ALAR SOBRE
VAMOS F
CULTURA
POP
TEXTOS DO V COLÓQUIO REGIONAL SUL
EM ARTE SEQUENCIAL
Thuanny de Azevedo Bedinote
Marcelo Ávila Franco
Larissa Tamborindenguy Becko
André Daniel Reinke
(Organização)
OS FALAR SOBRE
A
VAM
CULTUR
POP
Leopoldina, MG
2020
ASPAS – Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial
https://blogdaaspas.blogspot.com/ | aspascontato@gmail.com
Diretoria da ASPAS (2019-2021) Ilustração da Capa
Sabrina da Paixão Brésio Guilherme Sfredo Miorando
Ivan Carlo Andrade de Oliveira
Attila de Oliveira Piovesan Projeto Gráfico
Valéria Aparecida Bari André Daniel Reinke
Nota: Os textos aqui compilados são de inteira responsabilidade de seus autores e suas autoras, que
respondem individualmente por seus conteúdos e/ou por ocasionais contestações de terceiros. Qualquer
parte pode ser reproduzida, desde que a fonte seja mencionada.
Esta publicação é um ebook disponibilizado gratuitamente, sem objetivação de lucro. Uma cópia impressa
do ebook pode ser adquirida em http://www.perse.com.br ao preço de custo.
As imagens utilizadas ao longo desta publicação possuem viés de investigação acadêmica, sem
desrespeitar, portanto, os direitos de propriedade intelectual, conforme previsto pela Lei n. 9.610, de 19 de
fevereiro de 1998, especialmente, pela leitura dos artigos 7, 22 e 24 e 46.
Outros colaboradores.
ISBN 978-65-87876-02-3
APRESENTAÇÃO .7
HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO E
REPRESENTATIVIDADE: UMA ANÁLISE DE
CONTEÚDO NA REDE SOCIAL TWITTER . 175
Brandy Stephanie Ribeiro Aguiar e Jordão de
Oliveira Farias
Introdução
1 Este artigo toma como base a palestra de abertura homônima realizada no V Colóquio do
Cult de Cultura, ocorrido na EST em 11 de outubro de 2019. E cuja primeira versão, compôs
um capítulo de um manual de disciplina em um curso de pós-graduação na EST. Este texto,
portanto, é uma versão revisada e ampliada. Cf.: BRAGA JR, A. X.; REBLIN, I. A..Estudos
de Cultura Pop e perspectivas de análise. Curso de Especialização em Cultura Pop. São
Leopoldo: EST, 2019, p. 02-44. [Cap. 2 e 3]. Cf.: BRAGA JR, A. X. A pesquisa acadêmica sobre
cultura pop: possibilidades e desafios. Palestra de abertura. V Colóquio Regional Sul em
Arte Sequencial. 11-12 out. 2019. São Leopoldo: EST. [Exposição Oral]
2 Doutor e Mestre em Sociologia. Mestre em Antropologia Social. Bacharel e Licenciado
em Ciências Sociais. Professor do Instituto de Ciências Sociais. Universidade Federal de
Alagoas. E-mail: amaro@ics.ufal.br.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 10
3 Este levantamento não representa o universo, por completo. É apenas um recorte tempo-
ralizado e circunstancial que nos permite uma breve inferência sobre a pesquisa produzida
sobre Cultura Pop.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 11
O que estes dados podem nos dizer? Nada muito concreto. Ainda
assim, é possível inferir como os estudos sobre Cultura Pop estão
distribuídos pelos diversos campos do saber, configurando as abor-
dagens como interdisciplinares e que é mais fácil estudar estes as-
pectos em instituições particulares do que nas públicas. Isso mostra
como, no setor público, alguns aspectos atribuídos à importância
dos temas e objetos resvala na temática da Cultura Pop.
campo é complicado.
É importante, inclusive, perceber suas ramificações ou objetos
de análise, por assim dizer. Com o objetivo de mapear estas rami-
ficações que a Cultura Pop assume, entre as pesquisas, propus uma
exposição, pontual, dos principais temas e objetos que se relacionam
com a Cultura Pop de maneira mais usual. O objetivo não é findar o
tema ou circunscrevê-lo aos aspectos citados, mas, sobretudo, possi-
bilitar uma aparência mais concreta a uma terminologia muito am-
pla e diversificada. Um guia de referência, por assim dizer, que toma
como base, as principais pesquisas e resultados trazidos pelos pes-
quisadores que identificam suas ações como pertencentes ao campo
denominado “Cultura Pop”.
Programas de TV
Como forma de entretenimento, a Cultura Pop surgiu a partir
dos produtos midiáticos. E o primeiro deles a criar esta demanda por
comportamento de consumo destes produtos vinculados à diversão
foi a Televisão.
A Televisão criou uma nova forma de entreter a população. Ela
levava diversão, conhecimento e lazer, tudo de uma vez só, em um
tempo reduzido e simplificado para dentro das casas.
Os programas de auditório e games shows criaram comunidades
de fãs que reservavam os horários para não perder uma única exibi-
ção. Criaram celebridades e famosos que começaram a criar fãs que
idealizavam estes novos personagens que não eram artistas (como os
do teatro ou da música), mas encantavam pelo carisma e pelo víncu-
lo que criaram com seus respectivos programas.
Estes shows também possibilitaram que uma nova classe de es-
pecialistas surgisse na sociedade, sabedores de todos os momentos
daquele programa.
Estes programas não apenas levavam diversão travestida de in-
formação até seu público doméstico, mas um novo padrão de consu-
mo de diversos produtos. A TV sobrevivia (e ainda o faz até os dias
atuais) de propaganda de produtos vinculados à sua programação.
Roupas, acessórios, objetos e utensílios diversos que eram anuncia-
dos antes, durante e depois das apresentações.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 13
O divertimento é garantido com esses programas, pois a cada fase dos jogos
ficamos mais e mais apreensivos, torcendo para que os participantes che-
guem aos grandes prêmios. [..] Quem nunca sonhou em participar de um
desses programas? Acho que todos já nos sentimos dentro dos games shows,
participando e dando os nossos pitacos como se o jogador que lá está, con-
seguisse ouvir por transmissão de pensamento a resposta certa.5
6 Para aprofundar esta dimensão dos grupos de referência, vide o trabalho de Erving
Goffman, especialmente em: GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da
Identidade Deteriorada, Rio de Janeiro, Editora LTC, 1988; e, GOFFMAN, Erving. Forms of
Talk (Conduct and Communication). Paperback: New York, 1981.
