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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA DO IPA


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

A Implantação de um Sistema de Gestão em Segurança e Saúde do Trabalho


em uma empresa de manutenção industrial durante Parada de Manutenção de
refinaria em Minas Gerais
João Dietrich da Rosa*
Marino José Greco**

Resumo

O trabalho trata da elaboração e implantação de um Sistema de Gestão em


Segurança e Saúde do Trabalho em uma empresa de manutenção industrial durante
a parada de manutenção de três unidades de uma refinaria de petróleo em Minas
Gerais. Na fase de pré-parada, formou-se uma equipe para avaliar o desempenho
de segurança da empresa em trabalhos anteriores e, posteriormente, elaborar um
conjunto de melhorias, registradas em um Plano de Gestão de Saúde e Segurança
do Trabalho. O conjunto de iniciativas foi aplicado na parada de manutenção, tendo
como foco conter o número de desvios através de auditorias comportamentais,
incluindo o conteúdo dos registros destas auditorias em diálogos de segurança e
treinamentos. O resultado da aplicação do sistema teve como propósito eliminar o
número de acidentes do trabalho e melhorar a avaliação de desempenho de saúde e
segurança da empresa realizada pela refinaria.

Palavras-chaves: Gestão, Segurança, Refinaria.

Abstract

The work deals with the creation and implementation of an occupational health and
safety management system in an industrial maintenance company during a
maintenance stop at an oil refinery unit in Minas Gerais. In the pre-stop phase, a
team was formed to assess the company's safety performance in previous work and,
subsequently, to elaborate a set of improvements, recorded in a Health and Safety
Management Plan. The set of initiatives was applied in the maintenance stoppage,
focusing on containing the number of deviations through behavioral audits, including
the content of the records of these audits in safety dialogues and training. The result
of the application of the safety system led the company to eliminated the number of
occupational accidents and considerably improve the safe behavior of employees.

* Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho. E-mail: joao@karpo.com.br


* * Marino J. Greco, Engenheiro Químico, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Mestre em
Administração e Marketing Estratégico, Mestre em engenharia de Energia, Ambiente e Materiais,
Professor na Área de Química e Segurança do Trabalho. E-mail: marinogreco@gmail.com.
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Keywords: Management, Security, Refinery.

1 INTRODUÇÃO

A história do petróleo é relativamente recente no Brasil, tendo seu início em


meados do século 19, quando as primeiras “minas” foram descobertas e iniciou-se a
extração. No entanto, foi somente na década de 1870 que o óleo de baleia começou
a ser substituído como fonte de energia para iluminação pública. (Morais, 2013, p.
02).
De lá para cá, entre tantos outros acontecimentos históricos, podemos dizer
que a história do Brasil e do mundo foi acompanhada pela extração e refino do
petróleo. O dinheiro arrecadado pela indústria financiou guerras, governo e
mobilizou cidades. (Souza e Freitas, 2002).
Ocorre que, além de resultados positivos, desejados, as refinarias trouxeram
também resultados indesejados, como contaminação de solos, mares, atmosfera,
com o lançamento de poluentes, e, principalmente, doenças e acidentes
relacionados ao trabalho.
É fácil entender o motivo de refinarias de petróleo causarem tantos acidentes
de trabalho e serem historicamente conhecidas como perigosas: refinarias de
petróleo realizam a transformação de petróleo bruto em diesel, gasolina, nafta,
querosene de aviação, gás liquefeito, lubrificantes, entre outras substâncias
perigosas.
Diante disso, os perigos envolvidos nas atividades de refinarias exigem
mecanismos integrados de gerenciamento de áreas diferentes da organização,
especialmente produção, meio ambiente e saúde e segurança do trabalho. Segundo
Nunes (2016), é devido a isso que se tem íntima relação entre as áreas de
produção, meio ambiente e Segurança e Saúde do Trabalho – SST.
Uma das normas que trata deste gerenciamento é a Norma OHSAS 18.001*
que, segundo Cerqueira (2006), foi criada com o objetivo de indicar um conjunto de
diretrizes que visam nortear a implementação de um modelo de sistema de gestão
em SST em empresas. Já o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais** –
PPRA, vinculado ao Ministério da Economia, assim como no caso da OHSAS
18.001, mas com poder de lei, criou requisitos mínimos para um sistema de gestão
em SST, onde tem-se a elaboração e implantação de um programa de melhoria
contínua.
O trabalho, contextualizado pelos perigos e riscos de atividades em refinarias,
bem como pelos sistemas de gestão em SST apresentados, se propôs em elaborar
e implantar um Sistema de Gestão em Segurança e Saúde do Trabalho (SGSST)
em uma empresa de manutenção industrial durante a parada de manutenção*** de
uma refinaria de petróleo em Minas Gerais.

* A empresa deste estudo ainda não havia migrado da OHSAS 18.001 para a ISO 45.001 até o
período de realização deste trabalho.
** O PPRA ainda estava em vigor no período de realização deste trabalho, sendo alterada a NR-09 e

estabelecido o Programa de Gerenciamento de Riscos a vigorar a partir de 2021.


*** Parada de manutenção é um evento em que uma indústria pára sua produção total ou parcial para
realizar atividades de manutenção.
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1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

A empresa de manutenção industrial registrou na parada de manutenção


anterior a deste estudo cinco acidentes do trabalho e nota zero no quesito saúde e
segurança na avaliação de desempenho aplicada pela refinaria.
Diante disso, e partindo do propósito da implantação de sistemas de gestão
de SST, e levando em consideração o histórico ruim de saúde e segurança da
empresa e a necessidade de melhoria, este trabalho procurou responder na prática
a seguinte questão. Qual a eficácia da implantação de um Sistema de Gestão em
Segurança e Saúde do Trabalho - SGSST para melhoria no desempenho de Saúde
e Segurança do Trabalho em uma Parada de Manutenção?

