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FORMAÇÃO MARTINISTA - INSTRUÇÕES DE JEAN-BAPTISTE

WILLERMOZ AO SEU FILHO

FORMAÇÃO MARTINISTA
FORMAÇÃO MARTINISTA

TRADUÇÃO INÉDITA DE UMA PARTE DAS “INSTRUÇÕES”


DIRIGIDAS A SEU FILHO, “Para ser-lhe entregues quando tiver
idade de merecê-las”, SEGUNDO ANOTAÇÃO ESCRITA NA
MARGEM, DE PUNHO E LETRA DE SEU AUTOR, ORIGINAL
DE Jean-Baptiste Willermoz
Núcleo de Estudos Maçônicos

FORMAÇÃO MARTINISTA

EXPLICAÇÕES PRELIMINARES QUE SERVEM DE INSTRUÇÃO AOS


CAPÍTULOS SEGUINTES CONTENDO A DESCRIÇÃO DOS FATOS
ESPIRITUAIS CONCERNENTES À CRIAÇÃO DO UNIVERSO FÍSICO,
TEMPORAL E SUAS PARTES PRINCIPAIS, DA CRIAÇÃO DO HOMEM E DA
MULHER, DE SUA PREVARICAÇÃO E CASTIGO, E OS PRINCIPAIS FATOS
OCORRIDOS EM SUA POSTERIDADE ATÉ A ÉPOCA DO DILÚVIO
UNIVERSAL.

Seguindo, fielmente, como até agora temos feito, as instruções de


Moisés, esse grande legislador amigo de Deus, condutor esclarecido e
fiel do povo hebreu, conseguiremos alcançar o conhecimento certo dos
fatos espirituais referentes à origem e à criação do universo físico
temporal e de suas partes principais, dos que fui encarregado por Deus
de dar a conhecer e transmitir em toda sua verdade e pureza por meio
de uma iniciação secreta e proporcional aos especialmente eleitos e
designados para isso, e que as Santas Escrituras nos dão a conhecer
como homens conduzidos, em sua maior parte, por um grande saber e
inteligência. Apartemos no momento o véu material que forçosamente
teve que cobrir sua descrição para a imensa maioria dos seres desta
nação, composta por homens grosseiros e ignorantes que não puderam
compreender toda essa verdade; o que, com pouco tempo, dela
abusaram, véu que deu lugar, então, a tantos equívocos.

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Apreciaremos, em seguida, por justas comparações as versões


deste véu que chegou a nossas mãos e que materializaram quase todas
as partes de sua descrição, e aproveitaremos cuidadosamente as
ocasiões que se apresentam, naturalmente para assinalar as causas
particulares dessas subversões materiais que tanto fatigam a
inteligência dos verdadeiros fiéis, dos verdadeiros sábios, e entregam as
armas mortíferas à multidão de incrédulos que, desgraçadamente,
aumenta a cada dia.

Porém, como poderíamos ver-nos expostos, por razão de dar


alguma explicação apremiante, a interromper o fio do relato que vamos
empreender, cremo-nos no dever de dar aqui e de modo preliminar,
certas explicações e definições sobre alguns complementos importantes,
com o fim de facilitar seu entendimento aos amigos da sabedoria e
prevenir, desse modo, que não seja possível a necessidade de penosas
interrupções.

Assim, pois, começaremos por explicar o que é preciso entender


nessas palavras, frequentemente repetidas, que ordinariamente
expressam um todo, porém que em algumas ocasiões não expressam
mais que uma parte desse todo, a saber: a imensidade divina, o mundo
divino incriado; a criação do universo físico e temporal e do espaço
universal que encerra e contém todas as partes; a formação e explosão
do caos, a criação da matéria dita mal ou malvada e seus princípios

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constitutivos, do por que de três elementos e não quatro, a vida


universal passiva que anima todo o espaço; a bênção da Grande Obra de
seis dias pelo ato sabático divino do sétimo dia. Por outro lado, não nos
cansaremos de repetir essas explicações em seus sítios e lugares
naturais, uma vez que julgamos essas repetições úteis e convenientes
para fixar a atenção sobre esses detalhes.

