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Instituto Superior Politécnico de Viseu

Escola Superior de Saúde de Viseu

Trabalho nº 5

Trabalho realizado no âmbito do ensino clínico V,


no serviço de Urgência Pediátrica, do HSTV-EPE.

Carla Andreia Vaz Damil nº1166


Viseu, 27 de Janeiro de 2007
Intussuscepção

Índice: pág.

1- Intussuscepção
1.1. Definição……………………………………………………………………………………………………………………..3

1.2. Fisiopatologia……………………………………………………………………………………………………………..3

1.3. Avaliação Diagnostica……………………………………………………………………………………………...4

1.4. Conduta Terapêutica………………………………………………………………………………………………..5

1.5. Prognóstico…………………………………………………………………………………………………………………5

1.6. Considerações de Enfermagem………………………………………………………………………………6

Bibliografia ……………………………………………………………………………………………………………………….7

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Intussuscepção

1.1. Definição

A intussuscepção consiste na invaginação de


segmento de intestino nele próprio, por alteração dos
movimentos peristálticos intestinais normais (fig.1).
É uma das causas mais frequentes de obstrução
intestinal nas crianças entre as idades de 3 meses a 3
anos, sendo o pico de ocorrências entre as idades de 5 a 9
meses.
Fig.1
A intussuscepção é mais comum entre os meninos
do que entre as meninas e também nas crianças com fibrose cística. Embora
lesões intestinais específicas possam ser encontradas numa pequena
percentagem dessas crianças, a causa geralmente não é conhecida. Mais de 90%
das intussuscepções não apresentam um ponto de partida patológico, tal como um
pólipo, linfoma ou divertículo de Meckel. Os casos idiopáticos são mais
provavelmente o resultado de hipertrofia do tecido linfóide intestinal,
secundário à infecção viral.

1.2. Fisiopatologia

A intussuscepção ocorre quando um


segmento proximal do intestino colapsa
para dentro de um segmento mais distal,
puxando o mesentérico com ele. O
mesentérico é comprimido e dobrado,
gerando obstrução venosa e linfática. À
medida que o edema da obstrução aumenta,
aumenta a pressão no interior da área de
intussuscepção. Quando a pressão se iguala
à pressão arterial, o fluxo arterial cessa,
resultando em isquemia e no afluxo de
muco para a luz intestinal (fig.2).
A congestão venosa também leva ao
Fig.2
extravasamento de sangue e muco para o
lúmen intestinal, formando as clássicas fezes em geleia de groselha.
O ponto mais comum é a valva ileocecal (ileocólica) onde o íleo se invagina
para o ceco e o cólon. Outras formas incluem a ileoileal (uma parte do íleo
invagina-se noutro segmento do íleo) e a colocólica (um segmento do cólon

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Intussuscepção

invagina-se para dentro de outra área do cólon), normalmente na área da flexura


hepática ou esplénica, ou nalgum ponto ao longo do cólon transverso.

1.3. Avaliação Diagnóstica

Clinicamente, apresenta-se um lactente saudável com bom crescimento e


desenvolvimento que subitamente inicia um quadro de cólica abdominal,
acompanhada de choro violento alternando com períodos de acalmia absoluta.
Acompanha-se por vezes vómitos alimentares que progressivamente podem
tornar-se biliares. A emissão de fezes que de início pode ser normal, com o
passar das horas vai tomando o aspecto de geleia de framboesa típica da
situação e desencadeada por hemorragia digestiva que se instala.
Frequentemente o diagnóstico pode ser feito com base, exclusivamente,
em achados subjectivos. No entanto, o diagnóstico
definitivo baseia-se num clister opaco, que claramente
demonstre a obstrução ao fluxo de contraste.
Inicialmente, porém, uma radiografia abdominal
(fig. 3) é obtida para detectar ar intraperitoneal, oriundo
de perfuração intestinal, o que poderia contra-indicar o
clister opaco. O exame do recto (toque rectal) revela
muco, sangue e, ocasionalmente, a própria intussuscepção
baixa. Fig. 3 Radiografia do abdómen,
obtida durante a redução por
insuflação de ar via rectal.

Manifestações Clínicas da Intussuscepção


Dor abdominal súbita e aguda;
A criança grita e comprime os joelhos contra o tórax;
A criança parece normal e confortável durante os intervalos entre os episódios
de dor;
Vómitos;
Letargia;
Passagem de fezes vermelhas, como geleia de groselha (fezes misturadas com
sangue e muco);
Abdómen sensível e distendido;
Massa palpável, em forma de salsicha, no quadrante superior direito;
Quadrante inferior direito vazio (sinal de Dance);
Febre eventual, prostração e outros sinais de peritonite.

