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Escolher um tema norteador no início do semestre letivo foi surpresa para mim,
por isso, deixei com que os outros colegas escolhessem. O tema escolhido foi samba. As
pessoas se mostravam apaixonadas por esse tema, mas particularmente não me apeteceu
muito a princípio. Achei que o samba já seria já codificado demais, mas foi um engano
meu.
Com o passar das aulas, percebi pela condução da professora que não seria bem
como eu imaginava. Pois não ficávamos "sambando" o tempo todo eram colocados
músicas de escolas de samba, mas fazíamos aulas de técnica mesmo, como já
acostumados em outros períodos com aquecimento, sequências para exercitar e depois
exercícios de criação. Nesta metodologia fui aprender que é possível conduzir as aulas
de técnica com diferentes músicas objetivando a mesma eficiência corporal.
Essa compreensão para mim foi muito rica e me ajudou a se interessar mais pelo
conteúdo embora o ritmo acelerado das aulas me deixasse muito cansada.
Primeiramente, busquei escapar da perspectiva de que “quem não gosta de samba, bom
sujeito não é” e procurei o estranhamento, para desacostumar meu corpo dos molejos e
vícios que vamos adquirindo no dia-a-dia, ou seja, clichês e estereótipos. Daí ter feito a
I avaliação com uma música da Elza Soares que tinha variações melódicas mais
diferentes, apesar de nela identificarmos a síncope do samba, a letra trazia outro caráter.
Um caráter de protesto, de crítica, de questionamento. Quis estudar algo que não
perdesse a caraterística de samba, mas que trouxesse outro caráter.
Quanto á minha adaptação corporal percebi que por não manter o pique de fazer
aula duas vezes por semana devido as minhas restrições por conta do trabalho
comprometeu um pouco meu desempenho. Mais foi apenas um pouco mesmo. Creio
que eu conseguir ter um bom aproveitamento apesar disso. Pois tive a chance de praticar
nos ensaios de Vagalumeando que aconteciam na quarta-feira, logo após as aulas da
terça á noite, muito em sequência serão retomadas e isso me ajudava a assimilar melhor
o conteúdo compensando, de certa forma, a minha falta na quinta-feira.
No segundo momento da disciplina, com o rock, fiquei mais empolgada. Esse
caráter mais explosivo me remeti a protestos e isso cativou mais meu corpo. Isso talvez
ocorresse devido ao próprio histórico do rock que originalmente trazia nas letras o
movimento de protesto, luta e contestação. Nas nossas aulas as sequências então
incitavam acentos nos movimento, “explosões”,
Inclusive lembrei- me de uma discussão, debate mesmo, que eu tive com meu
esposo em casa no qual ele dizia que ninguém dança rock “pauleira”. Mostrei a ele que
sim, que se podia se dançar. Mas ele falou que era invenção, era só para pular.
Percebemos então que esse imaginário já traz muitos estereótipos. Mas essa conversa se
deu antes de iniciar essa metodologia em técnica da dança G. Pois, depois que fizemos
as aulas de técnica com todo aquele preparo de aquecimento, sequências e criações
artísticas sob aquelas músicas de rock metálicos, tive mais subsídios para dialogar sobre
o dançar desses Rocks. Treinando as sequências em casa, meu marido observou e disse:
agora conclui que qualquer música pode ser dançada mesmo.
Mas achar que essa energia toda só é possibilitada por algo com esse ritmo é
equivoco. Pois Ferracini (2012) diz que todas as formas são expressões da energia. Toda
forma tangível provém de uma energia não visível. Logo, quanto maior for à integração
e a criatividade na ação, mais energia e mais vitalidade são conscientizadas. Pela
integração podemos ter acesso à consciência da energia onipresente que tudo
permeia.
Ele faz uma similaridade ao projétil, o que nos leva à imagem de projeção, para
fora, um projétil que, lançado para fora, atinge o outro e que também se auto atinge.
Já no final do processo, as aulas ganharam uma atmosfera teatral se assim
podemos inserir falas textuais agregadas aos movimentos. Senti-me mais à vontade.
