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UNIDADE 4

POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

Objetivos
• Compreender as mudanças contemporâneas na concepção de saúde e
doença.
• Analisar os aspectos políticos envolvidos na conceituação do direito à saú-
de e na ideia de “promoção à saúde”.
• Identificar as novas formas de abordagem do paciente críticas ao “modelo
biomédico”.

Conteúdos
• Da Declaração de Alma-Ata ao surgimento do SUS: a saúde em seus aspec-
tos biopsicossociais.
• Cultura, sociedade e a relação entre paciente e profissional da saúde.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Busque identificar as principais mudanças apontadas no que diz respeito a


concepções de saúde e doença. Compare o conteúdo desta unidade com
o das anteriores e reflita sobre quais mudanças políticas permitiram uma
compreensão mais democrática e inclusiva da saúde em uma perspectiva
que não se restringe ao biológico.

2) Se encontrar dificuldade, não desanime! Não se esqueça de acessar a


Sala de Aula Virtual! Interaja, pois, dessa maneira, você ampliará seus
conhecimentos.

3) Ao se aproximar do final deste material, lembre-se de que neste momento


você terá uma visão geral do que estudou. Retome, então, os principais
pontos analisados até agora.

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1. INTRODUÇÃO
Vamos iniciar nossa última unidade de estudo, você está
preparado?
Nesta unidade, realizaremos uma leitura das transforma-
ções recentes nas concepções e políticas de saúde, proporcio-
nadas por uma série de críticas e proposições que surgiram no
âmbito nacional e internacional. Recuperando as discussões das
unidades anteriores, compreenderemos como surgiram propo-
sições mais participativas e inclusivas de se pensar a saúde em
termos coletivos e individuais. Esboçaremos também os obstá-
culos de sua efetivação no contexto brasileiro e outros interesses
econômicos e ideológicos postos em disputa.
Além do foco em diretrizes e políticas internacionais e go-
vernamentais, vamos refletir sobre as mudanças no que tange à
relação entre profissional de saúde e paciente, levando em conta
a inserção sociocultural do paciente, bem como os aspectos cul-
turais e existenciais da doença.
Vamos começar?

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

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2.1. AS DISPUTAS POLÍTICAS EM TORNO DA DEFINIÇÃO DE


SAÚDE

Muitas das questões suscitadas na unidade anterior foram


possíveis por conta de uma série de demandas sociais e mobi-
lizações políticas que transformaram as diretrizes das políticas
públicas de saúde. A transformação resultou na valorização, ao
menos em discurso, da ideia de perceber o paciente como ser
“integral”, e não reduzi-lo a um corpo doente, compreender a
saúde em uma forma mais ampliada, a qual não tem como ponto
de partida e chegada o biológico, e vincular a problemática da
saúde com as relações sociais e culturais abrangentes.
Várias conferências formularam, então, novas concepções
e diretrizes para as políticas de saúde em dimensão internacio-
nal. Dentre elas, destacamos a Primeira Conferência Internacio-
nal Sobre os Cuidados de Saúde, realizada em Alma-Ata, capital
do Cazaquistão, em setembro de 1978. Dessa conferência, elabo-
rou-se a “Declaração da Conferência de Alma-Ata”, que define:
A saúde como parte indispensável dos direitos humanos. Como
estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
simplesmente a ausência de doença ou enfermidade, é um di-
reito humano fundamental, e que a consecução do mais alto ní-
vel possível de saúde é a mais importante meta social mundial,
cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais
e econômicos, além do setor da saúde [...] (AGUIRRE; MOSKA
apud JUNGES, 2009, p. 287).

Essa declaração, além de vir junto à criação de uma agen-


da internacional para o campo da saúde, abriu as portas para
uma nova concepção de saúde pública, conforme a seguinte
explicação:
A declaração supera a visão redutiva da saúde a puros determi-
nantes biológicos, englobando os condicionamentos mentais e

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sociais e, como consequência, enfatiza a importância e a priori-


dade do sistema único de saúde como fruto desta conferência e
de lutas sociais, em especial encampado pelo movimento sani-
tarista da década de 80 [...] (JUNGES, 2009, p. 287).

