótese nula (H 0) onde

não há diferença significativa entre as funções tipológicas opostas nos casais pesquisados.

Deste modo, a hipótese nula testa se a composição dos casais em termos de função principal é

complementar, no caso composto por pares com funções complementares a partir da seguinte

divisão: Pensamento/Sentimento e Intuição/Sensação.


34

Para melhor compreensão das relações estabelecidas entre as diversas tipologias

encontradas, são consideradas relações de complementaridade quando há ocorrência de

atitudes e funções opostas. Desta maneira, por exemplo, entende-se que se a tipologia do

sujeito que apresenta atitude introvertida e função principal pensamento terá seu

complementar no parceiro com a atitude extrovertida e função principal sentimento. As

atitudes introvertidas e extrovertidas formam pares complementares e opostos, o mesmo

ocorrendo nos pares sentimento e pensamento, sensação e intuição. No caso de haver funções

que não são opostas, porém diferentes, foi notada apenas a diferença, não a

complementaridade, sendo compreendidas possíveis complementaridades no nível da função

auxiliar, caso ela ocorra.

Para análise combinatória, os dados foram arranjados da seguinte maneira: para atitude

os casais foram classificados como iguais/semelhantes ou opostos, resultando nas possíveis

combinações (Tabela 1).

Tabela 1

Combinações de Atitudes entre os parceiros

Parceiro 2 Introvertido Extrovertido


Parceiro 2

Introvertido Semelhante Oposta

Extrovertido Oposta Semelhante

Desta forma, temos 4 possibilidades: 2 (50%) para iguais e 2 (50%) para diferentes.

De acordo com Jung (2011j), a porcentagem de casais obtidos em oposição deve ser

significativamente maior devido ao arranjo aleatório (H 0).

Para as funções (principal e auxiliar) se aplica o mesmo princípio, mas o número de

combinações possíveis é maior devido as 4 funções de forma que classificamos os casais em

funções iguais, auxiliares e opostas (Tabela 2).


35

Tabela 2

Combinação de funções entre os parceiros

Parceiro 2
Pensamento Sentimento Sensação Intuição
Parceiro 1
Pensamento Igual Oposta Auxiliar Auxiliar

Sentimento Oposta Igual Auxiliar Auxiliar

Sensação Auxiliar Auxiliar Igual Oposta

Intuição Auxiliar Auxiliar Oposta Igual

Temos um total de 16 combinações possíveis e dentro destas são 4 (25%) para

oposição, 4 (25%) para igual e 8 (50%) para auxiliar. Deste modo, se a combinação das

funções exercerem influência no casal as porcentagens obtidas na amostra devem ser

significativamente diferentes dos valores esperados aleatoriamente que são descritos acima

(H0). Para se chegar ao valor de p, foi utilizado o teste binomial para cruzar as frequências

encontradas em comparação às frequências esperadas. Para comparar as diversas inter-

relações entre atitude, função principal e função auxiliar, as variáveis obtidas foram

analisadas em pares por meio da tabela de referência cruzada, avaliando as diferenças por

meio do Qui-quadrado.
36

5. RESULTADOS

5.1. PERFIL DOS PARTICIPANTES

A faixa etária dos casais participantes foi organizada junto com o tempo de

relacionamento encontrado na amostra, conforme a Tabela 3. Entre as mulheres, a idade

média foi de 27,6 anos dentro de um intervalo de 18 para idade mínima e 40 anos para idade

máxima, com um desvio padrão de 6,4 anos. Entre os homens, a idade média foi de 29,5 anos,

com idade mínima de 18 e máxima de 40 anos. O tempo de relacionamento encontrado na

amostra foi disposto em meses para melhor realizar as comparações, sendo a duração média

dos relacionamentos encontrados 73 meses (6,08 anos), com mínimo de 12 meses (1 ano) e

duração máxima de 216 meses (18 anos), com desvio padrão de 56,2 meses (4,68 anos).

Tabela 3

Idade

Variável N Média Mediana Mínimo Máximo Desvio Padrão

Idade F (anos) 41 27,6 27 18 40 6,4

Idade M (anos) 41 29,5 29 19 42 6,4

Tempo
de
41 73 52 12 216 56
relacionamento
(meses)

5.1.1 DADOS SOCIO DEMOGRÁFICOS

A faixa etária dos casais participantes foi organizada junto com o tempo de

relacionamento encontrado na amostra, conforme a Tabela 3. Entre as mulheres, a idade

média foi de 27,6 anos dentro de um intervalo de 18 para idade mínima e 40 anos para idade

máxima, com um desvio padrão de 6,4 anos. Entre os homens, a idade média foi de 29,5 anos,

com idade mínima de 18 e máxima de 40 anos. O tempo de relacionamento encontrado na

amostra foi disposto em meses para melhor realizar as comparações, sendo a duração média
37

dos relacionamentos encontrados 73 meses (6,08 anos), com mínimo de 12 meses (1 ano) e

duração máxima de 216 meses (18 anos), com desvio padrão de 56,2 meses (4,68 anos)

O perfil de escolaridade foi separado entre gêneros e organizados conforme diferentes

níveis de instrução na Tabela 4. A escolaridade entre as mulheres apresentou uma maioria

com curso superior completo (n=17; 41,5%), apresentando 17,1% (n=7) com o ensino médio

completo, 17,1% (n=7) cursando o curso superior e 12,2% (n=5) com curso superior

incompleto, 4,9% (n=2) com especialização, 4,9% mestrado (n=2) e 2,4% doutorado (n=1).

Entre os homens, a escolaridade apresentou maior variação, com 29,3% (n=12) com curso

superior completo, 24,4% (n=10) com ensino médio completo e 19,5% (n=8) com curso

superior incompleto; apenas 4,9% (n=2) estavam cursando a universidade, enquanto a

amostra apresentou 19,5% (n=8) de homens com grau de especialista, não havendo nenhum

homem com apenas mestrado e cerca de 2,4% (n=1) da amostra com doutorado.

Tabela 4

Escolaridade

Gênero

Feminino Masculino

Escolaridade N % N %

Ens. Médio 7 17,1 10 24,4

Sup. Cursando 7 17,1 2 4,9

Sup. Incompleto 5 12,2 8 19,5

Sup. Completo 17 41,5 12 29,3

Especialização 2 4,9 8 19,5

Mestrado 2 4,9 0 0

Doutorado 1 2,4 1 2,4

TOTAL 41 100 41 100

De maneira geral, o perfil apresentado pelos casais participantes foi de mulheres com

maior escolaridade em comparação aos homens, embora a diferença de escolaridade entre os


38

casais seja similar em sua composição. No quesito escolaridade, os casais apresentaram alta

escolaridade de maneira geral, com a maioria apresentando grau de curso superior. A idade

dos homens e mulheres apresentou uma pequena diferença de idade, com homens cerca de 2

anos mais velhos em relação às mulheres. A distribuição dos casais em relação à idade foi

relativamente homogênea. Em conjunto, a distribuição da escolaridade e idade da amostra

apontam para uma amostra de casais jovens e com alta escolaridade, com um tempo médio de

relacionamento variável em função da grande diferença apresentado por cada casal em termos

de tempo total do relacionamento.

5.1.2. PERFIL TIPLÓGICO DOS PARTICIPANTES

Os dados referentes às atitudes introvertidas ou extrovertida foram organizados na

Tabela 5 e os resultados relativos às funções encontram-se na Tabela 6. Os resultados

relativos às atitudes e às funções dos participantes revelaram algumas diferenças entre os

homens e as mulheres que compõe a amostra. Entre as mulheres não houve diferença

significativa entre atitudes, sendo 51,2% das mulheres extrovertidas e 48,7% introvertidas.

