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13 a- PIERUCCI, Antônio Flávio.

"Bye bye, Brasil": o declínio das


religiões
tradicionais no Censo 2000. Estud. Av., São Paulo, v. 18, n. 52, p. 17-
28, Dec. 2004.

Pós-tradicionalização religiosa acelerada

Pierucci começa seu texto afirmando que o Brasil do início do século XXI
começa a se afastar da religião tradicional. Sendo que três das principais
religiões ditas tradicionais pela sociologia, mostram hoje sérios sinais de
cansaço e exaustão em sua capacidade de reprodução ampliada. Dentre elas,
o catolicismo, o luteranismo e até mesmo a umbanda. O autor constrói seu
texto com base em dados divulgados pelo IBGE e divide o artigo em outros três
tópicos.

O ocaso quase fim da maioria católica

De acordo com o IBGE, no início do século XXI, o catolicismo ainda


representa a maioria da população brasileira, com 73.8%. A quantidade de
brasileiros que se declaram católicos no início do novo século é superior a 125
milhões. Em 1990, eram 122 milhões. Sendo assim, em números absolutos, o
catolicismo continua amplamente majoritário e se destaca nas tabelas do IBGE
contra o fundo das outras confissões, minoritárias. E continua crescendo,
embora a taxas bem menores em relação ao crescimento da população.
Por outro lado, Pierucci afirma que em números relativos, proporcionais,
a confissão majoritária está cada vez menor. O catolicismo no Brasil diminui de
tamanho, mostra o Censo Demográfico de 2000. Uma tendência constante que
vem sendo mostrada a cada novo Censo.
O sociólogo coloca que esse cenário talvez fosse o destino das religiões
tradicionais majoritárias em qualquer parte do mundo na medida em que as
sociedades se modernizam e ao se modernizarem, acabam por se diferenciam.
Sendo isso quase que uma lei que se repete em todas as grandes culturas
religiosas desde a mais remota antiguidade oriental até o final da modernidade
clássica ocidental.
O autor cita como exemplo o que acontece na índia. Lá, o hinduísmo
espaço para a expansão muçulmana. A cada avanço demográfico do islã
dentro daquelas fronteiras, é o hinduísmo que sai perdendo, assim como o
catolicismo brasileiro perde terreno a cada avanço pentecostal.
Por outro lado, Pierucci afirma que desde que ele começou na sociologia
e sociologia da religião, ele aprendeu que o exame dos censos brasileiros de
1940, 1950 e 1960 revelava “a tendência geral para um declínio moderado,
mas constante, de adeptos da Igreja Católica”. Sendo que os protestantes,
liderados pelos pentecostais, as religiões mediúnicas (kardecismo, umbanda e
candomblé) e os que se declaravam “sem religião”, vinham apontados como os
principais “beneficiários desse processo de transição religiosa”.
Assim, passados mais de três décadas de seu início como sociólogo,
com exceção da umbanda, que hoje vê encolhido seu número de adeptos, as
tendências registradas no início da década de 1970 pela equipe de Candido
Procópio estão sendo confirmadas pelo censo 2000. O catolicismo continua em
declínio, os pentecostais e os sem religião em escalada. A diferença é que
essas curvas agora ficaram mais aceleradas.

Tabela 1 – Religiões do Brasil de 1940 a 2000, em porcentagem

Religião 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000

Católicos 95,2 93,7 93,1 91,1 89,2 83,3 73,8

Evangélicos 2,6 3,4 4,0 5,8 6,6 9,0 15,4

Outras 1,9 2,4 2,4 2,3 2,5 2,9 3,5


religiões
Sem religião 0,2 0,5 0,5 0,8 1,6 4,8 7,3

T O T A L (*) 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%


(*) Não inclui religião não declarada e não determinada. Fonte: IBGE, Censos demográficos.
Por outro lado, o autor explica que a virada protestante ainda não
aconteceu no ano 2000. Porém, ele acredita ser uma possibilidade diante das
projeções. O Censo demonstra que o Brasil chega no novo século com 170
milhões de habitantes, sendo que 125 milhões são católicos declarados. Já o
número absoluto de evangélicos é de 26 milhões. Uma diferença grande ainda
em relação a essas duas religiões.
O autor comenta que havia a expectativa de alguns estudiosos de que a
diminuição no número de católicos chegasse a 50%. Um dado que quase
aconteceu somente em dois Estados da Federação, Rio de Janeiro e
Rondônia, nos quais os católicos já estão na dezena dos 50%. O Rio de
Janeiro é hoje o menos católico dos Estados. Pierucci salienta que em 1940
eram católicos mais de nove entre dez brasileiros (95,2%). Em 1950, caiu para
93,7. Em 1960, para 93,1. Em 1970, para 91,1. Descem da casa dos 90% em
1980, aparecendo já na marca de 89,2. Em 1991, cai para 83,3%. Em 2000,
despenca 73,8.
De acordo com o sociólogo, foi nos últimos vinte anos que as taxas de
crescimento de evangélicos mais subiram. O pico aconteceu sobretudo nos
anos de 1990, crescendo a uma taxa de praticamente 100% num intervalo de
dez anos. Saltaram de 13 para 26 milhões. Outro dado interessante é o do
grupo dos “sem religião”, o qual nas últimas décadas do século XX passou a
apresentar taxas maiores de aumento. Até 1980 era um grupo sem muita
relevância, hoje são 7,3% da população. No Estado do Rio de Janeiro, eles
formam mais de 15%, sendo que o a taxa de católicos é a mais baixo do País
com 57,2%.