Antes do estabelecimento do SUS e do movimento citado


pelo autor, ocorreu, ainda em âmbito internacional, a Primeira
Conferência Internacional de Promoção da Saúde, que resultou
na Carta de Ottawa, em 1986. O documento reafirma a impor-
tância da promoção à saúde e aponta, principalmente, a influ-
ência dos aspectos sociais sobre a saúde dos indivíduos e da
população, além de ressaltar como fundamentais a deliberação
coletiva e o engajamento comunitário para a concretização dos
direitos de saúde. Trata-se da valorização do:
processo de capacitação da comunidade para atuar na me-
lhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior
participação no controle deste processo. A saúde passou a ser
“construída pelo cuidado de cada um consigo mesmo e com os
outros, pela capacidade de tomar decisões e de ter controle
sobre as circunstâncias da própria vida e pela luta para que a
sociedade ofereça condições que permitam a obtenção de saú-
de por todos os seus membros” [...] (HEIDMANN et al., 2006,
p. 353).

Nesse documento consolida-se a ideia de promoção à saú-


de, cujo enfoque não está mais centrado na doença ou na medi-
calização, e leva em conta os fatores sociais:
A promoção à saúde desponta como “nova concepção de saú-
de” internacional em meados dos anos 70, resultado do debate
na década anterior sobre a determinação social e econômica
da saúde e a construção de uma concepção não centrada na
doença [...] (HEIDMANN et al., 2006, p. 353).

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Em estreita relação com as concepções e as diretrizes das


conferências, em 1985, a OMS/Europa divulgou metas para a
saúde na região europeia:
A partir disto, a saúde passou a ser reconhecida como resultan-
te da determinação social, a saber: pobreza, desemprego, ha-
bitação precária e outras desigualdades econômicas e sociais.
Como estratégias principais, recomenda: o fortalecimento dos
serviços comunitários, políticas públicas saudáveis e o favore-
cimento da participação popular [...] (HEIDMANN et al., 2006,
p. 354).

A ideia de promoção à saúde vai além de uma perspectiva


preventista, notadamente comportamental. Como vimos na pri-
meira unidade, o modelo cujo foco é comportamental acaba por
dar ênfase a uma liberdade ilusória na ação dos indivíduos que
estão, na verdade, delimitados por um contexto social que inter-
fere diretamente na saúde dos sujeitos envolvidos. Ademais, o
enfoque na racionalidade preventiva recai sobre a doença, trans-
missão e risco (SILVA et al., 2010, p. 372) e, desta forma, acaba
limitando a possibilidade de uma concepção social ampliada da
saúde.
Ao contrário, práticas baseadas em uma concepção mais
abrangente de saúde possibilitariam um rompimento com o mo-
delo biomédico, sendo necessário:
intensificar as ações das estratégias de promoção no cotidia-
no dos serviços de saúde, promover a autonomia das pesso-
as, indivíduos e profissionais, para que em conjunto possam
compreender a saúde como resultante das condições de vida e
propiciar um desenvolvimento social mais eqüitativo [...] (HEID-
MANN et al., 2006, p. 356).

A entrada de tais ideias no Brasil esteve atrelada a um mo-


vimento político específico do contexto nacional. Trata-se do
Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, que englobava pes-

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quisadores em grupos acadêmicos de Medicina Social e médicos


militantes no período de vigência do regime militar. Tal contexto
adverso acabou por propiciar uma união entre diversos sujeitos
em torno de uma proposta democrática, abrangente e universa-
lizante de saúde:
[...] A Reforma Sanitária brasileira tem sido objeto de estudo de
vários pesquisadores da área da Medicina Social, que a partir
de fins dos anos 70 passou a ser denominada, no Brasil, Saúde
Coletiva. À produção desse conhecimento realizada no âmbi-
to das universidades e pulverizada pelas diferentes unidades,
associaram-se profissionais médicos militantes da rede pública
de serviços na criação, em 76, do Centro Brasileiro de Estudos
de Saúde, na reunião daquele ano da SBPC, então um impor-
tante fórum político dos cientistas brasileiros no combate ao
autoritarismo vigente, constituiu-se o CEBES com a proposta de
criação de uma revista – Saúde em Debate [...] (COHN, 1989,
p. 125).

Já na Nova República, sob o governo de José Sarney, con-


tando com o debate acadêmico acumulado em imbricação com a
militância política, realizou-se a 8ª Conferência Nacional de Saú-
de, em março de 1986, tendo como mote “a saúde é determina-
da pela organização social”. Enquanto as sete conferências nacio-
nais anteriores se pautaram por debates técnicos, essa contou
com uma politização notável e participação da sociedade civil,
convocada pelo Estado.
Tal mobilização foi bastante influenciada por um paradig-
ma das Ciências Sociais marcadamente marxista ao considerar
a saúde como determinada pelo social e colocar a questão das
desigualdades em pauta. Ela impactou decisivamente o poste-
rior surgimento do SUS (Sistema Único de Saúde), no período da
Constituinte de 1988:

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[...] Este movimento, entre tantas ideias defendidas, ressaltava


a importância da formação de recursos humanos com foco na
saúde, em outra perspectiva de abordagem e com uma nova
compreensão do processo saúde-doença, e na relação da saú-
de com as condições de vida e de trabalho da população. Os
debates realizados na 8ª. Conferência Nacional de Saúde e, pos-
teriormente, em espaços de articulação da Participação Popu-
lar na Constituinte, deram origem ao Sistema Único de Saúde
(SUS), com princípios incorporados na Constituição da Repúbli-
ca, em 1988 [...] (SILVA et al., 2010, p. 369).