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Intussuscepção

1.4. Conduta Terapêutica

Na maior parte dos casos o tratamento de escolha inicial é a redução


hidrostática não-cirurgica, feita tradicionalmente com clister opaco. Nesse
procedimento, a correcção da invaginação é levada a termo simultaneamente com
o exame diagnóstico. A força exercida pelo fluxo de bário geralmente é
suficiente para empurrar o segmento invaginado do intestino de volta à sua
posição original, de modo semelhante ao empurrar um “dedo” invertido para fora
de uma luva. Esse procedimento não está recomendado se houver sinais clínicos
de choque ou de perfuração.
O uso de bário como agente de contraste está-se tornando menos
rotineiro, e uma elevada percentagem de radiologistas está a empregar
contrastes hidrossolúveis e ar comprimido para a redução das intussuscepções. O
emprego aumentado dos contrastes hidrossolúveis reflecte preocupações
relativas ao risco de peritonite por bário. A administração de ar comprimido para
reduzir a intussuscepção é igualmente bem sucedida e mais rápida do que o bário,
sem risco de peritonite e com uma redução da exposição à radiação. Alguns
utilizam dióxido de carbono em vez de ar. Possui a vantagem de ser absorvido
pelo intestino e de estar associado a um menor desconforto. Também elimina o
risco de embolismo gasoso.
Hidratação IV, descompressão nasogástrica
e antibioterapia podem ser usadas antes que a
redução hidrostática seja tentada. Se esses
procedimentos não forem bem sucedidos, a criança
pode necessitar de intervenção cirúrgica. A
cirurgia envolve a redução manual da invaginação
(fig. 4) e, quando indicado, a ressecção de qualquer Fig. 4
segmento intestinal não viável.

1.5. Prognóstico

A redução não-operatória é bem sucedida em aproximadamente 75% dos


casos. A cirurgia é necessária em doentes nos quais o enema contrastado não
obteve sucesso.
Com o diagnóstico e tratamento precoces, as complicações mais graves e o
óbito são raras.

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Intussuscepção

1.6. Considerações de Enfermagem

A equipa de enfermagem pode ajudar no diagnóstico, ouvindo a descrição


dos pais sobre os sintomas físicos e comportamentais da criança. Não é raro que
os pais expressem que sentiram que algo estava seriamente errado antes que os
outros compartilhassem os seus sentimentos. A descrição da grave dor abdominal
em cólica da criança, associada aos vómitos, constitui um significativo sinal de
intussuscepção.
Logo que um possível diagnóstico de intussuscepção foi feito, a enfermeira
prepará os pais para a imediata necessidade de hospitalização, a técnica não
cirúrgica de redução hidrostática e a possibilidade de cirurgia. É importante
explicar o defeito básico da intussuscepção. Um modelo do defeito é facilmente
demonstrado empurrando-se a ponta de um dedo contra uma luva de borracha,
sobre si mesma, ou usando o exemplo de uma haste telescópica. O princípio da
redução através da pressão hidrostática pode ser simulado enchendo-se a luva
com água, que empurra o “dedo” para uma posição completamente estendida.
Os cuidados físicos para com a criança não diferem daqueles dirigidos a
qualquer outra criança que será submetida a uma cirurgia abdominal. Mesmo que a
intervenção não cirúrgica seja bem sucedida, são realizados os procedimentos
pré-operatórios usuais, tais como suspensão dos líquidos por via oral, exames
laboratoriais de rotina (hemograma e analise de urina), autorização a ser
assinada pelo responsável e sedação pré-anestésica. Para a criança com sinais de
desequilíbrio electrolítico, hemorragia ou peritonite, a preparação adicional, tal
como a reposição de líquidos, sangue total ou plasma e sucção nasogástrica podem
ser necessários. Antes da cirurgia, a enfermeira monitorizará todas as
evacuações.
Os cuidados pós-procedimentos incluem a observação dos sinais vitais,
pressão sanguínea, integridade das suturas e curativos e retorno dos sons
intestinais. Após a redução hidrostática ou auto-redução, a enfermeira ficará
atenta para a passagem de bário ou de material de contraste hidrossoluvel e para
os padrões das evacuações, uma vez que pode haver recorrências da
intussuscepção. As crianças podem ser admitidas ao hospital ou observadas num
esquema de ambulatório. A recidiva da intussuscepção é tratada através da
redução hidrostática, mas uma laparotomia pode ser considerada na hipótese de
recorrências múltiplas. Uma vez que a hospitalização pode ser a primeira
separação da criança dos seus pais, é importante preservar a relação entre os
pais e a criança, estimulando o alojamento conjunto ou as visitas estendidas. Pode
ser a primeira experiência dos pais com um internamento, sendo necessária a sua
preparação para procedimentos como a terapia IV, monitorizar frequentemente
os sinais vitais e da pressão sanguínea, curativos e outros cuidados especiais, tais
como a dieta zero. Devido à rapidez da instalação do quadro, diagnostico e
tratamento, os pais podem sentir-se atordoados ou paralisados. Eles podem fazer

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Intussuscepção

poucas perguntas, ou fazer questões constantes e repetitivas por diversas vezes.


Se a enfermeira perceber as circunstancias que envolvem essa situação, as
reacções dos pais serão mais compreendidas e aceites.

Bibliografia

 CLAYDEN, Graham; LISSAUER, Tom – Manual ilustrado de Pediatria. 2ª


ed. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan. 2003

 HOCKENBERRY, Marylin J. [et al.] – Wong Fundamentos de Enfermagem


Pediátrica. 7ª edição. Rio de Janeiro. Elsevier Editora. 2006

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