7 <https://www.coisasdojapao.com/2017/06/os-programas-de-televisao-no-japao-sao-os-
-melhores/>
8 <https://www.nsvmundogeek.com.br/japao/programas-bizarros-da-tv-japonesa/>
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 15
Séries de TV
Foram a partir dos programas de TV, suporte para a maioria dos
demais bens e produtos da Cultura Pop, que se desenvolverem os
desenhos animados, séries de televisão, filmes do cinema, filmes fei-
tos para a televisão, minisséries, etc.. No Japão, surgiram, inclusive,
novos produtos como os Live Actions (encenação com atores reais
de personagens dos quadrinhos e da animação); os Tokusatsu, as
séries de fantasia sci-fi com muito efeito especial como Godzila e
Jaspion; e os Sentai, um tokusatsu com grupo de cinco integrantes,
como Changeman, Flashman e Maskman.
Estes produtos resultaram em pesquisas diversas como a disser-
tação em Comunicação e semiótica, “Metáforas políticas no gênero
tokusatsu: a metamorfose dos signos na mídia japonesa” de Nordan
Manz (MANZ, 2013). E, entre este produtos televisivos, uma série
de outros relacioandos à cultura de consumo: trilhas sonoras, ban-
das musicais, práticas alimentares e de vestimentas e congêneres tais
como jogos, quadrinhos e outros produtos derivados deste patamar.
Nos EUA, as séries veiculadas na TV, aberta ou por assinatura,
criaram novas demandas de consumo de produtos associados aos
fãs deste material.
9 <http://4.bp.blogspot.com/-xqy3RSkv4eM/UFXVw9EHuKI/AAAAAAAAADc/efQ82oTe-
PX4/s640/SUPER+SENTAI+EXIBIDOS+NO+BRASIL.jpg >
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 16
10 <https://i.pinimg.com/originals/36/59/42/3659421049375b940a11363e80d72360.jpg>
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 18
11 < http://harrypradoclub.blogspot.com/2011/07/erros-dos-livros-3-harry-potter-e-o.
html>
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 19
12 Veja cum caso similar relacionado aos filmes de Harry Potter: https://fanzone.potterish.
com/filmes/erros-de-filmagem/ordem-da-fenix/erros-de-continuidade
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 20
13 <http://rebloggy.com/post/quotes-my-post-books-fairy-lights-classics-reading-literatu-
re-ya-bookshelf-ya-li/77578842079>
14 “Fan fiction (em português, literalmente, “ficção de fã”), também grafada fanfiction ou,
abreviadamente, fanfic é uma narrativa ficcional, escrita e divulgada por fãs inicialmente em
fanzines impressos e posteriormente em blogs, sites e em outras plataformas pertencen-
tes ao ciberespaço, que parte da apropriação de personagens e enredos provenientes de
produtos midiáticos como filmes, séries, quadrinhos, videogames, etc. Portanto, tem como
finalidade a construção de um universo paralelo ao original e também a ampliação do contato
dos fãs com as obras que apreciam para limites mais extensos”. FANFIC. In: WIKIPÉDIA, a
enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em: <https://pt.wikipedia.
org/w/index.php?title=Fanfic&oldid=56224867>. Acesso em: 12 set. 2019.
15 “Commission” é uma arte (desenho e/ou pintura) feita sob encomenda, por um artista
para a pessoa que encomenda. Normalmente, é bem especificado o que é que deve ser de-
senhado e com quais características. Sejam personagens previamente existentes ou não. É
a pessoa que encomenda que define todos os elementos do desenho final.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 21
16 “Jokempô: Pedra, papel e tesoura, também chamado em algumas regiões do Brasil
de jokempô (do japonês , jankenpon) é um jogo de mãos recreativo e simples
para duas ou mais pessoas, que não requer equipamentos nem habilidade. O jogo é fre-
quentemente empregado como método de seleção (como na escolha de equipes para a
prática desportiva, por exemplo), assim como lançar moedas, jogar dados, entre outros. No
entanto, diferentemente desses métodos que se baseiam exclusivamente em sorte, pedra-
-papel-tesoura pode ser jogado com um pouco de habilidade. Principalmente se o jogo
se estender por vários turnos com o mesmo jogador, este pode reconhecer e explorar a
lógica do comportamento do adversário (perceber e anteceder as jogadas do adversá-
rio).”. PEDRA, PAPEL E TESOURA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
Foundation, 2019. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pedra,_
papel_e_tesoura&oldid=56113552>. Acesso em: 29 ago. 2019.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 23
17 <h t t p s : // m a g i c .w i z a r d s . c o m / s i t e s / m t g / f i l e s / i m a g e s / f e a t u r e d / E N _
RegionalProTourQualifier_Header_0.jpg >
18 <https://scontent-yyz1-1.cdninstagram.com/vp/3605942b08c7a6bcfd6ddf1be6117405/5
E2F7687/t51.2885-15/sh0.08/e35/s640x640/69701290_2517957314964293_6722070407217
126299_n.jpg?_nc_ht=scontent-yyz1-1.cdninstagram.com&_nc_cat=105 >
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 25
Figura 11 – Jogo Fire Team Zero que vêm com um CD contendo trilha sonora para
ser ouvida durante as partidas.
Fonte: Amazon20 e Balena Ludens21
19 <https://www.ludopedia.com.br/topico/4010/trilhas-sonoras-para-dezenas-de-jogos-e-
-vem-mais>
20 < https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/71QZU9GZ1KL._SL1000_.jpg>
21 <https://i1.wp.com/www.balenaludens.it/wp-content/uploads/2016/12/fireteam-Ze-
ro-005-1024x552.jpg?resize=1024%2C552>
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 28
Cult, é de Cultuado
A produção de audiovisual é muito ampla: vai desde de vídeos
curtos para internet, curtas, média e longa metragens para serem
exibidos em salas especiais preparadas para seus efeitos de som e
imagem até gravações de duração variada para serem exibidos na
TV. Há diferenças de narrativa, enquadramento e até concepção de
enredo e personagens para cada um destes segmentos. O que os po-
dem tornar objetos da Cultura Pop está relacionado a dois elemen-
tos: sua continuidade serializada e a aderência do público enquanto
objeto de culto.
Não à toa, algumas produções fílmicas se tornam Cult, por serem
justamente cultuadas por algum fator de ordem estético que o faz de-
senvolver relações de sentido valorativo para um grupo em especial
que consome estes produtos.
Desta forma há dois movimentos distintos: um que parte da in-
dústria de entretenimento e outro que parte dos grupos que conso-
mem os materiais.
São os agrupamentos humanos que objetificam determinados
objetos da cultura de massa, da cultura popular e da cultura erudita,
tornando-os objetos de culto. Passam a ser valorados por um tipo
de representação estética, temática, transtemporal que é eleita pelo
grupo como instrumento simbólico. Há, muitas vezes, reminiscên-
cias de um tempo passado, nostálgico, que o respectivo material que
o grupo foca, representa muito bem. E, é por isso, que ele se torna
“cult”.
