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CORTES DE DEDEKIND

Percebe−se que Eudoxo associa a cada par de grandezas ( A ; B) dois con -


juntos de pares ( m ; n) de números naturais : o conjunto E (de esquerda) dos
pares para os quais :

(
m⋅B <n⋅A que fariam
m A
< se
n B
A
B
tivesse significado numérico )
E o conjunto D (de direita ) dos pares para os quais :

( m A
m⋅B> n⋅A que fariam > se
n B
A
B
tivesse significado numérico . )
Dedekind deduz , do trabalho de Eudoxo , uma separação dos números racio -
nais em dois conjuntos ,
Qualquer número racional r efetua um corte ou separação de todos os de -
mais números racionais no conjunto E e no conjunto D (referentes a r ).

⏟ ⏟
E D

O número r pode ser incluído como maior elemento de E ou menor elemento


de D .
Mas , além desses cortes (entre racionais) , há outros , como exemplifica o
clássico caso de √2 .
O processo de encontrar a raiz quadrada de 2 conduz a separação dos nú -
meros racionais em dois conjuntos : o conjunto E das raízes quadradas apro -
ximadas por falta e o conjunto D das raízes aproximadas por excesso .

E = {⋯ ; 0 ; ⋯ ; 1,4 ; ⋯ ; 1,41 ;⋯ ; 1,414 ;⋯ ; 1,4142 ; ⋯ ; 1,41421 ; ⋯}


D= {⋯ ; 1,4143 ; ⋯ ; 1,415 ;⋯ ; 1,42 ;⋯ ; 1,5 ; ⋯}

Só que agora esse corte não tem elemento de separação (racional ). O con -
junto das raízes por falta não tem elemento máximo e o conjunto das raízes
por excesso não tem elemento mínimo .
No modo de ver de Dedekind o número irracional √2 deve ser criado como
elemento de separação entre os conjuntos desse corte .
Definição :Corte de Dedekind , ou , simplismente , corte , é todo par ( E ; D)
de conjuntos não vazios de números racionais , cuja união seja ℚ , e tais que
todo elemento de E seja menor que todo elemento de D .

Essa definição permite provar que o conjunto E é uma semirreta para me -


nos infinito e o conjunto D é uma semirreta para mais infinito .

Em seguida Dedekind postula que todo corte possui um elemento de separa -


ção (racional ) , que tanto pode ser incorporado a E como seu maior elemen -
to , ou a D como seu menor elemento .
Suporemos que o elemento de separação seja sempre incorporado a D .
Assim , em todo corte , o conjunto D terá mínimo .
E os cortes que não são determinados por números racionais darão origem
aos números irracionais .

É este o caso de √2 , número este que conhecemos pelas raíses aproximadas


por falta e por excesso , dois conjuntos numéricos E e D que constituem o
corte (E ; D) que define o número irracional √2 .

Dedekind observa que a existência de cortes sem elementos de separação no


conjunto ℚ é a expressão aritmética da descontinuidade dos racionais , ao
passo que , com a adjunção dos novos elementos (irracionais) obtemos o con -
junto ℝ , que , ao contrário dos ℚ , é agora um contínuo numérico , pois os
irracionais vêm preencher as lacunas de descontinuidade então existentes em
ℚ.
Relação de Ordem

Mas não basta apenas juntar a ℚ os novos elementos para obter ℝ .

Este novo conjunto precisa ter estrutura que dele se espera ; daí termos de
definir nele as operações usuais de adição , multiplicação , etc . , e a relação
de ordem .

Devemos fazer isso de maneira a podermos provar as propriedades usuais


desses números que já conhecemos e usamos desde o ensino fundamental .

Mais ainda , de maneira que essas definições não conflitem , mas preservem
as mesmas noções já existentes no conjunto ℚ.
No que diz respeito a relação de ordem , por exemplo , devemos introduzi −la
em ℝ de forma a preservar a ordem já existente entre os racionais .
Para isto , sejam α e β dois números reais quaisquer , caracterizados pelos
cortes que determinam no conjunto ℚ (α =(E 1 ; D 1 ) e β =(E 2 ; D 2 )).
Dizemos que α = β se E 1 =E 2 e α < β se E 1 é subconjunto próprio de E 2.
Operações com números reais

É necessário , também , definir a adição e a multiplicação dos ℝ , os inversos


aditivo e multiplicativo , e demonstrar que todas as propriedades válidas para
os ℚ permanecem válidas em ℝ .

Adotaremos , para a adição , a seguinte definição :

Definição : Dados os números reais α =(E 1 ; D 1 ) e β =(E 2 ; D 2 ), definimos sua


soma α + β como sendo o corte ( E ; D) , onde :

E= {x+ y∣x ∈ E 1 e y∈ E 2 }

e D é o conjunto dos demais números racionais .


A primeira coisa que temos a fazer é provar que o par (E ; D) é um corte ,
isto é , que E e D não são vazios , e que se x ∈ E e y∈ D , então x < y .

E ≠∅ , pois E 1 ≠∅ e E 2≠∅ , de forma que existe algum x+ y∈ E .

D≠∅ , pois podemos tomar z ∈ D 1 e w ∈ D 2 . Dessa maneira a soma z +w ∈ D ,


pois z +w é maior que qualquer elemento de E .

Finalmente temos de provar que todo elemento de E é menor que todo ele -
mento de D .
Para isto , sejam x∈ E e y∈ D .

Suponhamos , por absurdo , que x > y .

Então , x= y+a , com a>O .

Como x∈ E , existem m∈ E 1 e n∈ E 2 tais que x=m+ n .

Então , x= y+a⇔ x−a= y ⇔(m+n)−a= y ⇔(n+m)−a= y⇔ n+(m−a)= y

Como m−a ∈ E 1 e n∈ E 2 , concluímos que y∈ E , que é absurdo .

Assim , x< y , como queríamos provar .


Completude de ℝ
Dizer que um corpo é completo significa que todo corte , desse corpo , tem e -
lemento de separação (no corpo).

Teorema : Todo corte de números reais possui elemento de separação .


Supremo e Ínfimo de um conjunto

Diz−se que C ⊂ℝ é limitado à direita ou limitado superiormente se existe um


número K , tal que c≤ K para todo c∈C . K é dito limitante ou cota superior
de C .

Do mesmo modo , C é limitado à esquerda ou limitado inferiormente se existe


um número k , tal que c≥k para todo c∈C . k é dito limitante ou cota infe -
rior de C .

Se C ⊂ℝ é limitado superiormente (inferiormente) e M ∈C (m∈C ) tal que


M >c (m<c), ∀ c∈C , M (m) é chamado o máximo ( mínimo) do conjunto C .
Definição :
Chama−se supremo de um conjunto C ⊂ℝ ao número S que satisfaz as duas
condições seguintes :
(a) c≤S , ∀ c∈C ;
(b) dado qualquer ϵ ∈ℝ , ϵ >0 , existe c∈C tal que S −ϵ < c .

Teorema : Todo conjunto não vazio de números reais , que seja limitado supe -
riormente , possui supremo .
Definição :
Chama−se ínfimo de um conjunto C ⊂ℝ ao número s que satisfaz as duas
condições seguintes :
(a) c≥s , ∀ c∈C ;
(b) dado qualquer ϵ ∈ℝ , ϵ >0 , existe c∈C tal que c< s+ϵ .

Teorema : Todo conjunto não vazio de números reais , que seja limitado infe -
riormente , possui ínfimo .

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