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NEUROCIÊNCIAS, YOGA E EDUCAÇÃO

NEUROSCIENCIS, EDUCATION, YOGA


Simone Piagentini, graduada em Pedagogia pela Universidade São Judas Tadeu, 1998; pós-
graduada em Yoga pela UniFMU, 2005; pós-graduanda em Educação e Neurociências pela
Faculdades Integradas Campos Salles - FICS, 2017. Professora de Yoga desde 2004;
professora polivalente na PMSP desde 2016. E-mail: simonepiagentini@hotmail.com

Edson Antonio Ortiz de Camargo. Mestre em Filosofia pela Faculdade São Judas e Graduado
em Filosofia pela USP Universidade de São Paulo. Atua como professor das Faculdades
Integradas Campos Salles e Governo do Estado de São Paulo. E-mail
ortizedson858@gmail.com

RESUMO

Este estudo relaciona as pesquisas em educação, neurociências e Yoga, mostrando a


contribuição de suas aplicações em todos os níveis de educação, principalmente no ensino
fundamental e de jovens e adultos em EJA. Tem por objetivo contribuir com a prática docente
holística, visto que, as elucidações trazidas à educação pelas neurociências e psicomotricidade
são fatores determinantes para inclusão e criação de estratégias eficazes para o sistema de
ensino, colocando a emoção como fator preponderante para bons resultados de aprendizagem.
Pela observação de praticantes de Yoga, de escolas públicas e privadas, através de práticas
lúdicas e prazerosas, podemos perceber a contribuição dessa prática aos estudantes de todas as
idades, favorecendo uma educação humanizada, integral e integradora, fundamental para os
dias atuais.
Palavras-chave: neurociências, educação, Yoga, aprendizagem, cognição

ABSTRACT

This research relates the searches in education, neuroscience and Yoga, showing its
contributions at all levels of education. The results may be seen particular in people in
elementary school education, being children or adult education in EJA. It aims to contribute to
the holistic method of education, since the study of psychomotor skills and neuroscience
brought light to the study of education methods. Within this techinique, emotional factors
would be of most importance to achieving good educational results. Through the use of Yoga
in education, it is possible to see growth in students of public and private schools, and of all
ages. The result of this application is a more humanized, hole and an integrated type of
education, which is essential for our society nowadays.
Keywords: neurosciencis, education, Yoga, learning, cognitive

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1.INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta dificuldades no âmbito educacional. O currículo, muitas vezes não


contempla as atividades físicas e psicomotoras que, de modo geral, são vistas como
secundárias; fator esse que não favorece o processo de ensino-aprendizagem.
A experiência obtida em Yoga, desde 2004, em grupos de diferentes condições sociais
e idades, em projetos da Subprefeitura da Vila Prudente, no CDC Jardim Itália e, também com
aulas em espaço particular, foi possível perceber as grandes contribuições do Yoga para todos
os praticantes.
As crianças, em idade escolar, mostraram melhor capacidade de concentração, maior
destreza no processo geral de aprendizagem, melhor comportamento, mais facilidade na
resolução de problemas, menos agressividade, melhor interação social e autoestima. Alguns
adultos, apenas com alfabetização funcional, sentiram-se encorajados a voltar aos estudos e
dar continuidade a sonhos adormecidos em virtude das condições vividas antes do Yoga.
Educar pelo Yoga, técnica milenar, pode trazer benefícios aos dias atuais. Essa prática
traz valores, equilíbrio físico-mental e autocontrole às pessoas, através de movimentos
conscientes do corpo, mente e controle da respiração, influenciando diretamente no processo
de aprendizagem.
O Yoga considera a educação em sua totalidade; influencia no alívio de tensões da
vida familiar/escolar, alivia a carência afetiva e previne doenças, principalmente as de ordem
respiratórias.
Através da similaridade das pesquisas e conhecimentos elucidados pela
psicomotricidade, é possível notar que as práticas são realizadas, geralmente em grupo, de
modo prazeroso e desafiador. Deste modo, são acionados os „disparos‟ das células neurais,
promovendo a interação de todos, constituindo assim, parte integradora do processo de
aprendizagem.
O corpo, observado como unidade e totalidade do ser, é seu instrumento de uso, logo é
preciso educá-lo, aperfeiçoá-lo, dominá-lo, controlá-lo e, pela descontração e respiração é
possível encontrar a tranquilidade do espírito (MENDONÇA, 2007).
Desta forma, o objetivo deste trabalho é relacionar neurociências, educação e Yoga e,
verificar os benefícios do Yoga aos estudantes em todas as etapas da aprendizagem,
principalmente, no ensino fundamental. Pesquisas mostram que aprender é interagir com o
ambiente, usufruindo da plasticidade neural em todas as fases da vida.