O esgotamento do protestantismo de imigração

O sociólogo afirma que o catolicismo esteja decaindo no Brasil não


somente devido a uma pluralização crescente do campo religioso. Também
principalmente ao crescimento vigoroso do protestantismo. No Brasil, as igrejas
evangélicas saltaram de 13.189.282 fiéis em 1991 para 26.210.545 em 2000.
Historicamente, pode se dizer que foi com a vinda dos imigrantes
alemães no século XIX que o protestantismo entrou no Brasil de verdade. Isso
através do luteranismo vindo da Reforma. Os locais principais foram os
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde se fixou entre 1824 e
1864 o contingente mais numeroso desse grupo étnico-religioso. Também com
o Espírito Santo e Minas Gerais.
Segundo o autor, até meados do século XX, o luteranismo era o maior
dos ramos protestantes brasileiros denominados históricos, contendo perto de
500 mil fiéis em 1961. Em 1967, chegavam nos 800 mil. Em 1991, o
luteranismo chegou a 1.029.679 de fiéis. Porém, em segundo lugar entre os
protestantismos históricos, deslocado já do primeiro posto por conta de um
expressivo crescimento dos batistas, que no censo de 1991 já passavam de
1,5 milhão de seguidores.
O autor aponta que o ritmo de diminuição das igrejas luteranas só
aumentou no decorrer dos anos de 1990. Pelo censo de 1991, eram 7,8% do
total geral de evangélicos. No Censo do ano 2000, houve um crescimento
baixo, indo de 1.029.679 para 1.062.144: só trinta e poucos mil a mais. Isso fez
com que sua participação relativa no total do protestantismo brasileiro fosse de
quase 8% para os magros 4% atuais. Assim, do Censo de 1990 para o de
2000, o luteranismo desceu da quarta para a sétima colocação no ramo geral
de evangélicos no Brasil.

A retração numérica da umbanda

Em 1967, o Serviço de Estatística Demográfica, Moral e Política do


Ministério da Justiça informava que o número de umbandistas no Brasil era de
240.088. A informação era de que os brasileiros freqüentadores de centros de
umbanda estavam aumentando de forma notável naquela década, quase
triplicando. Em estudos de Lísias Nogueira Negrão, especialista no tema, no
período de 1974 a 1976, foi “o momento culminante do crescimento da
umbanda”.
Segundo o sociólogo, a umbanda surgiu no Rio de Janeiro na década de
1920. Já nas décadas de 1930 e 1940 começava a se disseminar pelo meio
urbano mais moderno do País, o das cidades grandes da região mais
desenvolvida. No Sudeste, a umbanda foi vista como uma religião brasileira.
Para alguns, a religião que melhor encarnava a tradição sincrética nacional.
A construção de uma identidade nacional esteve sempre entre os
intelectuais, pelo menos desde a República, o que desde logo favoreceu toda
uma boa vontade com a umbanda. Afirmativamente afro e marcantemente
popular, ela não se fechava etnicamente em sua negritude, mas se oferecia
brasileiramente a todos os brasileiros. Pensava suas raízes como plenamente
brasileiras e não simplesmente africanas.
Por outro lado, Pierucci comenta que a umbanda começou a perder fieis
na década de 1980. Desde então, não parou mais de encolher aos poucos. No
censo 2000, tanto o candomblé quando a umbanda perderam seguidores. Os
cultos afro-brasileiros tem se mostrado em queda lenta, gradual e contínua nas
duas últimas décadas do século XX.
Em 1980, 0,57% de brasileiros se declaram pertencer à umbanda ou ao
candomblé. Em 1991, apenas 0,44%. Em 2000, 0,34%. A partir de 1991, o
IBGE passou a separar umbanda de candomblé, isso ajudou a analisar qual
das duas religiões está perdendo mais espaço: é a umbanda, que cai de
541.518 em 1991 para 432.001 seguidores em 2000. Já o candomblé, no
mesmo período cresce de 106.957 para 139.329 participantes.

Conclusão
Pierucci finaliza o seu texto reforçando a consistência dos censos
demográficos do IBGE. Ele comenta que ao examinar as estatísticas dos
censos das últimas décadas, ele percebeu pelas tabelas as trajetórias
declinantes da tradição religiosa do País.

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