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Abstract: Throughout this article, we present the history socio-cultural aspects of deaf people
and Language Signs Brasilian (LIBRAS), second official language of Brazil. Speaking to
inclusion is excluded someone say, however this work makes the artifacts of the deaf culture,
including the cultural diversity of our country, for that this is respected in its identity and cease to
be seen as biased or abnormality disabilities.
Introdução
Essa história de dizer que surdo não fala, que é mudo, está errada.
Eu sou contra o termo surdo-mudo e deficiente auditivo porque tem
preconceito... Vocês sabem quem inventou termo deficiente auditivo?
Os médicos!Eu não estou aqui só para vocês aprenderem LIBRAS,
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E-mail:aninhapedron@hotmail.com. Acadêmica do curso de Pedagogia, CNEC/Osório.
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E-mail:getuliogremio@hotmail.com. Co-autor, acadêmico do curso de Pedagogia
3
joycemp@terra.com.br.Professora da Faculdade Cenecista de Osório, orientadora deste artigo.
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lilikka@uol.com.br. Professora da Faculdade Cenecista de Osório, orientadora deste artigo.
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estou aqui também para explicar como é a vida do surdo, da cultura,
da nossa identidade... (professora surda, 2002).
O que teria o surdo de deficiência, se a única coisa que nos difere deles é a
língua? São cidadãos como todos os ouvintes, pensam, debatem, se deslocam,
têm sua identidade e cultura, aliás, uma cultura que vem de uma história bem
triste, onde não eram vistos como pessoas, excluídos da sociedade e as
decisões para/com eles tomadas, partiam de ouvintes, na maioria das vezes,
preconceituosos, por desconhecer a perspectiva do surdo.
O surdo e a surdez
Os surdos têm uma identidade e uma cultura próprias, assim como todos nós
temos características culturais que marcam o jeito de ver, sentir e se relacionar
com o mundo. O surdo não tem nada de excepcional, é a sociedade ouvinte
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que o torna excepcional. Deve uma pessoa ser tratada como excepcional ou
deficiente por dominar uma língua que faz parte do nosso país?
Você faz uma chamada nas mediações – eles não têm coisas como o
chá das tardes. A língua falada e a língua de sinais estarão tão
misturadas na conversa, que você passa de uma para outra, ou usa
as duas de uma vez só, quase inconscientemente. Metade da família
fala, muito provavelmente, metade da família não, mas os surdos não
estão desconfortáveis em sua privação, porque a comunidade, tem se
ajustado à situação perfeitamente (GROCE, 1985, apud STROBEL,
2008).
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Alexander Graham Bell, inventor do telefone, professor de surdos e defensor
enérgico do oralismo, julgava a língua de sinais imprecisa e inferior à fala oral,
usou o caso da ilha de Martha’s Vineyard como base da sua investigação na
questão da hereditariedade da surdez, mas não conseguiu explicar o fato de
alguns pais surdos não terem filhos surdos. O maior agravante das
especulações de Bell não estava apenas na falta de comprovação do que dizia,
mas na injustiça e irresponsabilidade científicas em liderar campanhas
proibindo o agrupamento de surdos, já que definia a surdez como
―anormalidade da raça humana‖.
Partilhar da sala de aula com um aluno surdo que traz com ele um tradutor foi
motivo de curiosidade para todos os participantes da experiência. Houve um
movimento de acomodação a essas novas características da aula, deixando,
num primeiro momento, todos muito mobilizados pela participação do tradutor.
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O olhar dos alunos se deslocava da professora para o tradutor, gestos
começaram a ser feitos por vários alunos. A necessidade de cada um falar a
seu tempo, de não haver burburinho, de, algumas vezes, repetir o que estava
sendo dito, de falar pausadamente foram sendo condutas adotadas pela turma
que, de fato, se envolveu para abrigar um novo modo de existir em seu
funcionamento. A presença de um aluno surdo em aula fez com que a surdez
fosse tematizada em um trabalho, que gera essa publicação, e que foi
compartilhado em sala de aula oportunizando a todos os participantes uma
melhor compreensão da cultura surda e interesse em conhecer a LIBRAS.
O fato que mais marcou a história dos surdos foi a decisão adotada pelos
educadores ouvintistas, em 1880, na cidade de Milão/Itália. Neste ano foi
realizado o ―Congresso Internacional de Professores de Surdos‖, para discutir e
avaliar três métodos rivais: língua de sinais, oralista e mista (LS e oral). Houve
então, uma votação no dia 11 de setembro de 1880 ―a favor dos métodos orais
na educação de surdos‖. Dos 164 votos, apenas quatro eram contra; a partir
desse dia a língua de sinais foi proibida oficialmente, pois a mesma destruía a
habilidade da oralização dos sujeitos surdos.
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Esse congresso foi conduzido e elaborado por professores ouvintistas,
defensores do oralismo puro, com grande influência do professor e inventor do
telefone, Alexander G. Bell. Após ele, a maioria dos países adotou rapidamente
o método oral nas escolas para surdos e proibiu oficialmente a língua de sinais,
principiando essa longa e sofrida batalha do povo surdo na defesa do seu
direito linguístico – cultural, como vimos anteriormente.
