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Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri

IV Encontro Universitário da UFC no Cariri


Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012
EU
2012

ESTUDO DO POTENCIAL DE COLAPSO DO SOLO DE FUNDAÇÃO


DO CAMPUS DA UFC/CARIRI

Wanks Ferreira Bezerra Batista1


Ana Patrícia Nunes Bandeira 2

1. Introdução/Desenvolvimento
O desenvolvimento do trabalho estudado aborda a problematização da existência de
solos colapsíveis na Região do Cariri, através do estudo de caso do solo de fundação da
UFC/Campus Juazeiro do Norte. Quando falamos de solos colapsíveis, logo vem a sua
conceituação. O conceito mais simples e resumido possível é que esse fenômeno está ligado
ao umedecimento de solos não saturados em recalques adicionais de uma fundação;
geralmente sem aumento nas tensões aplicadas (JENNINGS e KNIGHT, 1975).
A sua ocorrência se enquadra em locais onde existe deficiência hídrica, com baixos
volumes de chuvas ao longo do ano, o que é muito comum na Região do Cariri. Nesse caso,
incluem também o aparecimento de colapso em ambientes tropicais, que apresenta condições
a esse tipo de fenômeno. Portanto o colapso pode surgir, seja pela lixiviação de finos dos
horizontes superficiais nas regiões onde se alternam estações secas e de precipitações
intensas, seja pela deficiência de umidade que se desenvolvem em regiões áridas e semiáridas.
No entanto, existe uma variedade de formações que podem apresentar comportamento
colapsível, variando tanto em textura quanto em estrutura. Quando falamos do tipo de
material colapsível, não há uma faixa granulométrica específica que enquadre os mesmos. Na
maioria dos casos, os solos são caracterizados por estruturas fofas, com granulometria
variando de silte a areia fina, geralmente uma mistura de areia fina, silte e argila, com
predominância do primeiro. A colapsibilidade está ligada à estrutura que o solo adquire na sua
formação geológica e das componentes de tensões efetivas. Logo dentre as várias condições
de colapso BARDEN et al. (1973) destacam três, para que um colapso apreciável ocorra: a)
uma estrutura aberta (porosa), potencialmente instável e não saturada; b) uma componente de
tensão aplicada capaz de desenvolver uma condição metaestável; e c) um valor,
suficientemente, elevado de sucção (ou outros agentes de ligação ou cimentações) para
estabilizar os contatos intergranulares, cuja redução por inundação conduzirá ao colapso.
Com relação à estrutura dos solos colapsíveis pode-se destacar que uma das
características comuns desses solos é o fato destes possuírem uma “estrutura aberta”,
freqüentemente referida a grãos redondos, unidos por algum material de ligação ou força a
qual é susceptível de ser removida ou reduzida por adição de água. Esses materiais de ligação
podem variar de: argila, carbonatos de cálcio, óxidos de ferro ou ainda soldas nos contatos
entre os grãos. O material ligante mais comum encontrado em vários solos colapsíveis é argila
(a partir de SOUZA NETO, 2004).
Os sistemas de classificação convencionalmente usados na mecânica dos solos
(AASHO, HRB e USCS), são todos baseados na granulometria e propriedades plásticas dos

1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri, Juazeiro do Norte, Ceará,
wanks_rolim@hotmail.com
2
Professora e Doutora em Engenharia Civil, Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri, Juazeiro do Norte,
Ceará, anabandeira@cariri.ufc.br
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solos, sendo limitados na previsão do comportamento colapsível. A principal razão dessa
limitação é que os ensaios considerados nestas classificações destroem a estrutura do solo
sobre a qual o comportamento colapsível é dependente. Embora o mecanismo de colapso
possa ser muito complexo (pelo menos a nível microestrutural), há uma tendência no meio
técnico em identificar solos colapsíveis partindo de ensaios simples e de uso corriqueiro em
laboratórios de mecânica dos solos. Neste sentido, muitos autores têm apresentado métodos
indiretos para identificar solos colapsíveis, através de ensaios simples de caracterização.
O comportamento colapsível de um solo gera muitos problemas nas estruturas,
causando recalques nas mesmas e conseqüentemente trincas e rachaduras nas paredes.
MOREIRA (2011) em seu estudo sobre os solos da Região do Cariri constatou o
comportamento colapsível em algumas amostras estudadas; assim como SILVA FILHO et al.
(2010) e um Relatório da UFC (2007) apresentaram resultados de colapso de solo da
UFC/Cariri. O objetivo deste trabalho é, portanto, aprofundar o conhecimento sobre o
comportamento do colapso do solo de fundação do Campus da UFC em Juazeiro do Norte, a
fim de contribuir com o estudo do solo da região e conseqüentemente subsidiar projetos de
engenharia. Trata-se de trabalho desenvolvido através do Projeto “Estudo do Potencial de
Colapso dos Solos da Região Metropolitana do Cariri-CE”, aprovado no Edital
FUNCAP/CNPq 07/2010.