A imensidade divina, que também denominamos como mundo


divino e incriado, que é por consequência indefinível, que domina e
separa o espaço universal e os mundos criados, é uma imensidade sem
marcos e limites que se acrescenta sem cessar e aumenta sem fim para
conter a imensa multitude de seres espirituais e inteligentes emanados
do seio do Criador.

Deus é o Centro e, a partir deste Centro, tudo preenche.

Está concentrado em sua incompreensível unidade, tanto que a


manifesta por atos e produções de sua inefável Trindade Divina, que
adoramos sob o nome de Pai, Filho e Espírito Santo, que forma
conjuntamente o eterno triângulo divino no qual a unidade divina é o
princípio e o centro.

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Este triângulo divino está rodeado pela multitude imensa de seres


espirituais e inteligentes do qual são emanados, e formam
conjuntamente quatro classes distintas em ações, virtudes e poderes,
que a Igreja cristã reverencia sob o nome de anjos, arcanjos, querubins
e serafins.

Nomeamos como Moisés a primeira: círculos de espíritos


superiores e lhes damos o número 10, como responsáveis e agentes
imediatos do poder divino do Criador. Façamos menção da segunda:
círculo de espíritos maiores e lhes damos o número 8, que é o dobro do
poder que pertence aos Filhos do divino, que manifestam o poder do Pai
do qual são a imagem e operam o seu próprio, os denominamos
espíritos octogésimos e agentes imediatos do poder octogésimo dos
Filhos.

Mencionaremos a terceira classe: círculo de espíritos inferiores


setenários, como corresponsáveis e agentes imediatos da atividade
divina do Espírito Santo, em que o número característico é o 7.
Finalmente, nomeamos a quarta classe: círculo de espíritos menores
ternários aos quais damos o número 3, como agentes e corresponsáveis
da quádrupla essência divina para a manifestação das operações do
sagrado ternário divino.

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Porém, não percamos de vista que os números de ação 10, 8, 7 e


3, que caracterizam essas quatro classes, reunidos somam 28 = 10; o
que demonstra que toda ação espiritual provém da unidade; e se
traçarmos este número 10 assim: I, figurará o ômega, o Princípio e o
Todo, uma parte pelo I central, a outra pela circunferência que a rodeia.
Os seres espirituais destas quatro classes são todos iguais por natureza,
porém, diferem todos, o mesmo em cada círculo, como já dissemos em
outra parte, por seu modo de ação, por sua virtude e seu poder; de
modo que cada círculo tenha também seus superiores, seus maiores,
seus inferiores e seus menores. Esta imensidade era tudo o que existia
antes da prevaricação dos anjos rebeldes.

O universo físico é um espaço imenso e incomensurável criado por


Todo Poder no instante mesmo da prevaricação dos anjos rebeldes, pela
manifestação de sua glória, seu poder e sua justiça, e por ser o lugar de
exílio e privação dos prevaricadores. Este espaço está limitado e rodeado
por todas as partes por uma imensa circunferência ígnea e
impenetrável, denominada filosoficamente de “eixo do fogo central”,
formado pela multitude de espíritos inferiores que permaneceram fiéis, e
que receberam a ordem do Criador de defendê-lo contra toda contração
demoníaca durante a duração do intervalo de tempo fixado pela justiça.

Neste maravilhoso espaço, de onde, no momento da explosão do


caos, foram postas em ação e movimento todas as partes do universo
criado, céus, astros, estrelas, planetas, corpos terrestres e celestes e, em

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geral, todos os seres ativos e passivos da natureza, de onde todas as


suas partes e cada uma delas em particular operam com uma precisão
admirável suas ações diárias, conforme as leis de ordem recebidas do
divino Criador.

Este espaço se compõe de duas partes principais. No centro da


parte inferior denominada mundo terrestre, está situado o corpo geral
terrestre ou terra propriamente dita, rematada por três planetas
inferiores denominados Júpiter, Vênus e Lua que espargem sua
influência e operam imediatamente sobre eles sua ação em
correspondência com os quatro planetas superiores.