Tabela 5

Atitude dos participantes

Extrovertido Introvertido Total

N % N % N %

Homens 16 39 25 61 41 100

Mulheres 21 51 20 49 41 100

Observa-se que entre os homens houve um maior número de introvertidos (60,9%;

n=25) em comparação aos extrovertidos (39,0%; n=16) (Tabela 5). A distribuição de

resultados para função superior entre os homens extrovertidos foi relativamente homogênea

em comparação ao grupo de mulheres extrovertidas. Os resultados para função principais

pensamento com sensação auxiliar e função principal intuição com pensamento auxiliar
39

representaram a maior frequência de resultados entre o grupo com 18,7% cada um entre os

extrovertidos (7,3% do total de homens), seguidos dos resultados para função superiores

sensação com pensamento auxiliar, função superior sentimento com sensação auxiliar e

função principal intuição com sentimento auxiliar, cada resultado representando 12,5% (n=5)

dos homens extrovertidos (4,8% dos homens). A função principal com maior incidência entre

os homens extrovertidos foi a intuição, representando 31,5% dos homens extrovertidos e em

segundo lugar, as funções pensamento e sensação apresentando resultados menores de 25%

cada uma.

A função sentimento apresentou o menor número de incidências, correspondendo a

18,7% dos extrovertidos. Em comparação ao grupo das mulheres, não houve o aparecimento

de uma função principal proeminente entre os extrovertidos. Os introvertidos apresentaram

uma concentração de incidência de resultados para função principal mais significativa do que

os homens extrovertidos. A função principal sensação com sentimento auxiliar representou

32% (19,5% do total de homens) dos resultados, seguido de função principal sensação com

pensamento auxiliar com 20,8% (12,2% dos homens) e em terceiro lugar a sensação principal

pensamento com intuição auxiliar ou com sensação auxiliar representou 12% cada uma (7,3%

dos homens). Para os homens, a função principal mais comum foi à sensação, representando

41,4% dos homens, seguida de pensamento, com 24,4% dos homens.


40

Tabela 6

Atitude e Função Auxiliar em Homens

Função Auxiliar

Homens Pensamento Sentimento Sensação Intuição Total

Função Principal N % N % N % n % n %

Pensamento 3 7,3 1 2,4 4 9,7


Extroversão

Sentimento 2 4,8 1 2,4 3 7,3

Sensação 2 4,8 2 4,8 4 9,7

Intuição 3 7,3 2 4,8 5 12,2

Pensamento 3 7,3 3 7,3 6 14,6


Introversão

Sentimento 2 4,8 2 4,8 4 9,7

Sensação 5 12,2 8 19,5 13 31,7

Intuição 1 2,4 1 2,4 2 4,9

Total 11 26,8 13 31,7 10 24,4 7 17,1 41 100

As mulheres extrovertidas apresentaram 42,8% (21,9% do total de mulheres; n=21),

com atitude extrovertida e função superior sentimento com sensação auxiliar, seguido de

função superior sentimento com intuição auxiliar com 19,0% (9,7% do total de mulheres) e

tanto a função superior intuição com sentimento auxiliar como a função principal sensação

com pensamento auxiliar apresentaram incidência de 14,2% (7,3% do total de mulheres). Os

demais tipos encontrados em atitudes extrovertidas apresentaram ocorrências bastante

menores, não havendo resultado positivo para atitude extrovertida com função superior

pensamento com intuição auxiliar e função superior intuição com pensamento auxiliar. Desta

maneira, entre as mulheres extrovertidas, a função principal sentimento obteve a maior

ocorrência (31,7% do total de mulheres e 61,9% das mulheres com atitude extrovertida).

A função principal sentimento com sensação auxiliar apresentou maior incidência

entre as introvertidas, (40%), representando (19,5% do total de mulheres); a função principal

sensação com pensamento auxiliar ou com sentimento auxiliar apresentaram o mesmo número
41

de incidências, representando 20% cada uma dentre as mulheres introvertidas (9,7% do total

de mulheres). Houve o mesmo número de ocorrências das funções sentimento e sensação

como função principal, cada uma representando 40% da amostra, juntas representando 80%

das funções principais entre as mulheres introvertidas.

Tabela 7

Atitude e Função Auxiliar em Mulheres

Função Auxiliar

Mulheres Pensamento Sentimento Sensação Intuição Total

Função Principal n % n % N % N % n %

Pensamento 1 2,4 0 0 1 2,4


Extroversão

Sentimento 9 21,9 4 9,7 13 31,5

Sensação 3 7,3 1 2,4 4 9,7

Intuição 0 0 3 7,3 3 7,3

Pensamento 1 2,4 2 4,8 3 7,3


Introversão

Sentimento 8 19,5 0 0 8 19,5

Sensação 4 9,7 4 9,7 8 19,5

Intuição 0 0 1 2,7 1 2,7

Total 7 17,0 9 21,9 19 46,3 6 14,6 41 100

Nos participantes homens houve maior incidência da função principal sensação e

função auxiliar pensamento, com 17,0% (n=7) (Tabela 8). A segunda maior ocorrência foi

com a função principal pensamento e função auxiliar sensação, com 14,6% (n=6). No entanto

percebe-se que há prevalência da função principal sensação com 41,4% de ocorrência (n=17).

Entre as funções auxiliares a maior ocorrência foi a função sentimento, com 31,7% (n=13). A

menor frequência para a função principal foi sentimento 17,1% (n=7) e a menor frequência

para a função auxiliar foi intuição 17,1% (n=7).


42

Tabela 8

Função Principal e Função Auxiliar entre Homens

Função Auxiliar

Homens Pensamento Sentimento Sensação Intuição Total

Função Principal N % N % N % N % n %

Pensamento 6 14,6 4 9,7 10 24,4

Sentimento 4 9,7 3 7,3 7 17,1

Sensação 7 17,0 10 24,3 17 41,4

Intuição 4 9,7 3 7,3 7 17,0

Total 11 26,8 13 31,7 10 24,4 7 17,1 41 100

Nas mulheres, a função principal com maior frequência foi sentimento e função

auxiliar com maior frequência foi sensação com 41,4% (n=17). A segunda maior frequência

observada foi à função principal sensação e como função auxiliar o pensamento com 17,0%

(n=7). Contudo conclui-se que houve maior frequência na função principal sentimento 51,2%

(n=21) e na função auxiliar sensação 46,3% (n=19).

Tabela 9

Função Principal e Função Auxiliar entre Mulheres

Função Auxiliar

Mulheres Pensamento Sentimento Sensação Intuição Total

Função Principal N % N % n % N % n %

Pensamento 2 4,8 2 4,8 4 9,7

Sentimento 17 41,4 4 9,7 21 51,2

Sensação 7 17,0 5 12,5 12 29,2

Intuição 0 0 4 9,7 4 9,7

Total 7 17,1 9 22,0 19 46,3 6 14,6 41 100


43

A composição geral da amostra total de homens e mulheres aponta para uma diferença

na função principal sendo Sentimento (51,2%) para as mulheres e Sensação (41,7%) para os

homens. Em relação a atitude dominante, entre os homens 61% apresentaram a Introversão e

entre as mulheres foi a extroversão com 51%. Note que há um equilíbrio da distribuição de

cada atitude entre os participantes com aproximadamente a metade deles apresentando

extroversão ou introversão.

5.2. COMPARAÇÃO TIPOLÓGICA ENTRE OS CASAIS

Para avaliar os tipos psicológicos os dados do QUATI forma tabulados e em um

primeiro momento, e qual o resultado tipológico dos casais participantes para verificar se há

complementaridade, isto é, tipos e atitudes opostas, ou similaridades nos casais. Os testes

estatísticos realizados levam conta à significância de 5% para a verificação de correlações

entre as respostas fornecidas pelo casal no preenchimento do instrumento.

5.2.1. COMPLEMENTARIEDADE DE ATITUDE ENTRE OS PARCEIROS

A complementariedade ou oposição de atitude entre os parceiros em uma relação

estável pode ser verificada se há uma porcentagem significativa de díades conjugais nos quais

os parceiros apresentam atitudes psicológicas opostas. Para isto foram comparadas as

frequências de combinações entre as atitudes e as funções coletadas. A Tabela 10 apresenta a

distribuição da frequência encontrada entre as atitudes encontradas nos casais, onde 58,5%

(n=24) apresentaram a mesma atitude, tanto para extroversão quanto para introversão, e

41,5% (n=17) dos casais apresentaram atitudes opostas para atitude.


