aqui ninguém me encontra, ninguém me percebe. “Percebe, amor, a curva dos nossos olhos?” ninguém percebe, ninguém tem olhos pros olhos. eu escrevo um poema que são olhos e ninguém os olha com sinceridade que ninguém se encoraja de receber nos ombros o peso dos próprios olhos refletidos em outros “Percebe, amor, a força dos nossos laços?” não, não percebo, não percebo sequer amor. eu escrevo um poema como quem conjectura com fantasmas a própria vida e que esquece que não tirará resposta alguma dos mortos. eu escrevo um poema como quem ama cadáveres e percebe que o que segura nas mãos é um vazio incrível, um crânio esfacelado, uma flor sem pétalas, um espelho sem lâmina. Bm E6 E7 Não há canção dentro de mim Que não seja maior que eu G E Pode ser que seja assim que eu viva G E C Pode ser que seja assim que eu morra Cm Bm Estamos sós até os sóis se porem Bbº A G#11b E E a lua gentil brotar da flor que se partiu Bm E de uma voz brotar da lua que abriu G G9 Gm6 Bm uma flor dentro de nós pinga uma dor anil Bm/A E borbulha uma água vil E6 E7 afinal Bm Bm/A E bebericamos o fio entre o bem e o mal C Cm Bm Estamos sós até os sóis nascerem Bº A G#11b E e num dia entre mil esse nosso corpo frio só gritar Bm E mandar pra puta que pariu esse mar G G9 Gm6 Bm essa nossa dor esse nosso ardor de sofrer Bm/A E6 E7 e um instante parecer afinal Bm Bm/A que vivemos pra nascer E6 E7 na real G Gm6 Bmx e que morrer é pequeno, viu. Poema da reviravolta.
Os meus músculos da língua
aguentam 150 kios de poesia e tenho o cérebro bombado, também: essas minhas veias saltadas lá dentro de tanto viver, dizer e tanto caminho levantam, sem pestanejar, os pesos da vida e do vinho.
Meus braços de fogo aguentam o ferro
do ensino, do acariciar e da aeróbica calma e docílima da música que tomo nos dedos em milhares de repetições dos bíceps e tríceps da minha alma.
Minha voz é elástica, curvilínea
e meu humor tem barriga negativa de tanto treino e observação de mim e do mundo e trago no peito um amor profundo bombado, malhado, sarado e trincado.
Meus olhos não tem gorduras trans
e minha boca é gluten free, meu sorriso, acima de tudo, é flex, é next, é let it be, cada dente bem torneado que desfilo nas gengivas e minha risada passa óleo nas suas curvas altivas, por que meu riso se olha no espelho e se ama, permeia minha vida, minha voz e minha cama.
Minha língua é afiada e também macia
E deixa essa reviravolta em ousadia: Ter corpo, ter força, é fácil ter, meu bem. Agora, essa poesia, essa ninguém tem.