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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
GEOLOGIA DE MINAS E TÉCNICAS DE LAVRA À CÉU ABERTO
(GEOMINAS)

FECHAMENTO DE MINAS

Unidade 5

Estudos de Casos de Fechamento de Minas

Belém, Pará, janeiro de 2020


SUMÁRIO
Estudos de Casos de Fechamento de Minas ........................................................................................ 1
Unidade 5 - Estudos de Casos e Exemplos de Fechamento de Minas ............................................ 3
5.1. Exemplos nacionais de fechamento de minas .............................................................................. 3
5.2. Exemplos de Recuperação de Áreas Degradadas no Brasil ...................................................... 4
5.3. Exemplos Internacionais. .................................................................................................................. 7
5.4. Conclusões ........................................................................................................................................ 11
5.5. Bibliografia ......................................................................................................................................... 12

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Unidade 5 - Estudos de Casos e Exemplos de Fechamento de Minas

5.1. Exemplos nacionais de fechamento de minas

1) Mina de Serra do Navio: é uma mina exaurida de manganês, localizada no Estado


do Amapá, fechada em 1998. O complexo mineiro consistia de usina de
beneficiamento, e estrada de ferro. Esta última ligando o porto à mina, e às vilas
existentes no porto e na mina. O porto que se situa próximo à Capital de Amapá
está, atualmente em operação dando sustentação econômica à vila portuária. As
áreas mineradas e de depósito de rejeitos e estéril de mineração foram
reabilitadas e hoje integradas à floresta. O problema social é a vila da mina que
não tem, até o momento, alternativa econômica que lhe dê sustentabilidade
(SACAMOTO, 2001);
2) Bom Jesus da Serra (BA) – Exploração do amianto - Bom Jesus da Serra abrigou
a primeira mina de amianto do país, explorada, por 30 anos, pela Sociedade
Anônima Mineração de Amianto (Sama), hoje controlada pelo Grupo Eternit. A
exploração mineral deixou um passivo socioambiental de grandes proporções,
como uma grande cava com 4 km de extensão e 200 metros de altura, que, ao
longo do tempo, foi sendo preenchida com águas contaminadas do lençol freático
e das chuvas, formando um lago que permanece cheio o ano inteiro e é usado
pela população como área de lazer.
3) Mina de Riacho de Machado – Vale: A mina de ouro de Riacho dos Machados foi
desativada pela Vale em 1997, depois de oito anos de exploração, quando foram
retiradas quase cinco toneladas de ouro1. Situava-se em uma região semi-árida,
onde as atividades econômicas se concentram na agricultura de subsistência e
agropecuária. As atividades de mineração provocaram o êxodo rural, o
desenvolvimento urbano e o aumento da renda da população. Apesar das
medidas de reabilitação ambiental terem sido tomadas, o impacto social causado
resultou numa redução da população urbana, que migrou de volta às zonas rurais;
4) Mina de Cachoeirinha e Massagana: essas minas de cassiterita foram fechadas
em 1989, localizadas no Estado de Rondônia. Devido às alternativas econômicas
da região e boa infra-estrutura das vilas das áreas de mineração, parte das casas
foi vendida para a população do entorno.
5) Mina da Passagem: mina subterrânea de ouro, explotada de 1719 a 1996,
localizada no Estado de Minas Gerais. Transformou-se numa atração turística,
onde são realizadas visitas às instalações de subsolo. A usina de beneficiamento
foi transformada em museu. Atualmente as visitas a essa mina foram suspensas
devido a problemas técnicos.
6) Boquira e Santo Amaro (BA) – Exploração de chumbo - No município de Boquira,
a disposição dos rejeitos da lavra de minério de chumbo, desenvolvida ao longo
de mais de três décadas, não se encontra dentro de parâmetros ambientais
aceitáveis, colocando em risco os mananciais e solos após o rompimento de uma
antiga barragem de contenção. Já a população de Santo Amaro, no Recôncavo
Baiano, ainda sofre as consequências da poluição e da contaminação pelo
1
Site Minas em Pauta, disponível em < minasempauta3.wordpress.com>.

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chumbo e cádmio em nível endêmico. Entre 1960 e 1993, a Plumbum Mineração
e Metalurgia Ltda produziu e comercializou no local cerca de 900 mil toneladas de
chumbo, gerando um passivo ambiental de milhões de toneladas de rejeito e cerca
de 500 mil toneladas de escória contaminada com metais pesados.

5.2. Exemplos de Recuperação de Áreas Degradadas no Brasil2

i) Parque das Mangabeiras – Belo Horizonte, Minas Gerais

O Parque das Mangabeiras é a maior área verde da cidade de Belo Horizonte, com 337
hectares de área de preservação ambiental. Porém nem sempre essa área foi protegida,
no início da década de sessenta instalou-se ali a FERRO BELO HORIZONTE S/A
(FERROBEL), empresa mineradora municipal, que explorava minério de ferro no Parque.
A FERROBEL ocupava os espaços onde hoje situam-se o estacionamento Sul, Praça de
Eventos e Praça das Águas. Ainda hoje existe um britador na Praça de Eventos,
construído nesta ocasião.

