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2º Ciclo Lunar do Clã das Matriarcas

Resumo: Carla Marques Revisão: Giselle Dupin

A Guardiã da Memória Planetária: É Aquela que tece a habilidade de “honrar a


Verdade”, e esse talento se aplica para o caminho do autoconhecimento e do
autodesenvolvimento pessoal. Ela nos lembra de que tudo o que aconteceu no nosso
planeta está armazenado na biblioteca do Povo-Pedra1 e que para acessar essa
sabedoria é preciso ouvir as vozes da Tribo-Rocha. Esta Mãe de Clã aprendeu muitas
lições com outros seres vivos. Com o Porco, ela aprendeu a medicina de usar o intelecto
e a razoabilidade; com o Rato, atentou-se aos detalhes e evitou a sobrecarga,
completando uma tarefa por vez; com o Esquilo, aprendeu a respeitar as menores partes
da natureza, a igualdade entre todos os seres e seus pontos de vista; com a

Rolinha, aprendeu nutrir os sonhos de paz e encontrá-la dentro de si mesma.

Atributos: Sabedoria. Resgate da memória. Cristais2. Mãe da amizade. Irmandade e


Sororidade.
Período: 2ª Lunação - Fevereiro
Cor: Cinza, que representa a amizade.
Oração: Oh Guardiã do conhecimento ancestral,
Sussurre sua sabedoria para mim,
Que eu possa sempre lembrar
Do Mistério Sagrado da Vida.

As histórias das Anciãs,


Bravas ações, grandes e pequenas,
O progresso do Fiel,
Que responde ao chamado da nossa Mãe.

Os ciclos e as estações
Que marca todas nossas mudanças,
O renascimento das nossas visões,
O espírito que nós recuperamos.
Aqui a verdade é a vitória
Da batalha que lidamos dentro,
Trazendo a todo coração humano
A celebração no fim.

SEGUINDO A TRILHA DA SABEDORIA: A Guardiã da Sabedoria caminhava pela floresta


de Juníperus3, Cedros e Pinheiros. A floresta ganhava ares encantados com a luz do Avó
Sol dançando pelos monolitos rodeados pela grande formação rochosa em tons telha,
laranja e vermelho. O cenário era emoldurado por um céu de azul pálido a lilás. Era a

1 Povo-Pedra – é um termo originário do xamanismo, cuja filosofia dos povos originários do


planeta, em especial da Sibéria, se relaciona com todos os elementos da natureza. Xamanismo vem de
saman que significa aquele que ouve o espírito. O Povo Pedra e a Tribo Rocha testemunharam todas as
fases de evolução do nosso Planeta e todos que aqui habitam. Em total generosidade e harmonia com o
Todo, o Povo Pedra permitiu que todas as informações fossem armazenadas em seus corpos. Sugiro que
ouçam a música de Orestes Grokar, da Nação Tutumbaiê: “Eu chamo a força” para que se possa sentir a
dimensão dos elementos e, em especial, das Pedras que ancoram a chegada de todos os outros elementos.
Os Cherokees ensinam que o Povo Pedra guarda energia para a Mãe Terra e detém, num determinado
lugar, os registros específicos de tudo aquilo que aconteceu. O Povo-Pedra e o Povo-em-Pé equilibram-se
uns aos outros, dando e recebendo, preenchendo as sua necessidades mútuas. (Jamie Sams, Cartas do
Caminho Sagrado).

2 Cristais – Entre os cristais, os de quartzo oferecem os dados forjados e guardados na sua


estrutura, disponíveis àqueles que se predispõem a aprender a ouvir sua linguagem. (Mirella Faur, Círculos
Sagrados para mulheres contemporâneas).

3 Juníperus são coníferas encontradas predominantemente em florestas boreais (norte do Canadá,


Europa e Rússia). O inverno é a estação predominante deste tipo de florestas, em que a neve está presente
inclusive no verão, pois as temperaturas atingem -50ºC. No Brasil, a Araucária angustifólia é um tipo de
conífera típica da Mata Atlântica.
época em que o cobertor de neve cobria o solo de Pachamama. Na serenidade matinal,
a Matriarca se dirigia a uma caverna chamada Canyon do Tempo, próxima à bifurcação
da trilha, e avistou uma Pessoa-Pedra sentada à sombra de um Pinheiro Gigante
denominada Ponderosa. Sua superfície lisa em formato de mesa acomodava
carinhosamente um floco de neve, cuja perfeição parecia flutuar.