O SUS foi instituído pela Constituição Federal de 1988, mas


sua implementação completa ainda é desafio até hoje, tendo
sido regulamentado em diversos documentos. Podemos desta-
car a Portaria 687 GM/MS, de 30 de março de 2006, que instituiu
a Política Nacional de Promoção da Saúde, a qual é baseada na
transversalidade, levando em conta os determinantes sociais de
saúde e a diversidade cultural:
[...] Como estratégia de articulação transversal, a promoção
da saúde joga luz sobre os determinantes e condicionantes da
saúde – modos de viver, condições de trabalho, habitação, am-
biente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essen-
ciais – e a necessidade de considerá-los para reduzir vulnerabi-
lidades e riscos à saúde. A sua operacionalização deve refletir o
compromisso com o bem-estar das pessoas, a defesa da equi-
dade e da qualidade de vida da população atual e das gerações
futuras, a busca da ampliação das capacidades e possibilidades
de escolha individuais e coletivas, a ação local, a afirmação da
diversidade e do multiculturalismo e o desenvolvimento de ins-
trumentos de participação popular deliberativa [...] (SILVA et
al., 2010, p. 369).

Em oposição às práticas médicas autoritárias do começo do


século passado que vimos na segunda unidade, o engajamento
político que antecedeu a formação do SUS propunha um sistema
de saúde participativo, com controle social dos investimentos e

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qualidade da saúde pública, expresso na formação dos conselhos


de saúde.
Percebem-se nas novas diretrizes uma preocupação com
a universalização da saúde, uma conceituação mais ampliada
da saúde e uma política mais democrática. Com a consolidação
do SUS, na década de 1990, constituiu-se um sistema de saú-
de pública que garantiu, de forma sem precedentes na história
brasileira, o acesso à saúde para a população como um todo.
Atualmente:
O sistema público possui o maior número de estabelecimentos
de saúde, é responsável pela maior parte dos procedimentos e
pela cobertura de três quartos da população. Além disso, é no
SUS que a população encontra cobertura para procedimentos
tipicamente de saúde coletiva, além do fornecimento de me-
dicamentos na atenção ambulatorial – um dos itens de maior
gasto privado em saúde [...] (MENICUCCI, 2009, p. 1622).

Trata-se de uma mudança fundamental, já que o acesso


à saúde consolidou-se, na década de 1930, como ligado à Pre-
vidência Social, sendo caracterizado como inclusivo somente se
atrelado à participação no mercado de trabalho formal. A citação
a seguir descreve a forma como a saúde era pensada antes do
estabelecimento do sistema único:
[...] A assistência médica desenvolveu-se no Brasil, no âmbito
da instituição previdenciária, como uma prestação de serviços
de saúde aos segurados da Previdência Social, tendo, portanto,
um caráter secundário, no sentido de não se enquadrar em um
projeto universal de assistência à saúde e, ainda, sem prever
fontes próprias de custeio independentes dos recursos previ-
denciários concebidos para outras destinações – os benefícios
previdenciários de natureza pecuniária. A essa imbricação com
a Previdência Social corresponde uma total desarticulação da
assistência médica pública com as demais ações de saúde, de
caráter coletivo, localizadas institucionalmente no âmbito do

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Ministério da Saúde. Além disto, acompanhando a fragmenta-


ção institucional da previdência social, fracionada em diversos
Institutos estabelecidos a partir do vínculo dos segurados com a
atividade produtiva, a assistência, já na sua origem, será diver-
sificada e desigual entre os seus diversos segmentos [...] (MENI-
CUCCI, 2003, p. 94).

