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http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2014/07/na-iminencia-de-uma-nova-extincao
Dados inquietantes indicam que a sexta extinção em massa de espécies que habitam a
Terra não está mais prestes a acontecer. Na verdade, ela já começou. E o ser humano é o
principal responsável por esse declínio, dizem pesquisadores.
Vivemos uma onda global de perda de biodiversidade, impulsionada pela ação humana,
e a tendência histórica é que os mamíferos de maior porte, como a anta, sejam extintos
mais rapidamente. (foto: Mauro Galetti)
Bem-vindo à sexta extinção em massa. Para quem ainda estava na dúvida, vale uma
olhadinha na última edição da revista Science: pesquisadores concluem que a valiosa
biodiversidade da Terra está sendo dizimada de maneira implacável – não pelos
recorrentes processos naturais de extinção; e sim pelas atividades antropogênicas.
Se o cenário é dramático para os animais vertebrados, melhor sorte não tem sido
reservada aos invertebrados. “Analisamos o declínio populacional desse grupo e, nos
67% de espécies monitoradas, a queda chegou a 45% ao longo das últimas décadas”, diz
Galetti.
“Uma de nossas maiores preocupações, por incrível que pareça, ainda é a caça ilegal”,
diz o biólogo da Unesp. Segundo o pesquisador, a prática ainda acontece com espantosa
frequência na Amazônia, no Pantanal, no cerrado e na mata atlântica. “Só na Amazônia,
60 milhões de animais são mortos a cada ano.” Em geral, são mamíferos abatidos para
consumo ou comércio: antas, veados, macacos...
Tiro no próprio pé
A pergunta pode parecer ingênua, mas é necessária: por que, afinal, devemos nos
importar com o desaparecimento de espécies animais? “Não é apenas porque os bichos
são ‘bonitinhos’; é porque eles fornecem serviços ambientais imprescindíveis à
sobrevivência de nossa espécie”, responde Galetti. “Nosso trabalho alerta que o declínio
da população animal tem notável impacto sobre o bem-estar da própria humanidade”,
destaca.
Exemplos disso não faltam. Um caso clássico é o da onça (Panthera onca), predador
que regula, entre outras coisas, a população de capivaras nas regiões onde vive. O que
poucos sabem é que a capivara carrega o carrapato-estrela (Amblyomma cajennense),
um inoportuno aracnídeo que provoca a temida febre maculosa – doença infecciosa
grave e potencialmente fatal para o ser humano. “Há muitos casos em São Paulo”, situa
Galetti.
Falando nisso, poucos atentam para o papel importante que exercem anfíbios como
sapos e pererecas. Eles regulam a população de algas. Portanto, também são essenciais
para a manutenção da qualidade da água.
Galetti: Não restam dúvidas de que o declínio da população animal afeta o ser humano
das mais diversas maneiras, desde a economia até a transmissão de doenças
E quanto à ideia – temerosa, segundo alguns – de reviver espécies já extintas por meio
de técnicas de DNA? É o que cientistas chamam de desextinção (do inglês, de-
extinction). O tema tem sido exaustivamente debatido ao longo dos últimos meses. Mas
nada sugere que estejamos próximos de um consenso ético a respeito do assunto. “Há
um detalhe", lembra Galetti. "Mesmo se resgatada artificialmente, uma espécie que
desapareceu há tanto tempo pode não conseguir voltar a exercer seu papel ecológico na
natureza.”
Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line