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Para tanto, foram utilizadas pesquisas bibliográficas de abordagem qualitativa, por
meio de consultas na base de dados da Scielo e Google Acadêmico no período de 1996 a
2017, com os descritores: Yoga, cognição, aprendizagem, emoção, neurociências e indicações
de estudos do Instituto Alana. Além disso, foram utilizados capítulos de livros de autores de
referência no tema: Cosensa e Guerra; Danucalov; Firmino; Fonseca; Gharote;
Kwalayananda; Ramancharia, Rotta, entre outros.

2. DEFINIÇÃO DE YOGA

Yoga, significa „união‟, é uma prática milenar que visa o equilíbrio entre corpo, mente
e emoções, e seus ensinamentos promovem em seus participantes benefícios de ordem
motora, física, cognitiva, mental, emocional e social. Com isso, muitas escolas ao redor do
mundo, vem optando por sua implementação, a fim de, potencializar o desenvolvimento e
crescimento dos alunos de modo integral e duradouro (ROTTA; FILHO; BRIDI, 2016)
Essa prática milenar não é religião, é um conhecimento holístico voltado para mente e
corpo, cujas técnicas vêm sendo pesquisadas nas universidades, com o intuito de comprovar
melhora na saúde e dia a dia do praticante. É uma prática eficaz para controle do estresse,
ansiedade, depressão, insônia, bulimia e anorexia, tentativas de suicídio, enxaqueca, além
disso melhora a capacidade física e funcional, entre outros; fatores esses que atingem
diretamente grande parte dos educandos da atualidade. Estudos recentes com crianças, que
praticaram Yoga, entre quatro e seis anos, indicam que a concentração das mesmas pode ser
ampliada mesmo diante de problemas com atenção e comportamento.
O Yoga tem um sentido filosófico de natureza ética, preconiza atividades com
posturas corporais que ajudam a aquietar a mente e melhoram a percepção de si, dando ênfase
na respiração, com técnicas de relaxamento e concentração. Traz serenidade, acalma a mente
e aquieta as emoções perturbadoras; possui elevado potencial humanizador, transcendendo a
condição humana comum, ultrapassando os limites da razão, do conhecimento racional.
(TINOCO, 2016).
As práticas do Yoga foram desenvolvidas para conceder ao ser humano sua liberdade
interior, historicamente, é uma tradição espiritual que visa a paz, a felicidade e a bem-
aventurança do seu praticante. Sua função principal é unir o eu inferior, ligado ao corpo e o si
mesmo transcendental através da atenção focada perceber sua verdadeira natureza
(DANUCALOV e SIMÕES, 2006).