44

Tabela 10

Diferenças de Atitude no par conjugal

Frequência Percentual

Igual 24 58,5
Atitude

Oposta 17 41,5

Total 41 100

As atitudes apresentaram equilíbrio na comparação entre homens e mulheres, havendo

frequências similares entre introvertidos (54,8%) e extrovertidos (45,1%) na amostra de

maneira geral. Na composição dos casais, entretanto, a composição das atitudes demonstra

uma maior similaridade de atitudes, isto é, casais onde ambos são introvertidos ou ambos são

extrovertidos em comparação aos casais compostos de um introvertido e um extrovertido.

Neste caso, 58,5% (intervalo de 43,5% a 73,6%) dos casais apresentaram a mesma atitude,

embora na composição da população em geral as atitudes apresentem a mesma frequência,

isto é, os casais têm maiores probabilidades de apresentarem a mesma atitude entre si do que

em comparação a um outro casal da amostra.

Entretanto, não é possível admitir uma resposta estatisticamente aceita, uma vez que

os dados apresentaram uma margem de significância irrelevante com relação a hipótese nula,

tais comparações são apenas descritivas com relação aos dados desta pesquisa.

5.2.2. COMPLEMENTARIEDADE DA FUNÇÃO PRINCIPAL

A avaliação da oposição entre a função principal na díade conjugal é realizada por

meio da avaliação da porcentagem de díades conjugais nos quais os parceiros apresentam

funções psicológicos opostos A tabela 11 mostra as combinações encontradas entre os

resultados referentes à função principal. Na amostra a maior frequência de combinações entre

as funções foi a de funções diferentes entre si, porém sem oposição tipológica, com 61%
45

(n=25), com 22% (n=9) apresentando resultados iguais para função principal e 17,1% (n=7)

para funções opostas.

Tabela 11

Diferenças da Função Principal

Frequência Percentual
Função Principal

Igual 9 22,0

Diferente 25 61,0

Oposta 7 17,1

Total 41 100

A ocorrência das funções psicológicas entre os casais apresentou similaridades ao

encontrado com relação à combinação entre as atitudes. Em termos gerais, os casais

apresentaram a mesma função principal em cerca de 25% da amostra (11,6% a 38,4% de

intervalo) e a mesma função auxiliar em 22,5% da amostra (9,6% a 35,4% da amostra). Dos

casais que apresentaram a mesma função principal, 56,1% (40,9% a 71,3% de intervalo) dos

casos foi constituído de participantes que apresentaram a função Intuição ou Sensação; casais

que apresentaram como função principal Pensamento ou Sentimento foram de 51,2% (35,9%

a 66,5% de intervalo). Embora o resultado esperado fosse de uma ocorrência maior de

funções complementares, isto é, casais onde a ocorrência das funções principais fosse oposta,

não houve uma predominância de funções opostas na composição do casal.

5.2.3. FUNÇÃO AUXILIAR NO CASAL

Para complementar a análise, foi realizada também a mesma sistemática de

comparação entre a função auxiliar dos parceiros do casal. As frequências para a combinação

de resultados para a função auxiliar se encontram na tabela 12. A maior frequência obtida nos

resultados foi a de 58,5% (n=24) para funções auxiliares diferentes, porém não opostas,
46

enquanto 22% (n=9) da amostra apresentaram funções auxiliares em oposição; o restante

apresentou 19,5% (n=8) de resultados onde a função auxiliar no casal foi à mesma.

Tabela 12

Função Auxiliar no par conjugal

Frequência Percentual
Função Auxiliar

Igual 8 19,5

Diferente 24 58,5

Oposta 9 22,0

Total 41 100

5.2.4 RELAÇÃO ENTRE AS FUNÇÕES PRINCIPAIS

A tabela 13 descreve a frequência dos casais em termos de combinação entre a função

principal. Casais onde um dos parceiros apresentou como resultado a função Sentimento e o

outro a função principal sensação foram as mais frequentes, representando 25% da amostra.

Em segundo lugar, a função principal de ambos foi Sensação, com 12,5% e em terceiro, ao

menos um dos parceiros teve como resultado para a função principal Sentimento, com 10%

em cada combinação. Em termos de resultados onde há oposição entre a função principal, a

oposição entre funções principal mais frequente foi Sentimento e Pensamento, com 10% da

amostra e apenas 5% para o par composto pelas funções Intuição e Sensação.


47

Tabela 13

Combinações entre Funções Principais

Função Principal
Masculino Total
In % Ss % Ps % St % n %
Função Auxiliar

In 1 2,5 1 2,5 2 5,0 0 4 10,0


Ss 1 2,5 5 12,5 3 7,5 3 7,5 12 30,0
Feminino Ps 1 2,5 1 2,5 0 0 2 5,0
St 4 10,0 10 25,0 4 10,0 4 10,0 22 55,0
Total 7 17,5 17 42,5 9 22,5 7 17,5 40 100

Para a verificação da existência de correlação entre as funções, foi realizado o teste

binomial para as frequências encontradas, conforme a tabela 14. A verificação ocorre

esperando um valor elevado para a frequência entre funções opostas. O valor esperado em

uma distribuição normal seria de 25% dos casos, porém como nossa hipótese é de que há uma

correlação entre oposição de funções e estabilidade de relacionamentos, os resultados

esperados para as combinações encontradas são de 75%. O grupo 1 consiste nos casais que

apresentaram a mesma função e o grupo 2 consiste em casais com funções principais opostas.

Tabela 14

Teste Binomial (Função Principal)

Categoria N Proporção Observada Proporção de Teste Significância Exata


Função Principal

Função
Igual 34 0,83 0,75 0,161
Similar
Função
Oposta 7 0,17 --- ---
Oposta
Total 41 1 --- ---

O teste binomial apresentou p=0,161, apontando não haver diferença significativa

entre funções opostas e funções iguais na composição dos casais. Foi realizado também o

teste binomial para verificar se houve correlação entre casais com a mesma função principal.

Conforme a tabela 14, o grupo 1 consistiu em casais com funções principais iguais e o grupo
48

2 em casais com a função principal oposta ou diferente, com o resultado esperado de 75%

para estabelecer se houve ou não influência da função principal ser idêntica na manutenção do

relacionamento. Os resultados esperados são 75% para grupo 1 (auxiliar 50% e opostas 25%)

e 25% para funções iguais.

5.2.5. ATITUDE E FUNÇÃO PRINCIPAL NA COMPOSIÇÃO DOS CASAIS

Para verificar se há relação entre as atitudes e funções na escolha do casal, os dados

foram arranjados conforme a tabela 15 a partir dos resultados obtidos. As linhas horizontais

correspondem à similaridade ou diferença de atitude, e nas linhas verticais estão agrupados os

casais que apresentaram funções iguais e funções opostas.

Tabela 15

Relação entre Atitude e Função Principal

Função Principal

Igual Diferente Oposta Total

Atitude Freq. (%) Freq. (%) Freq. (%) Freq. (%)

Igual 5 55 16 64 3 42,8 24 58,5

Oposta 4 44 9 36 4 57,2 17 41,5


Total 9 100 25 100 7 100 41 100

Conforme pode-se verificar na tabela 15, a frequência de casais com a mesma atitude e

funções diferentes apresentou a maior frequência entre as demais, com 16 casais, seguido dos

casais com atitudes opostas e com funções diferentes com 9 ocorrências.

Foi realizado o teste de Pearson (Qui-quadrado) para verificar se as frequências

encontradas apresentam correlação entre os tipos psicológicos (atitude somada à função

principal) na escolha e manutenção do relacionamento. Os resultados indicam não haver

associação entre a atitude e a função principal, pois as diferenças encontradas nas células não

são significativas (qui2=1,049, DF=2, p= 0,592).


49

5.2.6. RELAÇÃO ENTRE FUNÇÃO PRINCIPAL E FUNÇÃO AUXILIAR

Para avaliar a associação entre função principal e função auxiliar, especialmente o

papel da categoria oposição, em ambas variáveis as categorias igual e auxiliar foram

agregadas em uma variável, mas mantendo isolada a categoria oposta. Após, foi aplicada a

tabela de contingência utilizando-se o teste exato de Fischer.