Quando a Guardiã da Sabedoria se aproximou do floco de neve, elogiando a sua beleza


invernal, surpreendeu-se ao receber uma resposta dele: “Grande Mãe, me chame de
Teia-de-Gelo1. Cada ser vivo tem sonhos e desejos que estão em acordo com o equilíbrio

1 Teia-de-Gelo explicou que quando a Avó Aranha teceu a teia da criação, ela criou o floco de neve para
representar a teia dos sonhos que poderia viajar desde o Tempo dos Sonhos até Pachamama,
transformando vivências em experiências físicas. No livro “Cartas Xamânicas”, Jamie explica que a Aranha
simboliza as infinitas possibilidades da criação. Suas oito patas representam os quatro ventos da mudança
e as Quatro Direções da Roda da Cura, e seu corpo tem o desenho do número oito com duas formas ovais
interligadas pela cintura. A Aranha é a manifestação da energia feminina da força criadora que tece os
belos desenhos da vida, e sua teia possui centenas de intrincados padrões que capturam a luz do alvorecer.
da Natureza e, quando combinados, todos os sonhos e desejos constituem as
necessidades dos Filhos da Terra. A tribo dos flocos de neve é mensageira dessas
necessidades, pois nossos corpos carregam individualmente cada sonho, e ao sermos
aquecidos pelo Avô-Sol nossos corpos se transformam em água que escorre ao solo,
permitindo que Pachamama capte os sonhos mais profundos de seus filhos.” Teia-
deGelo e a Matriarca estavam em perfeita sintonia, quando ele concluiu, como que
lendo os pensamentos dela: “Agora você entende a importância da tribo dos flocos de
neve!”

A Matriarca sorriu, pois começara a entender que cada membro daquele clã refletia o
ponto de vista de cada um dos filhos da Terra, e pediu que Teia-de-Gelo a ajudasse a
acessar seus desejos, sonhos e memórias, para que pudesse abrir mão de seu passado
com alegria, ficando pronta para encarar o futuro. O floco de neve concordou e revelou
à Matriarca que para completar sua missão de Guardiã da História terrena, ela precisava
iniciar uma jornada nas cavernas do tempo que serviria como rito de passagem a ser
coroado com a medicina da memória planetária. Ao se preparar para entrar nas
cavernas, ela seguiu a sugestão de Teia-de-Gelo de tomar o tempo necessário para se
preparar. Ela notou que os raios do Avô-Sol iluminavam os padrões de seu corpo
humano, o mesmo que em minutos iria reunir os sentimentos mais profundos do seu
coração aos padrões congelados dos flocos de neve que, por sua vez, derreteriam,
entregando o conteúdo a uma Pessoa-Pedra e depois ao solo de Pachamama. Assim,
Aquela mãe de Clã despediu-se de Teia-de-Gelo e foi caminhando em direção à entrada.

Ela caminhou respeitosamente, dando graças ao Povo-em-Pé2 e visualizando a paisagem


maravilhosa ao seu redor. Na entrada da primeira Caverna a Matriarca ofereceu um
punhadinho de grãos de milho ao solo, reverenciando o Espírito dos Guardiões das
Cavernas Sagradas, ao mesmo tempo em que pedia autorização para entrar. O sinal
positivo veio com uma brisa suave que tocou seu rosto. Ela deu alguns

passos e se viu diante das sete cavernas que representavam as sete Direções Sagradas:
Leste, Sul, Oeste, Norte, Acima, Abaixo e Dentro. Ela reverenciou o Pai-Céu, cantando
de joelhos por estar prestes a finalizar o Rito de Passagem. Finalizou em gratidão
silenciosa e as suas memórias foram trazendo as experiências mais relevantes do seu
corpo humano. A Matriarca lembrou de ensinamentos do Porco, por meio de sua
Medicina do intelecto e do raciocínio, depois veio a lembrança da Medicina do Rato6
que lhe ensinava como prestar atenção aos detalhes e escolher completar uma tarefa
por vez. O Esquilo3 veio à sua memória com o ensinamento de ver os paralelos no mundo