Acreditamos que todas as escolas deveriam ser bilíngues, não só para o surdo
como para os ouvintes, desse modo, após algumas gerações, a inclusão
estaria presente na sociedade, se espalhando por todos os setores da mesma,
assim como na ilha de Martha’s Vineyard – um grande exemplo de inclusão.
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A surdez compromete o desenvolvimento cognitivo linguístico do
indivíduo?
Se um surdo for bem instruído na língua de sinais e tiver um bom professor que
ensine as variações da LIBRAS, na escrita e no universo de palavras que
temos para um sinal, o que o impedirá de escrever bons textos? E se tiver
professor de educação física que sinalize as técnicas e estratégias para
determinado jogo, o que impedirá o surdo de desenvolver suas habilidades
esportivas? O empecilho para o desenvolvimento cognitivo-motor está no surdo
ou na falta de capacitação e entendimento dos profissionais que atuam na
educação inclusiva?
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normalidade ouvinte, que ignora outras culturas e identidades construídas pelo
indivíduo para se relacionar com o mundo.
O que seria a luta do povo surdo pelos seus direitos se não fosse o marco
principal da história da sua cultura? Afirmar que não existe uma cultura surda é
o mesmo que negar a existência de qualquer outra cultura, por exemplo:
alemã, africana, italiana, hippies, cigana, cega, gaúcha, carioca, baiana e por aí
vai... É normalizar.
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Cultura – termo genérico empregado em duas acepções básicas: costumes, civilização e
realizações de uma época ou povo determinado; ou artes e outras manifestações do intelecto e
da sensibilidade humana, consideradas coletivamente. No estudo das sociedades, poucos
conceitos são ao mesmo tempo tão centrais e imprecisos: há muitas obras inteiramente
dedicadas à discussão e definição do que é cultura. Pode-se agrupar os principais significados
dados à palavra em dois grandes grupos, de limites não muito precisos:o antropológico e o
artístico. No primeiro, a cultura equivale ao modo de vida da sociedade em todos os seus
aspectos: idéias, crenças, instituições, costumes, leis, técnicas, conhecimentos etc. No
segundo grupo, é definida de modo mais restrito (e, segundo alguns, com mais profundidade)
como os elementos mais civilizados de sociedade, especialmente aos que encontram
expressões nas artes e atividades intelectuais. Adotando-se o primeiro significado, deve-se
considerar todos os seres humanos como dotados de cultura, pois todos fazem parte de
algum sistema cultural, ainda que diferente dos demais. Em decorrência disto, cada pessoa
tende a ver e julgar outras culturas a partir do ponto de vista da sua própria cultura; daí ocorre
uma noção central na antropologia e em outras ciências sociais: o relativismo, isto é, a idéia de
que as crenças e os comportamentos só podem ser entendidos em relação ao seu contexto
cultural... {ênfase nossa} Nova enciclopédia Ilustrada da Folha (1996, p. 247)
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sujeitos surdos percebem o mundo através de seus olhos como podemos ver
na experiência relatada por Strobel (2008, p.39):
A LIBRAS, por muito tempo, sofreu a repressão exercida pelo oralismo, mas
mesmo assim, ―não foi extinta e continuou a ser transmitida, de geração em
geração, pelo povo surdo com muita força e garra‖ (STROBEL,2008, p. 26). A
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língua de sinais no Brasil não pode ter como base a língua portuguesa, pois ela
tem gramática diferenciada, independente da língua oral.
Strobel (2008) aponta, também, como artefatos culturais as artes visuais pelas
quais o povo surdo realiza muitas criações artísticas que sintetizam suas
emoções, histórias, subjetividades e sua cultura; a política que consiste em
diversos movimentos e lutas do povo surdo pelos seus direitos, como a
legalização da língua de sinais e a inclusão na sociedade e materiais que
auxiliam o sujeito surdo nas acessibilidades e na vida cotidiana, como por
exemplo, o telefone para surdos (TDD), instrumentos luminosos como a
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campainha em casas e escolas de surdos, despertadores com vibradores,
legendas close-caption, babá com sinalizadores, etc.
A história cultural dos surdos nos faz enxergar a cultura surda como um
conjunto de significados e costumes partilhados e construídos por esse povo:
os movimentos de lutas políticas por consideração a história surda, as
identidades surdas, a língua de sinais e a pedagogia surda, afastando a visão
de anormalidade e aproximando o povo surdo.
A história cultural dos surdos é longa e complexa, por isso, Karin Strobel (2008)
desafia o povo surdo a construir uma nova história cultural, com o
reconhecimento e o respeito das diferenças, valorização da língua, a
emancipação dos sujeitos surdos de todas as formas de opressão ouvintistas e
seu livre desenvolvimento espontâneo de identidade cultural. E nós,
desafiamos nossos colegas a se incluírem como educadores e cidadãos, na
sociedade inclusiva e a aprender, no mínimo, o básico da língua brasileira de
sinais.