A parte superior do espaço universal, chamado mundo celeste,


contém os quatro planetas superiores chamados Saturno, Sol, Mercúrio
e Marte, que formam em seu conjunto as quatro regiões celestes,
dominam o universal e estão em correspondência com os quatro
círculos espirituais do mundo sobre o celeste que os coroa e do qual
falaremos mais adiante. É no centro das quatro regiões celestes deste
quartenário temporal de onde Moisés situou, com a árvore da vida, o
paraíso terrenal que os geômetras materialistas buscam na terra. E
neste mesmo centro regional que situou o homem emancipado, pura e
santa imagem e semelhança de Deus, e de onde estabeleceu a sede de
seu domínio universal sobre os seres e as coisas criadas.

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Por debaixo do mundo celeste e das quatro regiões planetárias


superiores que a compõem, existe outro espaço imenso denominado
imensidade e mundo sobre celeste ou por cima do celeste, criado ao
mesmo tempo que os mundos inferiores. Esta imensidade rodeia,
protege e defende poderosamente contra toda ação demoníaca a
circunferência ígnea do eixo do fogo central que marca e limita para
sempre o espaço universal. Ela separa a imensidade divina incriada dos
três mundos inferiores criados; esta habitada e ocupada pela multitude
de seres espirituais que o Criador submeteu à lei do tempo, formam em
similitude da imensidade quatro classes distintas por seu número de
ação, por sua virtude, sua faculdade e grau de poder temporal de que
estão revestidas.

O quarto círculo que os sábios denominaram como o círculo dos


espíritos menores quartenários feito à imagem e semelhança do centro
divino com a qual está unido por sua linha perpendicular.

É neste círculo de onde o Criador lhe comprouve emanar de seu


seio e estabelecer a classe geral das inteligências humanas chamadas
homens, pelo ato absoluto de seu sexto pensamento de criação, por ser
sua cabeça de emanação, sexto pensamento do qual fez um sexto dia
como se em Deus pudesse haver nem tempo, nem dia, nem intervalo. É
deste mesmo círculo de onde lhe comprouve, ato seguido, emancipar e
tirar o primeiro homem que chamamos de Adão, ainda que este não seja
seu verdadeiro nome, enviá-lo puro e santo para habitar o centro das

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quatro regiões superiores do mundo celeste, e estabelecer aí a sede do


domínio universal com que lhe havia revestido sobre todas as coisas
criadas.

É também neste centro regional que deveriam ser emancipados e


enviados a seu entorno todos os outros homens menores de sua classe,
para os que pediria ao Criador a emancipação para vir a ajudar-lhe em
suas augustas funções com o fim de opor-se à multitude de espíritos
rebeldes e conter todos juntos sua ação perversa.

Deus, emancipando a Adão e enviando-o para cumprir sua missão


no centro das quatro regiões celestes, onde tudo está sujeito às formas
corporais necessárias para desenvolver mutuamente a ação dos seres
que são sensíveis àqueles que os rodeiam, o revestiu com uma forma
corporal gloriosa impassível e incorruptível, que poderia reintegrá-lo
nele e reproduzir fora dele, tal como nosso divino Redentor Jesus Cristo
apresentou depois de sua ressurreição aos homens por modelo.
Revestindo-o deste corpo glorioso, Deus o dotou ao mesmo tempo do
verbo da criação de formas gloriosas parecidas com a sua, com o
objetivo de que ele pudesse, por sua vez, revestir os homens menores
que foram emancipados depois dele, e enviar ao centro regional celeste
para ajudá-lo contra os culpados em sua missão que tornaria comum a
todos.

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A expressão empregada de “um puro limo da terra”, que indica