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Vista como uma modalidade multitarefa (envolve os elementos psicofísico-sociais), o
Yoga trabalha questões de ordem de deficiência física e problemas psicossociais
simultaneamente, traz benefícios em todas as dimensões do ser humano, contemplando
aspectos: físicos, cognitivos, mentais, sociais e emocionais. Mostra-se eficaz nos tratamentos
com vícios, além de promover melhoras no sono, bem-estar e qualidade de vida em geral
(FOLETTO, 2015).
É parte integrante da prática do Yoga, a meditação que se caracteriza por um estado
alterado de consciência no qual o organismo entra em estado hipometabólico, sendo
dominado pelo sistema nervoso autônomo parassimpático mesmo com o praticante em vigília.
Comumente, a meditação é praticada na postura sentada, contudo, meditar é estar consciente,
focado em si e ao que se faz, é importante manter-se consciente (sem dormir) durante toda
prática (DANUCALOV e SIMÕES, 2006).
O Yoga enfatiza saúde, aspectos psicossociais e espiritual (não religioso) e em 1986
foi recomendada em conjunto com o esporte para os jovens, uma vez que muitos de seus
aspectos ajudam a moldar atitudes visando o bem-estar da sociedade como um todo
(GHAROTE, 2005).
Autocontrole e autodesenvolvimento são objetivos da educação, contudo, o aumento
populacional desponta para mais competição e menos oportunidades, resultando na ênfase às
matérias acadêmicas em detrimento do desenvolvimento social, gerando pessoas com pouco
controle sobre os instintos básicos. Através de esforço persistente, o raciocínio ainda pode
reeducar a mente. Através da prática do Yoga, que gera modificações individuais, é possível
modificar os outros e esses serem beneficiados uma vez que Yoga é educação (GHAROTE,
2005).
Na prática do Yoga é trabalhada a autoestima, autoconhecimento, autoanálise,
percepção das emoções e observa-se também aumento da capacidade cognitiva. Conduz os
alunos a buscarem novos desafios, integrando mente, corpo e percepção, pois organiza e
amplia o potencial dos órgãos dos sentidos, trazendo reações benéficas aos praticantes.
Durante os movimentos o cérebro produz e libera substâncias químicas que eliminam o
sentimento de incompetência e desânimo, levando ao reconhecimento das competências e
transformações interiores e desejo de autorrealização. Durante as práticas do Yoga o educador
„interage‟ em várias áreas do cérebro de modo lúdico, não traumático e prazeroso, faz o
desbloqueio de medos e timidez e oferece segurança para enfrentar novos desafios
(CARDOZO, 2008).

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3.NEUROCIÊNCIAS

Na busca por estudos entre o comportamento e a atividade cerebral, surge a


neurociência, um campo interdisciplinar que investiga o sistema nervoso, cujo intuito é
investigar como ele se desenvolve. Revelam nosso comportamento, emoções, necessidades
fisiológicas, tomadas de decisão, como e o que somos através do funcionamento cerebral.
A plasticidade cerebral aproxima a compreensão corpo-mente de modo conceitual e
funcional da aprendizagem, elemento intrínseco a condição humana, visto que, o cérebro é um
sistema biológico aberto em constante interação com o meio físico e social no qual o sujeito
está inserido. Não é somente via intervenção física ou medicamentosa que o corpo se adapta,
a plasticidade cerebral é multidimensional, regida por uma dinâmica relacionada entre a
estrutura e função nos níveis: neuroquímico, hedológico e comportamental (ROTTA, FILHO;
BRIDI, 2016)
No cérebro é que emerge a cognição, uma vez que, nele ocorrem determinadas
condições biopsicossociais ou bioantropológicas dinâmicas e evolutivas que permitem ao ser
humano tornar-se um ser auto-eco-organizador. A cognição resulta da integridade biológica e
da complexidade da interação sociocultural, ou seja, através da relação entre a neurologia e a
psicologia.,
Cognição é o ato ou processo de conhecimento, envolve a atenção da percepção, da
emoção, da memória, da motivação, da integração e monitorização central, do processamento
sequencial e simultâneo, da planificação, da resolução de problemas, expressão e
comunicação de informação. Pode mudar e apresentar potencial de plasticidade e
flexibilidade, se adapta as condições de maturação e interação, de acordo com o envolvimento
e treino renovado e continuado de hábitos. Evoca sistemas cerebrais, concretizando diversos
estilos de vida e vários processos de aprendizagem.
Enquanto a inteligência é uma habilidade nata, a cognição lhe dá sustentação através
das estratégias de processo de informação, dos dispositivos de adaptação e pensamento
lógicos que podem ser aprendidos. O cérebro está diretamente ligado à aprendizagem; é o
órgão da aprendizagem que é um processo funcional dinâmico (FONSECA, 2015).
É por meio de informações sensoriais, conduzidas por circuitos cerebrais que tomamos
conhecimento do que está acontecendo no ambiente ao nosso redor e interagimos para
garantir nossa sobrevivência. Comportamentos são aprendidos, mesmo com um cérebro
planejado para desenvolver determinadas atividades, coisas simples precisam ser aprendidas e