2 Povo-em-Pé – Os seres do Povo-em-Pé, as árvores, também são nossos Irmãos e Irmãs. Eles são os
Chefes do reino das plantas. Fornecem oxigênio ao resto dos filhos da Terra. Através de seus troncos e
seus galhos, as árvores dão abrigo aos seres que têm asas e suas raízes fornecem asilo às pequenas
criaturas de quatro patas que vivem abaixo do solo. (Jamie Sams, As cartas do Caminho Sagrado. O
Povo-em-pé representa raízes e doação.
3 O Esquilo traz o ensinamento sobre o armazenamento no inverno, quando todas as árvores estarão nuas

e as nozes já terão desparecido há tempos. O ensino pode lhe ensinar a poupar e armazenar para futuros
natural e nas ideias das pessoas, mostrando o quão válido é cada ponto de vista. A sua
memória trouxe a Turtle Dove com o ensinamento de alimentar os sonhos de paz,
lembrando novamente à Matriarca como encontrar a paz em si mesma. Assim, cada
Totem ofereceu sua medicina para que a Guardiã da Sabedoria internalizasse aquelas
informações antes de adentrar a primeira caverna. Um folha seca carregada pelo vento
foi o sinal de autorização para que a grande mãe seguisse sua busca. Depois de uma
profunda respiração que encheu seus pulmões de ar e sua alma de maná, ela encontrou
o silêncio necessário para entrar na primeira caverna.

1ª caverna:
Pachamama: Guardiã da Sabedoria, você está na Caverna do Leste. A busca pelo seu
lado masculino ganha aqui iluminação necessária para que você possa receber a
habilidade de ser a Protetora das Tradições Sagradas, entendeu?
Guardiã da Sabedoria: Pacha, eu tenho buscado a Verdade em tudo que vive e agora
entendo que todas as Tradições Sagradas são criadas quando as buscas individuais
encontram a maneira de reconectar-se ao amor do Grande Mistério4. Entendo que meu
papel de proteger as Tradições Sagradas passa pela tarefa de ensinar os seres humanos
a se redescobrirem individualmente e a se reconectarem ao Grande Mistério. A Orenda
do filho da Terra é a luz que o guia. E a verdadeira iluminação é encontrada quando
honramos cada pessoa com suas verdades pessoais, seguindo a voz de sua Essência
Espiritual. Aprendi que as Tradições Sagradas podem ser preservadas, ignorando a
rigidez das regras humanas que querem outros líderes que não a voz da

6 O Rato ensina a minúcia. É bom ver as coisas de perto e prestar atenção aos detalhes, mas é nefasto
ruminar em excesso e reduzir tudo a pedaços. As pessoas do totem do Rato costumam ser alvo da irritação
de membros de outros totens, porque estes acham que aqueles costumam se perder em detalhes sem
importância. Os Anciões nos advertem que, sem as pessoas do totem do Rato, não haveria sistematização
do conhecimento. Foi o Rato quem extinguiu o homem renascentista e inaugurou a era da especialização.
O rato sempre soube que há muito mais para aprender, e que é sempre possível cavar mais fundo. (Jamie
Sams & David Carson em Cartas Xamânicas).

verdade interna ou de sua própria Orenda. Com isso, a passagem para a segunda caverna
se iluminou.

2ª caverna:
Pachamama: Filha do meu espírito, esta é a Caverna do Sul. O que você aprendeu que
pode confiar?

tempos difíceis. O que você pode ter que reservar para uso futuro tanto pode ser um juízo de valor, uma
opinião pessoal, como mantimentos ou dinheiro. (Jamie Sams & David Carson em Cartas Xamânicas).

4 O Grande Mistério é a fonte original da Criação, também chamada de Swenio, na língua Seneca.
Muitos Nativos invocam também o Grande Espírito quando estão rezando. Porém, dentro da nossa
tradição Seneca, fazemos uma diferença entre os dois. O Grande Mistério vive em Tudo, é Tudo e
engloba Tudo na Criação. Sendo a Fonte Original da Criação, o Grande Mistério criou todas as coisas em
beleza, harmonia e interdependência. Cada faceta da Criação Foi, É e sempre Será. As formas externas
podem até mudar, mas a energia da Criação é auto-regenerativa.
Guardiã da Sabedoria: Aprendi que posso confiar na minha verdade interna. Aprendi
que toda sabedoria, ensinamentos e história vem da Verdade contida em todos os
pontos de vista sagrados da vida natural. Também aprendi que na inocência e na
humildade existem grande poder que transcende a importância de si mesmo. Encontrei
na fé e na confiança dons do perdão e por meio do perdão a tribo humana reivindica a
beleza da sabedoria da infância.
Ao final dessa fala, a passagem para a terceira caverna ficou visível e a Matriarca entrou.

3ª caverna:
Pachamama: O que você descobriu sobre as lições da Caverna do Oeste que se aplicam
à Tribo Humana, minha filha?
Guardiã da Sabedoria: Pacha, percebi que o futuro depende do princípio feminino de
todas as coisas porque todas as coisas são nascidas de uma mulher. Aprendi que é
preciso sustentar as sementes do conhecimento no útero até que elas estejam prontas
para serem compartilhadas, e honro meu corpo feminino, compartilhando o prazer
sexual apenas com aqueles que o respeitam inteiramente. Entendi também que o Oeste
é lugar da escuridão, onde não há medo do desconhecido, pois é como retornar a
cumbuca da medicina – útero da Mãe de todas as coisas. E, assim como antes, a fala da
Matriarca foi a senha para iluminar o caminho para a quarta caverna.