naturalmente uma substância fina e sutil, pois é dito em nossas versões
que Deus formou o corpo do primeiro homem puro e inocente, não
contradiz em absoluto o que acabamos de dizer sobre a natureza dos
corpos gloriosos impassíveis e incorruptíveis. Porém, não obstante, esta
expressão induziu os tradutores do texto hebraico e seus comentaristas
a considerar o corpo de Adão unicamente como terrestre e em
consequência material, porquanto isso não era assim, e há aí uma das
causas principais da subversão material que formulam no resto de sua
descrição. Esta indução por eles transmitida, sem dúvida alguma de boa
fé, foi capaz de subjugar a docilidade dos leitores, um tanto já
predispostos por razão de um certo respeito religioso pelas coisas santas
reveladas, a admirá-la sem exame prévio, porém, esta indução não foi
capaz de convencer aqueles que refletem a partir de um ponto de vista
de maturidade sobre os fatos que lhes são apresentados. Nós dizemos a
todos aqueles que querem nos ouvir que Adão não foi assimilado aos
outros animais pela vida passiva que lhes foi dada, e que seu corpo
glorioso não foi materializado, mas que nos abismos da terra onde foi
precipitado por ordem do Eterno depois de seu crime, e condenado a vir
depois sobre a superfície da terra, a unir-se por sua reprodução
corporal, ao fruto material que havia retirado de sua única operação,
entregando-se aos conselhos pérfidos do chefe dos Demônios.

A matéria geral, tal e como a conhecemos, dita novenária porque é


um composto de três elementos ou princípios elementais chamados:

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Fogo, Água e Terra, que são cada um dos três, um misto ternário de três
substâncias simples ou essências espirituais denominadas Enxofre, Sal
e Mercúrio; não é o que aparenta, e essa aparência mesma não é mais
que passageira, e se desvanecerá totalmente com o fim dos séculos.
Somente Deus conhece sua duração, já que, o próprio Nosso Senhor
Jesus Cristo disse que o fim do mundo não é conhecido a não ser pelo
Pai e que essa mesma aparência é, ao mesmo tempo, desconhecida pelo
Filho considerado em sua humanidade.

Alguns estranharão que só falemos de três elementos no lugar de


quatro que são os vulgarmente aceitos, compreendendo neste número o
ar comum, quase sempre sobrecarregado das exalações mais grosseiras
dos outros elementos. De fato, não contamos mais que três.

O ar, princípio tão sutil, não é em absoluto um deles. É muito


mais superior aos outros três para poder ser assimilado ou confundido
com eles. É o carro da vida elemental, que nutre, conserva e vivifica os
elementos. É o ponto central do triângulo elemental ao qual está unido
intimamente aos ângulos para sua conservação temporal. Que aqueles
que acham estranho, reflitam profundamente sobre o que acabamos de
dizer em relação ao ar como princípio, e a estranheza que acabamos de
assinalar cessará de imediato.

Para que não se caia em uma grande confusão de ideias, é preciso


nunca confundir as essências espirituosas simples, que são a base

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fundamental de toda e qualquer corporização, com os princípios


elementais dos quais provém, uma vez que tanto uma quanto os outros
possuem uma origem distinta, com um destino diferente, que a
prevaricação do homem conseguiu mudar, porém, não conseguiu
destruir.

A matéria não tem e não pode ter nenhuma realidade nem


estabilidade absoluta, porque somente Deus pode dar essa realidade às
produções imediatas de sua essência divina, como, de fato, deu e
continuará dando aos seres espirituais e inteligências humanas, posto
que todas são emanadas de seu seio, de onde tiram a individualidade, a
atividade, a inteligência, a vida imortal que os caracteriza e se
convertem, desse modo, por sua emanação do centro divino, em
partícipes da própria natureza de seu princípio gerador que é Deus,
permanecendo, no entanto, em liberdade de ficar a ele unido para
sempre por amor e reconhecimento ou, pelo contrário, separado dele por
desprezo de suas leis e de seus benefícios, como acontece com Lúcifer e
seus seguidores.

Chamamos espirituosas a essas três essências fundamentais,


porque elas nada têm de espiritual, não sendo mais que produtos da
ação de seres espirituais ternários, habitantes da imensidade divina,
que desde a origem das coisas temporais receberam do Criador a ordem
de descer no espaço criado e produzir fora deles, segundo a faculdade e
o poder que essas três essências haviam sido dotadas. Tampouco

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podemos considerá-las como materiais, posto que ainda não são, ainda
que estando destinadas a converter-se nele, quando a justiça divina
fixar o momento que julgue conveniente para incorporizar em formas
materiais aos espíritos prevaricadores arrependidos que, motivados pelo
intelecto e pelas boas inspirações do homem menor, tenham desejado o
estado de expiação satisfatório, sem o qual, nenhum culpado pode
esperar o seu retorno ao bem.