Tabela 16

Relação entre Atitude e Função Principal

Função Auxiliar
Igual/Aux Oposta Total
Freq. % Freq. % Freq. %
Igual/Aux 28 87,5 6 66,7 34 83
Função
Principal Oposta 4 12,5 3 33,3 7 17
Total 32 100 9 100 41 100

Os resultados indicam não haver associação entre a função principal e auxiliar com a

função oposta, pois as diferenças encontradas nas células não são significativas (Fischer =

2,101, DF=1, p= 0,165).


50

6. DISCUSSÃO: OS DADOS E A TEORIA CLÁSSICA

A teoria clássica Junguiana relata que a atração que mobiliza e movimenta a paixão, os

relacionamentos e os casamentos ocorrem devido à existência de opostos psicológicos entre

os parceiros. O par de opostos mais fundamental são as figuras arquetípicas da anima e do

animus, entretanto Jung (2011j) comenta que no casamento ocorre uma complementação

inconsciente e simbiótica entre os tipos psicológicos dos parceiros. Deste modo, espera-se que

entre os parceiros a função superior e a atitude dominante sejam opostos, por exemplo, um

sujeito tipo sentimento extrovertido tende a ter como parceiro alguém pensamento

introvertido.

Tendo em vista que o contexto sócio-cultural, o papel do homem e da mulher, os

modelos de casamento e ideiais de relação se modificaram desde a elaboração teórica de Jung

nas primeiras décadas do séc. XX, surgiu a questão sobre a dinâmica dos opostos no aspecto

da tipologia dentro dos relacionamentos estáveis no contexto atual. Deste modo os objetivos

do trabalho foram avaliar em termos exploratórios e iniciais, a configuração atual da dinâmica

tipológica nos relacionamentos estáveis. Foi realizada uma pesquisa de caráter quantitativo

procurando avaliar se há uma presença ou percentagem significativa, isto é, mais elevada do

que a simples distribuição aleatória dos tipos, nas relações estáveis. Para tanto foi comparado

(I) se os parceiros apresentam funções predominantes psicológicos opostos e (II) se os

parceiros apresentam atitudes psicológicas opostas.

Os resultados apresentados demonstraram não haver, a princípio, uma correlação entre

tipologias opostas para a composição dos casais, tanto para a função predominante quanto

para a atitude.

Existem várias razões para essa configuração. O número de casais participantes não

apresentou relevância estatística para a realização de inferências relevantes ao que tange a

população em geral. Entretanto, evidenciou-se que os casais da amostra apresentam algumas


51

tendências passíveis de análises em termos puramente descritivos. A composição tipológica

da amostra delineou a predominância de um tipo psicológico em relação aos demais,

diminuindo as possibilidades de comparação da dinâmica dos casais em termos de

personalidade, sendo necessária uma amostra maior para que seja possível a realização de

maiores inferências.

Tal inferência nos permite apenas discutir a composição da amostra, levando em

consideração que os resultados obtidos não correspondem a tendências gerais na composição

da população em geral. Os resultados encontrados na amostra não apresentaram grau

significativo de oposição tipológica entre os casais; o que se apresentou foi uma similaridade

bastante grande entre tipos, isto é, demonstraram estar em contradição à teoria Junguiana.

No artigo de Goto (2007), ele demonstra em um caso clínico, um casal casado há 42

anos, que foram submetidos ao Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) e que

apresentam tipos psicológicos semelhantes. O casal relatava pouca quantidade de conflitos e

discussões. Apesar do resultado do teste apresentar tal semelhança tipológica, o autor do

artigo ressalta itens de pontuação baixa entre as outras esferas do teste, o que possibilitou a

complementariedade psíquica do casal. Outro dado importante para essa discussão refere-se à

ideia de complementariedade mesmo diante da semelhança do casal, “[...] para Jung, o critério

de um relacionamento saudável não é a quantidade de conflitos (ou oposição) e sim o

desenvolvimento da individuação, ou seja, o importante é saber se a vivência conjugal está

propiciando ou não à individuação dos parceiros” (Goto, 2007).

Oltramari (2009) afirma o caráter histórico da evolução dos relacionamentos

amorosos, como a expressão das mudanças sociais acarretadas a partir do século XIX e

culmina na visão atual onde relacionamentos são pautados a partir da noção de confiança.

Esta confiança apresenta-se a partir de uma abordagem pragmática na escolha e manutenção

do relacionamento. Segundo o autor, “[...] podemos pensar que o estabelecimento daquilo que
52

os casais compreendem por confiança nada mais é do que esta forma de tentar controlar o

incontrolável” (Oltramari, 2009, p.676).

A partir disso, talvez a semelhança encontrada na amostra seja reflexo dessa

configuração atual das expectativas de relacionamento, onde não se busca um complemento,

mas sim, segurança. Tal busca por segurança evidencia uma mudança qualitativa na maneira

de se buscar um parceiro, que tem como efeito uma configuração diferente nas relações

amorosas de maneira geral. As mudanças históricas apontadas pelo autor sugerem que a

mudança ocorrida engendre tanto novas maneiras de se relacionar quanto o próprio

entendimento individual da função do relacionamento amoroso.

Jung (2011j) traz a questão de anima e animus no casamento como algo vivo e

contínuo, uma oportunidade dos aspectos regressivos da personalidade se harmonizarem. Traz

a expressão de conteúdo e continentes como tipos de personalidades constantes nas relações

afetivas. O conteúdo busca seus limites dentro do casamento e busca sua manutenção, com

um movimento inconsciente de autoconhecimento. Já a personalidade continente, mais

complexa, possui uma natureza multifacetada, foge da simplicidade e sente-se fora de casa,

muitas vezes desempenhando um papel problemático, sofre da necessidade de ser contido.

(Samuels, 1989)

Jung (2011d) entende que essa dinâmica em um casamento é a uma forma de

expressão da complementariedade dos opostos, em que a escolha do parceiro ocorre de modo

inconsciente, por fatores não satisfeitos em si próprio, em que o impulso inconsciente de

harmonizar a personalidade, leva o indivíduo a ser atraído por uma série de características

diferentes das suas.

Contudo, assim como na pesquisa aqui apresentada, Samuels relata uma visão distinta

em três estudos diferentes. Um estudo que ele escreve sobre uma amostra com 20 casais

demonstrou a similaridade entre os pares (Carlson & Williams, 1984). Os outros dois estudos
53

descritos por Samuels (1989) retrata os tipos psicológicos dos parceiros afetivos dos analistas

Junguianos e outro, um estudo feito com candidatos de uma grande empresa de informática

que demonstra o perfil do candidato e seu parceiro ideal, ambos estudos confirmam essa

correlação de similaridade de tipos.

Sob a égide de complementariedade psíquica, Jung propõe a individuação como um

caminho próprio, em que, por exemplo uma saída para a relação do tipo de personalidade

conteúdo e continente estaria no recolhimento das projeções e que a saídas para as desavenças

estaria dentro de si, em rumo a sua própria individuação.

Entretanto, os pós-Junguianos e alguns dissidentes como Guggenbuhl-Craig (1977)

destacam que a individuação envolve uma dialética, de dois fatores interpessoais e

intrapsíquicos, ou seja, a relação do casamento como um fator interpessoal se realiza por meio

da construção com o outro, em que se estabeleceria o crescimento intrapsíquico. O diálogo

como forma de autopercepção, e o casamento propicia um caminho para tal individuação,

como forma de descoberta e em que os opostos intrapsíquicos são confrontados e são

reconciliados na individuação. (Samuels, 1989, p. 268)

Os aspectos da personalidade são dinâmicos assim como são dinâmicos os aspectos

envolvidos em um relacionamento amoroso. A análise estatística nos fornece elementos gerais

para iniciar a discussão a partir do recorte temporal, isto é, o que se compreende do estado dos

relacionamentos amorosos no contexto atual.