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o estímulo ambiental é fundamental para o desenvolvimento do sistema nervoso. É o caso da
linguagem falada, que depende de interação mais específica com o ambiente, mesmo sendo
uma capacidade programada em nosso sistema nervoso, há aprendizagens que ocorrem ainda
dentro do período intrauterino, visto que, o aumento da conectividade das células corticais é
progressivo na infância, declina na adolescência até atingir o padrão adulto, quando a taxa de
aprendizagem de novas informações diminui e aumenta-se a capacidade de usar e elaborar o
que já foi aprendido (COSENZA e GUERRA, 2011).

4. EDUCAÇÃO

A educação cognitiva vê o estudante como um ser aprendente, visa à construção


centrípeta, significativa e estruturada do conhecimento, valoriza as interações sociais
interiorizadas e mediatizadas através do diálogo que envolve a todos. Aceita várias
abordagens e vários pontos de vista sobre o mesmo saber, sugere o emergir de discussões,
tornando o desenvolvimento cognitivo mais convivencializado e cooperativo, referendando
Paulo Freire.
Considera os conhecimentos prévios do educando respeitando seu perfil cognitivo.
Transforma o professor em mediatizador da ação, promovendo uma educação cooperativa e
não mais competitiva. Tem por objetivo enriquecer, potencializar, otimizar a aprendizagem na
ânsia de evitar experiências de insucesso e fracasso. Traz estratégias de processamento de
informações, garante a prontidão ao êxito em qualquer disciplina, está comprometida com a
expansão do potencial da aprendizagem, coloca e explora situações que permitem aprender a
aprender, abrangendo todas as disciplinas.
As aquisições da aprendizagem vão sendo adquiridas e integradas sequencialmente e
evoluindo, em processo, desde a imaturidade, passa pela desmaturidade, e atinge a maturidade
neuropsicológica, o processo de mudança e desenvolvimento complexo e articulado entre as
três unidades funcionais, contextualizados na multiplicidade e qualidade interativa dos
ecossistemas sociais. As habilidades emergem das experiências de aprendizagem mediatizada,
é fundamental observar o processo intencional da interação social e mediatizadora entre os
mais experientes e inexperientes (FONSECA, 2015).
A aprendizagem é traduzida pela formação e consolidação das ligações entre as células
nervosas e é através da atenção focada, que se registra a cada determinado momento,
fortalecendo e criando as sinapses cognitivas. Duas informações não são processadas ao

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mesmo tempo, uma vez que, o cérebro processa melhor uma informação de cada vez. Pode-se
dizer que o cérebro está propenso a aprender, porém só o faz com o que reconhece como
significante. (COSENZA e GUERRA, 2011).,
A abordagem cognitiva à aprendizagem é um novo desafio aos sistemas cuja
responsabilidade social é desenvolver os recursos humanos em qualquer idade condição ou
contexto. Somente observando o cérebro, como ele capta, extrai, integra, armazena, combina,
elabora, planifica e comunica é possível antever se a aprendizagem ocorreu ou não. O
desenvolvimento cognitivo é um conjunto de competências cognitivas que podem ser
diagnosticadas e ensinadas separadamente (FONSECA, 2015).
A aprendizagem pode ser prejudicada pela ansiedade e estresse prolongados, uma vez
que essas sensações prejudicam a atenção. Deste modo, um ambiente escolar estimulante e
alegre permitem o relaxamento e minimiza a ansiedade. (COSENZA e GUERRA, 2011).
A prática educativa está interligada à teoria da cognição e neuropsicologia, ao passo
que envolve a aprendizagem de novas informações e ambas contribuem para compreender a
complexidade da aprendizagem, principalmente, quando se considera a integração do
conhecimento ou a construção do mesmo (FONSECA, 2015).
A quantidade ou a diversidade de materiais determinam a capacidade de transformação
do espaço interno, da intervenção e reconstrução; conecta o ser as suas capacidades e
reconhecimento de suas potencialidades. O aprender surge de uma frustração e, desta forma o
corpo físico e subjetivo busca um novo enfrentamento ao que se apresenta. Aprender é um
processo coletivo, transversal e dinâmico que envolve o executor e partilha seus resultados.
As funções cognitivas são construídas através das experiências e exigências
vivenciadas pelo indivíduo, a intervenção de diferentes profissionais gera diferentes
estímulos, forçando a construção de novos conhecimentos a partir da vivência trazida pelo
sujeito; a participação deste sobre o seu desenvolvimento lhe mostra o caminho a seguir para
a concretude da aprendizagem (ROTTA; FILHO; BRIDI, 2016)
A maneira de pensar e raciocinar não é inata, exige treino sistemático e mediatização,
desde a educação infantil até a universidade. Seria interessante que os estudantes fossem
expostos as informações que podem assimilar e utilizar, com atenção, seus atributos
cognitivos peculiares e incomuns, promovendo reflexão sobre o aprendizado. É preciso
estimular e treinar intencionalmente para que o aprendizado aconteça.
O objetivo da educação é ensinar „aprender a aprender‟, complemento essencial do
ensino das matérias, permitindo aos estudantes aprender com mais eficácia no futuro. A