1.2 DELIMITAÇÕES DO PROBLEMA

A implantação do SGSST foi realizada em uma empresa especializada em


manutenção industrial durante a parada de manutenção de uma refinaria de petróleo
localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. A
parada de manutenção das três unidades da refinaria ocorreu simultaneamente, no
período entre junho e outubro de 2019.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Através da implantação de um SGSST a finalidade é melhorar o desempenho


de SST de uma empresa de manutenção industrial durante uma Parada de
Manutenção de uma refinaria de Betim, Minas Gerais.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) pesquisar quais foram os acidentes registrados na parada de manutenção


anterior da empresa;
b) analisar os motivos que levaram a ocorrência destes acidentes
pesquisados;
c) propor um Plano de Ação Corretivo para evitar a reincidência de acidentes
do trabalho;
d) elaborar um SGSST para ser aplicado na parada de manutenção;
e) avaliar o desempenho do SGSST;
f) propor melhorias no SGSST implantado.

1.4 JUSTIFICATIVA

A empresa objeto de estudo deste trabalho, na sua última parada de


manutenção, registrou cinco acidentes do trabalho e obteve nota zero na avaliação
de desempenho de saúde e segurança aplicada pela refinaria. Esta nota é
importante pois constitui requisito para liberação de novos processos licitatórios.
Neste caso, o mínimo exigido para alguns contratos é aproveitamento de 80% em
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SST; a empresa estava com zero. Em contrapartida, como a empresa já estava com
o contrato assinado para a realização da manutenção de três unidades da refinaria
na unidade de Betim, Minas Gerais, havia uma última chance para melhorar a nota
de desempenho e voltar a ter acesso a novos processos licitatórios.
Ainda, além do citado, tem-se que a maioria dos estudos encontrados sobre o
assunto disponíveis não tratam da aplicação de gestão e de melhoria contínua para
atividades de curto período, como semanas e meses. Na construção civil mesmo
uma edificação sendo diferente da outra, por exemplo, o operacional é praticamente
o mesmo, o que possibilita conhecer melhor os perigos e riscos; enquanto na
manutenção industrial, a empresa pode passar anos operacionalizando atividades
diferentes, com equipamentos diferentes, etc.
Neste sentido, a partir da necessidade da empresa de eliminar os acidentes
de trabalho e melhorar sua avaliação de desempenho de saúde e segurança, e de
elaborar conteúdo de GSST para atividades de menor período, este profissional,
contratado como engenheiro chefe de obras, tendo como suporte outros
engenheiros contratados pela empresa, colocou em prática um SGSST em uma
Parada de Manutenção.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO

Saúde no trabalho, segundo a definição da Organização internacional do


Trabalho de 1950, deve objetivar a “promoção e manutenção do mais alto grau de
bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões” e, além
disso, ter como principal foco “o melhoramento das condições de trabalho, para que
elas sejam compatíveis com a saúde e a segurança”. Já segurança do trabalho,
segundo Nunes (2016), é “um conjunto de medidas que deve ser adotado pelas
empresas de forma integrada para eliminar ou neutralizar os riscos existentes no
ambiente de trabalho”.
Desta forma, conclui-se que, para garantir a saúde dos trabalhadores e
buscar o bem-estar físico, mental e social dos mesmos, é necessário investir em
ações para eliminar ou neutralizar os riscos ambientais.
Saindo do campo de conceitos e definições e entrando na estruturação
legislacional de SST no Brasil, encontra-se na Constituição Federal de 1.988* o
parágrafo base que origina e ramifica todo conjunto que trata do tema, diz que, todos
trabalhadores, urbanos e rurais, tem o direito à “redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”.
Adiante na estruturação legislacional de SST, tem-se na Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) um capítulo exclusivo sobre “Segurança e Medicina do
Trabalho” **, as Normas Regulamentadoras e convenções da Organização
Internacional do Trabalho.
Outro conjunto de normas, mas estas de cumprimento voluntário, é o SGSST
trazido pela OHSAS 18.001. Esta norma tem por objetivo fornecer um conjunto único
de diretrizes, por meio de requisitos, com a finalidade de proporcionar à qualquer
tipo de organização, um modelo de SGSST.

* Constituição Federal de 1.988, Art. 7º, inciso XXII.


** Título do Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho.
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Para Lin e Mills (2001), dentre outros, destacam-se como principais aspectos
que influenciam a segurança o desempenho da organização, o tamanho da
companhia, a gestão e o compromisso dos funcionários quanto à SST.

