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VOCÊ ENTENDE O QUE LÊ?

Eu preciso te fazer uma pergunta antes de começarmos nossa conversa: Quando


você pega a Bíblia, a Palavra de Deus, você consegue entender o que ela está
falando com você?

Essa pergunta foi feita por Filipe ao Eunuco enquanto lia as Escrituras. Filipe
encosta sua carruagem ao lado e faz esta pergunta: “Você entende o que lê?”. Esta
pergunta precisa estar no coração de cada pastor, de cada líder, será que as
pessoas que estão na comunidade realmente estão entendendo aquilo que elas
estão lendo na bíblia?

Por isso é fundamental sabermos se estamos interpretando a bíblia, se estamos


entendendo a bíblia de uma maneira adequada, de forma que aquilo que estamos
lendo está se transformando em vida, em vitamina, em sustento para nós.

A primeira pergunta que eu faço para você é: Já aconteceu de você ler a bíblia e
não entender nada daquele texto? Você já leu uma, duas, três vezes e você não
conseguiu entender nada?

A segunda pergunta eu faço para você é: Você já leu a bíblia, entendeu de alguma
forma aquele texto, mas passou um tempo você começou a perceber que aquilo
que você tinha entendido estava errado?

E a terceira pergunta que eu faço para você é: Você já leu um texto, entendeu este
texto, mas seu irmão em Cristo que possui opiniões que você respeita e admira
entendeu de uma maneira contrária da sua?
Estas perguntas são fundamentais para entendermos a necessidade, a
importância de se conseguir interpretar um texto bíblico de uma forma adequada,
porque senão nós podemos cair em qualquer uma dessas dúvidas, dessas
armadilhas e fatalmente caímos, então precisamos estar vestidos de humildade,
vestidos de paciência para entender que somos limitados e nos preparar da
melhor forma possível para que a próxima vez em que o texto bíblico estiver em
nossas mãos, possamos absorver de maneira plena o texto sagrado.

Para continuarmos nossa conversa sobre ler a bíblia e conseguir entende-la


melhor a primeira palavra que precisamos tomar para que ela seja melhor
digerida por nós é a palavra: REVELAÇÃO. Nós fazemos muita confusão sobre este
tema, mas primeiro nós precisamos entender que Jesus Cristo é a maior revelação,
a revelação mais importante que temos de Deus na história. Cristo é o Deus que
se revela na história, quando pensamos em revelação precisamos entender que
não existe revelação máxima do que o próprio Cristo e que isso precisa estar em
um lugar central e de destaque em nosso coração.

Mas quando falamos em revelação também pensamos em bíblia, a bíblia já é a


revelação. Eu percebo que as vezes as pessoas querem uma revelação da
revelação, mas a bíblia já é a revelação. Se você já tem a revelação, você precisa
de um passo seguinte. É importante olhar para a Palavra de Deus, olhar para a
bíblia e entender que ela é a revelação de quem é Cristo na história, de como este
verbo se fez carne e habitou entre nós, do que a Palavra de Deus, a vontade de
Deus que é perfeita e agradável possa alcançar nosso coração. Nós precisamos
olhar para a bíblia não como livro oculto, mas como um livro que já foi revelado e
porque já foi revelado nós precisamos olhar para ela como sendo fonte inesgotável
de riqueza para nossa vida espiritual.

Nós podemos pensar também em termos de revelação em termos de experiencias


pessoais, Deus pode colocar sua vontade em nosso coração, em nossa mente de
uma forma muito sensível, muito significativa.
É necessário, é fundamental entender que esta experiencia no nível pessoal, no
campo pessoal, nunca se iguala a revelação do próprio Cristo na história e está
revelação no nível pessoal nunca se iguala a revelação que já está contida, que já
está impressa na Palavra de Deus, quando começamos a desequilibrar o peso
destas informações, começamos a viver de uma forma desequilibrada.

Independente da percepção que a sua igreja tenha sobre o assunto, é muito


importante que não comparemos a revelação bíblia que já esta aberta com as
experiencias pessoais. Cristo já se revelou na história e este Cristo que já se revelou
na história nos presentou com essa revelação chamada: Bíblia. Quando
começamos a confundir a palavra revelação acabamos olhando com maus olhos
para a palavra “interpretação”, como se a palavra “interpretar” fosse algo não
espiritual, mas tudo que você olha, tudo que você vê é interpretado por você de
alguma forma.

Uma intepretação ruim pode gerar um entendimento, uma consciência sólida,


porém equivocada. Então você pode ler a bíblia, você pode entender alguma coisa,
aquilo se tornar sólido dentro de você, mas nem por isso significar que você está
entendendo a verdade, que você tenha razão. Uma má interpretação nos faz
cometer confusões, misturar conceitos, misturar doutrinas bíblicas e misturar
verdades bíblicas.

Será que nós não cometemos alguns erros de interpretação? Isso é possível?