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educação cognitiva é um componente prioritário à educação da (re)habilitação e formação de
recursos humanos, capital intelectual do futuro, para o desenvolvimento integral dos
indivíduos e organizações.
Socializar a criança e o jovem depende da socialização dos adultos e do estilo de
interação entre eles, portanto, o desenvolvimento dos seres inexperientes depende da interação
com os mais experientes, sugerindo que o desenvolvimento emocional, cognitivo e simbólico
aconteça através da mediatização. Pais e professores devem adotar o estilo mediatizador nas
interações, precisam interpor-se nas situações oriundas do mundo exterior e a criança,
moldando-as e transformando-as de acordo com as necessidades de desenvolvimento. A
mediatização torna-se um fenômeno sociocultural no qual ocorre a aprendizagem, é através
dela que acontece o aprender e ensinar humano.
É finalidade da pedagogia mediatizada a seleção de estímulos, foco nos detalhes,
repetição experiencial, percepção de semelhanças e diferenças, provocação e generalização; é
preciso escolher atividades de participação mais ativa e reflexiva. Seus principais critérios
são: intencionalidade, transcendência, significação, regulação do comportamento e
participação compartilhada. Sendo assim, os mediatizados, são levados a aprender que é
possível descarregar a impulsividade ao falarem sobre seus sentimentos e mostrarem que
descobriram um comportamento mais correto. Envolve a interação entre o sujeito e a tarefa
levando a mudança de comportamento provocada pela experiência (FONSECA, 2015).

5.RELAÇÃO ENTRE NEUROCIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E YOGA

Na literatura, conforme Fonseca (2015), encontra-se comprovação de mudanças


cerebrais significativas em praticantes do Yoga, principalmente nos lobos frontais, tálamo,
lobo parietal superior e gânglios basais. Tais estudos mostram alterações significativas do
fluxo sanguíneo sobre a amígdala direita (regula a agressividade e dá conteúdo emocional as
memorias), no córtex dorsal medial direito (medeia motivação) e área sensitivo motora
direita; as estruturas dos lobos frontais mediais dorsais direito e esquerdo (relacionado ao
comportamento), córtex pré-frontal direito (planejamento de comportamentos e pensamentos
complexos, expressão da personalidade, tomadas de decisão), córtex sensitivo-motor direito,
lobo frontal inferior direito e lobo frontal superior direito (ações, movimento e pensamento
abstrato). Toda essa ativação do lobo frontal tem relação com o foco e atenção com efeito
direto no processo de aprendizagem. Notou-se também o aumento da massa cinzenta no