2.2 GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO

Gestão é um conceito amplo e envolve estabelecer, distribuir e integrar


recursos racionalmente a fim de que uma organização atinja seus objetivos,
podendo-se dividir em atribuições de prever, organizar, comandar, coordenar e
controlar, conforme sugere Duarte (2003).
Já GSST deve ser entendida como ferramenta para buscar a melhoria
contínua no desempenho das empresas em relação às questões de SST, o que
exige um processo de revisão e avaliação. (Welter, p. 19, 2014).
Ainda segundo Welter, a GSST de uma empresa pode identificar os perigos e
riscos e avaliar tanto quais são as prioridades, quanto quais as formas de melhor
controle, dentro de um determinado período. Mas sem obrigações com propostas
anteriores, sem ser algo fixo, estático, pois a dinâmica operacional pode fazer surgir
novos perigos a qualquer momento, com novos materiais, equipamentos e serviços.
As Normas Regulamentadoras do Ministério da Economia trouxeram consigo
desde sua criação em 1978 a necessidade de implementar-se um SGSST para
controlar os riscos ambientais nas organizações, isto é, planejar medidas de
eliminação, diminuição e controle de riscos e, ao longo do tempo, ir aplicando
melhorias contínuas. (SALIBA, 2002)
O primeiro item do PPRA, Norma Regulamentadora 9, “estabelece a
obrigatoriedade da elaboração e implementação”, e mais adiante, a estrutura
mínima: planejamento, estratégia e metodologia de ação e periodicidade e formas
de avaliação do desenvolvimento.
Neste caminho, a OHSAS 18.001 estabelece um SGSST para eliminar ou
minimizar riscos às pessoas e outras partes interessadas que possam estar
expostas aos riscos associados a suas atividades, especificando requisitos para que
a organização crie uma política de SST e estabeleça metas (objetivos quantificados
em um espaço de tempo), levando em conta os requisitos legais pertinentes.
Ainda sobre a OHSAS 18.001, tem-se requisitos de planejamento,
implementação e operação, verificação e ação corretiva e análise crítica. Nota-se
que o objetivo desta norma vai ao encontro do que remete o PPRA quanto a
antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos ocupacionais. Todos
com seu gene em sistemas de melhorias contínuas com o tempo.
Desta forma, conforme os requisitos da OHSAS 18.001 e PPRA, pode-se
organizar a GSST em quatro fases: Planejar, Fazer, Checar e Agir, conforme origem
do inglês: plan, do, check e act (PDCA).
O Planejamento contempla a identificação qualitativa dos riscos ocupacionais
(se necessário quantitativa), determinação e implantação de medidas de proteção
obedecendo à seguinte hierarquia: eliminação ou minimização que origina os riscos,
medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho e, por último,
quando cessarem as alternativas anteriores, a utilização de Equipamento de
Proteção Individual - EPI.
A fase de implantação (Fazer), pelo modelo OHSAS, leva em conta a política
de SST e a qualificação, treinamento e conscientização do conjunto de pessoas,
para assegurar o sucesso do sistema de gestão. O PPRA não cita sobre política e
conscientização, mas fala da obrigação de treinamentos dos procedimentos.
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Depois, tem-se o monitoramento e medição do desempenho (Checar),


considerando a avaliação do atendimento aos requisitos legais, investigação de
acidentes, não conformidades, ação preventiva e corretiva, controle de registros e
auditorias internas, entre outros.
A última fase do ciclo (Agir) pode ser entendida como a análise crítica da
implementação do sistema de gestão e dos resultados obtidos ao longo do tempo
em relação às medidas de controle, uma vez que tanto a OHSAS 18.001, quanto a
NR-09, falam em revisão daquilo que foi implantado.

2.3 DESVIOS, INCIDENTES E ACIDENTES DO TRABALHO

Conforme dispõe o art. 19 da Lei nº 8.213/91, o que caracteriza um acidente


de trabalho é a ocorrência de eventos durante a execução de trabalho a serviço de
uma empresa, seja fora ou dentro dela, que provoquem lesão física ou qualquer tipo
de perturbação imprevista.
"acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a
serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho". (CLT,
Brasil)

O acidente de trabalho é; portanto, aquele acontecimento inesperado que


interrompe a rotina profissional, levando a lesões corporais por parte do empregado.
Segundo Hudson (1995), incidente pode ser entendido como um evento com
potencial para causar um acidente do trabalho. É uma ocorrência sem vítimas, mas
contendo ameaça real de perigo à saúde ou à vida dos empregados. Desvio é toda
ação ou condição que tem potencial para conduzir, direta ou indiretamente, danos a
pessoas, ao patrimônio, ou impacto ao meio ambiente, que se encontra
desconforme com as normas de trabalho, procedimentos (inclusive os da própria
empresa), requisitos legais ou normativos, requisitos do sistema de gestão ou boas
práticas.

2.4 PIRÂMIDES DE DESVIOS E AS AUDITORIAS COMPORTAMENTAIS

Um dos primeiros estudos sobre acidentes com danos à propriedade ou sem


lesão em relação aos com lesão incapacitante foi realizado por Heinrich. Em sua
análise, Henrich estabeleceu a proporção de 1:29:300 (Pirâmide de Henrich), isto é,
para cada lesão incapacitante, havia 29 acidentes com lesão leve e 300 acidentes
sem lesão. (Theobald, 2005).
Mais tarde, na década de 90, uma empresa com vasta experiência em
consultoria de SST unificou conceitos, registros e criou a conhecida Pirâmide de
Desvios, a qual possui a seguinte relação: 1:30:300:3.000:30.000: para cada
acidente fatal ocorrem 30 acidentes com lesões leves, 300 acidentes com danos a
propriedade, 3000 incidentes que não apresentam danos visíveis associados e
30.000 desvios. (Dupont, 2003).
Desta forma, tem-se que tanto quanto maior o número de desvios cometidos
em uma organização, maior a probabilidade de ocorrência de incidentes e acidentes.
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Em contrapartida, combatendo a ocorrência de desvios e diminuindo a base da


pirâmide, tem-se diminuída a probabilidade de incidentes e acidentes.
Neste sentido, uma das formas de mitigar o número de desvios em
organizações é a realização de Auditorias Comportamentais. Auditoria
comportamental é a monitorização de um processo por pessoa, ou equipe, a fim de
controlar a eficácia de um sistema e da sua melhoria ao longo do tempo. Na área de
SST, as auditorias determinam se o SGSST e seu conjunto de ações estão
implementados de maneira eficaz e são adequados à proteção e saúde dos
trabalhadores. (Merlotti, 2013)
Segundo Costella (2009), auditoria comportamental de SST é uma forma
sistemática, documentada e periódica de avaliação de eficiência e eficácia do
desempenho da GSST de organizações em relação a saúde e segurança dos
trabalhadores, além de servir de subsídios para ações corretivas em definir planos
de ações corretivos.