Em 1966, foi criado o Parque das Mangabeiras, com finalidade de se preservar a reserva
florestal e dotá-la de área de recreação para a cidade. O projeto paisagístico do Parque
foi elaborado por Roberto Burle Marx e sua equipe. O Parque foi inaugurado em maio de
1982, sendo um local de preservação e pesquisa ambiental aberto ao público. O espaço
é habitado por mais de uma centena e meia de espécies de aves. A mata é composta
por diversas amostras da vegetação do cerrado, fazendo parte da Serra do Curral. A
paisagem verde está localizada a mais de mil metros de altura, em um dos pontos mais
altos de Belo Horizonte. O local conta com estrutura para lazer e esportes, além de
recantos naturais, quadras de peteca, tênis e poliesportivas, brinquedos e atividades
culturais.

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Site Revista Techoje, disponível em: <http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/957>.

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Vista da Praça das Águas e Plano geral do Parque das Mangabeiras

Fontes: http://bh40graus.files.wordpress.com e

www.pbh.gov.br/mangabeiras/natureza/hidro.htm

ii) Parque das Pedreiras – Curitiba, Paraná.

A cidade de Curitiba possui 26 parques, apresentando um total de aproximadamente 81


milhões de metros quadrados de área verde preservada. São 55 metros quadrados de
área verde por habitante, três vezes superior ao índice recomendado pela Organização

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Mundial de Saúde, de 16 metros quadrados. O Parque das Pedreiras se destaca por ter
sido uma pedreira, a João Grava, que em 1992 foi revertida em parque.

O Parque das Pedreiras é também um centro cultural envolvido por lagos, cascatas e
mata de araucárias. Onde a arte humana encontra-se em harmonia com a arte da
natureza, formando uma paisagem singular. Lá estão a Ópera de Arame e o Espaço
Cultural Paulo Leminski.

A Ópera de Arame é um teatro com capacidade para 2.400 espectadores, construído em


estrutura tubular e teto transparente. A Pedreira Paulo Leminski inclui um palco ao ar
livre, que pode abrigar grandes apresentações, e o Espaço Cultural Paulo Leminski,
apresenta as obras, fotos e histórias do poeta e intelectual.

Vista do Parque das Pedreiras e da Ópera de Arame.

Fonte: www.pbh.gov.br/mangabeiras/natureza/hidro.htm

O fechamento da mina deve ser planejado não só visando a economia, mas também
para planejar qual será o futuro uso da área de mineração e da infraestrutura por ela
criada. Existe locais onde a mineração adquiriu caráter histórico, fazendo parte da
formação do local. Nesses casos deve-se buscar não apagar essa memória, más sim
associá-la a novos usos e atividades. Nas áreas de mineração recente a infraestrutura
da mina deve ser utilizada por novas atividades. Em alguns casos a área da mina pode
ser aproveitada como terreno para a expansão da cidade ou ainda para a construção de
um equipamento necessário a cidade.

O principal aspecto a ser desenvolvido na mineração é a sustentabilidade ambiental e


econômica. Dessa maneira a atividade que ainda hoje é vista como predatória, passará
a ter seu real valor reconhecido.

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5.3. Exemplos Internacionais.

I) Portugal – Estádio Municipal de Braga

Um bom exemplo de destinação futura da área minerada, foi o aproveitamento de espaço


vinculado à necessidade local da cidade de Braga em Portugal, é o Estádio Municipal de
Braga.

Para a realização dos jogos da Euro 2004, a cidade necessitava de um novo estádio. O
terreno escolhido era o de uma antiga pedreira desativada, próximo ao centro, na
encosta Norte do Monte Castro, no Parque Desportivo de Dume. O estádio foi construído
em meio à rocha e sua estrutura é apoiada no granito em estado bruto. Devido a sua
localização e integração com o entorno, ele também é conhecido como “A Pedreira”.

O projeto é do arquiteto Eduardo Souto de Moura, segundo ele, o estádio deveria ser
uma escultura integrada à paisagem, onde o espetáculo não é apenas o futebol, mas
também, a paisagem que o rodeia. O projeto foi realizado para ser como um anfiteatro
romano, dando ao espectador os melhores ângulos de visão da partida e do entorno. O
projeto do estádio recebeu diversos prêmios, dentre eles, o FAD de Arquitetura 2005 e
o Prêmio Secil de Arquitetura 2004.

Vista aérea Estádio do Braga

Fonte: www.stadiumguide.com

ii) Ópera de Dalhalla - Suécia

Dalhalla, na Suécia, é uma área de formação geológica rara, há mais de 350 milhões de
anos foi atingida por um meteorito, resultando em uma depressão onde se encontra o

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lago Siljan. Em 1940 foi implantada uma pedreira de calcário, que teve sua exploração
encerrada em 1991, deixando ali uma enorme cratera, sem um uso previsto.