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cérebro, estrutura responsável pela coordenação motora e temporização dos movimentos do
corpo, recentemente, foi relacionada a funções executivas.
A prática prolongada do Yoga estimula a conectividade fronto-cerebelar e a
neuroplasticidade, evoluem também a capacidade motora e de concentração, uma vez que o
praticante precisa usar o cérebro para manter as posições, a respiração e a concentração. É
uma prática de treinamento mental intensivo.
São elementos chaves das práticas do Yoga: exercícios de respiração, posturas e
meditação. Através dessas práticas, estudos identificaram diferenças significativas no volume
da massa cinzenta, diminuição de falhas cognitivas, menor frequência de lapsos de memória
nas funções do dia a dia de seus praticantes, associando tal prática a melhora da função
cognitiva e alargamento das estruturas cerebrais responsáveis pelo controle executivo
(SILVA, SANTOS e PIRES, 2013)
Visto como uma terapia corporal, vem emergindo como uma intervenção na base
educacional, influenciando diretamente as crianças e sua saúde geral, a prática do Yoga
resulta na regulação da atenção, das emoções, aumento da motivação e melhora de resultados
acadêmicos, possibilita a diminuição do afeto negativo e aumenta as sensações de calma e
relaxamento (FOLETTO, 2015).
O Yoga, assim como a psicomotricidade, tem o ser humano como objeto de estudo,
focando no movimento corporal e relacionando o ser aos seus mundos interno e externo. Traz
a concepção de movimento organizado e integrado em função das experiências já vivenciadas,
com ação resultante da individualidade, linguagem e socialização (MENDONÇA, 2007).
Para as crianças, o Yoga deve ser ensinado de forma lúdica e divertida, a fim de
relaxar a mente e exercitar o corpo, gerando base para cultivo dos recursos internos e pontos
fortes, favorecendo o bem-estar e a saúde ao longo da vida (FOLETTO, 2015).
“A cada ação ou intenção de ação, os sistemas físico e cognitivo, de modo
indissociável e entrelaçados, entram em funcionamento simultâneo, utilizando a bagagem já
adquirida e lançando-se a novos desafios para o novo ato” (ROTTA; FILHO; BRIDI), 2016, p
20). Nos meses iniciais de vida a plasticidade tem sua maior expansão, entretanto, tal processo
não se interrompe nem mesmo na vida adulta, percebe-se uma nova interação na busca de
uma nova solução colocando todo o sistema em crise (ROTTA; FILHO; BRIDI, 2016)
Ação e cognição estão interligadas, ao passo que o cérebro contém as memórias
modularizadas de tais relações vivenciadas no contexto histórico. O desenvolvimento
cognitivo é decorrente de sistemas pré-estruturados que se auto-organizam e constroem no ser

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a interação com o envolvimento e sistemas de mediatização interindividual que se constroem
nos contextos sócio-históricos. Quando uma área do cérebro está lesada, vários
comportamentos podem tornar-se perturbados, dependendo dos sistemas funcionais que a área
participa. As áreas cerebrais não funcionam isoladas, pois o comportamento resulta de
cooperação sistêmica, melódica e sinergética das mesmas.
Humanizar a interação, torna possível que a informação seja integrada de forma
adequada, interiorizada e significativa, com a informação agregada de modo mais claro e
preciso, possibilitando a aquisição do conhecimento de modo mais reflexivo e crítico
(FONSECA, 2015).
A atenção torna-se eficiente diante da novidade e do contraste, é recomendado
disciplina, com locais e horas em que os distratores devem ser reduzidos, favorecendo a
concentração, principalmente se dedicada a algo significante ligado ao que já é conhecido e
tido como importante para o aprendiz.
É importante intercalar momentos de repouso e lazer para retomar e realizar tarefas
com mais criatividade, é fundamental ter controle sobre a quantidade e qualidade das
informações. O sono de qualidade é aliado do processo de aprendizagem, uma vez que
diminui a ansiedade e essa prejudica a atenção no processo cognitivo. É necessário um nível
adequado de vigília para que a atenção seja focada no que se julga importante na atividade
exercida.
Durante o sono (uma das funcionalidades do cérebro), de acordo com Fonseca (2015)
os mecanismos eletrofisiológicos e moleculares que fazem as sinapses mais estáveis, estão em
funcionamento, portanto, a privação de sono impede ou prejudica a aprendizagem, visto que o
registro da memória é fragmentado. A consolidação da aprendizagem ocorre durante o sono, o
repouso ou relaxamento, assim, intervalos curtos de estudo são mais eficientes que o esforço
prolongado.
Conforme mostram as neurociências, os processos cognitivos e emocionais se
entrelaçam à funcionalidade cerebral, evidenciando a importância das emoções em busca do
comportamento mais adequado à manutenção da vida nos seus momentos mais
importantes.(FONSECA, 2015)
As emoções estão ligadas a algo importante ou significante ao indivíduo e mobilizam
recursos cognitivos de atenção e percepção, alteram a fisiologia do organismo para
aproximação ou afastamento e geralmente determinam a escolha das ações seguintes. A
amígdala, que pertence ao sistema límbico na estrutura encefálica, controla as emoções e