2.5. A EMPRESA E A PARADA DE MANUTENÇÃO NA REFINARIA

A empresa, referenciada neste artigo, atua em serviços terceirizados de


manutenção de paradas de plantas industriais, em especial refinarias de petróleo.
Os principais trabalhos realizados pela empresa são manutenções em caldeiras,
fornos, torres de fracionamento, permutadores, vasos de pressão, tanques,
tubulações, limpeza industrial e movimentação de cargas pesadas.
O trabalho de manutenção em parada de manutenção de refinarias lembra a
logística do trabalho da construção civil, que, diferente de indústrias tradicionais
onde a linha de produção é montada e, a partir dela, são gerados os produtos, o
canteiro de obras em paradas é que é montado no local do produto.
Isso inclui levar para o canteiro de obras toda força de trabalho necessária
(administrativo, compras, suprimentos, qualidade, engenharia, operários, entre
outros), bem como máquinas e equipamentos, alojamentos, vestiários e
almoxarifado.
Outro fator relevante a ser considerado em paradas de manutenção em
refinarias é o risco associado ao ambiente de trabalho, onde normalmente são
empregados centenas ou milhares de funcionários terceirizados, guindastes,
empilhadeiras, caminhões Munck, equipamentos pesados, todos juntos, em meio a
tubulações e estruturas do processo de refino do petróleo, os quais contém
subprodutos inflamáveis e tóxicos, muitas vezes em alta temperatura e pressão,
como diesel, nafta, querosene.
A parada de manutenção teve como escopo a manutenção dos permutadores
de calor de três unidades de uma refinaria de Betim, Minas Gerais. Esses
permutadores de calor realizam a troca entre dois fluidos ou mais, sujeitos a
diferentes temperaturas e são importantes no processo do refino do petróleo.

3 METODOLOGIA

A realização deste artigo se deu por meio de pesquisa e análise de conteúdo


e resultados quantitativo-qualitativos, com base na metodologia de estudo de casos
múltiplos.
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A partir da pesquisa de resultados qualitativo-qualitativos, conforme Santos


(2000), se busca a compreensão e a interpretação do objeto de estudo, tendo como
principal objetivo explorá-lo e especificá-lo.
A utilização de estudos de caso múltiplos pode acrescentar tanto
contribuições à teoria estabelecida, quanto modificá-la, segundo Yin (2003).
Os instrumentos de coleta de dados quantitativo-qualitativos foram o número
de empregados, homem-hora (hh), número de desvios, incidentes e acidentes,
Auditorias Comportamentais (Audicomps), Painel de avaliação individual do Índice
de Desempenho de Saúde, Meio Ambiente e Segurança (IDSMS) e nota final do
IDSMS.
No entanto, antes de entrar na metodologia de pesquisa, é importante relatar
o objetivo destes instrumentos, o contexto em que foram implantados e a ordem
cronológica dos acontecimentos de SST.
O trabalho teve início na pré-parada de manutenção. Essa fase antecede a
parada de manutenção e serve para que a empresa recrute e mobilize a força de
trabalho, realize treinamentos de procedimentos e de SST, aloque os recursos
físicos, tais como almoxarifado, vestiários, entre outros.
A empresa montou uma equipe multidisciplinar, composta por três
engenheiros, entre eles o autor, para analisar, na fase de pré-parada, os motivos de
terem ocorrido cinco acidentes na parada realizada anteriormente pela empresa - e
elaborar um plano de ação corretivo para a parada que viria a seguir. Esse estudo
prévio de SST ocorreu no mês de junho de 2019 e foi chamado de “Lições
Aprendidas”.
Os cinco acidentes analisados no histórico do “Lições Aprendidas” foram os
seguintes: irritação e queimadura nos olhos, com origem da limpeza do rosto com
“água de cimento”; corpo estranho levado aos olhos com as mãos, causando
irritação e dor; fagulha levada aos olhos com as mãos, causando queimadura leves;
corte de dedo com fita abraçadeira ao tentar retirar a mesma com as mãos; e cortes
superficiais e queimaduras nos dedos com lixadeira.
Na ocasião, a análise identificou que em todos acidentes registrados o fator
humano esteve presente como causa principal, ou secundária, portanto sendo
necessário um plano corretivo para melhorar o comportamento seguro da frente de
trabalho.
O Plano de Ação Corretiva proposto incluiu três novos itens aos
procedimentos de SST da empresa, além da elaboração do PGSST: Recrutamento
Seguro, Audicomp e Responsabilização de Linha.
Desta forma, o PGSST elaborado e implantado pela equipe ficou estruturado
conforme resume o Quadro 1:

Quadro 1 – Resumo do PGSST


Item Resumo explicativo do que trata o item
Política de Gestão de Política de gestão em SST, com diretrizes e valores que visam garantir a
Saúde e Segurança saúde e segurança dos trabalhadores.
Regras de Ouro Dez regras de cumprimento obrigatório por todos trabalhadores, com
objetivo de prevenir danos às pessoas e fortalecer a cultura de segurança,
englobando: permissão para trabalhos, isolamento de energias, trabalho
em altura, espaço confinado, atmosferas explosivas, posicionamento
seguro, EPIs, atenção às mudanças, segurança no trânsito, e álcool e
outras drogas.
Gestão sem Lacunas Um conjunto de 12 orientações gerais de comportamento, relacionados a
SST, como maneira adequada de se comportar e atuar com
9