Estudar a tipologia proposta por Jung em sua influência em relacionamentos amorosos

significa direcionar nosso olhar também a conteúdos que tangenciam os tipos e influenciam a

forma com que as pessoas, independentemente de sua tipologia, se relacionam entre si, a

necessidade de se verificar o contexto a configuração específica de cada relacionamento

(Goto et al., 2007).


54

Em uma relação de longa duração apresentou também modificações individuais, sendo

o mesmo modificado ao longo do tempo conforme os aspectos da personalidade de cada

parceiro se adaptavam ao outro e às exigências do próprio desenvolvimento psicológico. Em

outras palavras, compreender o relacionamento a partir da tipologia que compõe os casais

apresenta a necessidade de se levar em consideração tanto os aspectos neuróticos quanto o

aspecto dinâmico de seus componentes (Jung, 2011d).

A dinâmica individual do casal apresenta possibilidades de como um relacionamento

pode se desenvolver ao longo do tempo, mas não se traduz em uma regra geral de

relacionamentos em função do dinamismo inerente a um relacionamento amoroso. O

relacionamento individual também se encontra localizado em um tempo particular, estando

sujeito a diferentes significados ao longo do desenvolvimento histórico (Oltramari, 2009).

Embora o tempo de relacionamento tenha sido utilizado como parâmetro para aferir o sucesso

das combinações tipológicas encontradas, este é apenas um dos aspectos possíveis de se

avaliar o grau de sucesso no contexto amoroso. O tempo atual também influencia em nossa

noção de sucesso amoroso e na definição de relacionamento bem-sucedido.

Diversos autores (Oltramari, 2009; Duarte e Rocha-Coutinho, 2011; Neves et al.,

2013) recorrem a sociólogos e outros pensadores para compreender o estado dos

relacionamentos românticos atuais, apontando para tendências gerais de como os indivíduos

se relacionam entre si. Nosso entendimento do significado dos resultados encontrados deve,

portanto, examinar estas tendências gerais, uma vez que “[...] o que se diz da humanidade em

geral também se aplica a cada indivíduo em particular, pois a humanidade é formada por um

conjunto de indivíduos” (Jung, 2011e, p. 74).

Com os dados da amostra coletada nesta pesquisa realizada com os casais

heterossexuais, a amostra evidenciou uma incongruência nos resultados apresentados em


55

relação a teoria clássica Junguiana opostos ou complementares, uma vez que a diferença entre

casais com similaridade dos tipos ou a oposição não apresentara significativa diferença.

Para tanto, o estudo poderá ser ampliado para a averiguação com mais casais com a

aplicação do teste QUATI e também com a inserção de entrevista com cada par do casal para

aprofundar a relação e sua dinâmica relacional e assim possibilitar averiguar aspectos

qualitativos da relação.

A complexidade do tema acerca das relações afetivas e as dinâmicas que envolvem os

pares de um relacionamento são observadas na quantidade de testes psicológicos como

demonstra Cassepp-Borges & Andrade (2013), existem cerca de 17 instrumentos traduzidos e

validados para a língua portuguesa cujo objetivo é medir o amor presente em um

relacionamento. O amor, ao invés de ser a maneira particular de um indivíduo se expressar

enquanto fragilidade e necessidade, apresenta-se como aspecto quantitativo, despido de sua

característica enquanto potencial de individuação pois se tornou instrumentalizado.

Scorsolini-Comin & Santos (2011) apresentam possibilidades de elaboração de instrumentos

que meçam variáveis relevantes, decompondo os vários aspectos de um relacionamento em

variáveis passíveis de mensuração. O resultado obtido através desta decomposição foi à

sugestão de que o aspecto mais importante para a manutenção de um relacionamento está na

capacidade dos parceiros trocarem e compartilharem afetos de maneira positiva, havendo não

apenas a expressão afetiva, mas a compreensão e abertura do parceiro para tal expressão.

Apesar de útil do ponto de vista técnico, o instrumento se mostra limitado em apontar esse

aspecto central como importante, acaba por não conseguir penetrar nos aspectos emocionais

em sua realidade mesma, cuja substância é composta de aspectos individuais que escapam

classificações genéricas.

Outro estudo (Silva et al., 2005), tenta apreender a conjugalidade através de diferenças

entre a maneira com que os participantes se identificavam com diversas narrativas, arranjadas
56

em grupos de maior e menor identificação e um terceiro grupo de narrativas que os

participantes mais gostariam de viver. Os participantes que se mostraram mais insatisfeitos

eram aqueles que mais se identificavam com narrativas inseridas no aspecto que gostariam de

viver. A solução dada pelos autores revela a postura até aqui discutida, onde a solução para

aumentar o grau de satisfação pessoal consistia em mudar de parceiro para se chegar próxima

a uma narrativa desejada. Esta postura parece não levar em consideração o papel do parceiro

senão em seu caráter de provedor de um pacote fechado de experiências e a identificação com

uma narrativa que não corresponde àquela imediatamente presente, apontando para uma

preferência por aspectos não vividos, cuja responsabilidade jaz nos ombros do parceiro que

não satisfaz ao invés de uma reflexão acerca da maneira através da qual nos relacionamos.

Esta discussão, a partir do paradigma da psicologia analítica, não esgota a

possibilidade de reflexão. Para emprestar uma expressão de Jung (2011k), em contraposição

ao espírito do tempo há o espírito das profundezas; isto é, para compreendermos nossos

resultados e seu sentido dentro de um contexto clínico, é também necessário apreender os

possíveis significados dessas formas atuais de se relacionar, o que elas significam em termos

de individuação e estabelecimento de sentidos mais profundos que elas podem proporcionar.


57

7. CONSIDERAÇOES FINAIS: COMPLEMENTARIEDADE, OPOSTOS E NOVAS

CONFIGURAÇÕES DAS RELAÇÕES

Em termos gerais, o que se constata através do exame de alguns sociólogos como

Giddens (2002), Lasch (1984), Bauman (2004) no que diz respeito a relacionamentos

amorosos é a marca da crescente individualização e compartimentalização das relações

humanas de maneira geral. Lasch (1984) aponta que as mudanças ocorridas a partir do século

XIX nas sociedades industriais culminaram em relacionamentos amorosos cada vez mais

provisórios e a emergência do individualismo exacerbado, a qual denominou de cultura do

narcisismo. Esta maneira particular de individualidade aparece associada a uma crescente

dificuldade de estabelecimento de intimidade entre as pessoas, uma vez que a tessitura social

favorece, de um lado, a competitividade crescente entre gêneros em diversas esferas sociais, e

a contínua busca por relacionamentos amorosos, formando uma situação ambivalente que

contribui para um distanciamento emocional entre elas.

O resultado desta ambivalência aparece como uma necessidade de formação de laços

simbióticos entre as pessoas e a aversão a emoções demasiadamente fortes, isto é, os

indivíduos apresentam uma tendência a relacionamentos mais superficiais e mais frágeis, na

medida em que as pessoas envolvidas buscam um relacionamento cujo envolvimento

emocional possa ser controlado.

O evitar emoções que não podem ser controladas aparecem também sob a forma da

busca pelo sexo como um fim em si mesmo; a liberação sexual permite que a satisfação

sexual dos indivíduos se dissocie da satisfação emocional antes mediada por uma série de

códigos morais que já não fazem sentido a partir da desmistificação do sexo e da emancipação

dos corpos.

Esta emancipação e democratização da sexualidade tiveram como consequência não

necessariamente uma melhoria na vida sexual, mas uma crescente pasteurização das relações,
58

onde os aspectos negativos tanto dos relacionamentos humanos quanto as fantasias sexuais se

remetem a uma pretensa racionalidade que busca coibir excessos característicos da paixão e

do apaixonar-se.

Outra forma de observar a teoria com relação a complementariedade é a possibilidade

de que um casal pode se aproximar do seu oposto, por admiração de aspectos faltantes em sua

personalidade, assim como fogo, os pares se aproximam, se apaixonam, mas muitas vezes não

se mantêm pois o fogo queima, precisa de água para apagar o fogo. Assim, há um

apaixonamento, mas uma relação de opostos pode não se manter por ser fogo demais e acabar

queimando seus pares. O resultado da pesquisa pode demonstrar que opostos podem se atrair,

contudo para a manutenção da relação casais com tipologia similares mantêm a relação.