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processos motivacionais, interage com o córtex cerebral, identificando a emoção e gerando o
aparecimento e a persistência de um estado de humor. Está muito ligada a valência de
emoções negativas, entretanto, ela também desencadeia a sensação de bem-estar e prazer. A
amígdala interage com o hipocampo e influencia na consolidação da memória, assim, a
emoção favorece o estabelecimento e consolidação da memória (COSENZA e GUERRA,
2011).
O ser humano busca constantemente a saciedade, ativando as estruturas límbicas do
desejo, ação e satisfação. Sendo assim, atividades lúdicas trazem a excitabilidade diária
necessária para ativar os mecanismos das emoções.
Pode-se perceber que as emoções interferem nas sensações corporais e é possível que
o inverso também seja real. Assim, as emoções geradas pelo sistema límbico causam a
impressão e são usadas para produzir as alterações comportamentais (DANUCALOV e
SIMÕES, 2006).
O sistema límbico está ligado diretamente à aprendizagem, uma vez que é responsável
pela regulação das emoções e, processo de aprendizagem é fonte de registro, possibilita trocas
com o meio e registra as impressões do meio sobre o sistema.
A incompletude do processo de aprendizagem pode ser vista como problema ou
dificuldade, em que relações com o conhecimento estão ligadas a percepções de cada um
sobre o meio, suas respostas corporais, suas interações emocionais e os registros pessoais
dessas vivencia. Tais atividades, devido à complexidade afetiva e relacional, de modo não
necessariamente consciente, deixam marcas de agrado ou repelência. Sempre que uma
circunstância de conhecimento acontece, ocorre também o afeto, gerando respostas físicas a
esse momento, positivas ou não (ROTTA; FILHO; BRIDI, 2016).
A motivação é resultante de uma atividade cerebral que processa informações do meio
interno e ambiente externo, determinando o comportamento a ser exibido, envolvida em
processos cognitivos e na aprendizagem, organizando ações que melhor garantem a
sobrevivência. Até a adolescência, o córtex pré-frontal ainda não está maduro, deste modo,
ainda não desenvolveu a capacidade de inibir impulsos. Nessa fase, os circuitos motivacionais
aumentam o comportamento de busca pelas novidades possibilitando a aprendizagem de
tomadas de decisões apropriadas (COSENZA e GUERRA, 2011).
A aprendizagem está ligada aos processos de aquisição da informação, ao passo que a
memória está relacionada a fixação dessa aprendizagem a ser evidenciada posteriormente.
Para que a informação se fixe de modo definitivo no cérebro são importantes os processos de