A ação de se tornar Cult é emblemática da Cultura Pop. Esta rela-
ção vem atraindo diversos pesquisadores interessados em entender
como este processo de vínculo se estabelece, obviamente para apli-
car em novos produtos com interesse nas aplicações comerciais22 ou
estéticos23.
eco_pos/article/view/1763
24 Para mais informações, consulte: CARLOS, Giovana Santana. O(S) Fã(S) da Cultura
Pop Japonesa e a Prática de Scanlation no Brasil. Dissertação de Mestrado em
Comunicação e Linguagens. Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2011. Disponível
em: https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/7296348/%5Bdissertacao
%5D%20Os%20fas%20da%20cultura%20pop%20japonesa%20e%20a%20pratica%20
de%20scanlation%20no%20Brasil.pdf?response-content-disposition=inline%3B%20
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015792d020bba5f7cbdc5504b496cc3ac2d9. Acessado em: 25 ago. 2019.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 30
Considerações Finais
Referências
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O que eu imaginei então uma filosofia pop em que a gente fizesse uma par-
ceria com as imagens, mas que as imagens tivessem um espaço maior, uma
maior preponderância a tal ponto que, às vezes, os conceitos pudessem se
deixar levar pelas imagens e pela imaginação, abrindo mão um pouco então
do seu poderio. É uma parceria então do pensamento com a imaginação e
da Filosofia com a arte. E isso é diferente em relação à Filosofia tradicional,
que é, basicamente, uma parceria da Filosofia com a Ciência. Então não é
um abandono da parceria com a Ciência, mas é uma ampliação, uma pro-
posta de articulação com as artes em geral.4
A CIÊNCIA SUPERMAN
Sempre que passamos a explicar uma lei ou teoria conjectural por meio de
uma nova teoria conjectural de grau de universalidade superior, estamos
descobrindo mais acerca do mundo, tentando penetrar mais a fundo em
seus segredos. E sempre que conseguimos tornar falsa uma teoria dessa
espécie, fazemos uma nova descoberta. Pois estas falsificações são muito
importantes. Elas nos ensinam o inesperado; e nos confirmam que embora
nossas teorias sejam feitas por nós mesmos, embora sejam invenções de nós
mesmos, nem por isso deixam de ser asserções genuínas acerca do mundo;
pois podem chocar-se com algo que nunca fizemos. (Ibid, p. 184-185)
Alsina (1995, p. 13, tradução própria12) afirma que “uma das pre-
ocupações fundamentais da teoria da comunicação tem sido estabe-
lecer seu status científico”. Quando comenta a história do estudo da
comunicação, o autor afirma que, até os anos de 1930, a disciplina foi
ocupada pelos saberes humanísticos e que somente após esta década
a sociologia se aproximou do campo. Na ânsia de se afirmar como ci-
ência, o campo da comunicação compartilhou seu objeto com outras
11 No original: “Entre el rango de ciencia constituida o sólo un campo de intersección de
saberes, el estatuto de la comunicación social ha variado y dividido opiniones a lo largo de
las décadas. Una de sus características más marcadas —y de ahí, tal vez, su vivencia más
allá del debate decisivo acerca de su definición teórica— es la fuerte atracción que suscita en
los más variados ámbitos sociales y en los más variados grupos de interés. Todos se intere-
san en el papel y el efecto de los medios de comunicación sobre la sociedad y el individuo.”
12 No original: “una de las preocupaciones fundamentales de la teoría de la comunicación
ha sido establecer su estatuto científico”.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 44
13 No original: “está interesada en explicar cómo el ser vivo controla su entorno mediante
el recurso de la información”.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 45
14 No original: “[...] los cambios en el ámbito de la tecnicidad y la identidaded están recla-
mando imperiosamente pensar las mediaciones comunicativas de la cultura, un nuevo mapa
que dé cuenta de la complejidad en las relaciones constitutivas de la comunicación en la
cultura, pues, los medios han passado a constituir un espacio clave de condensación e inter-
cepción de la producción y el consumo cultural, ao mismo tiempo que catalizan hoy algunas
de las más interessantes redes de poder”.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 47
[...] que a comunicação seja um fato imediato. Ora, fatos imediatos são cam-
po da psicologia comportamental, que opera com reações instantâneas e
irracionais, como, por exemplo, as da estratégia publicitária, da imprensa
reprodutora de clichês, dos arregimentadores de fanáticos. Comunicação,
ao contrário, exige tempo de maturação. Trata-se de algo que se desenvolve.
(MARCONDES, 2015, p. 3)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
REFERENCIAL TEÓRICO
METODOLOGIA DA PRÁTICA
Construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, aca-
bado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma
instância, como algo terminado. Assim constitui-se pela interação do indi-
víduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo
das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer
dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que pode-
mos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito
menos, pensamento. (BECKER, 2009, p. 2).
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
giz de cera e caneta. O objetivo principal era que, junto com suas
famílias e em casa, os alunos desenhassem o seu próprio super-herói,
descrevendo também as habilidades do mesmo. Após, a família es-
creveria um relato sobre como foi realizar essa atividade. Na Figura
1 apresentamos a “Super Sacola” que foi enviada para a casa dos edu-
candos.
Relato 7:
“Penso que foi um trabalho muito interessante, pois acompanha-
mos um pedacinho da disposição dela quando o assunto era traba-
lho para a escola”.
A partir desses relatos percebemos o impacto da intervenção, da
participação da família no desenvolvimento escolar dos alunos, do
uso da criatividade e imaginação dos pequenos e do entendimento
dos valores morais passado durante as atividades. Com o conheci-
mento significativo proporcionamos a aprendizagem e oportuniza-
mos o educando a se estabelecer como agente de seu conhecimento.
Na Figura 3 apresentamos os heróis criados pelos alunos junta-
mente com sua família, e percebemos que cada personagem exibe
características positivas, promovendo o bem, tendo como superpo-
der a amizade, o amor, o respeito, o instinto protetor e a alegria.
AVALIAÇÃO DA PRÁTICA
queno tempo que ficamos nessa turma fizemos uma avaliação diag-
nóstica e formativa, sem recorrer a uma avaliação classificatória.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
DINÂMICAS DO PROJETO
Figura 2: Armandinho
© 2018, Armandinho Inc. Todos os direitos reservados.
Fonte: Padula Livros4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Era difícil para mim escrever para as revistas para meninas, porque eu sou
homem e não tenho irmãs, só irmãos. Até mesmo minha mãe era quase um
homem. Os mangás para meninas naquela época eram verdadeiros drama-
lhões. Eu pensei “se é isso que elas querem, eu deveria fazer o mesmo”. Chiba
e outros artistas começaram produzindo histórias sentimentais e melosas
sobre órfãs, bailarinas e violinistas, que reforçavam o estereótipo sensível e
despretensioso do shoujo. (GRAVETT, 2005, p. 82).