A expansão desse sistema segmentado se deu, especial-


mente, na década de 1960, quando hospitais e clínicas privadas
eram financiados pelo Estado. Tratou-se de um período de ex-
pansão da rede hospitalar privada e uma concepção de Medicina
hospitalar e curativa, própria ao paradigma “biomédico”. Nota-
damente, em um período no qual a indústria de aparatos médi-
cos e medicamentos crescia.
Já o novo sistema de saúde pública foi fruto de luta po-
lítica, com ampla participação popular. Sua história demonstra
como as concepções de saúde variam historicamente e resul-
tam de disputas políticas em torno delas. A ideia de um sistema
público, único, universal e gratuito foi constituída com base em
uma perspectiva social e democrata que fundamentava a “Cons-
tituição Cidadã”.
Não obstante, outras concepções e práticas de saúde se
materializavam, constituindo, na realidade, um sistema híbrido,
público e privado que atualizou as desigualdades da saúde no
país. Em grande parte, houve um financiamento público direto
ou indireto da iniciativa privada, favorecendo hospitais ou planos
de saúde que consolidavam formas diferenciadas de atendimen-
to a um público privilegiado. O corporativismo médico também
esteve aliado à estruturação de convênios médicos, visando ob-
ter lucro no mercado capitalista.

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Fundamentou-se, assim, um padrão segmentado da saú-


de, baseado em usuários do sistema privado e usuários do siste-
ma público:
[...] A proposta de um sistema de saúde igualitário chocou-se
com o legado histórico de uma sociedade marcada pela diferen-
ciação e pela segmentação no próprio campo da atenção à saú-
de. Entender a implementação do SUS implica entender a con-
figuração institucional das políticas anteriores que encorajaram
a expansão de redes de produção e gestão da assistência à saú-
de, institucionalizaram formas diversificadas de financiamento,
provisão e acesso à assistência, configurando um padrão seg-
mentado e estabelecendo-se padrões de comportamento difí-
ceis de reverter, o que ampliaria os custos associados à adoção
de alternativas diversas. Em decorrência, tiveram efeitos sobre
o processo político ao modelar identidades e clivagens sociais
e estruturar os interesses privados na saúde, organizados de
forma a obter significativa influência nos processos decisórios
subseqüentes. A inserção de categorias privilegiadas de traba-
lhadores em formas privadas de assistência não favoreceu a
constituição de uma identidade coletiva e de valores solidaris-
tas. Por estarem incluídos previamente em formas privadas de
atenção vinculadas ao contrato de trabalho, esses segmentos,
na prática, deram sustentação à assistência privada e constitu-
íram um veto implícito à universalização da assistência pública
[...] (MENICUCCI, 2009, p. 1624).

Esse processo se verificou patente na década de 1980, com


o crescimento dos planos de saúde privados, e foi consolidado
com a Lei nº 9.665, de 1998, que dispõe sobre os planos privados
de assistência à saúde, oficializando o sistema segmentado:
[...] desde sua constituição, a assistência à saúde se deu de for-
ma segmentada, não se consolidando ao longo de sua trajetó-
ria uma proposta efetivamente universalista e igualitária, em
função mesmo de seu aprisionamento às decisões prévias [...]
(MENICUCCI, 2003, p. 101).

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De fato, observou-se uma reestratificação da assistência


médica e, assim, a fragilização do projeto político-ideológico do
SUS:
[...] Sem interferir formalmente na política voltada para a as-
sistência pública, a regulação desnudou e formalizou o modelo
segmentado e dual que se constituíra historicamente na assis-
tência à saúde, em função de escolhas políticas anteriores e,
mesmo, de não decisões. Ao assumir implicitamente a segmen-
tação e ao ter como um de seus objetivos a ampliação do mer-
cado de planos de saúde, a política regulatória tornou evidente,
entretanto, o caráter meramente formal, do ponto de vista dos
fundamentos normativos que norteiam as decisões governa-
mentais, dos princípios do SUS, particularmente a universalida-
de e a igualdade de acesso [...] (MENICUCCI, 2003, p. 307).

As formas de se compreender a saúde estão em disputa e


a existência de um mercado capitalista voltado à saúde engendra
visões que se opõem a uma concepção mais democrática e que
se centra nos determinantes sociais da saúde. Além dos hospi-
tais e convênios médicos privados, a sociedade contemporânea
é marcada pela proliferação de tecnologias médicas e pelo cres-
cimento da indústria farmacêutica (JUNGES, 2009, p. 289).
Longe de se tratar de um procedimento neutro, a empresa
biotecnológica hoje assume um papel protagonista, articulada
ao consumo de tecnologias médicas embasadas em um propó-
sito valorativo de uma suposta “saúde perfeita” divulgada pela
publicidade (JUNGES, 2009, p. 290). Tal aspecto revela-se um
redimensionamento do biopoder, da técnica de cuidar da vida,
agora articulado a procedimentos próprios do capitalismo indus-
trial vinculado à saúde:
[...] Se o biopoder manifestava-se, antes, como gestão calcula-
dora, por parte do Estado, da vida biológica dos corpos e das
populações, hoje o biopoder revela-se como agenciamento

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simbólico das técnicas a serviço da saúde por parte da empre-


sa biotecnológica. Nos dois casos está presente o controle do
biopoder. O primeiro mais direto numa perspectiva biológi-
ca e o segundo, mais sutil, de cunho consumista e simbólico.
Essa nova configuração do biopoder leva a entender o direito
à saúde simplesmente como acesso e consumo de tecnologias,
esquecendo os determinantes sociais da saúde como um direi-
to dos indivíduos e um dever do Estado [...] (JUNGES, 2009, p.
176).