profissionalismo;
Procedimentos de Informa dos procedimentos de SST da empresa que são aplicáveis para o
Saúde escopo da parada de manutenção.
e Segurança
Inspeções e Inspeções de sinalização, selos, condições de máquinas e equipamentos,
auditorias documentos, Fichas de Informação de Segurança para Produtos Químicos
– FISPQ, entre outros, nas frentes de trabalho. Auditorias de SST.
Programa de Controle Dispõe sobre alguns requisitos para o sistema de Gestão de Qualidade.
de Qualidade
Procedimento de Informa do procedimento para higienização dos uniformes de segurança
Higienização RF (com resistência ao fogo), bem como luvas e outros EPIs.
de EPIs e Uniformes
SESMT Montagem do quadro do SESMT, de acordo com o cronograma da obra.
Treinamentos Lista todos treinamentos por grupos de risco. Treinamentos como
integração, abertura e divulgação de ordens de serviço, regras de ouro,
perigos e riscos identificados, divulgação do PPRA, segurança no
manuseio com produtos químicos, prevenção de acidentes, NR (6, 10, 12,
20, 23, 33, 35), direção defensiva e ensaio de vedação de máscaras.
DDS Procedimento referente ao diálogo diário de segurança (15 minutos, início
da jornada, usando registros das auditorias e atividades do escopo diário
planejado).
DSS Procedimento referente ao diálogo semanal de segurança (cerca de 60
minutos, registro de auditorias recorrentes).
Cronograma de Estabelece procedimento das reuniões semanais de SST com lideranças e
Reuniões de SMS membros do SESMT.
Procedimento de Estabelece o procedimento em caso de ocorrência de acidentes de
Investigação trabalho, com prazos e ações referentes a investigação e relatório final.
de Ocorrências de
SMS
Procedimento e Estabelece o fluxo de avaliação e comunicação de emergência na parada
Comunicação e os procedimentos adotados.
de Emergência
Procedimento de Procedimentos em situações de urgência e emergência, ordem de
Primeiros Socorros atendimento, providências, contatos úteis, etc.
Encaminhamento Informação de procedimento e local destino para encaminhamento de
Para Atendimento atendimento externo.
Externo
Atendimento na Área Procedimento para vítimas sem condições de remoção, com e sem
de Parada possibilidade de remoção pela equipe de resgate interna da refinaria.
e Ocorrências com
Vítimas
Sinalização Estabelece e unifica entre todas empresas da parada de manutenção um
padrão de sinalização para isolamentos de área, movimentações de carga,
andaime liberado, entre outros.
Plano de Prevenção à Orientações e procedimentos para utilização e transporte de ferramentas
Queda de Materiais e/ou malões para evitar quedas e acidentes. A proposta deste plano é
atuar no fator humano, com inspeções e orientações diárias.
Plano de Ventilação Orientações e procedimentos, cálculos, equipamentos e EPIs projetados
para as atividades em espaços confinados (partes internas dos cascos dos
permutadores de calor do tipo em “U”).
FISPQ Inventário de FISPQs, com cópias pertinentes às frentes de trabalho e
treinamentos das mesmas com listas de presenças.
Disposições Gerais Cita responsabilidades, inspeções e regras gerais, como multas e
suspenções.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Depois da fase de pré-parada, onde foram elaboradas as Ações Corretivas e


o PGSST, no período correspondente a agosto, setembro e outubro de 2019,
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ocorreu a parada de manutenção das três unidades da refinaria de Minas Gerais e a


implantação da GSST pela empresa.
Na sequência, na fase de pós-parada, tem-se a avaliação de desempenho da
refinaria: o IDSMS.
A metodologia de trabalho proposta, portanto, foi dividida em três fases: pré-
parada, parada e pós-parada.
Após entrar no contexto em que este trabalho se desenvolveu, cabe detalhar
cada um dos instrumentos de avaliação.
O levantamento de Registros de SST compreendeu o levantamento dos
seguintes dados: o número de empregados, homem-hora, número de desvios,
incidentes e acidentes. Estes dados serviram para analisar o desempenho de SST
no período, tanto individualmente, quanto em conjunto, a partir da comparação com
a Pirâmide de Desvios.
O Recrutamento Seguro, conforme sugere o nome, é um programa que
consiste na aplicação de questionários de SST em todos candidatos a vagas de
trabalho, que permitiu antecipar, por ordenamento, a seleção dos candidatos de
acordo com o seu conhecimento e entendimento de SST. Neste caso, introduziu
para a seleção de futuros funcionários, em equivalência ao conhecimento técnico, o
conhecimento de conceitos e aplicações sobre SST.
O questionário de avaliação do Recrutamento Seguro foi elaborado pela
equipe de engenheiros, com o suporte de uma psicóloga especializada em
recrutamentos.
O questionário foi elaborado a partir de quinze perguntas, tendo respostas
objetivas e discursivas, conforme apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 – Questionário: Recrutamento Seguro


Item Questão
1 Você acha importante receber treinamentos de segurança?
2 Com relação aos acidentes de trabalho, você acha que eles acontecem por
qual razão?
3 Na sua opinião, quais as medidas preventivas que a empresa deve adotar
quanto a prevenção de acidentes do trabalho?
4 Você possui conhecimento dos riscos do seu setor de trabalho?
5 Qual seu nível de consciência sobre a importância dos EPIs?
6 Você sabe utilizar todos EPIs para sua função?
7 O que você faz para colaborar com a prevenção do meio ambiente de
trabalho?
8 Quais os benefícios de um ambiente de trabalho organizado?
9 Como se faz organização?
10 Quando você tem alguma dúvida sobre Saúde e Segurança o que costuma
fazer?
11 Cite três regras básicas sobre segurança em movimentação de cargas.
12 Onde são definidos os requisitos de segurança de sua atividade?
13 O DDS serve para quê?
14 O que você faz quando observa um colega cometendo um desvio?
15 Na sua opinião, quais são os desvios toleráveis no ambiente de trabalho?
Fonte: Elaborado pelo autor.

A avaliação do Recrutamento Seguro foi quantitativa para formar a nota


individual de cada candidato à vaga de emprego, bem como realizar o ordenamento
dos candidatos, mas qualitativa na avaliação de desempenho do comportamento
seguro dos empregados contratados.
11

Adiante, tem-se a Audicomp que compreende um sistema de Auditorias


Comportamentais visando identificar o início de comportamentos inseguros dos
trabalhadores. O sistema de auditorias exigiu que todos os encarregados,
supervisores e coordenadores realizassem no mínimo duas auditorias por semana,
ao passo que os funcionários ligados à segurança do trabalho diariamente.
O objetivo do sistema de auditorias foi identificar desvios e condutas
inadequadas, corrigi-los e efetuar registro. Estes registros serviriam para identificar
os tipos de desvios, bem como os desvios recorrentes.
As categorias de avaliação da Audicomp foram as seguintes: Reação das
Pessoas, Posição das Pessoas, EPI, Ferramentas e Equipamentos, Procedimentos,
Ordem, Limpeza e Arrumação.
A categoria Reação das Pessoas serviu para registrar ações de auditados
que caso quisessem disfarçar a não-conformidade, como por exemplo ajustar o EPI,
trocar de posicionamento e sair da área de isolamento, entre outros. A categoria
Posição das Pessoas consistiu em um conjunto de não-conformidades da situação
do auditado: risco de queda, esforço inadequado, postura inadequada, risco de
esmagamento, queda, choque-elétrico, inalação ou ingestão de substância tóxica e
risco de ser atingido por objeto ou carga. As demais categorias correspondem ao
que o próprio nome sugere.
A partir do conjunto de não-conformidades registradas, foram elaborados
DDS’s , treinamentos e reuniões abordando e buscando solucionar a origem dos
*

comportamentos inseguros (evitando o aumento da base da Pirâmide de Desvios). A


Figura 1 apresenta o registro dos trabalhadores em um do DDS.