Tal é o propósito da misericórdia ativa de comum acordo com a


justiça; e há aí o momento em que o homem, fazendo uso de seus
poderes segundo a vontade de seu Criador, haveria criado a matéria por
sua incorporação nessas formas por meio de uma sábia combinação de
essências espirituosas das que era o princípio. Porém, o homem
primitivo, enganado e subjugado pelos conselhos pérfidos de seu inimigo
que sim conhecia o destino da matéria e, só desejando separá-la dele e
de todos os seus cúmplices por todos os meios, foi arrastado ao crime,
equivocando ao seu redor os desígnios da justiça divina e destruindo os
da misericórdia, ao antecipar-se audazmente ao tempo que a justiça
divina havia decidido para a criação da matéria e agravando seu crime.

Por isso, culmina sua desgraça fazendo cair sobre si mesmo e


toda sua posteridade, o justo castigo expiatório reservado a seu sedutor,
posto que por essa antecipação culpável acabava de criar sua própria
prisão.

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Aqueles homens seduzidos pela aparência que sem cessar agitam


seus sentidos, cujos olhos materiais apenas veem em tudo e por todas
as partes nada mais que a matéria, que por ela caem em uma espécie de
embrutecimento que não lhes permite distinguir nenhum sinal de
espiritualidade em seu ser pensante, se sublevarão contra nossa
asserção de que a matéria não é mais que aparente e não tem nada a
ver com a realidade, parecendo-lhes errônea e louca, porém, não é a eles
a quem dirigimos nossas afirmações. Sabemos que são surdos e cegos e
incapazes de nos compreender. Deixamo-nos aí na alta ciência a que
estão altamente aferrados.

Todavia, há uma multitude de muitos outros, que flutuando ainda


em certa incerteza, estão, no entanto, melhor dispostos a tomar posse
da verdade quando esta se apresenta ante a eles, e têm a necessidade de
socorro para ajudá-los a percebê-la. A estes, dizemos-lhes, buscai as
fontes que as ocultam e não desfaleçais nesta busca.

Que saibam, pois, que na natureza todas as coisas dignas de


ocupar ao homem radicam nos números fundamentais compreendidos
de 1 a 10. Buscai com bons guias para preservar-vos do terror. A
matéria tem também seu número próprio que demonstrou ser o 9. Para
conhecer seu valor, buscai seu produto, multiplicar pois este número 9
por ele mesmo, e somar os números que resultam, reduzi-los à sua raiz
e o resultado que se obterá será 9, o que vem a demonstrar que a
matéria não pode produzir nada mais que a matéria.

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Para uma segunda operação unir um número qualquer ao


número 9, signo característico da matéria, adicionar esses dois números
e não sobrará mais que o número que se havia unido, e o da matéria
terá desaparecido totalmente; o que demonstrará que a matéria não é
em absoluto real. Deixemos aos eruditos materialistas que expliquem a
razão por que dentre todos os números que compõem a dezena, só
aquele caracteriza a matéria, é o único que desaparece totalmente
perante os outros.

Falamos com frequência da vida espiritual ativa que é a vida do


espírito, e da vida universal passiva, e é preciso definir tanto uma
quanto a outra, pois esta definição é, todavia, necessária para muitos
seres pensantes.

Existe na natureza e, principalmente, para o homem menor, para


o Adão degradado e castigado, duas vidas muito distintas que nunca
podem confundir-se sem cair no maior dos perigos: uma é a vida
espiritual ativa ou do espírito, ao passo que a outra é a vida universal
passiva que é a da matéria.

A vida do espírito não foi criada, senão que ela emana com o ser
que saiu do seio de Deus de onde é originária.

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É imortal, indestrutível, inteligente e ativa. Ela pensa, quer, atua


e distingue, uma vez que foi feita à imagem e semelhança de seu
princípio gerador; ela se fortifica no exercício do bem e somente pode
debilitar-se e obscurecer-se no exercício do mal.

