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Religião e meio ambiente

O que tem a ver religião com meio ambiente? Não seria essa uma
responsabilidade só do governo, dos ecologistas e também das empresas? Ainda há
quem estranha quando questões ambientais são discutidas no meio religioso, apesar
de poucos movimentos religiosos estarem se comprometendo pra valer com essa
causa, e deveriam. Mas já existem os bons exemplos e que merecem ser explicitados.
Certamente, a missão atual da religião não será apenas a de manter ritos e tradições
seculares e pregar métodos de cura e doutrinas atemporais sem orientar a conduta dos
seguidores sobre questões do cotidiano, como as mudanças climáticas. O destino das
religiões que não se adequarem os ensinamentos que possuem às necessidades do
mundo agora, sem apego a rótulos ou a tradições antigas, deixarão de ser necessárias
a humanidade. Esse é o paradigma da religião viva, que "salva no aqui e agora".

Esta abordagem, que resultará numa série de artigos nas próximas edições, será
sobre a visão geral da natureza sobre o aspecto religioso, isenta de rituais peculiares e
defesas individuais desse ou daquele rótulo. O leitor vai conferir o tema "meio ambiente"
pela ótica das principais religiões ao redor do mundo, a começar pelo hinduísmo,
seguida pelo budismo, islamismo, judaísmo, cristianismo e jainismo. Enquanto não
houver compreensão da "verdade comum" pregada pelos diversos tipos de religiões, e
apenas se manterem nos aspectos que as diferenciam uma das outras, certamente a
paz mundial não se manifestará, tampouco cessará o sentimento de autopunição do ser
humano que o faz destruir a si próprio como a casa em que mora, o planeta Terra.

O objetivo desse assunto é para que o leitor possa refletir sobre a essência de
cada uma dessas religiões e perceber como essa unicidade pode contribui para o
repensar individual e coletivo com foco na mudança de atitude. O que será que
pensaram os iniciadores dos movimentos religiosos existentes e o que constam nos
próprios ensinamentos sobre o cuidado com o meio ambiente e os recursos naturais?
Como resolver as questões das alterações climáticas através da essência dos
ensinamentos pregados pelos líderes e estudiosos das principais religiões da face da
Terra? Será mesmo que os seguidores atuais estão em consonância com o objetivo
inicial de cada religião proposta, frente ao desafio das alterações do clima?
Definitivamente, só cuidar da alma para a "pós-morte" não parece algo coerente
neste século, época em que a humanidade precisa de mais ética, moral e
espiritualidade na relação e no convívio socioambiental, aqui mesmo neste mundo. A
religião tem importância na cultura de diferentes povos, mesmo num país laico como é
o Brasil. Por isso espera-se que ela exerça influência positiva no comportamento dos
seguidores ou simpatizantes para que adotem novas posturas e estilos voltados para a
preservação e a conservação dos recursos naturais.

Em 2007, ano do lançamento do quarto relatório do Painel Intergovernamental de


Mudanças Climáticas (IPCC), houve um encontro de liderança da comunidade científica
e de igrejas evangélicas americanas, ocasião em que cerca de 30 líderes assinaram um
acordo e o encaminharam ao governo dos EUA e a líder da Câmara de
Representantes, também a outros responsáveis políticos e de associações científicas e
religiosas. O documento sugeriu o seguinte: "Os responsáveis de todos os setores de
atividades do nosso país - religioso, científico, econômico, político e educativo - devem
trabalhar juntos sem demora para mudar fundamentalmente os valores, o estilo de vida
e as políticas para responder ao agravamento dos problemas ambientais antes que seja
tarde demais". É o início de uma nova consciência.

Ainda em 1836, o ensaísta Emerson, considerado o pai da psicologia americana,


assim expressou na obra intitulada "Natureza": "Todo o processo da natureza é uma
tradução de um texto que revela a moral. Os princípios da moral estão no centro da
natureza e são eles que emitem a luz ao seu redor. Que é uma propriedade rural senão
um evangelho do silêncio? A palha e o trigo, a erva daninha e a vegetação, a praga, a
chuva, o inseto, o Sol - são todos emblemas sagrados de todo ano, desde o preparo da
terra para as plantações até o recolher".

"Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja", afirmou o
líder espiritual Chico Xavier. Será fundamental a consciência nas pessoas de que
melhor do que despoluir é não poluir. No próximo artigo, confira a visão do hinduísmo
sobre o meio ambiente.

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