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 89
um passo, uma condição especial para que a mulher construísse sua ima-
gem e até fosse um agente modificador. Estão de posse da ferramenta e ain-
da martelam no mesmo lugar. Isso pode, no entanto, significar também algo
mais profundo e assustador (LUYTEN, 2008, p. 68).
Eu sou desse sexo aí, esse que deve ficar calado, esse que forçamos a ficar ca-
lado. E que deve aceitar isso com elegância, uma vez mais pedir licença. Se-
não, desapareceremos. Os homens sabem melhor do que nós o que devemos
falar a respeito de nós mesmas. E as mulheres, se elas desejam sobreviver,
devem compreender essa ordem. Que não me venham dizer que as coisas
evoluíram bastante, que nós já passamos a outras coisas. Não para mim. O
que suporto como escritora mulher é duas vezes maior do que um homem
suporta. (DESPENTES, 2018, p. 115).
Misaki se salva sozinha e acaba dando uma surra nos homens que
a sequestraram e, enquanto isso, Usui aparece minúsculo num qua-
dro. Misaki é maior que Usui. Ela é mais forte que ele e não precisa de
um herói para resgatá-la. Ela protagoniza a cena, que deveria ser pro-
tagonizada pelo cavaleiro que a salva. Misaki não traz a personagem
feminina que o homem quer que seja representado. Para Despentes:
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 95
ESTEREÓTIPOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1 Doutorando e mestre em Artes Visuais com ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte
pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Bacharel em História da Arte e Bacharel em Direito. Palavras-
chave: História da Arte; Teoria dos Estilos; História em Quadrinhos; Videogame. Currículo
lattes:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4373221Z6&tipo=completo&i
diomaExibicao=1
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 100
Referências
INTRODUÇÃO
O presente artigo analisa tiras do Snoopy a partir do método
cartográfico-crítico a fim de verificar como se dá a construção do
aspecto religioso neste produto da cultura pop. O Método Carto-
gráfico-Crítico foi desenvolvido por Iuri Andréas Reblin, em duas
etapas, a cartográfica e a crítica. O estudo cartográfico consiste no
mapeamento da obra. Já o estudo crítico se dá a partir da área esco-
lhida para a análise, neste caso, a Teologia.
Assim, após a explanação do Método Cartográfico-Crítico e da
contextualização do universo do Snoopy, reflete-se a epistemologia
do religioso em tiras selecionadas do produto cultural em questão.
Foram selecionadas tiras a partir de seleções temáticas sobre o mis-
terioso, a felicidade e temáticas relacionadas à teologia.
A importância que se verifica no estudo é a de que a religião e
a religiosidade permeiam o cotidiano das pessoas e sofrem com os
O MÉTODO CARTOGRÁFICO-CRÍTICO
O gênero textual refere-se aos diferentes formatos que o texto assume para
desempenhar as mais diversas funções sociais, ressaltando suas proprie-
dades sociocomunicativas de funcionalidade e de intencionalidade. Nesse
domínio, são artefatos culturais historicamente construídos e usados pelo
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 123
3 Bohm explica que “As tiras estão inseridas no contexto das histórias em quadrinhos, são
‘narrativas gráfico-visuais’.” (BOHM, 2017, p. 32).
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 124
Há, desta forma, uma troca entre a pessoa autora e a pessoa lei-
tora, cada qual com as suas particularidades sociais, culturais, polí-
ticas e econômicas e que, de alguma forma, interferem na intenção
da criação e na forma de recepção da mesma pelo leitor ou leitora.
Bakhtin, a esse respeito, menciona que:
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 125
O texto só ganha vida em contato com outro texto (com contexto). Somente
neste ponto de contato entre textos é que uma luz brilha, iluminando tanto
o posterior como o anterior, juntando dado texto a um diálogo. Enfatizamos
que esse contato é um contato dialógico entre textos [...] por trás desse con-
tato está um contato de personalidades e não de coisas (BAKHTIN, 2006,
p. 162).
a
CRONKITE, Walter. Introdução. p. XI-XIII. In: SCHULZ, Charles M. Peanuts Com-
pleto: 1953-1954. Porto Alegre: L&PM, 2014. p. XII.
4 Justifica-se a síntese por se tratar de uma proposta de um método, bem como presente
estudo se limitar a um a um artigo. Trata-se de uma tentativa de análise a partir do método
proposto.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 127
b
Os dados acerca das características dos três personagens envolvidos nas tiras sele-
cionadas são de: SCHULZ, Charles M. Você não entende o sentido da vida. Porto
Alegre: L&PM, 2014.
c
LIRA, David Pessoa de. O aspecto secular-religioso dos peanuts: uma análise teolin-
guística da prédica de Charles Schulz através da narrativa figurada. Estudos Teoló-
gicos, São Leopoldo, v.56, n.1, p. 40-54, jun. 2016. Disponível em:
<http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/2721/2541>
Acesso em 10 ago. 2018.
d
LIND, Stephen. A Charlie Brown Religion: Exploringthe Spiritual Life and Workof
Charles M. Schulz. Missipi: University Press of Mississippi, 2015. (E-book).
e
DEZ ANOS sem Charles Schulz: Veja a última tirinha de Snoopy e Charlie Brown.
Notícias BOL, 12 fev. 2010. Disponível em:
<https://noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2010/02/12/dez-anos-sem-charles-
schulz-veja-a-ultima-tirinha-de-snoopy-e-charlie-brown.jhtm>. Acesso em 30 jul.
2018.
tido a sua continuação.
3 Contexto Schulz foi criado num ambiente sufocante tanto pela
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM
criativo igreja como pela família, que não incentivava a leitura 128
de livros, e onde as crianças eram obrigadas a ficarem
caladas.f Por mais que estivesse envolvido em contextos
tidoguerra
de a sua (II
continuação.