Como se estivesse num campo mais conhecido meu, Já que tenho formação anterior
nesta área, no teatro. Mas os desafios de técnicas continuavam sobrepostos. Gosto da
provocação que a necessidade da técnica faz nos meus limites e possibilidades
corporais. E assim chegamos à conclusão da disciplina com a montagem de um produto
artístico a partir das experimentações nas aulas. Não participei de tudo, mas gostei
muito do que participei. Vi que estava ficando uma apresentação bonita.
A proposta seria apresenta-la na mostra de disciplinas dos cursos de Dança da
UFRJ. Mas por uma questão de agenda de todos os participantes e outros percalços que
aconteceram na finalização do semestre letivo na universidade, acabamos não
apresentando. Entretanto, o release foi elaborado e o nome da coreografia também foi
dado com base no que fizemos. "Des-fim-lar". Se o trabalho for retomado futuramente,
poderei participar, mas acho que mesmo com possibilidade de desdobramentos esse
processo já foi finalizado e estou muito satisfeita com ele.
No texto, Ferraccini versa sobre o treinamento do ator bailarino e a sua pesquisa
com o grupo de dança-teatro Lume. Ele traz o seu olhar de formador (ele é professor da
Unicamp e diretor do grupo). Então ele diz que como formador assume paradoxos,
diagonaliza dicotomias e dualidades e assim gera multiplicidades. Ele problematiza a
relação do corpo cotidiano e do corpo cênico e que eles se tornam um, a divisão seria
apenas didática. Fala ainda que para gerar esse corpo subjétil deve-se ter um território
múltiplo no qual ele dentro do seu grupo Lume, chamou de treinamento pré-expressivo.
No final do texto, Ferraccini fala de doxas, clichês, devir e vai desdobrando o
assunto falando do modo de atuar do nome que eu pouco confuso para mim. Realmente
não dou conta de explaná-lo com propriedade a não ser repetindo o que ele diz, mas
ainda não digerido por mim. Talvez se ler outras vezes ou participar de um próximo
debate sobre o texto consiga clarear mais algumas coisas. O texto vai ficando muito
filosófico. Entretanto ele fala de um dos princípios que intensificam e formalizam o
corpo-subjétil: “Equilíbrio precário; oposição; base; olhos e olhar; equivalência;
variação de fisicidade (segmentação, variação e omissão); precisão; intenção impulsos;
manipulação de energia; dilatação corpórea”.
Ele faz essa categorização ou codificação com base nos estudos de Eugênio
Barba e Grotowski (percebi) até menciona também manifestações cênicas orientais
como Nô, Kabuki, Kathakali, e fala da busca de formalização pelo corpo orgânico. Para
concluir ele mesmo se questiona como transmitir didática mente esse sistema
metodológico para quem está começando e remete a uma continuidade da pesquisa que
ainda está por vir.
O texto “corpo cotidiano corpo subjetivo: corpo” explora bastante a questão das
relações (consigo, com o outro e com público). E nessa disciplina devido ao fato de
sermos poucos essa questão da relação ficou mais latente, pois tocar, olhar e manter
contato com o grupo de seis pessoas foi melhor possibilitado do que se fosse com uma
turma grande com mais de 20 pessoas e isso ajudou também a cada um se perceber
melhor e ter a atenção da professora para poder nos guiar. O texto também nos orienta
refletir para não dicotomizar técnica e o fluxo de vida, não colocando criatividade e
forma em oposição, mas em complementaridade.
Assim, sinto necessidade, nesse trabalho, de que esse corpo-em-
arte não seja conceituado como uma ponta de um dualismo, mas
como um corpo integrado e vetorial em relação ao corpo com
comportamento cotidiano. Nesse sentido, sugiro chamar esse
corpo integrado expandido como corpo-em-arte, esse corpo
inserido no estado cênico de corpo-subjétil. (FERRACCINI,
2012, p. 85).
Bibliografia: FERRACINI, Renato. Café com Queijo: Corpos em Criação. São Paulo:
Hucitec, 2006.