Figura 1 – DSS** com temas originados de Audicomps

Fonte: Acervo pessoal do autor.

A Responsabilização de Linha teve como objetivo eliminar dois


comportamentos inseguros: o desvio de risco severo e o desvio recorrente.
O programa funcionou identificando funcionários que estivessem colocando
sua própria segurança em risco e/ou a de outros funcionários, a partir dos registros
das Audicomps e fiscalização dos Técnicos de Segurança do Trabalho, para realizar
treinamentos de reciclagem. Desta forma, condicionando o mínimo de segurança
para o retorno ao trabalho.

* DDS significa Diálogo Diário de Segurança. O DDS serve para orientações sobre riscos das
atividades que serão realizadas na jornada, bem como corrigir condutas e comportamentos
inadequados, rever conceitos e ações de SST. Ocorre durante cerca de quinze minutos, antes do
início das atividades.
** DSS significa Diálogo Semanal de Segurança. O DSS serve para orientações sobre temas diversos
de SST, orientações sobre desvios recorrentes, descontração, unir a equipe, etc. Ocorre durante
cerca de trinta minutos, antes do início das atividades.
12

Ainda, caso o conjunto de reciclagens não fosse suficiente para garantir a


segurança e retorno ao trabalho, principalmente em casos de desvios recorrentes, o
funcionário então seria encaminhado ao setor de recursos humanos para
providências.
A partir dos registros do número de empregados que participaram de
reciclagens e do tipo de reciclagem de saúde e segurança realizado, bem como da
recorrência ou não dos desvios de risco severo, ou desvio recorrente, cometidos
pelos mesmos, foram levantados os dados necessários para avaliar o desempenho
efetivo do programa; obtendo-se o principal instrumento de avaliação de
desempenho da implantação do SGSST, tanto pela importância para a empresa,
quanto pelo número de itens avaliados, o IDSMS.
O IDSMS é uma avaliação de desempenho de SST das empresas
contratadas instituída pela refinaria. A nota vai de 0 a 100, onde 100 significa que a
empresa atingiu 100% das metas estipuladas de SMS.
Essa nota é importante para as empresas, pois a refinaria a utiliza como
critério eliminatório para participação de suas licitações.
A avaliação do IDSMS é composta por 18 parâmetros (itens), todos
considerando pontuação individual de 100%. Desta forma, caso o parâmetro tenha
atingido todas metas estipuladas, não sofre nenhuma penalização e permanece com
100%, caso tenha atingido parcialmente o parâmetro, pode ser descontado 25%,
50%, 75%, ou 100%, proporcionalmente ao que foi proposto e realizado.
Os parâmetros do IDSMS são divididos em Auditoria Comportamental,
Auditoria comportamental por Lideranças, Auditorias de Aspectos
Legais/Contratuais, Auditorias de Campo, Auditorias de Permissão de Trabalho (PT),
Auditorias de SMS, Auditorias de NR 24, Auditorias de Produtos Químicos,
Cronograma Geral, DDSMS, Investigação de Acidentes com e sem Afastamentos,
Liderança Contratada, Normas e Procedimentos, Participação na Reunião Mensal
de Contratadas, Relatório Estatístico dentro do prazo (REM), Reunião Interna de
SMS, Treinamento de SMS e Índice de Ordem e Limpeza – IOL.
O IDSMS registrado pela empresa ao final da Parada de Manutenção foi
comparado com o desempenho da própria empresa na Parada de Manutenção
anterior em outra unidade da mesma refinaria.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Diante do desenvolvido ao longo da Parada de Manutenção, a elaboração


deste artigo objetiva apresentar a eficácia da implantação do SGSST e a melhoria
no desempenho de SST da empresa na Parada de Manutenção de três unidades da
refinaria de Betim, Minas Gerais.
O levantamento dos Registros de SST obteve os dados apresentados no
Quadro 3.

Quadro 3 – Resultados de SST


Nº Homem/hora
Desvios Incidentes Acidentes
Empregados exposição
Julho 7 246,4 0 0 0
Agosto 75 9.863,6 34 1 0
Setembro 165 47,723,6 123 2 0
Outubro 405 133.312,6 355 2 0
Acumulado 405 191.146,2 512 5 0
Fonte: Elaborado pelo autor.
13

Nota-se que os números das colunas são crescentes, pois correspondem ao


avanço de execução das etapas da Parada de Manutenção. Em julho/2019 as
atividades foram basicamente administrativas, em especial planejamento e reuniões
para definições de detalhes da obra. Isto explica não haver registros de desvios,
incidentes e acidentes.
Adiante, no mês de agosto/2019 ocorreu a mobilização dos contêineres de
alojamento, suprimentos e operacionais, bem como começaram as atividades dos
montadores de andaimes, os quais instalaram andaimes ao longo do perímetro dos
permutadores de calor. Esta etapa constitui risco elevado, pois as atividades dos
montadores de andaimes são realizadas com as unidades em operação. O que
implica material inflamável em alta temperatura e pressão passando em estruturas
grandes, mas também em tubulações menores e menos resistentes. Há também a
incidência de fuga de vapor industrial tóxico e necessidade de evacuação imediata
do local. Neste contexto, mesmo com os riscos relatados e considerando se tratar do
início de implantação do PGSST, notou-se o comprometimento dos funcionários com
a aplicação do que era proposto, como cuidados com isolamento de área, placas de
sinalização, entendimento dos riscos assinalados nas Permissões de Trabalho.
Os meses de setembro/2019 e outubro/2019 correspondem a Parada de
Manutenção, implicando na maior demanda de trabalho e interferência com outras
frentes de trabalho de outras empresas contratadas, isto é, riscos adicionais.
O total de trabalhadores da Parada de Manutenção passou, neste período, de
menos de cem para mais de quatrocentos. No entanto, no contexto da entrada de
centenas de funcionários, conforme ilustra o Gráfico 1, a proporção dos desvios se
manteve aproximadamente a mesma ao longo do tempo.