A vida animal passiva, denominada também alma universal do


mundo criado, não é mais que passageira, já que foi emanada, e só por
um tempo, pelos seres espirituais inferiores, agentes do poder senário
do Criador, que receberam dele próprio desde a origem das coisas
criadas, a ordem e a poderosa faculdade e emanar deles e de produzir
seu próprio fogo, esta vida geral que anima, sustenta e conserva pelo
tempo determinado a massa inteira da criação, todas as suas partes e
cada espécie de indivíduos destinados a habitar o espaço criado ao
longo da duração dos séculos, e que estão postos neste espaço como
veículo desta vida geral insertada neles.

A vida animal era totalmente estranha ao homem em seu estado


primitivo de pureza e inocência, porém, depois de sua prevaricação
perdeu seus primitivos direitos assimilando-se aos outros animais, foi
condenado a viver temporariamente da mesma vida que era comum a
todos os outros, e o distinguirá de todos os outros animais que nunca
participaram desse primeiro estado de vida.

Todos os animais, desde o maior até a menor minhoca, estão


dotados com a vida passiva, e pelo autor da natureza, de um instinto

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particular para dirigir sua ação diária, em todas as classes onde estejam
situados, tanto para a conservação de seu ser quanto para a sua
reprodução e multiplicação de sua espécie. Este instinto, sempre
proporcionando a sua necessidade, é muito fino e sutil em determinadas
espécies, surpreende às vezes ao observador atento que conhece os
limites, e é quase imperceptível em certos animais, mas em qualquer
caso sempre suficiente para sua necessidade. Esta grande variedade
tem seu princípio na mesma causa divina que põe ante nossos olhos a
assombrosa diversidade que tanto nos chama a atenção nas árvores, em
suas folhas, nos filamentos da grama e em todas as produções da
natureza.

O homem intelectual em seu estado de inocência não estava em


absoluto sujeito às leis do instinto, que lhe eram totalmente estranhas;
porém, assimilado em sua queda aos outros animais, seu
embrutecimento foi dotado do instinto particular próprio de sua
natureza, que permanece unido a seu ser até o fim de sua existência
temporal. Todavia, foi dotado também por causa de sua emanação, de
uma faculdade ativa muito poderosa que chamamos de razão. Esta
razão é um raio da própria essência divina, é uma tocha que lhe foi dada
para dirigir-se no exercício das sublimes funções com as quais foi
encarregado e que lhe foi conservada em seu segundo estado para
iluminá-lo em suas necessidades e no uso em que o sucessivo deve fazer
do instinto animal do qual acaba de ser dotado. Porém, entregue à
atração dos sentidos e às paixões das quais se converte em escravo, com

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os prejuízos e prevenções que o arrastam, junto com os costumes mais


ou menos arraigados que contrai, obscurece de tal modo o que lhe sobra
deste raio divino, que, frequentemente, parece inferior aos animais que
têm o instinto por guia e habitualmente o seguem.

O homem atual é, pois, um ternário de três substâncias que são:


o espírito imortal, que é seu ser essencial, a alma passiva com seu
instinto, e o corpo material que ela anima. O animal bruto não é mais
que um composto binário destas duas últimas substâncias da vida
passiva, que são seu instinto e seu corpo material.

No homem, quando o princípio vital que anima seu corpo


material, termina sua ação particular, sejam pelas leis da natureza ou
por acidente, se escapa e vai reintegrar-se à massa geral de onde
provém. Então o espírito, que estava unido ao corpo material por este
princípio vital, se converte em livre, e sobe ou desce à esfera que tinha
escolhido ao longo de sua união ao corpo material, por seus sentimentos
e atos habituais. Quanto ao cadáver, permanece livre para sua
dissolução pela separação dos princípios elementais que querem
reintegrar-se a seu estado primitivo, como já foi explicado e
demonstrado nas primeiras instruções.