2. Metodologia/Resultados
Para a análise das características geotécnicas do solo de fundação do Campus da UFC/
Juazeiro do Norte, foi realizado uma campanha de investigação geotécnica no Laboratório de
Mecânica dos Solos. Foram realizados os seguintes ensaios: Analise granulométrica, Limites
de Atterberg (LL e LP), Compactação do solo (Proctor Normal) e ensaio Edométrico Simples.
Os ensaios básicos de caracterização foram realizados conforme as normas brasileiras (NBR
6457/1986; NBR 7181/1984; NBR 6459/1984; NBR 7180/1984; NBR 7182/1986). O
potencial de colapso, segundo a literatura, pode ser analisado através de métodos indiretos
(pelos ensaios básicos e índices físicos) e por métodos diretos (ensaios eodométricos simples
ou duplos). Para este trabalho o potencial de colapso foi analisado por meio de ensaio
edométrico simples, na prensa de adensamento. Neste ensaio foram consideradas as
recomendações de FERREIRA (1995) e SOUZA NETO (2004). O procedimento básico
consistiu em carregar o solo, por estágio, até a tensão vertical de 200 kPa, como sendo a de
referência do carregamento de campo para a análise do colapso. Nesta tensão de 200 kPa o
corpo de prova foi inundado com água destilada e permanecido nesta condição por um
período de 24 horas; as deformações decorrentes da inundação foram acompanhadas até a sua
estabilização para verificação do colapso.
Do ensaio de granulometria, através de peneiramento e sedimentação, observou-se que
o solo possui a seguinte composição de textura: 23% de argila, 8% de silte; 29% areia fina,
38% areia média, 2% de areia grossa, não apresentando pedregulho. Então o solo tem
predominância de textura grossa (com menos de 50% passando na peneira de 200 mm), com
maior percentual de areia média seguida de areia fina (Figura 1). Com relação ao Limite de
Liquidez e Limite de Plasticidade, o solo apresenta valores 15,97% e 18.68%
respectivamente, correspondendo a um solo não plástico. Através destes resultados o solo foi
classificado, pela Classificação Unificada (SUCS), como areia-argilosa (SC). No ensaio de
compactação na energia Proctor Normal foi identificado que o solo apresenta umidade ótima
de 11,6% e massa especifica aparente seca máxima de 1,930g/cm³ (Figura 2), semelhante ao
resultado apresentado por SOUSA PINTO (2006) para este tipo de solo (areno-argiloso).
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ABNT

Argila Silte Areia Pedregulho


Fina Media Grossa
100

90

80
Percentual passando (%)

70

60

50

40

30

20

10

0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 1:Curva Granulométrica do solo da UFC/Cariri


CURVA DE COMPACTAÇÃO
2,000
Massa Esp. Seca (g/cm³)

1,900

1,800

1,700

1,600

1,500
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Umidade (%)
Figura 2: Curva de Compactação do solo da UFC/Cariri

A avaliação da colapsibilidade do solo é, normalmente, feita no laboratório por meio


de ensaios edométricos, envolvendo o carregamento do solo seguido de inundação. Este tipo
de ensaio tem sido referido por FERREIRA (1995) de “Ensaio Edométrico Simples”. Com
base nos resultados desses ensaios, defini-se “potencial de colapso do solo” como sendo a
deformação unidirecional do solo devido ao seu umedecimento sob tensão, conforme a
Equação 1.