4ª caverna:
Pachamama: Conte-me qual sabedoria a Caverna do Norte te trouxe, minha pequena?
Guardiã da Sabedoria: O Norte é o lugar da Cura e da Gratidão. Descobri a gratidão por
todas as oportunidades de crescimento, inclusive aquelas difíceis que me ensinaram
sabedoria. Acolhi que a cura deve vir da atitude correta e aprendi a ser profundamente
grata por tudo.

5ª caverna:
Assim, o novo caminho se abriu para a quinta caverna onde apareceu o petroglifo de
uma baleia cobrindo toda a parede da caverna.
Pachamama: Esta é a Caverna da Direção Acima, filha. Quais os saberes estão guardados
aqui?
Guardiã da Sabedoria: Pacha, descobri que os espíritos descem à Terra vindos da Nação
do Céu, viajando pelo Espírito do Mundo como estrelas cadentes. A fogo dos nossos
corações é a Eterna chama do Amor com sua essência ardente que um dia retornará
para a Cumbuca da Medicina das Estrelas. Se honrarmos os talentos e habilidades que
nos foram dados, desenvolvendo-os integralmente, estaremos completando nosso
destino. O canto da Baleia é a Medicina que vem da Estrela-do-Cachorro, recordando os
humanos de seus talentos e de usá-los para redescobrir a integralidade do destino que
seus espíritos carregam.
Com o silêncio, a passagem para a sexta caverna fica visível e a Guardiã da Sabedoria
segue.

6ª caverna:
Pachamama: Esta é a Caverna da Direção Abaixo, filha. Quais os saberes estão
guardados aqui?
A Guardiã da Sabedoria notou as presas de marfim de um grande mamute peludo do
lado direito da caverna. Sorrindo internamente, respondeu: a Direção Sagrada do Abaixo
conclama tudo o que foi aprendido na caminhada terrestre. Assim como o Mamute, a
arte de relembrar é uma forte Medicina. Nada é perdido se os humanos considerarem a
informação. Os sistemas de conhecimento são fundados na experiência, e não em
crenças. As informações e experiências coletadas são sagradas. Repetir essa sabedoria
para as gerações seguintes assegura que ela viverá para sempre.
Assim, a última passagem se iluminou e a Matriarca ingressou na sétima caverna.

7ª caverna:
Pachamama: Esta é a Caverna final que corresponde à Direção Dentro. O que você
aprendeu sobre a vida que te habita, minha filha?
Guardiã da Sabedoria: Na Direção Sagrada do Dentro, senti a presença do Lince (meu
Totem) que representa o conhecedor de segredos. Pacha, aprendi a reconhecer minha
sabedoria interna como uma jóia rara que somente será compartilhada quando for
necessária. Aprendi também que não existem segredos no Universo, pois as respostas
moram no Dentro e quando olhamos para nosso interior podemos encontrá-las por
meio da Eterna Chama do Amor.

Pachamama: você aprendeu muitas coisas, minha filha. Ao seguir a trilha da sabedoria
aprendeu a reconhecer a voz de sua Orenda como seu guia constante e que tudo leva
ao Interior (Dentro). E descobriu porque essas cavernas existem sobre o Canyon do
Tempo?
Guardiã da Sabedoria: Sim, Mãe-Terra. Eu entendi que todos os seres humanos devem
acumular sabedoria através do tempo para marcar os ciclos e as estações de
crescimento e mudança do mundo tangível. O grande Mistério nos deu o dom do tempo
para que nossas passagens e aprendizados pudessem ser integralmente experienciados.

Assim, Pachamama abençoou a Matriarca por perceber que o Canyon do Tempo detém
a sabedoria que atravessa as estações e pode ser sempre acessada por nossas próprias
Orendas. A Matriarca saiu da Caverna percebendo que o Avô-Sol a recebia com luzes de
um novo amanhecer, marcando a continuidade de sua jornada entre os Duas-Pernas, a
quem a Mãe de Clã veio servir. A Guardiã da Sabedoria beijou o solo em gratidão a
Pachamama, por ter lhe mostrado que a estrada da sabedoria somente poderia ser
trilhada pela experiência – tentativa e erro. Assim, a Matriarca ganhou o direito de ser
reconhecida como a Protetora do Caminho da Sabedoria.

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