Samuels citando Mattoon (1989, p. 267) também valida essa ideia afirmando: “O sucesso

conjugal parece estar baseado no de ser bastante semelhante, mas não demais”.

A racionalidade que media as relações não é aquela da reflexão e da livre escolha;

antes, é a racionalidade do consumidor (Bauman, 2004). O consumir deseja, enquanto tal, mas

não estabelece relações com aquilo que é consumido. Segundo Bauman (2004) “desejo é

vontade de consumir. Absorver, devorar, ingerir e digerir – aniquiliar” (Bauman, 2004, p.12),

se contrapõe ao amor cuja finalidade é construir, representado por Eros em seu sentido

platônico, isto é, a busca pela transcendência e necessidade de se ultrapassar a dualidade dos

seres.

A racionalidade consumista substitui Eros pelo desejo, configurando relacionamentos

amorosos que obedecem à lógica do consumo em oposição ao compromisso. Apesar de

estabelecerem uma relação similar com seu objeto, desejo e amor.

Encontram-se em campos opostos. O amor é uma rede lançada sobre a eternidade, o

desejo é um estratagema para livrar-se da faina de tecer redes. Fiéis à sua natureza, o
59

amor se empenharia em perpetuar o desejo, enquanto este se esquivaria aos grilhões do

amor (Bauman, 2004, p.13).

As mudanças históricas possibilitaram a opção de escapar de relacionamentos

pautados a partir de regras sociais pré-estabelecidas, permitindo aos indivíduos “customizar”

relacionamentos de acordo com a busca por maior satisfação pessoal (Amorim & Stengel,

2014). A escolha do parceiro não se dá mais a partir de noções universais daquilo que um

relacionamento deve ser, mas a partir de necessidades individuais que muitas vezes são

contrárias a valores e noções socialmente aceitas. Ou seja, cria-se a possibilidade de

estabelecimento de relacionamentos que podem prescindir de aspectos desagradáveis aos

parceiros envolvidos. Desta maneira, a ideia de segurança apresenta-se como o

estabelecimento de parâmetros pré-estabelecidos na dinâmica do casal como maneira de

sustentar o relacionamento que jaz na periferia daquilo que é considerado como socialmente

aceito ou desejável.

Assim quando pensamos nas similaridades e diferenças nos resultados das dimensões

sociais em nossa amostra, devemos levar em consideração a maneira como os

relacionamentos se sobrepõem a visão que se tem em que consiste o relacionamento. A ideia

de similaridade dos itens de lazer e viagem, por exemplo, sugere uma customização que

enfatiza aspectos menos pessoais e mais prazerosos, no sentido destas atividades

compartilhadas e prazerosas, mas não significarem na contemplação de um relacionamento

mais pessoal e íntimo. Essas trocas íntimas podem implicar em trocas desagradáveis o que

implica em uma relação de profundidade e alteridade de um lado, e por outro, algo que as

pessoas podem escolher não vivenciar conforme o entendimento de satisfação que o sujeito

busca em um relacionamento. Essa dinâmica fica mais sublinhada quando levamos em

consideração que os resultados para aspectos pessoais foram os que apresentaram maior

diferença entre os casais estudados.


60

Essas diferenças não podem ser reduzidas apenas a noção de indivíduos que desejam

relacionamentos fora das imposições sociais. A mudança do papel social da mulher indica

também uma mudança de paradigma da composição de um casal. A emergência da mulher em

sua independência financeira, segundo Seco e Lucas (2015), contribuiu para a mudança na

maneira como os relacionamentos são arranjados. Esta emancipação financeira da mulher

acompanhou sua emancipação emocional nos relacionamentos. A mudança de paradigma

contribuiu para que a mulher se tornasse agente tanto no contexto social quanto no pessoal,

inaugurando a necessidade, por parte da mulher, de estabelecer relacionamentos amorosos

diferentes daqueles vividos em outras épocas. Para os autores, o efeito dessa mudança nos

relacionamentos torna-se visível como menor tolerância para a resolução de conflitos,

adiamento ou recusa em ter filhos ao mesmo em que proporciona à mulher a liberdade de

escolha tanto do parceiro quanto do número de parceiros em um dado momento, bem como a

liberdade em estar ou não em um relacionamento.

Articulada a essa mudança, o casamento deixa de ter a centralidade na vida da mulher

(Coutinho & Menandro, 2010), embora ainda haja o desejo de estabelecer relacionamentos

amorosos. Segundo esta perspectiva, a configuração amorosa para essas mulheres

emancipadas emocional e financeiramente apresenta um paradoxo para a própria mulher. A

partir da noção de rompimento de modelos entre gerações de mulheres, Coutinho e Menandro

(2010) apresentam o paradoxo onde a mulher atual põe o casamento como secundário em

relação à carreira, onde a busca por maior escolarização e ampliação dos horizontes

profissionais toma boa parte de seu tempo. Em contrapartida, o tempo devotado ao

relacionamento muitas vezes diminui, mesmo à sua revelia. Este conflito acarreta em uma

dinâmica de angústia marcado pela impossibilidade de equilibrar as diversas

responsabilidades que envolvem o desenvolvimento pessoal em termos de carreira e o

desenvolvimento do relacionamento a dois. A busca por parte das mulheres pela emancipação
61

financeira fica evidente em nossa amostra, onde as mulheres apresentam maior escolaridade

média em comparação aos homens.

O papel da mulher ao longo dos tempos tem sido cada vez mais discutido e gerando

obliquidades com relação ao desempenho do seu papel familiar e profissional. Se por um lado

tem-se o arquétipo da mulher, da mãe, da beleza, por outro, encontra-se a mulher que está

cada dia mais buscando sua conquista em termos profissionais.

Não só por segurança financeira, mas pela liberdade do direito de ir e vir. Incentivada

por nossa cultura pós-moderna em que valores como liquidez, consumo, imediatismo são

característicos de um mundo globalizado, as relações também se cristalizam a partir desses

critérios. Como o quesito tempo tornou-se preço, as mulheres passam a ter um papel

fundamental também na construção e cultivo dessas relações.

Ocorre que os relacionamentos também estão se montando a partir de linhas tênues e

frágeis, muitas vezes construídos sob a égide do Princípio do Prazer em detrimento da

bricolagem. Bezerra e Justo (2010) em sua pesquisa em sites de relacionamentos amorosos

em tempos pós-modernos, reforçaram esta dinâmica do prazer imediato, em que o maior

medo nessas relações está em ser tomado pelo sentimento do amor. Demonstraram ainda que

características como ser magra, boa aparência, juventude e questões socioeconômicas

positivamente valorizadas como dinheiro, status, bens e independência financeira por pessoas

que procuravam tais sites de relacionamento. Essa é mais uma constatação do mundo pós-

moderno que tende a configurar relações eclipsadas narcísicas e hedônicas, com baixa

tendência a vínculos verdadeiros.

Outra forma de organização dos relacionamentos na atualidade decorre dos modos de

união estável, um modo comum e corriqueiro dos nossos tempos pós-modernos. Com a

decadência do modelo patriarcal de união, a instituição do casamento vem perdendo forças

com a entrada das relações baseadas na união por conveniência, ou segundo Giddens (1993)
62

chamam de relações puras ou relações líquidas por Baumann (2004). Antes o casamento era

pautado por questões principalmente financeiras e burocráticas como regimes de separação.

Duarte e Rocha-Coutinho (2011) comparam costumes e transformações pelos quais os

relacionamentos afetivos se configuraram nas bases atuais. Falam do relacionamento do casal

que se unem para morarem juntos sem necessariamente haver matrimônio tanto religioso

quanto civil. Esses modelos veem sendo substituídos, segundo as autoras, por um modelo

prático, econômico, não mais pautado na transmissão de patrimônio, mas e principalmente por

um vínculo afetivo, com maior liberdade e responsabilidade para o desenvolvimento da

intimidade e proximidade, ou seja, um vínculo baseado no sentimento e satisfação de ambos.