Guerra Mundial e Guerra Fria), suas temá-
3 Contexto Schulz foi
ticas eram maiscriadode num
cunhoambiente
existencial,sufocante
de solidão tanto pela
e perda.
criativo igreja como pela família, que não incentivava
4 Historicidade Mais de 560 das quase 17.800 tiras da “Peanuts” possu- a leitura
de livros,
em algumae referência
onde as crianças eram
espiritual, obrigadas
teológica a ficaremg
ou religiosa.
caladas.f Por mais
Converteu-se que estivesseaoenvolvido
ao cristianismo retornar do emfront
contextos
na II
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Guerra (II Guerra
Mundial. FoiMundial e GuerradeFria),
líder de grupos suasdotemá-
estudos An-
ticas eram mais dee cunho
tigo Testamento existencial,
professor de escola dedominical.
solidão e perda.
h
Suas
4 Historicidade tiras
Maistrataram
de 560 das de quase
temas 17.800 tiras da
do cotidiano e o“Peanuts”
público alvopossu-
era
em alguma referência espiritual, teológica
o comum, sem distinguir por quaisquer tipos de classi- ou religiosa. g
Converteu-se
ficações. ao cristianismo
Porém, são os temasaocomunsretornarque do front
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Guerra
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de grupos de estudos
aspectos: do An-
econômico,
tigo Testamento
político, e professor
social, cultural de escolaAssim,
ou religioso. o que Suas
dominical. h
apa-
tiras trataram
rente ser apenas de uma
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do cotidiano e o público
de recreação, alvo era
é também de
o comum,
crítica sem distinguir
e reflexão. por quaisquer
As tiras selecionadas têmtipos
comode tema
classi-a
ficações.
religião e Porém, são os
a felicidade, umtemas comuns
dos tantos quepertinentes
temas tratam do
sentido da vida em seus diversos aspectos:
ao cotidiano dos seres humanos e que é próprio das econômico,
político,
religiões social, cultural Sua
e da teologia. ou religioso.
receptividadeAssim, foiofantástica
que apa-
rentepúblico
por ser apenas umai,leitura
e crítica tanto de recreação,
é que é também
se manteve durante de
crítica e reflexão.
meio século As tiras selecionadas
nos principais têm como
jornais do mundo. Nastemapala-a
religião e a felicidade,
vras de Umberto um dosretrará
Eco, Schulz tantosem temas
suaspertinentes
tiras a sua
ao cotidiano
versão dos seres
da condição humana humanos e queo leitor
tanto para é próprio
inocentedas
religiões e da teologia.
como para o sofisticado. Sua
j receptividade foi fantástica
por público e críticai, tanto é que se manteve durante
meio século nos principais jornais do mundo. Nas pala-
vras de Umberto Eco, Schulz retrará em suas tiras a sua
versão da condição humana tanto para o leitor inocente
como para o sofisticado.j
f
BIOGRAFIA conta a verdadeira história de Schulz e Charlie Brown. G1, Pop & Arte,
Quadrinhos, 21 out. 2017. Disponível em:
<http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL153922-7084,00-
BIOGRAFIA+CONTA+A+VERDADEIRA+HISTORIA+DE+SCHULZ+E+CHARLIE+BR
OWN.html>. Acesso em 30 jul. 2018.
g
LIND, 2015.
h
f ESPARZA, 2016.
BIOGRAFIA conta a verdadeira história de Schulz e Charlie Brown. G1, Pop & Arte,
i
No entanto, uma
Quadrinhos, das2017.
21 out. críticas negativas
Disponível foi a de que “Alguns críticos acusam Charlie
em:
Brown e seus amigos de serem falsas crianças, na verdade adultos em miniatura,
<http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL153922-7084,00-
com preocupações e tiradas que não pertencem ao mundo infantil.” MISTÉRIOS de
BIOGRAFIA+CONTA+A+VERDADEIRA+HISTORIA+DE+SCHULZ+E+CHARLIE+BR
Charlie Brown
OWN.html>. e Umberto
Acesso em 30 Eco.
jul. O Globo, Cultura, 23 out. 2013. Disponível em:
2018.
g <https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/misterios-de-charlie-brown-
LIND, 2015.
h umberto-eco-10504061#>.
ESPARZA, 2016. Acesso em 01 ago. 2018.
j
i ECO,
No Umberto.
entanto, umaOndas‘Krazy Kat’negativas
críticas foi a deThe
and ‘Peanuts’. queNew Yorkcríticos
“Alguns Review of Books,13
acusam Charliede
junho de
Brown 1985.amigos
e seus Disponível em: <https://www.nybooks.com/articles/1985/06/13/on-
de serem falsas crianças, na verdade adultos em miniatura,
krazy-kat-and-peanuts/>.
com preocupações e tiradas Acesso em 30
que não jul. 2018.ao mundo infantil.” MISTÉRIOS de
pertencem
Charlie Brown e Umberto Eco. O Globo, Cultura, 23 out. 2013. Disponível em:
<https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/misterios-de-charlie-brown-
Quadro 1 - Etapas um a quatro do Método Cartográfico-Crítico
umberto-eco-10504061#>.paraAcesso em 01
as Tiras deago. 2018.
Snoopy
j
ECO, Umberto. On ‘Krazy Kat’ and ‘Peanuts’. The New York Review of Books,13 de
Fonte: o autor
junho de 1985. Disponível em: <https://www.nybooks.com/articles/1985/06/13/on-
krazy-kat-and-peanuts/>. Acesso em 30 jul. 2018.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 129
[...] um termo formal que alude à percepção de uma teologia que se imiscui
nos meandros da vida cotidiana; trata-se de uma teologia constituída pelo
sujeito ordinário no dia a dia e expressa das mais diferentes maneiras. Em
outras palavras, as pessoas em sua vida diária não “apenas” têm experiências
e vivências religiosas, mas procuram elaborar para si e para outros, o que
essas experiências significam. (REBLIN, 2015, p. 88-89)
5 O título das figuras com as tiras de Snoopy são de autoria própria a partir da leitura que
se fez da tira. Nas obras consultadas as tiras não possuem título, mas foram selecionadas de
acordo com a temática de cada livro. No caso do presente artigo, os livros consultados são
compilações de tiras que abortam a temática da felicidade e o Natal.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 131
Figura 3: Do Salvador...
Fonte: Schulz, 2012, p. 18
A felicidade
Assim sendo, visto que concordamos entre nós que no homem existem dois
componentes, a saber, um corpo e uma alma, parece-me que no dia do meu
aniversário devia apresentar um almoço um pouco mais lauto, não apenas
para os nossos corpos, mas também para as almas. (AGOSTINHO, 2000,
p. 39)
Há, nos quadrinhos, a comédia, os desenhos que são repassados para o en-
tendimento de tudo e todos, mas com uma mensagem politizada e com o
intuito de gerar maior capacidade de questionamento de todos os princípios
políticos e éticos. Com humor e ironia, as tiras apresentam um discurso crí-
tico, aparentemente inofensivo, uma vez que se utiliza de metáforas, figuras
de linguagem, ironia e outros subterfúgios [...]. (BOHM, 2017, p. 41)
7 Bauman destaca a fragilidade do ser humano, cujas relações sociais que perdem sua soli-
dez e acabam por se refletirem no consumo, no descartável. As relações são líquidas porque
espelham o novo tipo de sociedade, também no consumo, na relação com os objetos e na
“descartabilidade” das relações.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 Mas que, segundo Lira, “Charles Schulz foi influenciado pela linguagem da prédica, do
sermão, da pregação, do aconselhamento pastoral e do ensino de estudos bíblicos.” (LIRA,
2016, p. 54). Não que esta linguagem tenha predominado, mas a característica da narrativa
figurada permite a possibilidade de se recorrer a “[...] elementos transversais da linguagem
religiosa em congruência ao âmbito secular.” (LIRA, 2016, p. 54).