Nesse aspecto, enormes gastos financeiros são direciona-


dos a tecnologias e medicamentos. A expansão dos convênios
médicos e a estratificação da saúde por conta do sistema dual
público e privado, articulado à expansão da ideia de cuidar da
vida com base na medicalização e na publicidade articulada a
ela, acabam por reiterar a desigualdade na saúde.
Cabe ressaltar que a despeito das desigualdades do nosso
sistema de saúde, ele em si representa um avanço ao que existia,
em razão de todas as questões já abordadas nesta unidade. Tais
avanços também acompanharam uma série de transformações
teóricas e práticas que vêm sendo efetivadas como uma materia-
lização da crítica ao “modelo biomédico”, na relação entre profis-
sional de saúde e paciente.

Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você vai apri-


morar seus conhecimentos sobre política e saúde: os condi-
cionantes sociais e a ideia de “promoção à saúde”. Antes de
prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indica-
das, procurando assimilar o conteúdo estudado.

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2.2. OS CUIDADOS E O PACIENTE COMO SER “INTEGRAL”

A crítica ao modelo “biomédico” e a concepção mais de-


mocrática que leva em conta o paciente como ser “integral”
apresentam como uma das suas facetas a valorização dos cuida-
dos. Além de uma perspectiva reduzida à objetividade da doen-
ça, constata-se a necessidade de observar os processos de pre-
venção e de reabilitação do paciente, visto de forma complexa,
dando-se espaço a sua subjetividade e sua inserção em uma re-
alidade sociocultural.
Mas como o profissional da saúde pode trabalhar em uma
perspectiva que não se reduz ao biologicismo e a uma concep-
ção preventista? Silva et al. (2010) estudam essa problemática
na formação do enfermeiro, mas essa abordagem também pode
ser pensada na formação do profissional da saúde, como pode
ver a seguir:
[...] As concepções e as práticas de promoção da saúde na for-
mação do enfermeiro estão em disputa com projetos hegemô-
nicos, sendo necessário acionar mecanismos para criar um novo
modus operandi que supere as ações orientadas pelo enfoque
biológico. Ainda estão prevalecendo as ações de cunho preven-
tista que, embora importantes para o setor, não avançam para
uma concepção positiva de saúde. Essa situação é referida tan-
to em relação aos espaços de formação quanto aos espaços de
atuação profissional, o que contribui para a permanência de um
ciclo vicioso em que teoria e prática reiteram modelos tradicio-
nais de atuação [...] (SILVA et al., 2010, p. 375).

Em outros termos, as autoras salientam a dificuldade de


pensar como adequar uma concepção de “promoção à saúde”
na própria formação do profissional da saúde. Mas o desafio está
colocado nessa direção. Uma nova abordagem entre profissional
da saúde e paciente é requerida a fim de superar o paradigma

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“biomédico” centrado na prescrição ou na correção de compor-


tamentos tidos como inadequados. Ao invés disso, visa-se com-
preender o paciente como ser social cujas manifestações clínicas
e interpretações delas referem-se a sua inserção sociocultural:
[...] A doença não é um conjunto de sintomas físicos universais
observados em uma realidade empírica, mas é um processo
subjetivo no qual a experiência corporal é mediada pela cul-
tura. Para exemplificar, poderíamos resgatar a dificuldade dos
serviços de saúde em organizarem programas de promoção e
prevenção de saúde para os homens, uma vez que, em geral,
para eles, a dor, o mal-estar, o sofrimento precisam ser minimi-
zados, sendo que qualquer cuidado pode representar fraqueza
[...] (BOEHS et al., 2007, p. 11).
O exemplo citado nos leva à questão de gênero, quando
observamos que, muitas vezes, as dificuldades dos homens de
cuidarem de sua saúde estão vinculadas a problemáticas cultu-
rais que demandam intervenções de políticas públicas, além de
atenção no trato com o paciente. Ao invés da culpabilização do
paciente ou alocação deste à esfera da ignorância, cabe ao pro-
fissional a habilidade de compreendê-lo como sujeito de deter-
minada cultura.
Recuperando o que foi discutido durante as unidades, ob-
servamos que a legitimação do saber médico que fundamentou
a consolidação do “modelo biomédico” criou uma cultura médi-
ca centrada na oposição entre este saber científico, tido como
neutro e objetivo, e o saber leigo pronto a ser disciplinado:
[...] Ainda hoje grande parte dos profissionais de saúde bem
intencionados trabalha com o conceito de cultura do início do
século XX, em que “o outro” (usuário/cliente) não sabe, ou não
possui algo. Em decorrência disso, faz-se necessário então de-
senvolver um processo educativo com a finalidade linear de
“corrigir” ou “superar” o conhecimento do outro. Isso dá a
ideia, ao nosso ver, de que “o outro” possui uma deficiência [...]
(BOEHS et al., 2007, p. 309-310).