Vê-se que nesse tipo de relação à burocracia para o encerramento ou união são

simplificadas, por ser um acordo de ambos os parceiros e que por livre vontade unem-se para

dividir uma moradia, despesas, sentimentos e afazeres, ou seja, juntam-se por afinidade e

desejo, livres de aprovações de familiares, uma vez que, em muitas vezes, a família de origem

é mantida fora das decisões dos casais, por não haver o ranço patrimonial e também por não

haver o ritual do casamento. (Duarte & Rocha-Coutinho, 2011)

O casamento também é deixado de lado como opção, por considerarem, segundo

participantes do artigo supracitado, uma forma cara de união, desnecessária, burocrática e

teatral. Por outro lado, a instituição do casamento traz em sua essência um lado de segurança,

por justamente, em momentos de desgastes da relação, os parceiros medirem as

consequências patrimoniais e também circunstâncias dos laços familiares, como parentes e

filhos, o status social envolvido.

Mais uma vez, é perceptível o papel da liberdade feminina como decisório nos

paradigmas atuais desta configuração atual de relação, já que, a mulher também tem decidido

na configuração do tipo de relação, como a negativa de um casamento por uma opção mais

prática como o ato de decidir morar junto. Antes a mulher, pensava em casar para além, do
63

sentimento, manter uma estabilidade financeira, a proteção que a instituição do casamento

acarreta e um status social. Hoje, ela também decide tanto por uma união desburocratizada e

prática, para ficar ou para sair se entender que a relação não lhe trouxer satisfação pessoal e

afetiva.

As novas configurações e maneiras de se aferir elementos relevantes, como é o caso

do presente estudo, parecem estar envoltas de maneira crescente em aspectos impessoais

levantando novos e importantes questionamentos.

Será que os modelos atuais das relações afetivas estariam favorecendo e permeando

adultos infantilizados, que não superam as questões das dificuldades antes vivenciadas por

nossos avós e bisavós?

Situações de frustração e dificuldades têm sido desvalorizadas em nossa cultura

narcisista, imediatista e consumista, em que a felicidade a qualquer custo e a qualquer preço

pode queimar etapas importantes no desenvolvimento psíquico do sujeito.

Consumir afetos é uma forma frágil em pensar em relacionamentos, que envolve Eros,

amor, que tem um poder tão grandioso, entretanto, pode-se observar que sem um pra quê, até

Eros está à mercê de uma rápida paixão, deixando indeléveis ranços de mágoas e de espaços

vazios.
64

8. REFERÊNCIAS

ALVARENGA, L. (1996). Uma leitura psicanalítica do laço conjugal. In T. Féres-Carneiro

(Ed.), Relação amorosa, casamento, separação e terapia de casal (pp. 25-36). Rio de

Janeiro: Anpepp.

Amorim, Ana N., & Stengel M. (2014). Relações customizadas e o ideário de amor na

contemporaneidade. Estudos de psicologia. 19(3).

Andolfi, M. (1995). O casal em crise. São Paulo: Summus.

Andrade, A. L & Garcia, A. (2014). Escala de Crenças sobre Amor Romântico: Indicadores

de Validade e Precisão. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(1), 63-71.

Bauman, Z. (2004). Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos

Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

Benedito, V. L. Y. (1996). Amor conjugal e terapia de casal: Uma abordagem arquetípica. 2ª

ed. São Paulo: Summus.

Bezerra, P. V. & José S. (2010). Relacionamentos amorosos na Pós-modernidade: análise de

consultas apresentadas em sites de agenciamento amoroso. Pesquisas e práticas psicossociais,

4 (2).

Borges, V. C., & Andrade, A. L. (2013). Uma breve história das tentativas para medir

atributos dos relacionamentos amorosos em língua portuguesa. Estudos de psicologia, 18(4).

Brasil (2002). Lei Nº 10.406 - Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos

Jurídicos.

Byington, C. A. B. (2010). A paixão e a sombra: Uma contribuição da psicologia simbólica

Junguiana. Revista Latino-Americana da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. 28 (1),

p. 34-41.

Cahali, J. F. (2002). Contrato de convivência na união estável. Saraiva: São Paulo.


65

Carlson, R. & Williams, J. (1984). Studies of Junguian Typology: III Personality and

Marriage. Journal of Personality Assessment, 48 (1).

Colaciti, A. K. & Sartori, H. R. V. B. (2008). A vivência psicológica do relacionamento

conjugal: a posição de Jung. Revista Científica Eletrônica De Psicologia, 10(4).

Comin, F. S. & Santos A. M. (2011). Ajustamento diadico e satisfação conjugal: correlações

entre os domínios de duas escalas de avaliação da conjugalidade. Psicologia: reflexão e

crítica, 24(3) 439-447.

Conselho Federal de Psicologia (2016). Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos –

SATEPSI.. Brasília-DF.

Corbett, N. Q. (1990). A prostituta sagrada: A face eterna do feminino. São Paulo: Paulinas.

Corneau, G. (1999). Será que existe amor feliz? Como as relações pais e filhos condicionam

nossas relações (G. Teixeira, Trad.). Rio de Janeiro: Campus.

Coutinho, S. M. dos S. & Meneandro, P. R M. (2010). Relações conjugais e familiares na

perspectiva de mulheres de duas gerações: “que seja terno enquanto dure”. Psic. Clin, 22 (2),

p. 83-106.

Diniz, M. H. (1998). Dicionário Jurídico. Vol. 4. São Paulo: Saraiva.

Duarte, J. P. & Coutinho, M. L. R. (2011). “Namorido”: uma forma contemporânea de

conjugalidade? Psic. Clin, 23(2), 127-135.

Féres-Carneiro, T. (1998). Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade

com a conjugalidade. Psicologia Reflexão e Crítica, 11(2), 379-394.

Féres-Carneiro, T., & Neto, O. D. (2010). Construção e dissolução da conjugalidade: Padrões

relacionais. Paidéia, 20(46), 269-278.

Fuji, S. M.,& Kamei, H. H. (2007). Em busca da unidade perdida: A influência dos tipos

psicológicos na dinâmica de casal. Psicol. Argum, 48(25), 27-38.


66

Gadotti, C. M. (2010). Paixão: Nosso pecado de cada dia. Junguiana: Revista Latino-

Americana da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. 28(1), 42-48.

Gambini, R. (1988). O espelho índio: os jesuítas e a destruição da alma indígena. Rio de

Janeiro: Espaço e Tempo.

Giddens, A. (1993). A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas

sociedades modernas. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo.

Giddens, A. (2002) Modernidade e identidade. (Trad. P. Dentzien). Rio de Janeiro: Jorge

Zahar.

Gimael, E. R. D. A. (2008). Conflitos conjugais: uma leitura a partir da psicologia analítica

tomando como base os tipos psicológicos. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São

Paulo, Brasil.

Goto, T. A; Kamel H. & Fuji, S. (2007). A influência dos tipos Psicológicos no

relacionamento de casal. Psicol. Argum, 48(25), 27-38.

Grinberg, L.P. (2010). Lua de fel: Loucura na paixão. Junguiana: Revista Latino-Americana

da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica., 28(1), 49-57.

Guggenbul-Craig, A. (1977). O casamento está morto: viva o casamento! São Paulo:

Símbolo.

Hall, C. S., & Nordby, V. J. (2000). Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix.

Hillman, J. (2010). O pensamento do coração e a alma do mundo. Campinas: Verus.

Holanda, A. F. (2014). Fenomenologia e Humanismo: Reflexões necessárias. Curitiba: Juruá.

Jacobi, J. (2013). Psicologia de C. G. Jung: uma introdução das Obras Completas (E. Paulo,

Trad.). Petrópolis: Vozes.

Jaffé, A. (2006) Memórias, sonhos e reflexões. (13ª ed). Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Johnson, R. A. (1997). We: a chave da psicologia do amor romântico. São Paulo: Mercuryo.
67

Jung, C. G (2011i). Mysterium Coniunctionis. Obras Completas v. XIV/III. Petrópolis, 2011,

Editora Vozes. 5ª Edição.