Entretanto, como pode que sobre um assunto da maior


importância – já que suas bases repousam sobre princípios evidentes
geralmente reconhecido por todos – reine ainda hoje entre os cristãos

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semelhantes discordâncias e obscuridades sustentadas por tantas


sutilidades que não fazem mais que enrolá-lo todo ainda mais? O que
acabamos de expor não surpreenderá aos materialistas declarados e aos
incrédulos que, por serem mais livres em sua conduta e extravios, não
se ruborizarão em absoluto por assimilar-se aos animais e,
especialmente, àqueles cujo progresso em seu instinto provoca sua
maior admiração. E é que, se pedimos aos homens instruídos que,
amiúde, estão encarregados da formação religiosa dos demais, em que
consiste a diferença característica que se encontra e deve existir entre o
homem e o animal bruto, responderão sem vacilar:

Deus, como criador de tudo o que existe, criou o homem e o


animal, porém deu ao homem uma alma racional e aos animais uma
alma irracional, e aí está o que os distingue essencialmente. Esta
resposta estabelece uma paridade absoluta de origem que, entretanto,
deveria ser somente relativa; mas, aqueles que a fundam e estão
profundamente convencidos disso, vemos que por ela confundem o Fiat
divino, que é uma ordem dada pelo Criador de fazer, como o Faciamus
que expressa a ação própria e imediata do Criador e sua vontade de
operar Ele mesmo, que é claramente manifestada somente na criação do
homem. Esta imensa diferença, por si mesma, deveria, sem embargo,
dar grandes resultados. Além disso, a faculdade de raciocinar com a
qual reconhecem que o homem é dotado e o animal privado, não é mais
que uma faculdade do ser espiritual, e não de um ser real e distinto, e
as definições mais sutis que a teologia moderna emprega para sustentar

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essa opinião nunca conseguiram provar a verdade do que não é,


porquanto a questão que nos ocupa, reduzida como São Paulo aos seus
termos mais simples, e tal como nós a professamos, estabelece uma
doutrina pura, simples, luminosa e incontestável, já que apela a nossos
sentidos. São Paulo diz formalmente em sua primeira Epístola aos
Tessalonicenses (Cap. V, vers. 23): “Que o mesmo Deus da paz vos
santifique totalmente, e que por inteiro vosso espírito, vossa alma e
vosso corpo se conservem sem máculas na vinda de Nosso Senhor
Jesus Cristo”. Há aqui bem diferenciada as três substâncias distintas
que reconhecemos no homem. Por que, então, obstinar-se em manter
outra linguagem que a do Grande Apóstolo, para dar preferência a uma
mais humana que somente o costume consagrou? Deixemos essas
reflexões para a meditação dos verdadeiros amigos da sabedoria.

O Gênesis nos ensina que o Senhor Deus terminou no sexto dia


suas obras de criação universal do céu e da terra com todos seus
ornamentos e que, tendo-as considerado novamente as achou muito
boas, quer dizer, conforme seus planos, sua vontade e suas ordens.
Esta simples exposição nos dá um novo testemunho de que não foi o
próprio Deus quem obrou esta criação, e que ela foi operada por seus
agentes espirituais encarregados da execução de suas ordens, já que, do
contrário, não haveria tido necessidade de verificação alguma se ele
mesmo o tivesse feito. Esta mesma exposição nos mostra também que o
Senhor Deus, depois de tê-las concluído, repousou no sétimo dia, que se
terminou nesse dia toda a obra que havia feito, e que bendisse e

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santificou este sétimo dia por havê-la terminado. Havia restado, pois,
alguma coisa para ser feita neste sétimo dia, e o Gênesis no-lo explica,
porém, sabemos por Moisés que os astros, os corpos planetários, as
estrelas e todos os corpos celestes e terrestres que, pela explosão do
caos, haviam sido animados com a vida passiva, não haviam ainda
recebido a vida espiritual; que o Senhor Deus emancipou do círculo dos
espíritos setenários existentes na imensidade divina, os quais Lúcifer
acabava de manchar por sua rebelião, os seres espirituais dessa classe
aos que queria dar a direção superior dos astros, dos corpos
planetários, das estrelas e dos corpos celestes e terrestres que acabara
de criar, e que situou no centro de cada uma de suas produções para
governá-las e mantê-las, tanto em sua própria ação como em sua
marcha diária para a duração dos séculos, maravilhosa harmonia que
vinha de estabelecer; o que faz o inteiro cumprimento de sua grande
obra, e ao mesmo tempo a bendição e a santificação sabática do sétimo
dia.

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