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 137
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Quer se esperasse um ou outro, era raro que não se concedesse um lugar im-
portante ao Anticristo. Para alguns, sua chegada era iminente. Para outros,
ele já nascera. Essa figura sinistra não pertence ao Apocalipse, ainda que, ao
constituir-se na imaginação coletiva, tenha sido progressivamente associada
à “Babilônia, a grande, covil de demônios” e a “besta escarlate” evocada pelo
livro das Revelações. Em compensação, o Anticristo, seja como personali-
dade individual, seja como personagem coletivo, vem das Epístolas de são
João e da segunda Epístola de são Paulo aos tessalonicenses. (DELUMEAU,
2009, p. 317).
[...] mesmo dentro do quadro das três grandes religiões — iraniana, judai-
ca e cristã — que limitaram a duração total do Cosmo a algum número
específico de milênios, afirmando que a história acabará de uma vez por
todas inillo tempore, ainda sobrevivem alguns sinais da doutrina primitiva
da periódica regeneração da história. Em outras palavras, a história pode
ser abolida, e, consequentemente, renovada uma série de vezes, antes que o
eschaton final se manifeste. (ELIADE, 1972, p. 125).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A jornada do Herói
O Luto
O objeto amado não existe mais, passando a exigir que toda a libido seja
retirada de suas ligações com aquele objeto. [...] Cada uma das lembranças
e expectativas isoladas através das quais a libido está vinculada ao objeto é
evocada e hipercatexizada, e o desligamento da libido se realiza em relação
a cada uma delas. [...] Contudo, o fato é que, quando o trabalho do luto se
conclui, o ego fica outra vez livre e desinibido (2006, p. 249)3.
Segundo Nasio (1996), esses três momentos podem ser denomi-
nados de superinvestimento, desinvestimento e identificação. Em
um primeiro momento, quando o objeto deixa de existir, o afeto que
lhe era direcionado acaba por ser superinvestido nas representações
do mesmo, em uma tentativa do eu de perpetuar o objeto. Somen-
te, aos poucos o afeto vai sendo desinvestido dessas representações,
retornando para o próprio sujeito que internaliza a imagem do ob-
jeto perdido através de uma identificação com o mesmo. A fase do
superinvestimento é a mais dolorida, uma vez que “a dor do luto
I-Negação
Inicia-se logo que o indivíduo recebe a notícia da perda, devido a
incapacidade de elaboração psíquica de um evento muito dolorido.
Segundo Bolwby (1982), o que ocorre é uma tentativa do indivíduo
de retornar ao momento anterior a perda ao invés de aceitar a rea-
lidade. Em um processo inconsciente, ao negar a perda o indivíduo
permanece com o afeto cristalizado no passado. Ainda, “o enlutado
também sente uma raiva e irritabilidade que podem ser externaliza-
dos sob a forma de comportamentos hostis” (MOURA, 2006, p. 25).
A negação, como mecanismo de defesa do ego age no sentido de pro-
teger a integridade do aparelho psíquico (FEIST, FEIST e ROBERTS,
2015). Esse mecanismo pode causar o isolamento social e a perda de
interesse nas atividades cotidianas, em uma tentativa de reprimir a
informação impedindo o acesso à consciência (SOARES e CASTRO,
2017). Em alguns casos, em que a perda já é esperada, essa fase pode
não ser vivida.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 163
II-Negociação
Trata-se de uma fase intermediária, quando o indivíduo já deixou
de negar a perda mas ao mesmo tempo ainda não consegue aceitá-la,
desenvolvendo conflitos psíquicos. Moura (2006), caracteriza dois
momentos que podem integrar a fase da negociação. O primeiro, é o
momento de Anseio ou Procura, onde persiste a dor psíquica, pois o
indivíduo pensa a todo tempo no falecido. Nesse momento, as me-
mórias relacionadas ao objeto se intensificam e situações que ante-
riormente foram insignificantes, ganham uma maior importância na
vida do indivíduo enlutado (SOARES e CASTRO, 2017). Posterior-
mente, há a Desorganização e Desespero, quando há a dificuldade de
adaptação após a perda. Em função da desorganização, o indivíduo
tende a ficar em um estado depressivo, uma vez que o sentimento de
raiva é substituído pelo sentimento de tristeza e desespero.
III-Aceitação
Aceitar a nova realidade da vida após a perda é um processo difí-
cil e doloroso. Segundo Moura (2006), o indivíduo precisa adaptar-
-se à perda, uma vez que esta é uma condição que não pode ser des-
feita. Ao internalizar simbolicamente o objeto perdido, a libido antes
direcionada a esse objeto fica livre e o indivíduo está pronto para
novos investimentos libidinais (FREUD, 2006). Aceitar uma perda
não significa que ela deixará de ser sentida ou que não causará mais
dor, significa que o indivíduo, apesar dela, consegue seguir com a
sua vida.
METODOLOGIA
ANÁLISE
Tendo em vista o entrelaçamento das dimensões heróicas e psí-
quicas da personagem, a análise foi realizada a partir das três fases
do luto, mencionadas acima. Também foi analisado os conceitos das
dimensões heróicas a partir do olhar de Campbell (1997) sobre o
mito.
Tirar uma vida muda uma pessoa. Com certeza me mudou. Parece que mu-
dou a Trish também. Trish vê as coisas em preto e branco, certo e errado.
Ou costumava ver. Talvez agora ela se pergunte como eu “Quem sou eu para
julgar?” Minha resposta é uma garrafa de uísque.
Tem coisas que você olha e pensa: ‘Perfeito’. Sem dúvida é a coisa certa.
Outras coisas são obviamente erradas. Mas certo e errado não são a maior
prioridade de uma investigadora até ela ter a brilhante ideia de mudar e se
importar.
Se importar e fazer algo a respeito. É como minha mãe definiu uma heroína.
Apesar de ela não ser perita no assunto. Ela achava que eu era capaz. Não
tenho tanta certeza. Ela tinha esperanças. Eu não queria, mas ela passou pra
mim como por mágica. E agora é tudo o que me resta dela.
Trish: -Sei que vai contra tudo em que acredita. Que pode ser fraca e que eu
possa ser forte.
Jessica: -Não me venha com baboseira de autoajuda pra cima de mim.