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[...] Estudos vêm mostrando que os integrantes do sistema pro-


fissional, entre os quais os auxiliares e técnicos de enfermagem,
se assumem como autoridade da cultura profissional, sem mui-
ta ciência que isto também é cultura, vendo a cliente indígena,
a mulher agricultora ou a avó idosa e experiente no cuidado
da criança como exóticas e primitivas [...] (BOEHS et al, 2007,
p. 310).

Considerar o paciente como ser “integral”, levando em


conta sua subjetividade e não o reduzindo à objetividade da do-
ença, significa ter capacidade de ouvi-lo e compreendê-lo à luz
de sua inserção sociocultural:
[...] Os profissionais de saúde precisam desenvolver compe-
tência cultural para ouvir as narrativas dos clientes e evitar os
filtros dos esquemas de anamnese. Desenvolver a escuta quali-
ficada significa desenvolver a capacidade de ouvir as narrativas
e lembrar que a narração de um fato pode modificar a maneira
de encará-lo e agir sobre a situação. [...] (BOEHS et al., 2007,
p. 311).

A vivência da doença nunca diz respeito somente a as-


pectos biológicos. Antes, a doença pode ser interpretada como
experiência de vida. Em especial, quando abordamos as socie-
dades contemporâneas, marcadas pelo aumento expressivo das
doenças crônicas. As questões então envolvidas vão muito além
do que o resolver ou curar uma doença, pois lidam com questões
da existência:
[...] Vimos que os padrões de doença mudaram nas sociedades
modernas. Em vez de morrer de doenças agudas e infecciosas
como costumava acontecer, as pessoas nas sociedades indus-
trializadas agora vivem por mais tempo e sofrem mais tardia-
mente de doenças crônicas. A medicina é capaz de aliviar a dor
e o desconforto associados a algumas dessas condições, mas
um número cada vez maior de pessoas enfrenta a perspectiva
de conviver com uma doença por um longo período de tempo.
Os sociólogos estão preocupados em como a doença, em al-

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guns casos, incorpora-se à “biografia” pessoal do indivíduo [...]


(GIDDENS, 2005, p. 143).
[...] para o doente crônico ou incapacitado, as interações so-
ciais, que são rotina para muitos, se tornam arriscadas ou incer-
tas. Os entendimentos comuns de que os padrões instituídos de
interação diária nem sempre estão presentes, quando há o fa-
tor da doença ou da incapacidade, e as interpretações das situ-
ações triviais podem diferenciar substancialmente. Uma pessoa
doente pode precisar de assistência, mas não querer parecer
dependente, por exemplo. Um indivíduo pode sentir compai-
xão por alguém que teve uma doença diagnosticada, mas fi-
car inseguro se deve ou não se referir ao assunto diretamente.
O contexto modificado das interações sociais pode precipitar
transformações na identidade dos indivíduos [...] (GIDDENS,
2005, p. 144).

Giddens (2005) considera, portanto, os aspectos sociais e


culturais que permeiam a vivência da doença e que devem ser
observados pelo profissional da saúde. Um dos elementos so-
ciais relevantes é o estigma: “um estigma é qualquer caracterís-
tica que isola um indivíduo ou grupo da maioria da população,
fazendo com que o indivíduo ou grupo seja tratado com suspeita
ou hostilidade” (GIDDENS, 2005, p. 143).
Trata-se de um conceito e tema caro às reflexões do soci-
ólogo norte-americano Erving Goffman, o qual se empenha em
compreender as dinâmicas identitárias daqueles que são marca-
dos por atributos socialmente desqualificados. Um estigma re-
duz a pessoa a certos atributos em certas situações sociais. Para
esse sociólogo:
[...] Um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na
relação social quotidiana possui um traço que pode se impor à
atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possi-
bilidade de atenção para outros atributos seus [...] (GOFFMAN,
1988, p. 14).