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A língua de sinais (LS)
Figura 1: Diferença do sinal "mãe" em quatro línguas distintas. Fonte: GESSER, Audrei,
LIBRAS: Que língua é essa?
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Conforme Gesser (2009): ―Em qualquer lugar que haja surdos interagindo,
haverá língua de sinais. Podemos dizer que o que é universal é o impulso dos
indivíduos para a comunicação e, no caso dos surdos, esse impulso é
sinalizado.” Portanto, a língua de sinais não é universal e muito menos artificial,
mas a língua natural dos surdos. Existe uma língua internacional de sinais, o
gestuno, que da mesma forma que o esperanto (língua oral, construída e
planejada.), tem como objetivo estabelecer uma comunicação internacional.
Figura 2: Os três parâmetros no sinal "certeza" em LIBRAS. Fonte: GESSER, Audrei, LIBRAS:
Que língua é essa?
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Durante a década de 1970, os linguistas Robbin Battison, Edward S. Klima e
Ursulla Bellugi descreveram um quarto parâmetro: a orientação da palma da
mão (O). Ficou demonstrado que dois sinais com os mesmos outros três
parâmetros iguais (CM, L, M) podem mudar de significado de acordo com a
orientação da mão. Essa diferença de dois itens lexicais por um único
componente, em lingüística, recebe o nome de ―par mínimo‖. Como
encontramos nas línguas orais, por exemplo: ―mata e lata‖ se distinguem
significativamente pela alteração de um único fonema. Em LIBRAS, também
encontramos pares mínimos nos sinais (vide figura 3), por exemplo, em ―grátis‖
e ―amarelo‖; ―ter e Alemanha‖; ―churrascaria‖ e ―provocar‖ e ―ajudar e ―ser
ajudado‖. Os sinais podem ser realizados com uma ou duas mãos.
Figura 3: Pares mínimos em LIBRAS. Fonte: GESSER, Audrei, LIBRAS: Que língua é essa?
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sua inversão, em alguns sinais, pode alterar o significado dos sinais, no caso
de ―conhecimento‖, para o lado direito (contralateral). A locação se refere ao
lugar, pode ser realizado em alguma parte do corpo, como podemos ver no
exemplo da palavra ―conhecimento‖, a locação ocorre em frente ao queixo e,
por último, poderemos observar o movimento, que pode ou não estar presente
nos sinais e no caso de ―conhecimento‖, se dá com a lateral do dedo indicador,
que bate próximo ao lado direito do queixo (figura 4).
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Mas é importante ressaltar que o alfabeto manual tem uma função na interação
entre os usuários da língua de sinais, como soletrar nomes próprios de lugares
ou pessoas, siglas e alguns vocábulos não existentes na LS.
Figura 6: Alfabeto manual britânico, americano e sueco. Fonte: GESSER, Audrei, LIBRAS: Que
língua é essa?
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A LIBRAS tem suas origens na língua francesa de sinais e não da língua oral
como muitos pensam e ela apresenta variedades e diversidades como todas as
línguas humanas.
Considerações finais
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é visual), todavia o entra e sai desconcentra-o, além das conversas muito altas
e em conjunto que transmitem vibrações, atrapalhando a concentração do
surdo; os professores que carecem de capacitação, fazendo aulas orais ao
invés de visuais, como uma volta no tempo, lá em 1880 e, sequer olham para o
aluno, mesmo no momento da chamada, o intérprete traduz, o ―cara‖ vai todo
feliz dizer que está e nem é olhado... Essa desconsideração para com o sujeito
surdo é uma forma de exclusão em instituições que praticam a inclusão.
A instituição que recebe o surdo tem que oferecer cursos de capacitação para
seus docentes, palestras para seus acadêmicos, professores e funcionários
acerca da cultura surda, estar preparada e sinalizada de acordo com as regras
da acessibilidade: ter campainhas visuais, placa de trânsito, sinalizando a
presença de alunos surdos para os motoristas redobrarem os cuidados, dentre
diversos recursos visuais.
Acreditamos que uma regra fundamental que deve ser respeitada é a do direito
do surdo de ter como primeira língua a LIBRAS e contato com outros surdos,
assim como a vontade de oralizar ou não, deve partir do sujeito surdo. Também
defendemos a hipótese de que após se apropriarem da LIBRAS como língua
mãe, as crianças devem aprender a escrita, que é língua oficial do país delas o
que lhes permitirá comunicação e expressão através de outros meios (cartas,
mensagens de celular, chats,etc.) e também, abrirá caminhos para a entrada
no mercado de trabalho.
Enfim, assim nos tornaremos uma sociedade que inclui, e não essa que hoje
está engatinhando na inclusão e que inclui excluindo, muitas vezes, não por
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maldade, mas por falta de vivências e conhecimentos acerca da cultura surda
em todos os seus aspectos.
Referências:
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