Equação (1)
Onde:
PC(%) é o potencial de colapso;
ΔH é a variação de altura do corpo-de-prova devido a sua inundação;
H0 é altura inicial do corpo-de-prova.
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Para VARGAS (1978), um solo é considerado colapsível quando apresenta um


potencial de colapso (PC) maior que 2%, independente do nível de tensão, sendo esta
referência muito adotada pelos projetistas brasileiros. À nível internacional destaca-se o
critério de JENNING e KNIGTH (1975), que qualifica a colapsibilidade do solo com base na
gravidade dos problemas esperados numa obra, em cinco categorias: Sem Problema
(0<PC<1); Problema moderado (1<PC<5); Problemático (5<PC<10); Problema grave
(10<PC<20); Problema muito grave (PC>20). Este critério foi elaborado com base no
potencial de colapso do solo sob uma tensão de 2,0 kg/cm2.
O ensaio edométrico simples realizado para análise do colapso do solo aqui estudado
forneceu um potencial de 13,16%, que segundo VARGAS (1978) é um solo colapsível; e
segundo a classificação de JENNINGS e KNIGHT (1975) é um solo de problema grave de
colapso. A Figura 3 apresenta a curva Deformação Volumétrica versus Tensão Vertical do
solo estudado.

0,0

2,0

4,0
Deformação Volumétrica (%)

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0
PC=13,16%
18,0

20,0
1 10 100 1000
Tensão Vertical (kPa)

Figura 3: Curva Deformação x Tensão Vertical do solo da UFC/Cariri


(Ensaio Edométrico Simples)

3. Considerações Finais
Com os resultados dos ensaios obtidos através dos ensaios de laboratório conclui-se
que o solo de fundação do Campus da UFC/ Juazeiro do Norte é extremamente colapsível, de
problema considerado grave. É um solo com predominância de areia média e fina, tendo
como provável agente cimentante a argila; que ao ser umedecido perde a sua capacidade de
suportar cargas, entrando em colapso. A análise de colapso do solo é muito importante para
projetos de fundação na região do semiárido. Um solo que apresenta alta resistência no ensaio
de SPT pode ter comportamento colapsível. Através dos resultados desse estudo alertamos
aos projetistas e aos futuros engenheiros da Região que explorem este tipo de análise, em
qualquer que seja o tipo de obra a projetar (fundação de edifícios, escavações para obras de
irrigação, etc), não se limitando aos ensaios de sondagem SPT, como comumente ocorre, pois
esse comportamento só é identificado, satisfatoriamente, através dos ensaios edométricos, em
laboratório, ou através de ensaios de campo com o expansocolapsômetro.
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4. Agradecimento
Agradecemos à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – FUNCAP, pelo apoio financeiro através da bolsa de iniciação científica e de
outras colaborações, assim como ao Banco do Nordeste do Brasil pelo financiamento da
Prensa de Adensamento, sem a qual não seria possível a realização do ensaio de colapso; e ao
Laboratório de Mecânica dos Solos da UFC/Cariri.

5. Referências

BARDEN, L., MCGROW, A. e COLLINS, K. “The Collapse Mechanism in Partly


Saturated Soil”. Engineering Geology, Vol. 7,(1973). pp.49-60.
FERREIRA, S.R.M. “Colapso e Expansão de Solos Naturais Não Saturados Devido à
Inundação”. Tese de Doutorado. COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, Março,(1995) 379
p.postar no final
JENNINGS, J. E. & KNIGHT, K. “A Guide to Construction on or with Materials
Exhibiting Additional Settlement Due to a Collapse of Grain Structure”.Proced. IV
Regional Conference for Africa on Soil Mechanics and Foundation Engineering.
Durban,(1975) p. 99-105.
MOREIRA, E. B. Estudo do Potencial de Colapso da Região Metropolitana do Cariri.
Juazeiro do Norte,CE,Brasil,2011.
NBR 6457/1986. Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização.
NBR 7181/1984. Análise Granulométrica
NBR 6459/1984. Limite de Liquidez
NBR 7180/1984. Limite de Plasticidade
NBR 7182/1986. Ensaio de Compactação
PINTO, C.S., Curso Básico de Macânica dos Solos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Texto,
2006. 355 p.

SILVA FIHO, F. C.; Moura, A. S.; FUTAI, M. M. Uma solução para fundações em solos
colpasíveis no Campus da UFC no Cariri. In: XV Congresso Brasileiro de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica, 2010, Gramado. Anais... Gramado: ABMS, 2010
SOUSA NETO, João Barbosa. Comportamento de um solo colapsível avaliado a partir de
ensaios de laboratório e campo, e previsão de recalques devidos à inundação
(colapso). Rio de Janeiro, RJ – Brasil, Agosto de 2004.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA. Laboratório de Mecânica dos Solos e
Pavimentos. Relatório 54/07. Ceará, 2007.16 p.
VARGAS, M. “Introdução à Mecânica dos Solos”. McGRAW -HILL do Brasil.São Paulo.
Vol.1,(1978) p.509.

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