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O indivíduo portador de doença, muitas vezes, carrega o


estigma de ser reduzido a sua doença. Dessa maneira, é alvo de
preconceitos e discriminações com os quais precisa aprender a
lidar. Trata-se, portanto, de um atributo social da doença que
deve ser levado em conta pelo profissional da saúde que obser-
ve a doença de forma mais ampla, além do modelo “biomédico”.
Tal visão pode dar condições ao paciente de lidar com questões
da vida prática relativas à doença.

As leituras indicadas no Tópico 3. 2. tratam dos aspectos


culturais que envolvem a doença. Neste momento, você deve
realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo, pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar).
Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no Botão “Vídeos” e selecione:
Sociologia Aplicada à Saúde – Vídeos Complementares – Complementar 4.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

114 © SOCIOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

3.1. POLÍTICA E SAÚDE: OS CONDICIONANTES SOCIAIS E A


IDEIA DE “PROMOÇÃO À SAÚDE”

Recuperando a temática desta unidade e revendo assun-


tos das unidades anteriores, estão indicados a seguir um vídeo e
dois textos que tratam dos aspectos sociais e das lutas políticas
que deram origem ao Sistema Único de Saúde. Além disso, são
abordados os aspectos teóricos que norteiam as práticas de um
sistema de saúde universal, bem como seus entraves e as espe-
cificidades no que tange à formação do profissional da saúde.
• BRASIL. Ministério da Saúde. História da Saúde Pú-
blica no Brasil: um século de luta pelo direito à saú-
de. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=SP8FJc7YTa0>. Acesso em: 18 set. 2014.
• SANTOS, D. L.; GERHARDT, T. E. Desigualdades sociais e
saúde no Brasil: produção científica no contexto do Sis-
tema Único de Saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem,
Porto Alegre, v. 29, n. 1, p. 129-136, mar. 2008. Disponí-
vel em: <http://www.ufrgs.br/pgdr/arquivos/663.pdf>.
Acesso em: 18 set. 2014.
• SILVA, K. L. et al. Formação do enfermeiro: desafios para
a promoção da saúde. Escola Anna Nery Revista de En-
fermagem, Rio de Janeiro, v. 14, p. 368-376, abr./jun.
2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ean/
v14n2/21.pdf>. Acesso em: 18 set. 2014.

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UNIDADE 4 – POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

3.2. A PERSPECTIVA BIOPSICOSSOCIAL

Os textos complementares deste tópico abordam os as-


pectos culturais que envolvem a doença, perpassando as espe-
cificidades da relação entre profissional de saúde e paciente e
a questão do estigma. Articulados à discussão sobre a relação
entre cultura e doença, voltaremos a nossa reflexão sobre a te-
mática dos povos indígenas do Brasil.
• ALMEIDA, A. M. et al. Construindo o significado da re-
corrência da doença: a experiência de mulheres com
câncer de mama. Revista Latino-Americana de Enfer-
magem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 5, p. 63-69, set./out.
2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/
v9n5/7800.pdf>. Acesso em: 18 set. 2014.
• BOEHS, A. E. et al. A interface necessária entre enferma-
gem, educação em saúde e o conceito de cultura. Tex-
to & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 16, n. 2, p.
307-314, abr./jun. 2007. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/tce/v16n2/a14v16n2.pdf/>. Acesso em:
18 set. 2014.
• COIMBRA JR., C. E. A.; SANTOS, R. V. Saúde, minorias
e desigualdade: algumas teias de inter-relações, com
ênfase nos povos indígenas no Brasil. Revista Ciência &
Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 125-132, 2000. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v5n1/7084.pdf>.
Acesso em: 18 set. 2014.

116 © SOCIOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Várias reflexões, disputas e deliberações programáticas foram
estabelecidas em torno da questão da saúde internacionalmente. Sobre
elas, pode-se afirmar:
a) A Declaração da Conferência Internacional Sobre os Cuidados de Saú-
de em Alma-Ata e a Carta de Ottawa não se consolidaram como refe-
rências de políticas públicas.
b) A consolidação do SUS nada teve a ver com as discussões e as confe-
rências internacionais.
c) Elas respaldaram estritamente o “modelo biomédico”.
d) Elas foram fundamentais para a consolidação de políticas públicas que
levavam em conta os condicionantes sociais da saúde e os aspectos
biopsicossociais da doença.

2) O Sistema Único de Saúde brasileiro:


a) foi resultado de mobilizações políticas amplas, abrangendo parte da
sociedade civil brasileira que se pautava na luta por “direito universal
à saúde”.
b) foi pensado para atender somente às parcelas desfavorecidas da
população.
c) não se baseava em pressupostos democráticos de participação popular.
d) consolidou-se plenamente, sem encontrar outros modelos de saúde
na sociedade e, assim, acabou com a estratificação do acesso à saúde.