No mesmo ano, o local foi visitado por uma cantora de ópera, Margareta Dellefors, que
procurava um local para realização de concertos ao ar livre na Suécia. A acústica do
local se mostrou perfeita, com 400m de comprimento por 175m de largura e 60m de
profundidade, configurava um anfiteatro natural. Em pouco tempo se iniciou as obras e
em 1994 foi realizado o primeiro concerto. O anfiteatro tem 4.000 assentos, sedia um
festival de ópera durante o verão, além de ter constantes apresentações teatrais e
consertos.

A Ópera de Dalhalla é um espaço singular, em meio a um bosque que se abre em uma


impressionante cratera, com um lago de água verde junto ao palco. O empreendimento
trouxe vitalidade para indústria turística, atraindo 100.000 visitantes por ano.

Vistas ópera de Dalhalla.

Fonte: www.dalhalla.se

iii) Projeto Eden

O Projeto Eden pode ser descrito como um jardim global e é considerado a maior estufa
do mundo. Situado em Cornalles, na Igleterra, foi implantado em uma antiga área de
exploração de caulim, que funcionou por 170 anos. O encerramento das atividades
mineiras e a diminuição da indústria primária afetaram a economia local.

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O idealizador do projeto é Tim Smith, que em 1994, teve a idéia de criar um espaço onde
poderiam ser vistas todas as flores do mundo. A escolha do terreno da antiga mina, além
de revitalizar a área, apresentava características importantes para o projeto, como estar
voltado para o Sul e possuir diferentes visadas para o mar. O terreno, com 50 hectares
a 60 metros de profundidade, apresentava altas declividades que foram suavizadas com
grande movimentação de terras. O solo estava inapropriado para o plantio, para reverter
essa situação, foram criados 85.000 toneladas de solo, composto de barro, areia,
minerais e matéria orgânica.

Todo o projeto segue os princípios da sustentabilidade, com aproveitamento das águas


da chuva, produção de energia solar e todo o plantio foi feito a partir de sementes ou
mudas que procedem de jardins botânicos, sem a retirada de espécies do meio natural.

Área da mina antes da implantação do Projeto Éden.

Fonte: www.cornwall-calling.co.uk/eden/

Área da mina depois da implantação do Projeto Éden.

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Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/

O projeto Edén é uma das maiores atrações da Inglaterra, com suas estufas que cobrem
uma área aproximada de 23.000m2, abrigando inúmeras espécies vegetais provenientes
da Amazônia, África, Malásia, USA, do Mediterrâneo, Chile, Himalaia e Austrália,
distribuídas em dois espaços climatizados, criando respectivamente as atmosferas
Úmida Tropical - representando um ambiente de floresta tropical e Morno Temperado -
simulando condições mediterrâneas. A maior das cúpulas tem 100m de diâmetro e 45m
de altura. O módulo hexagonal é capaz de variações adaptáveis na topografia do terreno.

Vista aérea do Projeto Eden

As experiências estudadas mostram que problemas oriundos da mineração ou da


indústria em grande escala podem ser revertidos em possibilidades de desenvolvimento
para o local. Todas as propostas, além de revitalizar as áreas geraram novas atividades
econômicas, que em sua maioria valorizam o turismo. As especificidades de cada local
foram valorizadas e divulgadas, promovendo o local.

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5.4. Conclusões

A atividade mineira representa um grande potencial de desenvolvimento para os


territórios onde estas se implantam, desde que esta seja planejada. São inúmeros os
aproveitamentos sociais e ambientais possíveis para a área de uma mina desativada. O
fechamento de minas não deve considerar apenas os aspectos físicos e minerais. Deve-
se levar em conta as comunidades e o uso futuro da área minerada, pois na maioria dos
casos, principalmente na Amazônia, a atividade econômica ocorre em torno da atividade
mineral.

Conforme já estudado, a preocupação com o fechamento de minas deve ocorrer antes


da abertura da mina e devem ser considerados todas as medidas de recuperação da
área, a recolocação da mão-de-obra no mercado de trabalho, e o futuro da economia
local, além de outras variantes. Assim, este é um processo que exige um planejamento
de longo prazo, com muitos detalhamentos e onde deve-se tratar de maneira conjugada
os aspectos econômicos, sociais e ambientais para construir um futuro sustentável para
a mineração.

O maior desafio ainda é criar mecanismos eficazes para participação da população, que
deve conceder a licença social e poder para decidir como será o uso futuro da área. As
empresas devem seguir padrões éticos que requer mudança cultural de suas
organizações e compromisso com as populações afetadas.

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5.5. Bibliografia

VIEIRA, Camila. Fechamento de Mina: a evolução das cidades mineradoras. Revista


Techoje, uma revista de opinião. Disponível no site:
<http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/957>.

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. PORMIN – Portal de Apoio ao Pequeno Produtor


Mineral. Recuperação de Áreas Degradadas e Fechamento de Minas.
http://www.pormin.gov.br/biblioteca/arquivo/recuperacao_areas_degradadas_e_fecham
ento_minas.pdf.

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