Gráfico 1 – Proporção de empregados e desvios pelo tempo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ainda, conforme mostrado no Quadro 3 – Resultados de SST, não ocorreram


acidentes, o que sugere melhor desempenho de SST quando comparado ao número
de cinco acidentes ocorridos na Parada de Manutenção realizada anteriormente pela
empresa. Foram registrados cinco incidentes, quatro deles registrados com objetivo
de serem investigados, analisados e tomadas ações preventivas para que não
ocorressem mais.
Convém ressaltar um dos incidentes, quando no começo de outubro/2019, um
operador de guindaste, por conta própria, desativou o sistema de segurança de fim
de curso da lança do guindaste e, durante suas atividades, acabou recolhendo o
moitão do guindaste até que o mesmo bateu na lança, se desprendeu e caiu
próximo de funcionários. Depois do ocorrido, conforme pré-definido pelo PGSST em
14

implantação, o funcionário e todos envolvidos foram levados a realizar novamente


treinamentos de segurança, tendo como foco a movimentação de cargas. Após este
evento, as três semanas posteriores não tiveram incidentes.
O Quadro 4 compara os Registros de SST com a proporção da Pirâmide de
Desvios que leva ao acidente fatal.

Quadro 4 – Dados da Pirâmide de Desvios


Registros de Dados
SST comparativos
Acidentes Fatais 0 1
Acidentes com lesões leves 0 30
Acidentes com danos a
0 300
propriedade
Incidentes que não
5 3.000
apresentam danos visíveis
Desvios 512 30.000
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os Registros de SST não foram suficientes para montar uma Pirâmide de


Desvios. No entanto, conforme demonstra o Quadro 4, a proporção entre o número
de incidentes que não apresentam danos visíveis e o número de desvios, quando
comparados a Pirâmide de Desvios para atingir um acidente fatal, foi
aproximadamente igual: razão de um para dez.
A partir dessa verificação, pode ser considerado também que, mantendo as
mesmas proporções, seria necessário sessenta vezes mais desvios para chegar na
proporção que leva ao acidente fatal.
Outro instrumento de avaliação de desempenho de SST foi o Recrutamento
Seguro. A avaliação do desempenho deste programa é subjetiva, visto que não se
tem como precisar quais seriam os acontecimentos incluindo os empregados que
não foram contratados devido a seleção do ordenamento criado. Também só
poderão ser comparadas as notas individuais e a média total dos candidatos que
fizeram o questionário quando ocorrerem outras Paradas de Manutenção. No
entanto, convém ressaltar o que foi verificado, levando em conta a experiência de
trabalhos semelhantes.
Neste caso, foi notável a dimensão e impacto que o programa causou nos
funcionários. Conforme relatos de muitos empregados em diálogos de segurança e
conversas informais, o programa passou a impressão inicial da importância que a
empresa dá para SST, antes mesmo dos mesmos serem contratados. A avaliação
do Recrutamento Seguro foi positiva.
Ainda, outro instrumento de avaliação fundamental para o desenvolvimento
da implantação do PGSST foi a Audicomp. Mais que um instrumento de avaliação,
o sistema de auditorias permitiu que todos os itens de segurança fossem
fiscalizados e tomadas ações na origem de problemas.
A partir das auditorias, foi possível identificar a proporção de ocorrência de
cada categoria, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 – Desvio percentual por categoria


15

Fonte: Retirado da Planilha de Controle de Audicomp da Empresa.

As categorias Reação das Pessoas e Ordem, Limpeza e Arrumação, juntas,


registraram 59% dos 502 desvios. A proporção elevada nestas categorias tem como
justificativa provável a solicitação realizada nos treinamentos de Audicomp que
indicaram realizar o registro de todos os desvios, incluindo os menos preocupantes,
como limpeza, organização e postura de correção de empregados ao verem que
seriam auditados.
O número de não-conformidades registrados da categoria EPI foi
praticamente zero, ou seja, apenas quatro. Sobre isso, tem-se razões diferentes que
contribuem para o comportamento seguro dos empregados, uma vez que a refinaria
cobra o uso obrigatório de macacão resistente contra o fogo, botinas, capacete e
protetor auricular. E cobra o porte obrigatório de luvas e máscaras de proteção.
Além disso, tem-se a percepção do risco de realizar atividades em refinarias pelos
funcionários, os quais, segundo dados da refinaria, possuem mais de 85% de
empregados não novatos em plantas petroquímicas.
Convém ressaltar que, inerente à atividade de manutenção de permutadores
de calor, tem-se sujeira da remoção de impurezas com hidrojateamento de alta
pressão e resíduos (restos) de material de isolamento térmico retirados das
tubulações. Desta forma, mesmo com treinamento para manter ordem, limpeza e
arrumação, é necessário entender que o ambiente de trabalho não possui o mesmo
padrão de limpeza de plantas industriais tradicionais.
Ainda sobre a Audicomp, cabe registro de que foi alcançado o objetivo de
utilizar os registros de não-conformidades para serem tratados diariamente nos
DDS. As equipes de trabalho eram divididas em grupos de cinco a dez funcionários,
sempre sob responsabilidade de um Encarregado, o qual recebia no dia seguinte,
além de outras informações de SST, os principais registros das Audicomps para
serem conversados antes de iniciar as atividades laborais.
Outrossim, a Responsabilização de Linha, diferente da Audicomp, não foi
um programa significativo quanto a resultados. O único caso em que houve a
necessidade de treinamentos de reciclagem foi após o incidente envolvendo o
Operador de Guindaste que desligou o sistema de segurança do equipamento. Não
foram identificados outros casos de desvios recorrentes ou graves que
necessitassem da utilização deste programa de reciclagem. Neste caso, o sistema
16

de Audicomp e utilização dos seus registros para evitar repetições de desvios pode
ser a razão.
O último instrumento de avaliação, apresentado no quadro 5, de desempenho
da implantação do SGSST é o IDSMS, o qual avaliou os dezoito parâmetros para
formar a nota.