3) Sobre o Sistema Único de Saúde, assinale a alternativa correta:


a) Constituiu-se como modelo adotado por toda a sociedade, a qual pas-
sou, desde a Constituição de 1988, a ser tratada com igualdade em
termos de bens e serviços de saúde.
b) Passou a fazer parte de um sistema dual de saúde, caracterizado pela
segmentação e responsável pela reestratificação social no acesso à
saúde.

© SOCIOLOGIA APLICADA À SAÚDE 117


UNIDADE 4 – POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

c) S uperou outros modelos de saúde baseados no consumo de tecnolo-


gias médicas e medicamentos, sustentados na ideia da busca individu-
al pela “saúde perfeita”.
d) Não representou nenhum avanço democrático ao país.

4) C
onsiderar a doença como algo não estritamente biológico, mas como
parte da experiência de vida do paciente, não diz respeito a:
a) Abordar os aspectos socioculturais do paciente e sua forma subjetiva
de lidar com a doença.
b) Aspecto fundamental da contemporaneidade, caracterizada pelo pre-
domínio de doenças crônicas.
c) Capacidades que precisam ser desenvolvidas pelos profissionais da
saúde no sentido de ouvir o paciente e compreendê-lo não como um
corpo doente, mas como uma subjetividade socialmente situada.
d) Desconsiderar os aspectos sociais da doença, seja no que tange às ati-
vidades diárias do paciente, bem como em sua interação com demais
pessoas, abrindo a possibilidade de ter que conviver com o estigma da
doença.

5) O estigma:
a) pode ser definido como uma marca social que altera a forma como
as pessoas veem certos indivíduos a partir de determinados atributos
que passam a predominar sobre suas outras características.
b) não precisa ser levado em conta pelo profissional da saúde, posto que
não é de sua competência.
c) envolve aspectos da doença que não remetem às relações sociais e aos
aspectos culturais de determinada sociedade.
d) nada se relaciona com a doença.

118 © SOCIOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas
propostas:

1) d.

2) a.

3) b.

4) d.

5) a.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o final desta unidade, encerramos o nosso estudo.
Buscamos nesta última unidade refletir sobre a história das po-
líticas, práticas e profissões relacionadas à saúde, não entendi-
da como linear e progressiva, mas em termos de evolução. Em
oposição a essa visão, procuramos recuperar o sentido político
que envolve pensar a saúde. Os conceitos de saúde e doença são
históricos e sociais, refletindo na maneira como se combatem ou
reforçam as desigualdades sociais.
Além disso, exploramos os aspectos culturais envolvidos
na relação entre profissional da saúde e paciente. Esses temas
são aprofundados no Conteúdo Digital Integrador que ampliará
seu conhecimento sobre o assunto.
Ao terminar esta unidade, reflita sobre tudo o que apren-
deu a respeito da Sociologia Aplicada à Saúde, quais as relações
entre os temas tratados nas unidades e como você, futuro pro-
fissional da saúde, pode levar para a prática o conhecimento
adquirido.

© SOCIOLOGIA APLICADA À SAÚDE 119


UNIDADE 4 – POLÍTICA, CULTURA E SAÚDE

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOEHS, A. E. et al. A interface necessária entre enfermagem, educação em saúde e o
conceito de cultura. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 307-
314, abr./jun. 2007.
COHN, A. Caminhos da reforma sanitária. Lua Nova, n. 19, p. 123-140, 1989.
GIDDENS, A. Sociologia do corpo: saúde, doença e envelhecimento. In: ______.
Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução
de Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1988.
HEIDMANN, I. et al. Promoção à saúde: trajetória histórica de suas concepções. Texto
& Contexto Enfermagem, Santa Catarina, v. 15, n. 2, p. 352-358, 2006.
JUNGES, J. R. Direito à saúde, biopoder e bioética. Interface – Comunicação, Saúde,
Educação, v. 13, n. 29, p. 285-295, abr./jun. 2009.
MENICUCCI, T. M. G. O Sistema Único de Saúde, 20 anos: balanço e perspectivas.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 7, p. 1620-1625, jul. 2009.
______. Público e privado na política de assistência à saúde no Brasil: atores, processos
e trajetória. 2003. 402 f. Tese (Doutorado em Ciências Humanas) – Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas, UFMG, Belo Horizonte, 2003.
SILVA, K. L. et al. Formação do enfermeiro: desafios para a promoção da saúde. Escola
Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 14, p. 368-376, abr./jun. 2010.

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