Eu quero te ajudar a abrir seus olhos, seu entendimento para que você seja cada
vez mais cuidadoso e criterioso com a forma que você estuda sua bíblia.

Quero deixar para você um roteiro sobre os princípios de interpretação que são
necessários. Qualquer pastor, qualquer líder que se ocupe em interpretar a bíblia
seriamente vai passar por estes modelos. Para você interpretar um texto de forma
adequada você precisa:
1) Saber o que o autor humano está dizendo: Alguém escreveu o texto e
quando alguém escreveu o texto o que esta pessoa estava pensando? Onde
ela queria chegar? Existe um autor humano que você precisa respeitar. Sem
isso nós podemos distorcer o texto de todas as formas.
2) Entender o contexto imediato, o contexto anterior e o posterior: O que
estava acontecendo quando este autor escreveu o texto? Existia guerra?
Existia fome? Existia paz? Quais eram as coisas que estavam acontecendo?
Ter esta visão panorâmica irá te ajudar a enxergar, sentir, entender este
texto de forma diferente.
3) Entender o contexto literário: Alguns textos são poesias, então você não
pode ler uma poesia do mesmo jeito que você lê uma história, você precisa
respeitar isso. Pois a poesia tem um propósito, a história tem um outro
propósito. Cada contexto literário já irá te ajudar, a própria bíblia irá dizer
para você como ela quer ser lida e isso precisa ser respeitado.
4) Entender o contexto histórico: Em que situação o texto foi escrito? Isso é
um desdobramento do item “2”.
5) Qual o objetivo: É importante você gastar tempo ao ler um texto até que
você consiga entender para que aquele texto foi escrito. Quando você
enxerga o objetivo daquele texto ficará mais fácil fazer uma ponte com sua
vida.
6) Quem era a audiência: Com quem a pessoa estava falando quando
escreveu o texto? Quem eram as pessoas que estavam escutando aquilo?
Isto é fundamental para você determinar muitas coisas no texto.

Existe um passo seguinte que é a APLICAÇÃO. Depois que você interpretou


corretamente o texto, você precisa trazer para sua vida. É muito importante que
você consiga fazer esta ponte entre o mundo bíblico e o seu coração, entre a
realidade bíblica e a sua realidade. O que o texto fala com você? Pois precisamos
entender que a bíblia é um livro pessoal, a bíblia já tem o propósito de se
relacionar com o crente.

Quero trabalhar um texto para terminar esta aula com você, vou pegar apenas
dois pontos para você entender a diferença que dá na forma de interpretar o texto,
acompanhe:
Texto: Filho pródigo
Audiência: Judeus (Especialmente os fariseus, os escribas)
Objetivo:

1º - Mostrar que a salvação não era exclusiva dos judeus, ela também chegaria ao
gentio, aos publicanos, samaritanos... (O irmão mais novo representava os nãos
judeus e o irmão mais velho é a representação do típico fariseu, judeu, zeloso da
lei)

2º - Considerar o não judeu irmão do judeu, ou seja, não somos tão diferentes. No
fim existe o mesmo criador, o mesmo Pai.

3º - Mostrar o ressentimento na religião judaica, o religioso é ressentido.

4º - Mostrar o desejo de Deus de alcançar aquele que está perdido, alcançar os


povos.

5º - Mostrar a disposição de Deus para perdoar versus a tendência do religioso de


ressentir e murmurar com a ação de Deus na vida do outro.

Indo um pouco adiante, depois que você fez todas as perguntas de interpretação
necessária, você aplicará em você, você trará para você. A pergunta que eu preciso
fazer a mim após interpretar este texto é:

1º - Será que a minha fé me torna ressentido com os novos convertidos na igreja?


Será que fico com medo de perder meu lugar? Será que eu fico ressentido quando
os novos convertidos recebem atenção do pastor, da liderança da igreja? Será que
minha religiosidade gosta de manter os outros longe e se sente ameaçado quando
chegam mais pessoas? Ou será que a minha fé, a minha espiritualidade é uma
porta aberta disposta a receber todo mundo que está chegando e abrigar estas
pessoas? A sua fé faz com que você os queira colocar debaixo de regras? Estas
regras tem a ver com seu zelo pelo Reino? Ou essas regras revelam o ciúme que
você tem? Sua fé se parece com a do irmão mais velho? Ou do irmão mais novo?
2º - Eu estou desfrutando do perdão de Deus na vida do meu irmão? Quando vejo
que o perdão e a graça chegam na vida do meu irmão, isso é motivo de festa, ou
fico questionando? Será que Deus está dando demais para os outros e pouco para
mim?

Quanto mais profunda for sua aplicação, a sua interpretação, mais raízes, mais
lugares você pode encontrar para que essa aplicação transforme sua vida. Espero
que isso tenha te ajudado a olhar para a necessidade de interpretar a bíblia com
mais clareza, com mais profundidade.

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