Jung, C. G (2015). Sobre sentimentos e a sombra: sessões de perguntas de Winterthour. (2ª

ed). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2005). Sobre o amor. (2ª ed). São Paulo: Editora Ideias e Letras.

Jung, C. G. (2011a). Estudos experimentais. (2ª ed, vol. II). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011b). Freud e a Psicanálise. (7ª ed, vol IV). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011c). Símbolos da Transformação. (7ª ed, vol. V). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011d). Tipos Psicológicos. (4ª ed, vol. VI). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011e). Psicologia do Inconsciente. (19ª ed, vol VII/1). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011f). Energia Psíquica. (11ª ed, vol VIII/1). Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011g). AION: Estudo sobre o simbolismo do Si-Mesmo. (8ª ed, vol IX/2).

Petrópolis: Vozes.

Jung, C. G. (2011h). Civilização em Transição. Obras Completas v. X/III. Petrópolis, 2011,

Editora Vozes. 4ª Edição.

Jung, C. G. (2011j). O Desenvolvimento da Personalidade. Obras Completas v. XVII.

Petrópolis, 2011, Editora Vozes. 11ª Edição.

Jung, C. G. (2011k). Fundamentos da Psicologia Analítica. (10ª ed, vol XVIII). Petrópolis:

Vozes.

López, V. F. (2008). Vínculo conjugal: entre o individualismo e a busca pelo outro.

Universidade Católica de Salvador, Salvador, Brasil.

Neves, A. S.; Dias, A. S. F. & Paravidini, J. L. L. (2013). A psicodinâmica conjugal e a

contemporaneidade. Psicologia Clínica, 25(2), 73-87

Oliveira, N. H. D. (2009). Recomeçar: família, filhos e desafios [online]. São Paulo: Editora

UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.


68

Oltromari, L. C. (2009). Amor e conjugablidade na contemporaneidade: uma revisão de

literatura.

Paquali, L. (2009). Psicometria. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(spe), 992-

999.

Penna, E. M. D.(2010).A paixão na adolescência : um rito de iniciação. Junguiana: Revista

Latino-Americana da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. 28/1: 25-33.

Platão, 427-347 a.C. (2013). O banquete. Porto Alegre: L&PM.

Ramos, L. M. A. (2005). Os tipos psicológicos na psicologia analítica de Carl Gustav Jung e o

inventário de personalidade "Myers-BriggsTypeIndicator (MBTI)": contribuições para a

psicologia educacional,organizacional e clínica. In: ETD - Educação Temática Digital 7 1,

pp.137-180.

Ruby, P. (1998). As faces do Humano: estudo de tipologia Junguiana e psicossomática. São

Paulo: Oficina de Textos.

Secco, M. L., & Lucas M. G. (2015). A vida amorosa de mulheres financeiramente

independentes. Pensando famílias 19(1), jun.2015, (61-76).

Silva, A. A. (2005). Determinação das histórias de amor mais adequadas para descrever

relacionamentos amorosos e identificação das historias de amor que produzem mais

identificação e que as pessoas mais gostariam de viver. In: Interação em Psicologia 9(2), p.

295-309.

Stein, M. (2006). Jung: o mapa da alma: uma introdução. São Paulo: Cultrix.

Stein, R. (1974). Incesto e Amor Humano: a traição da alma na psicoterapia. São Paulo:

Cultrix.

Von Franz, M. L. (1992) O significado psicológico dos motivos de redenção nos contos de

fada. São Paulo: Cultrix.

Von Franz, M. L.(2010). A tipologia de Jung. (7ª ed). São Paulo: Cultrix.
69

Young-Eisendrath, P. Y. & Dawson, T. (2002). Manual de Cambridge para estudos

Junguianos. Porto Alegre: Artmed Editora.

Zacharias, J. J. M. (2000). QUATI - Questionário de Avaliação Tipológica (versão II)

Manual. (4ª ed.rev. e ampl.). São Paulo: Vetor.

Zacharias, J. J. M. (2006).Tipos: a diversidade humana. São Paulo: Vetor.

Zago, A. V. (2009). Mulheres que escolhem o presidiário como parceiro amoroso - uma

formação de casal específica. In I. C. Gomes (Org). Clínica psicanalítica de casal e família. A

interface com os estudos psicossociais (p. 109-119). São Paulo: Santos Editora.
70

9. ANEXOS
71

9.1 ANEXO 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Nós, Prof. Dr. Carlos Augusto Serbena e Aline Cristina Zocante Mamede,

pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, convidamos-lhes a participar de um estudo

intitulado “RELAÇÕES COMPLEMENTARES NA DINÂMICA PSÍQUICA

CONSIDERANDO ATITUDES E MODOS EM RELAÇÕES ESTÁVEIS”. A importância

dessa pesquisa decorre da possibilidade de proporcionar maior compreensão acerca desse

assunto.

a) O objetivo dessa pesquisa é identificando os principais motivos de aproximação dos

casais, a dinâmica psíquica na busca do parceiro e a relação destes com os tipos psicológicos.

b) Caso participe dessa pesquisa, será necessário responder a um Questionário de

Avaliação Tipológica e a uma entrevista realizada pelo Pesquisador no qual o áudio será

gravado.

c) Para tanto, será necessário comparecer em um dos locais abaixo para preenchimento

do questionário acima citado, bem como para a realização da entrevista, por aproximadamente

2 horas:

Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR),

localizada na Praça Santos Andrade, nº 50, 1º andar, sala 112; Faculdade Evangélica do

Paraná, localizada à Rua Padre Anchieta, nº 2770, Bigorrilho; Centro Universitário Campos

Andrade, localizada à Rua João Scuissiato, nº 01, Santa Quitéria; dentre outras instituições de

ensino superior.

d) Não há riscos relacionados à sua participação na pesquisa.

e) Considerando os benefícios, além de contribuir com o conhecimento científico, sua

participação propiciará autoconhecimento e da relação.

f) Sujeito da Pesquisa: ________________

Pesquisador Responsável Rubricas:

________________

Orientador

________________Orientado________________
72

g) O pesquisador Prof. Dr. Carlos Augusto Serbena, responsável por este estudo, poderá

ser contatado pelo telefone (41) 3310-2727 ou pelo e-mail nedhu@ufpr.br para esclarecer

eventuais dúvidas e para fornecer as informações necessárias, antes, durante e após o

encerramento do estudo.

h) A sua participação nesse estudo é voluntária e caso não deseje fazer mais parte da

pesquisa, poderá desistir a qualquer momento e solicitar que lhe devolvam o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido assinado.

i) As informações relacionadas a este estudo serão reveladas apenas ao orientador da

pesquisa. Se qualquer informação for divulgada em relatórios ou publicações, seu nome não

aparecerá, sendo este substituído por um código para que sua identidade seja preservada e

mantenha-se a confidencialidade.

j) As despesas decorrentes da realização desta pesquisa, não são de sua responsabilidade

e não haverá nenhuma espécie de pagamento em dinheiro pela sua participação.

Rubricas:

Sujeito da Pesquisa: ________________

Pesquisador Responsável ________________

Orientador ________________

Orientado________________

Eu, ____________________________________________ li esse termo de

consentimento e compreendi a natureza e o objetivo do estudo do qual concordei em

participar. A explicação que recebi menciona seus riscos e benefícios. Compreendi que sou

livre para interromper minha participação a qualquer momento sem justificar minha decisão.

Eu concordo voluntariamente em participar deste estudo.


73

______________________________________________

(Assinatura do sujeito da pesquisa)

______________________________________________

(Assinatura do pesquisador)

Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da UFPR


Telefones: (41) 3360-7529 e-mail: cometica.saude@ufpr.br
74

9.2 ANEXO 2 – Declaração de Responsabilidade


75

9.3. ANEXO 3 – Termo de Confidencialidade


76

9.4. ANEXO 4 – Roteiro para conferência e aceite de projetos de pesquisa com seres

humanos encaminhados via Plataforma Brasil ao CEP


77

9.5. ANEXO 5 – Folha de rosto para pesquisa envolvendo seres humanos

Você também pode gostar