Trish: -Sabe o que é baboseira? Ser esfaqueada porque estava distraída, in-
diferente e provavelmente bêbada. Quer ser uma heroína, mas não faz o
que é necessário. Quantas vezes treinou no ano passado? Ou na sua vida?
E quantas garrafas bebeu? [...] Passei o último ano aperfeiçoando minhas
habilidades, sendo o melhor de mim. Sou irrefreável. E tenho todos os meus
órgãos intactos.
(Jessica dá um tapa no rosto de Trish que a joga longe)
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 168
Jessica: -Aprendi algo recentemente. Algo que deveria saber. Ninguém é ir-
refreável.
final, que provoca mudanças que podem ser tanto físicas como em
seu caráter. A passagem do container constitui uma representação
simbólica dessa fase na Jornada do Herói. O container como um es-
paço físico, cuja saída estava bloqueada, representa a prisão no Ven-
tre da Baleia. Ficar sem ar ao ponto de perder a consciência desperta
na personagem o medo da morte pela segunda vez em um pequeno
espaço de tempo, representando a auto-aniquilação. Ter sido salva,
após haver perdido as esperanças, a fez aceitar que o desejo de assu-
mir seu heroísmo estava dentro de si, atuando como uma simbologia
do renascimento do herói.
Ainda assim, Jessica flerta novamente com um retorno à fase da
negação pois ela sente que falhou com Trish, ao tentar prender Sa-
linger. Com isso, sua percepção era a de que o seu maior medo havia
se concretizado: o de fracassar no papel de super-heroína. Essa tran-
sitoriedade entre as fases do luto é comum e faz parte do processo da
elaboração até a sua aceitação (KÜBLER-ROSS, 1989). Nessa hora,
Jéssica questiona se não seria melhor ter permanecido com as coisas
como estavam no passado, antes dela começar a se importar com as
pessoas.
Jessica: -Quer que eu admita que trapaceio? Que sou uma fraude? Eu sou as
duas coisas e mais.
Salinger: -Estou mais interessado na mentira maior que diz a si mesma so-
bre por que quer ser uma heroína.
Jessica: -Exceto que não quero. Nunca quis.
Salinger: -E essa é a mentira. Porque você quer isso desesperadamente e sus-
peito que sempre quis. Certamente enganou a Trish. Se tivesse sido sincera
com ela, ela não teria se sentido obrigada a preencher seu lugar.
Jessica: -Você não a conhece. Nem me conhece.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 170
Salinger: E não preciso, porque é óbvio. Veja sua indiferença rebelde inten-
cional, por exemplo. Ela é a sua capa, sua máscara e sua armadura. Você
anseia a distinção. Ou que tal a sua profissão escolhida? Detetive particular.
É um clichê preguiçoso do herói individualista.
Jessica: -Paga as contas.Nem todo mundo pode viver do seguro do irmão
morto.
Salinger: -É. Vamos falar dos mortos. Eles têm seu papel.
Jessica: -Espera que eu chore? Que implore por minha vida como a Doro-
thy? Isso não é verdade.
Salinger: -Quero que aceite o que mais teme. Que sua família morreu a toa.
Acreditou que foram sacrificados em troca de seus dons. Que morreram
para que você pudesse salvar o mundo, uma pessoa por vez. E agora finge
que nunca quis isso? Está morrendo de medo de ter falhado com eles. E
falhou. Porque você não é e nem nunca será uma heroína.
Tem coisas que você olha e pensa : “Desastre”, Procura por saídas, fugas.
Outras coisas, você pensa: “Talvez eu possa consertar isso”. Pode se per-
guntar: “O que será necessário para consertar isso?” A resposta é “Demais”.
Será demais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A elite de poder, que se autodefine como branca escolheu, como tipo ideal,
representativo da superioridade étnica na nossa sociedade, o branco euro-
peu e, em contrapartida, como tipo negativo, inferior, étnica e culturalmen-
te, o negro. Partindo desta dicotomia étnica estabeleceu-se uma escala de
valores, sendo o indivíduo ou grupo mais reconhecido e aceito socialmente
na medida em que se aproxima do tipo branco, e desvalorizado e social-
mente repelido à medida que se aproxima do negro. (MOURA, 1988 - p.58)
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 177
A escola pode ser considerada, então, como um dos espaços que interferem
na construção da identidade negra. O olhar lançado sobre o negro e sua
cultura, no interior da escola, tanto pode valorizar identidades e diferenças
quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo negá-
-las. […] Sendo entendida como um processo contínuo, construído pelos
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 178
negros e negras nos vários espaços – institucionais ou não – nos quais cir-
culam, podemos concluir que a identidade negra é forjada também durante
a trajetória escolar desses sujeitos. Nesse percurso, o negro e a negra depa-
ram-se, na escola, com diferentes olhares sobre o seu pertencimento racial,
sobre a sua cultura e a sua história. Muitas vezes, esses olhares chocam-se
com a sua própria visão e experiência da negritude. (GOMES, 2002 - p.146)
HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 181
Nos exemplos acima temos uma análise direta dos moldes de au-
toidentificação e representação a partir do tema central: perspectiva
de crianças negras sobre um herói que se assemelha com eles. Usa
estratégias de referencialidade a partir das duas imagens para reforço
argumentativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo, mestre pela mesma insti-
tuição com a dissertação: Nas trilhas do herói. Histórias em quadrinhos & itinerários de for-
mação (2016), pesquisadora do GEIFEC (Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação
em Educação e Cultura), membro da ASPAS (Associação de Pesquisadores em Arte
Sequencial), roteirista colaboradora no Gibi Quântico vol. 2 (2016). Áreas de interesse:
Imaginário Simbólico, Cultura Pop, Narrativas audiovisuais. http://buscatextual.cnpq.br/bus-
catextual/visualizacv.do?id=K4352843U8. Contato: sapaixao.hq@gmail.com.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 196
2 Não podemos deixar de registrar que junto a esta extensa lista de indicações e premia-
ções o filme foi envolvido em uma ação de plágio movida pela família de Paul Zindel, drama-
turgo estadunidense, que foi rejeitada pela corte. Mais informações sobre o caso em: https://
www.hollywoodreporter.com/thr-esq/judge-rejects-lawsuit-alleging-shape-water-ripped-pu-
litzer-prize-winner-1129566. Acesso em 25/04/2019.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 197
3 Del Toro: “Monsters Are Living, Breathing Metaphors”. Entrevista feita por Max Miller para
o Big Think em 22/09/2010. Disponível em https://bigthink.com/videos/monsters-are-living-
-breathing-metaphors. Acesso em 25/04/2019.
4 Curta completo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1oMSE8VUadA.
Acesso em 25/04/2019.