Quadro 5 – Avaliação dos Parâmetros do IDSMS


Nota %
Parâmetro de Avaliação individual do
item
1 Auditoria Comportamental 100
2 Auditoria comportamental por Lideranças 100
3 Auditorias de Aspectos Legais/Contratuais 50
4 Auditorias de Campo 100
5 Auditorias de PT 75
6 Auditorias de SMS 100
7 Auditorias de NR 24 100
8 Auditorias de Produtos Químicos 100
9 Cronograma Geral 100
10 DDSMS 50
11 Investigação de Acidentes com e sem Afastamentos 100
12 Liderança Contratada 100
13 Normas e Procedimentos 50
14 Participação na Reunião Mensal de Contratadas 100
15 Relatório Estatístico dentro do prazo (REM) 100
16 Reunião Interna de SMS 75
17 Treinamento de SMS 75
18 Índice de Ordem e Limpeza – IOL 100

Nota final 8,9

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para o caso dos itens 3, 5, 10, 12, 16 e 17 cabe análise individual referente ao
que levou a ocorrer o desconto da nota, levando em consideração também as
observações que a refinaria indicou junto da nota.
O Parâmetro 3, Auditorias de Aspectos Legais/Contratuais, teve descontada a
nota por não ter sido evidenciado, no conjunto de documentos entregues para
avaliação do IDSMS, a Carta de Nomeação do Preposto da obra.
O parâmetro 5 e 13 tiveram nota descontada sem observação indicando um
motivo objetivo, seguindo critérios da Refinaria.
O parâmetro 10, DDSMS, teve nota descontada porque a lista de presença
apresentada não seguia o modelo padrão da refinaria, apenas.
Já o parâmetro 16, Reunião Interna de SMS, corresponde a uma falta em
reunião obrigatória mensal.
No caso do parâmetro 17, Treinamento de SMS, faltou apresentar a Carteira
Nacional de Habilitação das funções motorista e operadores, bem como algumas
assinaturas nas Fichas de EPIs de alguns funcionários.
Analisando as observações assinaladas com desconto na avaliação do
IDSMS nota-se que a maior parte foi por não-conformidade documental. Não
ocorreu desconto por falha de segurança ou procedimento.
17

Desta forma, o resultado superou as expectativas do que foi proposto


inicialmente pela implantação do SGSST, sabendo que a empresa havia recebido
nota 0 em sua última Parada de Manutenção. Com a nota 8,9 obtida a empresa
retornou aos critérios estabelecidos pela refinaria para concorrência de novas
licitações, bem como demonstrou que o SGSST desenvolvido foi eficiente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se propôs, como objetivo geral, em elaborar e implantar um


Sistema de Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho em uma empresa de
manutenção industrial durante uma parada de manutenção que melhorasse o seu
desempenho de saúde e segurança, posto que a empresa em sua última parada de
manutenção havia registrado cinco acidentes do trabalho e recebido nota zero da
refinaria em sua avaliação institucional de SST.
Sob esta ótica, sabe-se que sistemas de gestão tem como metodologia:
planejar processos, aplicá-los, prever falhas, solucioná-las, conferir resultados, como
forma de melhoria contínua. O contraponto, neste caso, é que o processo de
melhoria deveria ser capaz de garantir sua efetividade em um curto período de
tempo, correspondente ao período da Parada de Manutenção.
Não por acaso, buscou-se, a partir desta necessidade, criar um conjunto de
ações que levasse a formação de uma equipe de trabalho com comportamento
seguro e que tivesse as ferramentas necessárias para manter-se neste estado e/ou
melhorar continuamente ao longo do tempo. Ficou estabelecido, portanto, o
programa Recrutamento Seguro para cooptar e formar uma equipe de trabalho
com entendimento mínimo e comprometida com a segurança. A ferramenta principal
de melhoria contínua do sistema foi planejado a partir da Audicomp, um sistema de
identificação e tratamento de não-conformidades diário, contínuo. Por fim, como
medida mais drástica um programa de reciclagens e treinamentos para empregados
com comportamentos fora dos padrões aceitáveis de segurança, a
Responsabilização de Linha.
Outrossim, apesar da dificuldade inicial oriunda da necessidade de resultados
satisfatórios e de não haver espaço para repetir os mesmos erros, os bons
resultados puderam ser notados antes de qualquer avaliação. O comprometimento
dos empregados com o comportamento seguro elevou o tema segurança como
sendo o de maior importância da obra e da empresa. E, provavelmente por esta
razão, a obra chegou ao final e, além de não serem registrados acidentes, a
empresa obteve nota 8,9 na avaliação de SST da refinaria.
Ainda, entre possíveis melhorias identificadas para o SGSST implantado,
destaca-se o uso de algum software computacional, aplicativo de celular, ou outra
forma de inteligência artificial capaz de realizar o controle e monitoramento dos
registros dos desvios com maior detalhamento. Se o sistema implantado, com
auditorias feitas à mão e dados digitalizados um a um para planilhas em
computadores, foi capaz de identificar e corrigir desvios, acredita-se que o
desempenho de um sistema com mais detalhes e controle em tempo real pode ser
elevado.
18

REFERÊNCIAS

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em 05 de outubro de 1988. Disponível em:
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