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repetição, elaboração e consolidação, usando mais de um canal de acesso ao processamento
cerebral: verbal, auditivo, tátil, visual, olfativo e gustativo (COSENZA e GUERRA, 2011).
A memória, vista nessa abordagem como função cerebral complexa e fundamental
para a aprendizagem, está distribuída por várias partes do cérebro e, a informação pode se
perder afetando a aprendizagem. Deste modo, para a informação ficar retida ela precisa ser
importante e significativa para o aprendiz (FONSECA, 2015).
A neurociência esclarece que educação e aprendizagem são processos neurais e a
aprendizagem acontece quando dois ou mais sistemas funcionam de forma inter-relacionada,
um complexo processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente ativando e
tornando mais intensa as sinapses (MIETTO, 2009).
Estudos mostram que a relação existente entre a respiração natural e a saúde é
evidente, tanto para os orientais como para os ocidentais. Através de uma respiração ritmada,
desenvolve-se as forças latentes, afasta o medo, as preocupações e emoções negativas,
evitando assim inúmeras debilidades desde a mais tenra infância. Favorecendo a ativação da
memória, visto que, é necessário um estado de tranquilidade para as lembranças virem a
mente (RAMACHARACA, 2001).
As neurociências, o Yoga e a psicomotricidade mostram que o controle respiratório
tem a capacidade de desenvolver o autodomínio, ativar os centros cerebrais onde nascem os
pensamentos, movimentos, vontade e é armazenada a memória. Esse controle vem ao
encontro com a melhora da capacidade cognitiva (MENDONÇA, 2007)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como base as pesquisas apresentadas e experiências vivenciadas na dinâmica


Yoga e educação, é fundamental que aconteça a interdisciplinaridade, a valorização
emocional, a inclusão e que se dê a devida importância para as atividades físicas e
psicomotoras em todas as etapas da educação.
É notória a importância de uma visão de educação, com foco integral e integrador,
valorizando o que é significativo ao estudante, bem como, promover e realizar atividades
diferenciadas que tragam bem-estar físico, mental e emocional a todos.
Tendo acompanhado vários estudantes da educação infantil e ensino fundamental, de
escolas públicas e privadas, nas práticas de Yoga, pode-se perceber o quanto essa prática

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melhorou o comportamento, concentração, emoção, capacidade de resolução de problemas,
socialização destes alunos, além de diminuir ações e comportamentos violentos de todos eles.
É preciso levar crianças e adolescentes a terem contato com estratégias que
privilegiem o desenvolvimento das funções executivas, preparando-os para uma real
aprendizagem.
Aprendizagem é um processo contínuo de autoconhecimento, determinando as
relações com o meio e é construída através das relações. Relações essas que, quando
mediatizadas, favorecem a interação do aprendizado de modo lúdico, prazeroso e
significativo.
Fato que muito chama a atenção é o quanto os benefícios do Yoga interferem no
funcionamento cerebral (como comprovado nas pesquisas bibliográficas), social e cognitivo
em todas as idades e condições, possivelmente, devido à mediatização do professor com o
grupo. Deste modo, surgem ou despertam expectativas e capacidades de realizações positivas
em cada um, trazendo aos praticantes autoconfiança e tranquilidade para mudarem a si mesmo
e, consequentemente, o meio que os cercam.
A meditação, como parte integrante do sistema Yoga, traz benefícios em todos os
níveis do ser, corroborando com um clima harmonioso e integral para todos, favorecendo a
saúde integral dando ênfase a memória, tranquilidade e favorecimento do processo de ensino
aprendizagem nas unidades educacionais.
A neurociência é grande aliada do professor ao passo que revela o indivíduo como ser
único, pensante, atuante que aprende de modo único e especial, ou seja, olha e respeita o ser
tal qual ele é, assim como acontece no Yoga e dentro de uma proposta de educação
significativa.
Infelizmente, ainda se encontra resistência na aplicabilidade do Yoga nas escolas e
muito poucas pesquisas recentes sobre o assunto. É momento de rever o currículo das escolas,
tornando-o mais ativo, significativo e prazeroso. São necessários mais estudos e avaliações
específicas sob a ótica das neurociências e o Yoga, porém, com o que já se “tem em mãos”, é
possível realizar um trabalho significativo para o sistema educacional.
Ainda para este século, é necessária uma educação que comtemple o desenvolvimento
além das habilidades acadêmicas, que inclua o desenvolvimento social emocional e ético nas
crianças e jovens.

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REFERÊNCIAS

COMIOTTO, Tatiana. Psicomotricidade. Disponível em:


http://www.conhecer.org.br/download/PSICOMOTRICIDADE/LEITURA%20ANEXA%207
.pdf Acesso em: 23 mai. 2017.

COSENSA, Ramon M. GUERRA, Leonor B. Neurociência e educação: como o cérebro


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