5 Conto disponível na íntegra em: https://www.sffaudio.com/hypnobobs-naturally-by-fre-
dric-brown/. Acesso em 22/07/2019.
6 O Día de los Muertos é considerado desde 2008 como Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 198
A nova safra de escritores cujas obras aparecem mais para a metade do pre-
sente século, procuram, então, uma saída poética do realismo. Merecem
destaque Uslar Pietri, propagador do realismo mágico, Alejo Carpentier,
que propôs o real maravilhoso e J. L. Borges, partidário e cultivador de uma
narrativa mágica, de uma literatura fantástica. Além deles podemos citar
Asturias, da Guatemala, Rulfo, do México, Cortázar, da Argentina, Onetti,
do Uruguai.
Figura 3- Del Toro posa com o fantasma da mãe interpretado por Doug Jones em
A Colina Escarlate.
© 2015 Universal Pictures. Todos os direitos reservados
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/ca/3a/e5/
ca3ae5bdbc0e5c19616166887d73f4f0.jpg
8 Master Class ‘De Geometría a La forma del agua’ por Guillermo del Toro. Disponível em:
https://youtu.be/KagZl9YCF34 . Acesso em 20/04/2019.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 202
10 A obra, escrita em parceria com Daniel Kraus e lançado em 2018 é, como afirmou
Kraus, uma obra independente do filme. https://entretenimento.uol.com.br/noticias/
redacao/2018/03/06/a-forma-da-agua-um-livro-idealizado-antes-do-filme-mas-publicado-
-depois.htm. Acesso em 20/03/2019.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
11 Citado em, Master Class ‘De Geometría a La forma del agua’ por Guillermo del Toro.
Disponível em: https://youtu.be/KagZl9YCF34 . Acesso em 20/04/2019.
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 207
representa o amor, um amor que não tem forma, ou que pode tomar
todas as formas possíveis é um elemento arquetípico potente. Elisa
sonha com água, e tudo que se refere a ela é aquático. A escolha da
paleta de cores no filme, da iluminação e dos objetos contam esta
história, uma das premissas do diretor é que o amor acontece sem
palavras. Elisa não é capaz de se comunicar com o mundo em ter-
mos vocais e por isso mesmo o mundo também não faz questão de
ouvi-la de outras maneiras. São os filmes musicais que dão a voz que
ela não tem para expressar todo o amor que sente, dentro de uma
ilusão em preto e branco. A percepção de que Elisa e o Deus Brân-
quia se compreendem melhor do qualquer outro casal ao longo do
filme reforça a crítica sobre como nos relacionamos. Zelda reclama
diariamente da apatia de seu esposo; Lainie e Richard mantêm um
relacionamento modelo, no qual a mulher é submissa e silenciada
mesmo quando demonstra seu desejo pelo marido; Gilles sofre com
sua sexualidade reprimida; Dmitri morre em nome do seu amor pela
ciência.
Em sua investigação hermenêutica, Gaston Bachelard disserta
sobre o elemento em A água e os sonhos e suas diferentes acepções
imagéticas. Na introdução de sua obra, ele aponta que
(...) existe, sob as imagens superficiais da água, uma série de imagens cada
vez mais profundas (...). Reconhecerá na água, na substância da água, um
tipo de intimidade (...) a água é também um tipo de destino, não mais ape-
nas o vão destino das imagens fugazes, o vão destino de um sonho que não
se acaba, mas um destino essencial que metamorfoseia incessantemente a
substância do ser. (...) o ser humano tem o destino da água que corre. A água
é realmente o elemento transitório. (...). O ser votado à água é um ser em
vertigem. (BACHELARD, 1997, p. 6-7)
O interessante é que este conto de fadas vai além dos termos eufe-
mizados do amor casto. O desejo é sexual, a atração é mútua e satis-
feita. É uma construção moderna a correlação entre contos de fadas
e crianças. Estas histórias derivam das narrativas orais transmitidas
a todos, e a própria noção de infância é um conceito relativamente
recente. Robert Darnton desenvolve em seu estudo das mentalida-
des francesas no Antigo Regime um panorama dos contos que cir-
culavam no campesinato francês, no qual a sobrevivência é o grande
tema motor e a violência e a morte não são excluídas ou censuradas
em detrimento dos ouvidos das crianças. Elas fazem parte ativa desta
sociedade de excluídos e deste modo ouvem, assistem e participam
destas narrativas de superação dos males, permeadas de sequestros,
roubos, assassinatos e sexo. Ao comparar diferentes versões dos
mesmos contos, Darnton (2018, p. 53) afirma que “na maioria dos
contos, a satisfação dos desejos se torna um programa para a sobre-
vivência, não uma fantasia ou fuga. (...) Apesar de ocasionais toques
de fantasia, portanto, os contos permanecem enraizados no mundo
real”. O que se passa com A forma da água nos parece algo similar. As
relações humanas não são atenuadas, não há apenas uma dualidade
entre bons e maus, e sim pessoas que tentam sobreviver, cada qual de
seu modo, aliciando suas próprias fugas imaginárias, tendo o cinema
como um grande referencial metalinguístico.
Recorrendo ao pensamento de Edgar Morin (2014, p. 204) acer-
ca das relações do cinema com o imaginário simbólico, ele define a
simbiose que ocorre entre o filme e o espectador: “O filme é repre-
VAMOS FALAR SOBRE CULTURA POP? EPISÓDIO 4: O POP NÃO POUPA NINGUÉM 209
As histórias de fadas não são histórias sobre fadas ou elfos, mas sim sobre o
Belo Reino, Faërie, o reino ou estado no qual as fadas existem. [...] A maio-
ria das boas Ahistórias de fadaA trata das aventuras dos homens no Reino
Perigoso [...]. A definição de história de fadas- o que é ou o que deveria ser-
não depende, portanto, de qualquer definição ou relato histórico sobre elfos
ou fadas, mas sim da natureza do Belo Reino [...]. Por ora só direi isto: uma
Ahistória de fadasA é aquela que resvala ou usa o Belo Reino, qualquer que
seja sua finalidade principal- sátira, aventura, moralidade, fantasia.
REFERÊNCIAS
CULTURA
POP
“Vamos falar sobre cultura pop? Episódio 4 - O pop não
poupa ninguém” apresenta artigos referentes a traba-
lhos apresentados no V Colóquio Regional Sul em Arte
Sequencial, ocorrido em outubro de 2019, na Faculda-
des EST. O evento, promovido pelo Grupo de Pesquisa
Interdisciplinar em Arte sequencial, Mídias e Cultura Pop
(Cult de Cultura), anualmente, reúne pesquisadores com
interesse em arte sequencial e em cultura pop. Nesta edi-
ção, as investigações que perpassam temáticas como
histórias em quadrinhos, memes, arte e literatura.